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Direito Comercial

“O comerciante não tem personalidade, tem comércio; a sua personalidade deve ser
subordinada, como comerciante, ao seu comércio; e o seu comercio está fatalmente subordinado
ao seu mercado(...).” Fernando Pessoa

Introdução

O Direito Comercial regula os atos e as atividades jurídico-mercantis, abrangendo o seu objeto,


para além do comércio (em sentido económico, de intermediação entre a oferta e a procura), a
indústria e os serviços.

O Direito do Mercado advém do Direito Comercial, tendo como consequência a globalização,


fenómeno mais presente no século XXI.

O Direito Comercial é o ramo do direito que regula, entre outros:

• A qualificação, identificação e regime aplicável a certos sujeitos de direito;


• Os negócios jurídicos realizados por esses sujeitos de direito;
• O relacionamento entre eles e entre estes e as suas contrapartes.

Na sua interação com o Mercado, vamos estudar:

• Os contratos comerciais;
• Instrumentos financeiros, títulos de crédito e valores mobiliários;
• A sua interação e fronteiras para com os outros ramos do direito, em particular o Direito
do Consumo e o Direito Civil.

No conceito de Direito Comercial, para além da identificação e regulação de sujeitos específicos-


os chamados comerciantes (individuais e sociedades comerciais) - cuja intervenção no mercado
se caracteriza pela profissionalidade da sua atuação ou da sua qualificação legal, cabem as regras
que regulam os atos e as atividades jurídico-mercantis.

Encontramos, pois, no Direito Comercial (ainda) vigentes diversos setores que, podendo ser
objeto de analise autónoma, não deixam frequentemente de se sobrepor e entrecruzar. Numa
sistematização necessariamente subjetiva, enunciaríamos os seguintes:

a) Sujeitos do Direito comercial: empresas e empresários mercantis (comerciantes-


individuais e sociedade comerciais- e outros);
b) Contratos comerciais: a generalidade dos atos jurídicos celebrados entre os sujeitos de
Direito Comercial e, nalguns casos, entre estes e os consumidores. É neste setor que
assume especial relevância o regime comercial (em face do regime do Direito Civil);
c) Títulos de crédito e valores mobiliários essencialmente padronizados (ações,
obrigações e instrumentos financeiros equiparados), transacionáveis no mercado
organizado;

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d) Atos e operações de mercado, neles englobando a tutela direta da concorrência e os
direitos privativos da propriedade industrial, bem como os organismos de investimentos
coletivo (fundos);
e) Outros ramos possíveis (que se autonomizaram, entretanto dos setores a), b) e c)):
Direito Marítimo, Direito Bancário, Sistemas de Pagamentos e Direitos dos Seguros.

O Objeto do Direito Comercial


Artigo 1º Código Comercial

Objeto da lei comercial

“A lei comercial rege os atos de comércio sejam ou não comerciantes as pessoas que neles
intervém.”

O artigo primeiro do código comercial pretendeu tornar claro que este diploma se aplicaria a
todos os atos e contratos mercantis, não sendo exclusivo de uma classe profissional. Esta
inclinação encontra-se, porém, mitigada pela qualificação direta de certas entidades como
comerciantes (caso das sociedades comerciais- art. 13º, nº2), pelo reconhecimento da
comercialidade da generalidade dos contratos por estes celebrados (art. 2º, II parte) e,
sobretudo, pela qualificação como comerciais de todas as atividades empresariais de caráter
económico, em que, na produção de bens e prestação de serviços para o mercado, é,
especialmente, relevante o risco de capital.

Artigo 2º

Atos de comércio

“Serão considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados
neste Código, e, além deles, todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem
de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar”.

Artigo 13º

Quem é comerciante

São comerciantes:

1º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste
profissão;

2º As sociedades comerciais.

Comerciante é aquele que faz do exercício do comércio profissão, isto é, a pessoa que se dedica
habitualmente, como meio de vida, à prática de atos de comércio (absolutos), nomeadamente
de compra para revenda (13º, nº1).

A essas pessoas acrescem aquelas que se propõem exercer uma atividade mercantil (nos termos
do art. 230º) e as empresas coletivas, organizadas sob forma de sociedades comerciais, só pelo

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simples facto de existirem, ou seja, de se constituírem como tais (art. 13º, nº2); e também, em
certas circunstâncias, as cooperativas e as empresas públicas.

O âmbito e alcance do art. 13º, em especial do seu número 1, é muito reduzido, porquanto os
comerciantes (ou empresários) individuais- isto é, os sujeitos de Direito Comercial que não estão
organizados sob forma societária- são, hoje, em número proporcionalmente menor do que o
eram, no século XIX, relativamente às sociedades comerciais, não apresentando o respetivo
volume de negócios a expressão que já teve na economia portuguesa.

Artigo 14º

Quem não pode ser comerciante

É proibida a profissão do comércio:

1º Às associações ou corporações que não tenham por objeto interesses materiais;

2º Aos que por lei ou disposições especiais não possam comerciar.

Art. 230º

Empresas comerciais

1º- não se haverá como compreendido no nº1 o proprietário ou o explorador rural que apenas
fabrica ou manufatura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua exploração
agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce diretamente
a sua arte, indústria ou ofício, embora empregue para isso, ou só operários e máquinas.

2º- não se haverá como compreendido no nº2 o proprietário ou explorador rural que fizer
fornecimento de produtos da respetiva propriedade.

3º- não se haverá como compreendido no nº5 o próprio autor que editar, publicar ou vender as
suas obras.

Artigo 3.º Critério de integração

Se as questões sobre direitos e obrigações comerciais não puderem ser resolvidas, nem pelo
texto da lei comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos nela prevenidos, serão
decididas pelo direito civil.

Artigo 4.º Lei reguladora dos atos de comércio

Os atos de comércio serão regulados:

1.º Quanto à substância e efeitos das obrigações, pela lei do lugar onde forem celebrados, salva
convenção em contrário;

2.º Quanto ao modo do seu cumprimento, pela do lugar onde este se realizar;

3.º Quanto à forma externa, pela lei do lugar onde forem celebrados, salvo nos casos em que a
lei expressamente ordenar o contrário.

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único. O disposto no número 1.o deste artigo não será́ aplicável quando da sua execução resultar
ofensa ao direito público português ou aos princípios de ordem pública.

Princípios

Artigo 7.º

Capacidade para a prática de atos de comércio

Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de se obrigar, poderá́ praticar
atos de comércio, em qualquer parte destes reinos e seus domínios, nos termos e salvas as
excepções do presente Código.

Artigo 18.º
Obrigações especiais dos comerciantes

Os comerciantes são especialmente obrigados:


1.º A adotar uma firma;
2.º A ter escrituração mercantil;
3.º A fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos;

4.º A dar balanço, e a prestar contas.

Comercio em sentido económico e em sentido jurídico

Sentido económico: atividade de intermediação, que tem origem na troca de mercadorias. Em


particular, a atividade de compra e venda de bens e/ou respetiva revenda, com objetivo do
lucro.

Em sentido jurídico: o comercio é a atividade objeto do Direito Comercial, ou seja, o objeto


definido pelo Código do Comércio e restante legislação.

O Código Comercial afasta o conceito de “comércio” algumas atividades, tais como as atividades
económicas primárias (agricultura, pecuária, etc.).

Autonomia formal

▪ Existe um instrumento autónomo e específico que regula este ramo do direito, o Código
Comercial.
▪ Por exemplo, as regras aplicáveis à compra e venda divergem, caso esta seja:

o Comercial- art. 463º do Código Comercial;


o Civil- art. 874º do Código Civil;
o Consumo- lei nº 24/96, DL nº 24/2014, entre outros.

Autonomia substancial

▪ Relativo aos sujeitos que, pela prática reiterada de certos atoa (atos de comércio),
justificam uma regulação própria dos mesmos.
▪ O Direito Comercial regula, assim, as relações entre Comerciantes

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▪ Existe assim um conjunto de normas e princípios que se aplicam a estas relações, que
serão o objeto do nosso estudo.

Os princípios do direito comercial são:

▪ Celeridade;
▪ Facilidade de prova;
▪ Segurança;
▪ Boa-fé.

Celebridade

▪ Simplicidade;
▪ Não necessidade de forma para a sua validade e produção de efeitos;
▪ Exemplo: o empréstimo mercantil.

Artigo 396º- prova

O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja qual for o seu valor, todo o género de
prova.

Facilidade de prova

▪ Também ligado à simplicidade de forma;


▪ Exemplo:

Artigo 400º- prova

Para que o penhor mercantil entre comerciantes por quantia excedente a duzentos mil réis
produza efeitos com relação a terceiros basta que se prove por escrito.

Segurança

▪ Garantia e certeza no pagamento (grande diferença entre Direito Comercial e Direito


Civil

Artigo 100º- regra da solidariedade nas obrigações comerciais

Nas obrigações comerciais os coobrigados são solidários, salva estipulação contrária.

Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos contratos que, em relação a
estes, não contribuem atos comerciais.

Artigo 101º- solidariedade do fiador

Todo o fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja comerciante, será solidário com o
respetivo afiançado.

Boa-fé

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▪ Princípio transversal ao direito privado português;
▪ Tem especial incidência no direito comercial;
▪ Princípio conexo com as restantes- que permite a sua existência
▪ Historicamente relevante e assente nos usos comerciais.

Boa-fé- exemplo da Lei Uniforme relativa e letras e livranças

Art. 16º- legitimidade do portador

O detentor de uma letra é considerado portador legitimo se justifica o seu direito por uma série
ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. Os endossos riscados consideram-
se, para este efeito, como não escritos. Quando um endosso em branco é seguido de um outro
endosso, presume-se que o signatário deste adquiriu a letra pelo endosso em branco.

Se uma empresa foi por qualquer maneira desapossada de uma letra, o portador dela, desde
que justifique o seu direito pela maneira indicada na alínea precedente, não é obrigado a
restituí-la, salvo se a adquiriu de má-fé ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave.

Art. 17º- relações pessoais nas ações da letra

As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador as exceções
fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a
menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do
devedor.

A Lei

▪ Código Comercial;
▪ Código das Sociedades Comerciais (1986);
▪ Código do Registo Comercial (1986);
▪ Código dos valores Mobiliários (1999)
▪ Código da propriedade Industrial (2003);
▪ Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (2003)
▪ Lei da Concorrência (2012)
▪ (Outra legislação)

O costume e os usos comerciais

▪ O Direito Comercial é formado por usos sociais próprios;


▪ Adaptabilidade á constante evolução da sociedade e do mercado, bem como ao
progresso tecnológico;
▪ O usos comerciais são práticas reiteradas, realizadas por sujeitos de uma determinada
atividade económica. Por exemplo, nas relações contratuais entre empresas ou entre
estas e a sua clientela.
▪ A “repetição” das práticas cria um uso juridicamente relevante, nos termos do art. 3º
do Código Civil e pela sua própria autoridade- os agentes económicos reconhecem estes
usos como obrigatórios e agem em conformidade com os mesmos.

