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DIREITO COMERCIAL

Márcia Elias Ferreira

Compilado

Márcia Elias
Universidade Lusíada Porto
Direito Comercial da Empresa
Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 20.09.21

Aula de Apresentação

É Preciso: legislação comercial e das sociedades comerciais ou


código comercial e código civil

Livro: Curso de D. comercial- volume I- Jorge Manuel Coutinho


de Abreu ou D. Bancário de Miguel Pestana de Vasconcelos.

Importante saber: D. obrigações, regime de maior acompanhado,


interpretação da lei, locação, arrendamento, aluguer, contratos
nominados, inominados, típicos.

Legislação comercial é a mais antiga de todas.

Apresentação do programa que está no moodle.

Contratos nominados- tem o nome na lei. Ex: contrato de compra


e venda.

Contratos inominados- não tem o nome (iuris) na lei.

Contratos típicos- tem regulamentação na lei

Contratos atípicos- não tem regulamentação na lei

Contratos nominados e atípicos- 755º do CC (d.retenção), nº1,


alínea b)- tem nome na lei mas não tem regulamentação.

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 22.09.21

O que é que será o direito comercial?


Temos que percorrer a história.
Se seguirmos o professor Pedro Pais de Vasconcelos, ele entende
que o direito comercial vem já do direito Romano em que haviam
pretores que regulamentavam as atividades de determinados
comerciantes. Porém, a maioria da doutrina e o professor Coutinho
de Abreu entendem que o direito comercial como ele está
estabelecido hoje (também a professor Maria de Fátima Gomes)
vem desde o século XII, da Idade Média. A partir do século XII (a
partir da idade das trevas) entendem que é aí que nasce o direito
comercial. Nesta altura só podiam praticar a atividade comercial
determinadas pessoas. Estavam excluídos do comércio o clero e a
nobreza. Atendia-se aqui a um direito comercial subjetivista,
atendia-se aos sujeitos que praticavam atos de comércio. É nesta
altura que surgem as corporações (corporações das pessoas que
vendiam bebidas, vinho, etc). Era um direito comercial virado para
os sujeitos, virado para as pessoas- direito comercial subjetivista.

Os agricultores serão comerciantes? Não

O direito comercial começa a ganhar a sua matriz nas cidades


italianas como Génova, Florença, etc.
Foi nesta altura que surgiram os títulos de crédito (ex: letras,
cheques). A letra caracteriza-se pela sua circulação. Ia um
comerciante por exemplo daqui de Portugal fazer compras à Itália.
Em vez de levar um saquinho com as moedas, levava um papel com
um título com uma determinada quantia, importância para o
banqueiro pagar em Itália (isto por causa dos assaltos).
Foi também nestas cidades italianas que surgiu a expressão da
bancarrota- pessoa entra em falência, insolvência.

Quanto ao ordenamento jurídico português existia o código


visigótico, existia posteriormente o direito romano tardio, mas que
não regulamentava a atividade comercial. Depois tivemos as
ordenações, descobrimentos.
As ordenações filipinas foi a legislação que mais tempo vigorou
em Portugal. As ordenações filipinas apenas dispunham de duas
normas relativas aos comerciantes- uma norma que estabelecia que
as questões relacionadas com os comerciantes eram julgadas nos
tribunais de comercio apenas e que os fidalgos e os clérigos não
podiam praticar atos de comércio.

Entre 1375-1380 apareceram os contratos de seguros marítimos.


O primeiro tratado (de seguro) foi Pedro de Santarém em 1552.
Era necessário regulamentar a atividade comercial. Até ao século
XVI, XVII tínhamos uma atividade comercial em que vigorava
uma visão subjetivista- qualidade da pessoa que praticava atos de
comércio.

Em França, século XVII, no reinado de Luís XIV, houve a projeção


da indústria das manufaturas em que influenciou também Portugal.
Todavia, houve um rompimento com o pensamento que se vivia até
ao século XVIII. 1789- Revolução Francesa. Surge a primeira
codificação do código civil francês em 1804- veio transformar o
pensamento europeu e veio também fazer com que os outros
estados elaborassem os seus próprios códigos.
Napoleão referiu que ganhou batalhas, perdeu batalhas e que essas
batalhas iam ser esquecidas. Mas o seu código civil iria permanecer
eternamente.
1807- Foi promulgado o código comercial francês que veio
influenciar a legislação europeia.
O código comercial francês veio dar prevalência, não aos sujeitos
comerciais, não atendendo se a pessoa era comerciante ou se não o
era. O código comercial francês veio privilegiar a visão objetivista-
não a qualidade dos sujeitos. Atendia-se sim aos atos praticados por
essas pessoas, seja elas quem fossem. Aqui

O nosso primeiro código comercial foi de 1833- Ferreira Borges-


consagrou uma visão objetivista, mas com o decurso do tempo
tornou-se obsoleto. O código comercial não estava pensado para
aquela época.
Foram surgindo propostas de alteração do código de 1833. Houve
uma crítica muito grande ao legislador por ter promulgado
primeiramente um código comercial ao invés de um código civil.
Foi proposta a promulgação de um novo código comercial que é o
código dos nossos dias (atualmente)- 1888 (Veiga Beirão).
O nosso código comercial consagra qual ou quais visões?

O código comercial consagra uma visão híbrida, mista- tem aspetos


da visão objetivista e da visão subjetivista.

Análise do artigo 2º do Código Comercial- dividido em duas partes

Artigo 1º do Código Comercial

Na aceção económica o comércio é abrangido por 3 setores: setor


primário, o setor secundário e o setor terciário.

Na aceção jurídica podemos cair na tentação de dizer que o direito


comercial regulamenta apenas os atos de comércio, mas temos que
ter em atenção ao seguinte: os agricultores não são comerciantes.
Artigo 230º do Código Comercial- os agricultores não são
comerciantes. Posição do professor Coutinho de Abreu- o direito
comercial não regulamenta só os atos de comércio, mas sim os atos
e as atividades das empresas.

Há quem entenda que temos que atender ao artigo 9º do Código


Civil- interpretação da lei.
Artigo 230º, nº7 do C Comercial.

Muito dos contratos empresariais já não vêm só regulamentados no


código comercial. Ex: as sociedades comerciais- temos 4 tipos de
sociedades comerciais.
Do artigo 1º, devemos fazer uma remissão para o 13º.
Os agricultores podem constituir sociedades comerciais, mas não
são comerciantes.

Revenda- importante

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 27.09.21
O Direito Comercial partiu de uma conceção subjetivista e
posteriormente tivemos uma conceção objetivista.

Ideias a reter da última aula:


- O nosso Código Comercial tem uma visão mista- é do século
XIX (1888);
- Não há uma noção única da direita comercial- o direito
comercial é muito abrangente.

Distinção entre o Direito Civil e o Direito Comercial:

O Direito Comercial insere-se no ramo do direito privado (apesar


de alguns autores acharem que tem algumas características também
do direito público, como por exemplo o registo das firmas e das
sociedades), é um direito especial.

No caso de existir alguma lacuna de direito especial, vamos aplicar


o artigo 3º C.Com., ora, o direito civil. Por exemplo, vamos aplicar
o artigo 217º CC, o artigo 405º CC, o artigo 294º CC, o artigo 496º
CC etc- são normas, que na sua essência, se aplicam ao direito
comercial.
Todavia, há situações em que não podemos aplicar a lei comum
(Código Civil) a determinados atos comerciais.

Vimos também na última aula, o artigo 1º do C.Com.

O direito comercial é um direito de atos comercias, todavia, a lei


comercial não rege só atos de comércio, uma vez que que a lei
mercantil regula atos que por si não são atos de comércio.
Por exemplo, os comerciantes são obrigados a ter escrituração
organizada, nos termos do artigo 29º C.Com. (os comerciantes para
girar o comércio têm que ter um nome, e esse nome é firma).

O direito comercial não regula todas as atividades comerciais,


porque não regula nem a atividades dos agricultores, nem dos
artesãos, uma vez que no artigo 230º C.Com. diz que os
agricultores e os artesãos não são comerciantes.
Quem são as pessoas que podem praticar atos de comercio?

Na visão subjetivista, os comerciantes são as pessoas que praticam


atos de comércio – atende à qualidade dos sujeitos – artigo 13º
C.Com.
Na visão objetivista, independentemente do sujeito que pratica
aqueles atos de comercio, o que interessa é o ato de comércio em
si – atende à qualidade dos atos praticados por aquelas pessoas.

O direto comercial nasceu, também para proteger os interesses das


corporações, todavia, havia pessoas que não estavam associadas às
corporações, ora, quem resolvia esses conflitos era o direito civil-
legislação civil.

Há uma distinção entre os contratos do C.Com. e os contratos do


CC:

O contrato mais paradigmático é o contrato de CV, artigo 474º CC


e artigo 463º C.Com. (revenda). A compra comercial é sempre para
revenda. Uma distinção entre estes contratos é que a venda de bens
alheios é nula no CC, mas é válida no C.Com. Se formos ler o
professor Pedro Pais de Vasconcelos, este explica-nos a razão pela
qual a venda de bens alheios não é nula. É porque o comerciante
tem que agir de boa-fé e demonstrar confiança perante a sociedade.
No empréstimo, não é preciso forma escrita no C.Com., enquanto
no CC no empréstimo é necessária forma escrita.

Depois há contratos puramente civis (doação) e contratos


puramente comerciais.
O professor Coutinho de Abreu entende que se um empresário der
uma gratificação a um seu funcionário, pode, eventualmente, ter
conexão com a atividade comercial. Mas, a regra, é que a contrato
de doação é puramente civil.

Art.º 2.º Atos de comércio- muito importante

Serão considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem


especialmente regulados neste Código (visão objetivista), e, além
deles, todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não
forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio
ato não resultar. (visão subjetivista)

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 29.09.21

Atos de Comércio

Na última aula estivemos a ver a diferença entre o direito civil e o


direito comercial.
O direito comercial é um ramo especial do direito- faz parte do
direito privado. Quando há alguma lacuna, podemos recorrer ao
direito civil- código civil- artigo 3º do C.Com.

Não esquecer que o nosso ordenamento jurídico faz parte do


sistema do título.
O ordenamento jurídico espanhol e austríaco consagra o regime do
título e do módulo- quer dizer que para a compra e venda ser
perfeita, é necessário o contrato e o seu registo.
O ordenamento jurídico português consagra o princípio da
consensualidade- basta somente o contrato para o contrato se
aperfeiçoar. 401º do CC. Não é necessário o registo.

Uma das diferenças entre a compra e venda comercial e a compra


e venda civil- a revenda.
No direito comercial- licitude de venda de bens alheios- face à boa-
fé e à aparência- tem que se confiar no comerciante.

Podemos aplicar normas do código civil ao direito comercial como


por exemplo, o artigo 227º do CC.
Boa fé em sentido objetivo.
Podemos aplicar ainda o artigo 405º do CC- princípio da liberdade
contratual- autonomia privada.

Artigo 2º do C.Com- tínhamos ficado aqui.


O nosso código consagra uma visão híbrida ou consagra uma teoria
mista- objetivista e subjetivista.

1º parte- visão objetivista- “Serão considerados atos de comércio


todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste
código”.
2º parte- visão subjetivista- o resto- o professor Coutinho de abreu
diz que esta segunda parte é muito confusa.

1º parte- inicialmente chamou-se atenção para o seguinte: aqueles


contratos que vêm regulamentados no código comercial, mas, para
além disso, em legislação extravagante, há determinados contratos
que não vêm no código comercial- como por exemplo o leasing ou
contrato de agência- distribuição- há um agente e há um principal-
vamos supor que o principal tem a sua sede no algarve e
comercializa um determinado produto (bolo de chocolate). Quer
promover o seu produto no alto Minho- contrata com alguém ©
para promover os seus produtos.

A questão é: nem todos os contratos, neste código, vêm


regulamentados- vêm em legislação avulsa.
Há quem entenda que só são atos de comércio aqueles que vêm no
código comercial, ignorando a legislação extravagante. Mas, a
posição que vamos seguir no curso é que nós vamos considerar os
contratos, não só os vêm no código comercial, mas também aqueles
que vêm em legislação extravagante- é esta a posição do professor
Coutinho de Abreu.

O professor Coutinho de Abreu parte de 3 pressupostos para dizer


que não só são atos objetivistas aqueles que vêm no código
comercial, mas também aqueles que vêm fora do código comercial:
1º- o código comercial retirou muitos contratos do código
comercial. Por exemplo, não temos o regime das sociedades
comerciais. Retirou o regime das letras e livranças;
2º- ele entende que a própria legislação diz que são contratos
comerciais. Ex: contrato de agência, o contrato de leasing, de
locação financeira- são contratos que dizem especificamente que
são atos comerciais.
3º- por vezes temos que recorrer à analogia para ver se aquele ato
é comercial ou não- não a uma analogia que fala do artigo 3º do
código comercial, nomeadamente artigo 230º.

Quais são os contratos que vêm regulamentados no código


comercial?
Mandato;
Conta-Corrente;
Transporte;
Empréstimo;
Penhor;
Depósito;
Compra e venda;
Reporte;
Aluguer;
Escambo ou troca.

Atos Subjetivistas:
Além de todos os contratos e obrigações dos comerciantes (1º), que
não forem de natureza exclusivamente civil (2º), e se o contrário
do próprio ato não resultar (3º).

Artigo 13º do Código Comercial.

1º- desde que tenham capacidade para o fazer- não estejam sobre o
regime dos maiores acompanhados ou que não sejam menores.
2- Sociedades comerciais- remissão para o 17º- há determinadas
pessoas que estão inibidas de serem comerciantes, mas não quer
dizer que estão inibidas de praticar atos de comércio.

Estado, distrito, município, paróquia- visão atualista da lei,


principalmente quando fala da paróquia. A paróquia não é aqui
organização eclesiástica, religiosa- a paróquia aqui corresponde às
juntas de freguesias.
No século XIX, os nomes que davam às juntas de freguesia
começaram por se chamar juntas da paróquia.
Estas pessoas não são comerciantes, mas podem praticar atos de
comércio.
Ex: a junta de freguesia da madalena comprou peças de artesanato
para vender no baile da freguesia para angariar fundos para a
construção de um lar – não é um ato subjetivista porque não tem
qualidade de comerciante- temos um ato objetivista.

A misericórdia tem lares, creches, etc- não são comerciantes.


Todos os contratos e obrigações dos comerciantes- o professor
Coutinho de abreu entende que não se devia falar de contratos e
obrigações dos comerciantes, mas todos os atos dos comerciantes-
artigo 15º Do c.Com.

Artigo 15º- remissão para o 1691º, nº1, alínea d) do CC e 1695º do


CC

“Que não forem exclusivamente civil” - há atos civis que não são
atos de comercio- ex: casamento, perfilhação, a designação do tutor
pelos pais- não podem ser comerciais.

“Se o contrário do próprio ato não resultar” – nós vamos ter que
verificar se o ato praticado pela pessoa tem conexão ou não tem
conexão com a atividade comercial daquela pessoa- se aquela
pessoa pratica reiteradamente atos de comércio- se faz disso seu
modo de vida. Aqui vamos chamar à pessoa o homem médio ou
bom pai de família- temos que verificar se do próprio ato e não das
circunstâncias não resultar que ele possui qualquer conexão com o
comércio do seu autor.
Vamos pegar no homem médio e ver se o ato tem conexão com a
atividade daquela pessoa.

- 1º pressuposto: o ato tem conexão com a atividade do sujeito, logo


é um ato de comércio.
Ex: o merceeiro vai comprar uma carrinha ao seu fornecedor
habitual, um agricultor, que é para transportar mercadorias.

- 2º pressuposto: se do próprio ato não resultar a não ligação, a não


conexão com o comércio, mas o ato é igualmente comercial.
Ex: O senhor A vai para a universidade, comprou uma máquina de
café, e, no intervalo, vende cafés aos colegas.
Ex: O Senhor A é empreiteiro e compra habitualmente materiais de
construção ao senhor B para fazer determinadas obras, mas houve
um determinado momento em que o senhor A foi ao armazém do
senhor B, sem lhe dar qualquer esclarecimento, e comprou 100kg
de sacos de cimento e 200 tijolos, para oferecer à paroquia da sua
terra.
Ex: um merceeiro compra a carrinha sem prestar qualquer
esclarecimento sobre o destino da carrinha.
(como não prestou qualquer esclarecimento, o homem médio irá
dizer que aquilo é um ato comercial)

- 3º pressuposto: se do próprio ato resulta a não conexão com o


comércio logo o ato não é comercial, é um ato civil.
Ex: o merceeiro compra a carrinha ao agricultor, mas diz que é para
utilizar como caravana para passar as férias.
(utilizando um homem médio, este irá verificar que o ato não tem
conexão com o comercio, porque o merceeiro declarou que a
comprar da carrinha é para ir de férias)
Ex: no exemplo anterior, se o senhor A tivesse dito ao senhor B que
o cimento e os tijolos eram para oferecer à paroquia, o ato já não
era comercial.

As presunções também são ilidíveis.

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 4.10.21

O que é um ato comercial?

É um contrato que está em causa. Nós temos que ter em atenção


que quando estamos a analisar, são atos comerciais.
O artigo 2º divide-se em duas partes- uma teoria mista. Além disso,
os atos de comércio objetivos vão dividir-se em atos absolutos e
atos acessórios.

Atos objetivistas absolutos- tem uma comercialidade própria. Ex:


compra e venda- 463º C. Com- o contrato de compra e venda serve
sempre para revenda. Ex: troca.
Atos objetivistas acessórios- são aqueles que estarão associados a
um ato objetivista absoluto.
Vamos supor que o senhor A vai comprar uma carrinha a uma
pessoa que reiteradamente faz disso seu modo de vida- senhor A é
comerciante e tem uma mercearia, mas para tal vai recorrer a um
empréstimo bancário para adquirir aquela carrinha. Ao pedir um
empréstimo, vamos ter contratos acessórios- vai estar ligado a atos
absolutos.
O empréstimo é um ato acessório. A fiança também é um ato
acessório. O penhor também é um ato acessório.

Atos formalmente comerciais- situação em que o senhor A


(merceeiro) vai comprar uma carrinha, mas como não tem dinheiro
disponível vai pagar ao senhor B com uma letra ou com um cheque-
vamos ter uma relação cambiária através do cheque ou de uma letra
que ele vai pagar. Traduz-se com o pagamento de uma letra, de um
cheque.

Atos substancialmente comerciais- são aqueles que têm uma


interligação com os atos de comércio- têm uma ligação per si- uma
promoção que o comerciante faz, ou uma redução de preço. Estes
atos substancialmente comerciais contrapõem-se aos atos
formalmente comerciais.

Atos bilateralmente comerciais- temos de ambas as partes dois


comerciantes. Ex: senhor A que tem uma mercearia e para comprar
a sua carrinha vai pedir um empréstimo bancário. Vamos ter aqui
um ato bilateralmente comercial. Ex: esse mesmo senhor que vai
comprar a carrinha vai celebrar um contrato de seguro para essa
carrinha.

Atos unilateralmente comerciais- Ex: a venda a um consumidor de


um bem que foi comprado para revender. Só temos de uma parte o
comerciante.
Temos que ter em atenção ao artigo 99º do Código Comercial.
Isto quer dizer que apesar de termos um ato unilateralmente
comercial em que só uma das partes é comerciante, vai-se aplicar
sempre as regras do direito comercial e não as regras do direito
civil.

Artigo 230º do Código Comercial- muito importante

Estamos a seguir a posição do professor Coutinho de Abreu. O


professor Coutinho de Abreu defende que esta norma é uma norma
qualificadora.
Vamos ter quem entenda que esta norma se reporta somente às
atividades da empresa- visão objetivista defendida pelo professor
Coutinho de abreu e Vasco Lobo Xavier- são atos das empresas
que estão aqui em causa e há quem entenda que isto pode qualificar
os próprios sujeitos- visão subjetivista defendida pelo professor
José Tavares
Há ainda quem entenda que temos aqui uma visão mista ou uma
doutrina intermédia defendida pelo professor Olavo Cunha

Doutrina de caráter subjetivista:

O artigo 230º visa qualificar os sujeitos comerciais. Entende que


temos aqui uma doutrina subjetivista.

Doutrina de caráter objetivista:

É aquela que vamos seguir aqui. Diz que o artigo 230º qualifica os
atos das empresas- qualificação de atos comerciais. Para o
professor Lobo xavier, entende que há uma multiplicidade de atos
fundamentais da empresa. Para o professor Coutinho de abreu, este
entende que há atos característicos da exploração da empresa.
1º crítica à visão subjetivista do professor José Tavares:

Se nós formos qualificar o artigo 230º como sujeitos comerciais


aquelas pessoas então faz sentido aplicar o artigo 13º?

Temos que fazer uma interpretação atualista do 230º.

Temos que ter atenção aos atos das empresas- mas há atos
explicitamente comerciais e atos implicitamente comercias.

Atos explicitamente comerciais- são aqueles que vêm


regulamentos na lei, sejam eles em legislação extravagante ou não.
Através do artigo 230º vamos ver que implicitamente aqueles atos
vão estar interligados (fazendo uma interpretação analógica ou
atualítica da lei) com a atividade daquela pessoa, daquele sujeito
que é comerciante.
Artigo 230º- norma qualificadora de atos- não uma norma
qualificadora de sujeitos.

Os atos vão ter ou não conexão com a atividade do comerciante.

Segundo o professor Coutinho de abreu entende- vamos ter uma


massificação de atos e esses atos não estão explicitamente
tipificados, mas sim implicitamente.

230º, nº6 C.Com.


As empresas que constroem estradas ou barragens são
comerciantes ou não? Nós temos que recorrer ao artigo 230º, nº6,
mas temos que fazer uma analogia legis- temos a analogia legis e a
analogia iuris. A analogia legis- vamos ver qual é o sentido e o
alcance da lei e vamos ver se aplica o caso da lacuna uma norma
que existe no nosso ordenamento.
Analogia iuris- parte dos princípios fundamentais do direito para
dar uma solução ao caso concreto.
O professor Coutinho de abreu diz que o artigo 230º, nº6 se refere
apenas às empresas que constroem casas. Pág. 89 do livro- mas não
há razões para se lhes negar tal qualidade.

230º, nº2 do C.Com.


