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1ª Frequência
Introdução
1.- Conceções do direito comercial
1.1- Evolução histórica do direito mercantil (breve menção)
O direito comercial, no sentido de corpo ou sistema normativo autónomo,
tendo como função regular a atividade mercantil, terá surgido apenas na época
medieval, no séc.XII em cidades italianas como Florença. Havia condições para os
mercadores gerarem um “direito especial do comércio”, dado que, tratava-se de uma
época de fraco poder político central e os comerciantes passaram a constituir a
classe económica dominante. Foi assim então criado um direito pelos mercadores,
para regular as suas atividades profissionais e por eles aplicado.
Nos últimos tempos, o direito comercial tem sofrido ainda grandes
desenvolvimentos, nomeadamente, tem havido a tendência ara a sua
internacionalização-uniformização. A contribuir para tal, foram diversas
convenções internacionais que têm unificado os sistemas jurídico-mercantis
nacionais em setores específicos. Além disto, os tratados constitutivos das OI’s de
integração e as normas emanadas dos respetivos órgãos vão unificando ou
harmonizando o direito comercial dos Estados-membros em vastos domínios. Por
outro lado, tem-se desenvolvido um direito uniforme de origem não-(inter)estadual,
sendo este um direito feito de usos e costumes do comércio internacional, de usos e
práticas comerciais.
1.2- Noção do direito comercial português
Podemos então definir o direito comercial, como o sistema jurídico-
normativo que disciplina de modo especial os atos de comércio e os comerciantes.
Atendendo ao primeiro artigo do Cód.Comercial, poderíamos ser tentados a
referirmo-nos apenas aos atos de comércio, contudo, a lei mercantil regula
fenómenos que não são atos comerciais. Por exemplo: obrigações especiais dos
comerciantes (firmas, escrituração mercantil) e organização interna das sociedades.
Há que também ver, que a lei apesar de apresentar uma conceção objetiva visa
Fontes internas:
Leis- (comerciais) sendo que estas abarcam os “atos legislativos) (leis
constitucionais, leis, decretos-lei, decretos legislativos regionais) e
regulamentos do Governo, das RA e AL, etc.
A CRP também contém algumas regras atinentes ao direito comercial, tais
como podemos ver no artg.61º - iniciativa económica privada.
Código Comercial- a principal fonte do direito comercial, tendo sido
complementada por uma numerosa legislação extravagante.
Jurisprudência e doutrina-
o As decisões judiciais também participam na criação e concretização
do direito: interpretam e concretizam normatividade jurídica
(importante nas clausulas gerais e conceitos indeterminados),
integram lacunas. Destas decisões vai-se inferindo normas, princípios
jurídicos e explicitações dogmáticas das intenções normativas.
o Já a doutrina, releve por complementar dogmaticamente e por ser
“heurístico-normativamente antecipante” do direito jurisprudencial”.
Usos e costumes- Importa clarificar que usos se tratam de práticas sociais
estabilizadas, e os costumes são práticas sociais estabilizadas seguidas com
a convicção de serem juridicamente obrigatórias. Será que estas ainda devem
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ser consideradas fontes? A resposta é afirmativa para ambos, apesar de
terem a sua importância reduzida, a verdade é que ainda têm relevância
atualmente.
Também é direito comercial o regime dos negócios, os contratos, as bolsas, o
sistema financeiro, os cartões de crédito ou débito. Direito comercial tem uma vasta
realidade. Vamos estudar múltiplos aspetos desta realidade.
O nosso sistema assenta em pessoas criadas pelo direito, as pessoas coletivas
ou jurídicas (uma fundação, uma associação, as sociedades, o município, o estado,
etc.). Estas pessoas interagem entre si através de atos, como por exemplo, a
celebração de contratos.
2.2.- Aplicação da lei civil a matéria mercantil
O artg.3 Cód.Comercial refere que a lei civil é aplicável a questões comerciais.
É importante denotar que tal não significa que, a legislação civil possa ser fonte do
direito comercial. O direito comercial é um direito privado especial, e como assim é,
é logico que o direito civil, enquanto direito civil comum, intervenha na disciplina
de matérias mercantis quando o direito comercial se revela insuficiente para a
questão em causa.
Nota: Também não seria correta a conclusão de que a legislação civil apenas entra
no campo comercial, para integrar lacunas da lei comercial. Nem todas as omissões
de regulamentação legal-mercantil são verdadeiras lacunas, isto porque, por
lacunas entende-se “imperfeições ou inacabamentos contrários ao plano da lei”.
Acontece que algumas dessas omissões estão de acordo com o plano da lei comercial
– ex.: caracterização legal dos tipos contratuais.
Caso 9-
Resolução - Em princípio, o facto de só uma das dívidas estar vencida, só por
si, não significaria que o devedor estaria numa situação de insolvência. O primeiro
critério é o da incapacidade : é de aplicação geral, quando o devedor se encontra
impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas.
