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Exemplo: Se temos um contrato de compra e venda e temos dois agricultores que estão
obrigados ao pagamento de 100 euros, este contrato pode ser considerado um ato comercial,
mas apenas relativamente ao vendedor e não ao comprador. Assim, A estaria obrigado a
pagar tão-só 50 euros. Isto é considerado um contrato misto.
❖ De acordo com o art. 15.º, CCom, “as dívidas comerciais (são aquelas que resultam de um ato de
comércio) do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio”. O
relevo desta regra é a sua relação com o art. 1691.º, n.º 1, al. d), CC, que prevê que são da
responsabilidade de ambos os cônjuges “as dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no
exercício do comércio”. Ora, porque se presumem constituídas no exercício do comércio, vão ser
da responsabilidade de ambos os cônjuges.
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escrito, já os juros comerciais sim. Tanto os juros civis como os juros comerciais são fixados pela
Portaria do Governo. Existem duas taxas de juros comerciais: uma geral, prevista no parágrafo 4.º
do art. 102.º, CCom, e uma especial, prevista no parágrafo 5.º, respeitante a transações comerciais
sujeitas ao DL n.º 62/2013, de 10/05, tendo ambas uma limitação da conta prevista em cada
parágrafo (7% e 8%, respetivamente). Da letra da lei retira-se que apenas contar-se-iam juros
face a um crédito de empresa comercial. Contudo, alguns autores afirmam ser irrelevante ser
uma empresa comercial ou não; o que será relevante é ser um ato comercial.
De acordo com o art. 3.º do DL n.º 62/2013, as transações comerciais são “transações entre
empresas ou entre empresas e entidades públicas destinadas ao fornecimento de bens ou à
prestação de serviços contra renumeração”.
O legislador quer evitar que, no comércio, os devedores se financiem através do não pagamento
das suas obrigações; isto é, quer evitar que os agentes económicos se financiem não no banco, mas
nos fornecedores.
Como se qualifica um ato como ato comercial?
Inicialmente, o direito comercial não tinha como âmbito de aplicação os atos de comércio, mas antes
os comerciantes. Apareceu como um direito da classe, existindo uma aplicação subjetiva; porém, no pós-
revoluções liberais, passou-se a haver uma aplicação objetiva, havendo a necessidade determinar o que
seria um ato de comércio, necessidade esta patente desde logo no art. 1.º, CCom.
Para perceber se é um ato de comércio, deve-se questionar o seguinte:
O ato comercial é um ato que visa lucro?
Nem sempre (caso das doações mercantis e empresas públicas) e nem só (existem outros
atos/atividades que não são comerciais também visam o lucro, como é o caso da agricultura, por
exemplo). Deste modo, não poderíamos definir o ato comercial como o ato que visa o lucro.
O ato comercial é um ato de interposição de trocas?
Nem só, existindo comércio para compra e revenda. Por isso, seria uma definição bastante redutora.
O nosso legislador veio, deste modo, definir o que era um ato comercial no art. 2.º, CCom,
afirmando que são atos de comércio os atos objetivamente comerciais e os atos subjetivamente
comerciais. São objetivamente comerciais todos os atos comerciais “que se acharem especialmente
regulados neste Código”. São subjetivamente comerciais “todos os contratos e obrigações dos
comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não
resultar”.
Ato objetivamente comercial (art. 2º, 1ª parte, CCom): Ato que esteja previsto na lei comercial, ou seja,
no Código Comercial (grande parte do Código Comercial está revogado, pelo que teremos de perceber
quais os atos que deixaram de estar regulados e quais os que continuam a ser comerciais ou não). São atos
objetivamente comerciais:
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• Compras e vendas comerciais (Art. 463.º, CCom): Prevê que será considerada compra e venda
comercial a compra que seja feita com objetivo de revenda ou de aluguer ou a venda de um
bem que tenha sido comprado para revenda.
• Art. 230.º, CCom (Empresas Comerciais). Durante muito tempo, a doutrina discutiu o significado
deste artigo, considerando-se atualmente que este artigo visa qualificar como comerciais os atos
praticados no âmbito de uma empresa que prossiga alguma das atividades referidas no seu
corpo, desde que os atos em causa sejam conexos com essa atividade.
• Os que estejam numa lei que substitui normas do código comercial. A doutrina entende que se
devem considerar como incluídos no código comercial todos os atos que estejam numa lei que
tenha vindo a alterar o código comercial, como, por exemplo, o Código das Sociedades
Comerciais, a lei uniforme dos cheques e o código dos valores imobiliários.
• Os que estejam numa lei que se autoqualifica como comercial ou considera o ato como
comercial (o exemplo paradigmático é o CC).
NOTA: Se ficássemos por aqui haveria um problema, uma vez que poderia haver ainda atos não incluídos
no código comercial, nem numa lei que venha a alterá-lo, nem que esteja numa lei que o trate como
comercial, pelo que também se consideram atos objetivamente comerciais:
• os que estejam numa lei que se qualifique enquanto comercial por ser análoga a lei comercial:
são diplomas que não se qualificam e não qualificam os seus atos como comerciais, mas que tutelam
interesses semelhantes aos tutelados pelas demais leis comerciais, pelo que, por uma questão de
justiça material, fará sentido qualificar essas leis como comerciais e que os seus atos serão também
comerciais. (ex.: lei relativa ao contrato de agenda ou a lei de locação financeira) – analogia legis.
• aqueles que, mesmo que não exista num diploma que se considera comercial, promovam ou que
mereçam tutela semelhante à que é dada por outros atos comerciais – analogia legis com outros
atos comerciais.
• Aqueles por analogia iuris de princípios gerais de direito: Quando consideramos que um ato é
um ato de comércio, não por referência a outros atos que são considerados comerciais, mas por
referência aos seguintes princípios gerais de direito:
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o são atos de comércio os negócios que tenham como objeto empresas comerciais (há dois
tipos de negócio: o trespasse (transmissão definitiva de um estabelecimento comercial) e a
locação do estabelecimento (transmissão temporária)).
Ato subjetivamente comercial (art. 2º, in fine, CCom): Ato praticado por um comerciante, que não
seja um ato exclusivamente civil e que do próprio ato não resulta a sua não comercialidade.
Ora, quem é comerciante?
A resposta encontra-se no art. 13.º, CCom. São comerciantes:
• as sociedades comerciantes;
• as pessoas que, tendo capacidade para praticar atos comerciais, fazem do comércio profissão.
Assim, uma pessoa, na medida em que tenha capacidade comercial (art. 7.º, CCom*), que
exerça atos de comércio (atos estes objetivamente comerciais); de forma profissional (forma
sistemática, reiterada e séria, contínua ou não) e o faça em nome próprio (e não em nome de
terceiro) será comerciante.
*A capacidade comercial é a capacidade de exercício, o que significa que, à partida,
uma pessoa para ser comerciante não pode ser menor ou ser maior acompanhado,
exceto nos casos em que o comércio seja exercido por quem detenha a
responsabilidade parental do menor e desde que tenha sido autorizado pelo Ministério
Público.
Quem não pode ser comerciante? Os sujeitos referidos no art. 14.º, CCom.
Que atos são exclusivamente civis?
Existem atos que, por natureza, nunca serão atos de comércio, como é o caso do casamento, da
perfilhação, da adoção e do testamento, por exemplo; isto é, não são conexionáveis de modo algum com o
exercício do comércio.
O que significa “das próprias circunstâncias do ato não pode resultar que está a ser praticado fora do
âmbito do comércio do comerciante?”
Para se determinar se o ato está ou não a ser praticado no âmbito do comércio do comerciante, tem-se de
ter em conta aquilo que se consideraria um destinatário médio, razoável ou normal. Assim, se do próprio
ato resulta a ligação com o comércio, o ato é comercial.
Exemplos:
• A, vendedor de automóveis cuja filha faz anos, vai ter com outro colega vendedor e pede que lhe
venda um Fiat 500. A partir do momento em que das circunstâncias resulta que está a comprar não
no âmbito da atividade de vendedor de carros, mas sim a título pessoal, ele não pode ser considerado
um ato do comércio → isto tem de ser analisado à luz da perceção do homem médio (art. 256º,
CC).
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• Se A for ao amigo que vende carros e diz que quer um carro e não lhe diz mais nada – este ato de
compra e venda do carro é subjetivamente comercial? Sim, porque das circunstâncias do ato não
resulta que ele foi praticado fora do âmbito do comércio, e por isso ele é considerado subjetivamente
comercial.
NOTA: O mesmo negócio pode ser objetivamente ou subjetivamente comercial para uma das partes, e não
o ser para outra → surge o problema dos atos comerciais mistos, aos quais é aplicado o regime comercial,
salvo se este regime disser expressamente que não é aplicado.
As sociedades comerciais são, em primeiro lugar, sociedades, sendo que estas sociedades são
pessoas coletivas constituídas através da celebração de um contrato de sociedade, nos termos previstos
no art. 280.º, CC. Deste resulta que que o contrato de sociedade tem de reunir 4 requisitos:
• Em princípio, ser celebrado por duas ou mais pessoas (mas, excecionalmente, pode ser
celebrado por uma pessoa, como é o caso das sociedades unipessoais por quotas);
• a existência de um contrato oneroso em que todos os sócios contribuem com bens ou
com serviços para a criação da sociedade, as chamadas entradas, que podem ser em
dinheiro, em bens/espécie, ou em serviços;
• a sociedade criada tem que ter por objeto o exercício de uma atividade económica;
• esta atividade económica tem de ser realizada com o objetivo de gerar lucro (não significa
que o lucro vá sempre existir, mas tem de ser o intuito).
As sociedades, para serem comerciais, terão:
• de ser constituídas sob uma das formas de sociedades comerciais previstas no CSC, entre
as quais a sociedade anónima, a sociedade por quotas, as sociedades em nome coletivo, as
sociedades em comandita simples e as sociedades em comandita por ações (requisito
formal);
• de ter por objeto a prática de atos de comércio (requisito material).
A qualificação dos sujeitos como sujeitos comerciais porque os atos destes são considerados
subjetivamente comerciais;
O regime das dívidas dos cônjuges de comerciante pressupõe a exigência de um comerciante e,
portanto, para aplicação deste regime é necessário qualificarmos os sujeitos como comerciantes
ou não;
Existe um conjunto de obrigações que estão associadas ao estatuto de comerciantes, previstas
no art. 18.º, CCom, entre as quais:
o a adoção da firma;
o ter escrituração mercantil;
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❖ Praticar atos objetivamente comerciais: para tal, é necessário analisar a prática atos de venda de
cafés (conferir requisitos abordados na pg. 2 deste documento).
In casu, não é um ato objetivamente comercial, porque esta prestação de serviços não é
realizada no âmbito de uma empresa, na medida em que não está em causa um conjunto de atos
praticados com uma certa estabilidade. Não sendo um ato comercial, falta logo um requisito
essencial para a qualificação como comerciante.
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❖ E em nome próprio.
Quanto ao Artur, não é um ato subjetivamente comercial, visto que Artur não é um comerciante,
tal como vimos anteriormente. Também não se trata de um ato objetivamente comercial, uma vez que Artur
pratica o ato de tirar cafés e isto não consiste numa prestação de serviços praticada no âmbito de uma
empresa. Assim, estaremos perante um ato comercial misto, já que é um ato com carácter de
comercialidade face a uma das partes e com natureza civil perante a outra parte. A este tipo de atos aplica-
se, em princípio, o regime dos atos comerciais, nos termos do art. 99.º, salvo quando se aplique as exceções
da segunda parte do mesmo artigo.
Imaginemos que o Artur tinha um colega, o Manuel, e tinham sido os dois que tinham comprado a
máquina, que era uma das boas e tinha custado 2000 euros. Tinham combinado com o Mestre André pagar
o total no final da época de exames.
Chega ao prazo em questão e não pagam o preço. A quem pode o mestre André pedir o preço?
Como ambos não são comerciantes, o art. 100.º não se aplica, isto é, o regime da solidariedade não
vigora. Portanto, vigora o regime da conjunção e, por isso, o mestre André apenas poderia exigir 1000
euros a Artur e 1000 euros a Manuel.
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O segundo ato a qualificar é o serviço dos cafés aos colegas. É subjetivamente comercial?
Como o ato é praticado por Artur, que não é comerciante, não é subjetivamente comercial. Também não é
objetivamente comercial, dado não consistir numa prestação de serviços realizada no âmbito de uma
empresa.
Por fim, o ato de venda de cafés pela associação aos estudantes. Não seria subjetivamente comercial, visto
que a associação não é comerciante; seria objetivamente comercial, caso fosse considerada uma empresa e,
pelo contrário, se não existir empresa, estaríamos perante uma prestação de serviços fora de uma empresa
e, como tal, não era um ato objetivamente comercial.
2.
Belmiro é um jovem de 17 anos que organiza atividades radicais no rio Minho. Recentemente
adquiriu dois barcos de borracha para o seu negócio, tendo para o efeito contraído um empréstimo de
€2500 junto de Carlos, um amigo da família que explora uma pensão em Melgaço. Carlos emprestou
ainda €3000 ao seu amigo David, serralheiro, para que este pagasse o sinal de um automóvel que
pretende adquirir.
O Belmiro será um comerciante?
Ele organiza atividades radicais, ou seja, pratica uma prestação de serviços de uma empresa,
visto que compra os barcos, aluga os mesmos para seu gozo, praticando estes atos de forma séria. Para
qualificarmos um sujeito como comerciante, temos de ter em conta os arts. 13.º e 14.º, CCom, resultando
destes que, para tal, é necessário preencher 4 requisitos:
• ter capacidade comercial (que, nos termos do art. 7.º, tem de ter capacidade de exercício,
mas mesmo que não tenha capacidade de exercício pode praticar atos de comércio desde que
sejam praticados pelos seus representantes legais e estes estejam devidamente autorizados
para o efeito, autorização esta que devia ser dada pelo tribunal nos termos do art. 1889.º, n.º
1, al. c), conjugado com o art. 2.º do DL n.º 272/2001);
• praticar atos objetivamente comerciais;
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O empréstimo mercantil é sempre oneroso/retribuído, nos termos do art. 395.º, CCom, enquanto o mútuo ou o empréstimo
civil, nos termos do art. 1145.º, CC, pode ser gratuito ou oneroso. Quanto à sua forma de celebração, o empréstimo mercantil,
quando celebrado entre comerciantes, pode ser celebrado de qualquer forma, ou seja, não estará sujeito a forma especial. Já o
empréstimo civil está sujeito ou pode estar sujeito a três formas (art. 1143º, CC): liberdade de forma (se for inferior a 2.500
euros); se for superior a 2.500 euros, mas inferior a 25.000 euros, é exigido documento particular assinado; quando for superior
a 25.000 euros, é exigido escritura pública ou documento particular autenticado.
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que a comercialidade deste empréstimo depende de o ato ser comercial), como a aquisição dos barcos é um
ato objetivamente comercial, acessoriamente o empréstimo seria um ato objetivamente comercial.
A exploração da pensão em Melgaço é um ato objetivamente comercial, dado ser uma prestação de
serviços realizado no âmbito de uma empresa, e é subjetivamente comercial, visto que Carlos é comerciante.
Quanto ao empréstimo entre Carlos e David, do lado de David é um ato subjetivamente comercial
e do lado de Carlos não o é, uma vez que apesar de ser comerciante e não ser um ato exclusivamente civil,
foi praticado fora do âmbito do comércio de Carlos, já que o empréstimo se dirige ao pagamento de um
sinal para a aquisição de um automóvel, não estando o empréstimo ligado à sua função comercial. O ato
não seria um empréstimo mercantil com os efeitos do art. 395.º, e não seria um ato conexo com a atividade
comercial da pensão, pelo que o ato não é objetivamente comercial.
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Contrato de factoring
Também chamado de contrato de cessão de créditos, o contrato de factoring é o contrato pelo qual o
fatorizado cede um conjunto de créditos ao fator para que este preste um ou vários dos seguintes
serviços:
• Consultoria financeira: o fator tem um conjunto de conhecimentos sobre o mercado e consegue
avaliar sobre a solvabilidade dos clientes do fatorizado;
• Cobrança: o crédito é cedido para que o fator tente cobrar o crédito junto do devedor. Esta função
é muito utilizada pelas pequenas empresas, que vão subcontratar esta cobrança através de um
contrato de factoring, nos termos do qual transmitem um crédito ao fator para que este, junto
do devedor, consiga a cobrança; em troca, o fatorizado vai ter de pagar uma comissão de
cobrança;
• Garantia: uma empresa que, para além de querer a cobrança dos créditos ou a prestação de serviços
de consultoria, quer também ter a certeza de que vai receber os valores que lhe são devidos pelos
clientes. Assim, contacta o fator, pedindo que garanta que os clientes vão pagar – o fator vai olhar
para os créditos e para os respetivos devedores, garantindo o pagamento dos créditos destes
mediante a comissão de garantia. A vantagem para a empresa é que, apesar de receber 100%, na
verdade recebe apenas 95%; contudo, tem sempre a certeza de que receberá esses 95%: se o devedor
não pagar, o fator já disse que paga.
Portanto, o contrato de factoring pode cumular todas estas funções, apenas algumas ou desempenhar
apenas uma delas.
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e venda, mas sim um contrato de permuta/troca – a compra e venda exige sempre uma das
prestações em dinheiro. Isto sem prejuízo da prestação do pagamento do preço em dinheiro poder
ser cumprida por uma das outras formas de cumprimento de obrigações, designadamente, uma
dação em cumprimento (entrega de objeto distinto daquele que era o objeto inicial da obrigação).
Para que a compra e venda seja mercantil, para além destes requisitos, têm de se ter como verificados os
requisitos do art. 463.º, CCom e não verificados os do art. 464.º, CCom:
• Art. 463.º, CCom: Resulta deste artigo uma lista de compras ou vendas que, por terem como objetivo
o lucro, vão ser consideradas mercantis e vão ter um regime especial aplicável. Alguma doutrina
considera que esta norma é meramente exemplificativa, portanto, se houver situações não
expressamente previstas no art.463.º, CCom, mas que se considere deverem ser tuteladas de forma
semelhante, podemos, ainda assim, estar perante uma compra e venda mercantil.
Sempre que estivermos perante alguma destas possibilidades, o contrato de compra e venda
será mercantil. Isto determinará a aplicação do regime que vamos ver a seguir.
NOTAS:
o O intuito lucrativo que se retira da intenção de revenda tanto pode existir do lado do
comprador, como do lado do vendedor – conseguimos facilmente ver isto, porque o artigo
fala de compras para revenda e de revendas;
o O intuito lucrativo/de revenda não tem de ser conhecido pela contraparte, mas deve
resultar das circunstâncias da prática do ato que o homem médio teria conhecido tal
intenção – faz sentido, pois as partes têm de conhecer o regime que lhes é aplicável;
o Não interessa se o intuito lucrativo foi efetivamente concretizado ou não – A pode
comprar 5 computadores para revender, mas pode não conseguir revender por preço
superior, tendo de vender pelo mesmo preço que comprou ou até por um preço inferior. Ora,
isto é irrelevante para a qualificação da compra e venda como mercantil e até para a
qualificação da venda dos computadores como venda mercantil;
o Esta é uma qualificação puramente objetiva: não se interessa pela qualificação dos sujeitos
(se estes são comerciantes ou não). Um não comerciante pode celebrar um contrato de
compra e venda mercantil. Também não releva se este ato foi praticado no âmbito de uma
empresa ou não. Apenas importa saber se, das circunstâncias do ato, resultava a
intenção de obter lucro.
o Nº 1 – Exclui os bens que são comprados para uso do comprador ou da família – a revenda
destes bens não poderá também ser uma venda mercantil;
o Nº 2 e 4 – Visam dar cumprimento a uma exclusão do art. 230.º, CCom: excluem da
comercialidade um conjunto de atos praticados no âmbito de empresas agrícolas – o
legislador quis excluir a agricultura da comercialidade: não serão mercantis as vendas feitas
pelos agricultores dos produtos por eles cultivados ou dos animais por eles
criados/engordados;
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Na CV civil, se as partes não acordarem o preço, o preço é fixado por uma das seguintes
formas: vale o preço que o vendedor praticar à data. Se não existir este preço, por algum motivo,
vai-se aplicar o preço do mercado ou bolsa no momento da celebração do contrato. Se não for
possível determinar o preço de mercado ou bolsa do bem, o preço é determinado pelo tribunal,
segundo juízos de equidade (juízos de justiça do caso concreto).
Na CV mercantil, nos termos do art. 466.º, CCom, se as partes não tiverem determinado o
preço, não tiverem selecionado o modo de determinação do preço ou se tiverem determinado que o
preço será escolhido por terceiro, e esse terceiro se recusar a determinar o preço, o contrato não
vai produzir efeitos.
NOTAS:
• O regime mercantil é o oposto do regime civil, onde se encontra sempre solução para a
determinação do preço. No regime mercantil, se o preço não pode ser determinado, o
contrato não produz efeitos.
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• O art. 466.º, CCom fala apenas do caso de a determinação do preço ser por terceiro que
se recusa a fazê-lo. A doutrina alarga esta solução a todas as situações em que não é
possível a determinação do preço.
No regime civil, as partes, à partida, não visam o lucro, aplicando-se o princípio da justiça
comutativa, em que se visa a igualdade entre o que se recebe e o que se paga. Já na CV mercantil,
as partes visam o lucro, ficando impossibilitada a hipótese de o juiz, com juízos de equidade,
estabelecer o preço.
Na CV civil, qual é o prazo supletivo para cumprimento das obrigações? Não tendo sido fixado
um prazo, o credor pode exigir o cumprimento a todo o tempo, assim como pode o devedor a
todo o tempo cumprir a obrigação – regra geral (art. 777.º/1, CC); contudo, o art. 777.º/2, CC
tem uma exceção: se resultar da natureza da prestação, das circunstâncias do caso concreto ou dos
usos sociais a necessidade do estabelecimento do prazo, se as partes não acordarem na determinação
do prazo, este é fixado pelo tribunal. Faz sentido que a obrigação seja cumprida imediatamente,
se a obrigação puder ser cumprida imediatamente.
Na CV civil, o art. 886.º CC diz que, havendo transmissão da propriedade da coisa e feita a
sua entrega, o não pagamento do preço não pode dar lugar à resolução do contrato, salvo se as
partes o tiverem expressamente acordado. Esta norma visa, sobretudo, permitir algumas garantias a
uma pessoa que adquiriu um bem e o começou a utilizar e, possivelmente, até o pode ter transmitido
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a terceiros – entregue o bem, já não pode haver resolução do contrato fundada no não pagamento
do preço. Não se dando o pagamento do preço, a consequência será o vencimento de juros.
Além disso, nos termos do art. 934.º, CC, a venda de um bem a prestações, quando feita
com reserva de propriedade e tendo a coisa sido entregue, apenas dá origem à resolução do contrato
se houver o incumprimento de 2 ou mais prestações ou se houver o incumprimento de 1
prestação superior a 1/8 do preço – qual o objetivo desta norma? Note-se que a aplicação do art.
886.º, CC é supletiva, dependendo de as partes terem ou não acordado na resolução. Já o art. 934.º,
CC não é supletivo, aplicando-se sempre: visa proteger as pessoas que compram um bem a
prestações e apenas incumprem uma prestação de reduzida importância (assim sendo, não pode
este incumprimento dar origem à resolução do contrato e à restituição do bem, porque a pessoa, já
o tendo recebido, está a contar com ele).
Nestes vários artigos temos uma série de pressupostos que se têm de preencher: se houve ou
não entrega, se houve transmissão da propriedade, se houve disposição contratual em sentido
contrário, qual a foi a obrigação que foi incumprida (pagamento do preço), se o preço é pago às
prestações ou não → estes 5 aspetos têm que ser sempre analisados para perceber se a CV civil pode
ser resolvida pelas partes a determinada altura.
Este regime da resolução está associado ao regime geral: existindo fundamento, tem de
haver sempre interpelação para o cumprimento. Só findo esse prazo, há incumprimento
definitivo, que pode dar lugar à resolução.
Para este efeito também releva o art. 1301.º, CC, de acordo com o qual um terceiro que haja
comprado um determinado bem junto de um comerciante, que tenha como atividade a venda desse
bem, apenas estará obrigado a devolver esse bem ao seu verdadeiro proprietário se este lhe pagar
aquilo que ele pagou pelo bem.
