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Noções Introdutórias

 O Direito das Sociedades Comerciais como um sub-ramo dentro do Direito Comercial


Disciplina jurídica autónoma, assente num diploma próprio: CSC (1986).

 Noção de Direito Comercial “Conjunto de normas, conceitos e princípios jurídicos que, no


domínio do direito privado, regem os factos e as relações jurídicas comerciais.” Âmbito do
direito comercial / comércio em sentido económico.

 Interesses especiais tutelados pelo Direito Comercial: A) Tutela eficaz do crédito B)


Celeridade na celebração de negócios C) Garantia e firmeza nas transações

A) “Nas obrigações comerciais os coobrigados são solidários, salva estipulação


contrária.” (exs.: regra da solidariedade passiva - art. 100.º Cód. Com. / art. 513.º
Cód. Civil; art. 101.º Cód. Com. / arts. 638.º e 640.º Cód. Civil).

B) Ex.: art. 396.º do Cód. Com. / art. 1143.º do Cód. Civil - Contrato de mútuo Artigo
396.º (Prova)
“O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja qual for o seu valor,
todo o género de prova.”
Código Civil
Artigo 1143.º (forma)
“Sem prejuízo do disposto em lei especial, o contrato de mútuo de valor superior €
25 000 só é válido se for celebrado por escritura pública ou por documento
particular autenticado e o de valor superior a € 2 500 se o for por documento
assinado pelo mutuário.”
C) Celeridade na celebração de negócios (ex.: art. 102.º I, Cód. Com. / art. 559.º Cód.
Civ.).
* Regime dos títulos de crédito - princípios da abstração e literalidade
• Art. 102.º, § 1º Código Comercial:
“A taxa de juros comerciais só pode ser fixada por escrito.”

 História do Direito Comercial


◼ Vestígios de regras de direito comercial babilónia: código de. Hamurabi; fenícios;
gregos; romanos: integração das regras comerciais no direito civil.
O direito comercial adquiriu expressão própria na idade média

Na época liberal, assiste-se à codificação das normas de Direito Comercial:

• O primeiro Código Comercial data de 1833 (Código de Ferreira Borges);

• O segundo Código Comercial data de 1888 (Código de Veiga Beirão), o qual se mantém em
vigor até hoje (não obstante, ter sido objeto de muitas alterações e da existência de numerosa
legislação extravagante)
OBJECTO E ÂMBITO DO DIREITO COMERCIAL

- Conceção subjetivista: o direito comercial é o conjunto de normas que rege os atos dos
comerciantes relativos ao seu comércio.

- Conceção objetivista: o direito comercial é o ramo do direito que rege os atos de comércio,
sejam ou não comerciantes as pessoas que os praticam.

- Diferenças e pontos de contacto entre as duas conceções.

- Posição do nosso Código Comercial: o art. 1.º acolhe a conceção objetivista (o direito
comercial rege os atos de comércio, independentemente da qualidade de quem os pratica); o
art. 2.º acolhe uma conceção mista.

• ÂMBITO DO DIREITO COMERCIAL.

• O conceito de comércio utilizado pelo direito comercial é mais amplo que a noção económica
de comércio.

• Abrange:

• - as atividades de intermediação nas trocas na cadeia económica do produtor para o


consumidor (compra para revenda como expressão paradigmática);

• - a industria (setor secundário), com exceção das pequenas indústrias domésticas cuja
laboração seja assegurada exclusivamente pelo próprio (art. 230.º, n.º1, do CCom) e das
industrias de artesanato (art. 230.º, par. 1.º do CCom);

• - prestações de serviços (setor terciário), com exceção das realizadas por profissionais
liberais no exercício da sua atividade e das prestações de serviços e venda de bens realizadas
por artistas e artesãos (art. 230.º, parágrafos 1.º e 3.º do CCom).

•Não Abrange:

•-As atividades económicas do setor primário: agricultura, pecuária e indústrias extrativas (art.
230.º, parágrafos 1.º e 2.º do CCom)
POSIÇÃO DO DIREITO COMERCIAL FACE AO DIREITO CIVIL

O direito comercial como direito especial face ao direito civil (que é o direito comum das
relações privadas).

O direito comercial é um direito especial e não excecional (possibilidade de recurso à analogia -


Art. 11.º do Cód.Civil)

- O Direito Civil surge como um direito subsidiário em relação ao Direito Comercial


(interpretação e integração das lacunas do Direito Comercial - art. 3.º do CCom.).

