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________________Notas de Aula ERU-451 professor Marcelo Romarco – UFV-DER

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL
ERU -451 “EXT ENSÃO RURAL”

Marcelo Leles Romarco de Oliveira1

“Para nós, os extensionistas, o principal desafio é conseguir falar menos e escutar mais”.
(Francisco Caporal & Ladjane Ramos, 2006)

Texto D ebat e 01-Introdução à Disciplina ERU 4512

O objetivo dessa nota de aula introdutória da disciplina ERU 451 Extensão Rural é promover um breve
debate e algumas reflexões sobre a área de conhecimento denominada Extensão Rural, ressaltando
que muitos pontos abordados ao longo da presente nota serão aprofundados no decorrer da disciplina.
Como ponto de partida é importante refletir que essa área do conhecimento traz importantes
contribuições para o meio rural e para os projetos de desenvolvimento rural.

Ademais é uma área que interconecta diversas áreas do conhecimento, como as Ciências Agrárias,
Ciências Sociais, Ciências da Saúde, dentre outras. É importante, destacar, que ao falarmos de
Extensão Rural, logo nos remetemos a ideia de um serviço responsável por difundir e transferir
tecnologias ou conhecimentos, de promover comunicação, de mediar processos de inovação, promover
a organização dos/as agricultores/as entre outras ações. Além disso, é importante, ter no horizonte que
a Extensão Rural, precisa ser vista, também, como uma política pública de Estado voltada para o suporte
ao desenvolvimento rural.

Para Christoplos (2010) os serviços de Extensão Rural, nesse século XXI tem como desafios e
contribuições trabalharem diversos temas, tais como: Segurança alimentar, mudanças climáticas,
cooperativismo, desenvolvimento rural, divulgação de novas tecnologias; desenvolvimento de habilidade
de gestão de negócios; construção de vínculo entre os diferentes atores que compõem o rural;
construção de ponte de comunicação entre o setor público e os/as agricultores/as; oportunidades de
certificação “verde”; facilitação do acesso ao apoio não governamental de extensão; acesso a crédito
rural; educação nutricional; mediação de conflitos por recursos naturais e assessoria jurídica, inserção
dos/as agricultores/as junto a mercados cada vez mais competitivos, entre outros.

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Doutor em Ciências Sociais com ênfase em Desenvolvimento e Sociedade e Agricultura (CPDA-UFRRJ). Professor do
Departamento de Economia Rural e do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de
Viçosa.
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Nota de aula elaborada para a disciplina ERU-451. Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa-
UFV.

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Desta forma, podemos apontar que a Extensão Rural ou Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER)
é uma área de conhecimentos interdisciplinar. Conforme aponta Dias (2018), a Ater pode ser classificada
como um conjunto de ações bastante diversificada de atividades profissionais que trabalham, na
transferência de conhecimento, tecnologia contribuindo para o desenvolvimento rural sustentável e/ou
agrícola do campo. Nesse contexto, o/a extensionista procura contribuir na realização de mudanças ou
potencializar os processos socioculturais, produtivos e econômicos inerentes ao modo de vida da
população rural. Portanto, o/a extensionista passa a ter um papel importante. É um agente de mudanças
e ao mesmo tempo, mediador e um facilitador de saberes e conhecimentos. Ou como Caporal; Ramos
(2006) definem, os serviços de extensão devem contribuir para aperfeiçoar a relação entre o urbano e o
rural com ênfase na melhoria da qualidade de vida e no fortalecimento da cidadania.

Portanto, o objetivo da disciplina Extensão Rural (ERU 451) do Departamento de Economia Rural da
UFV é contribuir na formação, principalmente do profissional de Ciências Agrárias e Ciências Humanas,
para que estes possam trabalhar no processo de desenvolvimento rural e com Extensão Rural, tendo
conhecimento teórico de ferramentas, técnicas importantes e necessárias à prática cotidiana do/a
extensionista no campo. Além de contextualizar historicamente a Extensão Rural, através de modelos e
formas de intervenção, focando nos desafios atuais da prática extensionista, bem como discutir
metodologias de intervenção participativas e elaboração de projetos de Assistência Técnica e Extensão
Rural, que permeiem a realidade das famílias beneficiárias ou parceiras desses projetos.

