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________________Notas de Aula ERU-451 professor Marcelo Romarco – UFV-DER

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL
ERU-451 “EXT ENSÃO RURAL”

Marcelo Leles Romarco de Oliveira1

Nota 10A. Instrumentos de apoio para intervenção Sociotécnica

Apresentação

Essa nota é uma complementação da Nota 09 a Importância das intervenções sociotécnicas para
o desenvolvimento rural. Portanto, o objetivo aqui é apontar como algumas técnicas podem ser
utilizados em trabalhos de Ater.

Estamos refletindo ao longo da disciplina ERU 451 que os processos de intervenção participativo
nas práticas de Extensão Rural, devem contribuir estimulando os agricultores a se organizarem
em torno de seus problemas, prioridades e demandas. Valorizando suas potencialidades e suas
capacidades de organização coletiva. Isso pode ser feito mediante a reuniões, seminários,
entrevistas coletivas e aprendizagem conjunta na solução dos problemas identificados. Nesse
sentido, recorrendo a Thiollent (2011), podemos compreender que essa postura pode contribuir
para o fortalecimento da capacidade coletiva de decisão e de controle quanto à definição da
utilização dos recursos e da fixação das demandas dos agricultores conforme as condições
sociais, econômicas e do saber tradicional existente.

Igualmente, instrumentos como ferramentas de diálogo participativo têm trazido significados


positivos nos trabalhos de Extensão Rural, uma vez que passa a redescobrir o local como um
espaço diversificado e heterogêneo que proporciona a repensar a diversidade de atores
existentes, além de possibilitar um ambiente privilegiado de mobilização social na construção de
cidadania. (PEREIRA, 1998)

Esses instrumentos têm contribuído nos trabalhos de ONGs e movimentos sociais na


reconstrução das identidades dos diversos atores da sociedade. Além de contribuir na
organização dessas comunidades através principalmente da recuperação do trabalho em grupo,
da organização2 e do planejamento das atividades coletivas e comunitárias, para o fortalecimento
da vida associativa dos atores, tanto no sentido da criação de novas associações como na

1 Doutor em Ciências Sociais com ênfase em Desenvolvimento e Sociedade e Agricultura (CPDA-UFRRJ).


Professor do Departamento de Economia Rural e do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da
Universidade Federal de Viçosa.
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Em anexo encontra-se uma tabela com alguns exemplos de organizações Sociais!
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reorientação das já existentes. O destaque dessas abordagens é a possibilidade das informações


e conhecimentos serem construídos juntos.

Essa visão imprime um caráter de intervenção dialógico entre técnico e comunidade, permitindo
que ambos aprendam e construam juntos. Além de respeitar a pluralidade e as diversidades
sociais, econômicas, étnicas, culturais e os saberes locais. Nesse sentido, como aponta Delgado
(2001), a dimensão do local constitui papel crucial no estabelecimento dessas visões.

Pensando nessas ferramentas de intervenção, Alencar e Gomes (1998) explanam que um


elemento comum nessas abordagens é a participação das pessoas, considerado a importância de
se valorizar o local, os hábitus ou costumes de determinado grupo, que são elementos formadores
de uma identidade. Dessa forma, é possível destacar que nos últimos anos tem-se utilizado, com
muita frequência, metodologias participativas com populações “excluídas” ou em situações de
pobreza, sejam elas urbanas ou rurais, como trabalhadores em áreas de assentamentos rurais.
Essas abordagens têm o intuito de colocar em curso um processo educativo de articulação que
possibilite a comunidade exercer a cidadania através da participação e do diálogo, pois é
imperativa a condição dialógica dessas ferramentas.

Tais ferramentas referem-se a diversas modalidades de diagnósticos, de pesquisa e de


planejamento, geralmente constituídas por um conjunto de técnicas de animação e dinâmica de
grupo que procuram estimular a participação e a interação da comunidade com os agentes de
desenvolvimento. Nesse sentido, as metodologias participativas procuram ser uma ferramenta
importante que possibilita a troca de experiências entre agentes externos e comunidade.

Essas ferramentas de intervenção de cunho dialógico e participativo têm como principal


característica o envolvimento da comunidade na geração de conhecimento e sua transformação
em usuário direto desse conhecimento gerado. Essas abordagens devem ser empregadas
buscando formar e potencializar os talentos locais, procurando contribuir para que a sociedade se
organize melhor. Esse diálogo pressupõe que estamos constantemente negociando entre os
diversos atores cujas ações, vontades e interesses estão presentes direta ou indiretamente no
desenvolvimento da comunidade. Mas é importante observar a participação como um processo
multidimensional que varia de situação para situação em respostas a circunstâncias particulares
que podem ser encontradas nos diversos grupos. Essa nova perspectiva tem que considerar a
intervenção como um mecanismo de mediação, ou seja, de fazer a ponte. Além disso, a proposta
tem que ser construída de forma partilhada com a comunidade.

Tais propostas devem levar em conta a percepção que as comunidades têm da natureza, território
e dos aspectos socioeconômico. Tais ferramentas como os estudos etnoecológico podem ser
utilizadas como ferramentas importantes para interpretar como grupos sociais inter-relacionam
com a natureza, com os elementos simbólicos, com a cultura e saberes e conhecimentos que são
adquiridos empiricamente, passados de geração em geração.

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Assim sendo, esse tipo de intervenção pode ser redefinido como uma ferramenta que permite
focar a percepção e manejo das comunidades tradicionais, possibilitando inclusive o conhecimento
de maneiras de promover a sustentabilidade e exploração de determinado recurso natural,
privilegiando de certa maneira o conhecimento dos grupos em relação ao sistema de produção.

No campo da Antropologia, a etnoecologia pode ser entendida como ferramenta que possibilita o
mediador entender melhor as relações existentes de comunidades tradicionais sobre a natureza e
o universo social destes grupos que convivem mais diretamente com o ambiente natural.

Outras ferramentas utilizadas nesse contexto são os etnomapeamentos que podem ser utilizados
a partir da reflexão comunitária sobre desenvolvimento, produção, proteção e fiscalização do
entorno de seus territórios. Assim, o etnomapeamento, mapeamento participativo, consiste num
instrumento de Planejamento Territorial e Ambiental junto às comunidades indígenas.

Sobre a ideia do mapeamento participativo, Correia (2007) aponta que o mapeamento construído
de forma participativa junto aos grupos permite, não só a construção de conhecimento, mas
também, como um elemento dentro do processo político, contribui para refletir sobre algumas
demandas indígenas, como no planejamento territorial.

E, por fim, não menos importante, existem a possibilidade do estabelecimento de correntes de


pensamento, que propõem o desenvolvimento rural sustentável, através da ação extensionista
baseada nos princípios da Agroecologia, que procura dialogar com o agricultor, contribuindo para
recriar um modelo de manejo sustentável que permite a preservação dos recursos naturais e a
valorização dos territórios rurais, incluindo a preservação das culturas e dos saberes tradicionais
e pelo fortalecimento das diversas formas de organização social.

Nessas propostas de intervenção, o que se tem em comum é a ação do profissional que busca
como ponto de partida o saber cotidiano ou local traduzido para o saber científico. Essas técnicas
também são marcadas pela mobilização, permitindo identificar importantes aspectos ao nível local.

Ferramentas de intervenção participativas

Na seção anterior falamos da importância das ferramentas de intervenção participativa como


instrumento de diálogo junto a comunidades. Assim, neste item é dedicada a apresentação dessas
ferramentas.

As metodologias participativas são um tipo de pesquisa que procura principalmente entender as


necessidades básicas do indivíduo, levando em conta suas aspirações e potencialidades do
conhecer e agir, buscando valorizar seus conhecimentos e sua cultura. É uma metodologia que
procura incentivar o desenvolvimento autônomo da comunidade independente de possíveis
intervenções exteriores, devendo considerar, sobretudo, os aspectos socioeconômicos da
realidade local.

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Assim, nas últimas décadas, várias ONG's têm empregado concepções de trabalhos por meio de
metodologias participativas que se orientam e articulam suas relações no âmbito local. Dentro
dessa filosofia podemos destacar algumas metodologias participativas como: Diagnóstico Rápido
Participativo Emancipador (DRPE), Método Altadir de Planejamento Participativo (MAPP) e os
estudos etnoecológicos e etnomapeamentos. Esses métodos procuram garantir o
reconhecimento dos valores culturais, do saber e das demandas materiais da comunidade,
proporcionando a participação dos atores sociais envolvidos, deflagrando-se num processo
educativo fundamentado na interação do diálogo.

Estes métodos passam a redescobrir e valorizar o local como um espaço diversificado e


heterogêneo que proporciona a repensar a diversidade de atores existentes, além de possibilitar
um ambiente privilegiado de mobilização social na construção de cidadania. Essas metodologias
participativas têm contribuído nos trabalhos de ONGs e movimentos sociais na reconstrução das
identidades dos diversos atores da sociedade.

