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Regime Jurídico Especial dos Actos de Comério

O que se pretende diante do regime jurídico especial dos actos de comércio, é distinguir
aspectos fundamentais dos actos de comércio que os diferenciam dos actos civis.

1. Simplicidade da forma dos actos comerciais

O artigo 216.º do Código Civil estabelece o princípio da consensualidade ou liberdade da


forma de delaração negocial (a validade da declaração negocial não depende da
observância da forma especial, salvo quando a lei exigir). Este princípio é no entanto
aplicado de maneira muito mais extensa no direito comercial. O objectivo é o de promover
as relações comerciais, protegendo o crédido e a boa fé.

A título de exemplo, temos alguns casos da simplicidade da forma nos actos de comercío:

• O artigo 96.º do Código Comercial, estabelece a liberdade de língua dos actos de


comércio declarando válidos os documentos comerciais independentemente da
língua em que sejam exarados. Este regime sofre naturalmente os
condicionalismos e as excepções em maérias de contratos com o consumidor,
designadamente nos contratos por adesão nos termos do preceituado na lei 04/03
de 18 de Fevereiro (lei das cláusulas gerais dos contratos).

• O artigo 396.º do Código Comercial admite todo o género de prova para o


empréstimo mercantil entre comerciantes. Isto significa que o direito comercial
dispença da exigência de forma para o contrato de mútuo entre comerciantes. Este
regime diverge do regime geral do artigo 1143.º do Código Civil que prevê,
consoante o valor do mútuo, a celebração de escritura pública ou documento
assinado pelo mutuário.

A lei das sociedades comerciais prevê em tese, uma interessante situação em que pode
ocorrer uma excepção à admissibilidade de todo o género de prova no mútuo mercantil
entre comerciantes. Trata-se do contrato de suprimento previsto e regulado no artigo 269.º
da lei das sociedades comerciais. O n.º 4 desse artigo exige a forma escrita para que o
contrato de suprimento seja válido. Assim no caso em que uma Sociedade comercial, e
por conseguinte comerciante em nome colectivo, sócio de uma outra Sociedade
comercial, trambém ela comerciante em nome colectivo, empreste dinheiro ou outra coisa
fungível a essa mesma sociedade, estaremos sem dúvida diante de um mútuo mercantil
entre dois comerciantes.

• O artigo 398.º do Código comercial prevê que o penhor mercantil é válido com a
entrega simbolica da coisa empenhada efectuada por uma das modalidades aí
descritas. Este regime é substancialmente diferente do regime do penhor civil, que
é muito mais exigente. O artigo 669.º do Código Civil ecige a entrega da coisa
empenhada ou de documento que confira e exclusiva disponibilidade da coisa ao
credor ou a terceiro.

• O artigo 400.º do Código Comercial prêve que o penhor mercantil entre


comerciantes por quantia tida por significativa, para produzir efeitos perante
terceiros basta que se prove por escrito. O Código Civil prevê no artigo 681.º uma
maior exigência de forma que passa desde a notificação ao devedor até ao registo.

Regra da Solidariedade nas Obrigações Comerciais

Nas obrigações comerciais, diferentemente das obrigações civis (art. 513.º do código
civil), que são regidas pela regra da conjução, impera a regra da solidaderiedade dos
devedores. Exemplo: A, B, C, D celebram com E um contrato de empréstimo (art. 394.º
do código comercial), para trespasse de um armazém comercial. E pode, em caso de
incuprimento exigir a qualquer um dos devedores a totalidade do valor em divida. Nisto
não consiste a regra da solidariedade dos devedores nas obrigações comerciais. Este
regime tem por fim o reforço do crédito que constitui um dos princípios inspiradores do
direito comercial.

Este regime sofre uma excepção prevista no parágrafo único do artigo 100.º do Código
Comercial que estabelece que a regra da solidariedade não se aplica aos co-obrigados em
relação aos quais as obrigrações assumidas não sejam comerciais, ou seja no caso dos
actos de comércio unilaterias.

Regime dos Actos de Comércio Unilaterais

Como já é do nosso conhecimento, um acto de comércio é unilateral ou misto quando é


um comercial apenas uma das partes. É o caso previsto no artigo 464.º do Código
Comercial, conjugado com o artigo 463.º n.º da mesma lei.
O artigo 99.º do Código Comercial diz, que mesmo que o acto seja comercial apenas para
uma das partes, ele será regulado pela lei comercial quanto a todos os contraentes.

Esta regra não se aplica aos co-obrigados se esses não forem comerciantes e o acto em
relação a eles não for mercantil, nos termos do artigo 100.º n.º 1 do Código Comercial.

Exemplo: A, B, C que até são comerciantes, celebram um contrato de mútuo com D ,


instituição financeira que é naturalmente comerciante para aquisição de um local para
sede de uma associação cultural recreativa.

Por força do artigo 2.º 2.ª parte do Código Comercial o acto de A, B e C não é havido
como comercial, porém, por se relacionarem com D que é comerciante, o artigo 99.º do
Código Comercial manda aolicar a lei comercial.

