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O problema da definição de arte:

• Não existe uma definição única ou consensual sobre o que constitui arte, e por isso a única
preocupação será descobrir critérios que nos permitam distinguir o que é arte daquilo que
não é arte.
O que é a arte?
• Uma definição explicita de arte tem de incluir um conjunto de condições necessárias e
suficientes para que possamos considerar algo como arte.

• Uma condição necessária de arte consiste numa característica partilhada por todas as obras
de arte como por exemplo a expressão criativa, a intenção artística, significado ou
mensagem etc. Enquanto uma condição suficiente de arte é uma característica que apenas
as obras de arte possuem como por exemplo o valor estético, a complexidade e a
profundida do significado, a relevância social e cultural etc.

• Para comprovar se algo é arte ou não utilizamos teorias que podem ser divididas em dois
grupos, as essencialistas e as não essencialistas.
• As teorias essencialistas defendem que existe uma essência do objeto artístico, isto e,
acreditam que os objetos artísticos possuem uma, ou mais, características intrínsecas que os
definem como obras de arte, como a forma a cor o tamanho etc.
• As teorias não essencialistas, pelo contrário, consideram que são características extrínsecas
aos objetos que os tornam obras de arte, como valor no mercado, tempo de exibição etc.

Teorias da arte:
• Representacionista
• Expressivista
• Formalista
• Historicista
• Institucional

Teorias essencialistas
Teoria da arte como imitação
Tese- Algo é arte se imitar ou representar

• Para se comprovar esta tese a arte tem de ser a imitação de alguma coisa, ação ou
acontecimento, isto é qualquer obra de arte, para ser considerada arte, deve imitar a
realidade.
Argumento- A arte é a imitação

• Muitos filósofos aludiram-se a arte como imitação e por isso alguns desprezavam-na que era
o caso de Platão, este considerava que se a arte imitasse objetos naturais era como se fosse
uma copia inferior da realidade. Já Aristóteles via a arte como uma imitação da natureza que
poderia trazer alguma compreensão para os observadores. Para Aristóteles, a arte tinha o
potencial de revelar verdades universais sobre a condição humana e as emoções.

Ex: na Grécia Antiga o teatro era considerado como arte pelo facto de imitar as ações do homem.

Critica- A imitação não é a condição necessária nem suficiente da arte

• A critica feita a este argumento é que a imitação não é uma condição suficiente nem
necessária da arte.
• Esta crítica à arte realça as limitações e os problemas associados à tentativa de reproduzir a
realidade de forma direta, destacando a importância da originalidade, da expressão
individual e da experimentação na criação artística.

Ex: A foto de um passaporte retrata a realidade, mas ninguém a considera como uma obra de arte.
De qualquer forma continua a ser uma imitação, ou seja, nem tudo o que é imitação é considerado
uma obra de arte, logo se nem todas as imitações são uma obra de arte, então esta não é uma
condição suficiente para algo ser considerado arte.

Teoria da arte como representação


Tese- Um item X é uma obra de arte se representa algo

• A arte como representação que mais ampla do que a arte como imitação.

Argumento- A arte é representação

• Esta teoria é mais ampla porque algumas obras de arte podem representar a realidade sem
ser parecida com a mesma.

Ex: A cabeça de touro de Picasso, representa o animal, mas não o imita.

Critica- A representação não é condição necessária nem suficiente da arte

• Esta não é uma condição necessária nem suficiente pois, apesar da teoria representacionista
abandonar o conceito de imitação, esta ainda é demasiado exclusiva, visto que não classifica
como arte muitas obras que hoje são aceites como obras de arte, por exemplo a arquitetura
e obras musicais. Se nem tudo o que representa é arte logo esta não é a condição suficiente
para a arte.

Ex: símbolos religiosos ou sinais de transito.