Quanto ao profissional que trabalha com Extensão Rural, este desempenha um papel fundamental no
processo de desenvolvimento rural e suas relações com os demais instrumentos de políticas públicas,
bem como o seu público prioritário, ou seja, os/as agricultores/as familiares, conforme determina a
Política Nacional de Extensão Rural (Pnater-2010).

Destarte, compreender a Extensão Rural no Brasil dos últimos 20 anos, nos leva a reflexões elaboradas
por autores como Caporal e Ramos (2006) e Silva (2006), que classificam a Extensão Rural, como uma
intervenção deliberada, de natureza pública ou privada, em um espaço rural, realizada por agentes
externos ou por indivíduos do próprio meio, orientando a realização de mudanças no processo produtivo
agrossilvipastoril, ou, em outros processos socioculturais e econômicos inerentes ao modo de vida da
população rural implicada. Nessa perspectiva, o principal objetivo da Extensão Rural é contribuir para o
desenvolvimento rural sustentável, com vistas à promover melhorias na qualidade de vida da população.

Como apontado no início desta nota, podemos entender a Ater como uma área de conhecimentos
interdisciplinares envolvendo profissionais de diversas áreas (Agronomia, Zootecnia, Veterinária,
Cooperativismo, Economia Doméstica, Geografia, Nutrição, Sociologia, Turismo e etc.) que pesquisam
e estudam métodos, metodologias, técnicas, instrumentos mais apropriados para estabelecer vínculos
(comunicação, interação...) entre a produção de conhecimentos, técnicas e tecnologias e as realidades
dos/as agricultores/as que serão usuários dessas tecnologias geradas nos centros de pesquisas e
universidades.

Assim, a Extensão Rural pode ser vista como uma prática profissional relacionada à construção de
conhecimentos (agricultores/as + extensionistas + pesquisadores/as) sobre procedimentos, técnicas,
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práticas de cultivo, questões gerenciais, organização, uso dos recursos, bem-estar social,
desenvolvimento rural, entre outros. Além disso, a Extensão Rural Pode ser caracterizada como um tipo
de serviço de orientação que tem por objetivos apoiar ou assessorar agricultores/as na condução de
mudanças em seus sistemas de produção e em suas condições de vida tanto do ponto de vista social,
organizacional, quanto do ponto de vista econômico. Portanto, o trabalho do/a extensionista ocorre em
realidades complexas, em que se expressam as distintas percepções e interesses dos atores que
interagem (DIAS e DIESEL, 2010a) Essa relação pode acontecer através de encontros que ocorrem por
meio de assistência técnica, aconselhamento, assessoria ou educação, podendo ser continuada,
pontual, sazonal ou permanente.

Segundo Dias e Diesel (2010), tais encontros implicam na interação entre, ao menos, duas pessoas
(técnicos/as e agricultores/as), que geralmente têm origens, conhecimentos e experiências muito
distintas. O técnico tem o conhecimento científico-técnico e tecnológico, o/a agricultor/a tem o
conhecimento do dia a dia e das experiências vivenciadas ao longo da sua vida. Esse encontro trata-se,
portanto, de uma interação motivada por determinados objetivos.