Solidariedade do Fiador

A fiança é um contrato unilateral regulado no artigo 627.º do Código Civil quando se trata
de um contrato civil, o fiador, ao abrigo do artigo 638.º pode recusar o cumprimento da
prestação provando existirem bens do devedor. No entanto quando o contrato é comercial,
o fiador dessa obrigação mercanti, de acordo co o artigo 101.º do Código Comercial, ainda
que não seja comerciante, não poderá invocar o artigo 638.º do Código Civil sendo desde
logo solidário com respectivo devedor.

O artigo 101.º, que é de rsto o único normativo que o Código Comercial dedica a este
acto de comércio objectivo que é a fiança mercantil, derroga desta forma o princípio
genérico do artigo 638.º do Código Civil, e exclui na fiança mercantil o chamado
benefício da execução.

Princípio da Onorosidade das obrigações Mercantis

Nos actos de comércio vigora o princípio da onerosidade. Uma das normas do Código
Comercial que mais claramente reflete o princípio da onerosidade é o texto do artigo 102.º
que estabelece a regra do decurso e contagem de juros em todos os débitos comerciais,
máximo de carácter pecuniário.

Em conformidade com o princípio da onerosidade, salvo se as partes estipularem em


contrário, à prestação de cada parte deve corresponder uma retribuição pela contraparte.
O artigo 102.º do Código Comercial enuncia os dois tipos de juros: juros legais e os juros
convencionais.

Os juros legais são aqueles que decorrem da norma legal, e os juros convencionais são
aqueles que são estipulados pelas partes.

Os juros legais ou convencionais podem revestir duas espécies distintas:

• Juros remuneratórios ou compensatórios e juros moratórios.

Os juros compensatórios ou remuneratórios são o corrrespectivo que o devedor paga pela


fruição do dinheiro ou do valor pecuniariamente valiável, e que corresponde pelo lado do
credor à indisponibilidade a que fica sujeita pelo uso desse dinheiro ou valor
pecuniariamente avaliável.

Os juros moratórios, tal como se infere do seu significado literal, constituem uma
indemnização pelo prejuízo que o devedor causou ao credor pela mora no cumprimento
da obrigação, nos termos previstos no artigo 806.º do Código Civil.

O COMERCIANTE

Capítulo I

Noção de Comerciante e a Sua Importância

Para falarmos dos comerciantes devemos recorrer ao artigo 13.º do Código Comercial.

O legislador não se preocupou com a definição legal de comerciante em vez disso preferiu
indicar quais são as categorias legais dos comerciantes. São comerciantes de acordo com
os números 1, 2 e 3 do referido artigo:

1.º As pessoas com capacidade para a prática de actos de comércio que façam do comércio
profissão, e por esse facto adquirem o estatuto jurídico de comerciante.

2.º As sociedades comerciais.

3.º Outros sujeitos dotados de personalidade jurídica quando exercem uma actividade
mercantil.
Argumento de Natureza Histórica

O n.º 1 do artigo 13.º do código comercial portugês de que resultou o n.º 1 do artigo 13.º
do código comercial angolano é oriundo do artigo 18.º do código italiano de 1882. O
artigo 18.º do Código italiano evidencia que nele só se têm em vista os comerciantes em
nome individual.

Argumentos de Natureza Substantiva

• As pessoas a que se refere o n.º 1 não podem ser pessoas colectivas sem fim
lucrativo porque por força do princípio da especialidade previsto no artigo 160 do
Código Civil, essas pessoas não podem dedicar-se ao exercício habitual do
comércio. Dessa forma, ainda que tais entidades pratiquem actos de comércio,
serão sempre actos de comércio ocasionais e secundários e por isso insusceptíveis
de configurar uma actividade profissional de comerciante.

• O entendimento predominante da doutrina de que as pessoas a que se refere o n.º


1 são pessoas singulares, não anula a validade do que dispõe o artigo 14.º do
Código Comercial. O artigo 14.º da lei já citada, ao proibir o exercício do
comércio às pessoas colectivas de fim ideal estabelece implicitamente que o
exercício por parte dessas pessoas sem fim económico configura um acto ilícito,
susceptível de acarretar sanções: responsabilidade civil nos termos do artigo 483.º
e seguintes do Código Civil; ou mesmo a sua extinção conforme dispõe o artigo
182.º n.º 2 al. b) e c) do Código Civil.

• O entendimento predominante da doutrina não torna inútil o artigo 16.º do Código


Comercial, na medida em que para além de confirmar que o Estado e outras
entidades não podem adquirir a qualidade de comerciante, para protrcção da
segurança e boa fé das pessoas que contratam com Estado e essas entidades, o
artigo 16.º sujeita esses actos à lei comercial.

As Empresas Públicas
Segundo Prof. Vasco Lobo Xavier, defende que as empresas públicas, quando explorem
alguma das actividades comerciais em sentido jurídico comercial, previstas no artigo
230.º do código comercial, devem ser consideradas comercias.