Teoria expressivista da arte
Tese- Algo é arte se e só se expressa emoções de forma autêntica e eficaz

• Os artistas começaram a virar a sua atenção para dentro de si mesmos, para aquilo que
sentia quando observavam alguma realidade, assim foi nascendo, a conceção da arte como
o domínio expressivo de sentimentos e emoções, e a visão do artista como uma pessoa
envolvida na tarefa de esclarecer os seus sentimentos de forma a exteriorizá-los através da
arte.
• Para Lev Tolstoi a arte é um ato de comunicação entre um artista e o seu publico, este
acreditava que a função da arte era unir as pessoas através da comunicação de sentimentos
e emoções
• Para algo ser considerado uma obra de arte tem que reunir estas condições:
1. Foi criado intensionalmente por alguém que pretende expressar uma emoção;
2. Esse alguém, o artista, sente essa emoção no momento criativo;
3. Essa expressão é eficaz, isto é, o publico sente esse mesmo tipo de emoção;

Argumento- Intencionalidade

• Uma obra de arte, inicialmente exige que o seu criador tenha a intenção de exprimir
sentimentos através dela. Suponhamos que um pintor num momento de fúria, atira contra a
parede as tintas, mesmo que alguém olhando para a parede, sinta uma emoção do mesmo
tipo não podemos classificar a parede pintada como uma obra de arte. Pelo facto de não
existir a intenção de criar algo onde transmita neste caso o sentimento/emoção de fúria,
não é considerado arte. Algo é uma obra de arte se alguém o criou para expressar
intencionalmente e de forma imaginativa um sentimento ou uma emoção.

Argumento- Autenticidade

• A expressão intencional de um sentimento através de uma obra não é suficiente para a


definir como arte. A emoção que é partilhada através da obra deve ser (ou ter sido)
realmente experienciada pelo criador. Se o artista ao criar a obra de arte não sentiu nem
vivenciou os sentimentos que expôs na obra, então o que criou não é considerado uma obra
de arte verdadeira. A autenticidade é uma condição necessária à produção artística.

Argumento- Eficácia

• O público quando perante uma obra de arte tem de sentir a emoção que o artista pretendeu
transmitir. A eficácia da transmissão é essencial para que o objeto possa ser classificado
como arte. Uma obra de arte tem de expressar eficazmente ao seu público um estado
emocional individual, subjetivo, que o artista sentiu ou sente. Em suma, existem duas
virtudes na teoria expressionista: é mais abrangente do que a teoria representacionista e
consegue explicar por que razão a arte é importante para nós - porque comunica
sentimentos subjetivos que ligam emocionalmente o criador ao seu público.
Critica- A tese de Tolstoi é demasiado inclusiva

• A definição de arte apresentada por Tolstoi, é demasiado inclusiva pois aceita como
manifestações artísticas certas coisas que nos parecem não caber no conceito de arte.
Vejamos o seguinte exemplo: um paciente relata ao seu terapeuta uma emoção que sentiu,
e fá-lo de uma forma tão contagiante que o médico a vivência. No entender de Tolstoi, o
relato feito pelo paciente é uma obra de arte. Portanto, a transmissão intencional, autêntica
e eficaz de uma emoção através de um meio (neste caso, o discurso) não é suficiente para a
arte acontecer.

Critica- A tese de Tolstoi é demasiado exclusiva

• É demasiado exclusiva, pois limita demasiado o âmbito que pode ser considerado “obra de
arte”. De acordo com o escritor, se a obra de um artista, criada por este para transmitir ao
seu público uma emoção que estava realmente a sentir, não provoca essa emoção nos seus
destinatários, então não é uma obra de arte. Vejamos o exemplo apresentado: as pinturas
de Van Gogh, que não "contagiaram" o público emocionalmente enquanto este era vivo,
mas hoje em dia são admiradas unanimemente (em Março de 2021, um quadro seu e este
foi vendido por 14 milhões de euros). Podemos classificar hoje como arte uma obra que não
foi eficaz e comunicar emoções na época em que foi criada?

Critica- A arte não exige a autenticidade emocional

• A exigência de autenticidade do artista é um dos aspetos criticados nesta teoria. exemplo:


Miguel Ângelo, quando esculpiu a Pietà, não sentiu emoções que uma mãe sente quando
perde um filho. Segundo Tolstoi, não sentir emoções ao criar algo, não é considerado
escultura. num romance o escritor de forma a passar para os leitores os sentimentos das
personagens não é possível sentir todas as emoções. e de modo algum isto não é motivo
para retirar ao romance a sua classificação como obra de arte. A arte não pode implicar
autenticidade emocional que Tolstoi exige.

