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Conceitos Gerais e Fundamentos da

Extensão Rural

Prof. (a) Dra. Dalila Regina Mota de


Melo/DAE

Catolé do Rocha – PB
2022
Extensão rural?

Segunda metade do século XIX

1867
Surgiram
preocupações nas 1890
Ocorreram as
universidades de Oxford
primeiras atividades de
e Cambridge sobre as Temas agrícolas
extensão universitária,
necessidades da passaram a ser
inicialmente voltadas
população urbana abordados nas áreas
para alfabetização e
crescente rurais e o sucesso desta
temas sociais
experiência influenciou
a criação da primeira
organização oficial de
um serviço
extensionista, adotado
nas Land Grant Colleges
dos Estados
Unidos
Extensão rural?

A palavra "extensão" tem origem nos Estados Unidos, em


1914.

Os extensionistas, que são os profissionais que atuaram


nestas entidades de extensão rural nos Estados Unidos,
trabalharam também como professores auxiliando o homem do
campo nas suas necessidades culturais e não só nas técnicas de
plantios e condução das lavouras, estando, ao mesmo tempo, a
serviço do Departamento Federal de Agricultura dos Estados
Unidos.
Extensão rural?

Conjunto bastante diversificado de atividades que buscam


prover informações, difundir conhecimentos, disseminar
técnicas ou tecnologias, viabilizar assistência ou assessoria,
desenvolver capacidades individuais ou coletivas e promover a
articulação entre agentes que buscam realizar objetivos de
desenvolvimento rural.

Conforme esta definição, os objetivos da ação


extensionista são muito amplos.
Extensão rural
Quando consideramos a
abrangência das ações do
extensionista

Assistência ou orientação
Técnicas agropecuárias, Aspectos técnico-produtivos
técnica pontual

Administração da
Serviços continuados
Viabilizando assistência produção e
de consultoria
dos negócios,

Orientação aos Práticas de agregação


Assessoramento
agricultores de valor a produtos

Comercialização,
associativismo, dentre
outras
Extensão rural
A ação extensionista abrange os diversos campos da
prática agropecuária, desde a simples divulgação de
informações, passando pela assistência e orientação técnica, até
a condução de processos educativos não formais
(assessoramento), em que estratégias de ensino-aprendizagem
são utilizadas para desenvolver novas capacidades relativas ao
aprimoramento dos sistemas sócio produtivos agropecuários.

Esta prática profissional, além de abrangente, busca criar


inter-relações e complementaridade entre os aspectos técnicos,
econômicos, sociais e ambientais que, de um modo geral,
caracterizam as práticas agropecuárias como um
empreendimento socioeconômico dinâmico e complexo.
Extensão rural

O extensionista age como especialista em determinado


tema produtivo, e sua atividade vem sendo
historicamente denominada de assistência ou orientação
técnica, geralmente restrita a conhecimentos e
fundamentos científicos de disciplinas das Ciências
Agrárias.
Abrangência da ação extensionista quanto aos distintos aspectos
ou dimensões de atuação

Aspecto
Aspectos Sociais
Econômico

Aspecto Técnico
• Extensão Aspectos
Agrícola Ambientais
Extensão
Rural
Extensão agrícola Extensão rural

Quando relacionada a
objetivos de difusão de
tecnologias, permite
compreender que
o extensionista pode ser um Busca pela interrelação,
especialista e focar sua interdependência e
intervenção nos aspectos complementaridade entre
técnico-produtivos, os quatro aspectos ou
enfatizando a técnica em dimensões componentes da
detrimento dos aspectos agropecuária como atividade
econômicos, sociais econômica complexa
e ambientais que requerem
esforços de adequação da
mesma ao contexto de
sua implementação
Extensão rural
A extensão rural se constitui atualmente como uma prática
profissional que visa proporcionar o estímulo inicial e o apoio
contínuo a mudanças para o aprimoramento socioeconômico da
atividade agropecuária.

Ela não se restringe, portanto, apenas a aspectos técnicos


dos processos produtivos, mas busca intervir, com oferta de
recursos diversificados, em todos os aspectos que caracterizam
os processos de desenvolvimento rural e as relações sociais nas
quais se baseiam.
Extensão rural
Considerando este vínculo entre a extensão e as
necessidades de mudança social, é necessário considerar que a
ação extensionista não é uma atividade estritamente técnica e
politicamente neutra.

O seu significado, na prática, depende de decisões sobre o


tipo de mudança que será proposto, o tipo de agricultor que
será envolvido na ação, o caráter desta ação – se permitirá a
participação efetiva ou terá um caráter centralizado e coercitivo
– o método que possibilitará o alcance dos resultados desejados
etc.
Extensão rural
Em síntese, para compreender a diversidade atual da
extensão rural é importante considerar uma série de elementos,
como:
b) A diversidade de
a) A abrangência de temas e orientações políticas que
objetivos que caracterizam conferem sentido à
as ações; mudança que se deseja
promover;

d) Os diferentes tipos de
c) Os distintos formatos
interação estabelecidos com
organizativos que viabilizam
os agricultores nos
a ação; e
contextos locais.
Campos inter-relacionados da ação extensionista

Articulação
Política

Orientação ou
Assistência
Técnica

Educação

Comunicação
Extensão rural

A interação entre campos de ação configurou os diversos


tipos e modalidades da extensão rural, estabelecendo a própria
atividade profissional ao longo do tempo.