Exemplo: temos uma fábrica X, de máquinas de café, que vende algumas à Worten,
mas reserva a propriedade – diz que apenas transmite as máquinas de café quando
pagar o preço, acordando que o mesmo será pago em 90 dias. Entretanto, um
consumidor compra uma máquina de café à Worten. Findo o prazo, a Worten não
pagou – a máquina do café já está na casa do consumidor, mas a propriedade não se
transmitiu para ele, na medida em que não foi pago o preço, não se tendo transmitido
a propriedade, que continua na esfera de X). Esta norma visa tutelar quem compra
bens como comerciante – a fábrica paga o preço ao consumidor e, depois, vai
exigir à Worten o preço que pagou ao consumidor.
Na CV mercantil encontramos somente o art. 474.º, CCom: aplica-se apenas quando estão
preenchidos 2 requisitos:
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Se, perante uma CV mercantil, não se aplicar o art. 474.º, CCom, aplica-se o regime civil.
A, sociedade comercial, vende a B, sociedade comercial, 30 aquecedores a gás, por 10.000€, que
entrega de imediato. Na data do vencimento do crédito, B não paga.
A)
Pode A resolver o contrato?
Em primeiro lugar, temos de começar sempre por fazer a qualificação dos sujeitos e dos atos. De
seguida, temos de ver o regime especial.
Para o caso concreto é relevante sabermos se o ato é (ou não) uma compra e venda mercantil. O art.
474.º, CCom apenas se aplica se o bem ainda não tinha sido transmitido – neste caso, tendo já sido
entregue, não se aplicaria o regime comercial de qualquer forma.
Deste modo, vamos aplicar o regime civil. Tem-se de averiguar se os 5 requisitos deste regime se
verificam:
• Entrega (ou não) do bem vendido – Essencial para saber se o caso se inclui no âmbito de
aplicação do art. 886.º, CC ou do art. 934.º, CC (no caso de ter havido traditio (em qualquer
um dos casos)). Não tendo havido traditio, não se vai aplicar nenhuma daquelas normas,
seguindo-se a resolução prevista nos termos gerais do regime do CC;
• Modo do pagamento do preço – Pagamento por prestações (ou não): se foi por prestações,
cai no âmbito do art. 934.º, CC; se não foi por prestações, estamos no âmbito do art. 886.º,
CC;
• Existência (ou não) de reserva de propriedade – Aplica-se o art. 886.º, CC se houve
transmissão da propriedade (portanto, não havendo reserva de propriedade); aplica-se o
art. 934.º, CC se tiver havido reserva de propriedade;
• Existência (ou não) de convenção em contrário – Não podem existir para se poder aplicar
o art. 886.º, CC;
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B)
Se A optar pela não resolução do contrato, a que terá direito?
A terá direito a juros de mora – mas a que taxa de juros terá direito? Temos de apurar a natureza
deste ato.
Este é um ato subjetivamente comercial para ambas as partes – é um contrato celebrado entre
duas sociedades comerciais, que são sempre comerciantes.
Deste modo, sendo este um ato subjetivamente comercial, vamos aplicar o regime geral dos atos
comerciais (mesmo que não se aplique o regime específico para a CV mercantil), nomeadamente o regime
associado ao vencimento de juros.
Como sabemos, então, que juros se vencem? → Tem-se de olhar para o art. 102.º, CCom – vamos aplicar
o Parágrafo 4 ou 5?
O DL nº 62/2013, 10/05 regula os contratos de fornecimento ou prestação de serviços contra
remuneração celebrados entre empresas ou entre empresas e entidades públicas/privadas. Para este
efeito, estamos perante uma transação in casu? → Sim, estamos perante um fornecimento de bens contra
remuneração, celebrado entre duas empresas.
Assim, estando perante uma transação comercial nos termos do DL nº 62/2013, aplica-se a taxa de
juro determinada pelo Governo, nos termos do parágrafo 4 e 5 do art. 102.º, CCom – atualmente, a taxa
de juro supletiva aplicada a estes contratos é de 8%.
Assim, A vai poder exigir o cumprimento da obrigação e o pagamento de juros de mora, que
não tendo sido determinados pelas partes e resultando de um contrato que qualificamos como comercial,
serão juros comerciais – como derivam de uma transação comercial, serão de 8%, nos termos do DL nº
62/2013.
Resulta do art. 102.º, CCom uma remissão para os arts. 559.º-A e 1146.º, CC → estes artigos
limitam os juros que podem ser determinados pelas partes; ou seja, tratam dos juros usurários. Resulta
do art.1146.º/1 e 2, CC que, quando as partes estipulam os juros que são aplicáveis, esses juros estão sujeitos
a limites calculados da seguinte forma: o juro convencional não pode ser superior à soma dos juros
legais + 3% ou 5%, conforme exista ou não, respetivamente, garantia real.
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No caso concreto, imaginemos que as partes haviam convencionado que, em caso de incumprimento, havia
lugar ao pagamento de uma taxa de juro 15% – esta cláusula seria válida?
Não, pois excede os 8% + 5% (no caso concreto, não havia garantia).
II.
A, Warrior, SA, que se dedica à importação e revenda de máquinas industriais, vende a B,
Meridiano, SA, que se dedica à produção de sapatos, a 2 de janeiro de 2020, uma máquina
industrial com reserva de propriedade. O preço de € 150.000 foi fracionado em 15 prestações com
vencimento mensal. B, em graves dificuldades financeiras, revende a máquina a C, também
empresa de produção de sapatos, por € 100.000, a 2 de abril de 2020, que a instala na sua fábrica.
Face ao incumprimento da prestação de março por B, A, tomando conhecimento da revenda da
máquina, resolve o contrato e exige a sua restituição a C.
A)
Qualifique quanto à sua comercialidade os contratos descritos.
Há aqui dois contratos: duas compras e vendas. Estas CVs são atos comerciais.
Temos de qualificar estes contratos, verificando se são subjetivamente comerciais e objetivamente
comerciais.
Os atos são subjetivamente comerciais se se verificarem 3 requisitos: têm de ser praticados por um
comerciante; não podem ser de natureza exclusivamente civil; dos próprios atos não pode resultar que eles
foram praticados fora da comercialidade do comerciante.
Dito isto:
• A venda da máquina por A é um ato subjetivamente comercial, porque foi praticado por um
comerciante (é uma sociedade comercial e as sociedades comerciais são sempre comerciantes),
o ato não é de natureza exclusivamente civil e do próprio ato não resulta que ele foi praticado fora
da comercialidade do comerciante;
• A compra da máquina por parte de B é um ato subjetivamente comercial, visto B ser um
comerciante, o ato não ser de natureza exclusivamente civil e do próprio ato não resulta que ele foi
praticado fora da comercialidade do comerciante;
• A revenda da máquina a C é um ato subjetivamente comercial;
• A compra da máquina por C é um ato subjetivamente comercial? Não se diz se C é uma sociedade
anónima ou uma pessoa singular.
Assim, se C fosse uma sociedade comercial, a resposta seria a mesma – seria um ato
subjetivamente comercial.
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Direito Comercial Aulas Práticas
Falta verificar se estas compras e vendas são atos objetivamente comerciais: têm de ser atos que vêm
previstos no CCom, em legislação que tenha alterado o CCom, em legislação que se considere comercial
ou que qualifique um ato como comercial, ou atos análogos a estes por analogia legis ou analogia iuris.
Assim sendo:
• A venda da máquina por A destas máquinas é um ato objetivamente comercial, uma vez que é
uma compra para revenda; logo, temos a venda de uma máquina comprada para revenda – faz
com que este contrato seja uma compra e venda mercantil, para efeitos do art. 463.º, CCom;
• A compra da máquina por parte de B é um ato objetivamente comercial? B não compra para
revender, mas é um ato conexo com a sua atividade, no âmbito de uma empresa comercial, pelo
que é um ato objetivamente comercial;
• A revenda da máquina a C e a recompra por C são atos objetivamente comerciais? São atos
conexos com entidades que exploram empresas e que são conexos com a atividade dessas
empresas (tem uma empresa que visa manufaturar bens que, quando realizada no âmbito de uma
empresa, é um ato objetivamente comercial). Logo, são atos objetivamente comerciais.
B)
Caso C esteja em mora no cumprimento das suas obrigações, que juros se vencem?
Os juros comerciais são os juros que se vencem pelo incumprimento de obrigações comerciais, isto é,
obrigações resultantes de contratos comerciais (art. 102.º, CCom – sujeito a interpretação específica, na
medida em que a doutrina entende que todos os juros decorrentes de contratos comerciais são
comerciais).
Quando as partes não prevejam a taxa de juro aplicável ou quando a lei preveja o vencimento de juros, os
juros comerciais serão calculados de acordo com uma taxa determinada pelo Governo. Os parágrafos
4 e 5 do art. 102.º, CCom dizem que o Governo não pode escolher qualquer taxa de juros comerciais,
estando limitado pelo legislador comunitário em 2 situações:
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Direito Comercial Aulas Práticas
• Regra geral: A taxa de juros comerciais nunca vai poder ser inferior à soma da taxa do último
refinanciamento do BCE acrescida de 7% (parágrafo 4 do art. 102.º, CCom) – esta soma,
atualmente, dá 7%, pois a taxa de refinanciamento é negativa ou nunca ultrapassa o 0 e o legislador
tem assumido sempre ao valor mínimo possível;
• Para as transações comerciais (fornecimento, compra e venda de bens ou prestação de serviços
entre empresas), o cálculo para a taxa mínima tem por base os 8%.
O legislador prevê duas taxas de juro: 7% aplica-se a todos os casos e 8% aplica-se apenas às transações
comerciais. Logo, para saber a taxa aplicável, basta saber se estamos perante uma transação comercial ou
não. Para tal, recorre-se ao DL nº 62/2013, que diz que são transações comerciais os contratos de
fornecimento de bens ou prestação de serviços celebrados entre duas empresas.
NOTA: Estas taxas são, em grande medida, supletivas. As partes podem estabelecer taxas diferentes
dentro dos limites das taxas usurárias.
C)
Pode A resolver o contrato?
Verificam-se os requisitos para aplicação do art. 934.º, CC; ou seja, o preço é pago às prestações, houve
entrega do bem, há reserva de propriedade (não houve transmissão da propriedade) e as partes não
acordaram nada em sentido contrário. À luz deste artigo, não é possível resolver o contrato de compra e
venda – para que haja resolução, é necessário o incumprimento de duas ou mais prestações ou o
incumprimento de uma prestação superior a 1/8 do preço.
Partimos do pressuposto de que, no caso, o que está a ser incumprido é a obrigação do pagamento do preço;
contudo, há um conjunto de outras obrigações que vinculam as partes: boa-fé, confiança, proteção de
terceiros, etc. Ora, no caso, a venda por B da máquina que ainda era de A pode corresponder a uma quebra
de confiança entre as partes e à violação de obrigações principais e/ou laterais do contrato. Pela
violação da obrigação do pagamento do preço não poderia resolver-se o contrato. Porém, pela venda de um
bem que era de A, podemos já estar perante um facto que fundamenta a resolução do contrato: houve uma
quebra de confiança entre as partes.
Portanto, A não poderia resolver o contrato, nos termos do art.934.º CC, em virtude do incumprimento
da obrigação do pagamento do preço, embora pudesse estar em causa a violação de outras obrigações que
poderiam fundamentar a resolução.
D)
Supondo que A resolve o contrato, analise a posição de C.
C comprou um bem alheio, tem o bem na sua posse e utiliza a máquina. C é protegido de alguma forma ou
vai ter de devolver a máquina a A?
O art. 1301.º, CC prevê o seguinte: “O que exigir de terceiro coisa por este comprada, de boa fé, a
comerciante que negoceie em coisa do mesmo ou semelhante género é obrigado a restituir o preço o
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Direito Comercial Aulas Práticas
adquirente tiver dado por ela, mas goza do direito de regresso contra aquele que culposamente deu causa
ao prejuízo”.
À luz deste artigo, C não está tutelado pelo não preenchimento da previsão deste artigo, pois visa proteger,
sobretudo, os consumidores que compram bens junto de um comerciante e que confiam que, como esse
comerciante vende aquele tipo de bens, aqueles bens são efetivamente seus. No caso, B, comerciante,
vende a máquina, mas não comercializa normalmente estes bens. Portanto, C não é protegido. Assim,
A poderia exigir a C a entrega do bem.
Direito Bancário
Atividade de intermediação do banco
A atividade bancária é uma atividade de intermediação no uso de dinheiro. A atividade bancária
tem dois lados: o lado em que os bancos são devedores e o lado em que os bancos são credores.
Os bancos recebem o dinheiro das pessoas que têm dinheiro em excesso e não o querem utilizar.
Além disso, disponibilizam-no a pessoas que tenham escassez de dinheiro e precisem do mesmo para a
sua atividade.
Quando o banco recebe dinheiro celebra, normalmente, os contratos de depósito: é um contrato de
captação de poupanças: os bancos recebem o dinheiro e ficam a dever o pagamento desse dinheiro e, por
vezes, também de juros.
O banco pega nestes valores e celebra, também, contratos de crédito, em que passa a ser credor.
Nestes, disponibiliza determinadas quantias financeiras e vai exigir a sua restituição acrescida de uma
remuneração, que normalmente corresponde aos juros.
Temos como contratos de crédito mais comuns o contrato de mútuo/empréstimo, o contrato de
locação financeira, o contrato de desconto, o contrato de cessão financeira e o contrato de abertura
de crédito.
Em todos estes contratos há uma função de financiamento: o banco empresta dinheiro a quem
precisa.
A este propósito, normalmente, diz-se que os bancos são instituições devedoras a pronto e
credoras a prazo – isto significa que, quando o banco celebra contratos de depósito de captação de
poupanças, normalmente, o banco é devedor a pronto, na medida em que os seus clientes podem exigir a
qualquer momento o levantamento dos valores depositados (tem que prontamente cumprir as suas
obrigações). No entanto, o banco é credor a prazo, já que, quando empresta dinheiro, não consegue exigir
logo a sua restituição e o pagamento de uma remuneração, apenas recebendo posteriormente os valores
que emprestou.
Esta circunstância faz com que os bancos tenham falta de liquidez: apesar de poderem ser credores
e devedores na mesma quantidade de dinheiro, eles não têm liquidez para suportar a totalidade das suas
dívidas quando são exigidas de uma só vez. Isto é o que acontece muitas vezes quando um banco vai à
falência – cada um dos clientes deposita 100€ no banco, que os empresta a uma empresa; no dia seguinte,
todos os clientes pedem o dinheiro de volta, mas este não o tem disponível para pagar a toda a gente de
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Direito Comercial Aulas Práticas
uma só vez – quando há corrida aos levantamentos, o banco não tem liquidez para pagar a todos os
clientes ao mesmo tempo.
Esta atividade de intermediação do banco (receber e emprestar dinheiro) não faz com que exista
qualquer ligação entre os depósitos e os empréstimos que são realizados: quando um cliente deposita
100€ no banco, esses 100€ não ficam vinculados aos financiamentos que vão ser prestados. Portanto, ainda
que os financiamentos corram mal, o banco tem de responder pelo dinheiro depositado.
Moeda escritural
Na atividade bancária existe uma moeda especial: a moeda escritural/bancária – não é moeda
real, nem é moeda física. Quando depositamos 50€ no banco, o banco não pega na nota de 50€, destinando-
a a um “monte” de notas para esse cliente. Simplesmente, o banco adiciona mais 50€ na nossa conta. É uma
moeda contabilística, sendo a soma dos valores previstos na contabilidade dos bancos. A moeda escritural
é de tal forma relevante que grande parte dos nossos pagamentos não são efeitos com moeda
verdadeira, mas sim com moeda escritural – tem, por isso, hoje, um efeito liberatório (paga-se em
“euros virtuais”), mesmo que não haja qualquer transmissão de dinheiro efetivo.
O dinheiro efetivo apenas aparece quando o levantamos numa máquina multibanco, havendo uma
transformação da moeda escritural em moeda verdadeira.
Para existir moeda escritural, tem que haver uma conta com o nosso nome, sítio em que o banco
registe os débitos e os créditos que cada pessoa realiza face a um banco. É a este sítio virtual onde estão
estas contas realizadas que se dá o nome de conta bancária.
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Direito Comercial Aulas Práticas
Considerando tudo isto, vamos olhar para o enunciado do Caso Prático n.º 3, I. para qualificarmos
cada um dos contratos aí referidos:
X, Lda, sociedade comercial que comercializa equipamentos de limpeza industrial, depositou no passado
dia 15 de Março, pela primeira vez, no Banco Y, a quantia de 50.000,00 €. Dessa quantia, foi acordado
que metade poderia ser levantado a qualquer altura e não venceria juros e que a outra metade não
poderia ser levantada durante dois anos, vencendo-se sobre a mesma juros à taxa de 15%.
• Contrato de abertura de conta: Dá início à relação contratual entre o banco e o seu cliente,
visto que, se a relação do banco com os seus clientes se dá através da moeda escritural (que apenas
existe quando prevista em contas), quando o cliente quer celebrar qualquer contrato com o banco, a
primeira coisa que tem de fazer é abrir uma conta bancária (registo organizado das operações de
entrega e reembolso de fundos).
As contas bancárias, em PT, são definidas através de um IBAN, que é um número composto
por 25 dígitos que identifica aquele registo em concreto → é o “nome” que o banco deu à conta,
ao registo contabilístico de cada cliente. Como este registo contabilístico tem custos para o banco,
que tem de ter meios para manter sempre atualizados e seguros estes registos, o banco normalmente
vai cobrar uma comissão de manutenção pela conta, cobrando um valor pelo facto de ter uma
conta com o nosso nome.
Costuma ter, dentro de si, as regras que visam criar uma relação semelhante àquilo que
é a conta corrente ou contrato de conta corrente previsto no art. 344.º, CCom. O art. 344.º e ss.,
CCom regula um tipo de contrato específico que é o contrato de conta corrente – é um contrato
celebrado entre, normalmente, dois comerciantes ou um comerciante e um cliente/fornecedor,
nos termos do qual as partes acordam que vão criar um balanço onde se vai apontar aquilo que
cada uma deve à outra. No final do prazo previsto nesse contrato, as partes somam os seus
créditos e as suas dívidas e só nesse momento é que se procede ao pagamento do valor final.
Exemplo: A vai hoje ao bar da faculdade e quer abrir aí uma conta, depositando 100€,
podendo fazer todas as suas compras sem ter que pagar todos os dias no multibanco.
No final do ano, se tiver utilizado menos do que 100€, o bar tem de devolver o
restante; se tiver usado mais do que 100€, tem que pagar essa diferença ao bar.
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• Contrato de depósito: Abrindo uma conta bancária, temos de transferir para aí dinheiro,
estabelecendo o banco as condições para o efeito. São logo estabelecidas as regras do contrato de
depósito no contrato de abertura de conta.
Todas estas regras são o “giro bancário” – forma como o dinheiro vai circular na economia.
Assim, num contrato de abertura de conta, temos um contrato em que as partes acordam:
Também se podem estabelecer contratos de cheques (no caso de o cliente vir a querer
utilizar cheques). Também pode-se pedir um cartão de débito (utilização dinheiro que temos) e de
crédito (utilização de dinheiro emprestado pelo banco).
Chama-se a este contrato de abertura de conta “contrato bancário geral”, porque é onde se
prevê, de forma genérica, toda a relação dos bancos com os seus clientes.
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Direito Comercial Aulas Práticas
o Solidária: O cliente do banco pode utilizar livremente todo o dinheiro dessa conta e a
devolução do dinheiro a um dos membros dessa conta vale como sendo feita
relativamente a todos os membros dessa conta. O banqueiro exonera-se entregando a
totalidade do depósito a um único dos titulares.
o Conjunta: O dinheiro apenas pode ser movimentado se os titulares da conta estiverem
todos de acordo. Se A quiser levantar o dinheiro, o banco apenas permite após obter a
permissão de B.
o Mista: Normalmente são contas que, até determinados valores, são solidárias e, acima
desses valores, são conjuntas.
Ex.: Qualquer um pode levantar até 300€ sozinho, precisando da autorização do outro
acima desse valor.
Para além deste contrato de abertura de conta, as partes também celebraram 2 contratos de depósito
(no enunciado do Caso Prático n.º 3, I.):
• Depósito a prazo;
• Depósito à ordem.
Existem vários 4 tipos de contratos de depósito:
• Depósito civil (art. 1185.º e ss., CC): Na sua origem, é um contrato real quanto à sua
constituição, nos termos do qual uma das partes entrega um determinado bem à outra
para que esta guarde esse bem durante um determinado período de tempo. Findo esse
período de tempo, essa parte fica obrigada a restituir o bem, ficando a outra obrigada a
pagar uma determinada quantia a título de remuneração (se as partes acordaram
existência de remuneração) e ficando obrigada ao reembolso de quaisquer despesas que o
depositário tenha assumido.
Ex.: A tem um cão e pede a B, seu amigo, que tome conta dele durante as férias –
quando A volta, B está obrigado a restituir o cão; se tiver acordado algum valor, A
tem que o pagar a B; se não tiver acordado, não está obrigado a pagá-lo; mas, se B
levou o cão ao veterinário, A tem de pagar esses valores – isto é um contrato de
depósito civil.
• Depósito civil irregular: Quando o contrato de depósito apareceu, tinha por objeto,
sobretudo, bens não fungíveis (que não podem ser substituídos por outros bens do mesmo
género). Quando um depósito tem por objeto bens fungíveis ou dinheiro, o legislador diz
que estamos perante um depósito irregular e a esse depósito aplica-se as regras do mútuo.
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Ex.: A deposita no amigo B a quantia de 1.000€. A não vai querer aqueles exatos
1.000€, aquelas notas, mas sim aquele valor → o legislador diz que é um depósito
irregular, que se parece muito com um contrato de mútuo. Parecendo-se com um
contrato de empréstimo de dinheiro, vamos aplicar o regime previsto para o mútuo.
• Depósito comercial (art. 403.º, CCom): Considera-se mercantil o contrato de depósito que
tenha por objeto mercadorias destinadas à prática de um ato comercial. Este contrato é
um ato comercial acessório, porque a comercialidade deste contrato de depósito depende
da comercialidade do ato que vai ser praticado com o objeto depositado. Além disso, a
doutrina diz que este contrato apenas existe relativamente a mercadorias e não
relativamente a dinheiro – o regime criado pelo legislador comercial é um regime pensado
para o depósito de coisas que não o dinheiro. Quando vimos as normas de depósito bancário,
aprendeu-se que, se não existirem normas especiais de depósito bancário, vamos recorrer às
regras do depósito irregular e, depois, dentro dessas, às regras do mútuo (não recorremos
às regras do deposito mercantil, pois não foi pensado para depósitos de dinheiro, não
fazendo sentido aplicar subsidiariamente estas regras). Se, em regra, o depósito civil é
supletivamente gratuito, o depósito mercantil é supletivamente oneroso.
• Depósito bancário: É um contrato de depósito que tem por objeto dinheiro e que é
celebrado entre um banco e um cliente. O cliente obriga-se a depositar determinada
quantia (que passa a ser propriedade do banco, que a poderá utilizar como quiser),
ficando apenas o banco obrigado a restituir a quantia nos termos que tiver acordado
com o cliente (pode ser através de levantamento de dinheiro, transferência para outra conta,
etc.). Nos termos do DL nº 430/91, o contrato de depósito bancário, em grande medida,
subdivide-se em 2 subtipos:
o Contrato de depósito à ordem: Contrato de depósito que apenas tem como função
a guarda do dinheiro; ou seja, o cliente coloca o seu dinheiro no banco para que o
banco o guarde até ao momento em que ele decida levantá-lo;
Ex.: Se se tinham vencido 200€ a título de juros, o banco vai cortar esse valor,
apenas tendo o cliente direito a receber 70€ – ou seja, se não cumpre esse
prazo, causa prejuízo, pelo que o banco fica com parte do que devia ao cliente.
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• Outra metade não poderia ser levantada durante 2 anos, vencendo-se sobre a mesma juros à
taxa de 15%: contrato de depósito a prazo, uma vez que o cliente obriga-se a não levantar
dinheiro por 2 anos, sendo remunerado pela taxa de 15%.
Casos práticos nº 3
I.
No dia seguinte, a X, Lda, precisando de fundos para a realização da sua atividade, celebrou um contrato
com K, seu sócio, nos termos do qual, este se obrigou a entregar 100.000,00€ à sociedade, ficando a
sociedade obrigada a restituir-lhe o referido montante no prazo de 10 anos
Que contrato está aqui em causa?
Está-se perante um contrato de suprimento.
É um contrato de empréstimo, mas que tem uma característica especial: este contrato é celebrado
entre os acionistas de uma sociedade e a própria sociedade. Ou seja, a sociedade precisa de dinheiro e,
em vez de pedir emprestado a terceiros, pede emprestado aos seus acionistas. Os acionistas podem ou não
aceitar.