Teoria formalista da arte


Tese- Algo é arte se e só se foi criado intencionalmente para possuir e exibir forma significante

• Considerar as obras de arte como representações de objetos ou expressões de emoções


levanta problemas que apontam para as limitações do expressionismo e da teoria da
representação. Nem todas as obras de arte imitam a realidade, representam algo ou
expressam as emoções do artista. Estas limitações levaram ao surgimento do movimento
formalista, que buscava a essência da arte na própria arte, e não no mundo ou no artista.
Clive Bell foi o representante, mais influente desta visão.
• Para encontrar a essência da arte, Bell olhou apenas para obras de arte. O que os diferencia
de todos os outros objetos é a sua forma. Não qualquer forma, mas o que ele chama de
“forma significante”.
• A forma significante é um arranjo especial de linhas, cores, volumes, etc., que só as obras de
arte possuem.
• Bell considerava que se essa forma significante estivesse presente num objeto, este
despertaria em nós uma emoção estética.
• A emoção estética é a experiência que o público sente quando entra em contacto com a
obra de arte; é a apreciação da arte.

Argumento- A teoria formalista é a mais inclusiva

• Como referido anteriormente para um formalista, o facto de uma obra representar a


realidade não a exclui do âmbito artístico. Bell argumentou que a maioria das obras de arte
representacionistas eram, na verdade, verdadeiras obras de arte, mas não o são porque
representam algo, mas sim porque tem uma figura uma consciência significativa. A
representação nada tem a ver com a atribuição de estatuto artístico a um objeto.
• A teoria formalista de Bell é realmente mais inclusiva do que as teorias representacionista e
expressivista pois o seu critério definidor de arte inclui claramente as obras musicais e
arquitetónicas, como a arte visual abstrata

Argumento- A arte tem como função exibir forma significante

• Os formalistas apelam para características especiais que distinguem as obras de arte de


todas as outras criações humanas. O papel de uma obra de arte é simplesmente
demonstrar a sua forma significativa. Seu discurso precisa ser persuasivo e sua escrita
precisa comprovar sua conclusão. Podem ter uma forma significativa, mas essa não é a sua
característica definidora. Uma obra de arte funciona apenas para expressar a sua forma
essencial. Este aspeto intencional é importante. Só então poderemos evitar classificar as
maravilhas naturais como obras de arte. Não é porque não foi projetado intencionalmente
para mostrar alguma forma significativa.

Critica- A intencionalidade não é condição necessária nem suficiente da arte

• A condição de intencionalidade torna a teoria vulnerável a um grande número de


contraexemplos. Existem muitas obras que são consideradas “arte”, embora não tenham
sido criadas intencionalmente para representar qualquer forma significativa. Vitrais em
igrejas destinados a filtrar a luz para permitir a oração e o culto sagrado, figuras religiosas
destinadas a proporcionar conforto e abrigo, medos de destruição interior. Os exemplos são
incontáveis: estátuas demoníacas destinadas a evocar medo ou monumentos que
comemoram vitórias militares. Uma obra de arte criada com uma intenção diferente
daquela exigida por Clive Bell para classificar um determinado objeto como “arte”. Os
críticos do formalismo podem, portanto, argumentar que a teoria é demasiado exclusiva,
uma vez que nem todas as obras de arte são criadas intencionalmente para exibir uma
forma significativa. Contudo, se os formalistas recuarem e aceitarem que a intenção de
exibir uma forma significativa não é um pré-requisito para a arte, então a arte e a natureza
podem ser separadas porque a beleza natural que nos fascina também é a mesma coisa. .
Esta é uma teoria muito ampla porque considera que qualquer coisa que todos concordem
não é arte.
Critica- Círculo vicioso

• Os críticos de Bell argumentam que a sua interpretação destes conceitos cai num círculo
vicioso: a forma significativa é definida como o arranjo de características que despertam
emoções estéticas nos humanos, e esta é definida como o tipo específico de emoção
estimulada pela forma significativa de um objeto. Bell não desenvolveu definições
• independentes destes dois conceitos. No mínimo, deveria incluir uma explicação mais clara
do que significa cada conceito, o que nos permitiria compreender cada um sem referência
ao outro. Como esta explicação não existe, é pouco provável que compreendamos qualquer
explicação utilizando outros dados.