A trajetória histórica da extensão rural no mundo


demonstra que ela surgiu essencialmente vinculada à
comunicação e divulgação de informações e conhecimentos
científicos.
Extensão rural
No Brasil, as políticas de modernização agrícola, a partir dos
anos 1970, revelaram resultados muito diversos.

Por um lado, a agricultura Por outro lado, as agriculturas


tecnicamente moderna, tradicionais e de base familiar
especializada e integrada a (reconhecidas como “agricultura
mercados deveu parte de seus familiar” a partir dos anos 1990),
resultados a ações de difusão de menos tecnificada e com
tecnologias e, com o tempo, dificuldades para inserção em
passou a demandar serviços de mercados convencionais, requereu
assistência técnica e assessoria um tipo de intervenção mais
para inovação contínua dos abrangente, focado não apenas na
sistemas produtivos, fortalecendo inovação agrícola ou no progresso
as iniciativas de extensão agrícola técnico
Objetivos da ação extensionista

Considerando as características e os campos da ação


extensionista anteriormente apresentados e a diversidade
concreta de concepções e práticas observáveis, podemos
identificar quatro objetivos básicos e inter-relacionados que
atualmente compõem as atribuições de agentes e organizações
que trabalham com extensão rural:
Objetivos da ação extensionista

I -Transferir/difundir ou estabelecer comunicação dialógica acerca de


conhecimentos, técnicas e tecnologias agrícolas objetivando
estimular, favorecer decisões, orientar ou assessorar processos de
inovação sociotécnica;

II - Promover processos de ensino-aprendizagem junto a agricultores


para o desenvolvimento de capacidades individuais ou coletivas
referentes à inovação sociotécnica introduzida

III - Prestar serviços de assistência técnica, aconselhamento,


consultoria ou assessoramento aos agricultores, orientando-os
tecnicamente e em suas decisões relativas a mudanças ou inovações
sociotécnicas;
IV - Facilitar a articulação política entre atores sociais, intermediando
interesses diversos, negociando conflitos, possibilitando a construção
de consensos e fomentando capacidades de coordenação em ações
coletivas que visam promover desenvolvimento rural.
Objetivos da ação extensionista

Os quatro objetivos básicos da ação extensionista são inter-


relacionados porque os objetivos de comunicação na extensão rural são
indissociáveis dos intentos educativos, haja visto que são essenciais a todo
e qualquer processo de ensino-aprendizagem.

Seguindo este raciocínio, não é possível descartar a importância


essencial da comunicação e da educação nas atividades de assistência e
orientação técnica, que dependem de interação, diálogo e aprendizado
mútuo entre agricultores e extensionistas.
Objetivos da ação extensionista

de
comunicação

As ações de
articulação
política são
igualmente
dependentes da
capacidade
de de
orientação educação
técnica
Objetivos da ação extensionista

Os objetivos básicos da extensão rural rementem a


novas capacidades a serem adquiridas pelos agricultores e
suas organizações.

Estas capacidades demandam constante avaliação e


aprimoramento, dada à rapidez e relativa imprevisibilidade
das mudanças sociais e econômicas, revelando a
necessidade de uma relação constante entre agricultores e
extensionistas.
Objetivos da ação extensionista

Em sociedades complexas, diversas e conflituosas, as


inovações propostas dificilmente alcançam consenso, e raramente
são postas em prática sem que haja a constituição de redes de
interação, colaboração e suporte, nas quais são tomadas decisões
coletivas e efetiva-se um esforço de representação de interesses,
construção de consensos e coordenação de relações
interdependentes.

Todos estes elementos tornam muito abrangentes as


atribuições de agentes e organizações que trabalham na extensão
rural atualmente, como também resultam em formatos
diferenciados de organização da ação extensionista.
Quem faz a Extensão Rural?
O Governo do Estado, de modo a otimizar e racionalizar os
serviços de pesquisa, extensão rural e regularização fundiária, no
atendimento de políticas e programas públicos, criou através da
Medida Provisória nº 277/2019, a Empresa Paraibana de Pesquisa,
Extensão Rural e Regularização Fundiária - EMPAER, pessoa
jurídica de direto privado, com o objetivo unificado de trazer o
desenvolvimento sustentável da agricultura do nosso estado.
Extensionista

O agente de extensão serve como um facilitador,


construindo ligações entre produtores e o setor privado, ONGs,
programas governamentais, pesquisadores ou outros, para
direcionar problemas e estimular inovações rurais.