Fontes não nacionais

▪ Convenções internacionais e direito uniforme

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o Lei uniforme relativa às letras e livranças (1930)

▪ Direito da União Europeia

o diretivas e regulamentos ao mercado único geral, e às relações entre


comerciantes (entre si) e com os seus clientes/fornecedores

▪ Lex Mercatoria

o Fonte autónoma;
o Conjunto de princípios e regras aplicáveis ao comercio comercial;
o Encontram-se em evolução constante por parte dos seus próprios destinatários;
o Englobam-se na lex mercatória os seguintes princípios:

▪ As práticas e usos profissionais;


▪ Os códigos deontológicos;
▪ As regras relativas às transações comerciais;
▪ As regras contratuais e modelos publicados pela Câmara de Comércio
Internacional;
▪ Os princípios UNIDROIT

• Câmara do comercio internacional


• Instituto internacional para Unificação do Direito Privado

Os atos de comercio podem ser objetivos ou subjetivos.

Atos de comercio objetivos:

• Absolutos (comerciais por natureza tais como a intermediação, atividades financeiras,


de mediação, industriais, de prestação de serviços mercantis, etc.)
• Objetivos por acessoriedade objetiva (conexos a um ato de comercio absoluto tais como
a fiança, o penhor, o mandato, o depósito, etc.);
• Objetivos por acessoriedade subjetiva (apenas são comerciais por serem celebrados por
sujeitos de Direito Comercial).

São atos de comércio (subjetivos) todos os contratos e obrigações dos comerciantes (art 2º):

• “que não forem de natureza exclusivamente civil” e


• “se o contrário (do próprio ato) não resultar”.

Artigo 13º (código comercial)

Quem é comerciante

São comerciantes:

1º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste
profissão;

2º As sociedades comerciais.

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Comerciante é aquele que faz do exercício do comércio profissão, isto é, a pessoa que se dedica
habitualmente, como meio de vida, à prática de atos de comércio (absolutos), nomeadamente
de compra para revenda (13º, nº1).

A essas pessoas acrescem aquelas que se propõem exercer uma atividade mercantil (nos termos
do art. 230º) e as empresas coletivas, organizadas sob forma de sociedades comerciais, só pelo
simples facto de existirem, ou seja, de se constituírem como tais (art. 13º, nº2); e também, em
certas circunstâncias, as cooperativas e as empresas públicas.

O âmbito e alcance do art. 13º, em especial do seu número 1, é muito reduzido, porquanto os
comerciantes (ou empresários) individuais- isto é, os sujeitos de Direito Comercial que não estão
organizados sob forma societária- são, hoje, em número proporcionalmente menor do que o
eram, no século XIX, relativamente às sociedades comerciais, não apresentando o respetivo
volume de negócios a expressão que já teve na economia portuguesa.

Artigo 14º

Quem não pode ser comerciante

É proibida a profissão do comércio:

1º Às associações ou corporações que não tenham por objeto interesses materiais;

2º Aos que por lei ou disposições especiais não possam comerciar.

Art. 230º

Empresas comerciais

1º- não se haverá como compreendido no nº1 o proprietário ou o explorador rural que apenas
fabrica ou manufatura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua exploração
agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce diretamente
a sua arte, indústria ou ofício, embora empregue para isso, ou só operários e máquinas.

2º- não se haverá como compreendido no nº2 o proprietário ou explorador rural que fizer
fornecimento de produtos da respetiva propriedade.

3º- não se haverá como compreendido no nº5 o próprio autor que editar, publicar ou vender as
suas obras.

Noção de sociedade

“O contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com
bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que não seja de
mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.” Artigo 980º do CC

Artigo 1º Código das Sociedades Comerciais

(Âmbito geral de aplicação)

1 - A presente lei aplica-se às sociedades comerciais.

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2 - São sociedades comerciais aquelas que tenham por objeto a prática de atos de comércio e
adotem o tipo de sociedade em nome coletivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima,
de sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita por ações.

3 - As sociedades que tenham por objeto a prática de atos de comércio devem adotar um dos
tipos referidos no número anterior.

4 - As sociedades que tenham exclusivamente por objeto a prática de atos não comerciais
podem adotar um dos tipos referidos no nº 2, sendo-lhes, nesse caso, aplicável a presente lei.

Noção de empresa

Artigo 5º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas

Para efeitos deste código, considera-se empresa toda a organização de capital e de trabalho
destinada ao exercício de qualquer atividade económica.

Empresa e estabelecimento comercial

• A empresa comercial constitui o “substrato” do sujeito de Direito Comercial, pois a sua


empresa é necessariamente comercial
• Não deve ser confundida com outras entidades com relevância jurídica, tais como os
comerciantes ou os empresários individuais.
• Pelo contrário, o estabelecimento comercial constitui a referência espacial da atividade
do sujeito de direito comercial
• O estabelecimento comercial pode ser uma localização física, tal como uma loja ou algo
sem existência geográfica determinada, tal como um “website”

A empresa é um conjunto delimitado de meios (materiais e humanos) que se destinam à


realização de determinada finalidade (económica).

Não existe uma definição única ou estanque de empresa, mas o Código da Insolvência, o Código
do Trabalho e a Lei nº 19/2012 indicam-nos um caminho a percorrer.

Artigo 3º da Lei nº 19/2012

Noção de empresa

1 - Considera-se empresa, para efeitos da presente lei, qualquer entidade que exerça uma
atividade económica que consista na oferta de bens ou serviços num determinado mercado,
independentemente do seu estatuto jurídico e do seu modo de financiamento.

2 - Considera-se como uma única empresa o conjunto de empresas que, embora juridicamente
distintas, constituem uma unidade económica ou mantém entre si laços de interdependência
decorrentes, nomeadamente:

a) De uma participação maioritária no capital;


b) Da detenção de mais de metade dos votos atribuídos pela detenção de participações
sociais;
c) Da possibilidade de designar mais de metade dos membros do órgão de administração
ou de fiscalização;

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d) Do poder de gerir os respetivos negócios.

Construção de um conceito de “empresa”

• Conceção supletiva- demonstra o interesse que uma pessoa (singular ou coletiva/


natural ou jurídica) tem em atingir um determinado fim. Caso esta empresa seja uma
empresa comercial, o fim é o lucro.
• Conceção objetiva- a empresa reporta-se à atividade económica organizada, com
estabilidade, e com a finalidade de produção ou distribuição de bens e serviços no
mercado, tal como exercida pelo empresário (pessoa singular ou coletiva).
• Aspeto material- conjunto de bens e direitos.
• Aspeto institucional- organização de pessoas que prosseguem uma determinada
atividade económica (aspeto ligado ao direito do trabalho).

Art.230ºdo Código Comercial

Empresas comerciais
Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas, que se propuserem:

a) Transformar, por meio de fábricas ou manufaturas, matérias-primas, empregando para


isso, ou só operários, ou operários e máquinas;
b) Fornecer, em épocas diferentes, géneros, quer a particulares, quer ao Estado, mediante
preço convencionado;
c) Agenciar negócios ou leilões por conta de outrem em escritório aberto ao público, e
mediante salário estipulado;
d) Explorar quaisquer espetáculos públicos;
e) Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas;
f) Edificar ou construir casas para outrem com materiais subministrados pelo empresário;

O estabelecimento comercial

O que é?

É um conjunto de bens e serviços que são organizados e utilizados pelo comerciante (ou
empresário), para que esta possa desenvolver a atividade comercial (ou empresarial).

O que faz parte do estabelecimento comercial?

• Elementos corpóreos, móveis e imóveis, desde equipamentos, armazéns, máquinas, etc.


• Elementos incorpóreos, tais como os direitos de propriedade industrial ou intelectual,
direitos resultantes de contratos, a clientela, etc.

Forma de transmissão

• Trespasse;
• Venda;
• Locação de estabelecimento.

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Trespasse

• O que é? É a transmissão do estabelecimento comercial ou industrial;


• O trespasse é um ato de transmissão a título definitivo;
• O titular do estabelecimento pode transmiti-lo de forma total ou parcial;
• Caso o estabelecimento se encontre em imóvel arrendado, devemos usar as regras
do artigo 1112º do Código Civil.

Artigo 1112º do Código Civil

Transmissão da posição do arrendatário

1. É permitida a transmissão por ato entre vivos da posição do arrendatário, sem


dependência da autorização do senhorio:

a) No caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial; b) A pessoa que no prédio


arrendado continue a exercer a mesma profissão liberal, ou a sociedade profissional de objeto
equivalente.

2. Não há trespasse:

a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em conjunto, das instalações,


utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o estabelecimento; b) Quando a
transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de comércio ou indústria ou, de um modo
geral, a sua afetação a outro destino.

3. A transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio.


4. O senhorio tem direito de preferência no trespasse por venda ou dação em
cumprimento, salvo convenção em contrário.
5. Quando, após a transmissão, seja dado outro destino ao prédio, ou o transmissário não
continue o exercício da mesma profissão liberal, o senhorio pode resolver o contrato.

Locação de estabelecimento

O que é?

É a transferência temporária e onerosa do estabelecimento.

Onde podemos encontrar a sua regulação?

Encontramos a sua regulação no artigo 1109º do Código Civil.

Também apelidada por alguns autores de Cessão de Exploração.

• Vicissitude especifica do contrato de arrendamento urbano para fins não habitacionais-


prevista art.º. 1109, nº1 CC, esta está definida como a transferência temporária e
onerosa do gozo de um prédio ou parte em conjunto com a exploração de um
estabelecimento.

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• A lei determina que a locação de estabelecimento não carece de autorização do
senhorio, mas deve-lhe ser comunicada no prazo de 1 mês (art. 1109º, nº2 CC); no mais
o regime nada acrescenta, limitando-se a referir que ela se rege pelas regras na
subseção relativa aos arrendamentos para fins não habitacionais comas necessárias
adaptações.

Artigo 1109º do Código Civil

Locação de estabelecimento

1. A transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele, em


conjunto com a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele
instalado, rege-se pelas regras da presente subsecção, com as necessárias adaptações.
2. A transferência temporária e onerosa de estabelecimento instalado em local arrendado
não carece de autorização do senhorio, mas deve ser-lhe comunicada no prazo de um
mês.

O estabelecimento como garantia

Os seus todos ou os seus elementos individuais podem ser (e são constantemente) dados como
garantia.