Vamos supor aquelas empresas que prestam serviços de limpeza- a
lei nada nos é dito em relação a esta situação. Temos que fazer uma
analogia iuris partindo dos princípios gerais do direito comercial e
entendemos que as pessoas que prestam serviços praticam atos de
comércio. Pág. 91 e ss do livro.

Temos que ter em atenção a regra de atos de comércio,


relativamente à forma, à solidariedade passiva, prescrição? Prova?
relação dos atos onerosos.

Forma: artigo 3º do C. Com- através deste artigo vamos aplicar


muitas normas do código civil. Existe a liberdade de forma por
força do artigo 219º do CC- os contratos não carecem de ser
celebrados por escrito, somente quando a lei o diz. 875º CC.
Artigo 96º do C.Com.
Artigo 97º do C.Com.
Artigo 365º CC
Ex: um contrato de seguro, ao celebrar uma apólice de seguro- elas
têm que ser em língua portuguesa ou relativamente aos contratos
de sociedades comerciais- estas têm que ser redigidos em língua
portuguesa.
No mútuo civil é necessária forma escrita para os valores acima de
2.500 euros.
No mútuo comercial não é necessária forma escrita

Prova: Artigo 346º

Solidariedade Passiva- artigo 100º C. Com- diferente do que vem


estipulado no artigo 513º do CC.

Independentemente de uma pessoa ser ou não comerciante, são


sempre obrigados solidários, ao contrário do artigo 513º do CC.

Temos que fazer distinção entre o 101º e o 638º do CC

A pessoa que prestou a fiança é na mesma medida responsável- não


se pode afastar. Ao contrário, no artigo 638º, a fiança é acessória e
temos a excussão prévia. Nas obrigações civis, só se pode ir sobre
o fiador depois de se ir ao devedor principal. Só se houver a
renúncia à excussão prévia.

Pode haver o direito de regresso.

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 6.10.21

O que vimos na última aula:


O artigo 230º consagra uma visão objetivista- o que nós seguimos.
Temos que ter em atenção que temos que fazer uma interpretação
atualística da lei ou então recorrer à analogia (iuris ou legis). Legis-
daquelas pessoas que constroem estradas ou barragens que a lei
nada diz se são comerciantes ou não- recorrendo à analogia legis-
partindo de uma norma que nós vamos referir que aquela atividade
tem alguma conexão com aquela norma nós podemos dizer que as
pessoas que constroem barragens ou estradas são comerciantes-
praticam atos de comércio.
Analogia iuris- partir dos princípios de direito comercial- pessoas
que prestam prestação de serviços. Face aos princípios do direito
comercial nós vamos entender que as pessoas que praticam
prestação de serviços são comerciantes.

A crítica que fazem, nomeadamente aqueles que entendem que do


artigo 230º temos uma teoria objetivista, critica a teoria subjetivista
em que o artigo 13º qualifica os sujeitos como comerciantes.
Relativamente às capacidades, o artigo 13º do código comercial,
temos que verificar no caso prático, se aquela pessoa tem
capacidade ou não para praticar atos de comércio. 13º- capacidade
de exercício.
Há pessoas que não sendo comerciantes, podem praticar atos de
comércio.
Ex: Senhor A é vendedor de carrinhas (tem um stand) - foi a
Alemanha comprar veículos de automóveis- foi comprar veículos
para depois revender em Portugal. Passou numa rua, viu uma
ourivesaria e comprou dois relógios com intenção de os revender
em Portugal. Essa pessoa ao vender-lhe os relógios- as vendas dos
relógios fazem parte da sua atividade comercial? Não, ele é
vendedor de automóveis- tem que se ver se aquela compra tem ou
não conexão com a sua atividade.

Se comprou a carrinha para transportar mercadorias tinha conexão


com a atividade. Se comprou a carrinha, não prestou nenhum
esclarecimento, mas essa carrinha é para ir passear com a família,
nessa situação presume-se que é um ato de comércio.
Se ele disser que é para passear com a família, aí já não é um ato
de comércio.

Temos que ver ainda se a pessoa tem capacidade ou não para


praticar atos de comércio.
1º- temos que ter em atenção se não estamos face a um menor- o
menor pode ser representado pelos seus pais ou por um
representante legal. 122º e seguintes do CC. Ou ver se a pessoa não
está sob o regime do maior acompanhado. Artigo 138º e seguintes
do CC. Artigo 145, nº4 e nº5 CC.
Dentro da capacidade para praticar atos de comércio temos que ter
em atenção se é capacidade de gozo ou de exercício- é capacidade
de exercício.
Podem ser menores emancipados. Se não forem emancipados,
temos que ver se têm representação- artigo 1889º, nº1, alínea c) CC.
1938º, nº1, alínea e) e f) CC, 1071º, nº1 e nº2 CC.

Nós temos que ter em atenção que os atos de comércio subjetivistas


não atribuem a qualidade de comerciante- supõem essa qualidade.

Se nada nos é dito no caso prático que aquela pessoa não tem
capacidade vamos presumir que tem capacidade para praticar atos
de comércio, nos termos do artigo 13º.

Ex: uma pessoa que gasta muito dinheiro no casino, jogo e está a
lesar o património do casal- a sua mulher vai tentar pedir que lhe
seja colocada uma medida de acompanhamento.

São obrigações dos comerciantes, artigo 18º, adotar uma firma


(nome pelo qual uma pessoa vai gerar um comércio).
Ex: o senhor A e o senhor B vão constituir uma sociedade para uma
funerária e vamos ter um nome (“o desespero”), ex. Depois temos
a escrituração mercantil- inscrever o registo

Nº3- remissão para o artigo 1º do C. Registo Comercial.

Regras dos atos de comércio:

- Forma – artigo 3º C.Com. e artigo 219º CC:

Existe liberdade de forma, mas, por vezes, existe certos requisitos


formais para facilitar as transações.

O artigo 96º C.Com. diz-nos que os atos ou as transações são


validos seja qual for a língua.
Todavia, há contratos comercias que têm que ser forçosamente
reduzidos a escrito e têm que ser redigidos em língua português,
por exemplo, ao celebrar uma apólice de seguro, artigo 36º nº2 ou
artigo 11º CSC.

No mútuo comercial não é necessária forma escrita, mas para o


mútuo civil é necessária forma escrita para os valores acima de
2500 euros.
- Solidariedade passiva – artigo 100 C.Com.:

Nas obrigações comercias, aquela pessoa que for fiadora de um


comerciante é na mesma medida obrigada tal e qual como o
devedor principal. Ao contrário do direito civil, primeiro vai-se ao
devedor e só posteriormente é que se vai ao fiador.

- Prescrição – artigo 317º d) CC:

Estamos perante uma prescrição presuntiva, ou seja, é o próprio


comerciante que tem que alegar que aquela pessoa não lhe pagou.
A prescrição presuntiva tem apenas o efeito de dispensar o devedor
da prova do pagamento, mas não o isenta de alegar que já cumpriu.
O credor não deixa de poder provar que a dívida não foi paga, caso
em que tem direito a receber o seu pagamento.

Artigo 316º CC

Artigo 317º CC
- Nota: aliena a) – estão excluídos desta alínea os créditos entre
comerciantes no exercício do comercio
- Relações dos atos onerosos - Artigo 102º C. Com:

A regra dos atos de comércio é que estes são onerosos.

- Juros legais e convencionais - resultam da lei ou de estipulação


das partes
- Juros remuneratórios ou moratórios – artigo 806º CC

Ter em atenção o artigo 17º, 14º- quem não pode praticar atos de
comércio.
14º- remissão para 17º e 253º do C.Com. 180º, 254, 298º, nº3 do C.
Sociedades Comerciais.

Estatuto dos comerciantes

A finalidade do registo comercial é dar publicidade dos atos e para


haver segurança jurídica comercio – artigo 1º CRC

Artigo 18º C.Com.:


Os comerciantes são obrigados a:
- 1º adotar uma firma
- 2º ter escritura mercantil
- 3º fazer inscrever no registo comercial os atos ele sujeito
- 4º dar balanço e a prestar contas
Registo Nacional de Pessoas Coletivas- decreto lei 129/98 pag.157

O procedimento para obtenção do direito sobre a firma:

Inicia-se com um pedido do certificado de admissibilidade de firma


e denominação, na qual os interessados devem dirigir-se ao registo
nacional de pessoas coletivas - artigo 45º RNPC.

Artigo 38ºRegisto nacional de pessoas coletivas


O nome não pode induzir o público ou os consumidores em erro.
Ex: Se o senhor João Oliveiro e o Rúben vão constituir uma
sociedade para vender peixe, mas vão escolher o nome carnes
frescas- estão a induzir o público em erro.
Não pode existir conflito de nomes.

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 11.10.21

Estivemos a ver na última aula o princípio da novidade e da


verdade. Nós estivemos a ver que uma das obrigações dos
comerciantes relativamente ao artigo 18º é adotar uma firma.

Requisitos da comercialidade- importante

Um senhor que tem um café, ao comprar um computador para o


seu café, é um ato objetivamente comercial ou subjetivamente
comercial?
Nº2 do artigo 18º- uma das obrigações dos comerciantes é ter a
escrituração mercantil
Objetivamente comercial? Qualificação do artigo 230º do C.Com.

O artigo 230º é uma norma qualificadora- há várias doutrinas.


Seguimos a doutrina do professor Coutinho de Abreu- atos da
empresa. É uma norma qualificadora de atos e não de sujeitos.

Os militares, os juízes não podem ser comerciantes.


Arquitetos, advogados, médicos não são comerciantes

Ver artigo 17º, artigo 14º, artigo 13º C.Com.


Artigo 7º- remissão 13º, 67º CC, 122º e ss CC, 138º e ss CC.

Há pessoas que podem praticar atos objetivos e podem não ser


comerciantes- a pessoa tem que ter uma atividade reiterada.

Artigo 100º C.Com. A fiança é um ato acessório.

Os comerciantes têm que adotar uma firma e são comerciantes


também- 13º C. Com- remissão para o 1º, nº2 do Código das
Sociedades Comerciais).

A firma é o nome da pessoa- nome da firma. Tem que se cumprir


determinados requisitos- Registo Nacional de Pessoas Coletivas-
verificar o princípio da verdade e o princípio da novidade- 32º e
33º. A doutrina avança com outros princípios.
Princípio da verdade- ex: João e Rúben constituíram uma sociedade
para comercializar peixe e escolheram como nome: comércio de
carnes quando vão comercializar peixe- estão a induzir o público
em erro.
Certificado de Admissibilidade- 45º, 46º- 3 meses- prazo.

Ex: Já existe um produto chamado Mistolin, não posso ter uma


firma com o nome Pistolin, porque pode criar confusão e induzir o
público em erro.

A doutrina dominante na Alemanha defende a possibilidade de os


comerciantes individuais (não as sociedades) adotarem várias
firmas quando tenham várias empresas. - Ferrer Correia defendeu
entre nós posição idêntica. Todavia, em Portugal não é admitido.

Ex: O João Oliveira quer constituir uma firma com o seu nome,
mas já existe registada uma firma com esse nome, ora, não o pode
fazer.

- Princípio da capacidade distintiva – As partes têm que escolher


um nome que não seja confundível com outros nomes já existentes.
- Princípio da licitude – não pode haver nomes que sejam
contrários à lei, ou seja, que possam induzir em erro, possam
colocar em causa determinadas opções políticas religiosas, etc.

Ex: não podem utilizar expressões que sejam ofensivas

- Princípio da autonomia privada – as partes são livres de


escolheram o que entenderem – com limitações, artigo 32º nº4
RRNPC
Na liberdade de escolha que os interessados têm ao seu alcance,
estão à sua disposição:
- Firmas pessoais ou objetivas- 38º
- Firmas materiais ou objetivas
- Firmas de fantasia- ex: sereia do oriente.
- Firmas mistas

- Princípio da estabilidade – 44º RNPC


Dívidas dos comerciantes:

15º C.Com.- Remissão- 1691º, alínea d), 1695º


Tem que ser o cônjuge a tentar provar o contrário- ilidir presunções
722º, nº1, alínea e)

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 20.10.21

A Empresa e o Estabelecimento

A Empresa

Exemplos práticos:

Senhor A e senhor B e a senhora C constituem uma sociedade-


funerária. Essa funerária é numa loja arrendada. A C é carpideira.
Contraiu um empréstimo bancário e subscreveram uma livrança.
Temos uma livrança para comprar o carro funerário. Funerária é
em Esposende. Senhora C, a verdadeira alma do negócio, cansada
e depois de se ter chateado com A e B, abre outra funerária em
Esposende a um quilómetro de distância da outra. Será que podem?

Senhora A, senhor B e senhor C têm uma pastelaria (XPTO)- A é


casada com B e têm duas filhas- D e E. Têm uma receita de um
bolo muito conceituado- marca do bolo está registada, patenteada
e além disso a pastelaria é também muito conceituada naquela zona
(Vila do Conde). Têm o estabelecimento numa loja arrendada. Ao
fim de algum tempo estão cansados e vão passar o estabelecimento
à J. Passados 2 meses, arrependidos abriram outra pastelaria (M) a
1 quilómetro da outra pastelaria. Será que podem?
A nova pastelaria tinha muita clientela. Conseguiram afastar muita
da clientela da pastelaria XPTO. Será que a clientela faz parte do
estabelecimento comercial? Será que J terá criatividade para atrair
mais clientela?

Filhas da pastelaria XPTO estão agora em Póvoa de Varzim onde


abriram também uma pastelaria (X). Será que as filhas podem?
Estabelecimento só estava no nome da D.
Nota: nós temos as letras, as livranças e a distinção mais nítida é
que a livrança é uma promessa de pagamento.

Vamos ver a diferença entre empresa e estabelecimento.

Já vimos no artigo 230º que temos atos qualificativos da empresa.


Há quem entenda que se deve fazer a distinção entre empresa e
estabelecimento e há quem entenda que são sinónimos. A lei ou na
lei não há um conceito único de empresa. Por exemplo, no código
de trabalho- como é que se deve marcar as férias numa empresa?
Tem uma definição no artigo 100º do Código do Trabalho.

195º
Artigo 195.º - Transferência a pedido do trabalhador

1 - O trabalhador vítima de violência doméstica tem direito a ser transferido,


temporária ou definitivamente, a seu pedido, para outro estabelecimento da empresa,
verificadas as seguintes condições:
Pastelaria XPTO- pode haver depois a firma com o nome João
Pereira. Temos o estabelecimento e temos depois outra realidade
que é a constituição daquela firma. A firma pode acompanhar ou
não a transmissão do estabelecimento.
• Lei n.º 19/2012, de 08 de Maio - NOVO REGIME JURÍDICO DA CONCORRÊNCIA
Não há uma única definição de empresa.
Professor Coutinho de Abreu:

Entende empresa e estabelecimento como sinónimos.


Há uma componente do estabelecimento e vai variar consoante a
atividade que aquelas pessoas se dedicam. Temos que aferir em
concreto qual o negócio que está ali em causa. Temos um
estabelecimento de bens corpóreos e bens incorpóreos, bens
móveis e bens imóveis. Nós vamos ter que ter em atenção se o
estabelecimento é já muito antigo, se é muito afamado.
O que é que vai fazer parte de um estabelecimento?
Ex: aspetos materiais da pastelaria:

• Cadeiras;
• Frigoríficos, etc.
As cadeiras, por ex, do magestic, ou as cadeiras do café brasileira
em braga é um elemento caracterizador e essencial daquele
estabelecimento. Mas, as cadeiras do café da esquina que tem só 3
anos é diferente. Temos que ter em atenção se aquele mobiliário
são elementos essenciais- se retirarmos os elementos, vamos
descaracterizar aquele estabelecimento. Isto para efeitos de
transmissão.

O contrato de arrendamento, contrato de trabalho também são


elementos do estabelecimento. Pode haver também a subscrição de
títulos de crédito- livrança, ex. Falamos também das licenças,
alvarás, nome do estabelecimento (xpto), marca, logotipo, etc.
Titular- quem está a explorar;
Acervo patrimonial- bens móveis, imóveis, bens corpóreos,
incorpóreos, etc.
Conjunto de pessoas- pessoas que estão vinculadas aquele
estabelecimento- cônjuges, titular, funcionários, etc. Será que vai
haver o vínculo quando houver transmissão?
No estabelecimento, vamos ter duas realidades distintas:
• Uma organização;
• Uma organização funcional- local onde está instalado.
O cônjuge, mesmo casado em regime de separação de bens é
obrigado ou não ao dever de não concorrência?
E os filhos?

Ir ver esta matéria ao livro do professor Gravato Morais e Coutinho


de Abreu- têm perspetivas diferentes.
Contrato de agência- muito importante.
Vamos supor que a senhora A é produtora de um doce- Tem a sua
empresa no Algarve, mas quer promover os seus produtos na região
Norte. Quem vai comercializar esses produtos de A é B- contratos
de agência- temos o agente e o principal. Ao comercializar aquele
doce tem que ter elementos característicos.
O estabelecimento pode ser transmitido
Código Civil- 1112º CC
----------
Artigo 1112.º - Transmissão da posição do arrendatário

1 - É permitida a transmissão por ato entre vivos da posição do arrendatário, sem


dependência da autorização do senhorio:

a) No caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial;


b) A pessoa que no prédio arrendado continue a exercer a mesma profissão
liberal, ou a sociedade profissional de objeto equivalente.

2 - Não há trespasse:

a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em


conjunto, das instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o
estabelecimento;
b) Quando a transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de
comércio ou indústria ou, de um modo geral, a sua afetação a outro destino.

3 - A transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio.


4 - O senhorio tem direito de preferência no trespasse por venda ou dação em
cumprimento, salvo convenção em contrário.
5 - Quando, após a transmissão, seja dado outro destino ao prédio, ou o
transmissário não continue o exercício da mesma profissão liberal, o senhorio pode
resolver o contrato.

Para Pedro Pais de Vasconcelos- trespasse é um contrato nominado


e típico. Tem uma prática reiterada na sociedade.

Trespasse- é uma transmissão de um estabelecimento comercial.


Pode ser ela onerosa ou gratuita- Tem que ser inter vivos.

Quando temos uma transmissão de estabelecimento vamos ter que


ver os âmbitos da entrega.

O que é que tem que ser transmitido com aquele estabelecimento?

O nome pode ou não ser transmitido?


Direito Comercial da Empresa
Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 25.10.21
Decreto lei 462/99 – estabelecimento
Temos aqui uma noção de estabelecimento comercial- tem uma
componente corpórea e não corpórea. Temos que aferir caso a caso
quais os elementos essenciais para a transmissão do
estabelecimento comercial.
Um estabelecimento comercial é composto por um recheio de
elementos corpóreos e incorpóreos.

Íamos começar pelos âmbitos:

Para que haja uma transmissão do estabelecimento há elementos


que são essenciais.
Âmbito Mínimo- aquele que tem que ser aferido em concreto.
Âmbito Máximo ou convencional- tem que haver acordo entre as
partes- tem que haver uma estipulação de ambas as partes que estão
ali em causa naquele negócio. Aferido em abstrato.
Âmbito Natural- aferido em abstrato.

Uma pastelaria com um grande renome e que tem um bolo muito


específico. O saber fazer também pode ser uma condicionante do
estabelecimento. O âmbito mínimo é importante para este tipo de
estabelecimentos.
As cadeiras, o balcão, as estantes, são características daquele
estabelecimento e são inseparáveis daquele estabelecimento
comercial. Outro exemplo é o café magestic do porto ou o café
brasileira.
Ex: restaurante que já tinha 20 anos e era muito afamado na
Mealhada- rei dos leitões- houve a transmissão desse restaurante,
mas o nome nunca poderia ser transmitido para um terceiro.

Âmbito natural- vai-se transmitir quase tudo- recheio- garrafas,


quilos de café, frigoríficos, prateleiras, contratos de trabalho. Não
é necessária qualquer convenção. Entende-se que se transmite
todos os elementos desse estabelecimento.
Ex: logotipo e marca- entende-se que pertence ao âmbito natural-
artigo 30º da propriedade industrial, 256º e 295º
Artigo 285º do Código do Trabalho.
A firma tem que obedecer ao princípio da verdade e ao princípio
da novidade. Artigo 32º e 33º do registo das pessoas coletivas. Para
verificar se a firma é possível ou não temos que requerer o
certificado de admissibilidade- 45º que tem uma validade de 3
meses, artigo 53º.
Se na pastelaria XPTO estiver lá o nome de João Pereira é
necessária uma cláusula para a sua transmissão.
A marca pertence ao âmbito natural- 256º Código civil.
O professor Coutinho de Abreu questiona, dentro do âmbito
natural, se o prédio onde está instalado o estabelecimento- ex:
funerária, está num prédio que foi feita especificamente para isso.
Ou a senhora A e a senhora B estão a explorar parte de
estacionamento subterrâneo. É característico para arrumar carros.
O professor questiona se aquele prédio faz parte ou não faz parte
do âmbito natural. Há determinados estabelecimentos em que
aqueles prédios, aquelas lojas, foram efetuadas para aquele ramo
de negócio- ex: hotéis, funerárias, parques, etc. Faz parte ou tem
que ser transmitido? Nós podemos transmitir o estabelecimento,
mas não transmitirmos o local onde ele está, a loja física.
O professor Coutinho de Abreu entende que faz parte do âmbito
natural o prédio.
Âmbito Máximo- afere-se em abstrato. Artigo 44º do registo de
pessoas coletivas. Aqui tem que ser tudo convencionado entre as
partes, o que pode ou não pode ser transmitido, mas, temos que ter
em atenção que não pode fazer parte do âmbito mínimo. Se fizer,
há aqui alguma anomalia. Para haver convenção têm que ser
elementos que não façam parte do âmbito mínimo.

Podemos ter esta situação- A tem a pastelaria, mas quer transmitir


essa pastelaria- uma simples pastelaria- está cansada e quer
transmitir. Fez uma remodelação dessa pastelaria e foi adquirir
esses novos produtos a B que tem uma empresa de fabrico e
montagem de produtos de hotelaria. Tem uma dívida ainda de
80.000 euros que não foi paga. O que pode acontecer? Quer
transmitir a C- será que nesta transmissão ela pode transmitir os
80.000 euros que deve a B? Pode fazer no âmbito convencional ou
no âmbito máximo. Artigo 577º e ss do código civil.