Critica- Argumento dos objetos indistinguíveis

• O formalismo de Bell é vulnerável a outro tipo de crítica. Se um falsificador obtém uma cópia
exata (átomo por átomo) de uma obra de arte, essa cópia é uma obra de arte? Bell deveria
responder que sim, porque a aparência da obra original é importante e esta cópia é idêntica
ao original nos mínimos detalhes. A este teste mental, o formalista ainda pode responder
que fazer tal cópia é impossível (será possível?). No entanto, outra situação da vida real
apresenta um problema muito semelhante. Na década de 1960, Andy Warhol criou uma
série de obras de arte que incluíam réplicas exatas de caixas de sabão em pó Brillo. As caixas
Brillo são idênticas aos recipientes de detergente comercial. Mas estas (caixas comerciais)
não são obras de arte e, portanto, não têm forma significativa. Porém, as caixas Brillo (feitas
por Warhol), que são obras de arte (causando emoções estéticas), têm uma forma
significativa. Visto que os objetos são indistinguíveis, como podemos dizer que num caso
existe uma forma significativa e noutro caso não existe? O formalismo não nos permite
responder a esta questão.

• Teorias não essencialistas


Teoria institucional da arte
Tese- Algo é arte se e só se é um artefacto criado para ser apresentado a um publico do mundo da
arte

• Estas teorias são chamadas de não essencialistas porque procuram definir a arte não em
termos das características intrínsecas do objeto, mas em termos da relação que esta
estabelece com o seu contexto, ou seja, está nas características externas.
• A teoria institucional é uma das tentativas mais bem-sucedidas de definir a arte com base
nesta ideia. O seu defensor mais famoso foi George Dickie, que considerou o argumento de
Arthur Danto sobre os objetos serem visualmente indistinguíveis como o ponto de partida
para seu pensamento. Este argumento diz-nos que, quando confrontados com dois objetos
indistinguíveis, um considerado arte e o outro não, devemos olhar para o contexto de qual
objeto conta como arte, devido à diferença de estatuto.
Argumento- Primeira versão da teoria institucional

• A versão antiga da teoria institucional apresenta duas condições necessárias, em conjunto


suficientes, para que algo seja considerado uma obra de arte. Esta versão é chamada antiga
pelo próprio George Dickie, que, após refletir sobre as inúmeras críticas que recebeu,
reformulou-a para a tornar mais consistente. De acordo com a versão antiga, uma obra de
arte é um artefacto, isto é, algo produzido por um ser humano. Isto significa que não
podemos incluir no conceito de arte as maravilhas da natureza, por exemplo. Mas podemos
incluir a foundart ou os ready-mades, pois revelam um trabalho mínimo do artista sobre a
realidade (mesmo que esse trabalho consista apenas em pegar no objeto e expô-lo numa
galeria). A segunda condição – as obras de arte são aqueles artefactos que têm um conjunto
de propriedades que adquiriram um certo estatuto no interior de um enquadra- mento
institucional particular chamado o mundo da arte – foi mais problemática. Alguns filósofos
interpretaram este aspeto como se Dickie afirmasse a existência de uma estrutura
organizada de especialistas em arte que reuniam para definir o que era e o que não era arte.
Apesar de não afirmar isso, Dickie admitiu que as expressões demasiado formais que usou
criaram alguma confusão acerca do conceito de instituição.

Argumento- Versão recente da teoria institucional

• A teoria institucional refere-se ao mundo da arte como uma instituição num sentido
informal e não formal. Para corrigir esse mal-entendido, Dickie reafirmou sua teoria. A
“versão recente” baseia-se assim em cinco definições, que podem ser consideradas
individualmente como uma condição necessária e em conjunto como suficientes para definir
o conceito de arte.