As metodologias participativas têm contribuído também na organização dessas comunidades


através principalmente da recuperação do trabalho em grupo, da organização e do planejamento
das atividades coletivas e comunitárias. Além de contribuir para o fortalecimento da vida
associativa dos atores, tanto no sentido da criação de novas associações como na reorientação
das já existentes.

Entretanto, é importante notar, necessário que se tenha o cuidado para que não se reproduza
nesse tipo de abordagem uma postura clientelista ou assistencialista, muito comum entre alguns
políticos, funcionários governamentais, dentre outros atores que podem, por vez, se apropriarem
das metodologias com interesses políticos ou pessoais. Esse tipo de postura acaba contribuindo
para que o processo deixe de ser participativo e as pessoas da comunidade se tornem, “fantoches”
desarticulados, ou seja, elas podem estar fisicamente presentes em reuniões e processos
decisórios sem necessariamente tomarem consciência de sua condição interventora ou ainda,
através de uma relação com o poder local, naturalizarem práticas, trocas e relações
personalizadas que não condizem com a perspectiva de participação. Além disso, as metodologias
participativas podem ser uma ferramenta importante no processo e devem ser utilizadas para
atender a realidade local.

Pontos importantes

Podemos apontar que um dos principais problemas que os atores que trabalham com
desenvolvimento local enfrentam está relacionado, principalmente, com as diferenças existentes
entre a aplicação de um projeto externo e a realidade local, já que esta pode apresentar outras
demandas não enunciadas em tal projeto. Nesse sentido, as mudanças que os agentes de
desenvolvimento propõem se depara, muitas vezes, com uma realidade social distinta, ou seja,
lida na prática cotidiana, com uma variedade de costumes, de saberes e valores adquiridos por
uma determinada comunidade ou grupo. Dessa forma, não é possível pensar em processos de

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desenvolvimento participativo sem atentar para a relevância das características culturais e


simbólicas, quer dizer, o universo de representações sociais que são condutores de práticas
cotidianas. Isso nos faz refletir que as comunidades trabalhadas devem ser vistas como um
universo em transformação, mais do que como clientes ou beneficiários, respeitando, assim, suas
naturezas e particularidades. É necessário, então, que o primeiro passo seja o de considerar
alguns pontos, tais como,

• Conhecer a realidade para poder transformá-la;

• Conscientização e compreensão da realidade entre agentes mobilizadores, técnicos e


comunidade;

• Trocas de experiência, ideias e conhecimentos entre agentes mobilizadores, técnicos e


comunidades, num clima de participação e respeito mútuo, visando perceber que os
indivíduos não são apenas consumidores de conhecimentos, mas também produtores de
conhecimento;

• Participação relacionada com a produção de conhecimento, de novas orientações e novas


formas de organização;

• Mudanças nas atitudes tradicionais, características de alguns técnicos, agentes


mobilizadores e lideranças, de dominadora para construtivista, de fechada para aberta, de
individual para grupal e de verbal para visual;

• Grau de divisão e coordenação de tarefas de modo que o grupo todo tenha conhecimento
das ações e possa tomar as decisões;

• Comunidade como parte integrante das soluções, ou seja, planeja quem executa, executa
quem planeja.

• Excluir a visão paternalista e assistencialista de muitos mobilizadores;

• Incentivar a conscientização, o senso de responsabilidade, a valorização dos


conhecimentos e da cultura local;

• Articular a dinâmica local com as problemáticas regional e nacional;

• Utilização de técnicas de dinâmicas de grupo, buscando estabelecer a comunicação e


cooperação para descobrir a realidade, levantar e priorizar os problemas e formular ações
conjuntas;

• Mediante diagnósticos, procurar identificar alguns pontos importantes, como sistema de


produção, mercado de trabalho, mercado de terras, mercado de produtos agrícolas, meio
ambiente, políticas públicas, jogo de forças, possíveis parceiros, recursos naturais e
ambientais, indústrias, agroindustriais e turismo.

Alguns obstáculos

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• Interesses pessoais e políticos dos agentes envolvidos no processo, que acabam


comprometendo o trabalho;

• Intervenção assistencialista, por parte dos mobilizadores ou técnicos aparecendo como


favor ou esmola, inibindo uma ação emancipadora da comunidade;

• Comunidade não se sentir compromissada e envolvida com as próprias soluções de seus


problemas;

• Visão de que todas as pessoas da comunidade são iguais, pensam iguais e agem iguais
por parte dos técnicos e dos mobilizadores;

• Visão de que a comunidade é alvo, cliente, paciente e não sujeito principal, como
autênticos interessados no processo;

• É mais prático receber as coisas dos outros, a comunidade ter uma postura pensada nas
bases do clientelismo.

A mobilização social

Qual a importância de entender a mobilização social no processo de Extensão Rural? Se


pensarmos que Extensão Rural parte da ideia da interação entre técnicos, mediadores,
movimentos sociais e agentes mobilizadores juntamente com agricultores. Assim, a mobilização
pode ser definida como uma maneira de chamar os agricultores para participar, em coletividade,
da discussão e reflexões de questões relativas aos problemas de uma comunidade ou de um
grupo de agricultores.

Nesse sentido, Mafra (2007) aponta que mobilização social se constitui num processo de
envolvimento das pessoas em causas coletivas, como, por exemplo, um grupo de agricultores
convocados pelos extensionistas para discutir o problema da comercialização da sua produção,
para juntos de forma participativa tomarem decisões ou regulamentarem coisas que são coletivas.
Assim, mobilizar é como um processo de gerar relações.

Além disso, a mobilização social envolve a partilha de algo que é público: as causas coletivas são
de todos – ainda que assumidas/protagonizadas por determinados atores, como extensionistas,
agricultores, movimentos sociais, dentre outros. Numa sociedade democrática, em que se acolhe
permanentemente a luta por direitos e a participação dos sujeitos nas causas que os afetam, a
mobilização social deve se constituir enquanto uma forma participativa de resolução de problemas
e de definição de aspectos que envolvam as diferentes visões sobre aspectos coletivos. (MAFRA,
2007).

Estar atento, portanto, à mobilização social é perceber a dinâmica de organização coletiva que,
mais cedo ou mais tarde, será constituída pelos sujeitos, sempre que uma questão pública (um
problema, uma decisão, uma política) os afete no curso de suas vidas.

O agente mobilizador

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Uma das principais características de um agente mobilizador que se propõe a trabalhar a


participação é a disponibilidade para ouvir a comunidade antes de falar e a paciência para
compreender as questões que estão sendo levantadas. Isso porque nesse espaço de discussão
é importante que seja construída de forma conjunta uma interpretação da realidade local.

Dessa forma nenhuma fala deverá ser descartada, o que deverá ser feito é questioná-la mediante:
como isso pode ser feito? Quem se responsabiliza? O que o grupo acha? Mas sempre buscando
um caráter educativo, pois um dos principais papéis do agente mobilizador é o de mediar,
sistematizar, organizar as ideias e apresentar os resultados, e lembrando-se sempre que é a
comunidade reunida que será o filtro das decisões.

Alencar e Gomes (1999) chamam atenção que durante uma reunião para levantar prioridades
numa comunidade, provavelmente o resultado não irá coincidir com aquilo que o agente
mobilizador acredita ser o ideal, mas isso é normal, pois se o processo é participativo não será
para coincidir mesmo, posto que deva abarcar diferentes visões.

É importante deixar claro que o agente mobilizador tem um papel importante no processo, além
de ser o responsável pela animação, pela condução dos trabalhos nas reuniões, ele deverá
garantir que todos os membros participem, falem dos problemas, das causas, das consequências
e das possíveis soluções e, se possível, discutindo com os membros participantes das reuniões a
quem cabe qual ação, ressaltando sempre a necessidade dos participantes tomarem parte dos
processos deliberativos, adquirindo, gradualmente, autonomia decisória com relação às questões
e situações enfrentadas.

A equipe de mobilizadores

Uma das principais características de uma boa equipe para lidar com as metodologias
participativas é que esta deve estar capacitada e preparada para lidar com o público, seja ele
pequeno ou grande. O ideal é que a equipe seja formada por pelo menos quatro integrantes, que
se revezem durante a condução dos trabalhos. Quando um estiver na frente conduzindo os
trabalhos, os demais deverão estar espalhados pelo local da reunião, anotando tudo e prestando
atenção nos gestos e “cochichos” que acontecem durante o encontro. Esse momento é importante,
pois é muito comum nessas comunidades às pessoas se sentirem envergonhadas ou
constrangidas em falar em público e geralmente se limitem a comentários com o seu colega ao
lado.