Artigo 577.º - (Admissibilidade da cessão)

1. O credor pode ceder a terceiro uma parte ou a totalidade do crédito,


independentemente do consentimento do devedor, contanto que a cessão não seja
interdita por determinação da lei ou convenção das partes e o crédito não esteja, pela
própria natureza da prestação, ligado à pessoa do credor.
2. A convenção pela qual se proíba ou restrinja a possibilidade da cessão não é
oponível ao cessionário, salvo se este a conhecia no momento da cessão.
Precisa de haver a notificação- 583º CC
Este regime é importante quando falarmos dos títulos de crédito-
não há uma cláusula não à ordem- aplicamos o 577º e ss.
Artigo 583.º - (Efeitos em relação ao devedor)

1. A cessão produz efeitos em relação ao devedor desde que lhe seja notificada,
ainda que extrajudicialmente, ou desde que ele a aceite.
2. Se, porém, antes da notificação ou aceitação, o devedor pagar ao cedente ou
celebrar com ele algum negócio jurídico relativo ao crédito, nem o pagamento nem o
negócio é oponível ao cessionário, se este provar que o devedor tinha conhecimento
da cessão

Pode transmitir livremente aquela dívida;


Não precisa de autorização do credor mas tem que haver
notificação.
Importante: quando o nome do estabelecimento seja o nome de um
estabelecimento de grande renome- não seja nome individual, faz
parte do âmbito mínimo e não pode haver convenção.
Artigo 44º- remissão para o artigo 30º, nº3 do código da
propriedade industrial.
Há um fator que vai influenciar a transmissão ou não do
estabelecimento comercial: clientela, o aviamento.
A clientela não é um elemento do estabelecimento comercial-
influencia só. Se a pastelaria de A tiver uma grande clientela vai ter
muitas pessoas interessadas em tentar adquirir aquele
estabelecimento comercial. A clientela pode acompanhar ou não o
estabelecimento.
Podemos ir à pastelaria de A porque simpatizamos com ela. Se vai
para la o senhor B nós deixamos de lá ir.
Associado à clientela vamos ter o aviamento- capacidade daquele
estabelecimento comercial gerar lucros, ter uma boa faturação.
O aviamento não é um elemento do estabelecimento.
Importante: quando há a transmissão de um estabelecimento
comercial nós temos que ter em atenção a obrigação implícita de
não concorrer. Não advém da lei.

Quando há uma transmissão, temos que atender a 3 elementos:


Quem é que não pode concorrer? Sujeitos
Elemento temporal e elemento espacial
Garantia contra evicção- 903º CC
2. A declaração contratual de que o vendedor não garante a sua legitimidade ou não
responde pela evicção envolve derrogação de todas as disposições legais a que o
número anterior se refere, com exceção do preceituado no artigo 894.º
Limite pessoal- temos que ver se o cônjuge do comerciante está
inibido desta concorrência, se os filhos, se os sócios, etc. A doutrina
vai divergir.

Limite temporal- a doutrina avança que deve ir dos 2 aos 5 anos. 2


anos- artigo 136º código do trabalho e artigo 9º do contrato de
agência- decreto lei 178/86.

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 27.10.21
O que nos importa saber é que a pessoa que vai transmitir o
estabelecimento comercial tem que assegurar o gozo pacífico da
coisa.
Não pode haver concorrência desleal.

Vamos seguir a doutrina do professor Coutinho de Abreu, mas há


divergências doutrinárias.

Ex: A tem a empresa XPTO em Viana do Castelo – tem


notoriedade.
Dentro da obrigação de não concorrência. Temos que ter em
atenção o âmbito pessoal, temporal, espacial.

Cônjuge que está casado em separação de bens, não tem qualquer


direito com o estabelecimento- há aqui um dever de não
concorrência ou não? Há divergências.
Quanto aos filhos, o professor Coutinho de Abreu entende que
aqueles filhos- trabalham com aquela pessoa- têm um contacto
direito- trabalham com o pai com mãe têm dever de não
concorrência.
Ver na doutrina estes casos.
Sócios- dever de não concorrência, mas se um dos sócios tinha uma
quota pequena e não tinha contacto com os clientes, não tem dever
de não concorrência.

Âmbito temporal- 2 anos-mínimo 5 anos-máximo- depende da


doutrina

Código do trabalho
Artigo 136.º - Pacto de não concorrência

1 - É nula a cláusula de contrato de trabalho ou de instrumento de


regulamentação coletiva de trabalho que, por qualquer forma, possa prejudicar o
exercício da liberdade de trabalho após a cessação do contrato.
2 - É lícita a limitação da atividade do trabalhador durante o período máximo de
dois anos subsequente à cessação do contrato de trabalho, nas seguintes condições:

a) Constar de acordo escrito, nomeadamente de contrato de trabalho ou de


revogação deste;
b) Tratar-se de atividade cujo exercício possa causar prejuízo ao empregador;
c) Atribuir ao trabalhador, durante o período de limitação da actividade, uma
compensação que pode ser reduzida equitativamente quando o empregador tiver
realizado despesas avultadas com a sua formação profissional.

3 - Em caso de despedimento declarado ilícito ou de resolução com justa causa


pelo trabalhador com fundamento em ato ilícito do empregador, a compensação a
que se refere a alínea c) do número anterior é elevada até ao valor da retribuição base
à data da cessação do contrato, sob pena de não poder ser invocada a limitação da
atividade prevista na cláusula de não concorrência.
4 - São deduzidas do montante da compensação referida no número anterior as
importâncias auferidas pelo trabalhador no exercício de outra atividade profissional,
iniciada após a cessação do contrato de trabalho, até ao valor decorrente da aplicação
da alínea c) do n.º 2.
5 - Tratando-se de trabalhador afeto ao exercício de atividade cuja natureza
suponha especial relação de confiança ou que tenha acesso a informação
particularmente sensível no plano da concorrência, a limitação a que se refere o n.º 2
pode durar até três anos.
Arrendamento Comercial

O código civil não faz alusão ao arrendamento comercial


Trespasse de estabelecimento arrendado- 1112º CC
Direito Comercial da Empresa
Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 3.11.21
Vamos falar do arrendamento comercial.
Não há normas próprias para o arrendamento comercial. Vamos
aplicar as regras do arrendamento urbano.
Temos que ter em atenção ao âmbito mínimo, âmbito natural,
âmbito máximo para a transmissão do estabelecimento.
Âmbito mínimo- é transmitido tudo aquilo que é essencial daquele
estabelecimento- não pode ser separado.
Âmbito natural- tudo é transmitido naturalmente
Âmbito máximo ou convencional- tem que haver um acordo. Pode
ser transmitido as dívidas ou os créditos. 577º, 595º

Há determinadas dívidas que têm que ser transmitidas


independentemente de haver acordo ou não haver acordo- dívidas
às finanças, dívidas laborais, dívidas a segurança social, etc. 285º
código trabalho.

Trespasse- 1112º

Artigo 1112.º - Transmissão da posição do arrendatário- importante

1 - É permitida a transmissão por ato entre vivos da posição do arrendatário, sem


dependência da autorização do senhorio:

a) No caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial;


b) A pessoa que no prédio arrendado continue a exercer a mesma profissão
liberal, ou a sociedade profissional de objeto equivalente.

2 - Não há trespasse:

a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em


conjunto, das instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o
estabelecimento; Quem tem o ónus da prova é o senhorio- quem tem que provar.
b) Quando a transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de
comércio ou indústria ou, de um modo geral, a sua afetação a outro destino.

3 - A transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio- não é


necessária autorização do senhorio.
Falta de forma- o senhorio tem que alegar a nulidade- 286º CC e 1083º CC- alínea e).

Tem que ser comunicada- 1038º- f) Não proporcionar a outrem o gozo total ou parcial
da coisa por meio de cessão onerosa ou gratuita da sua posição jurídica, sublocação
ou comodato, exceto se a lei o permitir ou o locador o autorizar; g) Comunicar ao
locador, dentro de 15 dias, a cedência do gozo da coisa por algum dos referidos
títulos, quando permitida ou autorizada;
Se não for comunicada é ineficaz- 424º, 1059º CC nº2
Os 15 dias não é linear- ou 1109º, nº2- gravato morais- quem tem o ónus da prova da
comunicação? Trespassante ou trespassário
Convém que a comunicação seja feita por carta registada com aviso de receção para
se ficar com uma prova.

4 - O senhorio tem direito de preferência no trespasse por venda ou dação em


cumprimento, salvo convenção em contrário.
5 - Quando, após a transmissão, seja dado outro destino ao prédio, ou o
transmissário não continue o exercício da mesma profissão liberal, o senhorio pode
resolver o contrato. Há quem ache que este número 5 não faz sentido, que tem que
ser entendida juntamente com a alínea b)

Remissão do artigo 1112º, nº2- para 1083º, nº2, alínea c) e e) CC

2. É fundamento de resolução o incumprimento que, pela sua gravidade ou


consequências, torne inexigível à outra parte a manutenção do arrendamento,
designadamente, quanto à resolução pelo senhorio:

c) O uso do prédio para fim diverso daquele a que se destina, ainda que a alteração do
uso não implique maior desgaste ou desvalorização para o prédio;
e) A cessão, total ou parcial, temporária ou permanente e onerosa ou gratuita, do gozo
do prédio, quando ilícita, inválida ou ineficaz perante o senhorio.

Ex: trespasse de uma funerária- instalam lá um talho- talho passa-


se a chamar gôndolas do desespero- resolução.

Artigo 1109.º - (Locação de estabelecimento)

1. A transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele,


em conjunto com a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele
instalado, rege-se pelas regras da presente subsecção, com as necessárias adaptações.
2. A transferência temporária e onerosa de estabelecimento instalado em local
arrendado não carece de autorização do senhorio, mas deve ser-lhe comunicada no
prazo de um mês.
Há uma divergência doutrinal entre os 15 e os 30 dias- posição de
gravato morais- há algumas alterações que ocorreram que tem q
se ter em atenção na sebenta do professor gravato morais.
Obrigação de não concorrência
Não sendo feita a comunicação ao senhorio, esse trespasse vai ser
ineficaz- 1049º CC
Artigo 1049.º - (Cedência do gozo da coisa)

O locador não tem direito à resolução do contrato com fundamento na violação do


disposto nas alíneas f) e g) do artigo 1038.º se tiver reconhecido o beneficiário da
cedência como tal ou ainda, no caso da alínea g), se a comunicação lhe tiver sido feita
por este.

Direito de preferência do senhorio- 1112º, n4º

Artigo 1091.º - (Regra geral) - tem sido alvo de crítica por parte da doutrina
O legislador fez isto à pressa e não atendeu às regras gerais do direito de
preferência. O nº8 foi julgado inconstitucional

1. O arrendatário tem direito de preferência:

a) Na compra e venda ou dação em cumprimento do local arrendado há mais


de dois anos, sem prejuízo do previsto nos números seguintes;
b) Na celebração de novo contrato de arrendamento, em caso de caducidade
do seu contrato por ter cessado o direito ou terem findado os poderes legais de
administração com base nos quais o contrato fora celebrado.

2. O direito previsto na alínea b) existe enquanto não for exigível a restituição do


prédio, nos termos do artigo 1053.º
3. O direito de preferência do arrendatário é graduado imediatamente acima do
direito de preferência conferido ao proprietário do solo pelo artigo 1535.º
4. A comunicação prevista no n.º 1 do artigo 416.º é expedida por carta registada
com aviso de receção, sendo o prazo de resposta de 30 dias a contar da data da
receção.
5. É aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 416.º a 418.º
e 1410.º, sem prejuízo das especificidades, em caso de arrendamento para fins
habitacionais, previstas nos números seguintes.
6. No caso de venda de coisa juntamente com outras, nos termos do artigo 417.º, o
obrigado indica na comunicação o preço que é atribuído ao locado bem como os
demais valores atribuídos aos imóveis vendidos em conjunto.
7. Quando seja aplicável o disposto na parte final do n.º 1 do artigo 417.º, a
comunicação referida no número anterior deve incluir a demonstração da existência
de prejuízo apreciável, não podendo ser invocada a mera contratualização da não
redução do negócio como fundamento para esse prejuízo.
8. No caso de contrato de arrendamento para fins habitacionais relativo a parte de
prédio não constituído em propriedade horizontal, o arrendatário tem direito de
preferência nos mesmos termos previstos para o arrendatário de fração autónoma, a
exercer nas seguintes condições:
a) O direito é relativo à quota-parte do prédio correspondente à permilagem
do locado pelo valor proporcional dessa quota-parte face ao valor total da
transmissão;
b) A comunicação prevista no n.º 1 do artigo 416.º deve indicar os valores
referidos na alínea anterior;
c) A aquisição pelo preferente é efetuada com afetação do uso exclusivo da
quota-parte do prédio a que corresponde o locado.

9. Caso o obrigado à preferência pretenda vender um imóvel não sujeito ao


regime da propriedade horizontal, podem os arrendatários do mesmo, que assim o
pretendam, exercer os seus direitos de preferência em conjunto, adquirindo, na
proporção, a totalidade do imóvel em compropriedade.

Pinto Furtado ele faz uma crítica do número 4º do 1112º CC-


aquelas atividades liberais, ex: médico, será que faz sentido o
senhorio ter o direito de preferência quando ele não vai prosseguir
aquela atividade? Ele não entende que não faz sentido.
Professor Gravato Morais- entende que o senhorio tem o direito à
preferência porque é uma forma de o senhorio reaver o local que
está arrendado.
Este nº 4 tem natureza supletiva em que as partes quando
celebraram o o contrato de arrendamento podiam ter excluído o
direito de preferência por parte do senhorio.
Remissões deste nº4 para as regras gerais do direito de preferência
e o artigo 1410º CC.
A notificação do direito de preferência tanto pode ser judicial como
extrajudicial.

Direito Comercial da Empresa


Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 8.11.21

Estávamos no seguinte: o senhorio tem direito de preferência.


Há quem entenda que não faz sentido o direito de preferência do
senhorio uma vez que a situação do trespasse em relação ao
senhorio- ele pode não levar a cabo aquela atividade.
Ex: se está lá instalada um salão de dentista e depois vai para lá o
senhor A- a finalidade não é a mesma- conselheiro Pinto Furtado
entende que o senhorio não devia ter o direito de preferência.
O professor Gravato Morais entende que tem o direito de
preferência porque pode ser uma forma de ele resgatar aquela loja,
aquele local.

Temos aqui também uma situação- nº4 do 1112º pode ser afastado
no contrato porque é uma norma supletiva
4 - O senhorio tem direito de preferência no trespasse por venda ou dação em
cumprimento, salvo convenção em contrário.

Dação em cumprimento- artigo 937º CC


É quando existe uma prestação diferente daquela inicialmente. Há
uma substituição da obrigação inicial.

Vai-se aplicar à preferência as regras do 416º e ss do CC.


Qual é o conteúdo que deve ir na comunicação da preferência?

A jurisprudência entende que nessa carta devem ir todos os


elementos essenciais para que a pessoa, o senhorio esteja em
paridade de igualdade com a pessoa que também quer aquele
estabelecimento. Ex: senhorio deve receber qual o nome da pessoa
interessada, qual o preço do estabelecimento… todas as
informações necessárias para ele poder preferir ou não.

Caso não deiam ao senhorio o direito de preferência vai suceder


que ele pode intentar uma ação de preferência- 410º CC.
1112º, nº4- fazer remissões para o 416º CC e ss, 410º

Se, por exemplo, num contrato de permuta, se o senhorio tem o


direito de preferência. O professor Sérgio Machado entende que
não porque a lei não fala desta situação- só fala da compra e venda
e da dação em cumprimento.

Quando há um trespasse, vai-se transferir algumas coisas para a


esfera jurídica da outra pessoa, nomeadamente a renda. Entende-se
que a renda seja a mesma.

Duração do arrendamento
Podemos ter um arrendamento por tempo indeterminado, mas
vamos ver depois as regras.

Fim do arrendamento

Se a pessoa transmitiu o estabelecimento- era para ser uma


pastelaria para o B e o C, eles têm que levar aquela finalidade- têm
que prosseguir aquele mesmo ramo do negócio.

Incumprimento

Vamos supor que A tem a sua pastelaria XPTO- senhorio- senhora


C. Entretanto C intenta uma ação de despejo porque a A está a dar
outras finalidades ao negócio ou não paga a renda, ou a C quer
denunciar um contrato, etc. Pode suceder o seguinte- enquanto
intentou ou não intentou a ação de despejo, nesse tempo, A está a
negociar a transmissão do estabelecimento comercial, da pastelaria
para o B e C. Há o trespasse do estabelecimento~. Será que se faltar
a renda- se A não pagou as rendas ou se C enviou uma carta a A
que no final do contrato não queria que se renovasse, mas,
entretanto, A transmitiu o estabelecimento para B e C- será que isso
vai ter reflexos na esfera jurídica de B e C?

À primeira vista parece que isso se vai transferir para os novos


inquilinos. Senão estaríamos aqui face a várias simulações- há
quem entenda que temos aqui uma fraude à lei porque as pessoas
podiam estar má-fé, já saberem da situação- entende-se que se o
senhorio intentou uma ação de despejo isso vai-se transmitir
também para as novas pessoas.
435º CC
Entendimento do professor Gravato Morais- o artigo 1112º, nº1
alínea a) vai-se sobrepor a este artigo 435º CC. Aí o senhorio pode
resolver o contrato neste fundamento do 1085º CC- fundamentos
da resolução com 1049º CC- tem que ser o mais rápido possível
sob pena de caducidade- 1085º CC. Eles podem pedir uma
indemnização- 1798º CC.

Os contratos de arrendamento têm fiadores e A tem um contrato de


arrendamento e tem como fiadora a senhora B- houve o trespasse-
será que a fiança se mantém? Não- a fiança é uma garantia. Não é
pacífico. Há quem entende que se transmite, mas a posição
maioritária é que a fiança é um instituto que só está adstrito aquela
pessoa, logo a fiança só diz respeito a A. É esta posição também do
professor Januário Gomes- ele diz que a fiança é estritamente
pessoal e que não é transmissível.

Direito de preferência- o ónus da prova- preferência foi dada ao


senhorio cabe ou à pessoa que deu ou cedeu o trespasse.
Regra geral: 1091º CC- há críticas a este artigo, mas o que nos
interessa aqui é a alínea a).
1. O arrendatário tem direito de preferência:

a) Na compra e venda ou dação em cumprimento do local arrendado há


mais de dois anos, sem prejuízo do previsto nos números seguintes;

A estava naquele local arrendado há 6 anos, por exemplo,


propriedade de C- transmitiu para B e D- C quer vender aquela loja
a E. Eles estão naquela loja há 6 meses- será que esses senhores
têm o direito à preferência? Será que aquele tempo todo que A
esteve naquela loja se transfere para os senhores?
Entendimento do professor Gravato Morais- entende-se que é
cumulável- os 6 anos que A esteve naquele local vai-se transferir
para B e D que tomaram de trespasse aquele local. Estes senhores
apesar de estarem lá há 6 meses terão o direito de preferência.
Isto em relação à transmissão de direitos. Já falamos da transmissão
da fiança- não é possível. Transmissão da preferência- é possível e
agora temos que ver um decreto-lei.
Artigo 11º da locação financeira

Vamos supor que A comprou para a pastelaria umas determinadas


máquinas e comprou a leasing. A propriedade ainda não foi
transmitida- só se transmite quando houver o pagamento total.
Ainda não houve o pagamento total.
Será que esse contrato de locação se pode transferir para esses
senhores?
Artigo 11º do diploma do leasing- diz-nos que pode haver a
transmissão. Pode acontecer o seguinte: o legislador vê que os
senhores não têm poder económico, não vão conseguir continuar a
cumprir o contrato de leasing- pode-se opor a essa transmissão.

Artigo 10º- deve ser comunicado ao locador- se não houver


comunicação pode ser resolvido o contrato de leasing.
285º código do trabalho.

Todos os trabalhadores têm que ter um seguro de acidentes de


trabalho. Também há estabelecimentos que têm seguros de
responsabilidade civil

Artigo 95º- esses seguros transferem-se.

3 carrinhas- distribuição do pão- esse seguro também se transfere?


Tem que ser comunicada que houve aquela transferência.
Relativamente às carrinhas esses seguros não se transmitem-
seguros de responsabilidade civil, seguros de acidentes de trabalho
são transmissíveis, mas o seguro dos veículos automóveis não é
transmissível no caso do trespasse.
Direito Comercial da Empresa
Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 10.11.21

Regime da locação financeira- moodle- imprimir


Terminamos o trespasse
O trespasse é uma transmissão definitiva do estabelecimento
comercial, ao contrário do que vamos ver hoje: locação de
estabelecimento ou cessão de exploração.
Ou a pessoa naquele momento está com um problema familiar, de
saúde, por ex, e quer que alguém vá assegurar aquele
estabelecimento. Esse estabelecimento está num local arrendado,
mas vai-se dar a locação de estabelecimento nos termos do artigo
1109º do CC.
Artigo 1022º CC- gozo temporário de um estabelecimento.
Há uma transmissão de tudo aquilo que faz parte do
estabelecimento, mas depois havendo novamente a reversão.

1109º- Remissão para o artigo 1037º CC


A pessoa que recebeu o estabelecimento em locação tem que ter o
gozo pleno daquele estabelecimento- se for perturbado pela pessoa
que lhe transmitiu esse estabelecimento ele pode usar os meios de
defesa nos termos do artigo 1276º CC.

Há quem entenda que no nº2 se aplique a regra geral dos 15 dias e


não dos 30 dias- comunicação.
No nº1 diz-nos que se vai aplicar ao regime da locação as regras
daquela subsecção- aplica-se as regras do artigo 1112º- vai-se
aplicar as regras que estão estabelecidas para o trespasse.
É sempre oneroso, nunca é gratuito.
Tal e qual como no trespasse se a pessoa tem a pastelaria- houve
uma transmissão para B e C- aqueles senhores vão desvirtuar o
estabelecimento e vão fazer um salão de estética- aplica-se o artigo
1112º por força da parte final do número 1 do artigo 1109º.
Obrigação de não concorrência- aqui é expressa

Há estabelecimentos comerciais na internet- há vendas efetuadas


na internet- não desenvolveu muito isto
O estabelecimento tem que ser entregue tal e qual como foi
recebido.
Tal como no trespasse, pode haver transmissão de determinadas
coisas como bens e equipamentos- regime do leasing, locação
financeira- artigo 11º
Contratos de seguro

Os seguros não são transmitidos porque não há uma transmissão


definitiva, é uma transmissão temporária, mas há os débitos dos
trabalhadores que são transmitidos por força do artigo 285º código
do trabalho. O contrato de trabalho tem 3 elementos. Um elemento
essencial para vermos se estamos face a um contrato de trabalho é
a subordinação jurídica. A pessoa que tomou o estabelecimento
comercial vai ter sobre os trabalhadores a subordinação jurídica-
ordens, poder de direção.