Para que se considere estarmos perante um contrato de suprimento, é necessário que o crédito tenha
caráter de permanência – é, sobretudo, a necessidade que o crédito tenha um reembolso com prazo
superior a 1 ano.
Os arts. 243.º, e ss. do Código das Sociedades Comerciais (CSC) preveem, de forma especial, o
regime associado a estes contratos: visa, sobretudo, evitar que os suprimentos sejam utilizados como
forma de descapitalização da sociedade ou como forma de prejudicar os credores da sociedade. Os
suprimentos conseguiriam muito facilmente descapitalizar uma sociedade – imaginando que os sócios
emprestam, p.e., 100.000€ com taxa de juro de 10%, taxa esta que rapidamente descapitaliza a sociedade:
os sócios não teriam dinheiro suficiente para poder distribuir lucros, distribuindo-se os lucros sub-
repticiamente – os juros altos funcionariam como lucros.
Além disso, os suprimentos são créditos. Os sócios poderiam aumentar os seus valores de
suprimentos com o objetivo de prejudicar indiretamente credores. Em que situação? Na insolvência,
quando o património do insolvente não é suficiente para todos os créditos, estes serão pagos através do
rateio – reparte-se o património de forma proporcional a todos os credores. Se os acionistas surgissem com
o valor que quisessem de suprimentos, eles controlariam o dinheiro que sai da sociedade.
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Ex.: Uma sociedade tem 100€ de património e tem credores no valor de 150€ – os acionistas
celebram com a sociedade um contrato de empréstimo no valor de 150€. De repente, temos
o dobro dos credores face ao mesmo património que vai responder por essas dívidas.
Para evitar estes abusos, no art. 245.º, CSC o legislador limita, de diversas formas, a posição dos
acionistas no que respeita a estes créditos.
Ex.: Os acionistas não têm legitimidade para requerer a insolvência da sociedade no que
respeita a estes créditos. Além disso, os créditos de suprimentos só são pagos depois de terem
sido ressarcidos todos os outros credores.
Os créditos de suprimentos, no âmbito da insolvência, são créditos subordinados.
Assim, visa-se evitar que os acionistas sejam privilegiados no âmbito da insolvência.
O que poderiam fazer os acionistas?
Imaginando que temos alguém que é simultaneamente acionista e cliente de uma sociedade – pode
ter, ao mesmo tempo, um crédito e uma dívida → poderia compensar os valores, o que prejudicaria os
credores, não chegando sequer a ser satisfeito na insolvência (o art. 245.º/3, b), CSC proíbe isto).
Os acionistas conhecem bem a sociedade, sabendo quando pode entrar em insolvência. Nesse
caso, não esperariam pela insolvência para pedirem o dinheiro de volta, sabendo que seriam os últimos a
ser pagos. Assim, poderiam exigir a devolução dos suprimentos antes da insolvência – o art. 245.º/5,
CSC vem limitar esta possibilidade, dizendo que o reembolso dos suprimentos que tenha sido efetuado no
último ano a contar da data de declaração de insolvência é resolúvel; isto é, pode ser resolvido; pode obrigar
os acionistas a devolver os valores que receberam.
Os acionistas poderiam, ainda, exigir uma garantia para prestarem os suprimentos. Ora, o art.
245.º/6, CSC proíbe esta situação (qualquer garantia real relativamente a reembolsos de suprimentos).
Assim, nunca poderiam ser credores garantidos para efeitos de insolvência.
K, para ter a referida quantia disponível havia previamente celebrado dois contratos:
um primeiro contrato com um seu amigo, G, nos termos do qual este se obrigava a entregar a K a quantia
de 50.000,00€, ficando K obrigado a restituir a quantia em singelo. Para garantia do cumprimento do
contrato, K acordou com G a transmissão em garantia do seu carro
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• Se o devedor pagar tudo quando deve, o credor devolve o bem, uma vez que só tinha a propriedade
do bem como forma de garantia. Se o devedor não paga, o credor pode vendê-lo a preço de
mercado e, com esse valor, satisfaz o que lhe é devido – o restante não fica para o credor, tendo
de o devolver ao devedor. Em vez de vender o bem, caso queira ficar com o mesmo, o credor tem
de contratar um ROC para avaliar o bem – este dirá qual é o valor do bem e, em vez de vender
o bem, fica com ele nesse valor, pedindo o que faltar ao devedor; caso o bem valha mais do que o
seu crédito, tem de devolver essa diferença ao devedor;
um segundo contrato com o Banco Y, nos termos do qual o banco lhe entregava 50.000,00€, ficando K
obrigado a restituir a quantia acrescida de juros à taxa fixa de 3%, em 60 prestações mensais, de igual
montante
Que contrato temos aqui?
Estamos perante um empréstimo bancário.
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Nos termos do art. 362.º, CCom, este é um ato comercial. O empréstimo bancário não se confunde
com o empréstimo mercantil (art. 394.º e ss., CCom) – contrato pelo qual se empresta determinada coisa,
para que ela seja utilizada no âmbito de outro ato comercial (ato acessoriamente comercial).
O mútuo bancário é um contrato de empréstimo celebrado entre uma entidade qualquer (para
qualquer fim que ela queira) e um banco – qualquer empréstimo celebrado por um banco será considerado
um mútuo bancário.
Ao mútuo bancário aplicam-se, primeiro, as regras especiais que existam para este contrato.
Subsidiariamente, podem-se aplicar as regras do empréstimo mercantil, apenas na medida em que faça
sentido essa aplicação (ex.: se for um mútuo bancário que seja ao mesmo tempo um empréstimo mercantil
– o banco empresta dinheiro a uma entidade para que esta utilize o dinheiro para a prática de um ato
comercial). Pode-se aplicar ainda o regime geral do mútuo civil oneroso.
No que respeita à forma, o contrato de mútuo bancário encontra-se normalmente sujeito a forma
uniforme para qualquer tipo de mútuo: documento particular. Não tem a sua forma indexada ao valor do
empréstimo; contudo, é necessário conjugar este regime com o regime especial previsto para o
empréstimo mercantil (que pode ser provado de qualquer forma) – se um banco celebra um empréstimo
com um comerciante, é defensável dizer que este empréstimo nem está sujeito a documento particular.
No que respeita aos prazos de cumprimentos, os mútuos podem ser de 3 tipos:
• Empréstimos de curto prazo: cumprimento integral inferior a 1 ano;
• Empréstimos de médio prazo: cumprimento integral superior a 1 ano e inferior a 5 anos;
• Empréstimos de longo prazo: cumprimento integral superior a 5 anos.
Os mútuos podem ser garantidos ou a descoberto.
Quanto às garantias: existe um fenómeno de sobregarantia (considerado ilícito em PT) – consiste
na exigência por parte dos bancos de garantias manifestamente superiores ao valor do crédito (ex.:
um cliente pede 1.000€ para comprar um telemóvel e o banco pede para hipotecar a casa). À luz do regime
jurídico das cláusulas contratuais gerais, uma disposição que preveja garantias excessivas é nula (arts. 15.º
e 22.º/1, m) do DL nº 446/85 + art. 280.º, CC).
Além das garantias, os bancos negoceiam ainda dois tipos de cláusulas:
• Convenants – conjunto de obrigações que os bancos normalmente impõem às empresas
quando lhes emprestam dinheiro e, nomeadamente, grandes quantias de dinheiro (ex.:
uma empresa pede 1 milhão de euros ao banco, mas este exige o cumprimento de um
conjunto de obrigações: imaginemos que o banco impõe que a empresa, nos próximos 5
anos, não pode distribuir lucros aos acionistas, vender um imóvel sem autorização do banco
ou tem que ter índices financeiros X e Y – o objetivo é o banco emprestar dinheiro, mas ter
influência na gestão da sociedade) → tratam-se de limitações à gestão das empresas que
visam garantir o reto cumprimento do empréstimo.
• Events of default – são um conjunto de circunstâncias que se preveem no contrato que,
se se verificarem, permitem que o banco resolva imediatamente o contrato. É uma
situação de incumprimento que permite ao banco resolver logo o contrato (ex.: o banco sabe
que a empresa se encontra em situação de incumprimento face a 2 ou mais credores com
quantias superiores a X euros; a empresa, na sua conta do banco, deixa de ter depositados
50.000€; a empresa muda de acionistas).
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NOTAS:
• Existem as chamadas DDs (due diligence), em que os advogados analisam os riscos dos contratos
das grandes sociedades;
• contratos de franchising → diz-se que a empresa não pode mudar de acionistas, salvo com
autorização. Se for sem autorização, perde-se direito a utilizar a marca, apesar de se adquirir
empresa.
O modo de restituição do montante emprestado está sujeito à autonomia das partes, salvo se houver
alguma regra que proteja, p.e., o consumidor. Esta restituição pode ser feita:
• A prestações: pode ser através, p.e., de prestações constantes (paga sempre 400€ todos os
meses durante todo o período do contrato), prestações crescentes (começa a pagar 40€, no
mês seguinte 60€, no seguinte 100€ e no final 5.000€) ou prestações decrescentes (começa
com 5.000€ e vai reduzindo);
Ex.: As partes determinam que se vencerão juros à taxa de 4%; logo, estes vão-se
vencer à taxa de 4% no primeiro e no último mês de pagamentos.
o Indexante: Normalmente é a Euribor (taxa que pode ser a 1 dia, a 1 mês, a 1 ano,
etc.; a Euribor é a média das taxas que são acordadas entre os financiamentos
celebrados pelos principais bancos europeus – os prime banks; este valor vai sendo
atualizado de tempos a tempos);
o Spread: É a forma que o banco tem de classificar o risco de emprestar o dinheiro ao
seu cliente – se o spread é de 0.5%, haverá mais possibilidades de pagar o
empréstimo do que se o spread for de 4%; o banco atribui ao cliente uma taxa de
risco de cumprimento do empréstimo consoante o cliente em causa – sendo o risco
mais baixo, o spread também será baixo.
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com taxa fixa, corre o risco associado às alterações económicas, pois a taxa que escolheu pode já não ser
apropriada face às circunstâncias económicas. Assim, se se aplica taxa fixa, o banco vai aumentar o valor
da prestação todos os meses para ser remunerado por esse risco.
Quinze dias volvidos, e estando a X, Lda com dificuldades de tesouraria para pagamento das rendas
financeiras atinentes aos seus carros de serviço
Que contrato está em causa?
Está-se perante um contrato de locação financeira/leasing: uma das partes obriga-se a comprar ou
mandar fazer determinado bem escolhido pela contraparte, ficando esta obrigada ao pagamento de
determinada prestação e, findo o contrato, tendo a possibilidade de adquirir o bem pelo valor residual.
Contrato regulado de forma especial no DL nº 149/2005.
contratou com o seu banco a disponibilização, por este último, de 5.000,00€, pelo prazo de seis meses
renováveis e reutilizável, para que esta os pudesse utilizar, sempre que necessário. Em troco, a X, Lda
pagou ao banco 500,00€.
Que negócio temos aqui?
Tem-se um contrato de abertura de crédito (diferente do contrato de mútuo), no qual o banco
empresta dinheiro para o mutuário utilizar ou utilizar para a compra de alguma coisa.
Na abertura de crédito, o banco disponibiliza este dinheiro para o caso de o cliente querer. Em
vez de emprestar o dinheiro e, a partir desse momento, o cliente dever dinheiro e vencerem-se juros, o
banco disponibiliza dinheiro por certo período durante o qual, sempre que o cliente quiser, pode pegar
em parte ou na totalidade do dinheiro – só quando pega no dinheiro é que fica obrigado a restituir o
valor e os juros. Neste contrato o dinheiro apenas fica disponível, não passando diretamente para o
cliente, como acontece no mútuo – se não utilizar, apenas paga uma comissão de manutenção da conta,
de modo a remunerar o banco por ter o dinheiro à espera de ser utilizado.
Pedro Pais Vasconcelos chama-lhe “contrato de mútuo de utilização diferida e potestativa” –
isto porque, no contrato de abertura de crédito, a utilização do dinheiro fica na dependência do mutuário
e a utilização pode ser diferida no tempo (no mútuo, a utilização é imediata; neste caso, o dinheiro está
parado e só vencem juros quando for utilizar o dinheiro).
Este contrato tem algumas vantagens face ao mútuo:
• Estes contratos podem ser relevantes para empresas que queiram saber com que quantias
podem contar que lhes sejam disponibilizadas pelo banco.
Ex.: Uma pessoa está à procura de apartamentos para investimento – pode escolher
o apartamento e só depois fala com o banco para saber quando lhe empresta; a
negociação pode ser longa e o banco pode disponibilizar menos dinheiro do que
precisa. Assim, é mais vantajoso saber quanto dinheiro o banco pode emprestar e, a
partir daí, procurar uma casa nesse valor, comprando logo a casa mal a encontre).
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• Para a tesouraria das empresas é muito mais interessante ter uma abertura de crédito, dado
que uma empresa pode querer saber que conseguirá, a qualquer momento, pagar
qualquer dívida que se vença, mesmo que um cliente seu não pague os valores que são
devidos à empresa.
Ex.: O banco disponibiliza 50.000€ - se utilizar 5.000€, mesmo que devolva, só tem
à sua disposição 45.000€.
Ex.: O banco disponibiliza 50.000€; se utiliza 5.000€, ficam 45.000€, mas se devolve
os 5.000€ que utilizou, volta a ter 50.000€.
Estas aberturas de crédito podem ser:
• A prazo: O banco apenas disponibiliza dinheiro, p.e., pelos próximos 6 meses. Se não
utilizar, deixa de estar disponível;
• Por tempo indeterminado: O banco disponibiliza por tempo indeterminado. Quando quiser
deixar de disponibilizar, vai avisar o cliente em prazo razoável.
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comprar. Além disso, estes bens precisam de manutenção ou atualizações constantes, e a empresa não
tem conhecimento suficiente para assegurar isso – assim, vai ter com uma entidade, querendo que
disponibilize os bens por certo período de tempo e vai pagar pelos mesmos, mas também pela sua
manutenção. Imaginando que a garantia dos bens é de 10 anos, a empresa vai pagar menos e utiliza pelo
mesmo período de tempo ou até paga o mesmo, mas utiliza os bens e tem a prestação de serviços associada.
Este, por sua vez, celebra com o seu banco um contrato nos termos do qual transmite e entrega o referido
título de crédito ao banco que lhe credita o valor nominal do crédito, deduzido de juros e comissões
bancárias
Que contrato é este?
Este é um contrato de desconto bancário: contrato próximo da cessão financeira/factoring. No
entanto, tem algumas diferenças.
Um cliente do banco tem um título de crédito (folha com ordem de pagamento ou promessa de
pagamento: será uma ordem de pagamento se, p.e., A escreve nesse título que manda que B pague 1.000€
a C – C fica com este título de crédito para exigir a B que lhe pague 1.000€ tal como A mandou; é uma
promessa de pagamento se A disser que promete a X que lhe pagará 1.000€ - X tem papel em que A se
prometeu a pagar).
Estes títulos de crédito vencem-se em determinada data – ex.: A dá ordem para B pagar em 90
dias ou promete que paga em 90 dias. O que acontece? Por vezes, as empresas pegam nesses títulos, vão
ter com o banco e dizem que, à partida, em 90 dias terão 1.000€; contudo, querem os 1.000€ agora. O
banco aceita – o cliente vai transmitir o título através de endosso (a pessoa escreve no título que sabe que
A deu ordem para B pagar a si, mas diz para pagar antes ao banco). Assim, quando diz que vai endossar
este título de crédito, o banco, em vez de pagar 1.000€, paga já 900€.
A diferença dos 900€ para os 1000€ é cedida pelo banco a título de várias comissões e recebe-os
a título de juros adiantados. Este é um dos poucos casos em que existe um vencimento e pagamento de
juros antes do decurso do tempo que levou à sua constituição. Aqueles juros dizem respeito aos 90 dias
que ainda nem sequer tiveram lugar.
Tem algumas diferenças face ao contrato de factoring:
• Na base do contrato de desconto bancário está sempre o título de crédito que é transmitido;
já no contrato de factoring é um crédito que é cedido, mas não é um título de crédito;
• No desconto bancário existe sempre uma função de financiamento. No contrato de
factoring, o financiamento pode (ou não) ter uma função associada;
• No contrato de factoring, quando existe financiamento, o seu valor não ultrapassa
normalmente 50% do valor do crédito. No desconto bancário, o financiamento diz
respeito ao máximo permitido, apenas se retirando do financiamento as quantias
necessárias para a remuneração do próprio banco.
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Casos práticos nº 4
I.
O Banco A celebrou, por documento particular, com a B, Editora, Lda um contrato nos termos do qual
se obrigou a, mediante o pagamento de 370 rendas mensais de 500€, ceder a B, Editora, Lda o gozo
temporário da fração A de um imóvel sito na Rua Gonçalves Cristóvão, tendo esta última direito a
comprar, findo o pagamento das rendas, a mesma fração por 15.000€.
i.
Caracterize o contrato celebrado entre o Banco A e a Editora, Lda.
Temos aqui um contrato de locação financeira – “contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante
retribuição, a ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída
por indicação desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço nele
determinado ou determinável mediante simples aplicação dos critérios nele fixados” (art. 1.º, DL nº
149/95, de 24 de junho).
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CONCLUSÃO: Uma parte do regime visa regular a função do bem como garantia e outra trata da locação
financeira como um contrato de crédito.
Existem duas partes no contrato de locação financeira:
• Locador – É quem disponibiliza um determinado bem ao locatário;
• Locatário – É a pessoa que escolheu o bem que o locador vai comprar ou mandar fazer, ficando
obrigado ao pagamento das rendas financeiras e tem direito de optar por comprar o bem no final do
contrato.
Qualquer pessoa pode ser locador ou locatário. Porém, só podem exercer a título profissional a
atividade de locação financeira os bancos, instituições de crédito e as sociedades de locação financeira
(arts. 4.º e 8.º do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras).
No que respeita ao objeto da locação financeira, o art. 2.º do DL diz que qualquer coisa que possa
ser objeto de contrato de locação pode ser objeto de contrato de locação financeira. Portanto, incluímos
bens móveis, bens imóveis e até bens imateriais (caso de um estabelecimento comercial, patentes, marcas
e softwares).
Quanto à forma, o contrato está sujeito a forma escrita, sob pena de ser nulo.
• Os contratos de locação financeira que tenham por objeto bens imóveis têm de ser celebrados
por escrito e com reconhecimento presencial das assinaturas (por advogados ou notários,
que fazem fé daquilo que são as assinaturas apostas num contrato);
• O contrato de locação financeira pode ainda estar sujeito a registo, nomeadamente quando
diga respeito a um bem imóvel.
Os prazos de duração do contrato estão previstos no art. 6.º, DL: os nº 1 e 2 têm limites máximos
de duração do contrato; já o nº 3 tem os prazos supletivos, caso outros não sejam acordados pelas partes.
• Quanto aos limites máximos: nenhum contrato de locação financeira pode ser celebrado por
prazo superior a 30 anos (princípio geral das obrigações) – pretende-se evitar as
obrigações perpétuas.
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O art.6.º/1 DL tem uma limitação apenas aplicável aos bens móveis que são locados
financeiramente: não pode ter um prazo superior ao da utilização normal do bem (p.e.: se o
contrato de locação financeira for relativo a um telemóvel, este não pode ser superior a 10 anos,
porque ultrapassa o período normal de utilização de um telemóvel).
- Prazos supletivos (art.6.º/3 DL): se as partes nada acordarem, o prazo será de 18 meses se a coisa
for móvel, e será de 7 anos se a coisa for imóvel.
Quanto às rendas financeiras: estas podem ser livremente estipuladas pelas partes. Mas, inicialmente,
legislador tinha previsto um regime mais restritivo. Elas estão sujeitas à liberdade das partes.
Podem ser constantes (ao longo de todo o contrato, a renda terá sempre o mesmo valor), podem ser
progressivas (renda vai aumentando ao longo dos meses) ou podem ser regressivas (rendas vão
diminuindo ao longo do tempo).
Estes contratos podem ser de dois tipos quanto ao pagamento de rendas:
- Full-pay-out leasing: valor é pago integralmente ao longo do contrato
- Non full-pay-out leasing: as rendas pagas são inferiores ao valor do bem, pelo que, para
adquirir o bem no final do contrato, o locatário terá de pagar um valor maior
Exemplo: celebramos 2 contratos de leasing de carros cada um a valer 20.000€. Podemos
ter um contrato em que o valor é integralmente pago ao longo do contrato e, no final, para ficar com
carro, o locatário só tem que pagar, p.e., 1000€. Noutro caso, podemos ter rendas bastante inferiores,
em que o valor para aquisição do carro será superior.
As rendas financeiras são compostas por uma parte de amortização do capital e outra de juros.
Ou seja, as rendas são, em parte, a restituição do valor adiantado pelo banco e são, em parte, a
remuneração do banco por esse adiantamento.
Isto tem algumas consequências no que respeita ao regime que se aplica às rendas financeiras
– aplica-se um regime para a amortização de capital e outro regime para os juros que se venceram. Relevante
a dois propósitos:
- Perda do benefício do prazo não afeta juros ainda não vencidos
- Resolução do contrato: obrigações duradouras fracionadas são todas restituídas.
No entanto, esta restituição não envolve a restituição dos juros – sendo uma
obrigação duradoura que se constitui, não no momento da celebração do contrato,
mas sim com o passar do tempo, não serão restituídos com a resolução do contrato.
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Art.12.º DL: os vícios do bem locado não serão imputados nunca ao locador. O locador é apenas um
intermediário entre vendedor do bem e o seu cliente, locatário.
Art.12.º diz que o banco não responderá pelos vícios do bem que tiver sido escolhido pelo cliente e
que tiver sido fornecido pelo vendedor/empreiteiro.
Se cliente recebe carro em que faróis não funcionam, o que o cliente pode fazer? Art.13.º DL: o
banco não está interessado em saber se o bem tem problemas ou não, e porque o banco não será responsável
pelos vícios da coisa, o legislador atribui ao locatário a possibilidade de exercer os direitos que locador
tem no âmbito do contrato de compra e venda que celebrou com o vendedor/empreiteiro. Não se pode
dizer, porém, que existe transmissão da posição contratual – locador continua a ser a parte nesse contrato
de compra e venda ou empreitada.
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Assim, o locatário pode exercer todos os direitos que locador tem face ao terceiro: interpelar
para cumprimento, resolver o contrato, anular contrato, pedir reparação ou substituição do bem, etc.
Se o terceiro não cumpre, o locatário, nos termos do art.13.º, pode resolver o contrato celebrado
entre o terceiro e o locador. Se resolver esse contrato, esse contrato desaparece e o contrato de locação
financeira também desaparece, na medida em que são contratos que estão ligados.
Art.14.º: despesas associadas ao contrato (seguro e transporte, essencialmente) correm por conta do
locatário. Banco já fez a sua parte; os restantes custos estão do lado do locatário que está a ser financiado
e que vai utilizar o bem.
Art.15.º: risco da perda do bem – este risco corre, à partida, por conta do locatário, como já vimos.
Art.19.º: ainda que o próprio contrato de locatário financeiro tenha subjacente uma garantia (propriedade
do bem), podem as partes acordar a constituição de outras garantias, nos termos gerais. A este
propósito – fenómeno da sobregarantia, que é proibido, porque é cláusula contrária à boa fé (nos termos
do regime das cláusulas contratuais gerais).
ii.
Será o mencionado contrato válido? E se tivesse sido celebrado por um privado em vez do banco?
O prazo máximo não foi cumprido, mas isto não torna o contrato nulo. Nos termos do art6.º/2, apenas se
considera o prazo do contrato reduzido ao seu limite máximo – 30 anos.
No que respeita à forma, o contrato seria nulo, porque sendo bem imóvel, teria que ser celebrado com
reconhecimento das assinaturas.
Relativamente à segunda parte da pergunta (E se tivesse sido celebrado por um privado em vez do banco?):
podem ser parte da locação financeira particulares. Simplesmente, a atividade de locação financeira
apenas pode ser exercida profissionalmente por aquelas instituições. Mas seria válido.
iii.
Quid iuris se o Banco A desconfia que a B, Editora, Lda nunca chegou a mudar-se para a fração, tendo
aproveitado para a arrendar a jovens turistas que descuidam a sua conservação, partindo paredes e
danificando os corrimões das escadas da fração?