A equipe deverá ficar atenta e evitar que a fala fique concentrada apenas com algumas pessoas,
sendo assim, é importante que a equipe crie mecanismos que possibilitem que todos os presentes
na reunião falem. Por exemplo, quem estiver animando pode voltar-se para uma pessoa presente
na reunião que ainda não falou e perguntar o que a pessoa acha da sugestão que está sendo
apresentada, ou quem estiver anotando poderá interromper a reunião para pedir a fala para a
pessoa próxima a ela.

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Preparativos que antecedem as reuniões

É importante deixar claro que para se alcançar êxito durante cada reunião é necessário que se
tenha feito um bom preparativo até se chegar a ela. Desta forma é importante destacar alguns
pontos necessários para a construção desse processo, atentando, no entanto, para o fato de que
não existe uma receita ideal, pois cada comunidade possui uma realidade distinta.
1. A primeira etapa é a elaboração de um roteiro prévio (Tabela 01) listando quais as
informações necessárias que serão levantadas e quais as técnicas que serão utilizadas. Nesta
etapa, deve-se procurar distribuir tarefas entre toda a equipe;

2. Coletar e sistematizar as informações secundárias sobre a comunidade, como mapas,


fotos, dados censitários, relatórios, etc. que serão relevantes para o trabalho (prefeitura,
sindicato, associação, IBGE, dentre outros, pode ser um caminho para essas informações,
depende de cada situação);

3. Convidar toda a comunidade, não só as lideranças, mas todos os grupos existentes na


comunidade e definir datas e locais com antecedências mínimas, fazendo divulgação através
de meios disponíveis, como o “boca a boca”, rádio, sindicato, cartazes em locais de grande
passagem da comunidade, etc.;

4. Definir um horário de reuniões que seja melhor para a maioria das pessoas da comunidade
(caso a comunidade seja grande poderão ser feitos agrupamentos para facilitar o trabalho);

5. Selecionar um espaço para as reuniões, procurando um local que tenha uma distância
intermediária entre todos da comunidade, de preferência em locais onde a comunidade já
realiza seus encontros. Verificar também se o local tem capacidade para todas as pessoas
convidadas. É importante evitar desmarcar as reuniões e procurar chegar antes do horário para
checar todos os detalhes necessários;

6. Lembrar sempre, antes de ir para as reuniões, de levar todo o material necessário como:
cartolinas, pincéis, canetas, fita crepe, lápis de cor, giz, etc.

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Tabela 01 - Roteiro Geral

Temas Geradores Questões Observações Técnicas


1. Infraestrutura A- Condições Hidro A- Fossa; água encanada; privada; depósito de lixo; esgoto; fonte de água . Entrevistas
social Sanitárias (p.ex. poço artesiano). . Caminhada
B- Escola B- N.º de escolas; professores; funcionários; n.º de alunos; tipos de Transversal
C- Posto de Saúde vinculação; escolaridade; estrutura física; recursos pedagógicos; . Mapeamento
D- Acesso (Estradas) merenda escolar; localização, transporte; estrutura curricular.
E- Moradia C- N.º; estrutura física; recursos humanos; medicamentos; tipo de
F- Energia vinculação; tipo de atendimento; acesso; doenças; formas alternativas.
G- Igreja D- Tipo; condições; meios de transporte; distância da cidade.
E- Tipo; condições; organização.
F- Tipo; distribuição; fonte, energia p/ alimentação; origem.
G- N.º; estrutura física; tipo de religião; atividades.
2. Sistema de A- Terra A- Grau de fertilidade; topografia; tipo de solo; manejo; tipo de cultivo; . Entrevistas
Produção B- Trabalho tamanho da área cultivada; produtividade; produção. Semiestruturadas
C- Capital B- Tipo (infantil, adulto, feminino, assalariado, temporário); organização . Entra e Sai
D- Infraestrutura (parceria, cooperativa, associação, individual). . Caminhada
E- Conhecimento C- Origem (crédito oficial, empréstimo, rec. Próprio, doações, pessoal). Transversal
Tecnológico D- Máquinas e equipamentos (tipo e quantidade); construções; cercas; . Mapeamento
F- Criação tração animal. . Rotina Diária
E- Formas de produzir: aração; adubação; queimada; correção da acidez . Calendário Sazonal
do solo; roça (toco, irrigação); manejo de produção (espaçamento,
armazenamento, controle de pragas/doenças).
F- Tipo (animais); manejo (intensivo, extensivo); produtividade.
3. Mercado A- Destino da Produção A- autoconsumo; atravessador; cooperativas; atacadistas; varejistas; . Entrevistas
B- Fornecedores exportação; transformação (agroindústria); feira. . Entra e Sai
C- Localização B- Preço do produto; localização, condições de pagamento; quantidade; . Diagrama de Venn
forma de compra.
C- Distância dos centros urbanos; meios de transporte; acesso; outros
canais de comercialização.
4. Meio Ambiente A- Água A- Fonte (origem); utilização; reservatório; qualidade; vazão; regime .Realidade/Desejo
B- Lixo hídrico; distribuição. . Mapeamento
C- Reservas B- Destino e tratamento. . Entrevistas
D- Áreas Degradadas C- Tipo; tamanho e condições.
E- Exploração Florestal D- Localização e tipo; grau; tamanho; práticas conservacionistas.
F- Agrotóxicos
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G- Ecoturismo E- Extrativismo; madeira; caça; pesca; carvão.


F- Utilização; quantidade; equipamentos de proteção; destinos das
embalagens; formas de aplicação; formas alternativas de não utilização;
doenças provocadas.
G- Potencialidades (cavernas, cachoeiras e lagos).
5. Organização A- Associação A- N.º; tipo; liderança; n.º de sócios; estrutura organizacional; contratos . Diagrama de Venn
B- Cooperativa externos. . Entrevistas
C- Comunidade B- Idem. Semiestruturadas.Re
D- Empresários C- Lideranças e estrutura. alidade/Desejo
(farmers) D- N.º; tipo; papel como liderança.
6. Assistência A- Pública A- Quem são? Métodos de intervenção; frequência; qualidade; . Diagrama de Venn
Técnica B- ONG’s necessidade de outros profissionais. . Entrevistas
C- Particular B- Idem; .Realidade/Desejo
D- Própria C- Idem;
D- Idem.
7. Complexo A- Sindicatos A- N.º; lideranças; presença/atuação; serviços prestados. . Entrevistas
Institucional B- Prefeituras B- Prestação de serviços; eleitores em qual município; participação política . Diagrama de Venn
C- Movimentos Sociais do assentamento; partido político.
D- Igrejas C- Quais são?; tipo de orientação ideológico/partidária; tipo de atuação.
E- Instituições Públicas D- Quais?; atuação; prestação de serviços; tipo de orientação ideológica.
F- Organizações Civis E- Quais?; atuação; orientação ideológica.
F- Idem.
Fonte: Roteiro elaborado em 2001, pelas equipes de Plano de Desenvolvimento de Assentamento (PDA) do GT de Reforma Agrária da Universidade
de Brasília (UnB), como sugestão para coleta de dados de campo, para elaboração de diagnósticos e do PDA.

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Sugestões de procedimentos a serem seguidos durante as reuniões

A reunião é um momento de encontro da equipe de mobilizadores e a comunidade. Nesse


momento, o ideal é que o grupo se apresente e explique o objetivo do trabalho e pergunte para a
comunidade se o trabalho poderá ser realizado naquele local. É importante procurar se informar
primeiro se a comunidade possui algumas práticas culturais, como, por exemplo, a oração, que é
muito comum em algumas comunidades. Se isso existir, deve-se respeitar esses momentos e
adequar horários e datas específicas. Logo abaixo, segue alguns pontos importantes na hora de
realizar as reuniões.

1. Posicionamento das cadeiras, num modelo clássico de reunião as pessoas ficam sentadas
umas atrás das outras como numa sala de aula, esse tipo de layout dificulta a interação
dos participantes dessas reuniões. Conforme pode ser observado na figura a seguir.

Figura 01- Disposição clássica de uma reunião

Por isso, é interessante que as cadeiras sejam arrumadas na forma de mesa redonda, ou em
círculo, pois permite uma interação maior dos participantes na reunião, possibilitando que a
discussão seja feita olho no olho. Conforme pode ser observado na figura 02 a seguir.

Figura 02 - Disposição desejada para uma reunião interativa

Fonte: da imagem http://vator.tv/news/2011-06-01-reinventing-the-board-meeting-part-1-of-2


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2. Antes de iniciar ter bem claro a pauta da reunião e procurar apresentar os assuntos que
irão ser discutidos, a sequência em que vai ser abordado, o tempo que se pretende dedicar
a cada assunto;

3. Deverá ser utilizada uma técnica de cada vez, ou seja, em cada encontro deverá ser
escolhida a técnica que mais convém. É essencial, sempre no primeiro encontro, procurar
fazer uma apresentação de todos os membros presentes para que a equipe possa
conhecer melhor os participantes. Lembrar-se de passar uma lista de presença. Outra
técnica interessante para começar os encontros é o mapeamento, que permitirá conhecer
como é e como era a comunidade.