Que garantias estudas em Obrigações I podem ser usadas como exemplos?

Empresa vs. estabelecimento comercial

Ambos constituem o substrato dos sujeitos de direito comercial;

A empresa é mais que o estabelecimento comercial.

Acesso à atividade comercial

Pessoa física- o comerciante (art 13º Código comercial)

O comerciante é aquele que faz do exercício do comércio, profissão. É a pessoa que se dedica,
como meio de vida, à celebração de contratos comerciais, tais como a compra e venda (para
revenda).

Pessoa jurídica- as sociedades comerciais (art. 13º Código comercial)

Todas as que se encontram constituídas no âmbito do Código das Sociedades Comerciais.

Capacidade no exercício do comércio

• Apenas quem tem capacidade de exercício pode ser comerciante;


• Caso dos menores?

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• Podem os menores suceder na titularidade de um estabelecimento comercial ou deter
uma quota de uma sociedade comercial? Caso possam, isso faz deles comerciantes?

As proibições para comerciar (art. 14º e 17º do Código Comercial)

• Proibições em matéria de concorrência;


• Proibições ao nível da aérea económica
• Quem não pode exercer atividade comercial

1. Todos aqueles que se encontrem legalmente impedidos de o fazer, como por


exemplo os juízes e os militares;
2. As associações que não tenham por objetivo interesses materiais;
3. O Estado, as Autarquias, as Misericórdias ou outras IPSS em geral.

Responsabilidade pelas dívidas de cônjuge comerciante

Regra geral: art. 1690º do Código Civil- “qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair
dívidas, sem necessidade do consentimento do outro”.

Espécies de dívidas:

1. Dívidas contraídas conjuntamente pelos dois cônjuges (com intervenção de ambos) são
comunicáveis e cada um responde por metade da dívida); ou
2. Dívidas contraídas por um dos cônjuges são dívidas próprias.

Art. 15º

Dívidas comerciais do cônjuge comerciante

As dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu


comércio.

Artigo 1691º do Código Civil


(Dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges)

1. São da responsabilidade de ambos os cônjuges:

d) As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se se provar
que não foram contraídas em proveito comum do casal ou se vigorar entre os cônjuges o regime
de separação de bens;

e) As dívidas consideradas comunicáveis nos termos do nº 2 do artigo 1693º.

Porque se comunicam estas dividas:

• Porque o comércio deve, em princípio, considerar-se exercido para lucro e proveito dos
dois cônjuges, se casados em comunhão;
• Desta forma, se ambos tiram proveito do comércio, ambos devem responder pelos
encargos contraídos durante o seu exercício;

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• Casos os cônjuges estejam casados em regime de separação de bens, esta presunção
não existe, pelo que cada cônjuge responde pelas dívidas que contraiu.

Conceito de dívida comercial

• São dívidas comerciais as resultantes de atos de comércio, ou seja, as dívidas


emergentes de contratos comerciais,
• Mas serão todas as dívidas comerciais? E aquelas que resultam de um ato isolado?
• Para responder a isto, temos de usar o art. 15º do Código do Comércio:

“As dividas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu


comércio”.

Sucessão nas empresas comerciais singulares

Ocorrendo a sucessão de um comerciante (em nome individual), as dívidas serão imputadas á


empresa em si, e, portanto, serão imputadas aos herdeiros.

Protocolo familiar- instrumento contratual que permite aos familiares herdeiros continuar a
empresa de forma concertada. Este instrumento permite consolidar e manter unitários os ativos
usados pela empresa para prosseguir o seu objetivo comercial.

Sucessão de empresas comerciais singulares

Fases de criação de um protocolo familiar:

1. Consciencialização da existência de uma empresa;


2. Levantamento de bens que compreendem a empresa;
3. Avaliação do património empresarial;
4. Relatório sobre a informação recolhida;
5. Realização familiar sobre a continuidade da empresa
6. Realização de protocolos preliminares;
7. Apresentação e discussão de projetos e negociação quanto ao conteúdo do protocolo;
e
8. Formalização de protocolo.

EIRL e Sociedades por Quotas Unipessoais

• Organizam a empresa e separam os elementos que a compreendem do património do


comerciante;
• Impede-se que os riscos próprios do negócio contaminem a família do comerciante;
• Proporcionam uma continuidade da empresa.
• Ideia de “uma pessoa, um património”.

Estabelecimento Mercantil de Responsabilidade Limitada – EIRL

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• Criado pelo Decreto-Lei nº 248/86 de 25/08, e alterado pela última vez pelo Decreto-Lei
nº 8/2007 de 17/01;
• Pode ser criado por qualquer pessoa com capacidade jurídica;
• Cada pessoa só pode ser titular de um EIRL;
• Cada EIRL pode deter vários estabelecimentos comerciais;
• Tem um capital mínimo de 5000€;
• Deve ser objeto de registo comercial;
• É transmissível e pode ser onerado;
• Responde apenas pelas dívidas geradas pelo seu exercício (art. 10º);
• Pode responder às dívidas contraídas pelo comerciante em momento anterior à sua
constituição;
• Em princípio, o património do comerciante não responde pelas dívidas do EIRL.
• No entanto, caso não exista separação de facto dos patrimónios em questão, o
património do comerciante pode responder pelas dívidas do EIRL (art. 11º).
• É um património autónomo;
• Implica um procedimento pesado e contrário aos interesses do pequeno empresário;
• Não dá certezas nem diminui o risco associado à atividade comercial;
• Muito pouco usado na prática.

Sociedades comerciais

• Vimos que são comerciantes as empresas coletivas, organizadas sob forma de


sociedades comerciais (art. 13º, nº2 do Código Comercial).
• A sociedade é comercial quando se propõe a realizar atos de comércio ou uma atividade
empresarial com fins lucrativos, ou se constitua de acordo com as regras definidas pelo
Código das Sociedades Comerciais.
• A admissibilidade de uma sociedade comercial individual implica a adaptação do
conceito de “sociedade comercial”.

Tipo de sociedade comercial:

1. Sociedades em nome coletivo;


2. Sociedades por quotas;
3. Sociedades anónimas;
4. Sociedades em comandita.

As sociedades em nome coletivo

• Responsabilidade ilimitada dos sócios;


• Cada sócio responde ilimitadamente e com os restantes sócios pelas perante os
credores da sociedade;
• Sociedades administrativas por gerentes que são também sócios;
• Cada sócio representa 1 voto, sem correlação com o valor da sua participação social;
• As deliberações são tomadas por maioria, ainda que a alteração ao contrato de
sociedade tenha de ser realizada por unanimidade.

Sociedades por quotas

• Responsabilidade limitada dos sócios;


• Podem ser constituídas por um capital simbólico (Ex: 1€);
• A gerência pode ser assegurada por não sócio;

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• Como órgãos tem a assembleia geral e o conselho fiscal;
• Os votos são referentes ao valor que cada sócio tem no capital social;
• As quotas são livremente transmissíveis entre sócios ou para familiares próximos;
• A alienação onerosa de quotas a terceiros depende do consentimento da sociedade.

Sociedades anónimas

• Responsabilidade limitada dos sócios;


• Têm um capital mínimo de 50.000€;
• A sua administração é realizada por administradores nomeados;
• Da estrutura mais complexa e mais adequada a empresa de grande dimensão;
• De estritura mais complexa e mais adequada a empresas de grande dimensão;
• Os sócios deliberam em assembleia geral e. ada um vota de forma proporcional ao valor
do capital por si detido;
• As ações são, em princípio, alienadas livremente a terceiros.

Existem 4 subtipos:

1. Sociedades anónimas abertas cotadas;


2. Sociedades anónimas abertas, mas não cotadas;
3. Grandes sociedades anónimas, não abertas (balanço de 20 milhões de €, 40 milhões de
€ em vendas líquidas e outros proveitos e média de 250 trabalhadores); e
4. Sociedades anónimas simples.

Sociedades em comandita

• Tipo de societário em desuso;


• Coexistem duas espécies de sócios, com regimes de responsabilidades diferentes: os
sócios de comanditários ou de capital (que apenas respondem pelo capital a que se
obrigaram) e os sócios comanditados ou de trabalho (que respondem pelas dívidas da
sociedade de forma ilimitada);
• São administradores por gerentes que são, em norma, sócios comanditados ou de
trabalho;
• As participações na sociedade são de difícil transmissão.

Outras formas empresariais

• Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS)


• Grupos de Sociedades
• Agrupamentos Complementares de Empresas
• Agrupamentos Europeus de Interesse Economico
• Cooperativas
• Empresas Públicas

Sociedades Gestoras de Participações Sociais – SGPS

• Vocacionadas para a gestão de participações sociais em outras sociedades;


• Podem adotar a forma de sociedade por quotas ou sociedade anónima;
• São reguladas pelo Decreto-Lei nº 495/88 de 30/12;

16
• Também são conhecidas como sociedades Holding;
• Detém regras próprias específicas, tais como limites mínimos de participação em outras
sociedades comercias;
• O seu objeto social é a gestão de outras sociedades comerciais.

Grupos de sociedades

• Sociedades coligadas ou que funcionam em grupo;


• Detém um regime jurídico diferente das SGPS;
• São sociedades que atuam em grupo.

Agrupamentos complementares de empresas

• Introduzido pela Lei nº 4/73 de 9/06 e regulamentada pelo Decreto-Lei nº 430/73 de


25/08;
• Entidades constituídas pela junção de pessoas singulares ou coletivas, que se juntam
para obter o melhor resultado económico possível;
• Atividade complementar;
• Não deve ser confundido com uma sociedade comercial stricto sensu.

Agrupamento Europeu de Interesse Económico

• Estabelecido pelo Regulamento (CEE) nº 2137/85 do Conselho, de 25 de Julho de 1985,


diretamente aplicável na nossa ordem jurídica;
• Regulado pelo Decreto-Lei nº 148/90 de 9/05;
• Ente auxiliar de comerciantes (singulares ou sociedades comerciais), que tem como
finalidade a promoção dos seus membros no mercado europeu;
• Criado pela ideia de necessidade de joint-ventures a nível europeu.

Cooperativas

• Pessoas coletivas de livre constituição e de capital e composição variável.


• Têm por finalidade a satisfação, sem intuito de lucro, das necessidades económicas,
sociais e culturais dos seus membros, através da respetiva cooperação e entreajuda.
• Reguladas pelo Código Cooperativo.
• O seu órgão executivo é o conselho de administração;
• São controladas por uma entidade pública, encontrando-se sujeitas a uma tutela
rigorosa pública.

Empresa pública

• Pessoas coletivas de direito público;


• Os seus titulares são entidades públicas (locais ou nacionais);
• Seguem um regime autónomo (RJSE, aprovado pelo Decreto-Lei nº 133/2013 de 3 de
outubro);
• Não têm como fim o lucro.