Mas o que motiva essa relação? Os dois têm as mesmas expectativas? Seus interesses são
convergentes? Quais seriam os objetivos de cada um? Predominam concordâncias ou
discordâncias? Assim sendo, Dias (2010) aponta que essa relação pode acontecer a partir de diversas
situações tais como:
• O/a agricultor/a procura o/a técnico/a para obter uma informação ou aconselhamento que o
ajudará a resolver problemas específicos no seu cotidiano de trabalho;

• O técnico procura o/a agricultor/a para ofertar um conhecimento específico que entende como
útil;

• O/a técnico/a procura o/a agricultor/a para realizar um programa ou projeto, implementar uma
política que atende a uma demanda de mudança social desejada pelo Estado.

Já para Peixoto (2008) a Extensão Rural, pode ser abordada a partir de três enfoques metodológicos de
análise: como instituição, como política pública e como processo. Como processo a Política Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) estabelece que a nova atividade de Assistência
Técnica e Extensão Rural (ATER) esteja pautada em um trabalho educativo, permanente e continuado,
que deve ser alicerçado em uma prática dialógica amparada em uma concepção construtivista. Essa
Extensão Rural deve contribuir para uma melhor relação entre o urbano e o rural, para a melhoria da
qualidade de vida e o fortalecimento da cidadania.

Nesse contexto, cabe ressaltar porque a atividade de Ater está centrada em um processo educador, não
formal, eminentemente político e social. Diferentemente da assistência técnica que está voltada para
uma prática que visa resolver problemas pontuais dos/as agricultores/as, geralmente limitando-se à
indicação de insumos externos a serem empregados no meio rural para obtenção de resultados

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imediatos, a atividade de Ater envolve questões mais centrais relacionadas à ética e à moral na prática
cotidiana dos/as extensionistas.

Como bem frisaram Menezes & Miranda (2011, p.139-140), o/a extensionista é um “agente construtor
de conhecimento que constantemente se envolve em questões que o fazem refletir sobre a decisão mais
adequada, os princípios que devem orientar suas ações e, não raras vezes, se depara com um conflito
ético” que envolve grupos ou comunidades que têm acesso a estas ações.

De acordo com Coelho (2005), a Extensão Rural é um processo de intervenção no campo cuja finalidade
é efetuar mudanças da técnica e da produção com novos artifícios e recursos aliada à uma mudança
que tenha relação com questões sociais e políticas que afetam tanto competências e habilidades
técnicas quanto a capacidade de convívio e de decisão coletiva dos grupos humanos.

Portanto, não seria errôneo caracterizar a Extensão Rural como um processo educativo de
implementação de mudança ou de restrição desta que está muito além da simples resolução de
problemas pontuais restritos à atividade de assistência técnica, ganhando contornos políticos e sociais
que se estendem desde as formas de interação, mediação, assessoria e comunicação com o outro, até
formas de intervenção, persuasão e manipulação do outro no processo de mudança. Na Figura 01, a
seguir, é possível observar uma síntese dessa perspectiva sistêmica e multidisciplinar da Ater.

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Figura 01. Ater: uma perspectiva multidisciplinar como contribuinte para o Desenvolvimento Rural Sustentável

Fonte: Elaborado pelo Prof. Marcelo Romarco. Material para a disciplina ERU 451-DER- UFV, 2022.

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E qual o papel do/a Extensionista Rural?

Nessa perspectiva sistêmica e multidisciplinar dos trabalhos de Ater as indicações têm sugerido que o/a
extensionista seja um educador que valorize os/as agricultores/as como capazes de gerar conhecimento
e aprender. Ou seja, não existiria conhecimento superior ou hierárquico, apenas conhecimentos
diferentes, nessa reflexão, o/a agricultor/a teria o conhecimento empírico ou do cotidiano e o
extensionista o conhecimento acadêmico.

Portanto, a extensão deva ser desenvolvida como prática educativa e para isso é preciso que o/a
extensionista fique atento e analise as relações do ser humano com o mundo ou do mundo com o ser
humano, possibilitando que esses aprofundem junto a sua realidade no qual estão inseridos. Assim, é
preciso que o técnico tenha uma visão da totalidade, ou seja, a necessidade de conhecer a visão do
mundo das comunidades, dos/as agricultores/as e procurar entendê-las. Portanto, o/a extensionista rural
é um agente de mudança, um educador. Ele atua no campo transferindo conhecimentos tecnológicos,
gerenciais, formando e incluindo os/as agricultores/as, suas famílias e organizações no mercado de
trabalho (FREIRE, 1983; COELHO, 2005).