4. Ficar atento aos olhares, gestos e expressões dos presentes porque esses movimentos
na maioria das vezes representam a aprovação ou negação do que está sendo discutido.
O anotador tem um papel importante de procurar perceber esses aspectos;

5. Durante a utilização da técnica o animador tem que procurar provocar (no sentido de gerar
a discussão) ao máximo a comunidade, perguntando, por exemplo, o senhor concorda
com isso? Essa situação é a que corresponde a da comunidade? Não tem alternativa?
Vocês concordam com a posição do Sr. Antônio?

6. É desaconselhável descartar qualquer opinião de modo grosseiro ou deseducado, se isso


acontecer procure com simpatia agradecer a sugestão. Em caso de discussões acaloradas
entres os participantes, a equipe deverá procurar de forma paciente intervir, pois o papel
do animador é também de pacificador. É importante ressaltar que uma boa reunião é
aquela que gera muita discussão e, no contexto adequado, até mesmo polêmicas;

7. Durante as reuniões os anotadores devem evitar conversas paralelas, que fujam dos
objetivos. E em alguns casos os anotadores podem ajudar o animador lançando ao grupo
frases ou ideias que estão sendo “cochichadas”.

8. Se a reunião ficar muito cansativa ou monótona, a equipe de mobilizadores deverá sugerir


uma dinâmica para espantar o cansaço. Deverá também reservar um tempo para um
lanche;

9. Depois da realização dos trabalhos agradecer a presença e a participação de todos e se


for possível fazer uma avaliação dos trabalhos, além de convidar e marcar o próximo
encontro. Por fim recolher todo o material para sistematização e apresentação futura. Esse
é um momento importante para a comunidade, pois o retorno do produto das reuniões
contribui para a mobilização e a reflexão dos atores envolvidos.
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A utilização das técnicas

Qualquer tipo de intervenção em uma comunidade deve levar em conta vários aspectos comuns
como localização, história da comunidade, número de famílias, envolvimento dessas pessoas com
a comunidade e outros que já foram abordados anteriormente.
Pereira et al. (1998) sugere que a intervenção em cada comunidade deve seguir um processo
cumulativo de coleta de informações, conjugando técnicas coletivas com técnicas individuais, no
sentido de captar as diferentes percepções e situações da comunidade.

É importante ressaltar que para a utilização das técnicas tem que se ter em mente que o uso delas
vai depender dos objetivos, das condições e dos recursos disponíveis. Entretanto, existe uma
variedade de técnicas que pode ser utilizada em várias combinações que possibilitem o
conhecimento da comunidade. Logo abaixo serão apresentadas algumas dessas técnicas e
exemplos3.

Técnicas individuais

As técnicas individuais permitem, a partir de uma amostragem intencional ou aleatória, levantar


informações e questões que poderão servir de suporte para conhecer e planejar melhor como
poderão ser construídas as ações que promoverão a participação. É importante frisar que essas
técnicas não impossibilitam ou inviabilizam o uso de outras técnicas participativas.

Entrevista semiestruturada

É uma entrevista baseada em roteiro prévio de questão que servirá para auxiliar os mobilizadores
durante a entrevista, para que nenhum ponto importante deixe de ser abordado. O tempo e o modo
como os tópicos (que não são fechados) serão transformados em questões decorrerão do
procedimento da entrevista. Não existe nenhum impedimento no caso de aprofundamento de
algum tópico por meio de questões que possam surgir durante a entrevista. Uma vantagem dessa
técnica de pesquisa é que a mesma permite a descoberta e a compreensão de um fenômeno novo
fornecido pelo entrevistado a partir de desdobramentos de algumas questões do roteiro. É
importante ressaltar que o processo acontece considerando quatro componentes básicos:

1 – entrevistador;
2 – entrevistado;
3 – situação de entrevista;
4 – roteiro de entrevista.

3
Os exemplos fazem parte da experiência do autor, principalmente em diagnósticos rápidos
participativos, quando o mesmo fez parte da equipe coordenada pelo professor José Roberto Pereira da
Universidade Federal de Lavras e o Grupo de Trabalho da reforma agrária do Decanato de Extensão da
Universidade Federal de Brasília, para a elaboração de Plano de Desenvolvimento de Assentamentos (PDA).
Além da realização de trabalhos de consultoria na empresa Ecology Brasil.
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Uma vantagem da entrevista é sua maior flexibilidade, pois no caso do questionário, se a pessoa
interpreta erradamente uma pergunta ou registra suas respostas de maneira confusa, geralmente,
pouco se pode fazer para remediar a situação. Numa entrevista, existe a possibilidade de repetir
as perguntas ou apresentá-las de outro modo para que se possa ter a certeza de que são
compreendidas ou fazer outras perguntas a fim de esclarecer o sentido de uma resposta, e ainda
existe a possibilidade do pesquisador se interagir mais com o entrevistado.

Utilizando a técnica: por meio de um roteiro cujo objetivo é levantar as questões de interesse, o
mobilizador procura realizar a entrevista, que pode ser gravada com a autorização do entrevistado.
Caso a entrevista não seja gravada, é importante que a entrevista, seja realizada por pelo menos
duas pessoas: uma para perguntar e outra para anotar. Durante as entrevistas é necessário que
se tenha alguns cuidados como disponibilidade do informante, desconhecimento do informante e
do entrevistador por parte do assunto, falhas de omissão, roteiro mal elaborado.

Rotina diária

É um diagrama que ilustra rotinas diárias das pessoas (Figura 03). Pode ser usado para entender
a realização de tarefas, sua carga horária de trabalho, enfim a utilização do tempo do entrevistado,
as diferenças de atividades entre o homem e a mulher, diferentes estações do ano, etc.

Estas informações são importantes porque muitos projetos de desenvolvimento falham por
introduzirem novas atividades que homens e mulheres não têm tempo de realizar. Nessa técnica
também permite abrir brechas para explorar questões como alimentação, higiene, educação e
saúde da família.

Utilizando a técnica: é solicitado aos participantes que identifiquem todas as tarefas que
executam a partir do momento em que acordam, passando pelas atividades diárias até a hora de
dormir. As informações são anotadas em um diagrama em forma de círculo dividido em quadrantes
por hora. Logo baixo é apresentado uma rotina diária de agricultoras em municípios do sertão do
estado do Ceará.
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Figura 03 - Rotina diária de mulheres agricultoras no Acre

Fonte: Arquivo pessoal, 2013.

TÉCNICAS COLETIVAS

São aquelas desenvolvidas para trabalhar de preferência em grupo, mas algumas podem ser
trabalhadas individualmente. São técnicas que não possuem restrição ao número de participantes.
O seu interesse é estimular o caráter participativo e pedagógico, uma vez que proporcionam o
debate sobre os temas e problemas levantados pela comunidade em grupo.

Mapeamento Histórico
O mapeamento permite que a comunidade faça um desenho, mostrando detalhes da região e
contando a transformação do espaço (Figura 04). O produto final é muito interessante tanto para
os mobilizadores quanto para os membros da comunidade, pois em alguns casos os moradores
mais novos ficam sabendo ou conhecendo alguma construção, ou lugar importante que não existe
mais, além de ser um importante meio de comunicar percepções a respeito do meio ambiente
local. O mapeamento facilitará a definição do percurso da caminhada transversal e de possíveis
pontos a serem visitados. Logo abaixo é apresentado o resultado de um mapa produzido em um
assentamento rural na região do Distrito Federal.
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Figura 04 - Mapa histórico do assentamento Vereda I

Legenda

Reserva permanente e legal

Reserva Legal (área com muita pedra e cascalho) “Chácaras” na área do cerrado

“Chácaras” na transição mata cerrado Área total do assentamento 2.064 hectares

“Chácaras” na transição cerrado beira-rio

De 1 a 70 referentes aos números das “chácaras”

Fonte: Oliveira, 2002

Utilizando a técnica: com as pessoas reunidas em grupo utilizando-se de lápis de cor, cartolina,
ou até mesmo giz - no caso de se fazer o desenho no chão - e pede-se a elas que desenhem sua
comunidade ou qualquer aspecto dela que julguem importantes. O importante da dinâmica não é
o resultado do desenho e sim as discussões produzidas ao longo da dinâmica. Essas informações
podem oferecer importantes instrumentos como histórico do grupo, uso e ocupação do solo,
relações de vizinhança, entre outros.

ETNOMAPEAMENTO

O etnomapeamento é uma dinâmica que pode ser usado junto a grupos tradicionais como
indígenas, que consiste num instrumento de Planejamento Territorial e Ambiental, possibilitando
provocar reflexões sobre estratégias de proteção e fiscalização. Através da discussão sobre a
transformação do espaço, detalhes da região, utilização dos recursos naturais, usos e as formas
de ocupação do território, invasões das terras indígenas, potencialidades de seus territórios, e
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utilização do território indígena. Nas figuras abaixo é possível observar o uso dessa dinâmica em
comunidades indígenas.

