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TUTORIA DE DIREITO

COMERCIAL I
1ª SESSÃO – NOVEMBRO DE 2023
José Carlos dos Santos Baptista
ARTIGO 3.º Código Comercial- Critério de integração
«Se as questões sobre direitos e obrigações comerciais não poderem ser
resolvidas, nem pelo texto da lei comercial, nem pelo seu espirito, nem pelos
casos análogos nela prevenidos, serão decididas pelo direito civil»
Elementos essenciais
O Direito civil, que é direito comum, é aplicável quando as normas especiais,
que são as leis comerciais, forem insuficientes. Ou seja, o Direito civil é
subsidiário (a ele só recorremos quando estiverem esgotadas as vias de solução
dentro do normativo comercial);
O artigo 3.º remete, em primeiro lugar, para o texto da lei comercial e para o seu
espirito (não é o código comercial, mas antes todas as fontes comerciais);
Detetada uma lacuna:

O artigo 3.º determina:

Recorrer aos casos análogos → É uma analogia dentro do Direito Comercial;

E se não existir caso análogo? Apelamos ao Direito civil no seu todo;


ATOS DE COMÉRCIO
O que são atos de comércio? São contratos? São negócios unilaterais? São atos jurídicos em
sentido estrito?

Menezes Cordeiro: o sistema do código comercial visa regular factos jurídicos em sentido amplo
(contratos, negócios unilaterais, atos não negociais e factos stricto sensu, etc.) → A expressão
empregue no artigo 2.º Código Comercial visa consagrar que se irá reger toda a matéria comercial:
factos e seus efeitos, ou seja, tanto os factos como as situações jurídicas que deles decorrem, que são
retratadas como obrigações
Artigo 2.º Código Comercial

Apresenta dois critérios distintos:

Critério objetivo: serão atos de comércio todos os atos que se encontrarem especialmente regulados
neste código → São atos objetivamente comerciais;

Critério subjetivo: serem atos praticados por comerciantes → São os atos subjetivamente comerciais;
ATOS DE COMÉRCIO OBJETIVOS
«(…) todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste código (…)»

São comerciais todos os atos regulados neste código? Não! Só serão comerciais, os atos que
cumulativamente sejam: regulados no código comercial + tenham característica de
especialidade;

São comerciais apenas os atos nele regulado? Não! Existem atos comerciais que não estão
regulados neste código (pense-se em normas sobre arrendamento comercial);
3. É admissível recorrer à analogia na qualificação de atos comerciais? ou seja, atos não regulados
legislativamente, ou previstos em leis comerciais, podem ser declarados comerciais, através da analogia com atos
previstos em lei mercantil? A doutrina diverge:

Não! Alguns argumentam com o caráter taxativo da enunciação dos atos de comércio objetivos, o que
significa que não é possível incluir atos que aí não sejam previstos;

Sim! Coutinho de Abreu diz-nos que é possível recorrer tanto à analogia legis como à analogia iuris
(disciplina de casos omissões através da aplicação de princípios gerais) |EX.: artigo 230.º/6 Código
Comercial refere-se a empresas de construção de ´casas`. Pergunta se também não devem ser consideradas
comerciais as empresas construtoras de edifícios(em sentido amplo) como as eu constroem vias de
comunicação, barragens, etc.

Reparem que as normas comerciais são especiais e não excecionais (em tese comportam aplicação analógica)
Artigo 230.º Código Comercial

A doutrina apresenta duas visões diferentes, que conduzem a resultados também eles diferentes:

Empresa-atividade: este artigo enuncia novos atos como sendo objetivamente comerciais;

Empresa-organização: tratam-se de entidades singulares ou coletivas, que desenvolvem essas


atividades, pelo que estão a ser referenciados, autores de hipotéticos atos comerciais, em sentido
subjetivo;
ATOS DE COMÉRCIO SUBJETIVOS
« (…) todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar»

A comercialidade resulta do próprio sujeito ser comerciante (artigo 13.º Código comercial);

O que significa a natureza exclusivamente civil? São atos que, apesar de desenvolvidos por
comerciantes, não têm, nem podem ter, natureza comercial, até porque não são regulados pelo
direito comercial |EX.: doações feitas a clientes, casamento, perfilhação, etc.

Se o contrário do próprio ato não resultar: atos praticados por comerciantes só são
comerciais se de si próprio ou de circunstancias que o acompanhem não resultar que não tem a
ver com o giro comercial;
ATOS MISTOS/UNILATERALMENTE
COMERCIAIS

O ato é comercial relativamente a uma das partes (comerciante) e não comercial em relação à
outra (não comerciante) → O artigo 99.º Código Comercial

Exceção da 2ª parte do artigo 99.º «(…) salvo as que só forem aplicáveis (…)» → São as normas
relacionadas com obrigações especificas dos comerciantes, tal como as do artigo 18.º;
DOS COMERCIANTES

Ainda que toda a pessoa civilmente capaz de se obrigar possa praticar atos de comércio
(art. 7.º Código Comercial), nem todo aquele que pratica atos de comércio é comerciante
(art. 13.º/1 Código Comercial) → Determinar se certa pessoa é ou não comerciante, tem
relevância pra determinar se são atos de comércio subjetivos, de modo a sabermos se se
aplica ou não as normas que impõem encargos especiais sobre os comerciantes (como os
que decorrem do artigo 18.º)
Ser comerciante é fazer profissão do comércio, desde que se tenha capacidade para isso. Mas para
se estar perante uma prática profissional de atos de comércio, é necessário que seja uma:

Prática reiterada/habitual: um profissional não se limita a praticar atos ocasionais ou isolados;

Prática lucrativa: essa atuação visa angariar meios, ou seja, busca o lucro (vejam a exclusão do
14.º/1);

Prática juridicamente autónoma: o comerciante atua em nome próprio e por sua conta.
Tratando-se de um trabalhador subordinado, estamos já no âmbito do contrato de trabalho;

Prática tendencialmente exclusiva: ainda que a lei não exija exclusividade, ninguém pode ter
uma elevado número de profissões, sob pena de não ser possível acumular, indefinidamente,
práticas reiteradas de atos de natureza diversa.
DÍVIDAS COMERCIAIS DO COMERCIANTE
Artigos relevantes

Artigo 100.º Código Comercial – os co-obrigados são solidários (pode exigir-se a qualquer um dos
obrigados)

Artigo 100 () único: visa atos unilateralmente comerciais

Regra para cônjuges: Artigo 15.º Código Comercial – dividas comerciais do cônjuge comerciante
presumem-se contraídas no exercício do seu comércio → Ver o 1691.º/1, alínea d) Código Civil;

Artigo 101.º Código Comercial: que estabelece que a responsabilidade do fiador é solidária,
contrariando a regra civil da subsidiariedade na fiança (627.º e s. CC);

Artigo 102.º Código Comercial: sobre a obrigação de juros em articulação com o DL 62/2013, de
10 de maio, que estabelece o Regime contra o atrasos no pagamento de transações comerciais.
BIBLIOGRAFIA DESTA SESSÃO

Direito Comercial, António Menezes Cordeiro, 5ª edição, Almedina;

Curso de Direito Comercial – Volume I, Jorge Manuel Coutinho de Abreu, 13ª


edição, Almedina;

*Apresentação elaborada no âmbito das tutorias de Direito Comercial I – Ano Letivo 2023/2024.

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