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O locatário tem o dever não aplicar bem a fim diverso, de conservar o bem e de não proporcionar a outrem
o gozo do bem. Ora, o locatário possivelmente violou estas 3 obrigações – qual a consequência?
O que pode o locador fazer? Vamos seguir o regime geral previsto no CC, nos termos do art.17.º DL,
que diz que pode ser resolvido por qualquer das partes com fundamento no incumprimento da outra parte.
Há uma remissão restritiva para o regime da locação, no que respeita aos direitos das partes. Mas
não significa que se aplicam diretamente todas as normas da locação: o art.17.º exclui determinadas
normas, nomeadamente, relativamente ao incumprimento.
No entanto, aplicam-se as regras gerais: incumprimento é tão grave que levou a quebra da
confiança e pode levar a resolução imediata OU através da mora, poderia interpelar para o
cumprimento – se não restituísse coisa nos termos em que deveria encontrar-se, transforma-se em
incumprimento definitivo, podendo resolver o contrato.
Querendo o locador resolver o contrato de locação financeira, quais seriam os efeitos?
- Restituição do bem
- Restituição dos valores pagos a título de amortização (não vai incluir os juros)
- Possibilidade de pedir indemnização pelos danos sofridos
Imaginando que locador tem ao mesmo tempo uma dívida e um crédito: pode compensar os valores.
iv.
Quid iuris se o Banco A recebe uma carta do condomínio da fração A interpelando-o para o pagamento
da sua quota-parte nas despesas correntes do condomínio?
Temos um terceiro que vai agir. Para o condomínio, o proprietário é só um. Face ao condomínio, o
locador tem obrigação e pagar os valores em causa. Simplesmente, terá depois o direito de exigir que
o locatário lhe pague estes valores, na medida em que é uma obrigação sua.
Na prática, para evitar a realização de duas transferências, o banco envia para o locatário logo as referências
bancárias para que ele pague diretamente ao condomínio.
v.
Quid iuris se, findo o prazo do contrato, B, Editora, Lda decidiu não comprar a fração e, quando a
desocupava levou consigo as portas que havia colocado na fração quando para lá foi morar?
O Banco terá o direito de exigir aquelas peças, na medida em que tem o direito às peças que foram
anexadas ao bem locado.
Poderá exigir a instalação daquelas peças ou uma indemnização associada ao cumprimento.
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III.
O Banco C celebrou com a Transportes Eletrónicos, Lda um contrato nos termos do qual se obrigou a,
mediante o pagamento de rendas no valor de 500€, ceder à Transportes Eletrónicos, Lda o gozo
temporário de um automóvel, tendo esta última o direito a comprar o automóvel, findo o pagamento das
rendas, pelo valor de 1.000€.
Poderá o Banco C resolver o contrato caso a Transportes Eletrónicos, Lda não pague uma das rendas?
Existe um conjunto de institutos no regime civil que têm uma força expansiva, isto é, o próprio legislador
considera que têm de ser aplicados a outras situações que, ainda que não sejam iguais, são semelhantes. É
isto mesmo que nos diz o art.936.º/1 CC.
Um dos exemplos que se dá é o contrato de locação financeira, porque através dele se pretende atingir um
resultado semelhante ao adquirido com a compra e venda a prestações: alguém consegue o gozo temporário
de u bem através do pagamento de rendas.
Assim, sendo um caso semelhante, vamos aplicar o art.934.º CC por aplicação do art.936.º/1 CC –
assim, o contrato não poderia ser resolvido pelo incumprimento de uma prestação inferior a 1/8 do
preço.
II.
O Banco A celebrou com a Laboratórios, S.A. um contrato nos termos do qual se obrigou a, mediante o
pagamento de 10 rendas de 500€, ceder à Laboratórios, S.A. o gozo temporário de um software produzido
de propósito pela Softwares, S.A., tendo a Laboratórios, S.A. direito a comprar o software, findo o
pagamento das rendas, por um 1.000€.
i.
Que poderá a Laboratórios, S.A. fazer se, apesar de ter sido acordado que a entrega do software se faria
no dia 1 de Dezembro, este não tiver sido disponibilizado pela Softwares, S.A. nessa data?
Art.13.º DL – locatário vai poder exercer os direitos que o locador tinha face ao vendedor/empreiteiro.
Portanto, poderá interpelar para o cumprimento e, findo o prazo para cumprimento, proceder à resolução
do contrato.
A resolução do contrato de compra e venda tem como efeito subsequente a caducidade do contrato
celebrado entre o locatário e o locador.
Quando o contrato é resolvido, da resolução e do incumprimento contratual, pode resultar um dano muito
superior para o locatário face ao dano que o banco terá – será que o valor que o locatário pode exigir a
título de dano tem que ser o valor do locador? A doutrina diz que não – a indemnização que o terceiro vai
ter que pagar vai ser do dano suportado pelo locatário e não apenas do locador.
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ii.
Quid iuris se, o Banco A pretende resolver o contrato celebrado por ter tido conhecimento da declaração
de insolvência da Laboratórios, S.A.? Quais são os efeitos da declaração de insolvência no contrato de
locação financeira celebrado pelas partes?
A doutrina faz uma interpretação restritiva do art.18.º DL – lido à letra, o art.18º permitiria que o locador
resolvesse o contrato depois de o locatário ser declarado insolvente. No entanto, a doutrina diz que este
artigo tem que ser conjugado com os art.102.º e ss CIRE – dizem respeito ao modo como a insolvência
afeta negócios em curso, ou seja, negócios que ainda não foram cumpridos integralmente nem pelo
insolvente, nem pelo seu credor.
Qual o regime dos negócios em curso? O art.102.º CIRE diz que, regra geral, com a declaração de
insolvência, o administrador de insolvência poderá tomar uma de duas decisões: ou considera que o
contrato tem que continuar a ser cumprido, porque é essencial à continuação a atividade do insolvente,
ou considera que é irrelevante, e o contrato deixa de ser cumprido.
Ao ter esta possibilidade, o administrador de insolvência escolhe os contratos essenciais para
que a atividade da empresa continue, para que mais credores possam ver os seus créditos ressarcidos.
Ora, se o art.102.º CIRE atribui esta competência ao administrador de insolvência, não fará sentido que a
lei que regula a locação financeira diga que pode o credor resolver o contrato, pois o objetivo foi
permitir apenas ao administrador de insolvência decidir se o contrato continua a ser cumprido ou
não. Isso justifica aquela interpretação restritiva que se faz do art.18.º DL – esta possibilidade de resolver
o contrato apenas existe até ao momento da declaração de insolvência; a partir desse momento, apenas o
administrador de insolvência poderá resolver o contrato.
Quais são os efeitos da declaração de insolvência? Nos termos do art.102.º e ss CIRE, o administrador
de insolvência tem possibilidade de escolher entre cumprir o contrato ou não cumprir.
Se escolher cumprir o contrato, as dívidas que resultam desse cumprimento serão consideradas
como dívidas da massa insolvente – vantagem: a dívida é satisfeita antes das demais dívidas (as dívidas
que se venceram antes desta escolha serão créditos normais).
Se escolher não cumprir o contrato nos termos do art.102.º/3 CIRE: no caso da locação financeira,
esta norma aplica-se por remissão do art.104.º CIRE, porque o art.102.º tem o princípio geral das regras
que se aplicam aos contratos em curso; o art.104.º regula os efeitos da insolvência quando em causa está
venda com reserva de propriedade ou operações semelhantes (aqui inclui-se a locação financeira) –
art.104.º/5 remete para os efeitos previstos no art.102.º/3 CIRE:
➢ Nenhuma das partes tem direito à restituição do que prestou (não significa que não haja
restituição do bem em si – bem continua na propriedade do banco)
➢ É considerado como crédito a favor da massa (a massa insolvente tem direito a exigir o valor
da contraprestação correspondente à prestação já efetuada pelo devedor, na medida em que
não tenha sido ainda realizada pela outra parte: se a massa insolvente já tiver concretizado
parte do contrato, mas contraparte não realizou prestação respetiva, massa terá direito a valor
dessa contraprestação)
➢ Há um crédito a favor do credor (o credor da massa, que é o locador, neste caso). O
art.102.º/3/c) CIRE diz que o locador terá direito ao pagamento da diferença entre o montante
das prestações que se venceriam até ao final do contrato e o valor da coisa na data da recusa
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(quando o contrato é resolvido, o banco teria direito a receber, p.e., 4000€ até ao fim do
contrato; mas ao ser resolvido o contrato, o banco apenas recebe a coisa de volta, mas esta
pode valer apenas 3000€ - há diferença entre estes dois valores que não será ressarcida. A
alínea c) diz que a parte vai ser ressarcida dessa diferença de valores)
➢ Além disto, o locador terá ainda direito a receber uma indemnização pelos prejuízos
causados pelo incumprimento – esta indemnização é, no entanto, limitada, nos termos da
alínea d) (apenas existe até ao valor previsto na alínea b) – o prof Pestana considera que não
se aplica aos casos de locação financeira, sob pena de o valor poder sempre ser 0, mas é o que
a lei diz; é abatido do quantitativo da indemnização o valor que a parte tiver que receber nos
termos da alínea c), porque parte dos danos já vai estar coberta ao abrigo da alínea c); crédito
será um crédito sobre a insolvência, não sendo considerado uma dívida da massa)
- Exemplo: imaginemos que um submarino que foi locado financeiramente valia
inicialmente 600.000€. O locatário é considerado insolvente. Como o bem já tinha uso, já
não valia os 600.000€, mas sim 400.000€, e ainda faltavam pagar prestações no valor de
500.000€. Se não cumprir, o submarino é devolvido ao locador, que não tem que restitui os
valores que recebeu de rendas (art.102.º/3/a) CIRE); o locatário nada tem que receber
(art.102.º/3/b) CIRE); o banco tem que receber diferença entre prestações que receberia e
valor do submarino (art.102.º/3/c) CIRE) (tem direito a receber 100.000€); tem ainda direito
a indemnização (art.102.º/3/d) CIRE).
- Pode também acontecer que o valor do bem seja superior ao valor das prestações – nesse
caso, o banco recebe mais do que aquilo que tinha ficado acordado pelo contrato. Esta
diferença tem que ser devolvida à massa insolvente, sob pena de estarmos perante um
enriquecimento sem causa.
Contrato de factoring:
É o contrato nos termos do qual uma das partes (cedente) cede a uma instituição financeira/banco um
conjunto de créditos comerciais de curto prazo para que o banco preste um de vários serviços –
nomeadamente, administração e cobrança dos créditos, adiantamento do valor/parte do valor nominal dos
créditos, ou serviço de garantia. A par destes serviços, pode ainda prestar serviços de consultoria, de análise
dos vários clientes da empresa, para lhe dizer se acha boa ideia que possam ter créditos tão elevados junto
da empresa. Todos estes serviços são opcionais, podendo ou não existir no contrato de factoring.
O elemento essencial neste contrato é a existência de uma cessão de créditos de curto prazo, decorrentes
de contratos de prestação de serviços ou de fornecimento de bens.
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É um contrato oneroso, consensual, duradouro, sinalagmático e bilateral: este contrato tem duas partes,
cria obrigações para ambas as partes, estas obrigações correspondem a contrapartidas umas das outras.
Art.2.º DL tenta definir a atividade de factoring: define de forma semelhante à que definimos no início,
sobretudo, através da menção à necessidade de cessão de créditos – todos os outros serviços não são
essenciais à definição.
Assim, nos termos do art.2.º/1 DL, o factoring “consiste à aquisição de créditos de curto prazo,
derivados da venda de produtos ou da prestação de serviços, nos mercados interno e externo”.
O art.2.º/2 DL prevê atividades complementares, sobretudo, de consultoria (“estudo dos riscos de
crédito e de apoio jurídico, comercial e contabilístico à boa gestão dos créditos transacionados”).
O contrato de factoring tem um conteúdo típico, que está sobretudo sujeito à vontade das partes –
algumas matérias sempre presentes:
- Modo de entrega dos créditos – como serão transmitidos: pode ser através da celebração de
contratos de execução (factoring bifásico) ou apenas por força do contrato original (factoring monofásico)
- Forma como é feita a notificação ao devedor
- Termos dos pagamentos a realizar (dinheiro, transferência, qual a conta bancária, apenas na data
de vencimento ou antecipadamente, etc.)
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- Regras quanto aos créditos a transmitir, modos de aceitação por parte do factor (pode
escolher quais os créditos com que quer ficar) e regras de gestão da sociedade (que terá que cumprir para
que o banco aceite garantir todas as obrigações transmitidas, adiantar o valor desses créditos, p.e.)
- Regras relativas ao risco assumido pelas partes (perceber quem corre o risco pelo
incumprimento de obrigações de terceiros – apenas aderente, apenas banco, posição intermédia dos dois)
- Remunerações do factor (perceber o que o banco terá direito a receber)
- Exclusividade do contrato (banco normalmente exige que o único contrato de factoring que exista
seja consigo – aderente pode, no entanto, ter contratos de factoring celebrados com diferentes bancos)
Qualquer pessoa pode celebrar contrato de factoring, mas apenas os bancos, instituições de crédito
podem celebrar estes contratos de forma profissional (art.4.º/1/b) e art.8.º/2 DL).
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1. Com recurso sem adiantamento: neste contrato, não há prestação de qualquer garantia, nem
qualquer financiamento – apenas é prestado o serviço de administração dos bens (função de
cobrança). O cliente transmite crédito para que banco tente cobrar o crédito – se conseguir, vai
entregar o valor do crédito, deduzindo a comissão de cobrança; se não conseguir cobrar o crédito, vai
retransmitir o crédito e o cliente paga a comissão de cobrança. Este contrato é um contrato de
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mandato sem representação (nos termos do qual o banco se obriga a praticar um ato jurídico em
nome próprio, mas por conta de outrem, o aderente), havendo a transferência fiduciária do crédito
– ou seja, o crédito apenas é transmitido da esfera do aderente para a esfera do banco para que o banco
administre e tente cobrar o crédito; depois disto, se o crédito não se tiver extinguido, ele deve ser
devolvido ao aderente. Esta qualificação é importante, porque o contrato de factoring é um contrato
legalmente atípico, pelo que, quando existe um litígio dele emergente, que não tem norma
especialmente prevista para o factoring, é preciso perceber que normas podemos aplicar – neste caso,
poder-se-iam aplicar as normas do contrato de mandato sem representação e as normas associadas à
transferência fiduciária do crédito.
3. Sem recurso com adiantamento (full factoring): são prestados todos os serviços (adiantamento,
cobrança e garantia). Como funciona? Por um lado, logo inicialmente há a transmissão do crédito
e o adiantamento do valor (p.e., 50€); depois, o factor vai tentar obter este valor junto do devedor – o
que acontece se o devedor cumpre? O banco entrega esse valor ao aderente, deduzindo os 50€
adiantados, as comissões de cobrança e de garantia, e os juros. E se o devedor não pagar? Acontece
o mesmo, caso o devedor tivesse pago – o aderente transmite para o banco as quantias que referimos,
as quantias já pagas, os juros associados e as comissões de garantia e cobrança. Em causa está um
mútuo com restituição atípica – aqui, a restituição, parte da doutrina, diz que em vez de ser feita
através de dação em cumprimento pro solvendo, é feita através de uma dação em cumprimento pro
soluto, ou seja, estamos perante um mútuo em que o mutuário em vez de se obrigar a restituir o valor
mutuado obriga-se a transmitir um crédito, e com a transmissão deste crédito, extingue-se a sua
obrigação de pagamento (daí que seja pro soluto). Parte da doutrina diz que estamos antes perante
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uma dação pro solvendo, tal como no caso anterior – neste caso, o crédito tinha sido transmitido ao
banco para que este o cobrasse ao devedor, não tendo conseguido cobrar o crédito; aqui, banco
devolveria o crédito e exigiria o valor que o aderente lhe devia (que valor? O valor de 50€, que tinha
sido adiantado); assim, nasceria na esfera do aderente a obrigação de pagar 50€ ao banco, mas o
banco também tinha garantido o cumprimento do crédito – significa que quando o devedor não
paga, nasce na esfera do banco uma obrigação de pagar ao aderente o valor do crédito (100€) –
assim, haveria uma compensação entre os 50€ e parte dos 100€, logo, o banco apenas ficaria
obrigado a entregar 50€, retirando já uma parte relativa aos juros, comissão de garantia e comissão
de cobrança. Assim, o resultado é o mesmo, mas o meio defendido pela doutrina é diferente –
mas qual a relevância? Os regimes das duas dações são diferentes, podendo ter requisitos ou efeitos
diferentes.
4. Sem recurso sem adiantamento: aqui, são prestados os serviços de garantia e cobrança. Neste
caso, existe a cedência do crédito e, uma vez cedido, o banco vai cobrar o crédito. Se o devedor paga,
o banco entrega esse valor ao cliente, retirando já a parte relativa às comissões de garantia e cobrança.
Se o devedor não paga, tem que entregar na mesma essa quantia. Estamos perante um contrato de
mandato sem representação e perante uma fiança atípica – a garantia do cumprimento do crédito
pode ser reconduzida à existência de uma fiança, simplesmente, é um caso concreto de uma fiança
atípica (fiança deste contrato tem contornos diferentes da fiança prevista no CC).
Além destes regimes associados a estes contratos, há um regime supletivo que se aplica em qualquer
contrato de factoring, na medida em que na sua base está uma cessão de créditos – regime da cessão de
créditos (art.577.º a 588.º CC):
À partida, os créditos são sempre cedíveis, sem a necessidade de consentimento do devedor. Só
não será assim num conjunto de situações previstas no art.577.º CC: quando a lei estipula que o crédito não
é transmissível, quando a própria natureza do crédito faz com que ele não seja transmissível (p.e.: crédito
relativo a alimentos, que é um crédito pessoal intransmissível) ou quando as partes acordam a não
transmissibilidade do crédito. Porém, neste último caso, a não transmissibilidade do crédito não é
oponível a terceiros, salvo se se provar que eles conheciam a cláusula de não transmissibilidade
(art.577.º CC).
Quando é que a cessão de créditos produz efeitos? A cessão de créditos produz efeitos entre as
partes aquando da celebração do contrato. Porém, apenas é eficaz face ao devedor, após ter sido
notificado ao mesmo. Isto significa que, até que o credor notifique o devedor, pode o devedor pagar ao
credor originário (art.583.º CC). Se não tiver conhecimento da cessão, o devedor pode opor ao cessionário
o pagamento do crédito e a celebração de qualquer negócio jurídico relativo ao crédito.
O devedor é prejudicado pela cedência do crédito? Em termos de meios de defesa, não sai
prejudicado. Mas em termos práticos, pode sair prejudicado: a cessão de créditos pode ser total ou parcial
– exemplo: A deve 50€ a B; B celebra 50 contratos de cessão de créditos de 1€, tendo A que pagar o mesmo
valor a 50 pessoas (é o mesmo valor, mas os custos associados serão mais elevados). De qualquer forma,
no que respeita aos meios de defesa, o legislador tentou proteger a posição do devedor, dizendo que o
devedor pode usar contra o cessionário todos os meios de defesa que poderia usar face ao cedente no
momento em que teve conhecimento da cedência do crédito. O objetivo é simples: se isto não
acontecesse, haveria forma simples de prejudicar os devedores, transmitindo crédito a terceiro, para que
devedor não pudesse exercer face a esse terceiro os meios de defesa que poderia exercer face ao cessionário.
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Para além dos meios de defesa que poderiam ser usados à data da cessão, podem ainda ser
utilizados (a doutrina diz) face ao cessionário todos os mecanismos de defesa relativos ao caráter
sinalagmático do contrato, sobretudo, 2 meios de defesa: exceção de não cumprimento e direito a
resolver o contrato.
Exemplo: A celebra contrato com B, comprando-lhe computador por 500€. B garante que
computador está em condições. Nesse dia, B celebra cessão de créditos com C, transmitindo o crédito que
tinha sobre A. Entretanto, A repara que o computador não funciona, exigindo a reparação a B, que não
repara – A quer resolver contrato com B, devolve o computador, mas ainda teria que pagar os 500€ a C,
porque ainda não tinha esse meio de defesa à data da notificação. Assim, para se evitar que as pessoas fujam
às suas obrigações, o legislador reconhece os meios de defesa ao devedor contra o cessionário que fossem
lícitos invocar face ao cedente.
Art.582.º CC: todas as garantias do crédito são transmitidas com o próprio crédito (hipoteca,
penhor). Além disso, transmitem-se ainda os “acessórios” – acessórios são direitos acessórios, conexos
com o crédito que está a ser transmitido (p.e.: direito aos juros, direitos associados à escolha de um bem –
se o crédito transmitido for alternativo de 500€ ou um telemóvel, cabendo ao credor escolher entre uma e
outra).
Art.587.º CC: o cedente garante a existência do crédito e a sua exigibilidade (vende crédito que
existe efetivamente e que é exigível, que em termos judiciais levará tribunal a exigir o seu pagamento ao
devedor).
Art.584.º CC: quando determinado crédito é cedido a duas ou mais pessoas, será válida a cessão
que seja primeiramente comunicada ao devedor (exemplo: A tem crédito de 500€ sobre B, transmitindo-
o a C; depois, A transmite crédito a D – na verdade, já não tinha o crédito para ceder pela segunda vez; mas
a segunda cessão pode ser válida, se for a primeiramente comunicada ao devedor – efeitos semelhantes aos
do registo)
A «A, S.A.», instituição de crédito que se dedica à atividade de factoring, adquiriu os créditos que a «C,
S.A.», detinha sobre a «B, S.A.». em virtude de fornecimentos feitos a esta. A cessão de créditos foi
notificada em 8/3/2016. Na mesma data, em reunião havida entre a «B, S.A.» e a «C, S.A.», esta última
aconselhou uma nova solução informática.
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Em 29/6/2016, a «B, S.A.» e a «C, S.A.» acordaram no pagamento dos valores em dívida por aquela a
esta através do pagamento imediato de 50%. Mais acordaram que a «B, S.A.» abatesse ao valor da dívida
a importância de 2.500€, correspondente à inserção de um texto publicitário alusivo à «C, S.A.» no
jornal "Conhecer é saber"; e que o remanescente da dívida seria pago após conclusão do projeto.
Tendo em conta que o projeto contratado ainda não foi concluído, quid iuris se a «B, S.A.» se recusa a
pagar qualquer quantia à «A, S.A.»?
II.
Em 19 de Janeiro de 2010, mediante acordo escrito no 1º Cartório Notarial de Setúbal, a TEKTALK
Lda. e a NOISECANCELING S.A. celebraram um mútuo com hipoteca, na qual a NOISECANCELING
S.A. se considerava devedora da quantia de 5.000,00€, dando como garantia à quantia mutuada uma
hipoteca sobre uma fração autónoma de que era proprietária.
Por acordo escrito celebrado em 17 de Junho de 2011, entre a TEKTALK Lda. e o Banco BPY foram
cedidos por aquela a este os créditos emergentes do contrato de mútuo, com todos os direitos e garantias
inerentes, nomeadamente a hipoteca.
Em 16 de Maio de 2015, o Banco BPY intentou uma ação executiva para pagamento de quantia certa
contra NOISECANCELING S.A.. Poderia o Banco BPY fazer valer-se da hipoteca constituída?
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Nos termos do art.582.º CC, a cessão de créditos importa a transmissão das garantias e outros
acessórios do direito transmitido – portanto, ao transmitir o crédito para o banco, foi transmitida a
hipoteca que o garantia também.
O art.578.º/2 CC prevê que a cessão de créditos hipotecários deve constar de uma escritura pública
ou documento particular autenticado. Assim, esta cessão de créditos só seria válida, se tivesse sido
formalizada deste modo – caso contrário, seria nula.
Art.578.º/1 CC diz ainda que a cessão de créditos será, além das normas específicas, regulada pelo
regime associado ao contrato típico pelo qual se execute a cessão de créditos – isto é, a cessão de créditos
pode ser executada através de diferentes contratos (o crédito pode ser comprado, doado, transmitido
fiduciariamente, trocado por outro crédito, etc.), pelo que, consoante o tipo de negócio que esteja em causa,
aplicam-se as respetivas regras, nomeadamente, quanto à forma. Mas o art.578.º/2 CC prevê aquela
exceção, de que, independentemente de saber se o negócio em causa teria que estar sujeito a escritura
pública (p.e.: a compra e venda só está sujeita a escritura pública se for de imóvel – mas estando o crédito
garantido por hipoteca, tem que ser celebrada por escritura pública), sendo o crédito hipotecado, tem que
haver escritura pública).
Portanto, sim, o banco poderia fazer valer-se da hipoteca, nos termos do art.582.º CC e art.578.º/1 e 2
CC.