Artigo 285º, nº3 código do trabalho


3 - O disposto nos números anteriores é igualmente aplicável à transmissão, cessão ou
reversão da exploração de empresa, estabelecimento ou unidade económica, sendo
solidariamente responsável, em caso de cessão ou reversão, quem imediatamente
antes tenha exercido a exploração.
Pode haver dívidas aos trabalhadores- são solidariamente
responsáveis.

Vamos supor que houve uma locação de 3 anos- B e C têm como


funcionários o D e o E- entretanto houve a reversão-
estabelecimento volta para A, mas há dívidas em relação a estes
funcionários. Não lhes pagou o subsídio de férias nem o subsídio
de Natal- eles são solidariamente responsáveis- A consegue pagar.
Ao professor Sérgio Machado parece que A tem o direito de
regresso.
Na locação os créditos não se transmitem, mas pode haver a
convenção entre as partes- os créditos podem ser transmitidos- 577º
cc.

Temos que ter em atenção ao artigo 209º da lei 110/2019 do código


dos regimes contributivos para a segurança social.
Artigo 209.º
Responsabilidade solidária
1 - No momento da realização do registo de cessão de quota ou de quotas que signifique a
alienação a novos sócios da maioria do capital social, o respetivo ato é instruído com declaração
comprovativa da situação contributiva da empresa.
2 - Em caso de trespasse, cessão de exploração ou de posição contratual o cessionário responde
solidariamente com o cedente pelas dívidas à segurança social existentes à data da celebração
do negócio, sendo nula qualquer cláusula negocial em contrário

285º do código do trabalho com este 209º

O estabelecimento comercial pode ser dado de usufruto


O penhor é para coisas móveis

Senhora A tem a sua pastelaria e contraiu um empréstimo pessoal


com B. Emprestou-lhe 25 mil euros. A deu de penhor uma valiosa
joia- penhor civil. Entretanto A quer ir para o baile e pediu que lhe
emprestasse a joia. O penhor extingue-se ou não? Sim.

Se A der em penhor o estabelecimento comercial a uma instituição


bancária será que tem que entregar o estabelecimento? Pode
continuar a laborar no estabelecimento comercial? Face ao regime
da lei civil tem que entregar a coisa. E agora? Pode dar e a pessoa
não fica desapossada do estabelecimento comercial. Pode
continuar lá a laborar- há uma entrega meramente simbólica de
penhor.
Artigos 1682º A do CC, 246º código das sociedades comerciais,
21º do Diploma.

Há divergências- a lei não é clara- para o professor Cassiano dos


Santos entende que há aqui uma lacuna da lei- pode A dar a outra
pessoa que não seja uma instituição bancária o estabelecimento em
penhor- não é necessário a entrega. Por sua vez, Rui Pinto Duarte,
ele é contra esta posição. Ele entende que não pode haver uma
entrega para as outras situações, só para as instituições bancárias.
Direito Comercial da Empresa
Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 15.11.21
O trespasse é um contrato em que a sua transmissão é definitiva.
Na locação temos uma transmissão temporária.

Saber se a locação de estabelecimento é um contrato típico ou


atípico.

✓ Para o professor Coutinho de Abreu ou o professor Antunes


Varela entendem que estamos face a um contrato típico.
✓ Conselheiro Aragão Seia entende que estamos face a um
contrato atípico.

Vimos que é possível dar como garantia o estabelecimento


comercial. Não é necessário haver o desapossamento em relação ao
estabelecimento comercial
É possível haver a penhora do estabelecimento comercial- se a
pessoa deu como garantia o estabelecimento comercial é através do
estabelecimento comercial que aquela pessoa vai tirar o rendimento
para depois conseguir cumprir com a obrigação.

É pacífico haver o penhor do estabelecimento comercial. O


professor Cassiano dos Santos entende que o penhor do
estabelecimento comercial, mesmo que não seja dado a uma
instituição bancária há uma extensão a outras situações. Este
entende que não é necessário a entrega do estabelecimento por
aplicação do diploma. O professor Rui Pinto Duarte não concorda
com a solução, mas também não apresenta soluções.

Ver 397º e 398º do código comercial


Do 397º vamos extrair que não é necessário a entrega da coisa, do
estabelecimento comercial- há uma entrega simbólica.

Penhora do estabelecimento comercial


Locação de estabelecimento comercial na internet
É um tema que não está abordado na literatura jurídica. Nos dias
de hoje, acontece que a maior parte de algumas vendas são
efetuadas através de determinados sites ou redes sociais. Mas, pode
acontecer o seguinte: senhor A tem um estabelecimento na internet-
vende sapatilhas e senhor B tem uma livraria- também vende
online. Vai suceder que eles têm o seu site, têm um armazém
arrendado- não tem atendimento ao público. Se estes senhores
querem transmitir ou fazer o trespasse ou a locação do
estabelecimento carece de autorização do senhorio? O
estabelecimento deles é na internet. Faz sentido aplicar o 1109º e o
1112º do código civil? Estas normas são normas protetoras para
estabelecimentos físicos onde a clientela vai valorizar aquele local.
Estas normas visam proteger aquele espaço. Ao contrário, no
estabelecimento na internet, há uma desmaterialização de clientela.
Há um site- o site tem um domínio-pode ser PT, etc. Coloca-se a
questão também relativamente as transmissões. Não se sabe muito
bem como se faz as transmissões. Se há uma transmissão
temporária?

J quer transmitir o seu estabelecimento comercial para a senhora T.


Vamos transmitir através de locação temporária. Será que consegue
transmitir o domínio temporariamente? Porque não há
regulamentação acerca disso há dúvidas.

Faz sentido aplicar o 1109º e o 1112º do código civil?


Entende-se que tem que se fazer uma aplicação restritiva para estas
situações. Para o autor António Rolo da revista o Direito, 2020, ele
entende que não devemos aplicar as regras do 1109º nem do 1112º,
mas entende que é possível aplicar a sublocação- 1038º e do 1061º.
Ficam as dúvidas.

Contrato de arrendamento
O contrato de arrendamento tem que ter forma escrita- artigo 1069º,
sob pena de nulidade. Se o contrato não foi escrito, pode a
contraparte fazer prova que existe um contrato de arrendamento.
Regra: tem que ser reduzido a escrito.
Os contratos de arrendamento comercial com prazo superior a 6
anos têm que ser sujeitos a registo para ser oponível a terceiros-
artigo 5º do código do registo.

Artigo 1070.º - (Requisitos de celebração) Remissão para o decreto-lei 160/2006

1. O arrendamento urbano só pode recair sobre locais cuja aptidão para o fim do
contrato seja atestada pelas entidades competentes, designadamente através de
licença de utilização, quando exigível.
2. Diploma próprio regula o requisito previsto no número anterior e define os
elementos que o contrato de arrendamento urbano deve conter.
A quer montar um estabelecimento- temos que aferir se esse
estabelecimento tem condições para acolher essas atividades.
Direito Comercial da Empresa
Aula Teórica Dr. Sérgio Machado
Dia 17.11.21
Contrato de arrendamento
Ex: incêndio.
Como é que se vai proceder?

Direito Comercial da Empresa


Aula Prática Dr. Ricardo Afonso
Dia 28.09.21

Na última aula tínhamos visto que o nosso código de 1888 previa


no artigo 2º uma solução que tanto bebia influências da corrente
objetivista como bebia influências da corrente subjetivista.
A primeira parte do artigo 2º era claramente objetivista, no sentido
em que considera que são atos de comércio todos os que estiverem
previstos na lei comercial e nesse sentido faz prescindir em
absoluto da qualidade do sujeito para proceder a essa qualificação,
sendo certo que é essa a vertente marcante da corrente subjetivista.
Para os subjetivistas, o direito comercial é o direito que regula a
atividade profissional dos comerciantes e esta primeira parte do
artigo 2º não faz qualquer alusão à qualidade de comerciante para
qualificar os atos como comerciais.
Tínhamos visto depois a segunda parte do artigo 2º e sempre que
não fosse possível qualificar o ato como comercial à luz deste
primeiro critério, o artigo 2º previa uma segunda possibilidade-
uma hipótese complementar de se obter essa classificação. Esse
artigo 2º (de cariz mais elaborado e de raiz claramente subjetivista)
dizia que são ainda comerciais as obrigações dos comerciantes que
não tenham natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio ato não resultar.
A análise deste artigo permite concluir sem grande dificuldade que
a possibilidade de qualificar um ato como comercial à luz desta
segunda parte do artigo 2º depende da verificação de 3 requisitos
cumulativos (não se verificando o 1º, escusamos de tentar ver os
seguintes):

• A qualidade do sujeito- o sujeito que pratica o ato tem que ser


comerciante;
• Ato não ter natureza exclusivamente civil;
• O contrário do próprio ato não resultar.

Se para que um ato possa ser comercial à luz desta norma, é


necessária a intervenção de um comerciante então, num esforço
concreto, tentar justificar o ato como comercial por esta via,
importa em primeira linha que saibamos quem é que é comerciante
para o direito português.
A norma que nos responde a essa pergunta é o artigo 13º C.Com.
O artigo 13º tem dois números.

O número 1 dedica-se a estabelecer as condições para que uma


pessoa singular, física possa ser considerada comerciante.
O número 2 destina-se a proferir quais são as pessoas coletivas que
têm a qualidade de comerciante.
As sociedades comerciais, desde que regularmente constituídas,
desde que constituídas de acordo com aquilo que a lei prescreve,
têm naturalmente, automaticamente a qualidade de comerciantes.
Diferente é, obviamente, a situação das pessoas físicas, cuja
aquisição dessa qualidade não pode obviamente resultar nenhuma
circunstância automático-natural, mas há-de depender da
verificação de um conjunto de condições.
Paras o direito português, são comerciantes, as pessoas que tendo
capacidade se dediquem reiteradamente à prática de atos de
comércio, fazendo disso a sua profissão.
Em primeiro lugar, convém esclarecer o que a lei pretende dizer
com esta referência à capacidade.
Não há dúvida nenhuma que a referência da norma é à capacidade
de exercício. Se a referência fosse à capacidade jurídica, esta norma
seria destituída de qualquer efeito útil- todas as pessoas têm
capacidade jurídica para todos os atos, com exceção daqueles que
a lei especificamente restringe, como por exemplo, a possibilidade
de alguém se candidatar à presidência da república- só tem
capacidade jurídica quem tenha mais de 35 anos.
Se nós procurarmos na lei se há alguma restrição à capacidade
jurídica para se ser comerciante, vamos verificar que não há.
Será, pois, de concluir que qualquer pessoa tem capacidade para
adquirir a qualidade de comerciante, com as exceções que
conhecemos: menores, interditos e os inabilitados. Esta
incapacidade de exercício pode obviamente ser suprida através dos
mecanismos da representação e da assistência.

Quem será o comerciante?

Será aquele que reiterada e profissionalmente se dedique à prática


de atos de comércio.
A questão que nos importa colocar é de saber se a norma quando
se refere à prática de atos de comércio, se refere à prática de
qualquer ato de comércio. A resposta tem que ser negativa.
Nós já vimos que há atos que podem ser qualificados como
comerciais através daquela visão objetivista (1º parte do artigo 2º).
Já vimos também que há atos que podem ser qualificados como
comerciais através da visão subjetivista (2º parte do artigo 2º). Nós
neste momento estamos a analisar o artigo 13º precisamente na
decorrência da verificação dos requisitos do artigo 2º.
Podemos concluir que é evidente que não é aos atos subjetivos, isto
é, que podem ser qualificados à luz do artigo que esta parte do
artigo 13º se refere.
Os atos de comércio aqui referidos são apenas aqueles que podem
ser qualificados como comerciais à luz do artigo 2º, primeira parte,
sob pena de entrarmos num ciclo vicioso sem saída.
Se eu para ser comerciante tenho que praticar atos subjetivos de
comércio, mas se esse ato subjetivo serviria para adquirir a própria
qualidade, há algo que não faz sentido. Eu só vou adquirir a
qualidade de comerciante precisamente na sequência da prática dos
atos. É, obviamente, aos atos objetivos de comércio, aos atos que
podem ser qualificados como comerciais à luz da primeira parte do
artigo 2º, que esta parte do artigo 13º se refere.

Por outro lado, importa saber ainda, e afastados os atos subjetivos


para este efeito se todo e qualquer ato objetivo ainda que praticado
reiteradamente, permite ao sujeito adquirir a qualidade de
comerciante. A resposta é negativa.
É necessário que a prática desses atos revele o exercício de uma
profissão.

Nós podemos concluir que um ato pode ser qualificado como ato
objetivo de comércio bastando que para tanto esteja previsto na lei
comercial.
Houve razões para que o legislador previsse na lei comercial um
determinado tipo de relações jurídicas e não outras. As razões que
motivaram o legislador são de natureza muito diversa porque leva,
inclusivamente, a que os atos objetivos sejam eles próprios sujeitos
a variadíssimas classificações.
Ex: qual será na nossa opinião a relação jurídica que nenhum
legislador podia deixar de qualificar como comercial? A revenda-
compra e venda comercial.
A compra e venda é um ato civil.
A compra para revenda é aquilo que normalmente se classifica
como um ato objetivo- está regulado no código comercial. As
razões que levaram o legislador a prever a compra para revenda em
legislação comercial são razões que têm a ver com a própria
substância do ato.
A compra para revenda é o habitat natural do direito comercial.

Ex: cheque- título de crédito que é utilizado para proceder aos


pagamentos- a utilização dos cheques está hoje a cair em desuso.
Tanto é usado num contexto comercial, empresarial, como é
utilizado num contexto civil. A legislação que regula a emissão, a
subscrição e a utilização de cheques como meio de pagamento está
regulada em legislação tipicamente mercantil- radicalmente
comercial.

Porque é que o legislador decidiu trazer esta matéria para o âmbito


do direito comercial? Por razões meramente históricas- os títulos
de crédito foram originariamente inventados no seio exclusivo das
corporações de comerciantes- os títulos de crédito começaram por
ser um instrumento privativo, exclusivo dos comerciantes no
âmbito da atividade comercial.

Conclusão: Só os atos objetivos de comércio que revelem o


exercício de uma profissão é que servem para atribuir ao sujeito a
qualidade de comerciante.

Direito Comercial da Empresa


Aula Prática Dr. Ricardo Afonso
Dia 12.10.21

Caso pratico

A, casado com B no regime supletivo dedica-se a vários anos a


recuperação e venda de automóveis clássicos. No decurso do
exercício da sua atividade adquiriu a um amigo sem prestar
qualquer esclarecimento um computador que pretendia oferecer ao
seu filho. De acordo com o combinado o preço deveria ser pago no
prazo de 3 meses e a obrigação de pagamento era afiançada por C.
1.Diga que bens podem ser afetos a liquidação da divida
2.Admita que o credor interpõe uma ação judicial apenas contra C
para reclamar o pagamento da divida.
Quid iuris.
Resolução:

Quais são os bens que respondem pelo pagamento desta dívida?


São os bens pertencentes a A.
E ao B?
A questão de saber se o B e os respetivos bens podem ser
responsabilizados, obviamente que depende de a circunstância da
situação cair no campo de visão da alínea d) do 1691º do CC.

Já sabemos que eles não são casados no regime da separação.


Importa saber se não funciona neste caso a presunção do artigo 15º-
é preciso saber se a dívida sendo comercial e sendo contraída por
um comerciante, se não está presumida no exercício do seu
comércio, sendo possível depois ao cônjuge poder ilidir essa
presunção.

A dívida é comercial? Não será um ato objetivo de comércio- não


cai no artigo 230º, nem no artigo 2º, primeira parte- não é uma
compra para revenda- ele comprou para oferecer ao filho.
Será que pode ser um ato subjetivo de comércio? (3 requisitos)
O homem é comerciante? Sim.
Artigo 13º

Porque é que ele é comerciante? Porque tem capacidade para


praticar atos de comércio- ele dedica-se reiteradamente à prática de
atos de comércio- artigo 463º C. Comercial.
O ato tem natureza exclusivamente civil? Não- o tipo negocial é
uma compra e venda, tem natureza patrimonial
Se do próprio ato não resultar o contrário- há conexão ou não há?
Há uma dúvida- não se sabe, mas presume-se. O homem médio na
posição de real declaratário não podia dizer que havia ou não havia
conexão- o ato seria comercial- só quando não há conexão é que o
ato não é comercial.

É evidente que o cônjuge do devedor tentaria ilidir a presunção e


há partida conseguiria. Há duas presunções de que depende a
verificação da comunicabilidade- presunção do artigo 15º e a
presunção do proveito comum da própria alínea d) do 1691º.
O cônjuge do devedor só conseguiria ilidir uma das presunções- a
do exercício do comércio- não há dúvidas que ela foi feita em
proveito comum do casal.
Neste caso, a dívida não seria comercial e os bens que seriam
responsabilizados seriam os bens identificados no artigo 1696º do
CC- Os bens próprios do cônjuge que contraiu a dívida, etc.

2) Diferenças da fiança civil e da fiança comercial.


Depende- a fiança é comercial- artigo 101º C. Comercial- ele nada
podia fazer, porque sendo comercial não goza do benefício da
excussão prévia- responde solidariamente pela dívida.
A fiança é civil- ele podia invocar o benefício da excussão prévia
e podia exigir que o património do devedor principal fosse primeiro
excutido para que depois pudesse ser ele responsabilizado pelo
pagamento da dívida- fiança não é solidária.
Independentemente da resposta, o fiador era sempre responsável.

Direito Comercial da Empresa


Aula Prática Dr. Ricardo Afonso
Dia 2.11.21

Caso Prático:

A detém e explora um restaurante desde 1995. Em março de 2021,


A entregou a B, para liquidação de uma divida que para com ele
mantinha, o seu estabelecimento comercial.
O estabelecimento comercial que se considera está instalado num
prédio pertencente a C.
1) Admitindo que o contrato apenas procedia à identificação do
estabelecimento, por referência à respetiva morada e ao preço pelo
qual a transmissão tinha ocorrido, explicite o destino dos seguintes
elementos e ou situações:
1.1 - Mobiliário utilizado na exploração do restaurante;
1.2 - Dividas decorrentes da exploração do restaurante;
1.3 - Posição contratual do arrendatário;
1.4 - Posição contratual dos trabalhadores;

2) Admita que a transmissão da posição contratual do arrendatário


ocorreu sem autorização do senhorio, nem sequer lhe tendo sido
notificada. Quid Juris.

Já sabemos que em face da natureza específica desta coisa que é a


empresa ou o estabelecimento comercial um dos problemas que
naturalmente se levanta com mais importância na sequência da
celebração do contrato de trespasse tem a ver evidentemente com a
questão do âmbito de entrega, e no fundo tem que ver com a
circunstância de se saber quais são os elementos que integram o
estabelecimento comercial que acompanham a transmissão. E isto
porque, muito embora todos esses elementos obviamente sejam
elementos que compõem o estabelecimento comercial, eles não têm
todos a mesma natureza, não têm todos a mesma importância e as
regras relativas à respetiva extinção são diversas.

Há elementos que se transmitem naturalmente- há uma grande


variedade de elementos que se transmitem pela simples celebração
do contrato sem que a efetiva transmissão e específica transmissão
tenha que ser prevista, tenha que ser contratualmente consignada,
ou seja, que a mera celebração do contrato de trespasse se nada for
dito, à contrário senso, importa a respetiva transmissão.

A normalidade é a de que a generalidade dos elementos que


integram o estabelecimento comercial acompanhem a transmissão,
muito embora a gente saiba que as partes podem excluir a
transmissão da generalidade desses elementos, mas cuidado,
apenas o podem fazer quando esses elementos não integrarem o
âmbito mínimo daquele estabelecimento comercial que está a ser
objeto do negócio. Porque se um determinado elemento implicar o
âmbito mínimo do estabelecimento comercial, isso significa
evidentemente que esse elemento é imprescindível à respetiva
identificação, e, portanto, não é possível transmitir aquele
estabelecimento comercial sem a transmissão daqueles elementos.
Também sabemos que há outros elementos, os ditos no âmbito do
máximo, que só se transmitem mediante convenção expressa. Há
elementos que se nada for dito, não se transmitem, é só a convenção
expressa nesse sentido que opera a transmissão desses elementos.
Distinguir os elementos do âmbito natural e os elementos do
âmbito máximo, tem que ver apenas com o preenchimento ou não
preenchimento de um determinado critério, ou seja, os elementos
que se transmitem sem necessidade de convenção expressa
pertencem ao âmbito natural, aqueles cuja transmissão depende de
convenção expressa, pertencem ao âmbito máximo.
Daí significa evidentemente que não há nenhum elemento que
possa em simultâneo pertencer ao âmbito natural e ao âmbito
máximo, até porque estes elementos são em abstrato, diferenciados
em função do mesmo critério, e é evidente que em simultâneo uma
coisa não pode ser e deixar de o ser e, portanto, um determinado
elemento ou é do âmbito máximo ou é do âmbito natural.
O mesmo não acontece se trouxermos à colação os elementos do
âmbito mínimo porque os elementos do âmbito mínimo aferem-se
em concreto por referência a cada estabelecimento comercial, o que
significa que em bom rigor os elementos do âmbito mínimo de um
determinado estabelecimento comercial, em abstrato, ou pertencem
ao âmbito máximo ou pertencem ao âmbito natural. O que acontece
nesses casos é que caso o mesmo elemento pertença
simultaneamente ao âmbito mínimo e ao âmbito máximo, as partes
obviamente estão obrigadas a prever a sua transmissão.