• I) Um artista é uma pessoa que participa, com conhecimento de causa, na produção de


uma obra de arte.
• O artista é a pessoa consciente das atividades artísticas das quais participa. Isso requer
conhecimento de engenharia, processos de fabricação, etc. engajado na produção de uma
obra de arte de um determinado tipo. A produção artística é uma atividade deliberada.
Chances podem ocorrer no processo de criação de uma obra, desde que o artista tenha
consciência de que o que está fazendo geralmente é uma obra de arte.

• II) Uma obra de arte é um artefacto de uma espécie criada para ser apresentada a um
público do mundo da arte.
• Ser uma obra de arte implica possuir um estatuto ou uma posição dentro de uma estrutura
social/cultural. No entanto, Dickie abandona a posição que defendeu nas suas primeiras
obras de que esse estatuto é concedido. Esse estatuto é alcançado através do esforço e
labor de um artista sobre um meio dentro do enquadramento do mundo da arte. As obras
de arte são objetos intencionalmente preparados para serem alvo de apreciação pelo
público. Mesmo que não sejam apresentados e/ou apreciados, a sua produção tem esse
objetivo em vista.
• III) Um público é um conjunto de pessoas que estão preparadas, em certo grau, para
compreender um objeto que lhes é apresentado.
• Esta definição de público é geral, aplica-se a qualquer tipo de público. O grupo de alunos da
turma é um público neste sentido, pois é “um conjunto de pessoas que estão preparadas,
em certo grau, para compreender um objeto que lhes é apresentado”. Cada público está
ligado ao sistema particular em que está envolvido, portanto, o público do mundo da arte
está necessariamente ligado aos artistas e às obras de arte.

• IV) O mundo da arte é a totalidade dos sistemas do mundo da arte.


• A expressão “mundo da arte” designa o sistema de cada uma das artes, o sistema literário, o
sistema teatral, o sistema das artes plásticas, e assim por diante. É um conjunto
desorganizado e muito diversificado. As teorias tradicionais tentaram encontrar um ele-
mento comum que unisse esta diversidade toda, mas Dickie considera que tal tentativa é
inútil, e aceita essa desorganização como um facto natural. Em vez de procurar uma essência
da arte, a teoria institucional orienta a nossa atenção para os aspetos culturais e relacionais
de cada objeto.

• V) Um sistema do mundo da arte é um enquadramento para a apresentação, por um


artista, de uma obra de arte a um público do mundo da arte.
• Cada sistema particular é o enquadramento em que a artefacto é compreensível como obra
de arte. Precisamos de ligar todos estes conceitos para conseguir uma definição, pois só o
seu conjunto constitui condição suficiente desse conceito de “obra de arte”. As tentativas
tradicionais de definir a arte apresentavam condições necessárias e suficientes que podiam
ser conhecidas independentemente do conceito de arte, mas para a teoria institucional isso
é impossível. O conceito de arte não pode ser compreendido separadamente da “instituição
da arte” que está presente na nossa vida desde a infância. As condições necessárias só
podem ser compreendidas em inter-relação, e em conjunto são condição suficiente do
conceito de arte.

Critica- Tudo pode ser arte?

• A teoria institucional não permite distinguir a boa arte da má arte, pois propõe apenas um
critério classificativo. Embora Dickie o veja como uma virtude, o facto de a teoria
institucional não dar resposta a este aspeto valorativo é tido por muitos como uma
insuficiência grave. Porquê? Porque desta forma tudo pode ser arte. Se houver um entendi-
mento comum entre alguns membros do mundo da arte, qualquer coisa pode ser
classificada como arte. O único limite que Dickie estipula é a arte factualidade, o que exclui
apenas a natureza.
Critica- A tese é demasiado vaga?