- O Direito Civil é o direito privado geral ou comum (regula genericamente as relações entre as
pessoas situadas numa posição jurídica equivalente);

- O Direito Comercial regula uma espécie dentro desse género de relações: as relações que
derivam do exercício do comércio e atividades afins.

 O Direito Civil como Direito Subsidiário

-Diversos aspetos das relações jurídicas comerciais estão reguladas no direito civil;

- Havendo uma lacuna a analogia pode ser encontrada no direito civil ou comercial;

- O artigo 3.º apenas se refere à analogia para definir o regime de uma relação jurídica
comercial e não para a qualificação como comercial.

• Quanto à integração das lacunas:

• A) verificar se existe uma lacuna em sentido próprio (se o caso não encontra uma resposta
adequada no sistema jurídico globalmente compreendido);

• B) só existe lacuna se não houver uma norma civil que se lhe aplique, ou se as normas de
direito civil não forem adequadas para resolver o caso (o direito civil como subsidiário do
direito comercial);

• Os caos omissos que constituam verdadeiras lacunas são integrados tendo em conta o
disposto no art. 3.º do CCom
Atos de Comércio
 Noção de atos de comércio
O legislador não define materialmente ato de comércio.

▪ O legislador utiliza um conceito legal indeterminado, decorrente do art. 2° do Código


Comercial, que nos diz quais são os atos de comércio, mas não diz o que eles são.

 Interesse prático da qualificação de um ato como comercial


- Regra da solidariedade nas obrigações comerciais (art. 100.º, do C. Com.);

▪ - regime de responsabilidade dos bens do casal por dívidas resultantes de atos de comércio
(art. 1691.º do Cod.Cívil);

▪ - qualificação de uma pessoa como comerciante (art. 13.º, do C. Com.)

 “Serão considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem


especialmente regulados neste Código, e, além deles, todos os contratos e
obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil,
se o contrário do próprio ato não resultar.”
 Atos objetivamente comerciais
Estão regulados no C. Com. e em outras leis, em razão dos interesses do comércio, ou seja a
sua comercialidade resulta de estarem previstos em legislação comercial, independentemente
de quem os pratica.

▪ Abrangem:
 Atos simultaneamente regulados na lei civil e na lei comercial (exemplos: contratos de
sociedade, mandato, depósito, compra e venda, empréstimo, etc.).
 Atos exclusivamente regulados no C. Com. (exemplos: transporte, seguro,
contacorrente, etc.).
 Atos regulados pela legislação comercial extravagante posterior ao C. Com. (exemplos:
locação financeira, consórcio, agência, atos relativos aos títulos de crédito, etc.).

O recurso à analogia como solução mais razoável (ex.: Artigo 230.º do Cód. Comercial)

 Atos subjetivamente comerciais


Presumem-se comerciais todos os contratos e obrigações dos comerciantes, com duas
exceções:

Não serão comerciais os atos que pela sua natureza não se conexionam com o comércio -
exclusivamente civis.

Não serão comerciais os atos que, em concreto, não se conexionem com a atividade comercial
do seu autor.
 Atos unilateralmente e bilateralmente comerciais
Atos bilateralmente comerciais ou puros.

➢ Atos que têm caráter comercial em relação a ambas as partes.

▪ Atos unilateralmente comerciais ou mistos.

➢ Atos que apenas são comerciais em relação a uma das partes e são civil em relação à outra.
➢ Regime jurídico dos atos unilateralmente comerciais: art. 99.º do Ccom (tratamento único
fundado no regime comercial; o Direito Comercial prevalece sobre o Direito Civil,
independentemente de, na relação jurídica, haver um ato de natureza civil; intenção do
legislador favorecer o comércio e as suas operações)

Empresas comerciais
«Haver-se-ão por comerciais as empresas singulares ou coletivas, que se propuserem:

1.º Transformar, por meio de fábricas ou manufaturas, matérias-primas, empregando para


isso, ou só operários, ou operários e máquinas;

2.º Fornecer, em épocas diferentes, géneros, quer a particulares, quer ao Estado, mediante
preço convencionado;

3.º Agenciar negócios ou leilões por conta de outrem em escritório aberto ao público, e
mediante salário estipulado;

4.º Explorar quaisquer espetáculos públicos;

5.º Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas;

6.º Edificar ou construir casas para outrem com materiais subministrados pelo empresário;

7.º Transportar, regular e permanentemente, por água ou por terra, quaisquer pessoas,
animais, alfaias ou mercadorias de outrem» (art. 230.º do C. Com.).»