III.
O Banco BPW celebrou com a SelfCare S.A., sociedade importadora de tapetes, um contrato de factoring
por força do qual adquiriu créditos derivados da atividade desta última.
A SelfCare S.A., no exercício da sua atividade, no mês de Janeiro de 2019, vendeu à sociedade
imobiliária Imótapetes, Lda, pelo preço de 5.000€, cinco tapetes. Entre ambas foi acordado o pagamento
no prazo de 60 dias após a data de emissão de cada fatura.
A cessão do crédito foi formalmente notificada nas próprias faturas, conforme decorre do carimbo nelas
aposto com os seguintes dizeres: “para que estas faturas sejam liquidadas, os respectivos pagamentos
deverão ser efectuados directamente ao Banco BPY que adquiriu este nosso crédito”.
A SelfCare S.A. forneceu à Imótapetes, Lda, os bens discriminados. Sabendo que por contrato datado
de 5 de Dezembro de 2019 a sociedade ImóveisdeTecido S.A. cedeu à Imótapetes, Lda um crédito de
1.000€, que detinha a SelfCare S.A., pode a Imótapetes compensar os créditos?
Em janeiro de 2019, foi celebrado um contrato de compra e venda, em que uma das partes se comprometeu
a fornecer 5 tapetes à outra, e a outra adquiriu um crédito de 5.000€ - crédito este que foi cedido ao banco.
Porém, a Imotapetes, afirmou que pagaria os 5.000€ ao banco, mas apenas 4.000€, uma vez que, no dia 5
dezembro de 2019, adquiriu um crédito sobre a Selfcare (pretendendo compensar os créditos).
Nos termos do art.585.º CC, a invocar, face ao cessionário, um contracrédito sobre o cedente depende do
momento em que o devedor é notificado da cessão de créditos. Assim, podemos ter duas hipóteses:
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- Se o devedor for notificado depois da data em que adquiriu um crédito sobre a Selfcare, ele
vai poder exercer esta compensação face ao banco, porque, segundo o art.585.º CC, o devedor pode
utilizar face ao cessionário todos os meios de defesa que tinha à data da notificação.
Qual o objetivo desta disposição (art.585.º CC)? Esta é a única forma de certificar que a
cessão de créditos não serve para prejudicar o devedor. Isto está diretamente ligado ao facto de a cessão de
créditos não estar sujeita a qualquer tipo de consentimento por parte do devedor – se não tem de consentir,
do negócio de cessão de créditos não poderia resultar um prejuízo para ele.
- Mas se a aquisição do crédito tiver ocorrido depois da notificação, o legislador já não tutela
a posição do devedor – se o devedor já conhece o novo credor, ele sabe que este meio de defesa não lhe é
útil, portanto, não há qualquer tipo de confiança que tem de ser tutelada.
De resto, nos termos do art.583.º CC, a cessão produz efeitos face ao devedor a partir do momento em que
lhe é notificada. Até ao momento em que o devedor seja notificado, este pode pagar tanto ao credor
originário como ao cessionário.
IV.
No dia 16 de Abril de 2019 a sociedade comercial Tangerine Lda acordou com a BlakRoad S.A. a
realização de trabalhos na estrada de ligação entre a EN 206 e a nova Ponte sobre o rio Tâmega. No
referido contrato constava: “A Tangerine Lda não pode ceder ou dar como garantia o presente contrato
ou qualquer dos direitos ou obrigações nele estipulados, sem prévio acordo escrito da BlakRoad S.A.”.
No exercício da sua atividade, em 28 de Maio de 2019, o Banco BPY e a sociedade Tangerine Lda,
celebraram um contrato nos termos do qual a Tangerine Lda cedia ao Banco BPY os créditos que
detinha sobre a BlakRoad S.A.
Em 19 de Maio de 2020 a Tangerine Lda enviou para a BlakRoad S.A. carta onde informa que todas as
facturas relativas à empreitada Estrada de Ligação entre a EN e a ponte sobre o rio Tâmega e que
venham a ser emitidas a partir de 19 de Maio de 2020 deverão ser liquidadas ao Banco BPY até
comunicação em contrário.
Quid iuris se no dia 1 de Maio de 2020 a Tangerine Lda tiver enviado uma carta a BlakRoad S.A. onde
o informa que tinha cedido os seus créditos à LemonGrass S.A. por contrato celebrado em 9 de Outubro
de 2019?
No dia 16/4/2019, foi celebrado um contrato de empreitada, no âmbito do qual a cessão de créditos era
proibida.
Em 28/5/2019, o Banco BPY e Tangerine Lda. celebraram um contrato para cessão de créditos ao banco
dos créditos sobre BlakRoad S.A. – contrato de factoring celebrado com o Banco.
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Em 19/5/2020, Tangerine Lda. informa BlakRoad S.A. que a faturas devem ser liquidadas ao banco – temos
a comunicação da cessão.
No dia 1/5/2020, Tangerine Lda. informa que tinha cedido créditos à LemonGrass S.A., por contrato
celebrado a 9/10/2019.
Ora, nos termos do art.577.º CC, as cessões são permitidas não havendo necessidade de consentimento
do devedor. Existem, porém, exceções: quando a lei o proíba, quando o contrato o proíba ou quando a
própria natureza do crédito seja de tal forma que deva considerar-se como um crédito pessoal
(intransmissível).
Neste caso, tínhamos uma convenção que retiraria a transmissibilidade do crédito. Mas o art.577.º/2
CC protege os terceiros de boa fé: se o credor ceder um crédito ao cessionário e este não tiver
conhecimento da convenção que proíbe a transmissão do crédito, esta convenção não vai ser oponível ao
cessionário – ou seja, o cessionário poderá exigir o cumprimento deste crédito.
No entanto, o devedor, ao cumprir perante o cessionário, pode sofrer algum dano – nesse caso, ele vai
poder exigir uma indemnização face ao cedente. Uma forma de ainda assim garantir a posição do
devedor, mesmo que não sofra danos, é através da previsão de cláusulas penais.
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INSOLVÊNCIA
Âmbito subjetivo da insolvência (art.2.º CIRE):
O art.2.º CIRE contém uma lista de entidades que podem ser declaradas insolventes e entidades cuja
insolvência fica excluída deste regime.
O mais importante é que quaisquer pessoas singulares ou coletivas podem ser objeto de declaração de
insolvência. Há um conjunto de patrimónios autónomos que também podem ser sujeitos a declaração
de insolvência (nomeadamente, a herança jacente; entidades que ainda não são pessoas coletivas porque
estão no processo para serem, tais como as sociedades comerciais até à data do registo definitivo da sua
constituição ou associações até ao registo constitutivo da sua constituição; estabelecimentos individuais de
responsabilidade limitada).
De fora deste elenco de entidades que podem ser declaradas insolventes ficam, essencialmente, as pessoas
coletivas públicas e as entidades públicas empresariais.
Há, ainda, um conjunto de entidades financeiras que têm regras especiais, em virtude da sua relevância
social – nomeadamente, as instituições de seguros, as instituições de crédito, as sociedades financeiras,
etc.
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Situação de insolvência:
A doutrina fala de dois critérios para que uma entidade seja declarada insolvente:
- Critério do balanço ou do ativo patrimonial: segundo qual, a entidade está insolvente, se tem
mais passivo do que ativo.
- Critério do fluxo de caixa (cash flow): a entidade está insolvente, se não tem liquidez para
pagar as dívidas que se vão vencendo.
Estes critérios foram adiantados pela doutrina e ambos apresentam desvantagens:
- Desvantagens do critério do balanço/ativo patrimonial: é de complexa aplicação, por diversos
motivos.
- A determinação do ativo da sociedade é sempre subjetiva (exemplo: temos uma sociedade
que tem um imóvel – podemos achar que esse imóvel vale 1 milhão € e outra pessoa pode achar que
vale 500 mil €): esta subjetividade da avaliação do ativo faz com que seja subjetivo determinar se é
superior ou inferior ao passivo.
- Os próprios ativos de uma sociedade podem variar constantemente de valor (exemplo:
entidade que tem por atividade a negociação de ações na bolsa – num momento, pode ter ativo
superior e, noutro momento, pode ser inferior ao passivo e assim sucessivamente, em virtude da
valorização/desvalorização das ações).
- Além disso, existem ativos que não se encontram contabilizados na contabilidade de uma
empresa (caso da quantidade de clientes que a empresa tem, o seu bom nome, conhecimento
interno/know-how, valor associado à forma como organiza os fatores de produção), mas que
determinam o valor da sociedade.
- Desvantagens do critério do fluxo de caixa (cash flow): é mais simples – a entidade está
insolvente se, em certo momento, não conseguir pagar as dívidas que se vão vencendo.
- Na prática, a sociedade pode estar insolvente e ter mais ativo do que passivo (p.e.:
sociedade tem muitos terrenos no Alentejo, mas só tem 5€ na conta – se tiver que pagar o seguro
dos terrenos, não vai ter dinheiro suficiente na conta para pagar esse seguro, pelo que, incapaz de
pagar as suas dívidas, estará insolvente). Qual o problema disto? Se uma entidade tem património
de 5 milhões € e não tem dinheiro na conta, o processo de insolvência é inútil, sendo mais fácil
recorrer ao processo executivo, executando-se um dos imóveis e procedendo-se ao pagamento.
- Por outro lado, é possível que entidade tenha passivo muito superior ao ativo e mesmo
assim não está insolvente, desde que consiga aceder ao crédito para pagar as suas dívidas.
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O art.3.º/3 CIRE veio corrigir este critério, evitando que estes problemas existam no nosso
ordenamento jurídico:
- A alínea a) diz que se consideram no ativo e passivo os elementos identificáveis mesmo
que não constantes do balanço pelo seu justo valor: deve-se identificar os elementos pelo seu
valor de mercado, mesmo que não seja o valor que consta da contabilidade da empresa.
- A alínea b) diz que, quando existe uma empresa, ela tem de ser avaliada enquanto tal,
como organização de fatores de produção: assim, não se contabiliza o valor de cada máquina,
pois não é só esse valor que está em causa – a empresa vale mais do que isso, valendo o conjunto
da empresa mais do que a soma do valor das partes.
- A alínea c) manda excluir do passivo as dívidas que hajam de ser pagas à custa de
fundos distribuíveis ou do ativo restante: falamos sobretudo das dívidas aos sócios,
nomeadamente, os suprimentos, que são os últimos créditos a ser pagos na insolvência, não sendo
tidos para efeitos de determinação do passivo da sociedade (objetivo: suprimentos são investimento
que sócios fazem na sociedade, elevando bastante o valor do passivo no mesmo valor dos
suprimentos ou ainda em valor superior, se os suprimentos vencerem juros – ora, não releva para a
insolvência a questão dos suprimentos, mas sim o passivo relativo aos demais credores, que não
sejam sócios).
Pode ainda ser declarada insolvente a entidade que está em situação de iminência de estar insolvência,
nos termos do art.4.º CIRE: nesse caso, a insolvência tem de ser requerida pelo devedor, pelo próprio
insolvente. Não podem terceiros requerer a insolvência da entidade que está iminentemente insolvente.
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Problema: como conseguimos provar que uma entidade tinha conhecimento de que estava
insolvente?
O art.18.º CIRE prevê uma presunção inilidível (sem possibilidade de prova em contrário):
presume-se que tinha conhecimento se, nomeadamente, durante 3 meses, não cumpriu com um
conjunto de obrigações consideradas fundamentais para o exercício de qualquer atividade (p.e., não
pagou impostos, não pagou as contribuições para Segurança Social, não pagou dívidas resultantes dos
contratos de trabalho, etc.).
Este dever de se apresentar à insolvência não abrange as pessoas singulares que não tenham uma
empresa.
Objetivo deste dever: evitar que as dívidas se acumulem e que mais credores venham a ser prejudicados
pela insolvência do devedor.
Nos termos do art.28.º CIRE, quando o insolvente pede a sua declaração de insolvência, esta deve ser
declarada no prazo de 3 dias úteis pelo tribunal.
Esta insolvência culposa tem regime associado, que visa sancionar o facto de os administradores da empresa
não terem apresentado empresa à insolvência (art.189.º CIRE):
- Administradores podem ficar proibidos de exercer qualquer cargo num órgão social durante
período que pode ir de 2 a 10 anos
- Podem ficar obrigados a indemnizar os credores que saíram prejudicados com os factos
praticados pelos administradores (p.e.: credor que nunca teria celebrado contrato se soubesse que
entidade estava insolvente)
- Podem perder todos os créditos que têm sobre a empresa (inclusivamente o próprio salário)
Além disso, nos termos do art.228.º Código Penal, a insolvência pode ser considerada um crime.
Além do devedor, há terceiros que podem requerer insolvência da sociedade:
Quem pode requerer a insolvência da sociedade? Os credores, o Ministério Público ou pessoas que sejam
responsáveis pelas dívidas do sujeito insolvente.
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É natural que estes terceiros não consigam provar a verificação de um daqueles factos do art.3.º
CIRE como sendo bastante para a declaração de insolvência (é difícil conseguir provar que entidade não
consegue pagar as suas dívidas ou que tem passivo manifestamente superior ao ativo). Por isso, o art.20.º
CIRE prevê um conjunto de factos que podem ser usados por estes terceiros e que podem levar à
declaração de insolvência – são os factos previstos nas diferentes alíneas do art.20.º/1 CIRE
Uma vez arguidos estes factos, pode o insolvente defender-se, tendo um prazo curto para isso. A
defesa do devedor pode ser feita de duas formas: ou ele diz que aqueles factos indicados por terceiros
não correspondem à verdade (p.e.: foi alegada fuga dos administradores, tendo na verdade ido apenas
passar férias) ou insolvente pode dizer que facto é verdadeiro, mas não está em situação de insolvência,
porque passivo não é manifestamente superior ao ativo/ainda conseguem pagar as suas dívidas.
Porque é que terceiro pode ter interesse em processo de insolvência, em vez de processo executivo? Uma
parte dos créditos do credor que propõe a declaração de insolvência passa a ser créditos privilegiados,
nos termos do art.98.º CIRE.
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Outros efeitos:
- Advertem-se todos os devedores do insolvente de que, a partir daquele momento, quaisquer
prestações que lhe devam pagar devem ser pagas ao administrador de insolvência e não ao próprio
insolvente
- Consideram-se vencidos todos os créditos face à sociedade – p.e., se a sociedade devia 1.000€
a um credor, mas apenas se venciam no ano seguinte, nos termos do art.91.º CIRE, com a declaração de
insolvência, todas as obrigações não subordinadas a condições suspensivas vencem-se e podem ser logo
exigidas pelos credores
Qualificação/graduação dos créditos e dívidas que vão concorrer com massa insolvente:
Que dívidas/créditos existem, no âmbito da insolvência?
Dívidas da massa, créditos garantidos, créditos privilegiados, créditos comuns e créditos
subordinados – cada um terá um regime associado.
Quais os créditos com regime mais favorável?
As dívidas da massa, isto é, todos os créditos previstos no art.51.º CIRE (p.e.: custas do processo
de insolvência, remunerações do administrador de insolvência, dívidas emergentes dos atos de
administração/liquidação/partilha da massa, dívidas decorrentes da atuação do administrador de
insolvência. Estas são consideradas essenciais para o bom funcionamento do processo de insolvência,
sendo mais protegidas no seu cumprimento – como? São satisfeitas antes dos créditos sobre a
insolvência, ou seja, antes de serem pagos os restantes credores, o administrador de insolvência deve
guardar um conjunto de valores suficientes para pagar dívidas da massa. Além disso, não estão sujeitas a
reclamação dos credores, uma vez que resultam do normal funcionamento do processo de insolvência,
resultando claro para o próprio administrador de insolvência. De resto, podem responsabilizar o próprio
administrador de insolvência, caso tenham sido constituídas por ele e ele devesse ter conhecimento de
que não existia património bastante para o seu pagamento.
O art.47.º CIRE prevê vários créditos da insolvência e uma definição para cada um deles:
- Créditos garantidos: beneficiam de uma garantia real (se for apenas garantia pessoal, não será
crédito garantido, mas sim um crédito comum). Consideram-se garantidos o crédito principal e os juros
que se vencerem. Na parte em que as garantias não forem bastantes para pagar crédito, estes créditos
considerar-se-ão comuns.
Há um conjunto de garantias que se extingue com declaração de insolvência – são as
garantias do art.97.º CIRE.
- Créditos privilegiados: têm um privilégio creditório associado. Nos termos do art.733.º CC,
corresponde à capacidade que a lei atribui a um crédito de ser pago com preferência face a outros créditos
relativamente a um património, que pode ser mobiliário – privilégio mobiliário geral – ou imóvel –
privilégio imobiliário.
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- Créditos subordinados: pagos em último lugar e atribuem aos seus titulares uma posição mais
frágil no âmbito da insolvência – p.e., podem não ter direito a voto nas assembleias de credores, nem não
podem compensar os seus créditos com dívidas que tenham na massa. São pagos pela ordem prevista no
art.48.º CIRE. Nos termos do art.48.º/a) CIRE, se pessoa tem créditos, mas está especialmente
relacionada com o devedor, então essa pessoa vai ser paga depois de todos os credores comuns serem pagos
– a este propósito, o que é pessoa especialmente relacionada? Art.49.º CIRE define, no n.º 1 (devedor
pessoa singular – antes, dizia-se que era enumeração exemplificativa, mas com alteração de 2022 parece
ser claramente taxativa, ao dizer-se “são exclusivamente considerados”) e n.º 2 (devedor pessoa coletiva).
Exemplos de créditos subordinados: créditos por suprimentos (últimos a serem pagos);
créditos que têm por objeto prestações do devedor a título gratuito (se determinado credor tem
crédito, mas não teve que realizar nenhuma contraprestação, é natural que seja menos tutelado do
que credores que realizaram contraprestação).
Casos práticos nº 6
I.
A Assembleia Geral de sócios da A, supermercados S.A. aprovou, no passado dia 15 de Março o relatório
de contas relativo ao ano passado. Do relatório de contas consta nomeadamente que a sociedade tem um
passivo de 1.5 milhões de euros e um ativo de 1.4 milhões de euros, sobretudo por possuir 4 imóveis
(onde explora 4 supermercados) que valorizaram bastante nos últimos anos mas que cujas prestações do
preço ainda não foram pagas.
i)
Está a sociedade comercial mencionada em situação de insolvência?
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Não temos informação que nos leve a concluir que a entidade não está em situação de conseguir pagar as
suas dívidas – portanto, não se aplica art.3.º/1 CIRE.
Poderá estar insolvente por ter um passivo manifestamente superior ao ativo – temos que olhar para o
art.3º/2 e 3 CIRE, para perceber se o passivo é manifestamente superior ao ativo: pode não acontecer,
porque, p.e., a empresa tem 4 supermercados que têm que ser valorizados como empresas em
funcionamento e empresas em liquidação – se continuam em funcionamento, há valor que não vem expresso
nas contas da sociedade que pode levar a concluir que passivo nem seja superior ao ativo. Além disso,
imóveis foram adquiridos, mas desvalorizaram com o tempo, sendo necessário considerar o valor de
mercado e não o valor de aquisição – o ativo é atualizado, podendo ser superior ao passivo.
Podemos concluir que, à partida, a sociedade não estaria em situação de insolvência.
ii)
A resposta seria a mesma se estivéssemos perante um balanço aprovado pela B, águas e energia de S.
Cristóvão, E.P.E.?
Sim, porque, nesse caso, essa entidade nem sequer está sujeita ao regime de insolvência (art.2.º CIRE).
iii)
Como classifica os seguintes créditos da massa insolvente:
a. Preço a pagar pela aquisição de um equipamento de etiquetagem que será fornecido em 2023, por
encomenda do Administrador da Insolvência – dívida da massa
b. Prestações relativas a um contrato de mútuo celebrado com Manuel, irmão do gerente da sociedade,
garantidas pela hipoteca sobre um dos imóveis detidos pela sociedade – crédito subordinado
c. Preço pela aquisição de uma empilhadora garantido por Joaquim – crédito comum
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II.
A Sardinhas S.A., sociedade anónima que tem por objeto o fornecimento de sardinhas possui,
atualmente, um passivo de 100.000,00€ (onde se incluem 45.000,00€ relativos a suprimentos realizados
pelos acionistas da sociedade) e um ativo de 70.000.00€.
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c. Como qualifica o crédito que os acionistas da sociedade detêm a título de suprimentos? Sabendo que
os suprimentos foram realizados em 2015 e por um prazo de 11 anos, quando é que se venceriam em
caso de ter sido declarada a insolvência da sociedade em 2022?
Estes são créditos subordinados, o que significa que são pagos em último lugar. Além disso, não atribuem
direito de voto nas assembleias de credores e estes credores não podem compensar dívidas que tenham com
estes créditos.
Vencer-se-iam de imediato com a insolvência, porque um dos efeitos que a declaração de insolvência
tem é o vencimento imediato de todos os créditos que não estejam sujeitos a uma condição suspensiva.
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III.
A Tec4all S.A., sociedade importadora de material informático, vende à Wirten Lda, sociedade
revendedora de material informático, a 1/5/2019, 30 computadores por 30.000 €. Foi acordado que os
computadores seriam entregues a 1/6/2019 e o preço seria pago a 30/6/2019. O crédito foi cedido ao
banco BPW, com recurso e antecipação, a 4/5/2019, tendo a Wirten Lda sido notificada a 20/5/2019. Na
data do seu vencimento, o banco BPW exige o pagamento à Wirten Lda. Contudo, esta recusa o
pagamento, alegando que os computadores ainda não lhe haviam sido entregues. O banco alega que
esse facto é posterior à cessão do crédito e que, por isso, a Wirten Lda terá que pagar.
a. Tem razão?
Foi celebrado um contrato de compra e venda de computadores, devendo ser entregues no dia 1/6. O preço
seria pago no dia 30/6. No entanto, no dia 4/5, houve a celebração de um contrato de factoring, nos termos
do qual se cedeu os créditos resultantes deste contrato de compra e venda. Este contrato de factoring foi
notificado no dia 20/5.
No momento em que o banco, a 30/6, vem exigir o cumprimento do crédito, o devedor diz que nada paga,
porque a Wirten Lda. não lhe tinha entregue os computadores. O banco não concorda, dizendo que é facto
posterior à notificação.
Os contratos de cessão de créditos produzem efeitos aquando da sua notificação, ou seja, a partir da
sua notificação, o devedor está obrigado a cumprir perante o cessionário, não perante o cedente. Porém,
isto não significa que o devedor perde os meios de defesa que poderia utilizar contra o cedente, caso
contrário, esta seria uma forma simples de prejudicar esta utilização dos meios de defesa, por parte do
credor inicial. Por isso mesmo, o legislador diz que o devedor pode utilizar contra o cessionário todos
os meios de defesa que poderia usar face ao cedente à data da notificação. Ou seja, todos os meios de
defesa existentes no dia 20/5 podiam ser utilizados, quer fossem compensações, direitos de anulação do
contrato, etc.
No entanto, a doutrina acrescenta que há meios de defesa que podem aparecer apenas depois desta
data e quando digam respeito ao caráter sinalagmático do contrato, ou seja, pelo facto de aquele crédito
estar associado a uma contraprestação, se essa contraprestação não tiver sido cumprida ou já não for exigível
(porque o contrato terminou), então este crédito não é exigível, porque o contrato terminou. Por isso, a
exceção de não cumprimento e a resolução do contrato, mesmo que se deem em momento posterior à
notificação ou resultem de factos posteriores à sua notificação, poderão ser utilizadas pelo devedor face
ao cessionário.
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b. Pode a Wirten Lda compensar a sua dívida com o crédito que detém sobre a Tec4all S.A. emergente
de um contrato de venda com ela celebrado a 10/5/2019 e com vencimento a 28/6/2019?
Aqui, não importa o momento do vencimento do crédito, mas sim o momento da sua constituição.
Ora, o crédito foi constituído antes da notificação da cessão, sabendo o devedor que o poderia utilizar
para compensar a sua dívida – logo, neste caso, faz sentido proteger a posição do devedor. Caso contrário,
se fosse o momento do vencimento a relevar, durante todo aquele período poderia haver a notificação da
cessão e, dessa forma, o credor poderia evitar esta compensação e, assim, prejudicar ativamente o devedor.
Assim, era possível a compensação, neste caso.
c. Pode a Tec4all, credora da Wirten Lda, em 15.000 € requerer a declaração da insolvência desta,
sabendo que a Wirten Lda tem um ativo de 100.000 € e um passivo de 110.000 €, do qual 20.000 € são
adiantamentos de tesouraria para suprir necessidades momentâneas de liquidez concedidos pelos sócios?