Nota: em regra o imóvel não pertence ao âmbito mínimo, porque


em regra é irrelevante se o estabelecimento esteja aqui instalado ou
esteja 50 m ao lado instalado noutro imóvel.
O que significa que é perfeitamente possível eu pretender adquirir
um estabelecimento comercial e não pretender que o
estabelecimento se mantenha instalado no imóvel em que ele está
e que, portanto, por força deste trespasse eu, nem adquira a
propriedade do imóvel, nem sequer nos casos em que o imóvel está
instalado num imóvel arrendado, nem sequer adquirida a posição
contratual de arrendatário. Pois, não sou obrigado, por via do
trespasse, a passar a titular a posição contratual de arrendatário.
Todavia, há estabelecimentos que estão umbilicalmente ligados ao
imóvel nos quais se encontram instalados, hipóteses em que o
imóvel pertence ao âmbito mínimo, dizem-se estabelecimentos
absolutamente vinculados. Há estabelecimentos que quase são o
próprio imóvel, que fora dele não fazem sentido, por exemplo, a
Casa de Chá Boa Nova da palmeira, ora, o estabelecimento é
sobretudo aquele imóvel, com aquela localização, não é possível
transladar a Casa de Chá Boa Nova para qualquer sítio. Neste caso,
o imóvel é tão importante que quase absorve na sua totalidade a
identificação do estabelecimento comercial.

Direito Comercial da Empresa


Aula Prática Dr. Ricardo Afonso
Dia 9.11.21

Eventual necessidade de autorização e informação ao senhorio do


trespasse (1038º alínea f).
Sabemos que o artigo 1112º nº1 do CC vem expressamente
dispensar a necessidade de autorização nos casos em que a cessão
da posição contratual é uma consequência normal do contrato de
trespasse.
Dá prevalência aos interesses puramente negociais, à livre
circulação comercial. Retira ao senhorio o poder do senhorio por
via de controlo que poderia vetar a possibilidade de o
estabelecimento comercial ser transmitido.
É obvio que para que esta autorização funcione é necessário que de
facto exista um trespasse e, portanto, a ausência de autorização não
constituiria a cessação do contrato de arrendamento.
O mesmo não acontece quando se trata da informação ao senhorio.
Durante algum tempo se questionava que a falta de comunicação
seria suficiente para resolver o contrato. Mas não faz sentido que
não se precise de autorização para o fazer e depois resolver o
contrato porque não houve comunicação.

Prazo do 1112º do CC- não temos nenhuma referencia ao prazo no


nº3. Podia-se dizer que isto aconteceu porque o 1038º, g previu um
prazo- 15 dias. Mas, tudo deixou de se compreender de novo
quando prevendo soluções idênticas ao da locação do
estabelecimento comercial, no 1109, temos um prazo de 30 dias. A
falta de critério é total.

Se um prédio estiver instalado num prédio arrendado e se se ceder


a respetiva exploração, se se locar o estabelecimento comercial,
quem é que vai ocupar a posição de arrendatário do imóvel? O que
lá estava. Nós aqui temos dois contratos de locação que se
sobrepõem- temos um contrato de arrendamento e temos um
contrato de locação. Se o A, locador do estabelecimento, tem o seu
estabelecimento instalado num prédio arrendado, ao locar o
estabelecimento por um período de 2 anos, por exemplo, durante
esse período, mantem a qualidade de arrendatário do imóvel. O
outro apenas terá um direito de disponibilidade sobre o mesmo.
Comunicabilidade- para que o senhorio saiba que há uma nova
pessoa a utilizar a sua pessoa.

3) do mesmo caso prático da aula anterior: admita que a


transmissão ocorrida não é acompanhada da totalidade dos
elementos que compõe o estabelecimento comercial e que dois
meses volvidos sobre a realização do trespasse, o novo titular do
estabelecimento comercial muda de ramo. Quid Iuris.

Continuação

3) Nos termos do artigo 1112º nº 2 a), não há trespasse, uma vez


que a transmissão não foi acompanhada de todos os elementos.
Em articulação com o nº2 alínea b) e o nº5 do artigo 1112º CC, o
senhorio pode resolver o contrato, uma vez que dois meses
volvidos sobre a realização do trespasse, o novo titular do
estabelecimento comercial mudou de ramo.

Aula Ricardo Afonso- 9.12.21- mútuo bancário

Caso Prático:

A, banco, empresta a B sociedade comercial, 150 mil euros por 20


anos, a uma taxa de juro de 8%, tendo B como garantia constituído
a hipoteca de um imóvel.
Foi acordado o pagamento de quantias mensais de 1100 euros,
correspondendo os 1000 euros a amortização do capital e os 100 à
amortização dos juros.
1.Pronuncie-se sobre a validade do empréstimo;
2.Se B não pagasse a parte dos juros poderia A juntá-los ao capital?
3.Se A resolver o contrato pode reter a totalidade das prestações
recebidas?

Resolução:

1. O que poderá pôr em causa a validade deste mútuo?

Já agora, enfim enquanto contrato qual é a particularidade que o


mútuo tem em relação aos demais contratos?
É um contrato quod constitucione, isto é para a celebração do
contrato é preciso um ato posterior para que ele produza os seus
efeitos. A produção dos efeitos do contrato depende da
disponibilização da realidade mutuada, neste caso do dinheiro.
Aparentemente a perfeição do contrato foi obtida com a
disponibilização do dinheiro. Estamos a falar de outra realidade
que no quadro do mútuo bancário é particularmente sensível que
são os juros.
O que é que vos parece em relação à validade dos juros
convencionados? Essa taxa de 8% será válida? Qual é a taxa
admissível? O que é que na proposta é relevante para o cálculo da
taxa admissível? Em abstrato qual o problema que os juros podem
evidenciar? Usura.
Estes juros são usurários?
• 4% é a taxa de juros legal

Artigo 1146.º - (Usura)

1. É havido como usurário o contrato de mútuo em que sejam estipulados juros


anuais que excedam os juros legais, acrescidos de 3% ou 5%, conforme exista ou não
garantia real.
2. É havida também como usurária a cláusula penal que fixar como indemnização
devida pela falta de restituição do empréstimo relativamente ao tempo de mora mais
do que o correspondente a 7% ou 9% acima dos juros legais, conforme exista ou não
garantia real.
3. Se a taxa de juros estipulada ou o montante da indemnização exceder o
máximo fixado nos números precedentes, considera-se reduzido a esses máximos,
ainda que seja outra a vontade dos contraentes.
4. O respeito dos limites máximos referidos neste artigo não obsta à aplicabilidade
dos artigos 282.º a 284.º

• O nº1 do 1146 adianta-nos informação para sabermos quais


os limites que a taxa de juro deve obedecer sob pena de assumir
uma componente usurária, que é o mesmo que dizer sob pena de
pôr em causa a validade do mútuo celebrado.
Como vocês sabem o limite nos termos do 1146, nº1 tem 2
referências: os 3 ou 5 % consoante o reembolso do mútuo esteja ou
não garantido. Neste caso resulta que o reembolso do mútuo está
garantido com a constituição de hipoteca, logo o limite é o dos 3%
adicionados à taxa de juro legal, portanto, não seria possível
convencionar uma taxa de juros superior a 7%.

Qual a consequência?
Um NJ pode ser ineficaz:
• Invalidade:
o Nulidade
o Anulabilidade
• Inexistência
Coisa diferente é a ineficácia em sentido estrito em que na verdade
o NJ é válido, mas razão adicional não produz os efeitos para os
quais está destinado.
Aqui temos uma solução mais pragmática, o negócio usurário é
anulável (?) de forma geral, mas pelo 1146, nº3 (solução especifica
para o mútuo) promove a redução ope legis do juro convencionado
que ultrapasse os limites legais a esses mesmos limites. “…” no
fundo esta norma é uma decorrência do princípio do
aproveitamento do negócio jurídico fazendo com que o mesmo
fique constrangido aos limites da lei. (reduz-se automaticamente)E
se houver juro cobrado em excesso o mesmo terá que se devolvido.

No fundo a ideia é, se as partes acordarem um negócio com estas


características e se conformaram com elas importa apenas que o
montante dos juros que ultrapassa aquele… seja corrigido e
constrangido a passar a respeitar o limite. Portanto,
independentemente da vontade das partes é uma espécie de direito
patrimonial (???) Irrenunciável ainda que o mutuário por qualquer
razão se quisesse conformar com o montante de juro indiciado,
ainda assim não o poderia fazer porquanto a lei considera que esse
direito não deve estar na sua responsabilidade. A não permitir que
o mutuário, na qualidade de parte mais fraca, se possa submeter à
imposição de uma taxa de juro que sendo usurária ultrapassa não
só os limites gerais, mas também os limites dos bons costumes e da
boa-fé.

2.Se B não pagasse a parte dos juros poderia A juntá-los ao capital?


DL 58/2013 e esse decreto-lei o que é que exige para que esta
junção seja possível?
Exige convenção prévia e ainda assim durante o limite máximo do
juro correspondente a 1 mês (período mínimo de 1 mês).

Direito Comercial da Empresa


Aula Prática Dr. Ricardo Afonso
Dia 16.11.21

Caso prático:

A detém e explora a mais de 10 anos uma churrasqueira situada no


centro do Porto. Em janeiro de 2019, A trespassou o seu
estabelecimento a B.
Em janeiro de 2021, A abriu em Matosinhos um estabelecimento
em tudo similar a churrasqueira que havia trespassado.
1) B considera-se prejudicado pela atuação de A e pretende
reagir contra a mesma. Quid Juris
2) Imagine que o contrato celebrado havia sido uma locação de
estabelecimento comercial e que, aquando da abertura do
estabelecimento em Matosinhos, o dito contrato ainda estava em
vigor. Quid Juris
3) Imagine agora que foi A que abriu o restaurante de
Matosinhos. Quid Juris.
23/11
Resolução:

Neste caso, o que está em causa é a obrigação de não concorrência,


que tanto se pode discutir no quadro do trespasse como no quadro
da locação de estabelecimento comercial.
As dúvidas que se levantam em relação aos limites e aos
constrangimentos impostos pela figura, estarão diretamente
relacionados com um maior ou menor rigor com que esta questão
for tratada no contrato que for subscrito.
Se as pessoas celebrarem um contrato de trespasse e regularem com
muita precisão e com desenvolvimento, os termos em que uma
eventual concorrência pode ou não se verificar em grande medida
o problema pode ficar resolvido
Todavia, a verdade é que as partes podem nada dizer ou podem
dizer muito pouco, e, essa seguinte circunstância não significa que
não exista obrigação de não concorrência.
Sendo que o problema se coloca de forma relativamente diversa no
trespasse e na locação de estabelecimento comercial.
No trespasse, a obrigação de não concorrência tem um caráter
implícito, ou seja, não decorre de uma qualquer previsão legal.
Relativamente ao trespasse, pela sua própria natureza, esta
obrigação coloca-se após a celebração do trespasse.
Consequência: no trespasse, incumprimento da obrigação de não
concorrência constitui causa de indemnização e, eventualmente, o
trespassário na ação judicial que interpuser pode reclamar ou
pressionar o encerramento do estabelecimento concorrente.
É muito normal neste tipo de ações se peticione uma sanção
pecuniária compulsória, prevista no artigo 827º CC, sendo que a
ideia é de que o violador da obrigação de não concorrência deve
ser condenado ao encerramento imediato do estabelecimento
comercial e, caso não o faça, de ser sujeito a um pagamento de uma
multa a título do de sanção pecuniária compulsória, por exemplo,
500 EUR por cada dia que o estabelecimento comercial se
mantenha aberta. No fundo, é uma forma de condicionar o
trespassante a cessar rapidamente a concorrência ilícita que está a
desenvolver a quem adquiriu o estabelecimento comercial.
Ao contrário, na locação, a obrigação de não concorrência tem um
caráter explicito, pois é possível detetarmos na lei as causas da sua
existência. A fonte legal é o artigo 1031º alínea b) CC.
Relativamente à locação, sendo o locador o proprietário do
estabelecimento comercial, portanto, uma vez terminado o contrato
de locação, não faz sentido de levantar o problema da obrigação de
não concorrência, pois se ele abrir outro estabelecimento
concorrente com aquele, não há nenhum problema pois está a
concorrer com ele próprio, portanto, é evidente que no que toca ao
locador, a obrigação de não concorrência que exista, existirá
durante a vigência do contrato de locação,
Consequência: na locação, o incumprimento da obrigação de não
concorrência constitui causa de resolução do contrato de locação,
sem prejuízo do direito de indemnizar que possa existir em face dos
prejuízos que possa ser apurado.
Nos termos do artigo 1043º CC, na qual o locador é obrigado a
manter e restituir a coisa no estado em que a recebeu. Ora, se na
pendencia da locação o locatário desenvolver concorrência ilícita
com aquele estabelecimento comercial, certamente que o que vai
devolver não vai ser aquilo que recebeu, vai ser uma realidade
empobrecida, um estabelecimento que ficou limitado na
capacidade de usufruir da clientela que normalmente o frequentava.
O professor Continho de Abreu defende que a obrigação de não
concorrência do locatário mantem-se depois de findo o contrato de
locação, até que a clientela se volte a cristalizar na titularidade do
titular originário, daquele que nunca deixou de ser o proprietário
do estabelecimento comercial.
Aqui a ideia é que o contrato de locação proporcionou ao locatário
conhecimento privilegiado sobre aquele estabelecimento
comercial.
Na opinião do professor Ricardo, não lhe parece que assim
aconteça, pois, não obstante ao locatário ter um conhecimento
privilegiado sobre aquele estabelecimento comercial, esse é um
risco natural do contrato de locação, e o locatário pagou para poder
explorar aquele estabelecimento comercial.
Portanto, se o locador queria evitar esse conhecimento privilegiado
que permitiria obviamente, findo o contrato de locação, uma
concorrência privilegiada do locatário, das duas uma, ou não
celebrava o contrato de locação ou, em alternativa, consignava no
próprio contrato de locação a limitação a que o locatário deveria
ser sujeito findo o contrato de locação.
Assim sendo, o professor Ricardo considera que na ausência de
previsão contratual que limite a capacidade do locatário findo o
contrato de concorrer com o estabelecimento que era objeto do
contrato de locação, o professor entende que o locatário não está
sujeito a essa obrigação de não concorrência.

1) Há uma obrigação implícita de não concorrência, o que significa


que não decorre de uma qualquer previsão legal.

A causa desta obrigação encontra-se nos princípios legais de


direito, designadamente, o princípio da boa-fé e da garantia contra
a evicção.
É obvio que esta obrigação de não concorrência tem limites,
nomeadamente, esta obrigação não pode nunca traduzir-se numa
limitação tal que consubstancie uma verdadeira violação ao
princípio da liberdade de exercício de profissão.
Ora, em princípio, A pode trespassar o estabelecimento comercial
e pode abrir outro estabelecimento comercial, todavia, temos de ter
em atenção o âmbito temporal e o âmbito territorial, da obrigação
implícita de não concorrência.
A trespassou o seu estabelecimento a B e em janeiro de 2021 A
abriu em Matosinhos um estabelecimento em tudo similar a
churrasqueira que havia trespassado. Ora:
Relativamente à limitação no âmbito territorial:
Ora, o que temos de aferir é a definição concreta das características
do estabelecimento comercial e a zona de atração que o mesmo
define e ver se no âmbito territorial está ou não a ser respeitada.
Ou seja, qual é o âmbito de atração de clientela que este
estabelecimento em concreto permite, pois há estabelecimentos
cujo âmbito territorial não excede a própria rua, outros na rua além
da cidade, outros que podem estender-se a todos o país, etc.

Relativamente à limitação no âmbito espacial:

ACABOU POR NÃO FAZER A CORREÇÃO


No dia 23 no final deu outro caso prático

Aula 21.12.21- Ricardo Afonso


Prática
Locação Financeira

Caso prático:

A, proprietário de de uma empresa de camionagem, solicitou ao


seu banco que lhe adquirisse um camião com o compromisso de
lhe alugar o respetivo uso. De acordo com o previsto no contrato,
A poderia readquiriu a dita viatura após o pagamento da última
prestação convencionada.
Dois anos volvidos, A trespassou a B a sua empresa.
a) Qualifique, justificando, o contrato descrito.
b) Admitindo que o contrato era omisso no que toca ao respetivo
prazo, identifique o período de vigência do mesmo.
c) No decurso do primeiro mês de vigência do contrato, o
camião apresentou um defeito de fabrico que impedia a
respetiva utilização. Podia A suspender o pagamento das
rendas?
d) Argumentando que o trespasse não havia sido por si
autorizado, o banco pretende resolver o contrato de locação
financeira. Quid Iuris?
e) Já depois de ocorrido o trespasse, B interpela o banco para
que reclame de A o defeito que o camião continua a
evidenciar. Quid Iuris.
Resolução:

a) É um contrato de locação financeira. É uma locação


financeira restitutiva. É o próprio locatário a fornecer o bem
ao banco para que depois este lhe alugue o respetivo uso.
Artigo 1º do DL- disponibilidade de um bem contra
retribuição, o bem tem que ser adquirido pelo banco mediante
indiciação do locatário e por último o contrato tem de prever
opção de compra- senão, não é um contrato de locação
financeira.
b) Artigo 6º, nº3 do DL- prevê a possibilidade da fixação de um
prazo supletivo, caso o contrato não preveja prazo- para os
imóveis é de 7 anos, para os móveis, 18 meses. Deve-se
considerar, neste caso, o prazo de 18 meses.
c) Não podia suspender o pagamento- nos termos do artigo 12º
do DL- o locador não responde pelos vícios do bem locado-
há uma exceção, não tem nada a ver com a nossa hipótese-
locatário fica obrigado ao pagamento das rendas- caráter
estritamente financeiro do contrato. Quem é encarado como
proprietário é o próprio locatário- o vício que o mesmo
evidencie, nunca podia legitimar que o locatário pudesse
suspender a obrigação de pagamento das rendas.
d) Artigo 11º- remetendo para um decreto-lei- artigo 115º- este
decreto já está revogado- não está em vigor. Agora esta
remissão deve-se considerar para o artigo 1112º, nº1 do CC.
Esta norma era a norma que previa uma solução similar à que
agora está consignada no artigo 1112º, nº1 CC- a lei prevê
genericamente para a transmissão da posição contratual no
contrato de locação financeira ocorrida por força do
trespasse, uma solução similar à que prevê para o contrato de
arrendamento, ou seja, dispensa-se a autorização do locador,
para que essa transmissão possa ocorrer caso a transmissão
seja uma consequência de um trespasse. Neste caso, o locador
financeiro não pode resolver o contrato se a transmissão da
posição contratual de arrendatário for uma consequência do
trespasse. Ter em atenção o nº3 do 11º DL- o locador pode
opor-se.
e) A locação financeira tem um novo locatário que é o B e o B
vem interpelar o banco para que este reclame de A o defeito.
Não faz sentido esta interpelação- artigo 13º.
Direito Comercial da Empresa
Aula Prática Dr. Ricardo Afonso
Dia 23.11.21

Continuação:
A questão é saber se no caso da locação de estabelecimento
comercial também há obrigação de não concorrência. Também
existe. A configuração é completamente diversa.
A primeira grande característica da obrigação de não
concorrência no trespasse tem que ver com o seu próprio
fundamento- nós vimos que a grande natureza desta obrigação é
o seu caráter implícito- é algo que emerge dos princípios que
estão associados à celebração do contrato, designadamente o
princípio contra a boa-fé e a garantia contra a evicção- não é
uma obrigação que seja objeto de previsão e nessa medida de
regulamentação legal.
Ao contrário, na locação é perfeitamente possível detetarmos na
lei as causas da sua existência- obrigação que resulta
explicitamente da lei.
No trespasse: aquele que vende o estabelecimento comercial tem
a obrigação implícita de não concorrer com aquele que lhe
adquiriu o estabelecimento comercial.
Em relação ao locador, é evidente que o problema não pode
colocar-se dessa maneira. Qual será a fonte legal em relação a esta
obrigação? 1031º, alínea b).
Locatário também está obrigado à não concorrência?
Locatário pode abrir outro estabelecimento que seja
concorrente com aquele que ele próprio está a explorar?
A locação tem uma duração temporária- isto pode ser uma
forma de durante a vigência da locação, de ele transferir a
clientela daquele estabelecimento para outro- prejuízo
manifesta.
Regra- 1043º cc
f) Artigo 1043.º - (Dever de manutenção e restituição da coisa)
g) 1. Na falta de convenção, o locatário é obrigado a manter e restituir a coisa
no estado em que a recebeu, ressalvadas as deteriorações inerentes a uma
prudente utilização, em conformidade com os fins do contrato.
2. Presume-se que a coisa foi entregue ao locatário em bom estado de
manutenção, quando não exista documento onde as partes tenham descrito o
estado dela ao tempo da entrega.

Se na pendencia da locação, o locatário desenvolver


concorrência ilícita com aquele estabelecimento comercial,
certamente que o vai devolver não vai ser aquilo que recebeu-
vai ser uma realidade empobrecida- ficou limitado na
capacidade de usufruir da clientela que normalmente o
frequentava. Esta obrigação de restituir no estado em que a
coisa se encontrava, salvo a normal deterioração decorrente
de um uso fluente, fica comprometida.
O professor Coutinho de abreu defende que a obrigação de não
concorrência do locatário se mantém depois de findo o contrato
de locação, até que a clientela se volte a cristalizar na
titularidade do titular originário.
Com franqueza, para o professor Ricardo não parece que assim
suceda.
Incumprimento- leva a resolução do contrato de locação,
indemnização
No trespasse- indemnização e sanção pecuniária compulsória
Direito Comercial da Empresa
Aula Prática Dr. Ricardo Afonso
Dia 26.10.21
Aula feita por Iara Conceito de empresa enquanto objeto de
negócios:

Há negócios essenciais que ou estão estritamente relacionados ou


com o estabelecimento comercial ou têm por objeto
obrigatório/exclusivo/vinculativo a empresa, que são o trespasse e
a locação de estabelecimento comercial.
Portanto, o que é importante para nós é que nós consigamos em
cada momento identificar uma realidade como empresa suscetível
de ser objeto de um desses negócios.
Empresa VS Sociedade Comercial:

A empresa é uma coisa, diferente é a sociedade comercial, essa é


uma entidade com personalidade jurídica, ou seja, é uma pessoa
jurídica criada por pessoas físicas em regra destinada à detenção e
ao exercício de uma empresa normalmente a existência de uma
sociedade especial pressupões necessariamente existência de uma
empresa só muito excecionalmente assim não acontece.