Figura 05: Resultado do Etonomapeamento Participativo

Índios Nambikwara discutindo o mapa de suas terras. Fotos: do autor

Fotos: do autor, Ecology Brasil, 2009.

Sobre a ideia de abordagem participativa, Correia (2007) aponta que o mapeamento construído
de forma participativa junto a grupos indígenas permite, não só a construção de conhecimento,
mas também, como um elemento dentro do processo político, contribui para refletir sobre algumas
demandas indígenas, como no planejamento territorial.

Utilizando a técnica: uma forma de trabalhar com essa dinâmica é o uso de imagens de satélites,
para o levantamento das informações que se busca discutir junto ao grupo. O uso de imagens de
satélites ajuda a produzir informações relevantes para pensar, não só a proteção e fiscalização,
bem como a gestão territorial destes espaços.

Além disso, a utilização de imagens de satélite constituiu numa proposta didática interessante,
pois além de provocar as discussões sobre a importância da utilização dos recursos naturais e
proteção das terras, as imagens possibilitam provocar as percepções dos indígenas sobre seu
território.
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Caminhadas Transversais

Na caminhada os mobilizadores procuram percorrer transversalmente o território da comunidade


ou a propriedade. Para isso, é necessário que os técnicos estejam acompanhados por pessoas
que conheçam bem o local. Assim, durante a caminhada os técnicos vão observando toda a área
e o ecossistema por onde se passa e indagando sobre o histórico de exploração produtiva, manejo,
tipo de culturas cultivadas, potenciais de exploração, uso do solo, e, etc. O objetivo é levantar
informações mais detalhadas da área, de preferência fotografando e filmando os locais percorridos
(Figura 06).

Usando a técnica: é selecionado um grupo de moradores e mobilizadores, no caso de uma área


muito grande pode ser formado mais de um grupo. O grupo caminha pela área anotando tudo
referente a solo, relevo, fauna, flora, desmatamento, lixão e o histórico do lugar. O produto final é
um desenho transversal do trajeto percorrido, com as observações anotadas que permitam
conhecer o ecossistema da comunidade.

Esse resultado é fundamental para que técnico possa auxiliar a comunidade no manejo e nas
formas de utilização dos seus recursos. Na figura abaixo é possível observar o resultado de uma
caminhada transversal realizada em um assentamento rural.
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Figura 06 - Perfil da Caminhada Transversal realizada em um assentamento em Goiás

1. Vegetação nativa de cerrado com espécies 2. Margeando o Córrego Guará encontram-se faixas de 3. Há predominância de 4. Presença de vegetação
indicativas de solo fértil como pau de óleo, aroeira, cerrado mais ralo, e faixas mais densas, característico de vegetação nativa, com áreas de de cerrado mais densa,
cedro, além da mangaba, baru, pequi, tingui e pimenta- Mata de galeria, “mais para o interior”, nota-se a presença cerrado mais denso, com a com espécies de grande
de-macaco. Apresenta manchas de latossolo vermelho- de áreas de capim-nativo, de veredas e de pequenas roças presença de pequi, sucupira- porte e pequenas áreas
amarelo com predominância do cambissolo. A fauna de toco, onde foram cultivados mandioca, milho, branca, pau de óleo, jatobá e de roça de toco, onde
local pode ser caracterizada pela presença cada vez amendoim e arroz. As espécies de cerrado encontradas áreas de cerrado mais ralo, com foram plantadas
menor de animais como catitu e anta. Na moradia foram foram: pequi, buriti, ipê-roxo, ipê-amarelo, aroeira-branca, a ocorrência da lixeira, do cajuí e mandioca, abacaxi e
empregados materiais locais como a folha de “indaiá” jequitibá, cajuí, garapa, buritirana, angico, sucupira, jacaré, do tinguí. Foi introduzido numa milho consorciado com
(babaçu), estando a mesma localizada numa área mais jatobá. A presença de capim-jaraguá, que é nativo da pequena área o capim abóbora. Notou-se a
próxima ao curso d’água (Córrego Guará). região, caracteriza solos pobres e mais rasos. O andropógon e a mandioca. O solo presença de solos mais
encrostamento superficial do solo é acentuado pelo se caracteriza pela abundância férteis, sem cascalho e
período sazonal. As espécies de animais mais de cascalho e pela presença de cupim. Destaca-se a
encontradas foram: saracura, cutia, tatu e juriti. No período cupins. Grota de São Luiz, que
de seca, que na região ocorre de maio a outubro, o mantém um pequeno
Córrego Guará seca, fazendo com que a água para o volume de água na época
consumo humano e animal seja buscada em longas das chuvas.
distâncias.
Fonte: Pereira et al. 2001 (c)

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A construção

Essa técnica tem o objetivo de elaborar “maquetes” que representem o espaço social onde as
pessoas vivem, ou até mesmo a projeção de um espaço ideal que ainda não existe, como
acampamentos que estão se tornando assentamentos rurais. Além disso, essa dinâmica pode ser
discutida com outros grupos, como indígenas, de forma lúdica, procurando problematizar como é
o processo de ocupação de suas comunidades, bem como sua distribuição espacial. Nas figuras
abaixo é possível observar um grupo de indígenas no estado do Mato Grosso participando dessa
dinâmica.

Figura 07. Indios Nambikwara participando da técnica da construção

Fotos: do autor, Ecology Brasil, 2009.

Usando a técnica: para a utilização da técnica é interessante que a comunidade se divida em


grupos de cinco a dez pessoas. Cada grupo deverá receber material em quantidade igual
encontrado na comunidade como, por exemplo, gravetos, pedras, saibro, dentre outros, no caso
da técnica a ser utilizada em espaço não rural, podem ser utilizados, barbantes, papéis, cartolina,
cola e palitos. O tempo deverá ser limitado. O ideal é de 20 a 40 minutos. Um dos principais
objetivos dessa técnica é proporcionar a projeção da organização espacial desejada, ou seja, a
comunidade representa "aqui" como ela gostaria que fosse o espaço ideal ou até mesmo como
esse espaço é ocupado.

Diagrama de Organização da Comunidade (Diagrama de Venn ou jogo das bolas)

O diagrama é elaborado para ajudar na compreensão das relações que as instituições formais e
informais têm para a comunidade. Serve também para reconhecer a sobreposição que possa
existir em processos de decisão e cooperação. Não enfatiza apenas as instituições, mas também
as oportunidades de melhor comunicação com elas. Logo abaixo é apresentado o resultado de
um Diagrama de Venn em um assentamento, essa dinâmica permitiu mapear as instituições que
se relacionam ou tem alguma importância para essa comunidade (Figura 08).

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Figura 08. Diagrama de Venn (“Jogo das Bolas”) no assentamento Vereda I

Agência Rural

BB de Padre
Bernardo
INCRA: SR.28

UnB-GT-RA
UCB -EFA

Assentamento Vereda I

Prefeitura: Presente

Prefeitura: Futuro

Fonte: Oliveira, (2007)

Usando a técnica: em primeiro lugar pede-se para a comunidade listar todas as entidades ou
instituições que a ela acha importante para o grupo. Nesse momento, o animador tem que ter o
cuidado para não influenciar a comunidade, deixando a mesma à vontade para fazer a listagem
das instituições. Ao se iniciar o jogo, o animador tem que deixar claro que a bola de referência ou
a unidade chave sempre será a comunidade, que ficará no centro do jogo. A partir da bola de
referência as demais bolas serão jogadas considerando duas regras, a primeira relacionada com
a importância, ou seja, o tamanho da bola, quanto maior a bola mais importante será a
organização, e a segunda regra, relacionada com a distância da bola em relação à bola que

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representa a comunidade, assim, quanto mais perto da bola da comunidade mais atuante ou mais
contato a instituição tem com a comunidade, e quanto mais distante, indica pouca atuação ou
contato nenhum que a instituição tenha com a comunidade. Observação: com exceção da bola
que representa a comunidade, as demais bolas deverão ser feitas por pessoas presentes na
reunião e não pela pessoa que estiver conduzindo a técnica.

Teatro participativo

Consiste na apresentação de um grupo que encena um fato ou acontecimento da vida da


comunidade, que servirá de base para debates. Pode ser utilizado também para identificar quais
as mudanças mais importantes para a comunidade. Essa técnica permite uma maior interação de
forma descontraída dos diversos grupos existentes na comunidade. É bom também para coleta e
compartilhamento das descobertas, além do seu caráter pedagógico permitir a criação e a
inovação por parte dos participantes.