O legislador angolano não considera as Empresas Públicas de comerciantes. As empresas


públicas mesmo quando explorem alguma das actividades previstas no artigo 230.º do
Código Comercial não devem em bom rigor ser consideradas comerciantes. Os arguntos
são convincentes:

Primeiro porque o legislador na legislação pertinente, designadamente na lei das


Empresas Públicas e no seu regulamento aprovado pelo decreto n.º 8/02 de Abril, em
momento algum procede à qualificação como comerciante.

Segundo porque o legislador no artigo 59.º da lei das Empresas Públicas expressamente
isentou as Empresas Públicas da aplicação das regras sobre a dissolução das sociedades
e da relativas ao instituto da falência e da insolvência.

Terceiro porque o legislador evidenciando a sua intenção de não qualificar as empresas


públicas como comerciantes sujeitou-as ao registo comercial em termos equiparados aos
comerciantes, mas no artigo 121.º da lei da simplificação cuidou de distinguir com
precisão do registo para uns e outros.

Os Agrupamentos de Empresas

Os agrupamentos de empresas são pessoas colectivas cujo regime consta da lei 19/03, de
12 de Agosto nos termos dos artigos 27.º a 44.º.

Os agrupamentos podem ter um fim principal e um fim ou fins acessórios. Mas não podem
ter como fim principal a realização epartilha de lucros. Os agrupamentos de empresas não
são necessariamente comerciantes.

A existência de personalidade jurídica de agrupamento de empresas aproxima muito o


seu regime constitutivo ao das sociedades comerciais, prescrito pelos artigos 10.º a 18.º
da Lei das Sociedades Comerciais.
Capítulo II

O Comercinte em Nome Individual

O artigo 13.º n.º 1 do Código Comercial estabelece a categoria de comerciante em nome


individual que deve ser atribuída às pessoas físicas.

A pessoa física é considerada comerciante, quando reúne as condições, os requisitos


legais de acesso à qualidade de comerciante:

• As Condições relativas à própria pessoa.

• As Condições relativas à actividade

Condições Relativas à Própria Pessoa

As condições relativas à pessoa subdividem-se em:

• Condições para proteger a própria pessoa.

• Condições para proteger a colectividade.

• Condições para proteger certas profissões.

Condições para Proteger a Própria Pessoa

1. Personalidade Jurídica

Em relação a este requisito que consiste na susceptibilidade de ser sujeito de direitos e


obrigações, considera-se mutatis mutandis o regime geral do direito civil previsto no
artigo 66.º do Código Civil, ao qual se recorre por via do artigo 3.º do Código Comercial.

2. Capacidade Comercial

A capacidade comercial segundo o artigo 7.º do Código Comercial depende de uma


pessoa ter capacidade civil. A capacidade civil distingue-se em capacidade de gozo e de
exercício (art. 67.º do Código Civil). A capacidade de exercício é adquirida no momento
que a pessoa atinge a maioridade, nos termos do artigo 24.º da Constituição da República
de Angola.
Assim, para protrger a própria pessoa desde logo exige-se que ela tenha capacidade de
gozo e de exercício.

A intenção do legislador ao determinar que só as pessoas maiores de idade pratiquem


actos de comércio, pretende-se com o facto de as pessoas só adquirem uma certa
maturidade e cosci^ncia com a maioridade. O objectivo do legislador é de proteger o
próprio incapz e os seus familiares dos prejuízos que muito naturalmente lhes adviriam
se os incapazes pudessem exercer pessoal e livremente o comércio que pela intensidade,
complexidade e efeitos económicos das operações que envolve, colocria em grave risco
o património do incapaz, dadas as próprias circunstâncias geradoras da incapacidade
(menoridade, interdição, inabilitação etc.)

Desta forma, para além dos menos, também os inabilitados (art. 152.º e seguinte do código
civil), os interditos por anomalia psiquica, surdez-mudez ou cegueira (art. 138.º e
seguintes do código civil) e as pessoas incapazes acidentalmente (art. 257.º do código
civil) não podem ser comerciantes.

Condições para Proteger a Colectividade

Interdições

O legislador para proteger a colectividade proíbe o exercício da profissão de comerciante


quem tenha revelado não se encontrar a altura das qualidades ético-sociais intrínsecas à
actividade comercial. Assim se compreende que a lei estabeleça que as pessoas interditas
por sentença transitada em julgado, durante o período que dura a interdição, não podem
exercer actos de comércio.

Condições para Proteger Certas Profissões

Incompatibilidade

O legislador, para proteger a dignidade de terminadas profissões, proíbe o acesso à


profissão de comerciante dos membros dessas mesmas profissões.

Temos como exemplo: os magistrados judiciais, juízes, magitrados do Ministério Público,


Deputados, Conservadores, Funcionários das Alfandegas etc.
As outras proibições encontram-se previstas nos artigos, 82.º, 213.º, 287.º e 419.º todos
da Lei das Sociedades Comerciais.

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