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A pergunta “O que é Arte?” não é simples de ser respondida.

Conforme veremos na matéria,


seu significado foi se transformando ao longo dos séculos.

Etimologia
O termo “arte” está relacionado com a palavra latina “ars” que significa habilidade ou ofício.

O primeiro uso conhecido da palavra vem de manuscritos do século XIII, no entanto, a palavra
e suas muitas variantes provavelmente existiam desde a fundação de Roma (27 a.C).

Interpretações filosóficas
A definição de arte tem sido debatida por séculos entre os filósofos.

Trata-se da questão mais básica presente no campo da Estética (ramo da filosofia que tem por
objetivo o estudo da natureza, da beleza e dos fundamentos da arte).

Obras em Destaque

Ana Rocha
Mimesis, 2020
Valor sob consulta.
Claudia Seber
Deságue, 2020
R$ 580
Marcos Ruzzi
Caminho em Alto Contraste
Valor sob consulta.

Viana Escultor
Touro preparando o Ataque, 2019
Vendido

De maneira geral, a definição está centrada nas categorias: representação,


expressão e forma. Além destas, acrescentamos mais duas que correspondem a debates mais
contemporâneos.

1. Arte como Representação (mimesis)


Platão (428 a.C – 347 a.C) foi o primeiro a desenvolver a ideia de arte como “mimese”, que,
em grego, significa cópia ou imitação.

É a partir desse filósofo que, durante séculos, tivemos a definição do conceito artístico como
a representação de algo tal qual nos é mostrado pela natureza.

Na Grécia Antiga, o teatro tinha um importante papel de educador da vida. As peças encenadas
refletiam sobre os acontecimentos, pessoas e lugares. Logo, a verossimilhança era necessária.

É daí que entendemos a Arte como Representação.


Michelangelo. Pietá ca. 1499. Escultura em Mármore, 1,74 × 1,95 metros.
Basilica di San Pietro, Vaticano, Itália.

Até aproximadamente o final do século XVIII, uma obra de arte era avaliada com base na
fidelidade com que reproduzia seu tema.

Esse tipo de definição (que ainda existe porém não de maneira hegemônica) leva as pessoas a
darem um grande valor a obras muito realistas, como as de Michelangelo, Peter Paul Rubens,
Velásquez, etc.
Rembrandt. Autorretrato, 1660. 80 x 67 cm | MoMA

Uma imensa produção artística como literatura, música e pinturas (abstratas, surrealistas,
cubistas, etc.) ficaria de fora dessa definição, afinal, não são cópias precisas da realidade.

2. Arte como expressão


Com o surgimento do Romantismo (Século XVIII – XIX), a arte se voltou cada vez mais para
as esferas da emoção, sentimento e subjetividade.

O movimento surgiu como forma de reação ao Cientificismo e Iluminismo predominante na


Europa naquele momento.

O centro dessa teoria está no filósofo R.G. Collingwood. Para ele, antes do artista produzir a
sua obra ele não sabe a emoção estética que a obra produzirá no espectador e em si mesmo.

Na medida em que ele utiliza a sua imaginação para produzir a obra, ele consegue reconhecer
melhor a natureza de suas emoções, determiná-las e e fazer a articulação com o objeto.

As emoções que a obra transmite serão assimiladas e interpretadas pelo público. Como
consequência, teremos a ampliação da consciência emocional tanto do artista quanto do
espectador, um enriquecimento subjetivo.

Delacroix. A Liberdade Guia o Povo, 1830.

Em suas palavras: […] conhecer a nós mesmos é a fundação de toda a vida que se desenvolve
além do nível de experiência meramente físico. Uma consciência verdadeira dá ao intelecto
uma fundação firme […] (The Principles of Art, p. 284).

É importante salientar que uma arte voltada para o entretenimento, ou seja, que já apresenta
previamente um objetivo de despertar emoções específicas no espectador não apresenta esse
caráter mais elevado da “verdadeira arte” para Collingwood.