Usando a técnica: é solicitado ao grupo que elabore um roteiro a partir de um tema gerador que
a comunidade escolher, e que os participantes do teatro escolham seus papéis. Isso possibilita a
oportunidade para comunicar suas opiniões e ideias sobre o tema que está sendo discutido. Uma
sugestão é propor cenas rápidas e humorísticas. Nesse teatro é possível, por exemplo, realizar
uma discussão de gênero encenando como homens e mulheres usam e manejam os recursos da
terra, ou como os adolescentes se relacionam com a comunidade em que estão inseridos. O teatro
pode ser utilizado com a combinação de outras técnicas como a construção, a rotina diária, dentre
outras.

Matriz de Critérios e Opções

É utilizada para descobrir quanto um tema é conhecido localmente e quais são as atitudes a tomar
em relação ao mesmo. O trabalho básico é ordenar certas proposições de acordo com critérios
selecionados. As opções podem abranger medidas de conservação das fontes de água e do solo,
as variedades de cultivo de cereais, os tipos de fertilizantes, as árvores, os frutos, etc. A matriz
também ajuda a descobrir as diferentes percepções dos diferentes grupos sociais, em relação ao
mesmo tópico, fornecendo uma imagem mais nítida da situação.

Usando a técnica: é solicitado ao grupo que liste os tópicos referentes aos gastos com a
produção, como mão de obra, insumos, preços, criações, etc. Em seguida os presentes vão dando
peso a cada atividade de acordo com uma escala de mais importante a menos importante. O
resultado é a geração de dados econômicos de cada atividade desenvolvida dentro da
comunidade ou da propriedade. Exemplo na tabela 02.

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Tabela 02- Matriz de Critérios e Opções de uma Comunidade na Bahia

Produto Adubo Mão-de-obra Água X Seca Doenças Preço Observações


Mandioca XXX XXXXX XXXX X 10,00 saca 50kg saca de farinha
Milho XXXX XXXX XXXXX X compra 15,00 venda 10,00 saca de 60kg variedade
catetinho
Feijão XXXX XXXX XXXXX XXXXX 20,00 saca de 60kg variedade – branco e carioca
Capim XX XXXXX XXXX X 10,00 aluguel do pasto preço mensal
Palma XXXXXX XXX XX X não é vendido baixo valor
-----------
Sisal XXXXXX XXXX XX X 0,26 kg 2 kg o fardo

Umbu ----------- ----------- ----------- ----------- ----------- -----------

ouricuri ----------- XXXX ----------- ----------- 0,35 kg preço somente da castanha

Melancia XX X XXXXX XX 0,50 a 1,00 unidade -----------


Cabra ----------- XXXXX XXX XXXXX 2,50 kg carne limpa 20,00 a arroba
Ovelha ----------- XXXX XXXX XXXXX 2,50 kg carne limpa 20,00 a arroba
Jegue ----------- XX XXX XXX 25,00 a 30,00 o jegue 2,00 a 2,50 a jega
Cavalo ----------- XXXX XXXX XX 100,00 a 200,00 -----------

Burro ----------- XX XX XXX 150,00 a 250,00 -----------

Porco ----------- XXX XX XXX 2,00 kg


-----------
Galinha ----------- XX X XX 2,00 kg morta 3,00 a 4,00 viva
Peru ----------- XX X XX 2,00 kg limpo 3,00 a 4,00 viva

Vaca ----------- XXXX XXXXX XXXXX 27,00 a 30,00 arroba -----------


X(0 a 5) - Variação da Importância, em Ordem Crescente, dos Critérios e Opções. Fonte: Pisa et al. (1998) DRP do município de Nordestina, Bahia.

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Calendário Sazonal

É elaborado para ampliar o entendimento dos ciclos dentro do sistema de vida local. Ele possibilita
mostrar, mês a mês, os padrões de precipitação das chuvas, as sequências dos cultivos, a
utilização das fontes de água, a alimentação dos rebanhos, rendimentos, dívidas, migrações,
colheita natural, demanda de trabalho, disponibilidade da mão de obra, saúde, doenças, atividade
de conservação do solo e da água, pestes e epidemias, dentre outros.
O calendário sazonal é importante para se entender a articulação dos diferentes componentes na
vida rural como mutirão ou "troca de dias" bem como qualquer característica especificamente
sazonal do ambiente. Logo abaixo é apresentado um calendário sazonal realizado em uma
comunidade extrativista no sul do estado do Amapá.

Figura 09 - Calendário referente às principais atividades agrícolas

Atividades Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Tratos culturais da
castanha

Preparar rancho e
equipamentos
Colheita, quebra dos
ouriços e transporte da
castanha
Comercialização da
castanha

Manutenção e tratos
culturais das lavouras
Plantio das lavouras

Colheita das lavouras*

Caça e pesca

Fonte: Trabalhos de campo do autor ano de 2007 e 2008

Legenda:
Tratos culturais da castanha
Preparar rancho e equipamentos
Colheita e transporte da castanha
Comercialização da castanha
Manutenção e tratos culturais das
lavouras de subsistência
Plantio das lavouras
Colheita das lavouras
Caça e pesca

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Usando a técnica: por meio de um gráfico, é perguntado aos participantes quais os meses de
maior ou menor demanda de trabalho, quais as atividades desenvolvidas, mês a mês, indicando
as mudanças que ocorrem ao longo do ano, além de abordar ciclos de culturas, criação, dieta e
nutrição animal. É interessante que o calendário seja baseado no calendário agrícola local e utilizar
os nomes locais para as culturas, meses e estações do ano. O gráfico pode ser feito em um quadro
negro ou cartolina, apresentado para a comunidade no final.

Entra e sai
É uma técnica gráfica que permite a coleta de informações de dados econômico e administrativo,
principalmente utilizada em comunidades rurais. Ela pode ser utilizada em grupo ou
individualmente. Tal técnica permite a comunidade uma visualização do que se compra, produz e
do que se vende ou fica na propriedade e de cada atividade desenvolvida.

Pelo seu caráter pedagógico, ela possibilita, por exemplo, que a comunidade visualize a sua
posição perante os fornecedores de insumos e os canais de comercialização, possibilitando,
assim, analisar suas potencialidades e limitações. Além disso, utilizada em grupo estimula o
levantamento de outros possíveis fornecedores e compradores, uma vez que as pessoas irão
discutir em conjunto quem são os seus fornecedores e compradores.

Usando a técnica: é solicitado aos participantes que identifiquem o que é produzido na


comunidade ou na propriedade na coluna do meio. Nas colunas da esquerda deve-se tentar
identificar tudo necessário para a produção daquele produto, considerando inclusive de onde é
comprado os insumos. E nas colunas da direita procura-se identificar tudo o que é processado, o
que fica na propriedade ou é vendido e para onde vai à produção.

Logo abaixo é apresentada uma tabela construída junto a assentados na região do entorno do
Distrito Federal, essa dinâmica ajudou os técnicos e assentados a refletirem sobre questões de
comercialização, produção e trocas no interior do assentamento.

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Tabela 03 - Entra e sai de um assentamento em Goiás


De onde vem (onde é Entra O que Sai Para onde vai
comprado o produto produzi
ou insumo) r
Colinas do Sul, F. Real, Rama de Mandioca Mandioca, Assentamento
Angicos e Niquelândia mandioca, força farinha, (consumo humano e
de trabalho e polvilho animal), Colinas do
calcário. Sul, São Jorge,
Niquelândia e Alto
Paraíso.
INCRA, EMBRAPA Semente, Milho Milho, Assentamento
(Agroceres-Santa adubo (0-16-30) e semente, (consumo humano e
Helena) e Niquelândia força de trabalho. fubá. animal), Niquelândia
(armazém e
supermercado),
Do próprio assentamento Semente, Arroz Arroz, Assentamento
matraca, força de fubá de (consumo humano e
trabalho, cutelo, arroz e animal)
pano para forrar o farelinho.
chão e bater o
arroz.
São João da Aliança e Semente, Feijão Feijão Assentamento
Água Fria adubo químico e (consumo humano)
força de trabalho
Fazenda Mato Verde e Muda, Banana Banana Assentamento
Colinas do Sul (adubo força de trabalho, (consumo humano),
químico) adubo (10-10-10), Alto Paraíso e
cama de frango, Planaltina de Goiás.
calcário
e esterco
Niquelândia, Padre Pasto, gado Leite Leite, Assentamento
Bernardo e Colinas do leiteiro, sal queijo, (consumo humano),
Sul. mineral, ricota, Colinas do Sul e São
carrapaticida doce de Jorge (via
e vacinas (aftosa, leite e intermediários)
botulismo e requeijão
manguinho)
Do próprio assentamento, Milho, ração, Galinha Ovos, Assentamento
Colinas do Sul e pintos, galinha / frangos (consumo humano),
Niquelândia para postura, Ovos Alto Paraíso e
remédios, Planaltina de Goiás.
material para
construção do
galpão.
Fonte: Pereira et al., 2001 (C)

Realidade/Desejo

Esta técnica visa conhecer os problemas e desejos da comunidade e descobrir como eles podem
ter uma participação atuante na resolução e alcance dos mesmos. Nessa técnica o caráter
educativo e esclarecedor é importante, no qual o animador procura perguntar aos participantes
sobre a realidade dos principais problemas da comunidade e como pode ser a atuação e as
possíveis soluções para resolverem esses problemas. Essa técnica permite também perceber o

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comprometimento dos participantes aos problemas abordados e as possíveis parcerias ou


trabalhos coletivos que os participantes podem desenvolver (Tabela 04).