Os suprimentos têm caráter de permanência. Neste caso, temos pequenos empréstimos que são
rapidamente restituídos aos sócios. Assim, não sendo suprimentos, estas dívidas fazem parte do passivo
da sociedade.
Apesar disso, aqui, não se preenche o critério do passivo manifestamente superior ao ativo (10% não
costuma ser considerado como um passivo manifestamente superior ao ativo).
Registo comercial:
Há um conjunto de factos da vida dos comerciantes que deve levar a que estes comuniquem estes factos a
toda a comunidade, disponibilizando um conjunto de informações sobre os mesmos. Para estes efeitos,
aparece o registo comercial como forma de dar publicidade e, às vezes, até permitir a produção de
efeitos de um conjunto de factos que o legislador considera que devem ser do conhecimento de toda a
comunidade.
Estes factos sujeitos a registo estão previstos no CRCom (p.e.: art.3.º quanto a sociedades comerciais).
Como é que se pode aceder ao registo comercial? Online, através do site
publicacoes.mj.pt/pesquisa.aspx
Existe também a certidão permanente: é quase um cartão de identidade das sociedades. Na certidão
permanente, podemos encontrar todo o histórico sobre uma sociedade (capitais sociais que teve, objetos
sociais que teve, quem é a administração, quem foi a administração, como é que se vincula, etc.), que se
atualiza automaticamente. Para acedermos a uma certidão permanente, precisamos de um código dado pela
própria entidade e acedemos online através do site
eportugal.gov.pt/empresas/Services/Online/Pedidos.aspx?service=CCP
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Firma:
É diferente falar em firma, empresa e sociedade. Qual a diferença?
- Firma: nome do comerciante
- Empresa: organização de meios de produção
- Sociedade comercial: pessoa coletiva
Estes 3 conceitos podem ou não estar relacionados em caso concreto – p.e.: todos os comerciantes têm que
ter firma, mas nem todos têm que ser sociedades comerciais. Um comerciante que tem firma pode não ter
uma empresa. Uma sociedade comercial está obrigada a ter uma firma e pode ter ou não uma empresa (p.e.:
sociedade que é uma casa de apostas online, sem nada físico dessa própria sociedade – não tem uma
empresa).
As firmas são um sinal distintivo, mas são o único sinal distintivo do comércio que é obrigatório. Existem
outros (p.e.: marcas, logótipos), mas esses não são obrigatórios para os comerciantes.
Ao contrário dos logótipos, as firmas são sinais nominativos, e não figurativos – a firma é uma
composição de letras apenas, não tem associada uma imagem/figura, não tem associado um tipo de letra.
Esta associação a tipos de letras ou imagens é já o que pode acontecer com as marcas e com os logótipos.
Enquanto sinal distintivo do comércio, a firma tem que ser exclusiva ou nova e tem que ter
capacidade distintiva: se a firma é um nome do comerciante, este nome tem que conseguir ser distinguido
face a outros vocábulos que são usados no dia a dia.
Tipos de firmas:
- Firma-nome: constituída apenas com uma referência ao nome próprio do comerciante ou de algum
dos sócios
- Firma-denominação: constituída apenas por expressões de fantasia ou alusões ao objeto da
sociedade
- Firmas mistas: combina os dois elementos
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concelhio, ou seja, no âmbito do concelho onde opera, não pode haver outro comerciante com a
mesma firma – mas, noutro concelho, pode haver firma igual. Com isto, o legislador considerou
que, à partida, os comerciantes que atuam em nome individual são menos profissionais ou têm o seu
raio de atividade muito mais reduzido, não fazendo sentido atribuir exclusividade em todo o país,
se não saírem do seu concelho.
- Firma das sociedades em nome coletivo (art.177.º CSC): nestas sociedades, exige-se sempre
que parte da firma seja firma-nome, ou seja, exige-se que parte da firma da sociedade em nome coletivo
seja composta pelo nome de um ou vários dos sócios da sociedade – este requisito não se vê nas sociedades
por quotas ou sociedades anónimas, onde não é obrigatória a referência ao nome dos sócios. Terminam
com aditamento “e companhia” / “& companhia”, “e sucessores”, “e filhos”, etc. (referência ao facto
de existirem mais sócios). Alguma doutrina (Coutinho de Abreu) diz que podem ter firma-mista, além
da referência ao sócio.
São sociedades onde sócios respondem pelas dívidas da sociedade. É exatamente por isso
que o legislador exige que o nome de algum dos sócios venha inscrito na firma da sociedade. O
objetivo seria dar a conhecer aos credores da sociedade quais são os outros patrimónios que
também vão responder, caso a sociedade não tenha património suficiente para responder pelas
suas dívidas.
Este regime prevê que se alguma pessoa tiver o seu nome na firma de uma sociedade em
nome coletivo e não for sócio dessa firma, essa pessoa também responde pelas dívidas da
sociedade, porque os credores, ao verem aquele nome na firma, vão confiar em que isso significa
que ele também era responsável pelas dívidas da sociedade (razões de tutela da confiança) – isto só
é assim se a própria pessoa incluída na firma tiver dado o seu consentimento para tal.
- Firma das sociedades por quotas e sociedade anónimas (art.200.º e 275.º CSC): terminam
sempre com referência ao tipo de sociedade em causa (“Lda.” – sociedade por quotas; “S.A.” –
sociedade anónima). Existem outras siglas utilizadas, p.e., SGPS (sociedade gestora de participações
sociais). Estas firmas podem ser constituídas nos três tipos que vimos (nome, denominação, mistas) –
legislador não limita o grau de autonomia na escolha da firma.
- Firma das sociedades em comandita (art.467.º CSC): têm dois tipos de sócios – comanditários
(não respondem) e comanditados (respondem ilimitadamente pelas dívidas da sociedade). Trata-se,
assim, de responsabilidade mista (alguns sócios respondem e outros não). A firma necessita de referir pelo
menos um dos sócios comanditados, que responde de forma ilimitada. Estas sociedades identificam-se
com “em comandita” / “& comandita” ou “comandita por ações” / “& comandita por ações”. Estas
podem ser firmas mistas, além do nome de um dos sócios.
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Além destas regras especiais, há um conjunto de princípios identificados pela doutrina e efetivados no
RRNPC:
- Princípio da verdade: as firmas não podem criar uma perceção errada sobre a identificação,
natureza ou atividade do comerciante.
Exemplo quanto à identificação: A (pessoa singular) não pode adotar na firma o nome de B,
o que daria a entender que o titular da firma é diferente.
Exemplo quanto à natureza: há, normalmente, maior facilidade em negociar com uma
associação do que com uma sociedade anónima, pelo que A poderia constituir uma S.A. para
produção de calçado, colocando como firma Associação X S.A. – quem fosse contratar achava que
era associação. Outro exemplo: A é dentista e quer constituir S.A., poderia incluir “instituto”, o que
dá mais força à firma.
Exemplo quanto à atividade: se A comercializa sapatos, não pode referir croissants na firma.
Por isso é que se sociedade muda o seu objeto pode estar obrigada a mudar a sua firma – p.e.,
se a Zara Home muda de atividade e passa a ser mercearia de produtos biológicos, terá que mudar
firma. O objetivo é que não se tente enganar perceção que se tem da entidade com quem se negoceia.
Questão doutrinária: estas firmas que podem ser confundíveis entre si são proibidas se
entidades tiverem âmbito de atuação completamente diferente?
Exemplo: banco e pescador, ambos com a firma “Gelpeixe” – faria sentido que não fosse
possível existir a mesma firma para atividades completamente diferentes? No art.33.º RRNPC,
legislador diz que se deve ter em conta a proximidade, para saber se são suscetíveis de serem
confundidas. Mas a doutrina diz que referência ao tipo de atividade não é relevante, porque a
confusão pode existir na mesma (se P banco entra em insolvência e aparece nas notícias “Gelpeixe
insolvente”, não sabemos se é o banco ou o pescador.
Quanto ao raio de exclusividade, no caso dos comerciantes em nome individual, tal como
vimos, temos exclusividade a nível concelhio, quanto à firma-denominação. Quanto à firma-
nome, não existe qualquer exclusividade, podendo existir firmas iguais. Já no caso das sociedades
comerciais, o âmbito de proteção é todo o território nacional.
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- Princípio da capacidade distintiva: as firmas não podem ser exclusivamente compostas por
sinais fracos ou francos, ou seja, se uma firma tem que ter capacidade distintiva ou se é um sinal distintivo
do comércio, não pode ser apenas composta por expressões genéricas usadas no dia a dia ou que são
usadas no âmbito da atividade em causa, ou por “sinais francos ou públicos” – isto é, expressões e
nomes que fazem parte do domínio público e que não podem ser confundidos com firmas dos comerciantes.
Exemplo: uma firma não pode ser apenas “Bom Dia S.A.” ou “Direito a Comer S.A.” ou
“Adeus s.a.”, porque estas palavras seriam de difícil utilização para distinguir este comerciante no
âmbito da sua atividade. Além disso, se o comerciante vende, p.e., sapatos, a sua firma não pode ser
apenas “Sapatos Bonitos S.A.”, porque esta firma seria exclusivamente composta por sinais fracos,
ligados à própria atividade em si.
Isto não significa que as firmas não possam ter sinais fracos, simplesmente, não podem
ser exclusivamente compostas por sinais fracos. A pessoa média tem que conseguir ler e ouvir a
firma e perceber que em causa está uma firma e não apenas um elogio aos sapatos produzidos ou
apenas uma saudação, etc.
As firmas não podem ser compostas exclusivamente por indicações topográficas ou por
referências geográficas: uma firma não pode ser apenas “Rua dos Bragas S.A.”, porque se
confundiria com sítios que existem e que não podem ser apropriados pelos comerciantes.
A este propósito, a doutrina considera que todas as firmas-nome e firmas mistas têm
implicitamente/por inerência capacidade distintiva, porque estas são compostas, em parte, pelos
nomes dos sócios ou pelos nomes próprios do próprio comerciante. Se o nome dos
sócios/comerciante foi aceite como nome próprio de uma pessoa que tem capacidade distintiva,
então esse nome, dentro de uma firma, também atribui a essa firma a mesma capacidade distintiva.
Portanto, este princípio pode ser um tema sobretudo quando estão em causa firmas-
denominação.
Exemplo de firma que não foi aceite pelo RNPC: SHIRT-MAKERS – CONFEÇÕES
Lda.. Esta firma não foi aceite, porque está em causa uma sociedade que produziria vestuário e o
RNPC veio dizer que estas são palavras que podem ser utilizadas normalmente no âmbito desta
atividade. Portanto, veio dizer que esta firma, por si só, não chega. Seria fácil de incluir esta
expressão numa firma e ela fosse admitida, se se incluísse uma sigla, uma expressão de fantasia,
uma palavra inventada – aí não era exclusivamente composta por referências à atividade.
- Princípio da unidade: cada comerciante deve ter apenas uma firma. Os EIRLs permitem
adoção de 2 firmas: a firma do comerciante em exploração do EIRL e outra firma para as atividades fora
da exploração desse EIRL.
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- Princípio da licitude residual: as firmas não podem violar os limites básicos que existem no
ordenamento jurídico (ordem pública, bons costumes, boa fé). Também não podem colocar em causa
determinados nomes ou expressões que tenham significado especial, em Portugal, por motivos
científicos, religiosos, históricos, etc.
O legislador diz isto e tem as várias regras previstas no art.32.º/4 RRNPC:
- São proibidas firmas contrárias à ordem moral ou bons costumes
- São proibidas expressões incompatíveis com liberdade política, religiosa ou
ideológica
- São proibidas expressões que desrespeitem ou se apropriem de símbolos ou
nomes de relevo nacional (devem ser protegidos e não apropriados para utilização
no comércio)
Alteração da firma:
As firmas podem ser livremente alteradas pelos comerciantes. Não se trata de ter uma segunda firma,
mas sim de mudar a firma que escolheu, desde que essa firma cumpra com os princípios e regras que já
vimos antes.
Há circunstâncias em que o comerciante não só pode alterar a firma, como está obrigado a fazê-lo: isto
acontece sobretudo quando existe uma alteração as circunstâncias à volta da firma, alteração esta que
faz com que, para que se cumpra com os princípios que estudámos, seja necessário também alterar
a firma – está em causa sobretudo o princípio da verdade: se se altera o objeto da sociedade, o titular da
firma, se se transmite a firma, se se transforma sociedade por quotas em sociedade anónima, tudo isto tem
que levar a alteração da firma, sob pena de deixar de cumprir o princípio da verdade.
Exemplo: se é firma-nome ou firma mista e tem o nome de um dos sócios, e ele deixa de fazer parte
da sociedade, porque morre ou transmite a sua participação social, a firma vai ter que ser alterada,
para não parecer que aquele ex-sócio ainda é sócio da sociedade.
Exemplo: se a firma tem referência ao seu objeto social, remetendo para produção de sapatos, e se
deixa de produzir sapatos, tem que retirar essa referência da firma.
Casos especiais:
As sociedades são constituídas e podem ser dissolvidas ou liquidadas: a firma tem que ser alterada
para referir que sociedade está nesse processo de liquidação, informando todas as pessoas à volta da
sociedade que ela esta a “morrer”.
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Transmissão da firma:
A transmissão da firma pode ser feita em vida e em morte.
A transmissão da firma em vida está prevista no art.44.º RRNPC. Em que circunstâncias pode uma
firma ser transmitida? A firma, para se transmitir, tem que reunir 3 requisitos:
- A firma apenas se transmite com a empresa, ou seja, não é possível transmitir uma firma
sem transmitir a empresa associada a essa firma
- A firma apenas se transmite por acordo escrito e expresso: as firmas encontram-se no
âmbito convencional de transmissão do trespasse, apenas se transmitindo havendo acordo expresso
das partes nesse sentido
- Para cumprimento do princípio da verdade, quando a firma é transmitida tem que se aditar
a essa firma o facto de ela ter sido transmitida (exemplo: “Joaquim, Rei dos Vinis” transmite
estabelecimento e firma a Carlos Manuel, que tem que alterar firma para fazer referência ao facto de não
ser o primeiro comerciante a usar aquela firma – “Carlos Manuel, Sucessor de Joaquim, Rei dos Vinis”). O
objetivo é que a comunidade saiba que firma foi utilizada antes por outro comerciante. Isto também
acontece a propósito da transmissão mortis causa. Todas estas firmas têm esta referência a “sucessor”.
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Casos práticos nº 7
I.
A “IIR - Instituto dos Informáticos S.A.” vende à “Paredes Cinzentas, Lda”, uma máquina industrial de
processamento de cimento com pagamento a 30 dias. Na data do vencimento do crédito, a “Paredes
Cinzentas, Lda” não paga, e mantem-se em mora apesar das insistências do credor, embora vá
cumprindo outras dívidas perante os seus outros credores.
2.
Podiam, aquando da constituição das referidas sociedades, os pedidos de certificado de admissibilidade
das firmas das sociedades referidas ter sido deferidos?
Quanto a “IIR – Instituto dos Informáticos S.A.”, esta firma violava o princípio da verdade de duas
formas diferentes: por um lado, parece que a atividade da sociedade era diferente da atividade para a qual
é apontada pela firma; por outro lado, a firma remete para uma natureza da sociedade que é diferente desta
(a referência ao instituto pode levar a criar dúvidas sobre qual é a real natureza do comerciante).
Além disso, esta é uma firma-denominação – as sociedades anónimas podem ter uma firma-
denominação? As sociedades anónimas podem ter qualquer tipo de firma (só as sociedades em que
existe algum tipo de responsabilização dos sócios é que se exige que haja alguma referência aos sócios –
caso das sociedades em comandita).
E quanto à “Paredes Cinzentas Lda.”? Temos uma sociedade por quotas – pode ter uma firma
integralmente composta por referências à atividade? Sim, pode ser uma firma-denominação. Olhando
para a firma em concreto, poderia ser esta firma? Pode estar a ser violado o princípio da capacidade
distintiva, porque, na prática, pode criar confusão por parte da linguagem que as pessoas utilizam – esta
firma é exclusivamente composta por palavras de uso corrente ou sinais fracos ou francos.
II.
Bonifácio e Agostinho são sócios-gerentes da “Bonitinho, restauração e fabrico de conservas, Lda.”,
que explora um restaurante e uma fábrica de conservas de peixe na zona de Matosinhos. Após
contactarem o seu banco com o objetivo de negociar o financiamento para adquirir a Carolina um snack-
bar, veem o seu pedido recusado com a justificação de que a empresa tem tido dificuldades em satisfazer
os seus compromissos financeiros – o que era totalmente falso. Após várias diligências, apura-se afinal
que a sociedade fora confundida com a “Bonitinho, restauro e conservação de edifícios, Lda.”, com sede
na Guarda, e relativamente à qual estava a correr um processo de insolvência.
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Direito Comercial Aulas Práticas
1.
Parece-lhe existir alguma irregularidade na constituição e/ou utilização de alguma das firmas referidas?
Explique porquê e em que circunstâncias, referindo também se e como poderão reagir os titulares da
firma que eventualmente goze de exclusividade.
Neste caso, temos duas firmas de duas sociedades comerciais. Estas duas firmas parecem ser
confundíveis, pelo que há a violação do princípio da exclusividade – mas não sabemos qual a firma que
violou esse princípio. A firma que apareceu em segundo lugar violava a exclusividade da primeira firma a
aparecer.
Tendo a firma aparecido e violando o princípio da exclusividade, o titular da outra firma pode pedir
ação judicial, pedir que firma seja alterada ou pedir indemnização (art.35.º, art.60.º e art.62.º RRNPC).
Não importa saber se as sociedades exerciam a mesma atividade ou não, porque a doutrina aponta no
sentido de que o que releva é saber se há perigo de confundibilidade daquelas firmas pela comunidade.
Se este perigo existir, é irrelevante se a atividade exercida pelos comerciantes é a mesma ou não.
2.
Imagine que, para resolver a situação, Agostinho e Bonifácio fazem uma proposta de aquisição da firma
(e só da firma) à sociedade da Guarda. Podem fazê-lo?
É possível transmitir a firma, sendo que aqui estão em causa os requisitos para aquisição da firma:
- Transmissão da firma juntamente com a empresa, com o estabelecimento comercial ligado a esta
sociedade
- Transmissão tem que ser feita de forma expressa e por escrito
- Deve-se aditar a esta firma a referência a esta transmissão
O objeto da sociedade é diferente do objeto desta firma: aqui, os comerciantes teriam de mudar o objeto
da sociedade ou, depois de adquirirem a firma, teriam que alterar a firma para que esta cumprisse com o
princípio da verdade.
Com a aquisição desta firma, os comerciantes (Agostinho e Bonifácio) tinham que deixar de utilizar a
firma anterior, sob pena de violarem o princípio da unidade, porque passavam a ser titulares de mais
do que uma firma.
3.
Bonifácio pretende abrir um restaurante por conta própria e adotar a firma "O imperador das
sardinhas". Poderá fazê-lo? E poderá adotar a firma “Bonifácio, o Rei das Sardinhas”, e a mesma ser
protegida nos termos do RRNPC? E se a sua firma for tão-só “Bonifácio Joaquim da Silva Costa”, o
regime dessa proteção será o mesmo?
Nos termos do art.38.º RRNPC, o comerciante tem que ter uma firma que seja, no mínimo, composta por
parte ou pela totalidade do seu nome – ou seja, no mínimo, tem que ser uma firma-nome. Portanto, “O
imperador das sardinhas” não era uma firma admissível, porque não continha parte do seu nome.
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Direito Comercial Aulas Práticas
E quanto a “Bonifácio, o Rei das Sardinhas”? Nos termos do art.38.º RRNPC, a firma do comerciante,
para além de ter necessariamente a referência ao seu nome, pode ter ainda uma alcunha ou uma
expressão alusiva à atividade exercida. Se a firma for firma mista, nos termos do art.38.º/4, esta firma
é de uso exclusivo, ou seja, tem direito à exclusividade desta firma no âmbito do concelho onde se
encontra o seu estabelecimento principal.
E se for apenas “Bonifácio Joaquim da Silva Costa”? Esta firma era possível, era uma firma-nome,
composta pelo nome completo de Bonifácio. Simplesmente, as firmas-nome dos comerciantes em nome
individual não gozam de nenhum direito de exclusividade, o que significa que se existisse outro
comerciante com o mesmo nome em, Portugal, poderia usar também essa firma e podiam até exercer a sua
atividade na mesma rua.
----------
Com o casamento, podem passar a existir três patrimónios diferentes: podem existir os bens comuns
do casal, os bens próprios de um dos cônjuges e os bens próprios do outro cônjuge. O problema é que
precisamos de saber, perante determinada dívida, quais são os patrimónios que vão responder e em
que termos (o próprio e, depois, o comum; ao mesmo tempo; apenas o comum; ou apenas o próprio?).
Retiramos estas regras dos art.1695.º e 1696.º CC.
Nos termos do art.1695.º CC, quando as dívidas são da responsabilidade de ambos os cônjuges, primeiro,
vão responder os bens comuns do casal e, apenas se estes bens não forem bastantes, vão responder
também os bens próprios de cada um dos cônjuges. O regime é diferente se estivermos perante dívida
que não é da exclusiva responsabilidade de ambos, mas apenas de um dos cônjuges (art.1696.º CC): nestes
casos, vai responder primeiro o património próprio do cônjuge devedor e, na falta de bens, vai
responder ainda a sua meação nos bens comuns (ou seja, metade do valor do património comum do
casal).
Qual destes dois regimes é mais protetor para os credores? O do art.1695.º CC, na medida em
que há muito mais garantias, uma vez que todo o património do casal responde, quer o comum, quer os
próprios. Já à luz do art.1696.º CC, apenas respondem os bens próprios do devedor e metade dos bens
comuns do casal.
O art.1691.º CC diz-nos quais são as dívidas a que se aplica o art.1695.º CC, indicando as dívidas da
responsabilidade de ambos os cônjuges: dentro desta lista, está uma dívida especial para o Direito
Comercial (art.1691.º/1/d) CC). Assim, é da responsabilidade de ambos as dívidas contraídas por
qualquer um dos cônjuges, no exercício do próprio comercio, salvo se se provar que não foram
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contraídas para proveito comum do casal ou se se provar que o casal está casado por regime de
separação de bens.
O objetivo desta norma é proteger o crédito em sede comercial, ou seja, à luz do comércio, é
essencial que os créditos tenham o máximo de garantias possível. Neste caso, as garantias conseguem-se
ao incluir-se na responsabilidade pelas mesmas, não apenas o comerciante que as contraiu, mas também o
seu cônjuge.
Três pressupostos para que respondam ambos os cônjuges por estas dívidas:
- Dívida tem que ser contraída no exercício do comércio: quando é que uma dívida é contraída
no exercício do comércio? Aqui, devemos remeter para o art.15.º CCom, resultando desse artigo que as
dívidas comerciais do cônjuge comerciante se presumem contraídas no exercício do seu comércio (se existir
um ato comercial, as dívidas que dele resultam serão dívidas comerciais – se forem de um comerciante
casado, presumem-se que foram exercidas no exercício do comércio, apenas se tendo que provar, portanto,
que as dívidas se consideram comerciais, funcionando depois aquela presunção)
- O casal não pode estar casado em regime de separação de bens, ou seja, tem que estar casado
em regime de comunhão: caberá à parte que não quer que se aplique o regime do art.1691.º CC provar que
o casal está casado em separação de bens.
- É preciso saber se as dívidas foram contraídas em proveito comum do casal: a doutrina já
discutiu o que se considera “proveito comum do casal”. Por um lado, o proveito comum do casal não tem
que ser um proveito económico, ou seja, para que haja proveito comum do casal não tem que ter existido
lucro envolvido, podendo ser um proveito cultural, obtenção de bilhetes para filme, p.e., utilização de um
carro, etc. Por outro lado, a doutrina tende a considerar que apenas não haverá proveito comum do casal
quando se provar que o casal está separado de facto e que também as suas economias estavam
completamente separadas (se o casal vivia junto, mas tinha economias separadas, há, na mesma, proveito
comum do casal; se vivia separado, mas tinha economias comuns, há também proveito comum do casal –
exige-se total separação das pessoas para que se considere que não houve proveito comum do casal)
Quem é que vai querer que se aplique o regime do art.1691.º e art.1695.º CC? O credor.
Quem vai querer provar que esta dívida não é comum do casal? Os devedores e, sobretudo, o devedor
que não contraiu essa dívida.