• Alguns críticos referem que faltou à teoria institucional determinar com clareza os critérios
que tornam um objeto artístico, e que, por isso, é uma teoria superficial.
• Quando determinado objeto é considerado “arte”, existem razões para justificar essa
classificação, isto é, se um objeto adquire o estatuto de “arte” este facto tem algum
fundamento ou justificação. Se não tem, então esse estatuto é arbitrário e a palavra “arte”
deixa de ter sentido e utilidade. Se a palavra “arte” é utilizada arbitrariamente, então dizer
que certo objeto é artístico é o mesmo que dizer nada. Portanto, não parece aceitável que a
classificação de um objeto como “arte” não possua uma justificação. Mas se tem um
fundamento, se esse estatuto se baseia em razões, uma teoria da arte deveria revelá-las, e a
teoria institucional não o faz. Logo, não é uma teoria aceitável. Esta superficialidade de que
é acusada a teoria levanta outro problema. Os críticos referem, não é aceitável que o
estatuto de arte de um objeto não seja eterno, logo, não devemos aceitar a teoria
institucional.

Teoria histórico-intencional da arte


Tese- Um item é uma obra de arte se e só se alguém pretende que ele seja encarado como outras
obras de arte foram encaradas no passado.

• A teoria histórico-intencional é uma teoria não essencialista, e, como tal, procura a definição
de arte não em características intrínsecas às obras, mas sim nas relações que elas
estabelecem com o seu contexto histórico-cultural. Jerrold Levinson define arte com base na
intenção de um indivíduo e não no conceito de “mundo da arte”, como fazia a teoria
institucional. A intenção de que algo seja encarado como arte tem por referência a própria
história da arte.

Argumento- Encarar-como-obra-de-arte

• Este conceito tem uma definição historicista: a arte, hoje, deve ser encarada como a arte do
passado foi corretamente encarada. Esta relação entre a arte de hoje e a arte do passado
não depende simplesmente de semelhanças entre elas. Essa relação depende da intenção
do artista de que a sua obra seja encarada de uma certa forma, da mesma forma que outras
obras foram tratadas no passado. O verbo encarar não significa apenas olhar ou ver, mas
inclui uma atitude mais ativa e dinâmica, como tratar, abordar, ligar-se a, etc. Este conceito
envolve, portanto, qualquer modo de interação com o objeto em causa, desde que
apropriado a uma obra de arte. Como sabemos se esse modo de interação é apropriado?
Pela história. Sabemos que não é apropriado usar as pinturas expostas nos museus para
praticar tiro ao alvo ou usar estátuas como cabides porque essas práticas nunca foram
realizadas, ou se aconteceram no passado, foram condenadas e abandonadas. A tradição
histórica do relacionamento entre as pessoas e as obras de arte determina o que é ou não
apropriado, e, portanto, dá conteúdo ao conceito “encarar-como-obra-de-arte”
Argumento- Intenção seria

• O produtor do objeto artístico tem de possuir uma “intenção não passageira” de que ele seja
encarado como obra de arte. O que fornece estatuto de obra de arte a um objeto não é uma
instituição, ou comunidade artística, os críticos de arte ou o público. O estatuto de arte
deriva da intenção do criador do objeto, daí chamar-se à teoria de Levinson histórico-
intencional. Não é um ato institucional do mundo da arte que torna uma coisa numa obra de
arte, mas sim uma intenção de uma pessoa independente que faz referência à história da
arte. Esta intenção tem de ser séria, isto é, não pode ser um devaneio ou um simples
impulso inconsequente. Se pegas num lápis e afirmas que desejas que ele seja encarado
como obra de arte, isso, por si só, não transforma o lápis numa obra de arte, pois, se a tua
intenção, apesar de poder ser genuína e sincera, não possuir a estabilidade e firmeza de um
compromisso sério, será certamente passageira e desaparecerá, e isso não serve para
qualificar o lápis como arte. No entanto, podes realmente possuir uma intenção séria de
considerar o lápis uma obra de arte e, nesse caso, o lápis adquire o estatuto de “obra de
arte”.

