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Direito Comercial – é um ramo do direito privado que pode ser entendido como o conjunto de

normas jurídicas que regula os atos e as atividades jurídico-mercantis, e de quem os pratica. Nos termos
do artigo 1º do Código Comercial, os comerciantes e não comerciantes podem praticar atos do comércio.

História Direito Comercial – um direito comercial em sentido próprio, enquanto corpo ou sistema
normativo autónomo tendo por função regular a atividade mercantil, terá surgido somente na época
medieval (sec. XII) em cidades italianas. Era uma época de fraco poder político central e de forte
ressurgimento do comércio. Os comerciantes, organizados em corporações profissionais de mercadores
(associações de comerciantes que se organizaram para defender os seus interesses e que aos poucos
foram começando a reger-se por normas próprias), passaram a constituir a classe económica e
politicamente dominante. Havia, pois, condições para os mercadores gerarem um direito “especial” do
comércio, contraposto ao direito “comum” e aos vários direitos “próprios” ou particulares, desajustados
às novas realidades da vida económico-mercantil. O Direito Comercial italiano medieval era um “direito
de classe” criado pelos mercadores para regular a sua atividade profissional.
Na época moderna (sec. XVI, XVII e XVIII), com a centralização monárquica, o Direito Comercial
deixou de ser o direito privativo de uma classe (comerciantes), para passar a ser um direito geral dos
atos de comércio, independentemente de quem os praticasse (comerciantes ou simples particulares).
Em Portugal, na Idade Média não se formou um ramo jurídico autónomo regulador das relações
comerciais, uma vez que foram poucas e pouco significativas as regras jurídicas especialmente
destinadas ao comércio. Na Idade Moderna, “o desenvolvimento do comércio externo provocado pelas
descobertas marítimas e ultramarinas não foi acompanhado por significativo movimento legislativo-
comercial”.
O início da etapa contemporânea do Direito Comercial, em Portugal, no séc. XIX, foi marcado pela
aprovação do Código Comercial de 1833 (redigido por Ferreira Borges); e do Código Comercial de
1888: iniciativa de Veiga Beirão, hoje ainda em vigor.
O Direito Comercial teve notáveis desenvolvimentos no séc. XX: tendência para a sua
internacionalização e uniformização (diversas convenções de âmbito universal unificam os regimes
jurídico-mercantis, em variados setores).
 CARACTERISTICAS DIREITO COMERCIAL
 simplicidade: a necessidade de celeridade das transações comerciais implica uma
simplicidade de formas (comparar o art.º 1143.º CC com o art.º 396.º C.Com.)
 Art.º 1143.º CC: Sem prejuízo do disposto em lei especial, o contrato de mútuo
de valor superior a € 25 000 só é válido se for celebrado por escritura pública ou por documento
particular autenticado e o de valor superior a € 2500 se o for por documento assinado pelo mutuário.
 Art.º 396.º C. Com.: O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja
qual for o seu valor, todo o género de prova.
 Defesa e facilidade do crédito: o recurso ao crédito constitui um elemento fundamental
da vida comercial, uma vez que permite realizar o movimento contínuo de bens e serviços. O Direito
Comercial tem a função de proteger o crédito através dos títulos de crédito e das operações bancárias
em geral.
 Universalidade e uniformidade: A função primacial do comércio é a mesma em todo o
mundo. Por isso, o Direito Comercial tem uma vocação universalista. Muitos setores do Direito
Comercial são regulados por convenções internacionais (matérias de direito bancário, propriedade
industrial, títulos de crédito, transportes, etc.). Muitas semelhanças nas leis de vários países –
uniformidade

Atos do comércio – O artigo 2º do Código Comercial define e delimita os atos de comércio como
“serão considerados atos de comércios todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste
Código e, além deles, todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza e
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar.” Os atos de comércio, são na maioria
das vezes, contratos.
Podemos definir, atos de comércio "especialmente regulados no código", por exemplo, a compra e
venda comercial, (artigo 463 º Código Comercial) " São consideradas comerciais 1. As vendas de coisas
móveis para revender, em bruto ou trabalhadas, ou simplesmente para lhes alugar o uso". Sendo este
contrato de compra e venda diferente do regulado pelo código civil Português - artigo 874º do mesmo
"Compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito,
mediante um preço". Sendo o contrato de compra e venda comercial quando haja uma pretensão de
revenda - aplicando-se a lei comercial.
Os sujeitos dos atos de comércio podem ser comerciantes ou não comerciantes. Podem ser
considerados comerciantes pessoas singulares e pessoas coletivas (artigo 13º Código Comercial).

Atos Objetivamente Comerciais – Nos termos do artigo 2º do Código Comercial, primeira parte,
são todos os factos jurídicos voluntários independentemente, em qualquer dos casos, de serem
comerciantes ou não comerciantes as pessoas que nele intervêm, especialmente previstos no Código
Comercial, em Leis de natureza comercial avulsas ao Código Comercial, e em disposições legais de
natureza comercial integradas em diplomas legais de natureza não comercial (ex. Código Civil), e os
atos análogos a todos esses.
 EXEMPLOS: Compra e venda de mercadorias para revenda.