Empresa:

A ideia de empresa surge daquele reconhecimento jurídico que faz


ao tal conjunto aglomerado de coisas diversas que se transforme
numa única coisa, numa universalidade de direito que existe com
um determinado propósito e que, pelo menos, em a abstrato, revela
absoluta suscetibilidade de ser explorada com idêntica capacidade
técnico-funcional de uma qualquer pessoa.
Por exemplo, em abstrato, o restaurante é sempre possível de ser
objeto de transmissão e a coisa em que aquela empresa se
consubstancia tem a mesma capacidade produtiva
independentemente de ser detida pelo A ou pelo B.
Depois é óbvio que, em concreto, as coisas não são assimporque o
A pode ter mais capacidade que o B. Mas isso é um problema do
sujeito, não é um problema da realidade que consubstancia a
empresa.
Por exemplo, queremos montar uma manufatura de calçado,
arranjamos um armazém compramos máquinas, fazemos lisigns de
automóveis, contratamos funcionários nas suas diversas áreas,
(contabilistas, gestores, etc.) o resultado dessa nossa intervenção
na agregação daquele conjunto de elementos faz nascer a empresa,
ora, uma coisa suscetível de ser afeta ao desenvolvimento de uma
determinada atividade, com absoluta autonomia e com capacidade
para concorrer no mercado do setor em que se insere.
Ora, eu comprei cadeiras, mesas, máquinas, etc., aquilo que era
uma multiplicidade de coisas quando eu adquiri, depois da minha
intervenção, ou seja, depois da intervenção do empresário, eu criei
uma realidade, uma coisa que existe per si, unitária, de forma
global, pode existir na minha titularidade ou na titularidade de
terceiro e que passou a ser uma coisa diversa a todos os níveis
daquilo que é o puro somatório das coisas que individualmente a
compõem.
Digamos que o que passou a distinguir a empresa daquilo que
existia antes, neste momento, são os chamados valores de
organização, é o resultado da intervenção do empresário. Dai que
há empresas dos mesmos setores, com a mesma configuração, mas
que têm valores diferentes, porque a forma com que cada
empresário organizou a sua estrutura produtiva é diversa.
Apontamentos meus desta aula

Interessa-nos o conceito de empresa:


Trespasse, locação
Identificar uma realidade enquanto empresa como objeto desses
negócios

Vamos ver: a empresa é uma coisa- não é uma entidade com


personalidade jurídica- não se confunde com sociedade comercial
(pessoa jurídica criada por pessoas físicas em regra destinada a
detenção e ao exercício de uma empresa). O mesmo não acontece
com as sociedades de advogados, de médicos (não temos uma
figura autônoma).

O tal conjunto de várias coisas se aglomere numa universalidade.


Restaurante: é sempre possível de ser objeto de transmissão- tem a
mesma capacidade produtiva independentemente de ser detida pelo
A ou pelo B- o A pode ter mais jeito que o B- mas isso e um
problema do sujeito.
Resultado da nossa intervenção faz nascer a empresa
Deixa de ser o puro somatório das coisas que a compõe para passar
a ser uma determinada realidade. Agora posso vender a minha
empresa (um único negócio) - trespasse- aquilo que era uma
multiplicidade de coisas, eu criei uma realidade que pode existir na
minha titularidade ou na titularidade de terceiro- passou a ser uma
coisa diversa- conjunto disforme de coisas, eu dei sintonia e
organização, e dei unicidade- fatores de organização- intervenção
do empresário.
h) A forma como cada empresário estruturou é diversa- valores
de organização mais competentes que outros- nem todas as
empresas revelam a mesma eficiência para concorrer no
mercado.
i) O empresário quando organiza pode criar uma coisa mais
valiosa e mais eficiente. Essa vantagem acrescida decorrente
da existência da maior capacidade do empresário e de
maiores valores de organização, há depois de ter um reflexo
no comportamento da empresa no concurso empresarial- vai
revelar vantagem competitiva em relação às outras- vai
conseguir captar mais clientela- vai conseguir níveis
acrescidos de produtividade e faturação- melhores resultados
financeiros- valores de exploração também se começam a
compor vão ser mais volumosos, mais valiosos numas que
noutras empresas- à medida que vai decorrendo o tempo de
vida da empresa, os valores de exploração, as vantagens
associadas às vantagens da empresa passam a ter maior
reflexo no valor da empresa.
j) Obtenção de lucro
k) Há empresas que embora com reduzidos meios corpóreos e
incorpóreos, tem valores de exploração muito positivos-
resultados muito significativos
l) Ineficiência de quem as explora, de quem as montou
m)
n) Uma das temáticas fundamentais da empresa é a do chamado
âmbito de entrega
o) O âmbito de entrega tem que ver com a composição do
estabelecimento e com aquilo que é efetivamente entregue ou
tem que ser entregue na sequência de um negócio que
transfira a titularidade definitiva ou temporariamente do
estabelecimento comercial. Esta temática só pode explorar-se
de forma conveniente por referência aos negócios que
precisamente operam a transmissão da titularidade do
estabelecimento comercial. A saber: o trespasse e a locação
de estabelecimento comercial.
p) Trespasse: é a fórmula contratual que engloba todas as
concretas modalidades de transmissão inter vivos definitiva,
onerosa ou gratuita do estabelecimento comercial ou da
empresa. A compre e venda de um estabelecimento comercial
é um trespasse. A aquisição sucessória do estabelecimento
comercial decorrente da morte de alguém não é um trespasse.
q) Os casos mais óbvios: dação em pagamento- pagamento de
uma dívida através da entrega de um determinado bem. Ao
fazê-lo estou a trespassar o meu estabelecimento comercial.
Outra forma de trespasse é a entrada para uma sociedade
comercial realizada em espécie precisamente através de um
estabelecimento comercial- a constituição de uma sociedade
comercial pressupõe que os sócios façam entradas- não
precisa de ser em dinheiro, mas pode ser transferência de
estabelecimentos comerciais- foi-me atribuída uma
participação do capital social dessa sociedade. Este ato
também consubstanciou um trespasse.
r) A questão do âmbito de entrega tem que ver com a definição
dos elementos cuja transferência ocorre quando o trespasse se
realiza- porque não é necessário (absolutamente) que a
transmissão da empresa embora a transmissão de todos os
elementos que a compõe.
Direito Comercial da Empresa
Aula OT Mestre Ricardo Afonso
Dia 23.09.21

Vamos começar a desenvolver algumas ideias introdutórias.


O direito comercial é um ramo de direito especial- um ramo de
direito especial.
É o ramo de direito privado que ao lado do direito privado comum,
ao lado do direito civil que regula a generalidade das relações
jurídicas sociais, vem regular uma área muito particular da vida
social.
No direito privado há uma espécie de direito genérico, direito
utilizado genericamente para tudo e para alguma coisa. Mas, há
determinadas áreas concretas, determinados setores da vida social
que tem tantas especificidades que reclamam uma intervenção
diferenciada.
Conclui-se com alguma facilidade que as soluções genéricas do
direito civil não são adequadas à regulação específica daquele
setor, às exigências concretas que aquele setor convoca.
s) Ex: Direito do Trabalho- destina-se à regulação de uma
específica relação contratual que é a relação contratual de
trabalho (aquela que se estabelece entre a entidade patronal e
o trabalhador).
t) Entendeu-se que o direito dos contratos genérico (aquele que
estudamos em responsabilidade, em teoria do negócio
jurídico) não salvaguardava as especificidades concretas
desta específica relação jurídica por força dos interesses, das
necessidades de proteção específicas que a mesma
convocada, impõe.
u) No direito comercial a lógica é exatamente a mesma, só que
o espetro de intervenção, o âmbito de intervenção é
substancialmente maior.
v) No fundo, o direito comercial é um ramo jurídico (uma
regulamentação) recortada dentro do direito privado comum
e para regular uma determinada área específica da área social-
a vida que gravita em torno da vida empresarial. É esse o
habitat natural do direito comercial.
w)
x) A vida empresarial, a vida dos negócios profissionais, o
circuito profissional empresarial é tão específico- convoca
interesses tão diferenciados, exigências tão próprias que na
maior parte das vezes a aplicação pura e dura das regras do
direito civil se mostram inadequadas (desde as coisas mais
simples às mais complicadas).
y) Ex: entende-se que a taxa de juro comercial aplicável às
relações empresariais, às relações profissionais deve ser
maior, mais penalizante (porque o nível de exigência é
diferente) do que a taxa de juro civil aplicável às relações
entre as pessoas que não são profissionais, que não são
comerciantes, que não são empresariais.
z)
aa) Há, dentro da vida comum, da vida social normal, um
microclima que exige um tipo de regulamentação
completamente diferente.
bb)
cc) Sendo um ramo de direito privado especial, o direito
comercial não tem uma propensão de regulamentação
exaustiva. A sua intervenção é pontual e cirúrgica- só aparece
quando na verdade as propostas apresentadas pelo direito
civil se mostrem completamente desadequadas.
dd) Daí que a circunstância de não haver, para um
determinado caso concreto, uma norma de direito comercial
aplicável ou uma relação jurídica que não teremos dúvida em
qualifica-la como comercial, isso não significa que estejamos
perante uma lacuna legal. Pode ter acontecido que nessa
situação se tenha considerado que a solução prevista do
direito civil responde com adequação suficiente à resolução
daquele problema. A maior parte das vezes não responde e é
por isso que o direito comercial é hoje o grande direito que
não só está consagrado nos diplomas mais identificáveis
(códigos) como em diplomas avulsos, diplomas esporádicos
que regulam diversos contratos que todos identificamos como
sendo comerciais.
ee)
ff) Ora, sendo o direito comercial um setor específico da
regulação privada que se destina a disciplinar as relações
jurídicas comerciais perceberemos que a primeira tarefa a que
nos devamos dedicar neste contexto seja precisamente a de
identificarmos as relações jurídicas comerciais.

No Direito português como é que nós identificamos as relações


jurídicas comercias? Historicamente, existem duas grandes
correntes destinadas à identificação da matéria comercial,
mercantil que são as correntes subjetivistas e as correntes
objetivistas.

As correntes subjetivistas como o próprio nome indica são


correntes que assentam na pessoa do sujeito. Para os subjetivistas
o direito comercial é basicamente aquele que regula a atividade
profissional dos comerciantes. Para estas correntes, a figura central,
o critério decisivo que permite a qualificação da relação jurídica é
a figura do sujeito.
Estas correntes tiveram o seu desenvolvimento a partir do esforço
que a autorregulação desenvolveu nas corporações dos
comerciantes durante a Idade Média.
A regulação estadual naquele tempo era diminuta, era esparsa, e
sobretudo mostrava-se completamente desadequada às
especificidades concretas da atividade dos comerciantes. Naquela
altura os comerciantes estavam muito organizados numa espécie de
corporações, associações.
Porque a atividade comercial é de longe na vida social a mais
dinâmica, a mais criativa, aquela que é mais atuante e que nesse
sentido reclama maior necessidade de regulação, o aparecimento
constante de novos institutos jurídicos, perante essa ausência de
regulação pública as corporações de comerciantes começaram a
desenvolver institutos jurídicos por eles próprios que regulassem
as suas próprias relações, que respondessem às exigências da sua
própria atividade. E assim, começaram a aparecer um conjunto de
institutos jurídicos que eles reconheciam como sendo aplicáveis a
eles próprios.

Os séculos foram passando, o subjetivismo foi sofrendo múltiplas


variações. Hoje as correntes mais modernas subjetivas assentam
sobretudo numa lógica empresarial- o centralismo da figura do
comerciante transferiu-se para a figura da empresa, mas estas
doutrinas que estudam a existência de um direito de classe, de um
direito privativo, de um direito exclusivo, deram-se um pouco mal
com as lógicas igualitárias que sobrevieram à Revolução Francesa.
Começaram a desenvolver-se outras correntes denominadas
objetivas.
Objetivas desde logo por contraposição ao caráter subjetivo das
correntes anteriores. E no fundo, a nova ideia era uma ideia de
separação do direito comercial, acabar com a ligação do direito
comercial à figura do comerciante.
As relações jurídicas comerciais vão ser comerciais porque reúnem
determinadas características objetivas que justificam essa
qualificação e nessa sequência justificam a aplicação de um direito
com particulares características que é precisamente o direito
comercial.
Não há-de ser a figura do sujeito que intervém na relação jurídica
que há-de marcar a qualificação da relação jurídica. A relação
jurídica há-de merecer uma determinada qualificação
independentemente do sujeito que a promove ser ou não
comerciante.
O nosso código comercial é de 1888. É muito velho. O que resta
da versão originária do código é uma parte relativamente
pequena. O nosso código surge num período que é considerado
na história do direito como o período da codificação- havia uma
vontade de organizar, codificar, comprimir o direito positivo
existente num único diploma com uma lógica e uma estrutura.

O código veio tomar uma posição sobre esta questão. Uma


posição mitigada- a norma que se dedicou a essa função e
ainda hoje está em vigor (terminologia num português quase
arcaico) é o artigo 2º do Código Comercial. Nem é
exclusivamente objetivista nem é exclusivamente
subjetivista. Reúne fortes influências objetivistas, reúne
fortes influências subjetivistas- talvez tenha uma certa
prevalência objetivista.
Esse artigo 2º está dividido em duas partes:
A primeira é tributária da corrente objetivista. A segunda é
tributária da corrente subjetivista.
A primeira parte do artigo 2º é de um objetivismo extremo.
Nota: nós só estamos a tentar saber se uma determinada relação
jurídica se deve ou não aplicar o direito comercial. É só isto. Não é
a matéria mais importante.

1º parte: ela diz: são comerciais os atos que estão previstas nesta
lei. Ao considerar como único critério relevante para a
qualificação da relação jurídica a circunstância de ela estar
regulada nesta lei está a prescindir da qualidade do sujeito. Ou
seja, no fundo estamos a dizer: se a relação jurídica estiver aqui
prevista, independentemente da qualidade dos sujeitos que nela
intervêm, ela é comercial. A norma não adianta o critério
substantivo que leva a que as relações jurídicas estejam previstas
no código comercial e que sejam consideradas como comerciais.
Se está prevista nesta lei, então é comercial.
Quando a primeira parte diz: a esta lei, hoje em dia essa expressão
deve ser interpretada muito extensivamente. Agora não é só nesta
lei, é em qualquer diploma jurídico de direito comercial ou até em
qualquer norma de direito comercial ainda que inserida num
diploma globalmente civil.
Independentemente do sujeito que nela intervenha.
Se não conseguirmos concluir que uma determinada relação
jurídica é comercial, à luz dessa primeira parte do artigo 2º,
podemos recorrer à segunda parte da norma.
Para além das relações jurídicas que estão previstas em diplomas
de direito comercial, ainda há outra possibilidade: há os que não
estão previstos e também são atos de comércios (relações jurídicas
comerciais). Aqui regressa a influencia subjetivista- serão ainda
como comerciais as obrigações dos comerciantes que não tenham
natureza exclusivamente civil.
A qualificação da relação jurídica comercial à luz desta segunda
parte depende da verificação de 3 requisitos- cumulativos.
1º- qualidade do comerciante; Artigo 13º do Código Comercial 2º-
o ato não pode ter natureza exclusivamente civil;
3º- se o contrário do próprio ato não resultar.

Direito Comercial da Empresa


Aula OT Mestre Ricardo Afonso
Dia 30.09.21

2º parte do artigo 2º na última aula- estávamos a fazer isto porque


essa parte da norma constituía um meio complementar-
procurarmos qualificar uma determinada relação jurídica comercial
e nesse sentido constituir uma possibilidade de ainda aplicar a uma
determinada relação jurídica o direito comercial quando tal não seja
possível através do critério objetivista da 1º parte do artigo 2º.
A forma mais fácil de lá chegarmos é em primeiro lugar irmos ver
se funciona o critério da primeira parte do artigo 2º. Se a relação
jurídica que estivermos a analisar estiver prevista e regulada em
legislação que possa ser qualificada como comercial, temos o
problema resolvido e podemos concluir à partida sem necessidade
de mais que o ato é um ato de comércio, que a relação jurídica é
comercial e que nessa medida se sujeita ao direito comercial.
Se assim não acontecer, temos ainda uma possibilidade-
possibilidade que nos é conferida pela segunda parte do artigo 2º-
manifestação da corrente subjetivista no direito positivo português.
A possibilidade de funcionamento desta norma depende da
verificação de 3 requisitos essenciais.
1º- qualidade do sujeito- o sujeito tem que ser comerciante;
2º- o ato não pode ter natureza exclusivamente civil;
3º- se o contrário do próprio ato não resultar- o contrário do próprio
ato não pode resultar independentemente do que isso seja.

Tínhamos visto já o 1º requisito da qualidade do comerciante e


tínhamos visto que nos termos do artigo 13º, nº1 do C.Com, é
comerciante em Portugal, quem tendo capacidade, praticar de
forma reiterada atos de comércio fazendo disso sua profissão.
Capacidade de exercício- não fazia sentido ser capacidade jurídica.
São incapazes os menores, os interditos e os inabilitados, sendo
certo que essa insuficiência pode ser suprida normalmente através
dos institutos da representação e da assistência.
Obviamente, estes atos de comércio referidos no artigo 13º, são
apenas aqueles que assim podem ser qualificados à luz do artigo 2º,
primeira parte. É óbvio que se nós estamos a aferir da qualidade
para se poder praticar atos subjetivos de comércio, é evidente que
não são os atos subjetivos que atribuem essa qualidade. Essa
qualidade tem que ser prévia ao sujeito para que de facto ele possa
praticar ou intervir numa relação jurídica que por esta via possa
adquirir a qualidade de comercial.

Depois vimos ainda que a parte final da norma, quando diz,


“fazendo disso sua profissão” constitui ainda uma restrição aos atos
que são relevantes neste contexto. Na verdade, há atos objetivos de
comércio que não permitem ainda que praticados de forma repetida
o reconhecimento do exercício de uma profissão. Ex: a pessoa que
subscrevendo e emitindo cheques constantemente e regularmente
não manifesta com essa atuação a qualidade de comerciante. O
mesmo não acontece com uma série de atos designadamente, ex,
com a compra para revenda, compra para o arrendamento- qualquer
tipo desse ato revela o exercício profissional e, portanto, são esses
os atos a que o artigo 13º, nº1 se refere.
Passemos então à análise do 2º requisito:

“o ato não pode ter natureza exclusivamente civil”


É um requisito que tem que ser aferido em abstrato- não nos
interessa aqui, em concreto, analisar o ato que concretamente
estamos a procurar qualificar. Não nos interessa saber se é a
compra e venda de um telemóvel, não nos interessa saber quem é a
pessoa que compra e qual o objetivo da compra. Interessa-nos
apenas uma referência em abstrato ao tipo negocial a que o ato
concreto se reporta. O ato em si é a compra de um telemóvel- só
nos interesse perceber qual é o tipo negocial que aqui temos-
compra e venda.
Se chegarmos a conclusão que esse ato em abstrato, esse tipo
negocial em abstrato tem natureza pessoal, então podemos concluir
sem mais que o ato tem natureza exclusivamente civil. Tendo
natureza exclusivamente civil, obviamente o requisito não fica
preenchido- escusamos de ir averiguar o 3º porque já sabemos que
os requisitos são cumulativos.
Se o ato tiver natureza patrimonial, o ato não tem natureza
exclusivamente civil. Nós não estamos a dizer que ele não é civil.
Os atos de natureza pessoal são facilmente identificáveis- são os
atos típicos de direito da família- adoção, casamento, perfilhação,
etc.

3º requisito:
“se o contrário do próprio ato não resultar”
A primeira coisa que temos que perceber é esta: ao contrário do que
se passa com o segundo requisito, este tem que ser aferido em
concreto, tendo em conta o concreto ato que estamos a procurar
qualificar.
O que está aqui em causa é a conclusão que é retirada pela pessoa
que contrata com o nosso comerciante. No fundo, é a opinião que
um homem médio, colocado na posição de um real declaratário em
face e apenas em face das circunstâncias que pode observar no
momento da prática do ato acerca da eventual ligação entre o ato
propriamente dito e a atividade comercial do sujeito.
Será que este ato está relacionado com a atividade profissional
dele? O que é que eu posso concluir? Ou o ato está relacionado ou
não está relacionado, ou então eu tenho dúvidas que esteja- não
posso assegurar que não esteja.
Para que o ato possa ser qualificado como comercial é necessário
que tudo aquilo que rodeia a prática do ato não revele ao terceiro
que contrata com o comerciante a ideia de que o ato nada tem que
ver com a atividade profissional dele.
Ex: vamos imaginar que um construtor civil se dirige ao seu
fornecedor habitual e sem prestar qualquer esclarecimento, compra
uma tonelada de cimento, sendo certo que ele pretende doar esse
cimento a uma associação. Qual será a conclusão que o vendedor
de cimento retirará em face daquilo que tem conhecimento em
relação à eventual ligação, conexão que esse ato mantenha com a
atividade de quem lhe comprou o cimento?
É obvio que ele pensa que o cimento se destina à atividade do
comerciante, logo, neste caso, estaria verificado o último requisito.
O ato seria comercial à luz da 2º parte do artigo 2º.

Ex: imaginemos que um tipo de um café, tendo tido conhecimento


que a universidade se ia deslocar para cá, encomendou na
almedina, uma coleção de códigos para ter lá no café para os alunos
quando lá forem consultarem. Foi à almedina, não disse nada,
limitou-se a comprar os livros. Qual é a conclusão a que o vendedor
dos livros chega? Que o ato não tem nenhuma relação com a
atividade profissional dele. Neste caso, o requisito não estaria
preenchido.
Se a situação for uma situação dúbia que não permita uma
conclusão clara, mas que não permita afastar a conexão, o requisito
está preenchido na mesma- só quando resulta o contrário é que o
requisito não fica preenchido.
O regime preocupa-se muito mais em proteger as expectativas dos
intervenientes na cadeia negocial do que assegurar um regime
aplicável à realidade dos factos.
O direito comercial tem como um dos grandes princípios a proteção
da confiança. A ideia é esta: aquele que contrata com o
comerciante, não pode ser surpreendido pela circunstância com a
qual não podia contar em face daquilo que lhe foi dado observar de
o ato não estar sujeito à disciplina do direito comercial.

Ex: se o tipo que comprou o cimento ficasse a dever e se mais tarde


o vendedor tivesse que interpor uma ação judicial para reclamar o
preço mais juros, a taxa de juro aplicável era a taxa de juro
comercial que ronda os 8%, ao passo que se assim não fosse, a taxa
de juro aplicável era a civil que ronda os 4%.