Estatuto próprio e comum dos sujeitos de Direito Comercial

• A firma da empresa comercial deve seguir os seguintes princípios:

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a) Princípio da verdade
b) Princípio da exclusividade

• A firma da empresa comercial deve identificar ainda o tipo societário:

a) “Limitada” ou “Lda.” – Sociedade por quotas


b) “Sociedade anónima” ou “S.A.” – Sociedade anónima
c) “Em comandita” ou “& comandita” ou “em comandita por ações” ou “& comandita por
ações” – Sociedades em comandita
d) “& Cia” ou “& Outro” – Sociedade em nome coletivo

Estatuto próprio e comum dos sujeitos de Direito Comercial

A escrituração mercantil é obrigatória (art. 29.o e seguintes do Código Comercial)

Artigo 29º

Obrigatoriedade da escrituração mercantil

Todo o comerciante é obrigado a ter escrituração mercantil efetuada de acordo com a lei.

Artigo 30º

Liberdade de organização da escrituração mercantil

O comerciante pode escolher o modo de organização da escrituração mercantil, bem como o


seu suporte físico, sem prejuízo do disposto no artigo seguinte.

Art.o 31º

Livros obrigatórios

1. As sociedades comerciais são obrigadas a possuir livros para atas.


2. Os livros de atas podem ser constituídos por folhas soltas numeradas sequencialmente
e rubricadas pela administração ou pelos membros do órgão social a que respeitam ou,
quando existam, pelo secretário da sociedade ou pelo presidente da mesa da
assembleia geral da sociedade, que lavram, igualmente, os termos de abertura e de
encerramento, devendo as folhas soltas ser encadernadas depois de utilizadas.

Insolvência

• Para funcionarem, as empresas necessitam de liquidez e acesso aos meios que lhes
permitam cumprir as suas obrigações.
• No entanto, nem sempre o conseguem fazer.
• A insolvência consiste na impossibilidade de cumprir as obrigações vencidas ou na
evidência de uma situação patrimonial negativa (art. 3º CIRE).

18
• É a situação de maior crise com que a empresa se pode deparar. Em alguns casos é
reparável, noutros não.

Artigo 1.º

Finalidade

• O processo de insolvência é um processo de execução universal que tem como


finalidade a satisfação dos credores pela forma prevista num plano de insolvência,
baseado, nomeadamente, na recuperação da empresa compreendida na massa
insolvente, ou, quando tal não se afigure possível, na liquidação do património do
devedor insolvente e a repartição do produto obtido pelos credores.
• Estando em situação económica difícil, ou em situação de insolvência meramente
iminente, a empresa pode requerer ao tribunal a instauração de processo especial de
revitalização, de acordo com o previsto nos artigos 17º-A a 17º-J.
• Tratando-se de devedor de qualquer outra natureza em situação económica difícil ou
em situação de insolvência meramente iminente, este pode requerer ao tribunal
processo especial para acordo de pagamento, previsto nos artigos 222º-A a 222º-J.

A pré-insolvência

O PER (Processo Especial de Revitalização)

• Quando a empresa se encontra em situação difícil, mas ainda não incapaz de solver os
seus compromissos, pode recorrer ao Processo Especial de Revitalização, que se
encontra regulado nos art. 17º-a a 17º-I do Código da Insolvência.
• Pretende evitar o alarme social
• Pretende ajudar a lidar com uma situação de insolvência eminente, mas suscetível de
recuperação.
• Permite despoletar um processo especial de revitalização da empresa onde se venha a
negociar com os credores uma solução que salve a empresa.

O PER

Artigo 17º-A

Finalidade e natureza do processo especial de revitalização

1. O processo especial de revitalização destina-se a permitir à empresa que,


comprovadamente, se encontre em situação económica difícil ou em situação de
insolvência meramente iminente, mas que ainda seja suscetível de recuperação,
estabelecer negociações com os respetivos credores de modo a concluir com estes
acordos conducentes à sua revitalização.

Artigo 17º-B

Noção de situação económica difícil

19
Para efeitos do presente Código, encontra-se em situação económica difícil a empresa que
enfrentar dificuldade séria para cumprir pontualmente as suas obrigações, designadamente por
ter falta de liquidez ou por não conseguir obter crédito.

Artigo 17º-C

Requerimento e formalidades

1 - O processo especial de revitalização inicia-se pela manifestação de vontade da empresa e


de credor ou credores que, não estando especialmente relacionados com a empresa, sejam
titulares, pelo menos, de 10 /prct. de créditos não subordinados, relacionados ao abrigo da
alínea b) do nº 3, por meio de declaração escrita, de encetarem negociações conducentes à
revitalização daquela, por meio da aprovação de plano de recuperação.

Artigo 17º-E

Efeitos

1 - A decisão a que se refere o nº 4 do artigo 17º-C obsta à instauração de quaisquer ações


para cobrança de dívidas contra a empresa e, durante todo o tempo em que perdurarem as
negociações, suspende, quanto à empresa, as ações em curso com idêntica finalidade,
extinguindo-se aquelas logo que seja aprovado e homologado plano de recuperação, salvo
quando este preveja a sua continuação.

2 - Caso o juiz nomeie administrador judicial provisórios nos termos do nº 4 do artigo 17º-C, a
empresa fica impedida de praticar atos de especial relevo, tal como definidos no artigo 161.o,
sem que previamente obtenha autorização para a realização da operação pretendida por parte
do administrador judicial provisórios.

Artigo 17º-F

Conclusão das negociações com a aprovação de plano de recuperação conducente à


revitalização da empresa

1 - Até ao último dia do prazo de negociações a empresa deposita no tribunal a versão final do
plano de revitalização, acompanhada de todos os elementos previstos no artigo 195º, aplicável
com as devidas adaptações, sendo de imediato publicada no portal Citius a indicação do
depósito.

2 - No prazo de cinco dias subsequente à publicação, qualquer credor pode alegar nos autos o
que tiver por conveniente quanto ao plano depositado pela empresa, designadamente
circunstâncias suscetíveis de levar à não homologação do mesmo, dispondo a empresa de
cinco dias após o termo do primeiro prazo para, querendo, alterar o plano em conformidade,
e, nesse caso, depositar a nova versão nos termos previstos no número anterior.

3 - Findo o prazo previsto no número anterior é publicado no portal Citius anúncio advertindo
da junção ou não junção de nova versão do plano, correndo desde a publicação referida o
prazo de votação de 10 dias, no decurso do qual qualquer interessado pode solicitar a não
homologação do plano, nos termos e para os efeitos previstos nos artigos 215º e 216º, com as
devidas adaptações.

20
4- Concluindo-se a votação com a aprovação unânime de plano de recuperação conducente à
revitalização da empresa, em que intervenham todos os seus credores, este é de imediato
remetido ao processo, para homologação ou recusa do mesmo pelo juiz, acompanhado da
documentação que comprova a sua aprovação, atestada pelo administrador judicial provisório
nomeado, produzindo tal plano de recuperação, em caso de homologação, de imediato, os
seus efeitos.

Artigo 17º-G

Conclusão do processo negocial sem a aprovação de plano de recuperação

1 - Caso a empresa ou a maioria dos credores prevista no nº 5 do artigo anterior concluam


antecipadamente não ser possível alcançar acordo, ou caso seja ultrapassado o prazo previsto
no nº 5 do artigo 17º-D, o processo negocial é encerrado, devendo o administrador judicial
provisórios comunicar tal facto ao processo, se possível, por meios eletrónicos e publicá-lo no
portal Citius.

2 - Nos casos em que a empresa ainda não se encontre em situação de insolvência, o


encerramento do processo especial de revitalização acarreta a extinção de todos os seus
efeitos.

3 - Estando, porém, a empresa já em situação de insolvência, o encerramento do processo


regulado no presente capítulo acarreta a insolvência da empresa, devendo a mesma ser
declarada pelo juiz no prazo de três dias úteis, contados a partir da receção pelo tribunal da
comunicação mencionada no nº 1.

Artigo 17º-I

Homologação de acordos extrajudiciais de recuperação de empresa

1 - O processo previsto no presente capítulo pode igualmente iniciar-se pela apresentação pela
empresa de acordo extrajudicial de recuperação, assinado pela empresa e por credores que
representem pelo menos a maioria de votos prevista no nº5 do artigo 17º-F, acompanhado
dos documentos previstos no nº 2 do artigo 17º-A e no nº 1 do artigo 24.º.

Artigo 17º-J

Encerramento do processo especial de revitalização e cessação de funções do administrador


judicial provisórios

1 - O processo especial de revitalização considera-se encerrado:

a) Após o trânsito em julgado da decisão de homologação do plano de recuperação;

b) Após o cumprimento do disposto nos n. os 1 a 5 do artigo 17º-G nos casos em que não
tenha sido aprovado ou homologado plano de recuperação.

2 - O administrador judicial provisório manter-se-á́ em funções, sem prejuízo da sua


substituição ou remoção:
a) Até ser proferida decisão de homologação do plano de recuperação; 90 b) Até ao

21
encerramento do processo nos termos previstos na alínea b) do número anterior nos demais
casos.

Insolvência

• Para funcionarem, as empresas necessitam de liquidez e acesso aos meios que lhes
permitam cumprir as suas obrigações.
• No entanto, nem sempre o conseguem fazer.
• A insolvência consiste na impossibilidade de cumprir as obrigações vencidas ou na
evidência de uma situação patrimonial negativa (art. 3º CIRE).
• É a situação de maior crise com que a empresa se pode deparar. Em alguns casos é
reparável, noutros não.

Artigo 1.º

Finalidade

1 - O processo de insolvência é um processo de execução universal que tem como finalidade a


satisfação dos credores pela forma prevista num plano de insolvência, baseado,
nomeadamente, na recuperação da empresa compreendida na massa insolvente, ou, quando
tal não se afigure possível, na liquidação do património do devedor insolvente e a repartição
do produto obtido pelos credores.

2 - Estando em situação económica difícil, ou em situação de insolvência meramente iminente,


a empresa pode requerer ao tribunal a instauração de processo especial de revitalização, de
acordo com o previsto nos artigos 17º-A a 17º-J.

3 - Tratando-se de devedor de qualquer outra natureza em situação económica difícil ou em


situação de insolvência meramente iminente, este pode requerer ao tribunal processo especial
para acordo de pagamento, previsto nos artigos 222º-A a 222º-J.