Ademais, o “Global Forum for Rural Advisory Services”, afirma que os/as extensionistas devem
desempenhar suas atividades de forma coletiva. Dentre essas atividades, destacam-se: desenvolver
redes; organizar agricultores/as; facilitar o acesso ao crédito, serviços de insumos agrícolas e de
produção; solicitar plataformas de inovação; proporcionar a igualdade de gênero; promover ações para
os jovens do campo, promover a gestão do conhecimento; amparar a adaptação às mudanças climáticas
e disseminar novos conhecimentos por meio de formação e atividades de demonstração ( CHRISTOPLOS
et al, 2012).

Este profissional, portanto, deve buscar dar sentido à sua ação em meio à complexa interação entre ele
próprio, os/as agricultores/as, as instituições que podem ser públicas ou privadas e ONG´s em que
trabalha e os interesses sociais que influenciam no trabalho do/a extensionista. Desta forma, podemos
caracterizar esse profissional, também, como um mediador. No papel de mediador o/a extensionista
pode contribuir estabelecendo um canal apropriado entre os/as agricultores/as e o mundo externo, junto,
ao acesso às políticas públicas, trazendo à luz a possibilidade de reconhecimento político desses
agricultores; criando condições materiais e canais de informação e formação que possibilitarão a
organização dos/as agricultores/as e das comunidades em torno de um interesse comum.

A abordagem de mediação defendida por Novaes (1994) traz à reflexão o papel do/a extensionista como
aquele que está entre o homem do campo e o Estado, sendo o elo entre as demandas daquele e a oferta
de políticas públicas deste. Para a autora, ser mediador é “ser ponte, estar entre e fazer o meio de
campo” entre os anseios dos/as agricultores/as e as mudanças requeridas pelo Estado para a promoção
do desenvolvimento rural da estrutura social existente.

Breves comentários sobre a Extensão Rural no Brasil nas duas últimas décadas
Para Dias (2018), nos últimos anos o termo Extensão Rural no Brasil tem sido utilizado para definir um
amplo conjunto de atividades que envolve a promoção e difusão de conhecimento, tecnologia e
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informações, além de contribuir na implementação de políticas públicas e promoção da articulação


coletiva e individual junto aos mais diversos atores do campo. O que reforça a atuação e o papel da Ater
na promoção do desenvolvimento rural e/ou agrícola do campo brasileiro. Assim, a Extensão Rural
brasileira desde 2004 vem passando por reformulações envolvendo o governo, entidades públicas e
privadas, movimentos sociais e organizações que debatem, articulam e oferecem serviços de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), para reestruturar as proposições que orientam uma nova
prática de Assistência Técnica e Extensão Rural. Essa nova perspectiva está garantida na Lei n. 12.188
de janeiro de 2010 que estabeleceu as bases da nova Política Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Pnater) (BRASIL, 2010).

Essa nova realidade se faz presente na proposta de lei de Ater instituída em 2010 que procura constituir
a Extensão Rural como um instrumento de política pública capaz de estimular, implantar e consolidar
estratégias de desenvolvimento rural sustentável, tendo como foco de ação prioritária o fortalecimento
da Agricultura Familiar e de suas organizações, através da organização dos/as agricultores/as familiares
para produção, processamento e comercialização; por meio de sistemas de produção sustentáveis e
disponibilizando informações e assistência técnica aos/as agricultores/as familiares, público preferencial
dessa política.

De modo geral o que a nova Pnater diz?