Um filme apelativo de terror é diferente de Guernica de Picasso, por exemplo.

Essa definição tem bastante força atualmente. Muitos artistas procuram se conectar e gerar
reflexões em seus espectadores.

Aqui, a arte necessariamente apresenta uma função social e exprime determinado(s)


sentimento(s).
Goya. O 3 de Maio de 1808 | Museu do Prado, Madri.

A partir disso criaram-se conceitos inteiramente baseados na subjetividade, tornando cada vez
mais difícil encontrar pontos objetivos em comum que pudessem ser aplicados a qualquer tipo
de arte, tanto para defini-la quanto para valorá-la ou interpretar seu significado.

3. Arte como forma


Temos como principal expoente dessa vertente o filósofo Clive Bell (1881-1964)

Ele acreditava que a arte deveria ser julgada apenas por suas qualidades formais (equilíbrio,
ritmo, harmonia, unidade).
A forma significante é quem seria capaz de provocar uma emoção estética no público.

Nessa vertente, acredita-se que não se deve começar por procurar aquilo que define uma obra
de arte na própria obra, mas sim no sujeito que a aprecia.

Além disso, a representação e o contexto da obra não teria relevância para Bell.

As qualidades formais tornaram-se importantes principalmente com o surgimento da arte mais


abstrata no final do século XIX.

Assista o vídeo: Como entender arte a abstrata?

Jackson Pollock, 1951

4. Teoria da Instituição
Essa teoria é sustentada principalmente por George Dickie.
Segundo o filósofo, pessoas envolvidas com mundo da arte devem determinar o que ela
é (argumento de autoridade).

Tomando como base essa linha de raciocínio, o ideal da arte estaria fora de si, na medida que a
concepção do termo está dentro de uma instituição classificadora.

Ouça nosso podcast: Qual é o papel de uma curadora institucional?

Um dos pilares que sustenta essa teoria é o enquadramento.

O jeito que o objeto é apresentado pode mudar seu significado (uma lata exposta no
supermercado não tem o mesmo peso que uma lata em um museu).

Andy Warhol Brillo Box (Soap Pads), 1964.

Diferentemente do formalismo, aqui, o contexto é crucial.

Podemos observar um círculo vicioso na definição: obras de arte são definidas por pessoas que
fazem parte do universo da arte; estas pessoas, por sua vez, são definidas por determinarem
quais objetos podem ser classificados como obras.
Podemos chegar em dois caminhos: ou a escolha do que é arte é arbitrária (não dotada de
critérios práticos) ou a sustentação da teoria acaba esbarrando em conceitos já elaborados
anteriormente (como forma, representação ou expressão).

Marcel Duchamp. A Fonte (1917)

5. Teoria da Semelhança Familiar


De acordo com o filósofo Morris Weitz, não podemos definir o que é arte.

Qual a semelhança entre a Mona Lisa e A Fonte? Entre uma ópera e uma colagem digital?

Como podemos enquadrar trabalhos tão distintos numa categoria chamada Arte?
Graças às transformações históricas, artistas estão o tempo todo rompendo barreiras e
reformulando o conceito de arte. Isso fica evidente com os 4 pontos citados acima.

Seguindo essa linha o que sustenta um conceito não é um único fio condutor, mas sim
um conjunto de diversas fibras entrelaçadas tal como em uma corda.

Weitz propôs que o conceito de arte não deveria ser suscetível


de um esgotamento teórico e não poderia ser fechado numa definição unilateral.

Em suas palavras: […]o que eu defendo é, portanto, que o próprio caráter expansivo e
aventuroso da arte, as suas mutações e criações inovadoras, sempre presentes, tornam
logicamente impossível assegurar qualquer conjunto de propriedades definidoras”
[…] (WEITZ, 2007, p. 71).

Para o filósofo toda teoria, ao determinar uma essência, fecha o conceito e,


como consequência inevitável, acaba prejudicando a própria criação de novos exemplares, que
é condição favorável à esfera artística.

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