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A criação artística

e a obra de arte
A filosofia da arte ocupa-se das questões
relacionadas com a natureza, a produção,
a apreciação e a avaliação das obras de
arte.

Uma das questões centrais da filosofia da


arte é a questão da natureza da arte.

Algumas teorias estéticas procuraram


responder à questão “O que é a Arte?”.
A arte contemporânea colocou a questão de
saber o que é a arte de forma exemplar,
sobretudo através do surgimento dos objetos
ansiosos.

Objetos ansiosos são produções artísticas feitas


deliberadamente para manter a incerteza sobre
se são ou não obras de arte.

Levantam uma questão óbvia: basta que um


artista assim o decida para que um certo
objeto, uma pessoa ou um gesto possam ser
arte?
A teoria da arte como imitação

Dá-se o nome de teoria da arte como imitação à perspetiva mais antiga sobre a
natureza da arte, que data da Antiguidade.

A tese central da teoria da arte como imitação, ou teoria mimética, é a seguinte:


 
 A arte é imitação da realidade.
 
• Platão parte da tese de que a arte é imitação para concluir que ela deve ser
repudiada. Defende que as obras de arte são cópias das realidades que estão ao
alcance dos nossos sentidos e destinam-se a iludir-nos.

• Aceitando também que a arte imita a realidade, Aristóteles atribui-lhe um papel


social importante, uma vez que liberta o público de sentimentos com os quais
viveria mais perigosamente.
 Objeções à teoria da arte como imitação

• Muitas obras que reconhecidamente


são arte não imitam nada.

• Se a teoria for correta, poderemos


derivar dela conclusões acerca de
quais são as melhores obras de arte.
Se a natureza da arte residir no seu
carácter mimético, então uma obra
será tanto melhor quanto mais fiel à
realidade ela for.
A teoria expressivista

No século XIX, com o aparecimento do Romantismo, a criação artística passou a


ser entendida como um meio para alcançar um tipo de conhecimento mais
profundo, e o artista como aquele que podia, através da introspeção e da partilha,
revelar muitos dos mistérios da existência humana.

Foi neste contexto de transformação da própria arte que surgiu a teoria


expressivista, segundo a qual

 A arte é a expressão da emoção do seu criador, o artista.

• Segundo Tolstoi, a arte é uma forma de comunicação que une o artista a todos
aqueles com quem partilha os seus sentimentos.
Objeções à teoria expressivista

• Existem muitas obras de arte que não


expressam as emoções do artista.

• Não nos fornece um critério seguro para


identificar a verdadeira arte, distinguindo-a
da falsa arte. Não poderemos apenas
recorrer às reações do público porque
poderão surgir respostas muito distintas e
até contrárias. E como saberemos se a obra
corresponde a uma emoção que o artista
terá sentido ao criá-la?
A teoria formalista

Na passagem do século XIX para o século XX, os pintores impressionistas


revolucionaram as artes plásticas, ao romperem com as regras do realismo e com as
visões sobre a arte aceites até aí. Os objetos e as figuras perderam protagonismo
para cederem o lugar às cores e aos contrastes cromáticos.

 Surgiu então a teoria formalista da arte.


 
• Segundo Clive Bell, o que define as obras de arte é a sua capacidade de dar
origem a uma emoção estética.

Todas as obras de arte, e só elas, possuem forma significante e só esta provoca


emoção estética.
Objeções à teoria formalista

• A definição de arte é circular: as obras de


arte reconhecem-se porque produzem
uma emoção estética, mas a emoção
estética define-se como o tipo de emoção
provocada especificamente por obras de
arte. Esta circularidade estende-se à
relação entre os conceitos de forma
significante e emoção estética: a emoção
estética é aquela que é provocada por
objetos que possuem forma significante, e
a forma significante é a propriedade dos
objetos capazes de produzir emoção
estética.
• O conceito de forma significante é um dos aspetos
mais controversos da teoria formalista. Todos os
objetos têm forma, mas isso não poderá significar
que tenham forma significante. O que faz, então,
com que uma forma seja significante?

• Alguns críticos de Bell defendem que,


contrariamente ao que afirma, não existe uma
emoção diferenciada a que se possa chamar
emoção estética, e mesmo que exista, não é
consensual que esta só possa ser provocada pelas
obras de arte e não por elementos naturais, como
paisagens, detalhes de flores ou pormenores de
pelagens de animais, por exemplo.
A teoria histórica

Na atualidade mantém-se em aberto a


questão de saber qual é a natureza da
arte.

As teorias históricas defendem que a


essência da arte reside no facto de
todas as obras se relacionarem com
obras anteriores.

Pretendem encontrar uma característica


comum a todas as obras de arte e só a
elas.
Jerrol Levinson define a arte da seguinte forma:

- X é uma obra de arte se e apenas se X é um objeto acerca do qual uma pessoa,


possuindo o direito de propriedade sobre X, tem uma intenção duradoura de que
este seja visto como uma obra de arte, i.e., visto de qualquer modo (ou modos)
como foram ou são vistas as obras de arte anteriores.
Objeções à teoria histórica
 
• É discutível que o direito de propriedade possa
ser apontado como uma condição necessária para
haver arte quando podemos imaginar inúmeros
contraexemplos que mostram o contrário.

• É discutível que a intencionalidade seja


necessária para haver arte. Um exemplo que nos
leva a pensar que não será diz respeito a algumas
das obras de Frank Kafka. Os manuscritos de
O Processo e O Castelo deveriam ter sido
destruídos a pedido do autor, aquando da sua
morte. Contudo, as obras foram publicadas e
ninguém põe em causa que sejam obras de arte
literárias.

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