Esta abordagem reconhece que um agente de extensão não


pode ter todas as respostas, mas deve ter confiança e habilidade
para ajudar os produtores a conhecerem seus próprios recursos,
fazer contatos com outras instituições e estabelecer ligações para
inovações em mercados, insumos, crédito e serviços de
informação.
Extensionista

Não existe um conceito de extensão rural universal e único.

Programa especial
Serviços de para
Extensão cooperativa
consultoria a segurança
alimentar

Transferência
Assistência técnica
tecnológica

A função permanece aquela da extensão: transferência e a


troca da informação prática.
Três fases da extensão rural no Brasil

1948-1960 • I - Humanismo sistencialismo

1960-1980 • II - Difusionismo produtivista

1980 - até • III - Humanismo crítico


dias atuais
Primeira fase, chamada “humanismo
assistencialista”
A extensão era caracterizada como uma modalidade
informal e integral de educação, dirigida ao público de
agricultores, jovens rurais e donas de casa, com o objetivo de
"libertá-los" perante a aceitação de novas ideias, a mudança de
hábitos e atitudes, visando à melhoria das suas condições de vida.

Buscava-se ampliar a renda por meio do aumento da


produtividade, para o aumento do bem-estar e a liberalização da
mão de obra.

A extensão rural centrava suas ações na metodologia de


alcance individual para aplicação do crédito rural, de alcance
grupal e massal para a assistência técnica e para o bem-estar
social.
Primeira fase, chamada “humanismo
assistencialista”

Os métodos dos extensionistas, nessa época, também eram


marcados por ações paternalistas.

Isto é, não “problematizavam” com os agricultores; apenas


procuravam induzir mudanças de comportamento por meio de
metodologias preestabelecidas, as quais não favoreciam o
florescimento da consciência crítica nos indivíduos, atendendo
apenas às suas necessidades imediatas.
Segunda fase, chamada de “difusionismo
produtivista”
Baseando-se na aquisição, por parte dos produtores, de um
pacote tecnológico modernizante, com uso intensivo de capital
(máquinas e insumos industrializados).

A extensão rural servia como instrumento para a introdução


do homem do campo na dinâmica da economia de mercado.

A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) visava ao


aumento da produtividade e à mudança da mentalidade dos
produtores, do “tradicional” para o “moderno”.
Segunda fase, chamada de “difusionismo
produtivista”
Neste período surgiu a Empresa Brasileira de Assistência
Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) e houve grande expansão
do serviço de extensão rural no país.

Em 1960, apenas 10% dos municípios no Brasil contavam


com esse serviço e, em 1980, a extensão rural chegou a 77,7%
dos municípios.

Neste período, o papel dos extensionistas era condicionado


pela existência do crédito agrícola; os pequenos agricultores
familiares que não tiveram acesso ao crédito ficaram à margem
do serviço de extensão rural
Terceira fase, chamada de humanismo
crítico
Baseada na pedagogia da libertação, desenvolvida por Paulo
Freire, cujo instrumento de “planejamento participativo” ligava os
assessores e os produtores.

Com a crise econômica que se abateu sobre o país,


provocando a desaceleração do processo de tecnificação da
agricultura, com a redução do volume de crédito rural e mais
caro, com a retirada do subsídio, principal instrumento do
processo de modernização agrícola, resultou no esgotamento do
modelo difusionista produtivista.
Terceira fase, chamada de humanismo
crítico
Surge uma nova fase, conhecida como o "Repensar da
Extensão“, na qual a qual o agricultor, como cidadão e sujeito de
suas ações, problematiza, critica sua realidade e toma as decisões
que sejam as mais adequadas e que lhe convêm.

De 1980 até os dias atuais, iniciou-se no país uma nova


proposta de extensão rural, que preconizava a construção de uma
“consciência crítica” nos extensionistas, com a utilização do
“planejamento participativo” como instrumento de ligação entre
os extensionistas e os produtores. Essa fase foi chamada de
“humanismo crítico”.
Terceira fase, chamada de humanismo crítico

O desafio dos órgãos de pesquisa, universidades e


movimentos sociais é o de criar estratégias para colocar em
prática metodologias participativas de assistência técnica e
extensão rural - ATER que incluam os agricultores familiares desde
a concepção até a aplicação das tecnologias, transformando-os
em agentes no processo, valorizando seus conhecimentos e
respeitando seus anseios.
Considerações

Extensão rural pode ser entendida como um processo


educativo de comunicação de conhecimentos de qualquer
natureza, sejam conhecimentos técnicos ou não.

A extensão rural difere conceitualmente da assistência


técnica pelo fato de que esta não tem, necessariamente, um
caráter educativo, pois visa somente resolver problemas
específicos, pontuais, sem capacitar o produtor rural.
Dra. Dalila Regina Mota de Melo
dalilamelo14@servidor.uepb.edu.br

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