Efetivamente, a questão que se coloca aqui é se o credor, pode pedir a
declaração de insolvência quando só o seu crédito está vencido. Quando dizemos
que pode eventualmente ser pedida a declaração de insolvência com base apenas
em algum crédito vencido, é na realidade porque justamente se entende que
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eventualmente, a importância desse crédito pode precisamente revelar a
impossibilidade de cumprir também outras obrigações vencidas. O que está a dizer
poderia fazer sentido em relação às outras obrigações vencidas.
Temos de comparar duas situações: está uma obrigação vencida e as outras
não estão; e outra situação em que há mais obrigações vencidas, mas o credor só
mostra a impossibilidade de cumprir apenas uma parte das obrigações vencidas. Na
verdade, aquele credor é apenas titular de uma obrigação vencida e as outras não
estão vencidas. Assim, o que interessa para sabermos se estamos numa situação de
insolvência são as obrigações vencidas. Pode-se concluir, por presunção judicial,
que o facto de não se conseguir cumprir esta obrigação vencida, mas pela
importância dessa, que ele também não conseguiria cumprir as restantes obrigações
vencidas.
Como só temos uma obrigação vencida, isto é significativo para a situação de
insolvência. Isto porque, se o devedor não consegue cumprir essa, isso já por si é
fundamento para pedir a declaração de insolvência (já não precisamos de fazer
aquele juízo, uma vez que apenas temos uma obrigação vencida que o devedor não
consegue cumprir).
Para as entidades do artg.3/2 do Cód.Insolvência (pessoas coletivas e
patrimónios autónomos, por cujas dividas nenhuma pessoa singular responde por
forma direta ou indireta), se o critério do artg.3º/1 Cod.Insolvência também vale –
sim. Vamos supor a seguinte hipótese: sociedade em nome coletivo, que tem um
sócio, outro sócio, uma sociedade por quotas e uma sociedade anónima. A sociedade
em nome coletivo tem ativo 500 mil, e passivo tem 1000 milhões, temos uma
situação em que o ativo é manifestamente superior ao ativo, numa sociedade em
nome coletivo, os sócios, embora respondam subsidiariamente, eles respondem
pessoal e ilimitadamente pelas dividas da sociedade – não se aplica o artg.3º/1, pois
temos pessoas singulares a responderem.
Nas sociedades em comandita (“sócios comanditados são os que estão
tramados”), temos sócios, pessoas singulares, que respondem pelas dividas
indiretamente.
Nota: Se nós tivéssemos uma sociedade em nome coletivo, que tivesse como
socio uma sociedade por comandita (que por sua vez só tivesse sociedades
por quotas de responsabilidade limitada). Na Alemanha, as sociedades por
Voltando ao regime do artg.15º, esta norma não tem um regime substantivo, mas
sim meramente presuntivo. Se as dívidas forem comerciais e se o devedor for
comerciante, então o credor goza da presunção que essas dívidas foram contraídas
no exercício do seu comércio. São muito claros os pressupostos da norma:
No dia em que se aplica esta norma, isto é bom para o comerciante? Não!
Porque neste dia, o comerciante vai ficar sem nada. Nesse momento o regime não
favorece o comerciante, mas favoreceu no dia em que andava à procura de
financiamento- porque se não fosse este regime ninguém lhe fornecia aquele
crédito. Os mecanismos legais que facilitam o crédito dos credores dos comerciantes
são muito agressivos para os devedores, mas até serem ativados são muito bons
para estes últimos. Pois, se nunca houver incumprimento, o regime foi só benéfico.
Caso 14- O caso do Alberto que estava a montar um estabelecimento e que foi
para um mosteiro zen
Alberto, casado com Beatriz no regime de comunhão de adquiridos, resolveu
dedicar-se à comercialização de pranchas de surf em Peniche. Para o efeito, tomou
de arrendamento uma loja a Carlos, contratou uma funcionária que abrisse a loja às
9 horas, comprou a crédito a um conhecido shaper material para revender e
celebrou um contrato de locação financeira que teve por objeto um veículo todo o
terreno que permitiria a Alberto andar pelas dunas a fazer publicidade à sua loja.
Porém, antes mesmo de abrir o referido espaço ao público, Alberto foi acometido
por intensa agitação espiritual que o levou a ir para um retiro de meditação na Índia.
Um bem futuro, trata-se de um bem que materialmente ainda não existe; existe,
mas não na titularidade do vendedor; ou de existência ou de titularidade incerta.
Um bem é relativamente futuro quando ainda não existe na esfera jurídica do
exponente, mas ele tem a legítima expectativa de o adquirir. Uma bem é
absolutamente futuro quando não existe, mas é esperada. Um bem é alheio quando
já existe, mas na esfera jurídica de outrem e não há legítima expectativa de o vir a
adquirir.