De acordo com a Pnater, a Ater deve contribuir para a promoção do desenvolvimento rural sustentável,
com ênfase em processos de desenvolvimento endógeno, adotando-se uma abordagem sistêmica e
multidisciplinar, mediante a utilização de métodos participativos e de um paradigma tecnológico baseado
na sustentabilidade.
De modo geral o que a nova Pnater vislumbra?

Visa assegurar com exclusividade aos/as agricultores/as familiares definidos na Lei n. 11.326/2006 (lei
que define quem são os/as agricultores/as familiares) a terem acesso ao serviço de Assistência Técnica
e Extensão Rural pública, gratuita, de qualidade e em quantidade suficiente, visando o fortalecimento da
agricultura familiar. Deste modo, sua missão é participar na promoção e animação de processos capazes
de contribuir para a construção e execução de estratégias de desenvolvimento rural sustentável,
centrado na expansão e fortalecimento da agricultura familiar e das suas organizações.

Por que o público da nova Pnater são os/as agricultores/as familiares?

A agricultura familiar no Brasil quase sempre foi considerada pelo Estado como um segmento marginal
e de pequena importância para os interesses de uma sociedade capitalista que teve como destaque e
recursos apenas a grande agricultura, que historicamente foi a maior beneficiária das políticas públicas.
Por isso, essa nova Pnater, preconiza serviços exclusivamente para os/as agricultores/as familiares que
outrora foram excluídos das políticas públicas, visando o desenvolvimento rural sustentável para o
campo.

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Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater)

No final de 2013 o governo Federal cria a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Anater) estabelecida como um serviço social autônomo denominado pessoa jurídica de direito privado,
sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade pública, conforme disposto no art. 1º da Lei nº
12.897, de 18 de dezembro de 2013 (BRASIL, 2013). Um dos argumentos de criação da Anater está
associado a ideia que as tecnologias já desenvolvidas pelo Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuário
(SNPA) não são acessadas, principalmente pelos/as agricultores familiares. Também, em seu decreto
de criação destaca que o principal papel da Anater é “promover, estimular, coordenar e implementar
programas de assistência técnica e extensão rural, visando à inovação tecnológica e à apropriação de
conhecimentos científicos de natureza técnica, econômica, ambiental e social”

Outra novidade na criação da Anater reside principalmente no seu segundo artigo que diz que “dará
prioridade às contratações de serviços de assistência técnica e extensão rural para o público previsto no
art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, e para os médios produtores rurais”. Neste caso a
Agência inclui os médios produtores nos serviços de Ater. Uma crítica relacionada a esse artigo está na
definição do que seria médios produtores e que possivelmente a agricultura familiar seria deixado de
lado, no que tange aos projetos prioritários da Agência. Confrontando assim, com a essência que a
própria Pnater estabeleceria em seus artigos 1 e 2.

Cabe destacar que a criação da Anater sofreu várias críticas, principalmente de entidades ligadas a
agricultora familiar e agroecologia. Que argumentaram que a produção tecnológica contida no acervo do
SNPA em grande parte não é ajustada a realidade da agricultura familiar, pois não considera a realidade
destes grupos e os tornam dependentes de um modelo de financeiro e agroindustrial. Além de reforçar
que os serviços de Ater devem ser de forma pública e universal, voltado exclusivamente para agricultura
familiar conforme já definido em lei.

Sobre os desafios contemporâneo no caso brasileiro, o que se percebe é que a partir de 2016 com a
extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e os constantes desmantelamentos de
políticas públicas ocorridas nos últimos anos, que tem provocado diversas mudanças tanto do ponto de
vista estrutural, quanto do ponto de vista da redução de investimentos e a falta de recursos humanos.
Têm trazido desafios a mais para estes serviços.