Se o ato for qualificado como comercial como é, provavelmente, é


responsável pela dívida, não só o próprio comerciante que contraiu
a dívida, mas também o cônjuge do mesmo, a menos que seja
casado no regime da separação.
O regime comercial é muito mais violento, muito mais exigente, e
a expectativa que ele tem que se aplicar e que o ato é praticado no
âmbito do circuito profissional é uma expectativa que a legislação
pretende que não seja defraudada. Preocupa-se menos com a
realidade- se crias esta expectativa tens que te sujeitar às
consequências da expectativa que criaste. Se isso não correspondia
à verdade, paciência- devias ter atuado de boa-fé.
No direito comercial, ao contrário do que aprendemos no direito
civil, muitas vezes a vontade declarada é privilegiada, é defendida,
em detrimento da vontade real.
A letra de câmbio, hoje em dia já está em desuso, mas era muito
utilizada para titular pagamentos diferidos.
Ex: Eu vendo este telemóvel ao B. O B só me quer pagar daqui a 3
meses O que fazia? Assinava uma letra- atravessava-se numa letra-
título de crédito em que ficava exarado o pagamento do preço
combinado num determinado prazo. A subscrição de um
documento em si mesmo tinha desde logo a vantagem de evitar que
em caso de incumprimento o credor tivesse que interpor uma ação
declarativa para obter uma sentença condenatória contra o devedor.
O título de crédito é um título executivo e, portanto, era logo
possível ao credor fazer a execução direta e penhorar os bens do
devedor para ver o seu dinheiro recuperado com a venda deles.
No plano comercial, a letra tem a particular vantagem de introduzir
liquidez no sistema quando não há liquidez. A letra é suscetível de
ser transmitida.
Direito Comercial da Empresa
Aula OT Professor Ricardo Afonso
Dia 7.10.21

Já exploramos os critérios que nos permitem identificar as relações


jurídicas comerciais- talvez tenha interesse identificarmos algumas
soluções de regime que são completamente diferenciadas no direito
comercial em relação aquilo que é proposto pelo direito civil.
Desde as coisas mais simples às coisas mais complexas, as
diferenças são muito substanciais.
Uma diferença clássica, antiga é a do chamado regime das dívidas
comerciais.

Normalmente quem é responsável por uma dívida é a pessoa que a


contrai e sendo o património do devedor a garantia dos credores, é
obvio que é o património do devedor que pode ser afeto a qualquer
tentativa de responsabilização dessa dívida. Todavia há situações
em que assim não acontece.
Há situações em que pessoas que não contraíram uma dívida
podem ser responsabilizadas pela dívida de terceiro.

1º situação- alguém voluntariamente assume essa obrigação-


chamada obrigação de garantia. Alguém decide garantir uma dívida
de terceiro- fala-se a esse propósito das chamadas garantias pessoas
de entre as quais assume particular relevância, a fiança- é uma
garantia em que alguém se responsabiliza porque assim entende
que o deve fazer ou porque lhe solicitam e ele não tem capacidade
de dizer que não, assumindo a responsabilidade de uma dívida de
terceiro. Alguém se constitui fiador de alguém- alguém se
transforma em garante de uma dívida alheia- alguém se atravessa
por outra pessoa.
É muito comum nas sociedades comerciais- vamos reparar no 2º
semestre que o regime das sociedades comerciais, em regra, sempre
que uma sociedade comercial contrai um empréstimo do banco, os
sócios têm que prestar garantia- têm que se constituir fiadores dessa
sociedade.
É muito comum que quando somos novos e contraímos um
empréstimo bancário, os nossos pais se constituam como nossos
fiadores- garantam junto do banco o cumprimento da obrigação
assumida.

2º situação- situação essa que não depende da vontade daquele que


se assume como obrigado pela dívida, mas antes decorre de uma
específica solução jurídica. Solução essa que está estritamente
relacionada com um particular instituto jurídico que é o casamento.
O casamento, em determinadas situações, permite que um dos
cônjuges fique responsável por uma dívida contraída pelo outro.
Em regra, quando, o regime de bens que tiver sido escolhido não
seja o regime da separação. Existem 3 regimes de bens: comunhão
de adquiridos- regime supletivo, separação de bens, comunhão
geral.
Na verdade, o casamento fora do regime da separação, é um
instituto que viabiliza a chamada comunicabilidade das dívidas- os
bens próprios de um dos cônjuges pode ser chamados à
responsabilidade do pagamento de uma dívida contraída pelo
outro.
A norma jurídica que prevê este quadro de comunicabilidade é o
artigo 1691º do CC.
Entre as diversas possibilidades que o artigo 1691º suscita, uma
delas está estritamente relacionada com a nossa disciplina.
Alínea d) do artigo 1691º do CC.

A alínea d) refere-se precisamente às dívidas contraídas no


exercício do comércio consignando que as mesmas quando
contraídas na constância do matrimónio fora do regime da
separação, são da responsabilidade de ambos os cônjuges a menos
que se prove não terem sido contraídas em proveito comum do
casal.
Esta norma ao contrário do que eventualmente possa parecer numa
primeira observação mais descuidada, é claramente uma norma
destinada a proteger os interesses do comércio. É uma norma
tipicamente comercial ainda que integrada num diploma
globalmente civil.
É uma norma que reforça os meios que o credor do comerciante
tem à sua disposição para cobrar uma dívida- diminui o risco do
credor do comerciante. Se o credor do comerciante vê a sua dose
de risco diminuída na contratação a crédito, é evidente que fica com
maior disponibilidade para contratar a crédito.
Esta norma é o exemplo daquilo que é a logica corrente das
soluções de direito comercial- são sempre mais exigentes- mais
rigorosas- mais penalizantes. Entende-se que no circuito
profissional a exigência deve ser maior.
É menor o desvalor quando o incumprimento é um não
profissional. Alguém foi comprar os móveis lá para casa- pensava
que ia ter dinheiro ao fim do mês para pagar e não tinha- está a
incumprir, mas o desvalor associado a este incumprimento não é
tão grande como aquele profissional da indústria dos móveis que
foi comprar a madeira a um fornecedor e deixou de pagar.
A confiança dos empresários nos seus pares deve justificadamente
ser maior do que aquela que é reconhecida a um qualquer cliente
que com eles se cruze.
Esta norma o que pretende é colocar o credor do comerciante numa
posição mais favorável. Ao contrário do que seria normal não será
apenas o comerciante que deve, é também o cônjuge do
comerciante que deve. Não são apenas os bens próprios do cônjuge
comerciante que podem ser chamados ao cumprimento desta
obrigação, serão também os bens próprios do cônjuge do
comerciante que não tendo tido nada que ver com o negócio podem
também ser chamados ao cumprimento dessa obrigação.
Todo o sistema associado a esta solução normativa procura também
criar as condições ótimas para que o credor do comerciante se possa
dela servir.
Este artigo vem presumir que as dívidas comerciais dos
comerciantes se presumem contraídas no exercício do comércio.
Sendo que para que haja comunicabilidade tem que existir a certeza
de que a dívida foi contraída no exercício do comércio e porque a
verificação desse facto comporta sempre alguma dúvida, incerteza,
insegurança, o legislador decidiu dispensar o credor do
comerciante dessa prova, instituindo uma presunção legal.
Qual é a consequência de qualquer presunção legal? Inversão do
ónus da prova. Como a presunção é ilidível, terá que ser o cônjuge
do comerciante a ilidir a presunção.

O artigo 1691º, alínea d), estabelece, “salvo se se provar que a


dívida não foi contraída em proveito comum do casal” - no que toca
a este requisito, é a própria alínea d) do 1691º do CC que presume.
Mais uma vez, para afastar a comunicabilidade, afastando esta
presunção, o cônjuge do comerciante vai ter que ilidir a presunção-
fazer prova de que na verdade a dívida não foi contraída em
proveito comum do casal.

Tem que se ver a diferença de regime prevista no artigo 1695º e no


1696º do CC- bens que podem ser afetos ao pagamento da dívida,
consoante a dívida seja ou não da responsabilidade de ambos os
cônjuges. Se for da responsabilidade de ambos, cai no 1695º do
CC.

Todavia, se não cair aqui neste artigo, vamos ao 1696º do CC.


Uma outra diferença importante tem que ver com o regime da
fiança.
A fiança é uma obrigação pessoal, sendo certo que tanto pode ser
civil como pode ser comercial. A fiança será comercial quando a
obrigação que for objeto da fiança tiver natureza comercial. Será
civil quando não tiver.

A fiança no código civil está no artigo 627º e seguintes. A fiança


aqui tem duas particularidades: o caráter da acessoriedade- o
conteúdo da obrigação do fiador é limitada pelo conteúdo da
obrigação afiançada, da obrigação garantia. A obrigação do fiador
é acessória da obrigação do obrigado principal. O fiador não pode
dever mais e de maneira diversa daquela que deve o obrigado
principal. Benefício da excussão prévia- subsidiariedade no que
toca à obrigação do fiador- só depois de excutido o património do
obrigado principal pode o credor reclamar o pagamento ao fiador.
O obrigado principal não tem património que serve para garantir o
pagamento da dívida- só perante esta insuficiência é que o credor
passa a ter legitimidade para reclamar o pagamento ao fiador.

Na fiança comercial não há benefício da excussão prévia. A


obrigação do fiador é solidária. Significa que o credor pode desde
logo e em primeira linha reclamar o pagamento ao fiador. Não tem
que excutir o património do obrigado principal para ter
legitimidade para reclamar o pagamento ao fiador comercial.
Regime: 101º do CC.
Direito Comercial da Empresa
Aula OT Mestre Ricardo Afonso
Dia 14.10.21

Caso Prático:

1) A, pediu a B dinheiro emprestado para comprar um telemóvel


que pretende revender a C;
2) A, proprietário de uma pequena transportadora aérea leva um
cidadão inglês do porto ao algarve;
3) A, palhaço num circo realiza, mediante remuneração, um
espetáculo para os doentes do hospital de São João;
4) A toma de arrendamento a B uma loja em que pretende
instalar um restaurante;
5) A, que se destina à prestação de serviços de contabilidade
adquire duas paletes de toner e duas resmas de folhas para
impressão.
Classifique os atos

Resolução:

1) É um ato de comércio? Não é? Que tipo?


Qual é o ato que está em causa? Empréstimo comercial. Está
previsto no 394º do C. Comercial. Estando previsto neste
artigo é um ato objetivo de comércio nos termos do artigo 2º,
nº1 do Código Comercial. É um ato objetivamente comercial
e é também um ato acessório de comércio. Caráter de
acessoriedade- é esta ligação acessória que o ato mantém com
outro ato absoluto de comércio ou a uma atividade comercial
que faz com que este ato tenha sido previsto na lei comercial
e nessa sequência seja qualificado como comercial.
2) É um ato de comércio? 230º, nº7 do C. Comercial.

Temos que ver este artigo numa visão atualítica- preenche a


exigência do artigo 2º, primeira parte. Deve-se entender que,
o artigo 230º prevê, ainda que implicitamente, atos de
comércio. É evidente que o 230º só se refere a transportadoras
marítimas e terrestres porque em 1888 não havia companhias
aéreas.
3) Espetáculo do palhaço- este espetáculo é público, logo os
espetáculos neste modo é um ato do comércio.
230º
4) Contrato de arrendamento não está no Código Comercial. A
referência ao artigo 2º, primeira parte, tem que ser
interpretada extensivamente, hoje em dia. Não se reporta
apenas ao código comercial, mas a qualquer lei comercial e
até a qualquer norma de direito comercial ainda que inserida
num diploma globalmente civil. O arrendamento comercial
está regulado no código civil. É um ato de comércio por
preencher o artigo 2º, primeira parte. O código comercial, é
hoje, uma parte muito ínfima do que pode ser considerado
hoje como direito comercial.
5) A norma do 230ºfala em empresa fornecedora de géneros-
este ato pode ser considerado como um ato de comércio. É
um ato da empresa à luz da primeira parte do artigo 2º do C.
Comercial.

Direito Comercial da Empresa


Aula OT Dr. Ricardo Afonso
Dia 2.12.21

Caso prático

A proprietário de um estabelecimento que se destina à


comercialização de automóveis usados e que se encontra instalado
num prédio arrendado pertencente a B, vendeu a C em janeiro de
2021.
A, decorridos 4 meses, abriu um estabelecimento similar situado
numa rua paralela ao do trespassado, a uma distância aproximada
de 1500 m.
A passou inclusivamente a utilizar o nome a que recorria no
estabelecimento trespassado.
C pretende reclamar contra a atuação de A. O que pode fazer?
A, na defesa que invoca contra a pretensão de C, alega que:
2.1 - Está protegido pelo princípio que garante a liberdade de
iniciativa económica.
2.2 - O contrato não previa qualquer limitação quanto à abertura de
um estabelecimento concorrente.
2.3 - Na ausência de previsão contratual, o nome do
estabelecimento comercial não acompanhou a transferência
promovida pelo de trespasse.
3. O senhorio, na sequência do trespasse, pretende resolver o
contrato de arrendamento alegando que a transmissão só lhe foi
comunicada 20 dias após a realização da mesma. Quid Juris.
4. Após a realização do trespasse, um fornecedor interpõe uma ação
judicial tendente ao pagamento de uma dívida constituída em
momento anterior à aquisição concorrida. Quid Juris.

Resposta:

1) C pretende reagir contra A, pois este violou o dever de não


concorrência, porque abriu um estabelecimento comercial apenas
4 meses depois, ora, o âmbito temporal foi violado, como também
o âmbito especial, pois os estabelecimentos estão a 1500m de
distância, ora, o segundo estabelecimento foi aberto na zona de
irradiação do estabelecimento trespassado.
Portanto, sendo certo que houve uma violação do dever de não
concorrência, C, mediante a interposição de uma ação judicial,
poderia pedir o ressarcimento do prejuízo, ou seja, poderia pedir o
encerramento do estabelecimento de A e a indemnização pela perda
de clientela.
2) Relativamente aos argumentos que A utilizou:
2.1 - A não tem razão, porque não há nenhum direito
constitucional que não possa ser restringido, nomeadamente, o
princípio da livre iniciativa económica privada. Tanto é que, o
direito à vida, o direto constitucional mais valioso, pode ser
comprimido, nas circunstâncias, por exemplo, de legitima defesa.
Se admitíssemos que este princípio constitucional era insuscetível
de ser comprimido, então teríamos que considerar que qualquer
previsão contratual em sentido contrário seria nula por violação
direta do direito constitucional, o que não faria sentido.
2.2 - Não previa, todavia, nem tinha que prever, pois a obrigação
de não concorrência é uma obrigação implícita que decorre
diretamente do princípio da boa-fé e da garantia contra a evicção.
Ora, a obrigação de não concorrência não tem que ser objeto de
previsão contratual, pois imana implicitamente da própria
celebração do contrato de trespasse, como consequência direta,
desde logo, do princípio da boa-fé.
2.3 - Os direitos de propriedade industrial, inclusivamente o
nome do estabelecimento comercial, pertence ao âmbito natural da
entrega, o que significa que apenas não se transmite se as partes
convencionarem expressamente que tal não acontece, isto é, se a
transmissão for expressamente afastada por previsão contratual.
Todavia, admitindo isto se o nome não integrar o âmbito mínimo
do estabelecimento que está a ser trespassado, porque se assim
acontecer, as partes nem têm a liberdade de convencionar a não
transmissão.
3) Importa perceber que há quem discuta se o prazo é de 15 dias ou
30 dias, devido à incongruência da aplicação do prazo de 15 dias
em relação ao regime que o artigo 1109º CC prevê para a locação
de estabelecimento comercial.
Se partirmos dai, é com alguma dificuldade que podemos admitir
que tendo a comunicação ocorrido ao 20º dia, que essa
circunstância constitui uma causa de resolução, porque o atraso de
5 dias não se sabe se faz preencher a cláusula da alinea e) do nº2
do artigo 1083º CC, porque é necessário que a verificação dessas
alíneas exemplificativas revele, em relação ao senhorio, seja tão
grave que se torne inexigível a manutenção do contrato de
arrendamento.
4) As dívidas comuns pertencem ao âmbito máximo, ora, só
quando há convenção expressa é que as dividas decorrentes da
exploração do estabelecimento comercial se transferem para o
trespassário. Todavia há exceções, designadamente o caso dos
trabalhadores.
Direito Comercial da Empresa
Aula OT Dr. Ricardo Afonso
Dia 11.11.21

A lei tem a perceção que o artigo 1112º nº1 CC poderia levar a


trespasses simulados, por isso, o próprio artigo 1112º CC, cria
alguns instrumentos de defesa do senhorio em relação àquilo que
possa ser uma utilização abusiva da prerrogativa no nº1.

A alínea a) não pode ser interpretada literalmente, sob pena de


conduzir a resultados absurdos. É obvio que pode haver trespasse
sem que haja a transmissão de todos os elementos que compõe o
estabelecimento comercial. É obvio que o adquirente pode ter
efetiva intenção de adquirir aquele estabelecimento comercial sem
ter interesse na aquisição de todos os elementos que compõem o
estabelecimento comercial.
Por exemplo, eu vou comprar uma loja de roupa, mas eu não quero
o stock de roupa que lá está, porque é um stock desatualizado. Isso
não significa que eu não tenha um efetivo interesse naquele
estabelecimento comercial.
Esta alínea é apenas um indício de que pode não ter havido um
trespasse, mas que no limite tem que ser concretizado. Porque os
únicos elementos que têm que ser transmitidos na sequência do
trespasse são os que integram o âmbito mínimo de entrega do
estabelecimento comercial.

A alínea b), tal como agora é posta (que é diferente na anterior), se


houver transmissão para o exercício do ramo de comércio diverso,
aí não há dúvida alguma que não há trespasse.
Por exemplo, se eu adquiri uma mercearia, e na sequência do
contrato lá instalo uma farmácia, é obvio que o negócio que se
verificou não foi um trespasse, foi uma simples cessão da
transmissão da posição contratual de arrendatário, com o objetivo
de permitir ao transmissário a instalação de um novo
estabelecimento comercial, e não daquele que era detido pelo
arrendatário original.
Situação diversa é aquela que pode decorrer da mudança de ramo
posterior à celebração do contrato de trespasse. Ora, este nº5 só
existe para acautelar o efeito útil da alínea b) do nº2.
Por exemplo, aquilo é um restaurante e eu quero montar uma
oficina. Ora, eu para fugir à aplicação e à sanção da alínea b) do
nº2, dá-se a transmissão, cumprindo o requisito da alínea b) nº2,
todavia, 4 meses depois fecho o restaurante e instalo a minha
oficina de automóveis.
O problema é que a alteração subsequente do ramo do
estabelecimento, a menos que o contrato de arrendamento preveja
expressamente, não pode no estrito contexto do artigo 1112º CC
constituir automaticamente causa de resolução, porque é evidente
que a mudança de ramo pode indiciar que não houve a efetiva
Intenção de celebrar um trespasse, mas não é necessário que assim
seja, na verdade, podem ter ocorrido circunstâncias supervenientes
que tenham imposto a mudança de ramo, sendo certo que quando
o contrato de trespasse foi celebrado as partes tinham efetiva
intenção de adquirir o estabelecimento comercial, e nesse contexto,
a previsão do nº5 do artigo 1112º CC também não pode deixar de
ter uma natureza indiciária.
Por exemplo, A comprou um café à porta das antigas instalações
da universidade, café esse que era apenas frequentado por alunos
da universidade. De repente o dono vê-se surpreendido com a
circunstância da universidade ter mudado de instalações, ora, A
perdeu a sua clientela, não sendo possível um café ali funcionar,
mas uma oficina já seria possível, pois não dependeria da clientela
universitária.
Ora A mudou de ramo, mas A quis celebrar um trespasse, apenas
mudou de ramo devido às circunstâncias da universidade ter
mudado de sítio. Ora, não podemos constranger A, a este não ter a
possibilidade de tomar outra opção comercial com interesse na sua
própria sobrevivência.
Diferente era se no contrato de arrendamento se estipulasse que o
arrendamento seria apenas para um determinado ramo, e mesmo
assim a pessoa muda de ramo, mas não é isso que estamos a ver.

Direito Comercial da Empresa


Aula OT Dr. Ricardo Afonso
Dia 25.11.21

Arrendamento comercial

Caso prático:

A dedica-se a 10 anos ao comercio de veículos automóveis usados.


Para o efeito detém um estabelecimento comercial instalado num
prédio titulado por B.
No dia 15 de janeiro de 2021 A ainda não havia procedido ao
pagamento da renda convencionada.
De acordo com o previsto no contrato a cessação da mora pelo
atraso no pagamento de rendas impunha ao arrendatário o
pagamento de uma indemnização correspondente a 30 % do valor
em falta
a) Aprecie a validade da clausula contratual;
b) Admita que em face do incumprimento descrito B pretende
resolver o contrato de arrendamento;
c) O que pode A fazer para evitar a pretensão de B.

Resolução:

a) Esta clausula é inválida, nula, porque viola uma norma legal


imperativa, o artigo 1041º nº1 CC, pois a indemnização prevista é
de no máximo 20%.
b) A está em mora, todavia, o arrendatário pode cessar a mora nos
8 dias subsequentes, nos termos do artigo 1041º nº2 CC.
A mora verificada até decorrerem os 8 dias subsequentes ao início
da mesma, ao dia 1, é uma mora irrelevante, não produz efeitos,
não é suscetível de fundar a resolução do contrato de arrendamento.
Ou seja, a mora é irrelevante ao dia 9 de cada mês, dia 1 + 8 dias,
podendo ser mais se porventura o 9º dia for um dia não útil,
podendo ser até ao dia 10 ou dia 11.
Neste caso, estamos no dia 15, ora, pode haver resolução do
contrato. Em abstrato, a resolução pode ser judicial ou
extrajudicial. Nos termos do artigo 1084º nº 1 e 2 CC retirámos
que a resolução só é extrajudicial se estiverem previstos os casos
do nº 2 ou 3 ou 4 do artigo 1083º CC, a resolução é judicial só é
possível nos termos do artigo 1048º CC.
Nos casos do nº 3 e 4 do artigo 1083º CC, a resolução aí pode ser
feita por comunicação sem necessidade de recurso ao tribunal,
desde logo, porque o senhorio fica dispensado da prova da
inexigibilidade da manutenção – pois o nº 3 e 4 são presunções
inilidíveis – isto devido ao incumprimento ser de tal forma grave
Enquanto na ação judicial o senhorio para conseguir uma sentença
que declare resolvido o contrato tem que provar que a aquela
situação é de tal forma grave que faz com que lhe seja inexigível a
manutenção do contrato de arrendamento.
Neste caso, tendo B que recorrer a uma ação judicial para resolver
o contrato, não teria sucesso, porque este poderia não conseguir
provar que aquele simples atraso justificasse a resolução do
contrato.
c) não fez

Aula Ricardo Afonso


Dia 21.10.21
Aula OT
Empresa

A partir daqui vamos estudar alguns negócios que têm por objeto a
empresa. Alguns deles têm por objeto único exclusivo a empresa,
designadamente o trespasse e a locação de estabelecimento
comercial (também dita cessão de exploração de estabelecimento
comercial).