▪ As empresas do art. 230.º devem ser entendidas como “conjuntos de atos objetivamente
comerciais enquadrados organizativamente (…)” (Coutinho de Abreu)

Solidariedade passiva
O art. 100.º do Cód. Comercial (confronto com o art. 513.º do Cód. Civil).

O art. 101.º do Cód. Comercial (confronto com o art. 638.º do Cód. Civil).
 A SOLIDARIEDADE NAS OBRIGAÇÕES COMERCIAIS.
O legislador comercial estabeleceu a regra da solidariedade passiva nas obrigações plurais,
enquanto que o legislador civil estabeleceu a regra da conjunção (art. 513.º do Ccivil).

▪ Nos termos do art. 100.º do CCom, as dívidas comerciais plurais são solidárias, com duas
exceções: ▪ - se houver estipulação das partes em contrário;

▪ -Se os devedores não forem comerciantes ou sendo-o o ato praticado não for quanto a eles
comercial (atos unilateralmente comerciais

▪ CONJUNÇÃO E SOLIDARIEDADE.

▪ Conjunção: ▪ — A obrigação decompõe-se em tantos vínculos quantos os sujeitos do lado


plural da obrigação.

▪ Solidariedade (quanto aos devedores): ▪ — À pluralidade dos sujeitos corresponde a unidade


da prestação, sendo qualquer dos devedores responsável pela totalidade da prestação perante
o credor comum.

▪ A solidariedade poderá ser ativa ou passiva. Vide o art. 512.º do CCivil.

▪ A SOLIDARIEDADE NAS OBRIGAÇÕES COMERCIAIS.

▪ Consequências legais da solidariedade passiva:

- o credor pode exigir de cada um dos devedores o pagamento da totalidade da dívida, sem
que qualquer dos restantes possa invocar o benefício da divisão de responsabilidades (arts
512.º, n.º1, 518.º e 519.º, do CCIvil);

O devedor que pagar a dívida fica com o direito de reclamar dos restantes codevedores a parte
que lhes cabe na dívida global, em sede de direito de regresso (art. 524.º do Ccivil)

▪ Na fiança mercantil, a responsabilidade do fiador da obrigação comercial também é solidária


(art. 101.º, n.º1, do CCom, pelo que este não pode invocar o benefício da excussão prévia
previsto no art. 638.º do Ccivil)

 Juros
Artigo 102.º do Cód. Com. - Princípio do decurso e contagem de juros nas dívidas comerciais.

A) JUROS LEGAIS

Taxa anual de juros legais: 4% (desde 01/05/2003) – Portaria n.º 291/2003, de 08/04;

B) Taxa supletiva de juros moratórios para créditos de que sejam titulares empresas
comerciais.

Corresponde à taxa de juro aplicada pelo BCE à sua mais recente operação principal de
refinanciamento acrescida de 7 pontos percentuais – art. 102º, § 3º e 4º, do Cód. Com.
Desde 01/01/2023 é de 9,5%.
C) Taxa supletiva de juros moratórios para créditos de empresas comerciais e emergentes
de transações comerciais entre empresas

Corresponde à taxa de juro aplicada pelo BCE à sua mais recente operação principal de
refinanciamento acrescida de 8 pontos percentuais – art. 102º, § 5º, do Cód. Com.
(redação do DL n.º 62/2013, de 10 de maio).

1º semestre de 2023: 10,50%

D) Taxa aplicável aos créditos representados por letras, livranças e cheque: 6% (art. 48º LULL
e 45º LUCH).

 Juros Convencionais
-A taxa de juros deve ser fixada por escrito (art. 102º, § 1º);

-Juros usurários (art. 559.º-A e 1146.º do Código Civil);

-Proibição do anatocismo (art. 560.º Cód. Civil):

“Para que os juros vencidos produzam juros é necessária convenção posterior ao vencimento”
ou - após “notificação judicial feita ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou proceder
ao seu pagamento sob pena de capitalização”.

Estas regras não são aplicáveis se forem contrárias a regras ou usos particulares do comércio -
n.º 3.

 Atrasos de pagamentos (DL n.º 62/2013, de 10/05)


Regras aplicáveis a “pagamentos efetuados como remunerações de transações comerciais” -
isto é, entre empresas ou entre empresas e entidades públicas.