Cabe, assim, ao credor provar o primeiro requisito, que a dívida foi contraída no exercício do
comércio, nomeadamente, fazendo uso da presunção prevista no art.15.º CCom. Cabe aos devedores, em
concreto ao cônjuge que não contraiu a dívida, provar que não houve proveito comum do casal e que o
casal não está casado num regime de comunhão (que está casado num regime de separação de bens).
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Casos práticos nº 7
III.
António Silva, farmacêutico, dono da "Farmácia Ideal", vendeu, em maio de 2017, a Belmiro Tadeu,
arquiteto, aquele seu estabelecimento, pelo preço de 2.500.000,00€.
Recusando-se Belmiro a pagar parte do preço acordado, diga quem e que bens pode António
responsabilizar, sabendo-se que está a correr o processo de divórcio entre Belmiro e Carla, casados em
regime de comunhão de adquiridos.
Para sabermos quais os bens que podem ser responsabilizados por esta dívida, temos que ver o
preenchimento dos requisitos do art.1691.º/1/d) CC.
Tem que se tratar de dívida contraída no exercício do comércio: para estes efeitos, existe uma presunção
prevista no art.15.º CCom. Resulta deste artigo que as dívidas comerciais contraídas pelo cônjuge
comerciante se consideram contraídas no exercício do comércio – para isso, temos de saber se as dívidas
são comerciais e se o cônjuge é comerciante. Temos que qualificar o ato – está em causa um trespasse,
que é um ato que é sempre objetivamente comercial, uma vez que tem por objeto um estabelecimento
comercial e todos os negócios que tenham por objeto estabelecimentos comerciais são atos objetivamente
comerciais. Quanto a saber se Belmiro era comerciante: ele era arquiteto, portanto, não é comerciante,
porque a prática de uma atividade liberal fora de uma empresa não é uma atividade comercial – era
prestador de serviços, pelo que, ao exercer esta atividade fora de estabelecimento comercial, não era
comerciante.
Mas isto não basta, porque, ao adquirir um estabelecimento comercial, ele passa
automaticamente a ser comerciante. Portanto, com aquisição do estabelecimento comercial passa a ser
comerciante, estando em causa uma dívida comercial contraída pelo cônjuge comerciante, nos termos
do art.15.º CCom, considerando-se que é contraída no exercício do comércio.
Estando isto provado, podemos dizer que, à partida vão responder ambos os cônjuges por esta dívida,
nos termos do art.1695.º CC: respondem, primeiro, os bens comuns do casal e, subsidiariamente, os
bens próprios de cada cônjuge, salvo se os devedores provarem que se encontram casados num regime
de separação de bens ou se provarem que a dívida não foi contraída para proveito comum do casal. Neste
caso, Belmiro e Carla encontram-se em processo de divórcio – tínhamos que provar que havia total
separação de facto e de economias. Se, por algum motivo, Carla tiver aproveitado a aquisição da farmácia,
seria um bem comum – este aproveitamento é tão simples como, p.e., se farmácia vale 3 milhões € e Belmiro
adquiriu por 2 milhões e 500 mil €, isto significa que património comum do casal enriqueceu em 500 mil
€, pelo que, quando foi adquirida, à partida, passou a ser bem comum do casal, porque estão casados em
comunhão de adquiridos, tendo Carla tomado proveito com este negócio. Por outro lado, se negócio tiver
sido ruinoso e não houver qualquer proveito para Carla, nomeadamente, porque já tinham procedido à
separação das economias e se já não vivessem juntos, então no momento em que a farmácia foi comprada,
ela não foi comprada para proveito comum de ambos os cônjuges, mas sim apenas para proveito de Belmiro.
Estas exceções não são cumulativas – basta provar uma delas. Se se provar o regime de
separação de bens, isso bastará.
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Enquanto conjunto de bens (sentido objetivo), a empresa deve ser definida como: um processo produtivo,
ou seja, conjunto de instrumentos, matérias, conhecimentos organizados de determinada forma com
vista à produção de algo, a um determinado fim. As empresas são compostas por elementos materiais
e imateriais – fazem parte da empresa as suas ferramentas e as marcas que ela utiliza, bem como os
contratos com trabalhadores ou relações de clientela ou conhecimento adquirido na atividade.
Não basta isto para estarmos perante uma empresa, tendo que estar virada para o intercâmbio com
o exterior – significa que, p.e., ao comprar um conjunto de máquinas para produzir trigo no Alentejo apenas
para consumo próprio, e não para venda, estamos perante um conjunto de meios de produção que não está
virado para o exterior. Ou seja, o objetivo tem que ser a venda dos produtos e não apenas o consumo
próprio.
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Trespasse:
Estamos perante uma transmissão definitiva, ou seja, qualquer concessão de gozo temporário do
estabelecimento comercial não é considerada como trespasse.
O trespasse pode ser gratuito ou oneroso, ou seja, tanto é trespasse a doação do estabelecimento comercial,
como a compra e venda do estabelecimento comercial. Aliás, o trespasse, enquanto negócio, descreve
apenas um efeito do negócio que é o efeito da transmissão definitiva do negócio, podendo, na sua base,
estar um qualquer negócio jurídico: uma compra e venda, uma troca, uma dação em cumprimento, uma
realização de entrada em sociedade comercial, etc.
É importante perceber qual o negócio que está na base do trespasse, porque há aspetos do regime que
variam consoante o negócio base:
P.e., o direito de preferência concedido ao senhorio, nos termos do art.1112.º/4 CC, apenas se
atribui em negócios onerosos, como a compra e venda e a dação em cumprimento. Se estivermos perante
doação, essa doação não será alvo de um direito de preferência por parte do senhorio.
Quanto à forma como o trespasse deve ser celebrado, existem diferentes opiniões:
- Há quem defenda que o trespasse não está sujeito a nenhuma forma, na medida em que regime
geral é o da liberdade de forma.
- Há autores que dizem que o regime associado vai depender dos bens que em concreto sejam
transmitidos – p.e., se for transmitido imóvel será necessária celebração de escritura pública
(defendido por Paulo Tarso, por questões práticas: para fazer registo dessa transmissão, se não se levar
escritura pública, poderá não ser admitido). Mas há autores que entendem que não é preciso escritura
pública, recorrendo a analogia com outras normas em que existe transmissão da propriedade de imóveis
sem necessidade de escritura pública.
- Há autores que defendem que o trespasse está sempre sujeito a documento escrito, retirando
isso do art.1112.º CC, que diz que o trespasse de estabelecimento situado em prédio arrendado está sujeito
a documento escrito. Portanto, se é assim para esse trespasse, então deve ser assim para todos os contratos
de trespasse.
Âmbito da negociação da empresa – há três âmbitos dos bens transmitidos com celebração do trespasse:
- Âmbito mínimo: conjunto de direitos ou elementos de empresa que têm que ser
obrigatoriamente transmitidos para que se considere que foi transmitida aquela empresa. Ou seja,
conjunto de elementos sem os quais aquela empresa seria uma empresa diferente. Em causa está um
âmbito que apenas pode ser determinado à luz de um caso concreto, tendo que se olhar para os
elementos transmitidos e ver se falta algum elemento que seja essencial para a caracterização da empresa –
se faltar algum, então a empresa não foi transmitida, mas sim um conjunto de elementos que faziam parte
dessa empresa (p.e.: restaurante “Fontanário” tem uma fonte – se partes transmitem restaurante, mas não
transmitem fonte, nem o nome, então, à partida, não estão a transmitir aquela empresa, porque não será a
mesma aos olhos dos clientes). Isto é relevante sobretudo para efeitos dos contratos de arrendamento,
porque o art.1112.º CC prevê que trespasse de empresa situada em imóvel arrendado não está sujeito
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a consentimento pelo senhorio se houver efetivamente a transmissão da empresa – ora, se faltar algum
elemento essencial para a transmissão da empresa, ela não foi transmitida e o senhorio tinha que ter
autorizado; para que posição de arrendatário seja transmitida, tem que ter havido efetivamente a transmissão
da empresa (o regime é assim para evitar simulação do contrato de trespasse, apenas para que se
conseguisse a transmissão da posição de arrendatário com aquelas rendas mais baixas, sem que houvesse
autorização do senhorio, intervindo no valor da renda).
Não pode ser determinado a priori, pressupondo uma análise casuística. Num caso prático, não é
necessário determinar se elemento é do âmbito mínimo ou não, apenas temos de dizer quais as
implicações, sendo do âmbito mínimo ou não.
Estão incluídos todos os elementos essenciais para a caracterização de determinado estabelecimento
comercial – todos os elementos sem os quais se considera que o estabelecimento comercial deixa de existir.
Exemplo: restaurante “O Fontanário”, composto por sala com grande fonte e mesas situadas
em torno dessa fonte, sendo que parte das pessoas se senta na beira da fonte – é óbvio que fonte é elemento
essencial do estabelecimento, logo, se transmitir o restaurante, mas não transmitir a fonte, então não há
trespasse.
Orlando de Carvalho enunciou a lei tendencial: quanto maior for a duração de um
estabelecimento comercial, menor será a quantidade de elementos físicos contidos dentro do âmbito mínimo
– deixam de ser tão importantes os elementos físicos e passam a ser mais relevantes os elementos imateriais
(clientela, conhecimento dos fornecedores, conhecimento de técnicas específicas relativas à atividade).
- Âmbito natural: é composto por todos os elementos que se transmitem naturalmente com a
celebração do trespasse. Incluem-se nestes elementos, nomeadamente, os seguintes: logótipos e marcas,
desde que estes não incluam nomes ou firmas; meios empresariais cuja propriedade pertença ao
trespassante; prestações laborais e dívidas à Segurança Social; posição de arrendatário e de locatário
financeiro.
Se as partes não estipularem nada em contrário, todas estas posições transmitem-se
naturalmente com a transmissão do estabelecimento comercial – assim, em caso de dúvida, estes
elementos passam para o novo titular do estabelecimento comercial.
Em certos casos, a doutrina não está de acordo quanto à sua inclusão no âmbito natural do trespasse:
imóveis. Parte da doutrina diz que os imóveis não fazem parte do âmbito natural, uma vez que a
titularidade dos imóveis está sujeita a registo civil –não tendo sido transmitido claramente, nenhuma
conservatória de registo predial vai aceitar isso como comprovativo da transmissão da titularidade do
prédio. Outra parte da doutrina diz antes que é preciso interpretar o contrato, nomeadamente,
conhecer o preço em causa.
Exemplo: empresa compra lar de idosos, situado em prédio que vale 5 milhões de euros. O
negócio de trespasse tem como base um preço de 3 milhões de euros. A titularidade do imóvel está
incluída? Não, porque nenhum trespassante venderia o estabelecimento por preço abaixo do próprio
imóvel – assim, venderia antes por 7 ou 8 milhões de euros.
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- Âmbito convencional: incluem-se todas as situações que não vêm incluídas no âmbito natural,
isto é, todos os elementos que apenas se transmitem com estipulação expressa ou tácita entre as partes.
Exemplos: firma do trespassante apenas se transmite com acordo expresso nesse sentido (art.44.º
RRNPC). Logótipos e marcas que contenham nomes e firmas só se transmitem de forma convencional.
As dívidas, créditos e relações contratuais que não sejam as referidas expressamente no âmbito
natural (p.e.: máquinas, veículos ou móveis alugados apenas se transmitem com acordo expresso das
partes) – a este propósito, funcionam na íntegra os regimes previstos no CC para transmissão de dívidas,
cessão de créditos ou cessão de posições contratuais (art.595.º e ss CC, art.577.º e ss, art.424.º e ss CC).
As dívidas, à partida, não se transmitem, logo, qualquer dívida do trespassante não se transmite
com transmissão da empresa para o trespassário. Orlando de Carvalho fazia distinção:
- Débitos puros: dívidas no património do devedor que não têm associadas qualquer
contrapartida por realizar. Estes fazem parte do âmbito convencional.
- Débitos impuros: dívidas em que ainda existe uma contrapartida ou posição de crédito por
realizar. Estes fazem parte do âmbito natural.
Exemplo: mercearia que recebe todos os meses 1 tonelada de laranjas. Em novembro,
recebeu 1 tonelada, e em dezembro vai receber outra. Trespasse é assinado a 1 de dezembro – quando o
contrato é celebrado, à partida, o preço que as partes acordam é um preço que engloba todo o património e
elementos que compõem a empresa à data da celebração do contrato, pelo que, nesse momento, o adquirente
está a comprar também a tonelada de laranjas que vem com a empresa. Se o preço já inclui o valor dessa
tonelada, não faz sentido que, a meio de dezembro, quando se vence o valor relativo à tonelada de
dezembro, o adquirente tenha que a pagar, porque estaria a pagar em 2 momentos – inicialmente,
diretamente ao trespassante e, depois, ao fornecedor. Neste caso, estaríamos a falar de um débito puro,
porque no momento do trespasse, a contrapartida já foi realizada, pelo que essa dívida apenas se transmite
se as partes acordaram nesse sentido.
Mas se o valor é relativo à tonelada de laranjas que ainda está para ser recebida, neste caso,
no momento do trespasse, a avaliação feita do valor do estabelecimento não inclui o valor com a nova
tonelada de laranjas, pelo que, quando estas laranjas chegam, o adquirente enriquece, porque ainda não as
pagou, por não estarem incluídas no preço – quando se vier a vencer no mês seguinte, faz sentido que seja
ele a pagar. Estamos perante um débito impuro, porque tem associada uma contrapartida que ainda não
tinha sido realizada – dívida que se incluiria no âmbito natural do trespasse.
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A par destas obrigações, parte da doutrina considera existir uma obrigação de não concorrência.
Pais de Vasconcelos e Nuno Aureliano consideram não existir esta obrigação de não
concorrência: a obrigação de não concorrência não existe, p.e., nos regimes do contrato de agência ou do
contrato de trabalho + esta obrigação seria contrária ao direito de liberdade de empresa ou de liberdade
económica, que é um direito fundamental previsto na CRP.
Outros autores consideram existir, resultando da vontade das partes: se vendo um
estabelecimento comercial, obrigo-me a entregar efetivamente o estabelecimento. Como é um bem
complexo, a sua entrega não se dá no momento da venda, havendo certo período em que os elementos
pertencentes ao estabelecimento ainda se estão a consolidar na pessoa do trespassário, pelo que, nesse
período, o trespassante não poderia concorrer com o trespassário, sob pena de não estar efetivamente
a transmitir aquele estabelecimento comercial.
Questão: saber quem são as pessoas que estão sujeitas a esta obrigação de não concorrência? São
sobretudo:
- O próprio trespassante
- Todas as pessoas que estão num círculo próximo do trespassante, desde que cumpram 2
requisitos: tenham conhecimentos de facto sobre a organização e funcionamento da empresa, que possam
levar a que exista uma concorrência efetiva, que dificulte a consolidação dos elementos empresariais na
esfera do trespassário (ou seja, sobretudo, os familiares do trespassante que também trabalhavam no
estabelecimento) + tenham retirado proveito económico do negócio (p.e., se estiverem ainda em economia
comum com o trespassante).
Em suma, podem estar abrangidas por estas obrigações: o trespassante, os seus familiares
mais próximos (cônjuge e filhos) e também, caso o trespassante seja sociedade comercial, os sócios
dessa sociedade.
É preciso delimitar esta obrigação de não concorrência: apenas haverá quando em causa estiver o
desenvolvimento de uma atividade que obste à consolidação dos elementos da empresa no novo titular.
Tem que se limitar esta obrigação de 3 formas diferentes:
- Âmbito material/objetivo: apenas abrange atividades concorrentes (p.e.: se compro a Taberna
Londrina e, no dia seguinte, o trespassante abre uma loja de sapatos ou gelataria ao lado, então não haverá
problema).
- Tem que haver limite espacial para esta concorrência (p.e.: se trespassante abre Taberna Londrina
em Braga ou Lisboa, estes restaurantes não impedem que consolide elementos do estabelecimento do Porto
na esfera no trespassário, porque não há verdadeira concorrência).
- Tem que haver uma limitação temporal: apenas haverá esta obrigação de não concorrência
durante o período de tempo necessário para a consolidação dos elementos do estabelecimento
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comercial na esfera do novo titular – passados 5 anos, se trespassante quiser abrir outro restaurante de
francesinhas na baixa do Porto, já estará cumprida a obrigação
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um contrato de trespasse, quando na verdade o “trespassante” vai manter todos os elementos da empresa.
Neste caso, não tendo as partes transmitido a empresa, não há trespasse.
Há 2 casos em que é evidente: não há transmissão dos elementos que fazem parte do
âmbito mínimo OU quando há sucessivamente uma alteração imediata da atividade daquela empresa
(p.e., se compra restaurante e no dia seguinte abre como gelataria, então não quis verdadeiramente comprar
aquela empresa). Nestes casos, considera-se que deveria ter havido autorização do senhorio.
- Art.1112.º/5 CC: legislador acrescenta nova situação que pode tutelar a posição do senhorio,
prevendo que, mesmo que se considere que houve um trespasse, se houver posteriormente uma
modificação no destino a dar ao prédio, o senhorio vai poder resolver o contrato.
Exemplo: transmiti o restaurante e o trespassário quis ficar com ele, mas ao fim de 1 ano
percebeu que não tinha grandes lucros. Nesse caso, o novo titular da empresa pode querer passar a explorar
como discoteca – esta mudança do destino a dar à empresa é bastante para que se proceda à resolução do
contrato, nos termos do art.1112.º/5 CC.
A transmissão da posição de arrendatário tem que ser comunicada. Se esta comunicação não for feita,
é possível que exista uma causa de resolução do contrato de arrendamento, nos termos do art.1083.º
CC.
Para que exista uma causa de resolução será necessário que esta falta de comunicação tenha tido
consequências graves para o senhorio de tal forma que torna inexigível a manutenção do arrendamento.
Art.1049.º CC diz que o senhorio deixa de poder resolver o contrato com fundamento na falta de
notificação, se tiver reconhecido o beneficiário da cedência, o novo arrendatário (p.e., através da
aceitação do pagamento das rendas por parte dele).
Existem dúvidas sobre qual o prazo para proceder a esta comunicação – a regra geral está prevista
no art.1038.º CC: 15 dias. Existe uma regra especial no art.1109.º CC, que respeita à locação de
estabelecimento comercial: parte da doutrina diz que não faz sentido aplicar a regra geral de 15 dias, se,
para um caso semelhante, há uma regra especial que prevê que esta comunicação pode ser feita em 30 dias
– parte da doutrina diz que se deve aplicar este prazo de 30 dias para a comunicação, e não a regra geral de
15 dias.
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Portanto, o que temos de averiguar num caso em que há trespasse de estabelecimento situado em
prédio arrendado:
- Ver se há direito de preferência do senhorio (só se trespasse for por compra e venda ou dação
em cumprimento)
- Perceber se está efetivamente em causa um trespasse, para saber se é necessário o
consentimento do senhorio na transmissão da posição de arrendatário
- Havendo trespasse, dispensa-se o consentimento, mas é necessária notificação
- Se há notificação e há trespasse, há ainda uma causa autónoma de resolução: prédio, em
momento posterior, passa a ter destino diferente
Locação do estabelecimento:
Ao contrário do trespasse, a locação é temporária e é sempre onerosa (o trespasse pode ser oneroso ou
gratuito – relevante, porque há aspetos do regime que só se aplicam quando é oneroso, como o direito de
preferência, que apenas existe em casos em que trespasse é concluído através de compra e venda ou dação
em cumprimento, nos termos do art.1112.º/4 CC).
O regime segue princípios semelhantes ao do trespasse, com talvez uma pequena exceção relevante: a
locação de estabelecimento é um contrato relativamente tipificado na lei. O estabelecimento comercial
é, à partida, um bem móvel e o contrato de locação é um contrato típico, pelo que, em grande medida,
locação corresponde ao contrato de aluguer. Assim, supletivamente, aplicam-se as regras previstas para este
tipo de contrato – p.e., no contrato de aluguer, exige-se que, durante o contrato, se realize a manutenção da
coisa alugada e, findo o contrato, se proceda à restituição da coisa alugada, em termos semelhantes à coisa
que havia recebido (se alugo um carro, tenho que o devolver tal como foi disponibilizado – o mesmo se
passa com a empresa: tenho que manter os elementos essenciais da empresa, devolvendo-a em condições
semelhantes àquelas em que a recebi).
Âmbito de entrega:
Aplicam-se as regras do trespasse, com 2 alterações:
- Não há a transmissão da propriedade dos elementos pertencentes à empresa: no trespasse,
tudo se transmite para trespassário. Na locação, existe apenas um direito de disponibilidade sobre esses
elementos, e não transmissão da propriedade – p.e., se alugo um carro, não fico com direito ao triângulo
ou macaco que vem com o carro, mas sim direito de disposição sobre esses bens.
- Os logótipos e as marcas transmitem-se sempre, independentemente de conterem ou não
referências ao locador da empresa.
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O locador fica com obrigação de não concorrência: esta obrigação parece resultar diretamente da lei,
neste caso. No regime da locação, prevê-se que locador tem a obrigação de permitir o gozo e fruição da
coisa locada – quando em causa está uma empresa, o gozo e fruição da empresa pressupõem que o locador
não vá concorrer com a empresa. Esta obrigação e não concorrência tem os mesmos limites que vimos
para o trespasse – material (só no âmbito de atividades concorrentes), espacial (apenas dentro de
determinado território) e temporal (mas aqui já vem pré-estabelecido: será durante todo o contrato de
locação).
O locatário tem alguma obrigação de não concorrer? Se tem obrigação de manutenção da empresa, não
pode, ao abrir outra empresa concorrente, estar a desvalorizar a empresa, retirando-lhe elementos
fundamentais (desvio de clientela, desvalorização do potencial da empresa, etc.). Além disso, não cumpre
com obrigação de devolver a empresa no estado em que a recebeu, porque vai devolver empresa que
pode ter sido prejudicada no que respeita, p.e., ao seu elemento de clientela. Aqui, há um poder-dever:
locatário tem obrigação de explorar empresa e não concorrer com ela (desvaloriza empresa se concorrer
com ela), mas também tem direito a explorar empresa (decorrente do contrato de locação) – não significa
que locatário não tenha que fazer certas alterações à empresa (p.e.: copos, pratos, forno), mas essa alteração
não pode corresponder a um prejuízo para a qualidade da empresa.
E findo o contrato, o locatário pode abrir um restaurante concorrente? Parte da doutrina diz
que se aplica o regime da agência ou do contrato de trabalho e o direito à liberdade de exploração
económica, dizendo não estar obrigado a não concorrer. Outra parte da doutrina diz que obrigação
de não concorrência resulta da obrigação de restituir a empresa – se restitui empresa e no dia seguinte
cria uma empresa concorrente ao lado, então pode o locador ainda não ter voltado a consolidar em si todos
os elementos, podendo não estar a fazer uma entrega efetiva da empresa.
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1.
Dias após a celebração do contrato, Barata telefona a Ambrósio com vista a combinar um dia para
procederem às formalidades relativas à transferência da firma ("Ambrósio Roque, discos e cassetes"), e
para que este o apresente pessoalmente a alguns distribuidores de discos. Ambrósio recusa-se, dizendo
que não queria nem era obrigado a transmitir a firma e que só apresentava os seus conhecidos a quem
quisesse. Quid iuris?
Estrutura da resposta (em sede de exame):
- Dizer que em causa está um trespasse + fazer a caracterização do contrato: contrato de
transmissão definitiva, concluído de diversas formas, neste caso, por CV.
- Por vezes, temos que dizer o que está incluído na empresa, daí distinção entre os vários
âmbitos – aqui, o elemento em causa respeita às firmas.
A firma apenas se transmite se houver acordo expresso das partes – não tendo havendo declaração
expressa no sentido de transmitir a firma, a firma não foi transmitida, nem estava Ambrósio obrigado
a transmitir a firma (art.44.º RRNPC). Fazem parte do limite convencional.
A firma não foi transmitida, mas podia? Sim, desde que fosse transmitida por escrito, juntamente
com o estabelecimento comercial e se fizesse referência na própria firma a essa sucessão.
E quanto à obrigação de apresentar os distribuidores de discos ao novo proprietário da empresa? Em
causa está matéria relativa ao modo de entrega do estabelecimento, matéria sobre a qual se diz que o
trespassante está obrigado a realizar um conjunto de prestações que são necessárias à transmissão efetiva
do estabelecimento comercial, transmissão esta que se dá apenas se forem transmitidos os elementos
essenciais (clientela, fornecedores, conhecimento técnico, etc.,). Estaria obrigado a transmitir
informações sob pena de incumprimento face a Barata – face a este incumprimento, seriam aplicadas
as regras gerais, podendo Barata optar pela resolução do contrato e indemnização OU pela manutenção do
contrato e indemnização.