Em geral, no âmbito das relações de direito privado, é permitida a compra e
venda de bens futuros, quer relativamente futuros, quer absolutamente futuros.
Existem, contudo, diferenças entre o direito civil e o direito comercial:
A compra e venda também pode ser feita sobre coisas que não estejam à vista,
artigo 470º. Esta trata-se da compra e venda a contento, que consiste numa compra
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e venda mercantil elaborada sob a condição de o bem vendido agradar ao
comprador. Por exemplo, eu vou comprar 10 caixas de pêra rocha – numa compra e
venda comercial, se eu não tiver a coisa à vista, se eu recebi a pera rocha e se elas
não tiverem sabor, ou forem demasiado pequenas, por exemplo, eu tenho o direito
de livremente renunciar ao contrato.
Esta modalidade não se confunde com a venda mercantil sobre amostra
(art.469º), diferenciando-se desta, fundamentalmente, pelo tipo de condição
negocial subjacente: ao passo que, na venda sobre amostra, o negócio fica sujeito à
condição suspensiva e objetiva da não reclamação de desconformidade do bem
(art.471º CCom), na venda a contento, o negócio encontra-se subordinado à
condição resolutiva e discricionária da aprovação do comprador.
Por outro lado, ela também não se confunde com a venda civil a contento
(arts.923º e 924º CC): com efeito, na figura comercial, quando esta tenha por objeto
coisas não à vista ou não determináveis por qualidade conhecida no comércio, a
condição vale automaticamente por força da própria lei, sendo ainda que o direito
de resolução se encontra sujeito ao regime do já citado art.471º CCom.
Especialidades do regime jurídico
Preço
É sabido que na compra e venda, tanto comercial como civil, o preço pode ser
determinado ou meramente determinável segundo critério fixado pelas partes ou
por terceiro designado (art.466º CCom e arts.400º e 883º CC).
Entrega
Quanto ao prazo de entrega:
➢ No direito civil, a coisa vendida deve ser entregue ao comprador na data
acordada. Caso esta não seja estabelecido, o comprador querendo obter o
2.4.-Contrato de reporte
Designa-se por contrato de reporte o “contrato de compra a contado de títulos
de crédito, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros, e de revenda
simultânea a termos desses títulos ou valores, por preço determinado ou
determinável, sendo a compra e revenda feitas à mesma unidade”.
Por exemplo, eu tenho 1 milhão de ações numa sociedade, se eu der ao banco
em garantia as ações, eu continuo a ser sócio e elas são minhas, mas apenas estão
como garantia ao banco. O banco pode dizer que me empresta 1 milhão de euros e
para o banco as ações são garantia. Mas o banco pode querer comprar as ações por
1 milhão de euros e daqui a 2 anos (data em que eu teria de pagar o empréstimo) o
banco revende-me as ações por 1 milhão e 200 mil euros (valor do juro
correspondente ao empréstimo). Eu que tinha as ações e tinha financiamento, fiquei
com dinheiro, fiquei sem as ações durante 2 anos e daqui a 2 anos volto a tê-las
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pagando ao banco aquele valor. Assim, o banco fica formalmente como proprietário
das ações naqueles 2 anos, em vez de ser apenas credor garantístico. O banco não é
credor penhoratício porque o credor penhoratício não fica com a coisa para si,
materialmente, eu faço uma alienação como garantia. Logicamente, que se eu não
tiver o dinheiro para pagar ao banco as ações, ao cabo de 2 anos, eu não fico com as
ações.
A figura encontra-se prevista nos artg.477º a 479º CCom e pode revestir
diversas modalidades:
➢ Quanto à natureza:
o Reporte bancário: realizado no mercado bancário por instituições
creditícias;
o Reporte financeiro: realizado no mercado de capitais por
intermediários financeiros;
➢ Quanto à sua função:
o Pode assumir finalidades creditícias (que o aproximam de um
empréstimo garantido);
o Finalidades especulativas (perseguindo o lucro resultante de
eventuais referenciais entre os preços de compra e revenda de títulos,
valores ou instrumentos);
o Finalidades protetoras (visando a cobertura do risco de oscilações
negativas do preço ou cotações dos títulos, valores ou instrumentos).
➢ Quanto ao prazo:
o Reporte diário: a revenda é feita no prazo de um dia;
o Reporte a termo certo: a revenda é feita num prazo superior a um dia
o Reporte aberto: a revenda é feita num prazo que se renova
diariamente.
➢ Quanto aos seus efeitos:
o Reporte em sentido estrito: o preço da retransmissão é mais elevado
do que o da sua transmissão;
o Deporte: o prelo da retransmissão é mais baixo do que o da
transmissão;
O regime legal do reporte caracteriza-se por vários traços fundamentais: