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Em vez de nos focarmos nas propriedades intrínsecas dos objetos artísticos devemos
focar-nos nos seus aspetos relacionais, processuais e contextuais, isto é, nas relações
que estes estabelecem, nos processos por que passam e no contexto histórico e social
que os envolve.
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Uma vez que sustentam que não existe uma espécie de essência comum
a todas as obras de arte, as teorias que se dedicam a encontrar uma
definição de arte nestes moldes ficaram conhecidas como teorias não
essencialistas da arte.
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Esta teoria ficou conhecida como teoria mimética da arte (ou teoria da arte
como imitação).
Note-se, contudo, que esta se limita a afirmar que todas as artes são
imitações, mas não afirma que todas as imitações são arte. Ou seja, de
acordo com a teoria mimética, a imitação é uma condição necessária,
mas não suficiente, para que algo seja considerado arte.
A teoria mimética ou arte como imitação tem sido criticada por ser
demasiado restrita, pois exclui do conceito de arte várias obras oriundas
das artes não imitativas, como a pintura abstrata, a arte decorativa, a
arquitetura, a música instrumental, a found art e algumas formas de
teatro, dança, cinema e literatura, que não têm qualquer intuito
imitativo.
Contudo, a teoria representacionista não precisa de se cingir à repre-
sentação imitativa, pode adotar um sentido mais abrangente de represen-
tação, que inclui quer a representação imitativa, quer a representação
não imitativa. Uma tal teoria da arte pode ser genericamente formulada
nos seguintes termos:
Algo é uma obra de arte só se é uma representação.
A noção de representação é mais geral do que a noção de imitação,
talvez a teoria representacionista numa versão mais lata resista melhor
aos contraexemplos do que a teoria mimética. Por exemplo, segundo a
versão mais lata da teoria representacionista, tal como as cinco quinas
da bandeira portuguesa não imitam Portugal, mas antes representam este
país.
Críticas à teoria representacionista
Assim, embora não possamos dizer que toda a arte implica imitação, talvez possamos dizer que toda
a arte implica alguma forma de representação. Será que esta perspetiva também enfrenta sérias
objeções e contraexemplos?
Uma vez que existem várias obras de arte que não são de todo representações / sem conteúdo
representativo, pode considerar-se que, ainda assim, esta teoria é demasiado restritiva.
Apesar de passar a incluir algumas pinturas abstratas alegando que,
embora não imitem a natureza das coisas, estas, de certa forma, podem
representá-la.
II) a condição expressivista – o artista tem de criar uma obra que exprima esse
sentimento;
III) a condição identitária – o público tem de ser contagiado por esse sentimento.
Exemplo:
Para algo ser uma obra de arte, é necessário que o artista sinta, clarifique e
transmita um estado emocional a um público;
Qualquer obra de arte tem de ser capaz de nos emocionar, e o artista é alguém
que lida essencialmente com emoções;
Críticas à teoria expressivista da arte de Tolstoi
Desde meados do século XX, grande parte dos críticos e filósofos da arte
considera que apreciar uma obra em função da intenção que o artista tinha
quando a criou é cometer aquilo que apelida de “falácia intencional”.
Segundo estes autores, a intenção original do artista é irrelevante para se
apreciar genuinamente uma obra, que deve valer por si e pelas
interpretações que suscita, independentemente de estas corresponderem ou
não àquilo que o artista pretendia transmitir quando a concebeu.
Na verdade, é muito estranho pretender que as emoções do público
tenham de ser idênticas às do artista. Isso não se verifica (nem pode
verificar) em diversas ocasiões. Os artistas podem nunca experimentar
as mesmas emoções que despertam no seu público.
Estrofe do poema Gozo e Dor, de Almeida
Garrett
Algo é uma obra de arte, se e só se, foi produzido por alguém com a
intenção de exprimir as suas emoções individuais de modo a clarifica-
las.
Arte e ofício pág. 184
Um artífice que desempenha o seu ofício tem uma ideia clara do que quer
fazer e dos meios que deve usar para o conseguir.
Bell defende que: Algo é uma obra de arte se, e só se, tem uma forma significante.
Segundo Bell, uma forma significante é uma configuração de linhas, cores, formas
e espaços que tem a capacidade de provocar um determinado tipo de emoção no
espetador – uma “emoção estética”.
Neste sentido, atribuir o estatuto de obra de arte a um objeto é
dizer que as suas linhas, cores, formas e espaços têm a
capacidade de gerar esse tipo de emoção naqueles que o
contemplarem.
Críticas à teoria formalista da arte
Nem toda a arte tem como principal intuito exibir forma significante. A teoria
formalista é demasiado restritiva, pois deixa de fora toda e qualquer obra de arte que
não tenha uma forma significante. Por exemplo, a chamada “arte demoníaca” é
geralmente concebida com o principal intuito de assustar os seus observadores,
como acontece com as gárgulas nos castelos e nas catedrais, ou as gravações
presentes em armaduras ou outros instrumentos de batalha tradicionais.
Ora, é manifestamente implausível afirmar que estas obras servem
simultaneamente para assustar o observador e provocar uma emoção
estética, isto é, proporcionar um certo tipo de prazer visual.
Definição circular de forma significante
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O conceito de forma significante é difícil de definir. Bell oferece uma definição
viciosamente circular de forma significante:
Com efeito, Bell define a noção de forma significante como uma configuração de
linhas, cores, formas e espaços que tem a capacidade de provocar uma emoção
estética no espetador, mas simultaneamente define emoção estética como o tipo
de emoção que sentimos quando estamos perante certas configurações de linhas,
cores e formas, ou seja, quando estamos perante uma forma significante.
Por vezes a forma é inseparável do conteúdo
O filósofo da arte Morris Weitz considera que não devemos procurar uma
característica que seja partilhada por todos os objetos artísticos (propriedades
intrínsecas), pois não só isso não se verifica, como teria uma implicação indesejável
caso se verificasse: estaria a impor limites a uma atividade que se caracteriza
justamente pela sua abertura à mudança, à expansão e à inovação. Geralmente os
artistas valorizam a criatividade e a liberdade. A arte é um conceito aberto e não
fechado.
A arte é um conceito aberto e não fechado.
Algo é uma obra de arte, no sentido classificativo, se, e só se, algo é um
artefacto que possui um conjunto de características ao qual foi atribuído
o estatuto de candidato a apreciação por uma ou várias pessoas que
atuam em nome de determinada instituição social: o mundo da arte.
Esta definição estabelece duas condições necessárias conjuntamente suficientes para
que algo seja arte. O primeiro requisito é o da artefactualidade.
Para além dos objetos materiais concretos produzidos ou transformados pelos seres
humanos, também os movimentos de uma coreografia, ou as notas de uma melodia,
por exemplo, são artefactos,
e mesmo objetos que não foram manufaturados ou cujas propriedades
formais não foram alteradas pela intervenção direta de um ser humano
podem, em determinados contextos, adquirir o estatuto de artefacto, por
serem utilizados de certa maneira por alguém.
Por exemplo, se pegarmos num pedaço de madeira e o usarmos para nos
defendermos de um cão, este passa a poder ser considerado uma arma,
apesar de as suas propriedades formais não terem sido alteradas.
A segunda condição imposta pela teoria institucional diz-nos que para
que um artefacto seja uma obra de arte é necessário que uma (ou várias
pessoas) que atuam em nome do mundo da arte atribua (ou atribuam) o
estatuto de candidato a apreciação a um conjunto das suas
características. Essa atribuição tem lugar no contexto de uma prática
social instituída, que Dickie apelida de “mundo da arte”.
Segundo Dickie, o “núcleo fundamental do mundo da arte é um conjunto
vagamente organizado (...) que inclui artistas (...), produtores, diretores de
museus, visitantes de museus, espetadores de teatro, jornalistas, críticos
de todos os tipos de publicações, historiadores da arte, teóricos da arte,
filósofos da arte e outros. (...) Todos estes papéis estão institucionalizados
e têm de ser aprendidos, de uma forma ou de outra, pelos participantes.”