Atos Subjetivamente Comerciais – Nos termos do artigo 2º do Código Comercial, segunda parte,
são “… todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente
civil, se o contrário do próprio acto não resultar.” Ou seja, são todos os factos jurídicos voluntários
praticados pelos comerciantes, exceto, os atos que forem de natureza exclusivamente civil (ex:
casamento, testamento, adoção), e todos os atos que não tendo uma natureza exclusivamente civil e
resulte do respetivo conteúdo e circunstâncias que não estão ligados com o comércio do respetivo
sujeito
 EXEMPLO: um trabalhador de uma sociedade comercial, ao conduzir um veículo da empresa,
provoca, com culpa, um acidente de viação do qual resultam danos patrimoniais e não patrimoniais. Para
a sociedade comercial (que, nos termos do artigo 13º nº 2, é um comerciante, esse facto gerador de
responsabilidade civil extracontratual objetiva (independentemente da culpa) é um ato que não tem
natureza exclusivamente civil e cujo conteúdo e circunstâncias resulta a sua ligação com o comércio
desta.

Atos Formalmente Comerciais – atos que são regulados na lei comercial como um esquema formal,
que permanece aberto para dar cobertura a um qualquer conteúdo, mas abstraem no seu regime do
objeto ou fim para que são utilizados.

Atos Substancialmente Comerciais – atos que têm comercialidade em razão da própria natureza, ou
seja, por representarem, em sim mesmos, atos próprios de atividades materialmente comerciais.

Atos Unilateralmente Comerciais – são aqueles que são realizados por uma única parte, sem a
necessidade de consentimento ou participação de outra parte para a sua execução, ou seja, são os atos
que apenas são comerciais em relação a uma das partes, e civis em relação à outra (artigo 99º Código
Comercial).

Atos Bilateralmente Comerciais – são aqueles que envolvem duas ou mais partes que concordam
mutuamente em realizar uma transação comercial ou contratar serviços entre si. São caracterizados pela
presença de consentimentos mútuo entre as partes envolvidas e pela troca de bens, serviços, dinheiro ou
outros ativos comerciais.

Comerciantes – Nos termos do nº 1º do artigo 13º do Código Comercial, são comerciantes “as
pessoas que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão”. Assim sendo, para
ser comerciante em nome individual, o mesmo tem de ser pessoa singular, ter capacidade de exercício
de direitos e fazer do comércio (em sentido jurídico) profissão. Têm capacidade de exercício plena as
pessoas singulares maiores (com mais de 18 anos) (artigos 67º, 122º, 123º e 130º do Código Civil) e os
menores, com mais de 16 anos, emancipados pelo casamento (artigos 132º, 133º do Código Civil).
Prescreve ainda o nº2 do artigo 13º do Código Comercial que “são comerciantes” “as sociedades
comerciais”. Sociedades Comerciais são aquelas que tenham por objeto a prática de atos do comércio e
adotem o tipo de sociedade em nome coletivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de
sociedade em comandita simples ou por ações (artigo 1º, nº 2 Código das Sociedades Comerciais).

 FONTES DE DIREITO COMERCIAL


 FONTES EXTERNAS
 Convenções Internacionais de que o Estado Português é signatário em matérias de
Direito Comercial. - Art.º 8.º n.º 2 CRP: “As normas constantes de convenções regularmente ratificadas
ou aprovadas vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem
internacionalmente o Estado Português”.
Exemplo: A Lei Uniforme relativa às Letras e Livranças (LULL) foi estabelecida
pela Convenção Internacional assinada em Genebra em 7 de junho de 1930, aprovada em Portugal pelo
Decreto-Lei n.º 23 721, de 29 de março de 1934.
 Costume Internacional - Sobretudo as normas elaboradas pelas Associações
Internacionais de Comércio. Direito para o qual as partes podem remeter as suas relações (Pex. Códigos
de Conduta).
 Regulamentos e Diretivas (União Europeia) – Art. 8º, nº 3 da CRP – “As normas
emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal seja parte vigoram
diretamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos respetivos tratados
constitutivos”.
 Regulamentos: diretamente aplicáveis no ordenamento jurídico;
 Diretivas: exigem a sua transposição para a ordem jurídica, dando ao legislador
português uma certa liberdade quantos aos meios e formas dessa transposição.

 FONTES INTERNAS – entre elas avultam:


 Lei – amplamente entendidas, de modo a abarcarem “atos legislativos” (leis
constitucionais, leis, decretos-leis, decretos legislativos regionais) e regulamentos. A CRP contém
algumas regras atinentes ao direito comercial. No art. 61º (iniciativa económica privada); - Art.º 81.º f)
(incumbência do Estado: assegurar o funcionamento eficiente dos mercados, de modo a garantir a
equilibrada concorrência entre as empresas, a contrariar as formas de organização monopolistas e a
reprimir os abusos de posição dominante e outras práticas lesivas do interesse geral); - Art.º 82.º
(coexistência dos setores de propriedade dos meios de produção); - Art.º 85.º (cooperativas); - Art.º 86.º
(empresas privadas); - Art.º 99.º (objetivos da política comercial); - Art.º 100.º (objetivos da política
industrial); - Art. 293º (reprivatização de empresas). Mas as principais fontes do direito comercial são as
leis ordinárias.
 Costume – práticas sociais estabilizadas seguidas com a convicção de serem
juridicamente obrigatórias.
 Doutrina - A doutrina tem muito impacto quer nos tribunais, quer na construção do
Direito Comercial. É o modo de revelação de normas jurídicas que resulta do estudo científico e
académico do direito efetuado pelos juristas, o qual permite identificar e revelar o significado das
normas jurídicas e as relações que elas estabelecem entre si, promovendo assim padrões comuns de
entendimento na interpretação e na aplicação das normas jurídicas.
 Jurisprudência – é o conjunto de orientações que resultam da decisão de casos
concretos pelos tribunais. O modo como os tribunais decidem, as regras utilizadas e a fundamentação
das sentenças podem permitir a identificação de normas jurídicas inexistentes no sistema jurídico,
nomeadamente, por não constarem de uma lei ou por não resultarem de um costume.

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