Não se aplica a contratos com consumidores.

 Medidas de combate aos atrasos:


 Direito a juros de mora, sem necessidade de interpelação, a contar do vencimento (art.
4.º, n.º 2)
 Prazos supletivos de vencimento: 30 dias (art. 4.º, n.º 3);
 Prazo máximo (por regra): 60 dias (art. 4.º, n.º 5)
 Nulidade das cláusulas que estabeleçam prazos excessivos de pagamento ou que
excluam ou limitem a responsabilidade pela mora (art. 8.º, n.º 1);

Quando se vençam juros de mora, o credor tem direito a receber do devedor um


montante mínimo de € 40, sem necessidade de interpelação, a título de indemnização
pelos custos de cobrança da dívida, sem prejuízo de poder provar que suportou custos
razoáveis que excedam aquele montante (art. 7.º);

Recurso à injunção, independentemente do valor (art. 10º).


 Responsabilidade dos bens dos cônjuges
A) Dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges
B) Requisitos da comunicabilidade da dívida: art. 1691.º n.º 1 d) do Cód. Civil e art. 15.º
do Cód. Comercial.

REQUISITOS DO ARTIGO 1691.º N.º 1 ALÍNEA D) DO CÓD. CIVIL


1. Dívida contraída no exercício do comércio CFR. presunção do artigo 15.º Cód.
Com. - basta provar que a dívida é comercial e o seu autor um comerciante.
2. Dívida contraída em proveito comum do casal - O proveito comum presume-se
(presunção ilidível).
3. O proveito pode ser económico ou não - o que importa é a finalidade com que foi
contraída e não o resultado - critério de uma pessoa normal.
 Regime de comunhão de bens
Regime de comunhão geral ou de comunhão de bens adquiridos

Os art.s 1691.º n.º 1 d) do CC e 15.º do Cód. Com. visam alargar a garantia


patrimonial do credor do comerciante.
• O credor do comerciante apenas carece de provar:
a) Que a dívida é comercial;
b) que o devedor é comerciante;
c) que o comerciante está casado num regime de comunhão.

 Responsabilidade nas dívidas em regime de casamento


Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns
do casal, e, na falta ou insuficiência deles, solidariamente os bens próprios de qualquer dos
cônjuges.

 Dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges


- arts. 1692.º e 1696.º do Cód. Civil Artigo 1692.º (Dívidas da responsabilidade de um
dos cônjuges)
São da responsabilidade do cônjuge a que respeitam:
 As dívidas contraídas, antes ou depois da celebração do casamento, por cada um dos
cônjuges sem o consentimento do outro, fora dos casos indicados nas alíneas b) e c) do
n.º 1 do artigo anterior.
 Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens
próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns;
Comerciantes

 Relevância da definição de comerciante


a) classificação dos atos subjetivamente comerciais;

b) sujeição a determinadas obrigações especiais (art. 18.º do C. Com.);

c) regime especial de prova (artigos 396.º e 400.º do C. Com.);

d) regime de dívidas (art. 1691.º do C. Civil).

 São comerciantes:
1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão;
2.º As sociedades comerciais.

A figura do comerciante abrange duas categorias legais:

 o comerciante em nome individual e;


 As sociedades comerciais

 Requisitos da aquisição da qualidade de comerciante em nome individual.


1. Capacidade de exercício de direitos
Coincidência entre a capacidade civil e a capacidade comercial (art. 7.º Cód. Com.).
Possibilidade de os incapazes exercerem o comércio através dos seus representantes legais,
que atuam em nome e no interesse do incapaz.

Têm capacidade de exercício plena:

 As pessoas singulares maiores (arts. 67.º, 122.º, 123.º; 130.º do CCivil);


 Os menores emancipados pelo casamento (arts. 132.º, 133.º e 1601.º al. a) do CCivil)

Um menor pode ser comerciante?


Como representantes do filho, os pais (ou, na sua falta, os tutores) não podem, sem
autorização do Ministério Público:

 Adquirir estabelecimentos comerciais ou industriais em nome do filho;


 Continuar a exploração do estabelecimento que o filho haja recebido por sucessão ou
doação;
 Alienar estabelecimento comercial ou industrial em nome do filho (art. 1889.º, n.º 1
als. a) e c) do CCivil e art. 2.º, n.º 1 al. b) do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de
outubro)

Mesmo que não seja emancipado, é possível que um menor seja qualificado como comerciante
se se verificarem, de forma cumulativa, dois requisitos:
 Os menores não exerçam o comércio em nome próprio
 Exerçam o comércio através dos seus representantes legais, que são os respetivos pais
(titulares do poder paternal ou “parental”) e, subsidiariamente (caso o menor não
tenha pais), pelos seu(s) tutor(es).
 Haja autorização para tal por parte do Ministério Público.
2. Profissionalidade
A profissionalidade implica:

 A prática de atos comerciais (não releva a prática de atos subjetivamente comerciais,


nem de atos formalmente comerciais) ou de atos conexos com eles.
 Uma prática sistemática e não isolada – com carácter de regularidade.
 Que faça do comércio o seu modo de vida – exploração da atividade mercantil com
intuito lucrativo.

Em suma: a profissionalidade implica a existência de uma organização do comerciante (isto


é de uma empresa).

3. Exercício do comércio em seu próprio nome


Só adquire a qualidade de comerciante aquele que pratica ele próprio atos de comércio, ou
aquele em nome de quem os atos de comércio são praticados.

O comércio terá de ser exercido em nome próprio (e não em nome alheio) e de modo
autónomo (sem subordinação jurídica).

 A matrícula do comerciante
A matrícula (isto é, a inscrição no registo comercial) é obrigatória para todos os comerciantes
(art. 18.º do Cód. Com.).

A) Quanto aos comerciantes em nome individual, a matrícula constitui apenas uma


presunção ilidível da qualidade de comerciante (art. 11.º do Código do Registo
Comercial).
A matrícula do comerciante não é condição necessária, nem suficiente, para aquisição
da qualidade de comerciante.
B) Quanto às sociedades comerciais (art. 5.º do CSC): as sociedades comerciais adquirem
a qualidade de comerciante no momento em que adquirem personalidade jurídica com
o registo definitivo.
A matrícula do comerciante é condição necessária e suficiente para aquisição da
qualidade de comerciante
Não são comerciantes os que exercem atividades não mercantis:
- Agricultores

Pessoas (singulares e coletivas) que exercem uma atividade agrícola não são consideradas
comerciantes (artigos 230.º, parágrafos 1 (1.ª parte) e 2; e 464.º, n.ºs 2 e 4 do CCom.).

- Artesãos

O art. 230.º, parágrafo 1 (2.º parte) do CCom exclui das atividades comerciais as do «artista,
industrial, mestre ou oficial do ofício mecânico que exerce diretamente a sua arte, indústria ou
ofício, embora empregue para isso, ou só operários ou operários e máquinas» e art. 464.º, n.º3
do CCom.

- Profissionais liberais

“Pessoas singulares que exercem de modo habitual e autónomo atividades primordialmente


intelectuais, suscetíveis de regulamentação e controlo próprios (a cardo, em grande medida de
associações públicas…), bem como sujeitos coletivos cuja atividade consista numa atividade
profissional liberal”.

 Obrigações especiais do comerciante


Segundo o art. 18.º, do C. Com., os comerciantes são especialmente obrigados:

a) A adotar uma Firma;


Regulada pelo Regime do Registo Nacional de Pessoas Coletivas (RNPC) - DL n.º 129/98, de 13
de maio.

É o nome comercial do comerciante – firma subjetiva

É um elemento obrigatório para todos os comerciantes (em nome individual ou sociedades


comerciais).

É um sinal distintivo do comércio, a par do logótipo (para entidades, estabelecimentos, etc.) e


da marca (para produtos e serviços).

É constituída por uma expressão verbal, sujeita aos seguintes princípios:


 Os elementos da firma devem ser verdadeiros e não induzir em erro sobre a
identificação, natureza ou atividades do seu titular - art. 32.º;
 A transmissão da firma só é possível com a transmissão do estabelecimento comercial,
havendo acordo de ambas as partes e a firma incluir uma referência à sucessão - art.
44.º
Princípio da novidade ou exclusividade
Assegurar a função distintiva das firmas - devem ser insuscetíveis de confusão ou de erro com
outras já registadas para o mesmo âmbito de exclusividade – art. 33.º .

--Âmbito territorial de proteção da firma:


 Comerciantes em nome individual: âmbito territorial da conservatória do registo
comercial competente.
 Sociedades: âmbito nacional

Princípio da unidade
Cada comerciante apenas pode possuir uma única firma que o identifique – art. 38.