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De acordo com esta teoria, uma obra de arte no sentido valorativo (isto é,
uma boa obra de arte) é um candidato à apreciação que efetivamente
chega a ser apreciado, ao passo que uma má obra de arte não. Neste
sentido, atribuir o estatuto de candidato à apreciação a um artefacto
acarreta uma certa responsabilidade, pois caso ninguém o venha a
apreciar, a pessoa que fez essa atribuição pode perder alguma
credibilidade.
Críticas à teoria institucional da arte
A teoria institucional da arte é, por vezes, criticada por ser elitista e
antidemocrática, visto que confere poderes especiais a um círculo fechado
de indivíduos: os membros do mundo da arte. Se só os membros do
mundo da arte têm o poder de conferir estatuto de arte aos artefactos,
então estes indivíduos possuem uma espécie de toque de Midas
transformando em ouro – neste caso, em arte – tudo aquilo que
consideram digno de ser apresentado como candidato à apreciação.
Faz da arte algo de arbitrário e infundado. A teoria institucional levou a sério as
recomendações de Weitz quanto à necessidade de preservar a criatividade inerente
ao processo artístico e, portanto, sustenta que qualquer coisa pode tornar-se arte,
desde que esse estatuto lhe seja atribuído por um repre- sentante do mundo da arte.
Muitos autores veem aqui uma razão para rejeitar esta teoria, pois parece admitir
demasiadas coisas como obras de arte.
Se qualquer coisa pode ser uma obra de arte, que razões temos para nos
preocuparmos com a distinção entre arte e não-arte?
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Impossibilita a existência de arte primitiva e de arte solitária (ex. de Emily Dickinson na pág.
199) Se a teoria institucional for verdadeira, deixa de ser possível falar de arte primitiva, pois é
improvável que existisse algo que se assemelhasse ao mundo da arte quando os homens das
cavernas fizeram as primeiras pinturas rupestres. Além disso, a ideia de um artista solitário, que
vive e cria à margem da sociedade, também passa a ser impossível de se efetivar. Segundo a
teoria institucional, antes dos poemas de Emily Dickinson serem reconhecidos pelo mundo da
arte não eram obras de arte. Isso é implausível pois, os poemas seriam constituídos pelas
Algo é uma obra de arte se, e só se, alguém com direitos de propriedade
sobre esse algo tem a intenção séria de que esse algo seja encarado da
mesma forma como foram corretamente encarados outros objetos abran-
gidos pelo conceito de «obra de arte».
Assim, de acordo com esta perspetiva, mesmo um homem do período Neolítico
(isto é, de um período anterior à constituição da instituição social do mundo da
arte) poderia produzir uma obra de arte ao combinar algumas pedras coloridas de
forma a provocar prazer visual. Isto acontece porque uma das formas como as
obras de arte foram corretamente encaradas ao longo da história é, precisamente,
como objetos que visam produzir prazer visual. Um outro requisito é o de que o
artista tenha direitos de propriedade sobre o objeto em questão.
Objeções pág. 204
Não explica por que razão a primeira obra de arte é considerada arte. Um dos
primeiros problemas que se levanta perante esta teoria é o seguinte: se o que
faz com que algo seja uma obra de arte é a sua relação com a arte anterior
(critério recursivo), então como surgiu a primeira obra de arte? Esta
(hipotética) obra não tem bons precedentes aos quais possamos apelar. Ora,
na impossibilidade de recorrer a casos precedentes, a teoria histórica revela-se
incapaz de explicar por que razão a primeira obra de arte é considerada arte.
Há quem veja na condição dos direitos de propriedade um fator de exclusão
excessiva. Vejamos, por exemplo, o graffiti. Os graffiters fazem as suas
criações artísticas em túneis, carruagens de comboio e metro, casas e fachadas
que não lhes pertencem. Quer isso dizer que, por esse motivo, essas criações
não podem ser consideradas arte? E se Picasso tivesse pintado ilegalmente a
Guernica na lateral de uma carruagem de metro, esta deixaria de poder ser
considerada arte, apesar de a sua forma ser exatamente a mesma?
O Museu do Louvre fez o favor de colocar online todas as colecções:
quase meio-milhão de obras de arte.
https://collections.louvre.fr/page/apropos