Usando a técnica: é solicitado aos participantes que identifiquem todos os problemas da


comunidade, apontando o desejo e o caminho para a realização desses problemas. Aqui o
animador tem que procurar provocar ao máximo as discussões entre os participantes, buscando
levantar os pontos de vista, inclusive os contrassensos. Para cada problema apresentado pelos
participantes deve ser discutido, detalhadamente, as suas causas e indicados os respectivos
desejos e caminhos possíveis para atingir os desejos, atribuindo responsabilidades para cada
instituição e pessoas envolvidas. É importante que se separe os problemas da área social e da
área de produção, para que não se misturem as prioridades tanto de uma como de outra. O
produto final servirá de base para outras técnicas como a eleição de prioridades e o desejo
temporal.

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Tabela 04. Matriz Realidade/Desejo do Assentamento (1) em Goiás - Área Social


REALIDADES CAMINHO DESEJO
1. Educação Fazer uma relação do número de pessoas que Ter uma escola no assentamento, com
• Acesso à escola (falta transporte/estrada) seriam beneficiadas com a escola. O ensino fundamental e médio que
• Falta formação dos professores assentamento fornece a mão-de-obra para a valorize o saber local e as
• Falta alfabetização de adultos construção, o MEC o material escolar e peculiaridades da comunidade.
professores, e a prefeitura de Padre Bernardo a
merenda e o material de construção. Procurar a
prefeitura com o projeto da escola. Saber
informações junto ao INCRA sobre o PRONERA
2. Saúde Curso de enfermagem para quatro voluntários do Posto de saúde fixo e equipado
• Falta de agentes de saúde capacitados assentamento. Entrar em contato com a telefônica, (nebulizador, farmácia, quatro salas,
(enfermeiros) no assentamento justificando formalmente a necessidade de um médico e dentista) no assentamento
• Falta de telefone público telefone para a comunidade. Ir à prefeitura com o com atendimento mensal, funcionando
• Falta de conhecimento sobre primeiros socorros projeto do posto, utilizar a Secretaria de Saúde. com voluntários que receberão
• Falta de Posto de Saúde no assentamento Fazer uma relação das pessoas que vão contribuir capacitação.
na construção (o assentamento irá fornecer a mão- Telefone público
de-obra).
3. Água Fazer análise da água das cisternas, nascentes e Poços artesianos
• Faltam de água para consumo humano, animal e rio (INCRA/Universidade). Ver o custo de um poço
agricultura artesiano. Liberação de créditos junto ao INCRA.
• Qualidade e distribuição inexistente
4. Energia Elétrica Fazer estimativa do número de postes, metragem Energia elétrica para todas as famílias
• Falta de energia elétrica no assentamento de fios e tipo de transformador (APAVI) e do assentamento
apresentar à prefeitura e ao INCRA.
5. Estrada Ver mapa do Assentamento Construção das pontes
• Falta ponte Comunidade: madeira e mão-de-obra, areia, Abrir novas estradas dando acesso aos
• Estradas provisórias pedras, cascalho (dentro do possível) para a lotes.
• Falta de acesso às chácaras construção.
Prefeitura do município: construir a ponte
6. Moradia Legalização para que as famílias possam receber Casas com dois quartos, sala, cozinha
• Falta de moradia os créditos referentes à habitação. e banheiro.
Cada família fará um projeto da própria casa,
estimando a quantidade de material necessária e
listando os recursos próprios do assentamento
que poderão ser utilizados.

Fonte: Pereira et al. 2001 (a).

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Eleição de Prioridades

Esta técnica visa conhecer as demandas prioritárias existentes na comunidade, tendo como
objetivo elegê-las em ordem crescente de prioridade. A eleição é feita mediante uma simulação,
utilizando-se de cartolinas coloridas que representam dinheiro (Tabela 05).
Segundo Pereira (1998), nesse momento a comunidade tem a oportunidade de praticar a
democracia interna, isso porque eles elegem as prioridades da comunidade após um processo
educativo de análise de sua própria realidade, tendo consciência de suas limitações e de suas
potencialidades. Além disso, essas informações poderão servir de base para o poder local nos
planos de desenvolvimento, no qual se deve respeitar a ordem de prioridade do grupo.

Tabela 05. Resultado da Eleição de Prioridades da Área Social, Assentamento (1)

Área Social Azul (10) Branco (5) Amarelo (1) Total (valor)
1.Água 54 (540) 8 (40) 2 582
2.Casa 10 (100) 35 (175) 7 282
3.Escola 2 (20) 11 (55) 19 94
4.Energia elétrica 2 (20) 6 (30) 18 68
5.Posto de saúde 0 7 (35) 14 49
6.Estrada 0 5 8 13
Fonte: Pereira et al. 2001 (a).

Figura 10- Outra forma de apresentação dos resultados da eleição de prioridades.

60%
53,49%
50%

40%
25,92%
30%

20%
8,64% 6,25% 4,50%
10%
1,19%
0%
Água Casa Escola Energia Posto de Estrada
elétrica saúde
Fonte: Oliveira, 2002

Usando a técnica: para a construção da técnica são distribuídos cartões (cartolinas cortadas
representando simbolicamente o dinheiro, para atribuir valores aos votos, da seguinte forma: Azul
= R$ 10,00; Branco = R$ 5,00; Amarelo = R$ 1,00), cortadas na forma de notas que
simbolicamente representam dinheiro para atribuir valores aos votos. Cada pessoa presente na
reunião recebe um cartão de cada cor, com direito a três votos. O cartão de maior valor deve ser
destinado ao item de maior prioridade e assim sucessivamente. Após a votação se realiza a

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contagem e aqueles itens que obtiverem mais votos são considerados prioritários pela
comunidade. É importante lembrar que os itens que estão em disputa na eleição é o resultado do
que foi discutido na técnica de realidade e desejo.

Desejo Temporal
O desejo temporal é uma técnica adaptada do MAPP, para realizar os planos de ação para
comunidade. Que pode ser dividido em períodos como, por exemplo, sugeriu Pereira et al. (2001)
para assentamentos rurais, definindo uma divisão de espaço de tempo em três períodos: dez,
cinco e um ano. É interessante ressaltar que essa periodicidade pode ser modificada conforme as
necessidades de planejamento da comunidade, mas sempre tendo em mente aos interesses da
comunidade que pode variar de curto, médio e longo prazo. Essa técnica pode ser utilizada para
a realização do planejamento da comunidade, além de permitir visualizar de forma bastante,
prática os desejos, obstáculos almejados pela comunidade ao longo do tempo. Logo abaixo é
apresentado o resultado dessa dinâmica em um assentamento rural.

Tabela 06. Desejo Temporal


Período Objetivos Limitações
Dentro de 1 ano Poço artesiano, casa e energia; Faltam informações a respeito da liberação de
recursos do INCRA para a prefeitura e o
Estado;
Dentro de 5 anos Fundar cooperativa Falta de informação sobre cooperativismo
(industrialização)
Dentro de 10 anos Pagamento das parcelas Falta de recursos para o pagamento
Fonte: Pereira et al. 2001 (a).

Usando a técnica: A partir dos dados obtidos com a técnica realidade e desejo é realizada uma
discussão com a comunidade procurando definir o período para a realização, dos objetivos e das
limitações. Na coluna do período fica o tempo que pode ser representado em anos ou meses. Na
coluna dos objetivos se relaciona o que se quer realizar, como a construção de casas, pontes, etc.
e na coluna das limitações é colocado tudo aquilo que pode ser obstáculo para que os objetivos
aconteçam. Na tabela 16 acima foi apresentado um exemplo de forma simplificada.

Estratégias de Ação

A dinâmica da estratégia de ação representa a organização e mobilização da comunidade para a


execução de metas condicionantes de cada um dos objetivos apresentados (Tabela 07). As
estratégias devem ser levantadas em discussão com a comunidade e os responsáveis por cada
meta ou objetivo deverão ser eleitos, ou indicados pela própria comunidade. Nessa técnica é
possível mapear os possíveis parceiros e delimitar o tempo para a realização de cada objetivo,
além disso, possibilita a comunidade refletir sobre a importância de parcerias e alianças.