Os sujeitos da insolvência

Artigo 2º
Sujeitos passivos da declaração de insolvência

1 - Podem ser objeto de processo de insolvência:

a) Quaisquer pessoas singulares ou coletivas;


b) A herança jacente; c) As associações sem personalidade jurídica e as comissões
especiais; d) As sociedades civis; e) As sociedades comerciais e as sociedades civis sob
a forma comercial até à data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem;
f) As cooperativas, antes do registo da sua constituição; g) O estabelecimento
individual de responsabilidade limitada; h) Quaisquer outros patrimónios autónomos.

2 - Excetuam-se do disposto no número anterior:

a) As pessoas coletivas públicas e as entidades públicas empresariais;

22
b) As empresas de seguros, as instituições de crédito, as sociedades financeiras, as
empresas de investimento que prestem serviços que impliquem a detenção de fundos
ou de valores mobiliários de terceiros e os organismos de investimento coletivo, na
medida em que a sujeição a processo de insolvência seja incompatível com os regimes
especiais previstos para tais entidades.

A situação de insolvência

• Definição: quando uma empresa se encontra impossibilitado de cumprir as suas


obrigações.
• Regra geral: todas as pessoas singulares ou coletivas podem ser objeto de insolvência.
• Exceção à regra geral: empresas públicas, entidades públicas empresariais, empresas
de seguros e instituições de crédito (art. 2º nº 2 do Código da Insolvência).
• Quem a pode requerer: o devedor ou um terceiro. Normalmente quem requer é um
credor, terceiro, mas em certos casos também pode ser requerida pelo Ministério
Público (art. 20º Código da Insolvência).
• Dever de apresentação à insolvência: devedor deve requerer a declaração da sua
insolvência dentro dos 30 dias seguintes à data do conhecimento da situação de
insolvência (art. 18º Código da Insolvência).
• Não sendo o devedor uma pessoa singular capaz, a iniciativa da apresentação à
insolvência cabe ao órgão social incumbido da sua administração, ou, se não for o
caso, a qualquer um dos seus administradores (art. 19º CI).
• A declaração de insolvência de um devedor pode ser requerida por quem for
legalmente responsável pelas suas dívidas, por qualquer credor, ainda que condicional
e qualquer que seja a natureza do seu crédito, ou ainda pelo Ministério Público, em
representação das entidades cujos interesses lhe estão legalmente confiados,
verificando-se algum dos factos descritos no art. 20º CI).

Artigo 18º

Dever de apresentação à insolvência

1 - O devedor deve requerer a declaração da sua insolvência dentro dos 30 dias seguintes à
data do conhecimento da situação de insolvência, tal como descrita no nº 1 do artigo 3º, ou à
data em que devesse conhecê-la.

2 - Excetuam-se do dever de apresentação à insolvência as pessoas singulares que não sejam


titulares de uma empresa na data em que incorram em situação de insolvência.

3 - Quando o devedor seja titular de uma empresa, presume-se de forma inilidível o


conhecimento da situação de insolvência decorridos pelo menos três meses sobre o
incumprimento generalizado de obrigações de algum dos tipos referidos na alínea g) do nº 1
do artigo 20º.

Artigo 19º

A quem compete o pedido

23
Não sendo o devedor uma pessoa singular capaz, a iniciativa da apresentação à insolvência
cabe ao órgão social incumbido da sua administração, ou, se não for o caso, a qualquer um dos
seus administradores.

Factos descritos pelo art. 20º Código da Insolvência

• Suspensão generalizada do pagamento das obrigações vencidas;


• Falta de cumprimento de uma ou mais obrigações que, pelo seu montante ou pelas
circunstâncias do incumprimento, revele a impossibilidade de o devedor satisfazer
pontualmente a generalidade das suas obrigações;
• Fuga do titular da empresa ou dos administradores, relacionados com a falta de
solvabilidade do devedor e sem designação de substituto idóneo;
• Dissipação, abandono, liquidação apressada ou ruinosa de bens e constituição fictícia
de créditos;
• Insuficiência de bens penhoráveis para pagamento do crédito do exequente verificada
em processo executivo movido contra o devedor;
• Incumprimento de obrigações previstas em plano de insolvência ou em plano de
pagamento;
• Incumprimento generalizado, nos últimos seis meses, de dívidas de algum dos
seguintes tipos: i) Tributárias; ii) De contribuições e quotizações para a segurança
social; iii) Dívidas emergentes de contrato de trabalho, ou da violação ou cessação
deste contrato; iv) Rendas de qualquer tipo de locação, incluindo financeira,
prestações do preço da compra ou de empréstimo garantido pela respetiva hipoteca,
relativamente a local em que o devedor realize a sua atividade ou tenha a sua sede ou
residência;
• Manifesta superioridade do passivo sobre o ativo segundo o último balanço aprovado.

A situação de insolvência

• A insolvência requerida por terceiros: nos termos do art. 20º CI


• Caso seja despoletada / requerida, a insolvência segue os trâmites presentes no
“processo de insolvência”.
• O processo de insolvência tem natureza judicial.

O processo de insolvência

• Caracterização: consiste nos atos processuais de apreensão e execução dos bens do


devedor.
• Intervenientes:

a) O insolvente;
b) O administrador da insolvência (escolhido pelo juiz de uma lista oficial);
c) A comissão de credores (que fiscaliza a atividade do administrador de insolvência);
d) a assembleia de credores (constituída pelos credores do insolvente e que se pronuncia
sobre diversos assuntos, em particular sobre a recuperação, ou não, da empresa).

O processo de insolvência

24
• Marcha do processo: os atos necessários que caracterizam o processo de insolvência
são:

1. Petição inicial: art. 20º, 23º, 24º, 25º e 30º Código da Insolvência.
2. Oposição: apresentada pelo devedor (art. 21º Código da Insolvência).
3. Sentença: pela qual termina o processo e à qual podem ser opostos embargos (art.
36ºe 40º Código da Insolvência).

• Resolução de atos em benefício da massa insolvente: declarada a insolvência, os atos


prejudiciais que tenham sido praticados nos 2 anos anteriores à sentença são
colocados em causa e podem mesmo vir a ser resolvidos a favor da massa insolvente
(art. 120º e seguintes do Código da Insolvência).
• Resolução incondicional de atos: art. 121º do Código da Insolvência.
• Administração da massa insolvente: é entregue ao administrador da insolvência, sem
prejuízo de poderem permanecer em funções os órgãos de gestão da empresa
insolvente.
• Efeitos da declaração de insolvência: são vários. Vejamos.

Efeitos da declaração de insolvência

• Efeitos sobre os gestores: transferência dos poderes dos da administração para o


administrador da insolvência.
• Efeitos sobre os créditos: ocorre o vencimento imediato de todas as obrigações do
devedor (ex lege).
• Efeitos sobre os negócios em execução: podem estar sujeitos à resolução em benefício
da massa insolvente. Em geral, a declaração de insolvência suspende a sua execução.
• Efeitos processuais: Suspende todas as diligências processuais executivas requeridas
pelos credores. Evita-se assim que a massa insolvente seja afetada.

Graduação dos créditos

Como vão ser pagas as dívidas?

Artigo 46.º

Conceito de massa insolvente

1 - A massa insolvente destina-se à satisfação dos credores da insolvência, depois de pagas as


suas próprias dívidas, e, salvo disposição em contrário, abrange todo o património do devedor
à data da declaração de insolvência, bem como os bens e direitos que ele adquira na
pendência do processo.

2 - Os bens isentos de penhora só são integrados na massa insolvente se o devedor


voluntariamente os apresentar e a impenhorabilidade não for absoluta.

Graduação e definição de pessoas conexas e créditos subordinados nos artigos 47º e


seguintes.

Artigo 51º - Dívidas da massa insolvente

25
1. Salvo preceito expresso em contrário, são dívidas da massa insolvente, além de outras
como tal qualificadas neste Código:

a) As custas do processo de insolvência;


b) As remunerações do administrador da insolvência e as despesas deste e dos membros
da comissão de credores;
c) As dívidas emergentes dos atos de administração, liquidação e partilha da massa
insolvente;
d) As dívidas resultantes da actuação do administrador da insolvência no exercício das
suas funções;
e) Qualquer dívida resultante de contrato bilateral cujo cumprimento não possa ser
recusado pelo administrador da insolvência, salvo na medida em que se reporte a
período anterior à declaração de insolvência;
f) Qualquer dívida resultante de contrato bilateral cujo cumprimento não seja recusado
pelo administrador da insolvência, salvo na medida correspondente à contraprestação
já realizada pela outra parte anteriormente à declaração de insolvência ou em que se
reporte a período anterior a essa declaração;
g) Qualquer dívida resultante de contrato que tenha por objeto uma prestação
duradoura, na medida correspondente à contraprestação já realizada pela outra parte
e cujo cumprimento tenha sido exigido pelo administrador judicial provisórios;
h) As dívidas constituídas por atos praticados pelo administrador judicial provisórios no
exercício dos seus poderes;
i) As dívidas que tenham por fonte o enriquecimento sem causa da massa insolvente;
j) A obrigação de prestar alimentos relativa a período posterior à data da declaração da
insolvência.

O plano de insolvência

• Destina-se a proporcionar uma alternativa à cessação da atividade económica,


proporcionando a restruturação da empresa, por forma a que esta possa ser salva.
• Acontece após a declaração de insolvência.
• Admitindo-se que a empresa é viável, não sendo justificada a sua liquidação, pode ser
submetido à aprovação dos credores (reunidos em assembleia de credores) a
aprovação de um plano de insolvência (art. 192º Código da Insolvência).
• Este plano deve ser homologado pelo juiz (art. 209º a 214º CI).
• Efeitos da aprovação e homologação: coloca-se termo à insolvência.
• Este plano pode incluir um haircut na dívida da empresa, ou uma moratória no
pagamento dos créditos, tal como aprovado pela assembleia de credores.
• Caso haja incumprimento do plano, a moratória no pagamento dos créditos ou o seu
perdão cessam (art. 218º CI).

Encerramento do processo de insolvência

Caso não exista, ou não seja aprovado e homologado um pano de insolvência, então passa- se
para a liquidação.

O processo de insolvência encerra-se por diversas razões:

1. Pela sentença de homologação do plano; ou


2. Pela liquidação.

26
O RERE

• Plano extrajudicial – Regime Extrajudicial de Recuperação de Empresas


• Permite que o devedor e os credores subscrevam um protocolo de negociação (sujeito
a depósito na Conservatória do Registo Comercial).
• Este protocolo deve conduzir a um acordo de reestruturação da empresa.

Outras medidas de recuperação da empresa

• O aumento do capital social por conversão de suprimentos (apenas para os sócios de


sociedades por quotas); ou
• A conversão de (outros) créditos em capital (para pessoas externas à sociedade).

A regulação económica

• O Banco de Portugal
• A CMVM
• AASF
• Autoridade da Concorrência

O Banco de Portugal

• O Banco de Portugal é o banco central da República Portuguesa.