Considerações finais

Um dos principais objetivos da Extensão Rural é a contribuição para o desenvolvimento rural sustentável,
tendo em vista a melhoria da qualidade de vida da população rural. Nos últimos anos o serviço de
extensão tem procurado valorizar o conhecimento tradicional e local dos/as agricultores/as.
Potencializando esses conhecimentos em parceria com as ações extensionistas. Assim ambos
(agricultores/as, extensionistas e pesquisadores/as) possuem conhecimentos distintos que podem e
devem ser dialogados, construídos e compartilhados. Buscando a resolução de problemas. Nesse
sentido, os serviços de Extensão Rural no Brasil desde 2003, passaram por reformulações envolvendo
o governo, entidades públicas e privadas que oferecem serviços de Assistência Técnica e Extensão
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Rural (Ater), para reestruturar às proposições que orientam uma nova prática de Assistência Técnica e
Extensão Rural. Essas mudanças ocorreram num cenário de diálogos e disputas, pois, os serviços de
Ater sempre estiveram num cenário de disputa, conceitual, ideológicas e políticas.

Também é importante frisar que em meados de 2016 com a extinção do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), responsável pelas políticas voltadas para Agricultura Familiar e o desmantelamento das
políticas voltadas para este setor, um clima de incertezas e de redução de gastos públicos para a área
trouxeram um clima de insegurança e dúvidas, incertezas e desafios que os serviços de Ater enfrentará.

Questões a serem respondidas:

A partir dessa leitura inicial do que seria a atuação de um/a extensionista e até mesmo Extensão Rural,
procure dissertar quais as contribuições que você poderia oferecer para o mundo rural trabalhando com
os serviços de Extensão Rural, orientando a sua resposta pelos seguintes questionamentos:

(a) Diante das discussões empreendidas ao longo da presente nota de aula, quais os aspectos
vocês consideram mais importantes na atuação do profissional de Extensão Rural para além do
serviço de assistência técnica?
(b) A partir da resposta anterior, quais as principais contribuições dos/as extensionistas rurais para
as variadas demandas das populações rurais, a exemplo de assessoria técnica, assessoria
jurídica, questões relacionadas à seguridade social, infraestrutura, dentre outras?

Referências
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2010/2010/Lei/L12188.htm. Capturado em julho de 2011.
BRASIL. Lei nº 12.897 Autoriza o Poder Executivo federal a instituir serviço social autônomo denominado
Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - ANATER e dá outras providências. 18 dezembro
de 2013.
CAPORAL, Francisco; RAMOS, Ladjane de Fátima. Da extensão rural convencional à extensão rural para o
desenvolvimento sustentável: enfrentar desafios para romper a inércia. Brasília, 2006.
CHRISTOPLOS, Ian., SANDDON, Peter.; CHIPETA, Same. Guide to evaluating rural extension. Lindau: GFRAS,
2012
CHRISTOPLOS, Ian. Mobilizing the potential of rural and agricultural extension. Rome: FAO/GFRAS, 2010
COELHO, France Maria Gontijo. A arte das orientações técnicas no campo. Editora da UFV. Viçosa, 2005.
DIAS, Marcelo Miná. Notas de Aula ERU 451. UFV-DER. Viçosa, 2010 e 2018.
DIAS, Marcelo Miná; DIESEL, Vivien. Oficinas do evento de Rede de Metodologias Participativas. Brasília,
2010a.
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. LIVRO Todo.
MENEZES, Flávia Pereira Dias; MIRANDA, Jaime Rodrigo da Silva. Um olhar ético e moral nas ações
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NOVAES, Regina Reyes Novaes. “A mediação no campo: entre a polissemia e a banalização”. In: In: MEDEIROS,
Leonilde., BARBOSA, M.V., FRANCO, M.P. et al. (Orgs.). Assentamentos rurais: uma visão multidisciplinar.
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2008. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/outras-
publicacoes/agenda-legislativa/capitulo-4-extensao-rural-no-mundo-e-no-brasil-descentralizacao-privatizacao-e-
financiamento. Capturado em julho de 2022.

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