Argumento- Direitos de propriedade

• Agora imagina que tens a intenção séria de que o lápis seja encarado como arte, mas ele
pertence à tua colega e ela não concorda com a tua intenção, pois prefere continuar a usá-lo
para escrever. Terás o direito de o declarar arte? Como não possuis o direito de propriedade
sobre o objeto, Levinson diria que não o podes fazer. Para uma coisa adquirir o estatuto de
arte, o criador tem de possuir direitos de propriedade ou de utilização dessa coisa. Se não
temos acesso legítimo a algo, não o podemos declarar arte. Portanto, para Levinson, uma
obra de arte é uma coisa que foi criada com a intenção séria de que seja encarada-como-
obra-de-arte, isto é, encarada segundo uma forma pela qual as obras de arte preexistentes
ou anteriores foram ou são corretamente encaradas.

Critica- A teoria é demasiado exclusiva

• O direito de propriedade do artista sobre a obra é, para Levinson, uma condição necessária
ao seu reconhecimento como obra de arte, mas esta é uma exigência difícil de aceitar
porque limita demasiado o âmbito das coisas que podem ser consideradas “arte”. Segundo
Levinson, uma pintura, por exemplo, se for realizada num suporte que não pertença ou que
não esteja licenciada de alguma forma ao artista, não pode ser considerada arte. No
entanto, se a mesma pintura for realizada num suporte que seja propriedade ou que esteja
licenciado ao artista, neste caso, já é arte. Imagina que descobrimos agora que Leonardo da
Vinci não pagou as tintas e a tela em que pintou a Mona Lisa. Não é sensato pensar que a
obra-prima da pintura deixaria de possuir o estatuto de obra de arte afinal, todo o labor e
genialidade de da Vinci continuam patentes na obra. Todas as características que tornaram
essa pintura no exemplo maior das belas-artes não foram beliscadas com essa informação
acerca dos direitos de propriedade dos materiais usados pelo pintor. A condição do direito
de propriedade torna a teoria demasiado restritiva num outro aspeto. Certas formas de arte
assentam na possibilidade de se criar arte sem ter atenção ao direito de propriedade –
graffiti e a street art. Estas atividades teriam de ser excluídas do âmbito artístico, ou pelo
menos a maioria das suas obras, já que os suportes que usam, normalmente, não pertencem
aos artistas. No entanto, existe atualmente uma “forma de encarar a arte”, uma “visão da
arte” que inclui o grafitti e a street art dentro do domínio artístico, logo, a teoria de
Levinson, como não consegue dar conta deste fenómeno, não é convincente.

Critica- A teoria é demasiado inclusiva

• O conceito “encarar-como-foi-corretamente-encarado no passado” levanta uma objeção


importante: existiram formas de encarar a arte que já não são relevantes hoje em dia, por
exemplo, a verosimilhança figurativa. No entanto, a proximidade entre a obra e a realidade
foi durante muito tempo uma forma apropriada de encarar a arte. Se alguém pretende
afirmar que a fotografia que tirou com o Presidente da República é uma obra de arte pode
ter, realmente, a intenção séria de que esse selfie seja encarado como outros objetos de
arte foram encarados no passado – como representações fiéis da realidade. Mas isso é
elevar uma fotografia banal ao estatuto de arte baseado numa forma de ver a arte que já
perdeu validade ou caiu em desuso. Pelo mesmo raciocínio, qualquer fotografia banal para
passe ou cartão escolar, como representa fielmente a realidade, de- veria ser considerada
arte. A teoria de Levinson não consegue explicar porque é que algumas formas de encarar a
arte continuam válidas hoje em dia e outras não, por isso, os seus críticos consideram-na
insuficiente para esclarecer a definição de arte.
• Por outro lado, se uma falsificação de uma obra-de-arte é produzida com a intenção de ser
encarada-como-obra-de-arte tal como outros objetos artísticos o foram no passado, então,
deve possuir o estatuto de obra de arte. No entanto, quando descobrimos que um objeto é
uma falsificação e não o original, ele perde esse estatuto afinal, não é uma obra de arte. A
teoria histórica intencional parece incluir as falsificações dentro do conceito de arte, mas
como isso parece absurdo, alguns críticos encontram aqui motivos para declarar que a teoria
não consegue responder ao problema da definição da arte.

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