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2.
Dois meses após Barata ter tomado posse do estabelecimento, recebe uma carta de Casimiro em que este
lhe comunica a intenção de o despejar. Invoca, para o efeito, os seguintes fundamentos:
a.
Apesar de ter já por duas vezes aceite o pagamento da renda por Barata, Casimiro não foi devidamente
notificado do trespasse do estabelecimento, o que o impediu de exercer (como alegadamente pretendia)
a preferência legal que a lei lhe atribui;
b.
O trespasse não acarretou, como deveria por força da lei, a transferência de todos os bens que
compunham o estabelecimento, tendo Ambrósio ficado para si com um gira-discos, as colunas de som e
um disco autografado de Elvis Presley (que desde sempre decorava a loja e que se tornara mesmo na
sua imagem de marca, aparecendo como imagem de fundo na publicidade incluída em jornais da
especialidade);
Aqui, estava em causa perceber se se aplicavam os nº 1 e 2 do art.1112.º CC: daqui resulta uma exceção à
regra geral, de acordo com a qual o senhorio tem que consentir na transmissão da posição contratual de
inquilino (se o inquilino cede posição contratual a terceiro sem consentimento senhorio, este pode resolver
o contrato).
O art.1112.º CC diz que, em caso de trespasse, não é necessário o consentimento, mas apenas
comunicar a realização do trespasse.
Além disso, considera-se que não há trespasse, p.e., se não forem transmitidos todos os elementos do
âmbito mínimo ou se houver logo uma alteração da atividade da empresa. A este propósito, houve
elementos que pertenciam à empresa e não foram transmitidos – mas não se exige que todos os elementos
da empresa sejam transmitidos, apenas todos os elementos do âmbito mínimo. Assim, não é relevante saber
se gira-discos ou colunas de som foram transmitidas, mas sim o disco do Elvis Presley – aqui, aceita-se
qualquer uma das perspetivas: se se considera transmitida na mesma sem este disco, então, nesse
caso, houve trespasse e não era necessário consentimento, mas sim comunicação. Se se considerar que
era do âmbito mínimo, então não houve trespasse, sendo necessário consentimento do senhorio – não
tendo existido, o contrato pode ser resolvido.
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Direito Comercial Aulas Práticas
c.
Sendo Barata um grande apreciador e especialista de heavy-metal (género que Ambrósio praticamente
não vendia), a clientela do estabelecimento alterou-se substancialmente desde o trespasse, sendo
constantes as queixas dos outros inquilinos do prédio, a quem desagrada o estilo dos novos clientes.
Serão estes argumentos procedentes?
3.
Cerca de seis meses depois do trespasse, Ambrósio resolve retomar a atividade profissional e abre uma
nova loja de discos em Valongo. Ao saber disso, Barata procura saber se pode ou não impedir Ambrósio
de realizar esse propósito, e quais os meios legais ao seu dispor para o efeito. Qual é a sua opinião? A
resposta seria a mesma no caso de a proprietária do novo estabelecimento ser Dora, com quem este é
casado em regime de separação de bens, ou a sua filha Ester? E se a nova loja de Ambrósio se dedicasse
exclusivamente à venda de discos de Jazz e música clássica?
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TÍTULOS DE CRÉDITO
O que é um título de crédito?
É um documento que incorpora um direito literal e autónomo que legitima o titular do título a exercê-
lo e suporta a sua circulação e mobilização.
Exemplo de título de crédito: cheques, letras, livranças, bilhetes de cinema – incorpora o direito da
pessoa que tem esse bilhete de poder entrar numa sala para assistir a um filme (vantagem: pode existir
diferimento do momento em que a pessoa paga bilhete e momento em que efetivamente vai assistir a filme
+ pode transmitir bilhete a outra pessoa que vai poder ir ao cinema no seu lugar – aliás, até pode encontrar
bilhete no chão). Interessam os 3 primeiros.
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Definições:
- Direito cartular: direito que é constituído e que é incorporado no título de crédito e no qual são
devedores todos os obrigados cambiários.
Este direito é sempre um direito pecuniário.
Este direito é distinto do direito subjacente/da relação subjacente, nomeadamente, no que diz
respeito à prescrição: o direito cartular tem um prazo de prescrição muito curto – face ao aceitante é de 3
anos; face aos restantes obrigados cambiários é de 1 ano – ou seja, passado 1 ano, todos os obrigados
cambiários deixam de responder pelo cumprimento daquele título de crédito e o mesmo quanto ao aceitante
ao fim de 3 anos. Mas não significa que prescreva a obrigação subjacente – nos termos gerais das
obrigações, o prazo é de 20 anos. Além disso, tem como devedores todos os obrigados cambiários, enquanto
o direito subjacente só tem um devedor (o seu devedor originário).
- Negócio subjacente: é o negócio que explica o direito cartular e a sua circulação. Relativamente a
cada negócio cartular, que envolva direito cartular, tem que estar subjacente determinado negócio (p.e.: sou
titular de uma letra, vou endossar essa letra ao meu filho – este endosso pode ter na sua base diferentes
negócios, como a doação do crédito em si, porque lhe devo o valor previsto na letra, etc.).
Relativamente ao saque, há negócio subjacente entre tomador e sacador.
No aceite, há negócio subjacente entre sacado e sacador, que faz com que sacador possa dar
ordem de pagamento ao sacado.
Entre cada endosso há um negócio subjacente entre endossante e endossatário.
Deve haver negócio subjacente a qualquer aval, entre o avalista e o obrigado cambiário
que está a ser avalizado.
Normalmente, estes negócios são negócios de dação em função do cumprimento, ou seja,
através deles pretende-se conseguir a extinção da obrigação subjacente, ainda que esta só se extinga
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se o beneficiário do negócio conseguir executar o título – ou seja, se devo 1.000€ a alguém, posso-
lhe endossar uma letra que tem o valor de 1.000€, mas este endosso, à partida, não extingue logo a
obrigação que eu tinha, apenas se extinguindo na medida em que o credor consiga receber os 1.000€
através da execução dessa letra.
- Sacador: pessoa que dá a ordem de pagamento, que saca a letra. É o primeiro obrigado, mas não o
principal obrigado: é o primeiro, porque, com o saque, dá-se uma ordem para pagamento, mas também se
constitui a obrigação de o sacador pagar, caso a sua ordem de pagamento não seja cumprida. À partida, não
é o principal obrigado cambiário, que será o sacado a partir do momento em que passe a aceitante.
- Sacado: enquanto for apenas sacado não está obrigado a pagar. É a pessoa que recebe a ordem para
pagamento e que passa a aceitante assim que aceite pagar aquela ordem. Se ele não aceitar pagar
aquela ordem, ele nunca vai ser um obrigado cambiário, dentro daquela relação de crédito.
- Tomador/beneficiário: aquele a quem deve ser pago o direito cambiário e que pode ser o próprio
sacador (eu posso emitir uma ordem de pagamento em que sou o próprio beneficiário).
- Endossatário: o novo tomador, aquele que através de um negócio de endosso passa a ser o novo
beneficiário ou tomador.
- Distinção entre relação imediata e mediata: a relação imediata é a relação que exista entre dois
intervenientes no título cambiário, que tenham entre si uma relação subjacente. A relação mediata é
a relação que existe entre dois intervenientes numa determinada relação cambiária, em que não exista
nenhuma relação subjacente, ou seja, nenhuma relação que fundamente determinado negócio cambiário,
como o saque, aceite, endosso ou aval.
Isto será importante para que efeitos? Quanto aos meios de defesa – em regra, só podem ser usados
meios de defesa nas relações imediatas.
- Saque: é o negócio que cria o título de crédito, é a ordem para pagamento. Para além de ser ordem
para pagamento, o saque, nos termos do art.9.º LULL, consiste na prestação de uma garantia por parte
do sacador de que o sacado vai aceitar a ordem e vai pagar o direito cartular – significa que, reunidos
determinados pressupostos, se sacador não aceitar ou não pagar, quem vai pagar vai ser o sacador (por isso
é também obrigado cambiário).
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- Aceite: negócio unilateral, nos termos do qual o sacado aceita a ordem de pagamento dada pelo
sacador e se obriga a pagar a letra na data do seu vencimento ao tomador (à pessoa que lhe tenha
apresentado a letra para aceitação) ou a qualquer beneficiário ou tomador dessa letra. Até ao negócio
de aceite (nomeadamente, através da assinatura da própria letra), sacado não é obrigado a pagar a letra
Se o tomador da letra apresentar letra para aceitação e sacado não aceitar o pagamento da letra:
o negócio do protesto é um negócio que comprova a não aceitação ou o não pagamento por parte do
sacado ou do aceitante. Só após a existência de um protesto é que o beneficiário da letra vai poder
exigir o cumprimento da letra aos demais obrigados cambiários (sacador e todos os ex-tomadores da
letra, porque através do endosso, o titular do título de crédito transmite esse título a outra pessoa, obrigando-
se também a pagar o título de crédito, caso os restantes obrigados cambiários não paguem). Sem este
protesto, sem esta comprovação da falta de aceitação ou pagamento, os obrigados cambiários não estão
obrigados a pagar a letra. Concluindo, é um negócio em que o notário comprova que houve falta de
aceitação/pagamento daquela letra.
- Endosso: negócio que faz circular o título de crédito. O tomador do título de crédito ordena que o
pagamento não lhe seja feito a si, mas seja feito a outra pessoa, que será o endossatário ou novo beneficiário
ou novo tomador. Sacador saca letra a favor do primeiro tomador e o tomador diz antes para pagar a uma
outra pessoa – dá-se a transmissão da ordem de pagamento face a outra pessoa. Quando ocorre, o
endossante promete ainda que vai pagar a letra, caso o sacado ou aceitante não pague. O endosso é
feito como? Pega-se na letra e escreve-se que “Eu, X, transmito a letra a Y” e assim sucessivamente.
- Aval: promessa que uma pessoa dá de que vai pagar uma letra de forma solidária com algum
obrigado cambiário.
O aval constitui uma obrigação solidária, o que é diferente da fiança: na fiança, existe uma
obrigação subsidiária (primeiro, responde o património do devedor e, só depois, o património do fiador);
no aval, o tomador pode exigir o pagamento do título de crédito tanto ao avalista como ao avalizado.
Se o avalista pagar o título de crédito, ele fica sub-rogado na posição em que estaria o avalizado, ou
seja, avalista diz que face a todos os tomadores futuros, promete pagar nos mesmos termos em que avalizado
fica obrigado a pagar – não tendo a letra sido paga, tomador vai poder exigir o pagamento a todos os
obrigados cambiários atrás dele na cadeia de pagamentos. Se avalista fica sub-rogado na posição do
avalizado, vai depois poder exigir pagamento a todas as pessoas que estão atrás na cadeia de
pagamentos.
- Apresentação da letra a pagamento: quando uma pessoa tem um título de crédito, pode fazer a
apresentação de título de crédito para pagamento ou para aceitação, sendo que o sacado pode recusar
aceitar e pode recusar pagar. Quando isto acontece, há a necessidade de provar esta falta de aceitação e
de pagamento, através do protesto, protesto este que pode ser protesto por falta de aceite ou protesto por
falta de pagamento.
O protesto é condição essencial para que fique provado que o sacado não colaborou e só a partir
desse momento é que o beneficiário do título de crédito pode exigir o pagamento aos restantes obrigados
cambiários. Para que todos os obrigados cambiários saibam da existência deste protesto, a lei
estabeleceu a obrigação de o tomador do título informar esta situação ao obrigado cambiário anterior
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a ele, para que este informe da situação o obrigado cambiário anterior a ele e assim sucessivamente, para
que todos sejam informados de que o título de crédito pode ser exigido a qualquer um deles.
➢ Notas:
- Há vários tipos de prazo para pagamento dos títulos de crédito: aquando do vencimento do título
de crédito, o seu pagamento deve ser exigido na data de vencimento ou nos 3 dias seguintes.
- Há vários prazos para apresentação de uma letra para pagamento.
- Há vários prazos diferentes para a realização do protesto: a realização do protesto deve, à
partida, ser feita nos 4 dias úteis seguintes à recusa de aceitação ou à recusa de pagamento. Se o
protesto não for feito neste prazo, ele deixa de poder ser feito – ou seja, se deixa de haver protesto,
que era essencial para obrigar todos os outros obrigados cambiários a pagamento, essas pessoas
nunca serão responsáveis pelo pagamento daquele título de crédito (art.53.º LULL).
A quem é que o tomador pode exigir o pagamento da letra? Pode exigir o pagamento ao aceite ou pode
exigir que o sacado aceite. Se o sacado não aceitar ou se o aceitante não pagar, ele vai poder exigir o
pagamento da letra a todos os obrigados cambiários (todas as pessoas que tiverem participado na relação
cambiária) – para o efeito, tem que provar que houve falta de pagamento ou de aceitação por parte do
sacado, através do protesto; a partir desse momento, pode exigir o pagamento da letra a qualquer um dos
obrigados.
Assim que exige o pagamento da letra a cada um dos obrigados, esse obrigado, pagando, deverá
exigir o pagamento a qualquer um dos obrigados cambiários que se encontre atrás dele na relação
cambiária. À partida, o último a pagar a letra, se não pagar a letra o sacado/aceitante, será o sacador.
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- Autonomia do direito cartular face à relação subjacente: o direito cartular é distinto do direito da
relação subjacente, porque os devedores podem ser diferentes, o prazo de prescrição é diferente e, p.e., as
exceções existentes relativamente ao direito subjacente poderão não ser invocadas relativamente ao direito
cartular.
Exemplo: bilhete de cinema custa 10 euros. Uma pessoa ameaça com uma arma, para conseguir
obter o bilhete de cinema. Entretanto, essa pessoa dá esse bilhete a um familiar – na base deste bilhete está
uma relação nula, tendo o contrato sido celebrado com base em coação, mas não vai afetar o direito cartular
subjacente ao bilhete. Assim, há autonomia do direito cartular face aos vícios do direito e da relação
subjacente.
Existem apenas 2 circunstâncias em que deixa de haver independência entre título cartular e
relação subjacente:
- Quando em causa esteja uma relação imediata: ou seja, quando exista uma relação
entre o tomador e o obrigado, se existir nessa relação imediata alguma exceção que possa
impedir o cumprimento daquele direito, essa exceção pode ser invocada (exemplo: X –
A – B – C – D: A ordenou a X que pagasse a B determinada quantia; C, sabendo que B tinha
esta letra, obriga B a endossar-lhe esta letra, usando uma faca; C pega nesta letra e endossa
a D, porque lhe devia 50 euros – a quem é que D deve inicialmente exigir o pagamento da
letra? A primeira pessoa a contactar é X, para conseguir aceitação ou o pagamento. Mas X
diz que não aceita pagar. Em segundo lugar, D deve fazer protesto, comprovando que X se
colocou fora desta relação cambiária. D, a partir daí, vai poder exigir o pagamento dos 50
euros a A, B e C. D não quer exigir de C, então vai contactar B, mas B diz que não paga,
porque assinou letra por ter sido ameaçado – pode fazer isto? Não pode, porque é uma
exceção que apenas diz respeito à relação entre B e C, pelo que, relativamente a qualquer
terceiro, B estará obrigado a pagar). Este é o princípio da abstração: dá a ideia a qualquer
pessoa tomadora do título de crédito que efetivamente o título poderá ser pago por todas
aquelas pessoas, ninguém pode opor um meio de defesa respeitante a relação de que
não é parte ou que não conhecia anteriormente). No exemplo, se D pede a C para pagar,
C está obrigado a pagar – de seguida, C toma a letra e exigir às pessoas anteriores; pode
exigir a B o pagamento? B não está obrigado a pagar os 50 euros, porque ele tem uma
exceção relativa a uma relação imediata. Neste caso, C poderá exigir o pagamento a A.
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Imaginando que existe ainda E depois de D, na cadeia cambiária. D está de boa fé,
porque não conhecia que endosso de B face a C tinha sido alcançado por meios de coação.
D endossa a letra a E, mas E presenciou este facto, conhecia a coação. Neste caso, poderá
B invocar face a E aquele meio de defesa? A boa fé de D sana qualquer má fé futura,
porque, no limite, E podia exigir o pagamento a D e D poderia exigir o pagamento a B, caso
em que não poderia invocar a exceção.
- Princípio da incorporação: o direito apenas existe enquanto existir o título físico. O título físico não
é meramente probatório, ele é constitutivo e incorpora o próprio direito cartular. Ou seja, sendo
destruído ou desaparecendo o título de crédito, pode também desaparecer o direito cartular, salvo se
se realizar um processo judicial próprio de restituição do título de crédito. Além disso, aquando da
exigência de pagamento do título, este tem que ser sempre apresentado e devolvido ao pagador – se
não for devolvido, poderá ser exigido 2 vezes (exemplo: C exige o pagamento a B e B paga, mas não pede
a entrega do título de crédito; nada impede C de exigir o pagamento novamente a A, porque é o próprio
título que incorpora o direito).
- Legitimação: está legitimado para exercer o título de crédito quem conseguir provar a sua
titularidade, à luz de uma sucessão de endossos. Além disso, o obrigado pelo pagamento fica exonerado
do pagamento do título de crédito, se pagar a uma pessoa que consiga demonstrar que é efetivamente o
titular daquele título de crédito.
Exemplo: A endossa título a D. Entretanto, aparece tomador que diz que realizou protesto e quer
que A pague. A só tem que olhar para o título e perceber se consegue provar que ele é o titular – se conseguir
e pagar, então fica exonerado do pagamento.
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Enquanto Ulisses for sacado, ele não está obrigado a pagar. Apenas fica obrigado a pagar a partir do
momento em que aceite a ordem de pagamento. Não podemos dizer que, neste momento, Ulisses está
obrigado a pagar.
Imaginemos que Ulisses aceita pagar, mas depois se recusa a pagar. O que pode Teodoro fazer? Pode
fazer o protesto, para comprovar a falta de pagamento por parte de Ulisses e para, a partir desse momento,
poder exercer os seus direitos face aos demais obrigados cambiários (no caso, Zénon e Xavier – Zénon
é obrigado cambiário, porque, através do saque, garantiu pagamento daquela ordem ao tomador; Xavier é
obrigado cambiário, porque, através do endosso, transmitiu a ordem de pagamento e garantiu que, se a
ordem não fosse cumprida, ele próprio pagava).
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Imaginemos que Teodoro vai exigir o pagamento à Zénon, porque Ulisses não aceitou ou não pagou,
tendo havido protesto. Neste caso, pode Vasco dizer que apenas vai pagar 1.500€, porque era esse o
valor que queria ter escrito? Tem que pagar o que está na letra, por causa do princípio da literalidade
e da abstração: o obrigado não vai poder invocar o errado preenchimento da letra relativamente ao tomador
que desconhecia esta situação – esta é a única forma de confiarmos nos valores previstos nos títulos de
crédito.
E se Teodoro exige o pagamento a Xavier? Xavier está obrigado a pagar, não tendo qualquer exceção
que possa invocar na relação imediata entre Xavier e Teodoro. Quando Xavier paga a Teodoro, vai
ficar tomador da letra e, assim, vai exigir o pagamento à Zénon. Exigindo a letra à Zénon, pode Vasco
alegar o preenchimento errado da letra? Nos termos do princípio da abstração, há autonomia entre direito
cartular e direitos subjacentes, exceto quando exceções da relação imediata podem ser invocadas contra o
tomador da letra – neste caso, estamos perante uma exceção que deriva de uma relação imediata
(existente entre tomador e pessoa a quem está a ser exigido pagamento da letra). Assim, o errado
preenchimento da letra pode ser invocado face a Xavier. Esta letra perde o seu relevo e a Zénon paga a
obrigação subjacente ao saque da letra, que é a obrigação de 1.500€.
II.
Como forma de satisfazer créditos e débitos recíprocos resultantes das suas sessões de poker, Silva sacou
uma letra sobre Rocha, que aceitou, à ordem de Queirós no valor de 2000€.
Queirós endossa posteriormente a letra a Paula, uma jovem de 21 anos com quem mantinha uma relação
extramatrimonial, perante a ameaça formulada por esta de contar o caso à sua mulher.
Paula, por sua vez, endossa a letra a Olegário, dono de uma loja de pronto-a-vestir onde esta tinha
crédito e também ele parceiro ocasional daquelas sessões de poker. De quem pode Olegário exigir o
pagamento?
Rocha (sacado) – Silva (sacador) – Queirós (tomador) – Paula (1º novo tomador) – Olegário (2º novo
tomador)
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ser devedor de uma obrigação natural. Ou seja, Rocha não vai poder responder a Olegário que não paga,
na medida em que em causa está uma obrigação natural, porque estamos perante uma relação
mediata e as exceções relativas a relações mediatas não são invocáveis face ao portador do título.
Olegário conhecia aquela relação da qual resultava uma obrigação natural – significa que Olegário
estava de má fé e que Rocha podia invocar esta exceção para não pagar a letra? Rocha não poderia
invocar o facto de ser obrigação natural, na medida em que, embora Olegário pudesse ser considerado
de má fé, existe uma pessoa na relação cambiária que, estando de boa fé (Paula), limpa todas as má
fés posteriores.
Imagine-se que Rocha diz que não tem dinheiro para pagar. Olegário tem que fazer o protesto, dentro
de prazo que será, à partida, de 4 dias úteis. Se não protesta, os obrigados cambiários deixam de estar
obrigados a pagar, à exceção do sacado. Se realiza o protesto, pode exigir o pagamento a todos os
obrigados cambiários – ele pode exigir o pagamento a qualquer um deles pela ordem que pretender? Pode
exigir a quem quiser, portanto, pode exigir a Paula, Queirós ou Silva. A partir do momento em que um
deles pague, esse deve exigir a entrega do título e passa a poder exigir dos demais obrigados cambiários
que estejam à esquerda dele na relação cambiária o pagamento da letra.
Caso Olegário exija o pagamento a Paula e esta pague, Paula pode exigir o pagamento da letra
a Queirós e a Silva. Exige a Queirós – este está obrigado a pagar? Não, estamos perante uma exceção
que existe relativamente a uma relação imediata, que poderia ser invocada por Queirós. Paula pode
ainda exigir o pagamento a Silva – Silva está obrigado a pagar, porque, sendo o sacador, ele vinculou-
se e garantiu que se o sacado/aceitante não pagasse, ele pagava, sendo que não existe nenhuma relação
imediata entre Silva e Paula que permita a invocação de qualquer exceção face a Paula, estando obrigado a
pagar este montante.
Qualquer obrigado cambiário apenas se encontra obrigado a pagar o título de crédito, na medida em
que o portador do título consiga demonstrar a existência da sua legitimidade para exigir o pagamento,
legitimidade esta que se consegue demonstrando a existência de uma corrente ininterrupta de relações
cartulares que termina nele. Ele faz isto, mostrando o título onde, à partida, vão estar indicados todos os
titulares do título.
III.
Guilherme, com o aval de Hugo, aceita uma letra no valor de 5000€, sacada por Filomena (a quem tinha
encomendado tecidos nesse valor) à ordem de Elizabete. A letra é endossada por Elizabete a Daniel, um
carpinteiro que conhece bem os demais obrigados cambiários, e sabe (ao contrário de Elizabete) que os
tecidos comprados por Guilherme a Filomena nunca tinham sido entregues.
i)
Daniel quer saber de quem pode exigir o pagamento da letra, que se venceu há precisamente uma
semana.
Temos que perceber as pessoas que estão de boa ou má fé, quais as relações subjacentes e as exceções
que podem existir.
Aqui, apenas existe a exceção de não cumprimento, na medida em que há contrato que não foi cumprido.
Mas esta exceção apenas pode ser invocada na relação imediata, não face aos restantes.
Quanto ao avalista, este responde em termos solidários. Estando Guilherme obrigado a pagar, também
estará obrigado a pagar Hugo. Assim, Daniel, em primeiro momento, pode exigir pagamento a
Guilherme e a Hugo.
Se Guilherme e Hugo não pagarem, Daniel tem que protestar no prazo previsto na lei. Fica legitimado
para exigir pagamento aos restantes obrigados cambiários: sacador e quaisquer endossantes – pode
exigir a qualquer um destes e esses a qualquer um dos outros atrás na linha, desde que não haja entre eles
exceção em relação imediata ou má fé.
ii)
A resposta seria a mesma se tivesse vencido anteontem?
Como já passaram mais de 2 dias úteis, a letra já não teria de ser paga.