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Tabela 07 Estratégias de Ação


Objetivos O que fazer Quem faz Quando faz Parcerias
Construção Fazer levantamento de materiais de José, Elias Até o dia 30 de INCRA e
de casas construção (areia, pedras e argila) Francisco e agosto Prefeitura
encontrados no assentamento e Marcos
podem ser empregados na
construção;

Escola Fazer uma lista com o nome das Maria, Rita, Abril/2004 INCRA. UnB
pessoas interessadas no Carlos e José e Prefeitura
PRONERA
Procurar informações sobre os
recursos financeiros do INCRA
repassados à prefeitura
Fonte: Pereira et al. 2001 (a).

Usando a técnica: a estratégia de ação é uma sequência do desejo temporal por meio de uma
planilha simplificada. Procura-se identificar as estratégias de enfrentamento dos problemas para
cada objetivo proposto, além de delegar tarefas para os participantes.

Operacionalização das Estratégias

Para colocar em prática os objetivos estratégicos e táticos, a comunidade deve assumir


determinadas responsabilidades como contrapartida. Isso implica num processo de parceria entre
poder público e comunidade na aplicação dos recursos (Tabela 08).

Tabela 08. Operacionalização das Estratégias


Atividade Contrapartida da Investimento dos Custo Total
comunidade Parceiros Aproximado
Construção de casas R$ 2.500,00 unidade R$ 2.500,00 unidade R$ 5.000,00
de 65m2 cada (INCRA) unidade
Construção de uma R$ 1.500,00 R$ 12.500,00 R$ 14.000,00
escola de 100 m2 e de (correspondente à areia (INCRA e Prefeitura)
um posto de saúde de e força de trabalho dos
40m2. assentados)
Fonte: Pereira et al. 2001 (a).

Usando a técnica: a operacionalização das estratégias é uma sequência do planejamento através


de uma planilha simplificada onde se identificam as contrapartidas da comunidade e dos parceiros,
partindo para um planejamento dos gastos das atividades levantadas.

Considerações Finais

Nessa seção foi proposto trazer algumas questões importantes a serem ressaltadas tais como:

1. Para que se haja um processo de participação é importante que o grupo no qual vocês
estejam trabalhando se sinta envolvidos no processo, isso porque uma das principais
características do método é a busca desse envolvimento.

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________________Notas de Aula ERU-451 professor Marcelo Romarco – UFV-DER

2. Além do grupo, o envolvimento do poder público local ou de entidades parceiras do grupo


é fundamental para o alcance dos objetivos.

3. Outra questão a ser observada é o papel dos agentes mobilizadores que são
fundamentais, visto que, eles são um dos principais deflagradores desse processo. Mas é
importante ressaltar que a postura desses mobilizadores tem que estar direcionada aos
interesses da comunidade e não aos interesses políticos ou pessoais.

E, por fim, tudo o que for produzido (relatórios, mapas, planos, etc.) em conjunto com o grupo e
mobilizadores, deverão ser discutidos e apresentados para todos os envolvidos, pois essa ação
se configura num dos principais momentos de retorno e de reflexão.

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________________Notas de Aula ERU-451 professor Marcelo Romarco – UFV-DER

Referencias
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Lavras, MG: UFLA, 1999. 125 p.
COELHO, France. Maria Gontijo. A arte das orientações técnicas no campo. Editora da UFV.
Viçosa, 2005.
CORREIA, de Cloude. Etnozoneamento, etnomapeamento e diagnóstico etnoambiental:
representações cartográficas e gestão territorial em terras indígenas no estado do Acre.
[Tese de Doutorado em Antropologia]. UnB, 2007.
DELGADO, Nelson Giordano. Extensão e desenvolvimento local: em busca da construção de
um diálogo. Revista Desenvolvimento em Questão, UNIJUI (RS). 2003. Número inaugural
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992..
MAFRA, Rennan Lana. Mobilização Social e Comunicação. In: Cadernos Manuelzão. V.2, n.3.
2006.
MORIN, Edgar. As duas globalizações: Complexidade e comunicação, uma pedagogia do
presente. Porto Alegre, Sulina-EDIPUCRS, 3ª edição, Porto Alegre. 2007.
OLIVEIRA, Marcelo Leles Romarco de Oliveira. Trajetórias de migrantes para Brasília e
assentamentos rurais: O caso do Vereda I. (Dissertação de mestrado em Extensão Rural). :
Universidade Federal de Viçosa. Viçosa. MG. 2002.
___. Retratos de assentamentos: Um estudo de caso em assentamentos rurais formados
por migrantes na região do entorno do Distrito Federal. (Tese de Doutorado em Ciências
Sociais). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. RJ. 2007.
PEREIRA, José Roberto; d’ÁVILA, Cláudia Aparecida Romeiro; OLIVEIRA, Marcelo Leles
Romarco de; RIBEIRO, Luciana Maria Monteiro; ESCOBAR, Maria Inês. Plano de
desenvolvimento do assentamento Vereda I. Brasília, UnB/UFV, 2001 (a). 76p.
___ Plano de desenvolvimento do assentamento Vereda II. Brasília, UnB/UFV, 2001 (b).
___ Plano de desenvolvimento do assentamento Angicos. Brasília, UnB/UFV, 2001 (c).
PEREIRA, José Roberto. DRPE-Diagnóstico Rápido Participativo Emancipador: a base para
o desenvolvimento sustentável dos assentamentos da Reforma Agrária. Viçosa, UFV, 1998.
17p.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 18a. 2011.

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________________Notas de Aula ERU-451 professor Marcelo Romarco – UFV-DER

Tabela 09 - Tipos de organização social


Tipo de Organização Composição social Finalidade/objetivos Relações institucionais
/Movimento Social
Sindicato de Trabalhadores Trabalhadores rurais,Obtenção de direitos trabalhistas CONTAG, Federações de Trabalhadores
Rurais trabalhadores informais, Luta para garantia de preços mínimos Rurais Estaduais, CUT
(Ex: Sindicatos dos assalariados rurais, pequenos Acordos salariais Partidos Políticos Diversos,
Trabalhadores rurais de São proprietários, Assistência médico-odontológica Igreja e ONG’s
Sebastião da Vargem Alegre- extrativistas, .... Luta pela Reforma Agrária Governos e Empresas
MG) Políticas voltadas para agricultura familiar; Universidades
Sindicato Rural Proprietários rurais Preços mínimos CNA, Partidos políticos tradicionais,
(Ex: Sindicato Rural de Pequenos proprietários de Subsídios governamentais Organização política de proprietários
Poconé-MT) terras Política salarial patronal (UDR)
Fazendeiros Luta em defesa dos interesses dos Governos
proprietários; Empresas /Universidades
Política agrícola
Associações Diversificada com base Intermediação de negociações Prefeituras, governos estaduais, órgãos
(Ex: Associação dos regional e/ou nacional. Organização da produção ou da de assistência técnica,
moradores do Bairro Amoras, De base social, econômica comercialização Partidos políticos
Associação dos Assentados e/ou política. Sistematização de problemas e demandas Igreja
do Vereda I, Associação dos sociais visando solução Ong’s
produtores Individuais do Universidades
Vereda I, Associação das
Bordadeiras de Floresta-PE.)
Cooperativas Diversa: entre indivíduos que Organização da produção e comercialização Bancos; Empresas; Governos
(Ex: Coop. Extrativista, Cop. estão em iguais condições, ou Princípio da Livre Adesão /Universidades
Educação., de trabalho, de condições diferentes. Princípio da Distribuição das sobras Instituições de Assistência Técnica
serviços)
Organizações não Diversificada com base Assessoria a movimentos populares. Movimentos Sociais
governamentais (ONG’s) regional e/ou nacional. Assistência técnica, jurídica, filantrópica, Igreja, ONG’S; Governos; Sindicatos;
De base social, econômica profissional, etc. Órgãos Públicos
e/ou política. Intermediação para políticas públicas Partidos políticos; Associações;
interesses antiéticos (obtenção de recursos Universidades
privados)
Partidos Políticos Diversificada com base Organização política da sociedade Poderes Legislativo e Executivo
regional e/ou nacional. Interesses individuais (antiéticos) Movimentos Sociais;
Sindicatos..../Universidades

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De base social, econômica


e/ou política.
Movimento dos Trabalhadores, meeiros e Organização na luta pela Terra Igreja, Governos – INCRA
Trabalhadores Rurais Sem arrendatários ONG’s /Universidades; Partidos Políticos
Terras (MST)
União Democrática ruralista Proprietários, patrões e/ou Defesa dos interesses destes grupos no Governos; Partidos Políticos
(UDR ou similar) Latifundiários processo do agronegócio. Igreja; Sindicatos Rurais /Universid
Fonte: Adaptado a partir de notas de aula ERU 451 e do material de aula da professora France Coelho DER-UFV

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