Proteção da firma:
 Proibição do uso ilícito da firma
 Responsabilidade civil - reparar os danos causados
 Responsabilidade criminal - concorrência desleal
b) A Ter Escrituração Mercantil;
Artigos 29.º a 44.º do Cód. Com. Registo dos factos e operações comerciais relevantes.

“Todo o comerciante é obrigado a ter escrituração mercantil efetuada de acordo com a lei.”

Funções da escrituração comercial:


 Dar a conhecer as operações comerciais e a situação patrimonial do comerciante;
 Meio de prova dos factos neles registados (art. 44.º do Cód. Com.);
 Meio de verificação da conduta do comerciante (ex.: para efeitos de insolvência
culposa ou negligente – art. 227.º n.º 1 do Cód. Penal);
 Base para a liquidação de impostos.

As sociedades comerciais devem possuir livros para atas para documentar as reuniões de
sócios e de outros órgãos colegiais (art. 31.º, Cód. Com.).

 Possibilidade de os livros serem constituídos por folhas soltas, numeradas


sequencialmente e rubricadas pela gerência ou administração.

Sigilo da escrituração (art. 41.º a 43.º do Cód. Comercial)

c) A fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos;


Registo por transcrição ou por depósito (art. 53.º-A, do CRC).

 Por transcrição: matrícula, inscrições, averbamentos e anotações (art. 55.º/ 1, do CRC).


Extractação dos factos sujeitos a registo.
 Por depósito: mero arquivamento dos documentos que titulam factos sujeitos a
registo.

Publicações legais (art. 70.º do CRC) – efetuadas oficiosamente pela conservatória, a expensas
dos interessados, em sitio da Internet de acesso público: (http://publicacoes.mj.pt/)
d) A dar Balanço e a Prestar Contas.
 Obrigatoriedade de dar balanço (art. 62.º do Cód. Com. e 65.º e 66.º do CSC);
 O balanço anual (nos 3 primeiros meses do ano seguinte àquele a que respeita – art.
65.º n.º 5 e art. 65.º-A, do CSC) e os balanços extraordinários (ex.: art. 91.º n.º 2 do
CSC).
 Obrigação de prestar contas: Para as sociedades comerciais ver artigos 65.º e 65.º-A,
do CSC

Empresas
Noção jurídica de EMPRESA (= estabelecimento comercial):

 “organização concreta de fatores produtivos como valor de posição no mercado”.

Elementos da Empresa:
 Elementos corpóreos (ex.: mercadorias, matérias-primas, imóveis, dinheiro)
 Elementos incorpóreos (ex.: direito ao arrendamento, direitos de crédito, patentes,
marcas, insígnias, direitos emergentes de contratos de trabalho e de prestação de
serviços, direitos emergentes de contratos de agência, concessão ou franquia, etc.)

Clientela:
 Relações contratuais com certa estabilidade; expectativa ou capacidade de angariar
novos clientes.
 A Consagração legal do direito à clientela: a indemnização de clientela, consagrada no
regime legal do contrato de agência.

Aviamento:
 Capacidade lucrativa, aptidão para gerar lucros. Certas situações de facto que
potenciam o lucro do comerciante. (Ex.: relações com fornecedores ou clientes, acesso
ao crédito, eficiência da organização, reputação ou “Goodwill”, posição no mercado,
etc.).
Trespasse:
 É a transmissão definitiva, por ato entre vivos, com ou sem carácter oneroso, da
propriedade da empresa.
 Pode ser uma venda, troca, doação, entrada em sociedade ou venda executiva,
etc.
 O artigo 1112.º do Código Civil (redação da Lei n.º 6/2006, de 27.02)

No caso de trespasse:

•Transmite-se para o adquirente a posição de empregador nos contratos de trabalho (art. 285.º
do Cód. Trab.);

•Os trabalhadores devem ser informados e consultados (art. 286.º do Cód. Trab.);

•Há um dever de comunicação à AT, com antecedência mínima de 30 dias e máxima de 60


sobre a data da sua formalização (exceto em caso de certidão de inexistência de dividas
tributárias) – art. 82.º do CPPT

Locação (ou cessão de exploração):


 É a disposição temporária e remunerada do mero gozo da empresa.
 O locatário explora a empresa por sua conta e risco, pagando uma determinada
remuneração ao dono do estabelecimento.
 O artigo 1109.º do Código Civil
 À locação é aplicável o n.º 2 do art. 1112.º, do CC (referente ao trespasse).

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