• Faz parte do Eurosistema e do Sistema Europeu de Bancos Centrais, do Mecanismo
Único de Supervisão e do Mecanismo Único de Resolução.
• O Banco tem duas missões essenciais: a manutenção da estabilidade dos preços e a
promoção da estabilidade do sistema financeiro.

A CMVM

• A CMVM – Comissão do Mercado de Valores Mobiliários tem como missão


supervisionar e regular os mercados de instrumentos financeiros, assim como os
agentes que neles atuam, promovendo a proteção dos investidores.
• São também atribuições da CMVM:

1. Sancionar as infrações ao Código dos Valores Mobiliários e legislação


complementar;
2. Assegurar a estabilidade dos mercados financeiros, contribuindo para a
identificação e prevenção do risco sistémico;
3. Contribuir para o desenvolvimento dos mercados de instrumentos financeiros;
4. Prestar informação e tratar as reclamações dos investidores não qualificados;
5. Proceder à mediação de conflitos entre entidades sujeitas à sua supervisão e
entre estas e os investidores
6. Coadjuvar o Governo e o respetivo membro responsável pela área das
Finanças;

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• A CMVM integra o Sistema Europeu de Supervisores Financeiros e o Conselho Nacional
de Supervisores Financeiros.

A ASF

• A ASF – Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões tem por missão


assegurar o bom funcionamento do mercado segurador e fundos de pensões em
Portugal.
• Contribui para a garantia da proteção dos tomadores de seguro, pessoas seguras,
participantes e beneficiários.
• Integra o Sistema Europeu de Supervisores Financeiros e o Conselho Nacional de
Supervisores Financeiros.

A Autoridade da Concorrência

• A Autoridade da Concorrência é uma entidade administrativa independente, criada em


2003, com poderes transversais sobre a economia portuguesa para a aplicação das
regras de concorrência, em coordenação com as entidades reguladoras setoriais.
• Tem por missão assegurar a aplicação das regras de promoção e defesa da
concorrência nos setores privado, público, cooperativo e social, no respeito pelo
princípio da economia de mercado e de livre concorrência, tendo em vista o
funcionamento eficiente dos mercados, a afetação ótima dos recursos e os interesses
dos consumidores.
• Para o desempenho das suas atribuições, a AdC dispõe de poderes sancionatórios, de
supervisão e de regulamentação.

O direito do consumo

Uma área do direito recente

• A proteção jurídica do consumo é um tema recente


• Nasceu nos anos 60, ainda que anteriormente houvesse preocupação com a saúde do
público e com a regulação dos mercados

Objeto

• Conjunto de normas jurídicas de proteção do consumidor.

O direito do consumo

Conceito de consumidor

• O consumidor contrapõe-se ao profissional


• Ambos têm de estar presente na relação jurídica para que esta possa ser classificada
como uma relação de consumo
• Este conceito integra um elemento teológico, uma finalidade no uso dos bens: (i)
positivo - um uso pessoal, privado, familiar ou doméstico; e (ii) negativo – uso não
profissional, finalidade diversa do comércio ou da sua profissão.

28
Conceito de consumidor

Encontra-se definido pela Lei nº 24/96 de 31 de Julho que estabelece o regime legal aplicável à
defesa dos consumidores.

Artigo 2º - Definição e âmbito

1 - Considera-se consumidor todo aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou
transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com
carácter profissional uma atividade económica que vise a obtenção de benefícios.

2 - Consideram-se incluídos no âmbito da presente lei os bens, serviços e direitos fornecidos,


prestados e transmitidos pelos organismos da Administração Pública, por pessoas coletivas
públicas, por empresas de capitais públicos ou detidos maioritariamente pelo Estado, pelas
regiões autónomas ou pelas autarquias locais e por empresas concessionárias de serviços
públicos.

Direitos do Consumidor

O consumidor tem direito:

Artigo 3º - Direitos do consumidor

a) À qualidade dos bens e serviços; b) À proteção da saúde e da segurança física; c) À formação


e à educação para o consumo; d) À informação para o consumo; e) À proteção dos interesses
económicos; f) À prevenção e à reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais que
resultem da ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos, coletivos ou difusos; g) À
proteção jurídica e a uma justiça acessível e pronta; h) À participação, por via representativa,
na definição legal ou administrativa dos seus direitos e interesses.

Artigo 4º- Direito à qualidade dos bens e serviços

Os bens e serviços destinados ao consumo devem ser aptos a satisfazer os fins a que se
destinam e a produzir os efeitos que se lhes atribuem, segundo as normas legalmente
estabelecidas, ou, na falta delas, de modo adequado às legitimas expectativas do consumidor.

• Artigo 5º- Direito à proteção da saúde e da segurança física


• Artigo 6º - Direito à formação e à educação
• Artigo 7º - Direito à informação em geral
• Artigo 9º - Direito à proteção dos interesses económicos
• Artigo 9º-A - Pagamentos adicionais

Outra legislação relevante:

• Decreto-Lei nº 24/2014 de 14 de Fevereiro - Regime dos contratos celebrados à


distância e dos contratos celebrados fora do estabelecimento comercial.
• Decreto-Lei nº 70/2007 de 26 de Março - Regula as práticas comerciais com redução
de preço nas vendas a retalho praticadas em estabelecimentos comerciais, com vista
ao escoamento das existências, ao aumento do volume de vendas ou a promover o
lançamento de um produto não comercializado anteriormente pelo agente
económico.

29
• Decreto-Lei nº 84/2021, de 18 de Outubro- Direitos do consumidor na compra e venda
de bens, conteúdos e serviços digitais. Regula os direitos do consumidor na compra e
venda de bens, conteúdos e serviços digitais, transpondo as Diretivas (UE) 2019/771 e
(UE) 2019/770.
• Decreto-Lei nº 138/90 de 26 de Abril - Obriga que os bens destinados à venda a
retalho exibam o respetivo preço de venda ao consumidor. Alterado pelo Decreto-Lei
nº 162/99 de 13 de Maio e Declaração de Retificação nº 10-AF/99 de 31 de Maio.
• Decreto-Lei nº 383/89 de 6 de Novembro - Regime da responsabilidade decorrente de
produtos defeituosos
• Decreto-Lei nº 238/86 de 19 de Agosto - Determina que as informações sobre a
natureza, características e garantias de bens ou serviços oferecidos ao público no
mercado nacional devam ser prestadas em língua portuguesa.

Venda de bens para consumo, conteúdos e serviços digitais

Regulado pelo DL nº 84/2021, de 18 de Outubro

Artigo 3º

Âmbito de aplicação

1 - O presente decreto-lei é aplicável:

a) Aos contratos de compra e venda celebrados entre consumidores e profissionais, incluindo


os contratos celebrados para o fornecimento de bens a fabricar ou a produzir;

b) Aos bens fornecidos no âmbito de um contrato de empreitada ou de outra prestação de


serviços, bem como à locação de bens, com as necessárias adaptações;

c) Aos conteúdos ou serviços digitais que estejam incorporados em bens, ou que com eles
estejam interligados, na aceção da subalínea ii) da alínea c) do artigo anterior, e sejam
fornecidos com os bens nos termos de um contrato de compra e venda, independentemente
de os conteúdos ou serviços digitais serem fornecidos pelo profissional ou por um terceiro.

Venda de bens para consumo

Artigo 4º - Exclusões

Artigo 5º

Conformidade dos bens

O profissional deve entregar ao consumidor bens que cumpram os requisitos constantes dos
artigos 6º a 9º, sem prejuízo do disposto no artigo 10º.

Artigo 6º
Requisitos subjetivos de conformidade

São conformes com o contrato de compra e venda os bens que:

30
a) Correspondem à descrição, ao tipo, à quantidade e à qualidade e detém a funcionalidade, a
compatibilidade, a interoperabilidade e as demais características previstas no contrato de
compra e venda;

b) São adequados a qualquer finalidade específica a que o consumidor os destine, de acordo


com o previamente acordado entre as partes;

c) São entregues juntamente com todos os acessórios e instruções, inclusivamente de


instalação, tal como estipulado no contrato de compra e venda; e

d) São fornecidos com todas as atualizações, tal como estipulado no contrato de compra e
venda.

Artigo 7º - Requisitos objetivos de conformidade

Artigo 8º - Requisitos adicionais de conformidade dos bens com elementos digitais

Artigo 9º - Instalação incorreta dos bens

Artigo 11º

Entrega do bem ao consumidor

1. O bem considera-se entregue ao consumidor quando este ou um terceiro por ele


indicado, que não o transportador, adquire a posse física do bem.
2. Nos casos em que o contrato de compra e venda preveja a instalação do bem por conta
do profissional, o bem considera- se entregue quando a instalação se encontrar
concluída.
3. No caso de bens com elementos digitais, considera-se que o bem é entregue quando:

a) A componente física dos bens seja entregue e o ato único de fornecimento seja
efetuado;
b) A componente física dos bens seja entregue e o fornecimento contínuo do conteúdo ou
serviço digital seja iniciado.

Artigo 12º

Responsabilidade do profissional em caso de falta de conformidade

1 - O profissional é responsável por qualquer falta de conformidade que se manifeste no prazo


de três anos a contar da entrega do bem.

31
2 - Sem prejuízo do disposto nos n. os 1 a 3 do artigo 8º, no caso de bens com elementos
digitais, o profissional é responsável por qualquer falta de conformidade que ocorra ou se
manifeste:

a) No prazo de três anos a contar da data em que os bens com elementos digitais foram
entregues, quando o contrato estipule um único ato de fornecimento do conteúdo ou serviço
digital ou quando o contrato estipule o fornecimento contínuo do conteúdo ou serviço digital
durante um período até três anos; ou

b) Durante o período do contrato, quando este estipule o fornecimento contínuo do conteúdo


ou serviço digital durante um período superior a três anos.

3 - Nos contratos de compra e venda de bens móveis usados e por acordo entre as partes, o
prazo de três anos previsto no nº 1 pode ser reduzido a 18 meses, salvo se o bem for
anunciado como um bem recondicionado, sendo obrigatória a menção dessa qualidade na
respetiva fatura, caso em que é aplicável o prazo previsto nos números anteriores.

4 - O prazo referido no nº 1 suspende-se desde o momento da comunicação da falta de


conformidade até à reposição da conformidade pelo profissional, devendo o consumidor, para
o efeito, colocar os bens à disposição do profissional sem demora injustificada.

5 - A comunicação da falta de conformidade pelo consumidor deve ser efetuada,


designadamente, por carta, correio eletrónico, ou por qualquer outro meio suscetível de
prova, nos termos gerais.

Artigo 13º

Ónus da prova

1 - A falta de conformidade que se manifeste num prazo de dois anos a contar da data de
entrega do bem presume-se existente à data da entrega do bem, salvo quando tal for
incompatível com a natureza dos bens ou com as características da falta de conformidade.

Artigo 14.º

Ónus da prova relativo aos bens com elementos digitais de fornecimento contínuo

No caso de bens com elementos digitais em que o contrato estipule o fornecimento contínuo
de conteúdos ou serviços digitais durante um determinado período, o ónus da prova relativo à
determinação da conformidade do conteúdo ou serviço digital, durante o período referido na
parte final da alínea a) e na alínea b) do nº 2 do artigo 12º, incumbe ao profissional
relativamente a qualquer falta de conformidade que se manifeste no estipulado nas referidas
alíneas.

Artigo 15º - Direitos do consumidor

1 - Em caso de falta de conformidade do bem, e nas condições estabelecidas no presente


artigo, o consumidor tem direito: a) À reposição da conformidade, através da reparação ou da
substituição do bem;
b) À redução proporcional do preço; ou
c) À resolução do contrato.

32
2 - O consumidor pode escolher entre a reparação ou a substituição do bem, salvo se o meio
escolhido para a reposição da conformidade for impossível ou, em comparação com o outro
meio, impuser ao profissional custos desproporcionados, tendo em conta todas as
circunstâncias (...).

5 - A redução do preço deve ser proporcional à diminuição do valor dos bens que foram
recebidos pelo consumidor, em comparação com o valor que teriam se estivessem em
conformidade.

6 - O consumidor não tem direito à resolução do contrato se o profissional provar que a falta
de conformidade é mínima.

7 - O consumidor tem o direito de recusar o pagamento de qualquer parte remanescente do


preço ao profissional até que este cumpra os deveres previstos no presente decreto-lei.

8 - O disposto no número anterior não confere ao consumidor o direito à recusa de prestações


que estejam em mora.
9 - O direito à resolução do contrato ou à redução proporcional do preço pode ser exercida
quando a falta de conformidade tenha levado ao perecimento ou deterioração do bem por
motivo não imputável ao consumidor.
10 - Os direitos previstos no presente artigo transmitem-se ao terceiro adquirente do bem a
título gratuito ou oneroso.

Artigo 22º - Conformidade dos bens imóveis

1 - O profissional tem o dever de entregar ao consumidor os bens imóveis que sejam


conformes com o contrato de compra e venda e que apresentem características de qualidade,
de segurança, de habitabilidade, de proteção ambiental e de funcionalidade de modo a
assegurar a aptidão dos mesmos ao uso a que se destinam durante o período de vida útil
técnica e economicamente razoável.

2 - Presume-se que os bens imóveis não são conformes com o contrato caso se verifique algum
dos seguintes factos:

a) Não sejam conformes com a descrição que deles é feita pelo profissional ou não possuam as
qualidades do bem que o profissional tenha apresentado ao consumidor como amostra ou
modelo;

b) Não sejam adequados ao uso específico para o qual o consumidor os destine, desde que o
profissional tenha sido informado de tal uso aquando da celebração do contrato e o tenha
aceitado;

c) Não sejam adequados às utilizações habitualmente dadas aos bens do mesmo tipo;

d) Não apresentarem as qualidades e o desempenho habituais nos bens do mesmo tipo e que
o consumidor pode razoavelmente esperar, atendendo à natureza do bem e, eventualmente,
às declarações públicas sobre as suas características concretas feitas pelo profissional, pelo
produtor ou pelo seu representante, nomeadamente na publicidade.

33
3 - As características de qualidade, de segurança, de habitabilidade, de proteção ambiental e
de funcionalidade mencionadas no nº 1 são descritas na ficha técnica da habitação a que se
refere o artigo 4º do Decreto-Lei nº 68/2004, de 25 de março.

4 - Não se considera existir falta de conformidade, na aceção do presente artigo, caso o


consumidor tivesse conhecimento dessa falta de conformidade aquando da celebração do
contrato, não a pudesse razoavelmente ignorar ou se aquele decorrer dos materiais fornecidos
pelo consumidor.

Artigo 23º

Responsabilidade do profissional

1 - O profissional responde perante o consumidor por qualquer falta de conformidade que


exista quando o bem imóvel lhe é entregue e se manifeste no prazo de:

a) 10 anos, em relação a faltas de conformidade relativas a elementos construtivos estruturais;


b) Cinco anos, em relação às restantes faltas de conformidade.

2 - Havendo substituição do bem imóvel, o profissional é responsável por qualquer falta de


conformidade que ocorra no bem sucedâneo, nos termos do disposto no número anterior.

3 - O prazo referido no nº 1 suspende-se a partir da data da comunicação da falta de


conformidade pelo consumidor ao profissional e durante o período em que o consumidor
estiver privado do uso do bem.

4 - A falta de conformidade que se manifeste no prazo referido no nº 1 presume-se existente


aquando da entrega do bem imóvel, salvo quanto tal for incompatível com a natureza da coisa
ou com as características da falta de conformidade.

5 - Para efeitos do disposto no nº 1, o Governo pode aprovar, por portaria, uma lista
exemplificativa dos elementos construtivos estruturais dos bens imóveis.

Artigo 26º

Obrigação de fornecimento de conteúdos e serviços digitais

1 - Salvo acordo em contrário, o profissional fornece ao consumidor os conteúdos ou serviços


digitais objeto do contrato sem demora injustificada.

2 - O cumprimento da obrigação de fornecimento ocorre com:

a) A disponibilização ao consumidor dos conteúdos digitais ou dos meios adequados para


aceder aos conteúdos digitais ou para os descarregar;

b) A disponibilização ao consumidor do acesso aos conteúdos digitais ou a uma instalação


física ou virtual escolhida pelo consumidor para o efeito; ou

c) A disponibilização ao consumidor do acesso ao serviço digital ou a uma instalação física ou


virtual escolhido pelo consumidor para o efeito.

34
Outros

• Responsabilidade direta do produtor


• Direito de regresso
• Garantias voluntarias
• Imperatividade

Contratos celebrados à distância ou fora do estabelecimento

• Aprovado pelo DL n.º 24/2014, de 14 de Fevereiro (e alterado pelo DL nº 78/2018, de


15 de Outubro)
• Transpõe a Diretiva nº 2011/83/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de
outubro de 2011
• É aplicável aos contratos celebrados à distância e aos contratos celebrados fora do
estabelecimento comercial, tendo em vista promover a transparência das práticas
comerciais e salvaguardar os interesses legítimos dos consumidores
• Existem muitas exclusões (art. 3º), tais como serviços financeiros, relativos à saúde ou
contratos celebrados através de máquinas automatizadas.

Contratos celebrados à distância ou fora do estabelecimento

• Fortes deveres de informação pré́-contratual (art. 4º)


• Estas informações devem ser remetidas ao consumidor, para que as possa conservar
(email, por exemplo, art. 5.º)

Artigo 6º

Confirmação da celebração do contrato celebrado à distância

1 - O fornecedor de bens ou prestador de serviços deve confirmar a celebração do contrato à


distância, em suporte duradouro, no prazo de cinco dias contados dessa celebração e, o mais
tardar, no momento da entrega do bem ou antes do início da prestação do serviço.

2 - A confirmação do contrato a que se refere o número anterior realiza-se com a entrega ao


consumidor das informações pré́-contratuais previstas no n. º1 do artigo 4.º, salvo se o
profissional já́ tiver prestado essa informação, em suporte duradouro, antes da celebração do
contrato.

Contratos celebrados à distância ou fora do estabelecimento

Requisitos:

1. O contrato celebrado fora do estabelecimento comercial é reduzido a escrito e deve,


sob pena de nulidade, conter, de forma clara e compreensível e na língua portuguesa,
as informações determinadas pelo artigo 4º; e
2. O fornecedor de bens ou prestador de serviços deve entregar ao consumidor uma
cópia do contrato assinado ou a confirmação do contrato em papel ou, se o
consumidor concordar, noutro suporte duradouro.

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• Direito de livre resolução nos contratos celebrados à distância ou celebrados fora do
estabelecimento
• O consumidor tem o direito de resolver o contrato sem incorrer em quaisquer custos,
e sem necessidade de indicar o motivo, no prazo de 14 dias a contar:

a) Do dia da celebração do contrato, no caso dos contratos de prestação de serviços;


b) Do dia em que adquiriu a posse física dos bens, no caso dos contratos de compra e
venda
c) Do dia da celebração do contrato, no caso dos contratos de fornecimento de água, gás
ou eletricidade, que não estejam à venda em volume ou quantidade limitados, de
aquecimento urbano ou de conteúdos digitais que não sejam fornecidos num suporte
material.

• Direito de livre resolução nos contratos celebrados à distância ou celebrados fora do


estabelecimento
• Se o fornecedor de bens ou prestador de serviços não informar o consumidor do seu
direito a resolver o contrato, o exercício do direito de livre resolução é de 12 meses
• As partes podem fixar um prazo mais alargado para o exercício do direito de livre
resolução

Exercício do direito de livre resolução:

a) O consumidor pode exercer o seu direito de livre resolução através do envio do modelo
anexo ao presente decreto-lei, ou através de qualquer outra declaração inequívoca de
resolução do contrato

b) Considera-se inequívoca a declaração em que o consumidor comunica, por palavras suas, a


decisão de resolver o contrato designadamente por carta, por contacto telefónico, pela
devolução do bem ou por outro meio suscetível de prova, nos termos gerais

c) Considera-se exercido o direito de livre resolução pelo consumidor dentro do prazo quando
a declaração de resolução é enviada antes do prazo de resolução

Obrigações do vendedor de bens:

Deve reembolsar o consumidor de todos os pagamentos recebidos em 14 dias

• Não é obrigado a reembolsar os custos adicionais de entrega quando o consumidor


solicitar, expressamente, uma modalidade de entrega diferente e mais onerosa do que
a modalidade comummente
• Em geral, não é permitida a retenção dos valores pagos até à receção do bem de volta
• Quando o bem entregue no domicílio do consumidor no momento da celebração de
um contrato celebrado fora do estabelecimento comercial, não puder, pela sua
natureza ou dimensão, ser devolvido por correio, incumbe ao fornecedor recolher o
bem e suportar o respetivo custo.
• O incumprimento da obrigação de reembolso em 14 dias obriga o prestador de
serviços a devolver em dobro, no prazo de 15 dias úteis, os montantes pagos pelo
consumidor, sem prejuízo do direito do consumidor a indemnização por danos
patrimoniais e não patrimoniais.

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Existem exceções ao direito de livre resolução (ou direito de arrependimento), previstas no art.
17º.

• Fornecimento de bens ou de prestação de serviços cujo preço dependa de flutuações


de taxas do mercado financeiro;
• Fornecimento de bens confecionados de acordo com especificações do consumidor ou
manifestamente personalizados;
• Fornecimento de bens que, por natureza, não possam ser reenviados ou sejam
suscetíveis de se deteriorarem;
• Fornecimento de bens selados não suscetíveis de devolução;
• Fornecimento de bens que, após a sua entrega e por natureza, fiquem
inseparavelmente misturados com outros artigos;
• Fornecimento de gravações áudio ou vídeo seladas ou de programas informáticos
selados;
• Fornecimento de um jornal, periódico ou revista, com exceção dos contratos de
assinatura para o envio dessas publicações;
• Celebrados em hasta pública;
• Fornecimento de alojamento, (...) se o contrato previr uma data ou período de
execução específicos;
• Fornecimento de conteúdos digitais não fornecidos em suporte material, etc.

Artigo 19º - Execução do contrato celebrado à distância

1 - Salvo acordo em contrário entre as partes, o fornecedor de bens ou prestador de serviços


deve dar cumprimento à encomenda no prazo máximo de 30 dias, a contar do dia seguinte à
celebração do contrato.

2 - Em caso de incumprimento do contrato devido a indisponibilidade do bem ou serviço


encomendado, o fornecedor de bens ou prestador de serviços deve informar o consumidor
desse facto e reembolsá-lo dos montantes pagos, no prazo máximo de 30 dias a contar da data
do conhecimento daquela indisponibilidade.

3 - Decorrido o prazo previsto no número anterior sem que o consumidor tenha sido
reembolsado dos montantes pagos, o fornecedor fica obrigado a devolver em dobro, no prazo
de 15 dias úteis, os montantes pagos pelo consumidor, sem prejuízo do seu direito à
indemnização por danos patrimoniais e não patrimoniais que possa ter lugar.

4 - O fornecedor pode, contudo, fornecer um bem ou prestar um serviço ao consumidor de


qualidade e preço equivalentes, desde que essa possibilidade tenha sido prevista antes da
celebração do contrato ou no próprio contrato e o consumidor o tenha consentido
expressamente, e aquele informe por escrito o consumidor da responsabilidade pelas
despesas de devolução previstas no número seguinte.

5 - Na situação prevista no número anterior, caso o consumidor venha a optar pelo exercício
do direito de livre resolução, as despesas de devolução ficam a cargo do fornecedor.

Outras modalidades de venda: venda automática

Artigo 22º

Venda automática

37
1 - Para efeitos do disposto no presente capítulo, a venda automática consiste na colocação de
um bem ou serviço à disposição do consumidor para que este o adquira mediante a utilização
de qualquer tipo de mecanismo, com o pagamento antecipado do seu preço.

2 - A atividade de venda automática deve obedecer à legislação aplicável à venda a retalho do


bem ou à prestação de serviço em causa, nomeadamente em termos de indicação de preços,
rotulagem, embalagem, características e condições higiossanitárias dos bens.

Artigo 24º

Responsabilidade

Nos casos em que os equipamentos destinados à venda automática se encontrem instalados


num local pertencente a uma entidade pública ou privada, é solidária, entre o proprietário do
equipamento e o titular do espaço onde se encontra instalado:

a) A responsabilidade pela restituição ao consumidor da importância por este introduzida na


máquina, no caso do não fornecimento do bem ou serviço solicitado ou de deficiência de
funcionamento do mecanismo afeto a tal restituição, bem como pela entrega da importância
remanescente do preço, no caso de fornecimento do bem ou serviço;

b) A responsabilidade pelo cumprimento das obrigações previstas no nº 2 do artigo 23.º

Foi especificamente criado um regime para o fornecimento de serviços não solicitados:

Artigo 28.º

Fornecimento de bens não solicitados

1 - É proibida a cobrança de qualquer tipo de pagamento relativo a fornecimento não


solicitado de bens, água, gás, eletricidade, aquecimento urbano ou conteúdos digitais ou a
prestação de serviços não solicitada pelo consumidor, exceto no caso de bens ou serviços de
substituição fornecidos em conformidade com o nº 4 do artigo 19º

2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a ausência de resposta do consumidor na


sequência do fornecimento ou da prestação não solicitados não vale como consentimento.

Cláusulas Contratuais Gerais e contratos de adesão

O que são e para que servem?

A “contratação em massa” surgiu com a revolução industrial e desenvolveu-se com a


“revolução comercial”

Tem várias vantagens: simplicidade, com economia de tempo, redução de custos, igualização
do tratamento dos clientes ou fornecedores, etc.

Desvantagens: redução ou supressão da liberdade de negociação, retira poder negocial à


contraparte e desequilibra a relação contratual a favor de uma das partes.

38
O que são e para que servem?

• Variadas terminologias: contratos standard ou padronizados, contratos-tipo ou


contratos pré́- redigidos ou cláusulas contratuais gerais
• O problema das cláusulas abusivas, em particular quando aplicadas a consumidores
• Odeia de pré́-elaboração de forma unilateral por apenas uma das partes
• Como podemos definir estas “cláusulas” então? Podemos defini-las como proposições
destinadas à inserção numa multiplicidade de contratos, onde uma das partes se
apresenta, sempre, como contraente.

Onde se encontram regulados?

• Devido à preocupação com a defesa dos consumidores, foi aprovada a Diretiva do


Conselho 93/17/CEE, de 5 de abril
• Mas... o Direito Português a regulação das clausulas contratuais gerais é anterior a esta
data.
• Em Portugal a primeira regulação das cláusulas contratuais gerais deu-se pelo Decreto-
lei nº 446/85, de 25 de Outubro
• É bastante diferente da Diretiva, pois vai para além daquela, aplicando-se não apenas
a contratos de consumo, mas também a contratos entre privados ou entre
comerciantes

Natureza destas cláusulas

• Não importa a forma como é comunicada ao público (por escrito, de forma oral, etc.)
• Afronta ao princípio da liberdade contratual?
• Na sua plena aceção a liberdade contratual integra as negociações preliminares, ao fim
das quais as partes assumem, com discernimento e liberdade, determina estipulações.
Neste caso, isso acontece?

Análise ao DL nº 446/85, de 25 de Outubro

Artigo 1º

Âmbito de aplicação

1 - As cláusulas contratuais gerais elaboradas sem prévia negociação individual, que


proponentes ou destinatários indeterminados se limitem, respetivamente, a subscrever ou
aceitar, regem-se pelo presente diploma.

2 - O presente diploma aplica-se igualmente às cláusulas inseridas em contratos


individualizados, mas cujo conteúdo previamente elaborado o destinatário não pode
influenciar.

3 - O ónus da prova de que uma cláusula contratual resultou de negociação prévia entre as
partes recai sobre quem pretenda prevalecer-se do seu conteúdo.

Artigo 2º

39
(Forma, extensão, conteúdo e autoria)

O artigo anterior abrange, salvo disposição em contrário, todas as cláusulas contratuais gerais,
independentemente da forma da sua comunicação ao público, da extensão que assumam ou
que venham a apresentar nos contratos a que se destinem, do conteúdo que as informe ou de
terem sido elaboradas pelo proponente, pelo destinatário ou por terceiros.

Exceções presentes no art. 3º

Inclusão de CCG em contratos singulares

• Podem ser incluídas cláusulas contratuais gerais em contratos singulares.


• Caso isso aconteça, será́ seguido o regime presente nos art. 4º e seguintes do DL
446/85, tais como:
• Dever de comunicação aos aderentes (art. 5º), realizado de modo adequado e com a
antecedência necessária
• A comunicação destas cláusulas tem de ser realizada de forma que o homem médio
consiga destas tomar conhecimento pleno e efetivo (art. 5º nº2)
• O ónus da prova da comunicação cabe ao contratante que submete as cláusulas
contratuais gerais (art. 5º nº3)
• Deveres reforçados de informação (que são diferentes dos deveres de comunicação),
pelos quais deve o aderente ser informado dos seus aspetos essenciais, sendo-lhe
prestados todos os esclarecimentos razoáveis solicitados (art. 6º)

Caso coexistam cláusulas contratuais gerais e cláusulas negociadas, são estas que prevalecem
face às anteriores (art. 7º)

Existem ainda cláusulas que são excluídas dos contratos singulares (art. 8º), sempre que:

1. Não tenham sido comunicadas nos termos do artigo 5º;


2. Violem o dever de informação, de molde que não seja de esperar o seu conhecimento
efetivo;
3. Cláusulas que, pelo contexto, epígrafe ou apresentação gráfica, passem despercebidas
a um contratante normal, colocado na posição do contratante real; e
4. As cláusulas inseridas em formulários, depois da assinatura de algum dos contratantes.

O que acontece caso as CCG sejam excluídas dos contratos singulares?

• Os contratos singulares mantêm-se, vigorando na parte afetada as normas supletivas


aplicáveis, com recurso, se necessário, às regras de integração dos negócios jurídicos
(art. 9º nº 1), mas
• Os referidos contratos são, todavia, nulos quando as CCG sejam essenciais à execução
do contrato ou tenham causado um desequilíbrio nas prestações gravemente
atentatório da boa-fé (art. 9º nº 2).
• Princípio geral (art. 10º): As cláusulas contratuais gerais são interpretadas e integradas
de acordo com as regras gerais, mas sempre dentro do contexto de cada contrato
singular em que se incluam.
• Cláusulas ambíguas (art. 11º): As cláusulas contratuais gerais ambíguas têm o sentido
que lhes daria o subscritor normal quando colocado na posição de aderente real.
• Na dúvida sobre o sentido da cláusula, prevalece o sentido mais favorável ao aderente
(art. 11º nº 2).

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Cláusulas proibidas

• Regra geral: caso as cláusulas sejam proibidas, estas são nulas (art. 12º)
• O subscritor de CCG nulas inseridas em contratos singulares pode optar pela
manutenção dos contratos, ainda que feridos por esta nulidade (art. 13º)
• Se o subscritor optar pela manutenção do contrato singular, e esta opção conduzir a
um desequilíbrio de prestações gravemente atentatório da boa-fé, vigora o regime da
redução dos negócios jurídicos presente no Código Civil (art. 14º)
• São cláusulas proibidas todas as que se mostrarem contrárias à boa-fé (art. 15.o),
devendo ser ponderados os seguintes elementos:
• A confiança suscitada, nas partes, pelo sentido global das cláusulas contratuais em
causa, pelo processo de formação do contrato singular celebrado, pelo teor deste e
ainda por quaisquer outros elementos atendíveis;
• O objetivo que as partes visam atingir negocialmente, procurando-se a sua
efectivação à luz do tipo de contrato utilizado.

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