Ideias importantes:

A definição de empresa, saber o que é uma empresa, encontrar uma


definição de empresa é uma tarefa basicamente impossível.
A empresa é uma realidade tão dinâmica, com tantas valências,
com tantas nuances associadas que é basicamente impossível
encontrarmos um conceito unitário que valha de forma
generalizada para todas as situações e que satisfaça todos.
É uma realidade demasiado rica para ser aprisionada por um
conceito vertido pelo legislador.
A complexidade teórica da tarefa de definir a empresa é quase
inversamente proporcional à simplicidade intuitiva com que nós
conseguimos identificar uma empresa.
Uma livraria é uma empresa- um restaurante, uma fábrica de
sapatos, etc.
Se nós partirmos da observação dessas realidades, conseguimos,
sem nenhuma pretensão de rigor conceitual, adiantar um conjunto
de características que de alguma forma são comuns a todas aquelas
realidades que nós sabemos ser empresas e identificamos como
empresas.
A empresa há-de ter uma base necessariamente assente num
conjunto diverso de elementos. Uma empresa é sempre um
conjunto de variadas coisas, de natureza muito diversa- em regra,
falamos de coisas corpóreas, incorpóreas.
Vamos pensar num café básico que é uma empresa (veremos que
falar em empresa ou estabelecimento comercial é basicamente a
mesma coisa). Depois veremos que pode-se dizer que: a empresa
reporta-se essencialmente à organização produtiva interna e o
estabelecimento comercial à expressão externa dessa organização
produtiva.
A empresa há-de assentar a sua existência num conjunto diverso de
elementos de natureza distinta.
Pensemos num café:
Quais são os elementos que compõem um café? Vamos imaginar
um café que está instalado num prédio arrendado- quais são os
elementos?
Desde logo, o direito emergente do contrato de arrendamento, que
permite que o café se instale num determinado prédio sem o qual,
evidentemente não pode funcionar. O café há-de ter equipamentos-
mesas, cadeiras, máquina de café, etc- elementos essenciais ao
prosseguimento da sua atividade, pelo menos corpóreas.
O café também precisará de ter um conjunto de pessoas que lá
prestem funções e sem os quais a atividade não pode ser
desenvolvida. Há um conjunto de contratos de trabalho que
integram esta organização complexa e que também são elementos.
Este conjunto de coisas em si mesmo não é uma empresa- é só um
conjunto de coisas.
A circunstância de nós reunirmos num determinado espaço todos
os elementos corpóreos e incorpóreos, que há partida seriam
indispensáveis à constituição e ao funcionamento do café, por si só,
não permite a identificação do café e em sentido técnico, a
identificação da empresa.
Estes elementos, para constituírem um café, para constituírem uma
empresa têm que ser organizados de uma determinada forma- têm
que ser agregados e organizados por forma a que em conjunto
possam desempenhar uma determinada atividade produtiva. Esse
papel agregador, unificador é o papel do empresário. O empresário
vai pegar num conjunto de elementos de natureza diversa e vai
organizá-los de forma que eles deixem de existir como elementos
individuais e passem a fazer parte de um todo unitário.
Nesse contexto: a empresa (o estabelecimento comercial) é um
exemplo mais evidente daquilo que em direito se chama uma
universalidade de direito.
O papel interventivo do empresário, na organização dos bens e na
constituição da empresa, faz com que de repente, deixemos de ter
um conjunto desordenado de elementos diversos, para passarmos a
ter uma coisa nova- uma coisa que não se confunde com o
somatório individual de cada uma das coisas que a compõem. Esta
coisa nova que aparece e com um valor completamente
diferenciado é a empresa.
É possível vender uma empresa, e quando se vende uma empresa
não vamos estar a individualizar ou a celebrar contratos
individualizados por cada uma das coisas que a compõem. Nós
vamos celebrar um único contrato que é o contrato de trespasse,
que é o contrato pelo qual transmitimos de forma definitiva a
titularidade do estabelecimento comercial ou da empresa.
A empresa, mais do que os elementos corpóreos e incorpóreos que
a compõem, mais do que o resultado unitário do esforço
organizador do empresário, vai ser, afinal, uma realidade que
também vai ser formada por aquilo que for a sua atuação no
mercado e a capacidade de projeção que ela revele no mercado em
que se insere.
Um dos fatores fundamentais de diferenciação do valor das
empresas é sobretudo a capacidade de captação de clientela que
elas evidenciam e os níveis de faturação que estão associados à sua
exploração.
É possível falar de empresa ainda antes de ela começar a funcionar.
Eu decidi montar um restaurante para explorar- quando tenho o
restaurante pronto para abrir as portas, alguém mo pretende
comprar: eu posso vendê-lo: o produto da venda do restaurante é
um produto que vai exceder largamente aquilo que era a mera soma
do valor das coisas que a compõem- eu já transformei aquele
conjunto de coisas numa realidade nova que é um restaurante- este
é o resultado de como eu organizei e montei uma realidade
produtiva em face daquilo que era a minha pretensão e em função
dos elementos que tinha à minha disposição. O valor do restaurante
é um valor substancialmente inferior aquele que o mesmo poderia
ter se eu tivesse montado o restaurante e me tivesse dedicado com
sucesso à exploração do mesmo durante 2 anos, por exemplo. Se
dois anos volvidos, se alguém viesse ter comigo com o mesmo
propósito, e se eu demonstrasse que aquele restaurante faturava 2
milhões de euros por ano, é evidente que essa circunstância era
determinante para a avaliação do restaurante.
A empresa, independentemente do conceito que a queiramos
restringir, há-de ser sempre uma realidade composta por um
conjunto de elementos da mais diversa natureza, organizados de
uma determinada forma, com vista ao desenvolvimento de uma
atividade produtiva e que será também composta por valores de
exploração a partir do momento em que começa a funcionar.

A clientela não é um elemento do estabelecimento- o proprietário


não pode transmitir o restaurante afiançando a manutenção daquela
clientela. É um elemento que gravita em torno da existência da
empresa e que é determinante para o cálculo do valor da mesma.

É possível pensar em empresas que não sejam constituídas com


uma finalidade lucrativa.

Nota:
É usual falar-se em sociedade comercial e em empresa com o
mesmo sentido- como se fossem a mesma coisa.
Na verdade, não o são.
A empresa é uma realidade produtiva que pode ser objeto de
negócios- que pode ser transacionada. A empresa é a coisa concreta
que está afeta à produção, à prestação de serviços, ao comércio de
uma determinada realidade. A empresa é o café propriamente dito,
é o restaurante, etc.
A sociedade comercial é uma pessoa jurídica que alguém constituiu
para explorar a empresa. É a pessoa jurídica constituída por uma
ou mais pessoas físicas com o propósito de detenção e exploração
de uma empresa.
A SONAE são várias sociedades comerciais- cada uma detém uma
empresa ou várias empresas. A empresa são os múltiplos
hipermercados que eles têm- continentes são as empresas.

Nem todos os elementos integram a mesma classificação jurídica.


Falamos dos elementos do âmbito mínimo, âmbito máximo e
âmbito natural.

Elementos do âmbito máximo e do âmbito natural- negócios de


trespasse e cessão de exploração/locação
Elemento do âmbito mínimo- falamos em elementos que são
absolutamente imprescindíveis para a identificação de cada
estabelecimento comercial em concreto.
Âmbito natural são aqueles que num qualquer negócio translativo
do estabelecimento comercial se transferem naturalmente- sem
necessidade de previsão expressa.
Âmbito máximo- aqueles cuja transmissão depende de previsão
expressa.
Aula Ricardo Afonso
Dia 21.10.21
Aula OT
Empresa

A partir daqui vamos estudar alguns negócios que têm por objeto a
empresa. Alguns deles têm por objeto único exclusivo a empresa,
designadamente o trespasse e a locação de estabelecimento
comercial (também dita cessão de exploração de estabelecimento
comercial).

Ideias importantes:

A definição de empresa, saber o que é uma empresa, encontrar uma


definição de empresa é uma tarefa basicamente impossível.
A empresa é uma realidade tão dinâmica, com tantas valências,
com tantas nuances associadas que é basicamente impossível
encontrarmos um conceito unitário que valha de forma
generalizada para todas as situações e que satisfaça todos.
É uma realidade demasiado rica para ser aprisionada por um
conceito vertido pelo legislador.
A complexidade teórica da tarefa de definir a empresa é quase
inversamente proporcional à simplicidade intuitiva com que nós
conseguimos identificar uma empresa.
Uma livraria é uma empresa- um restaurante, uma fábrica de
sapatos, etc.
Se nós partirmos da observação dessas realidades, conseguimos,
sem nenhuma pretensão de rigor conceitual, adiantar um conjunto
de características que de alguma forma são comuns a todas aquelas
realidades que nós sabemos ser empresas e identificamos como
empresas.
A empresa há-de ter uma base necessariamente assente num
conjunto diverso de elementos. Uma empresa é sempre um
conjunto de variadas coisas, de natureza muito diversa- em regra,
falamos de coisas corpóreas, incorpóreas.
Vamos pensar num café básico que é uma empresa (veremos que
falar em empresa ou estabelecimento comercial é basicamente a
mesma coisa). Depois veremos que pode-se dizer que: a empresa
reporta-se essencialmente à organização produtiva interna e o
estabelecimento comercial à expressão externa dessa organização
produtiva.
A empresa há-de assentar a sua existência num conjunto diverso de
elementos de natureza distinta.
Pensemos num café:
Quais são os elementos que compõem um café? Vamos imaginar
um café que está instalado num prédio arrendado- quais são os
elementos?
Desde logo, o direito emergente do contrato de arrendamento, que
permite que o café se instale num determinado prédio sem o qual,
evidentemente não pode funcionar. O café há-de ter equipamentos-
mesas, cadeiras, máquina de café, etc- elementos essenciais ao
prosseguimento da sua atividade, pelo menos corpóreas.
O café também precisará de ter um conjunto de pessoas que lá
prestem funções e sem os quais a atividade não pode ser
desenvolvida. Há um conjunto de contratos de trabalho que
integram esta organização complexa e que também são elementos.
Este conjunto de coisas em si mesmo não é uma empresa- é só um
conjunto de coisas.
A circunstância de nós reunirmos num determinado espaço todos
os elementos corpóreos e incorpóreos, que há partida seriam
indispensáveis à constituição e ao funcionamento do café, por si só,
não permite a identificação do café e em sentido técnico, a
identificação da empresa.
Estes elementos, para constituírem um café, para constituírem uma
empresa têm que ser organizados de uma determinada forma- têm
que ser agregados e organizados por forma a que em conjunto
possam desempenhar uma determinada atividade produtiva. Esse
papel agregador, unificador é o papel do empresário. O empresário
vai pegar num conjunto de elementos de natureza diversa e vai
organizá-los de forma que eles deixem de existir como elementos
individuais e passem a fazer parte de um todo unitário.
Nesse contexto: a empresa (o estabelecimento comercial) é um
exemplo mais evidente daquilo que em direito se chama uma
universalidade de direito.
O papel interventivo do empresário, na organização dos bens e na
constituição da empresa, faz com que de repente, deixemos de ter
um conjunto desordenado de elementos diversos, para passarmos a
ter uma coisa nova- uma coisa que não se confunde com o
somatório individual de cada uma das coisas que a compõem. Esta
coisa nova que aparece e com um valor completamente
diferenciado é a empresa.
É possível vender uma empresa, e quando se vende uma empresa
não vamos estar a individualizar ou a celebrar contratos
individualizados por cada uma das coisas que a compõem. Nós
vamos celebrar um único contrato que é o contrato de trespasse,
que é o contrato pelo qual transmitimos de forma definitiva a
titularidade do estabelecimento comercial ou da empresa.
A empresa, mais do que os elementos corpóreos e incorpóreos que
a compõem, mais do que o resultado unitário do esforço
organizador do empresário, vai ser, afinal, uma realidade que
também vai ser formada por aquilo que for a sua atuação no
mercado e a capacidade de projeção que ela revele no mercado em
que se insere.
Um dos fatores fundamentais de diferenciação do valor das
empresas é sobretudo a capacidade de captação de clientela que
elas evidenciam e os níveis de faturação que estão associados à sua
exploração.
É possível falar de empresa ainda antes de ela começar a funcionar.
Eu decidi montar um restaurante para explorar- quando tenho o
restaurante pronto para abrir as portas, alguém mo pretende
comprar: eu posso vendê-lo: o produto da venda do restaurante é
um produto que vai exceder largamente aquilo que era a mera soma
do valor das coisas que a compõem- eu já transformei aquele
conjunto de coisas numa realidade nova que é um restaurante- este
é o resultado de como eu organizei e montei uma realidade
produtiva em face daquilo que era a minha pretensão e em função
dos elementos que tinha à minha disposição. O valor do restaurante
é um valor substancialmente inferior aquele que o mesmo poderia
ter se eu tivesse montado o restaurante e me tivesse dedicado com
sucesso à exploração do mesmo durante 2 anos, por exemplo. Se
dois anos volvidos, se alguém viesse ter comigo com o mesmo
propósito, e se eu demonstrasse que aquele restaurante faturava 2
milhões de euros por ano, é evidente que essa circunstância era
determinante para a avaliação do restaurante.
A empresa, independentemente do conceito que a queiramos
restringir, há-de ser sempre uma realidade composta por um
conjunto de elementos da mais diversa natureza, organizados de
uma determinada forma, com vista ao desenvolvimento de uma
atividade produtiva e que será também composta por valores de
exploração a partir do momento em que começa a funcionar.

A clientela não é um elemento do estabelecimento- o proprietário


não pode transmitir o restaurante afiançando a manutenção daquela
clientela. É um elemento que gravita em torno da existência da
empresa e que é determinante para o cálculo do valor da mesma.

É possível pensar em empresas que não sejam constituídas com


uma finalidade lucrativa.

Nota:

É usual falar-se em sociedade comercial e em empresa com o


mesmo sentido- como se fossem a mesma coisa.
Na verdade, não o são.
A empresa é uma realidade produtiva que pode ser objeto de
negócios- que pode ser transacionada. A empresa é a coisa concreta
que está afeta à produção, à prestação de serviços, ao comércio de
uma determinada realidade. A empresa é o café propriamente dito,
é o restaurante, etc.
A sociedade comercial é uma pessoa jurídica que alguém constituiu
para explorar a empresa. É a pessoa jurídica constituída por uma
ou mais pessoas físicas com o propósito de detenção e exploração
de uma empresa.
A SONAE são várias sociedades comerciais- cada uma detém uma
empresa ou várias empresas. A empresa são os múltiplos
hipermercados que eles têm- continentes são as empresas.

Nem todos os elementos integram a mesma classificação jurídica.


Falamos dos elementos do âmbito mínimo, âmbito máximo e
âmbito natural.

Elementos do âmbito máximo e do âmbito natural- negócios de


trespasse e cessão de exploração/locação
Elemento do âmbito mínimo- falamos em elementos que são
absolutamente imprescindíveis para a identificação de cada
estabelecimento comercial em concreto.
Âmbito natural são aqueles que num qualquer negócio translativo
do estabelecimento comercial se transferem naturalmente- sem
necessidade de previsão expressa.
Âmbito máximo- aqueles cuja transmissão depende de previsão
expressa.

Direito Comercial da Empresa


Aula OT Dr. Ricardo Afonso
Dia 4.11.21
Caso prático:

A detém e explora um restaurante desde 1995. Em março de 2021,


A entregou a B, para liquidação de uma divida que para com ele
mantinha, o seu estabelecimento comercial.
O estabelecimento comercial que se considera está instalado num
prédio pertencente a C.

1) Admitindo que o contrato apenas procedia à identificação do


estabelecimento, por referência à respetiva morada e ao preço pelo
qual a transmissão tinha ocorrido, explicite o destino dos seguintes
elementos e ou situações:
1.1 - Mobiliário utilizado na exploração do restaurante;
1.2 - Dividas decorrentes da exploração do restaurante;
1.3 - Posição contratual do arrendatário;
1.4 - Posição contratual dos trabalhadores;

2) Admita que a transmissão da posição de contratual do


arrendatário ocorreu sem autorização do senhorio, nem sequer lhe
tendo sido notificada. Quid Juris.

Resolução:

1) Como é que classificamos o ato que ocorreu? Como


classificamos a transmissão envolvida nesse negócio?
Estamos perante trespasse realizado através de uma dação em
pagamento.
Levanta-se a problemática do âmbito de entrega.
Âmbito de entrega:
- Âmbito mínimo – afere-se em concreto quais são os elementos
imprescindíveis à identificação do estabelecimento comercial;
- Âmbito natural – afere-se em abstrato os elementos que se
transmitem naturalmente;
- Âmbito máximo – afere-se em abstrato os elementos que só se
transmitem se houver convenção expressa nesse sentido;

Neste caso prático, está aqui em causa o âmbito natural e o âmbito


máximo, e não uma problemática relativamente ao âmbito mínimo
porque não temos nenhuma caracterização do estabelecimento
comercial que nos permita, em concreto, aferir quais são os
elementos imprescindíveis à identificação do estabelecimento
comercial.

Equipamentos e imobiliário- transmitem-se


Elementos que, mais tipicamente, integram o âmbito natural
Só em situações muito excecionais, por exemplo, o caso do café
Magestic, é que os equipamentos e os móveis integraram o âmbito
mínimo.

É evidente que num restaurante ou num café têm que ter mesas ou
cadeiras, a questão é saber se têm que ter aquelas mesas e aquelas
cadeiras.

Dívidas- pertencem ao âmbito máximo.


As dividas só se transmitem se se convencionar expressamente
nesse sentido.

Sendo o estabelecimento comercial uma coisa que está a ser


transmitida e que não tem personalidade jurídica, é evidente que as
dividas são tituladas pela pessoa jurídica que antes do trespasse
titulava o estabelecimento comercial.
Portanto, não é a transmissão da coisa que arrasta a transmissão das
dividas que o anterior proprietário contraiu no momento em que
promovia a exploração do estabelecimento comercial.

Arrendatário- âmbito natural


É muito frequente que o proprietário do estabelecimento comercial
não seja o proprietário do imóvel, mas seja apenas o arrendatário
do imóvel em que o estabelecimento comercial está instalado.

O que significa que, à partida, a transmissão da titularidade do


estabelecimento comercial vai coenvolver a transmissão da posição
contratual de arrendatário, isto é, o novo proprietário do
estabelecimento comercial, para poder continuar a explorar o
estabelecimento no imóvel em que ele se encontra instalado, vai ter
que ocupar a posição que o anterior proprietário tinha no contrato
de arrendamento relativo àquele imóvel.

Não obstante, à posição contratual de arrendatário integrar o


âmbito natural e, portanto, se transmita naturalmente, se o imóvel
pertencer ao âmbito mínimo, as partes estão impedidas de
convencionar a não transmissão da posição contratual de
arrendatário.

O que acontecerá aos trabalhadores?

Âmbito natural- há possibilidade de, sem acordo do trabalhador, as


partes excluírem essa transmissibilidade?

Ex: restaurante ser identificado pela figura do cozinheiro- âmbito


mínimo

A posição contratual dos trabalhadores pertencer ao âmbito natural


é uma forma de proteger o trabalhador, a manutenção do emprego,
nos termos do artigo 285º Código de Trabalho.
No fundo, há aqui uma forma de garantir que no meio do contrato
de trespasse as pessoas não sejam descartadas pelo novo
proprietário, a menos que se consiga fazer um acordo em que os
trabalhadores intervenham, na qual aceitam a desvinculação, e,
eventualmente, sejam devidamente indemnizados.

Pode acontecer que um determinado contrato de trabalho possa


integrar o âmbito mínimo de entrega, no sentido, por exemplo, de
um restaurante ser essencialmente identificado pela figura no
cozinheiro que nele trabalha e que é o funcionário da identidade
que detém o estabelecimento comercial, e, portanto, a aquisição do
estabelecimento pressupões necessariamente a transmissão da
posição contratual no contrato de trabalho celebrado por esse
cozinheiro.
Todavia, nada impede que o cozinheiro se desvincule da obrigação
contratual que mantém, cumprindo várias regras, por exemplo,
como a regra do pré-aviso.

2) Na sequência do contrato de trespasse, houve a transmissão da


posição de contratual do arrendatário, sem a autorização do
senhorio. Pode?
Desde logo, estamos a falar de se transmitir ao novo proprietário
do estabelecimento comercial a posição contratual do anterior
proprietário, o trespassante, tinha em relação ao contrato de
arrendamento cujo objeto é o imóvel em que o estabelecimento está
instalado.
A transmissão da posição contratual, seja em que contrato for, tem
que ser autorizada pela contraparte - artigo 424º CC - esta é uma
decorrência do princípio da autonomia da vontade privada e do
princípio da liberdade contratual.
Esta regra geral do direito das obrigações vale em particular para a
locação e para o arrendamento no artigo 1038º alínea f) CC, na qual
prescreve de forma expressa que a cessão da posição contratual seja
a que titulo for, depende da autorização do senhorio.
Todavia, no direito comercial há uma exceção muito relevante a
este propósito, que está relacionada com o contrato de trespasse, o
artigo 1112º nº1 CC, que estabelece de forma expressa que no caso
de trespasse a transmissão da posição contratual de arrendatário
não depende da autorização do senhorio.
O legislador entendeu que era mais importante, do que garantir esse
direito natural do senhorio, garantir a livre circulabilidade do
estabelecimento. E sobretudo, garantir que o senhorio não tinha
uma espécie de direito de veto em relação à livre transmissibilidade
do estabelecimento comercial. Mais do que isto, é importante dizer
também que temos que atentar no artigo 1049º do CC.
Assim sendo, nos termos do artigo 1112º nº1 CC, na sequência de
um trespasse, pode sim haver a transmissão da posição de
contratual do arrendatário, sem a autorização do senhorio. Ora, a
ausência da autorização não constituiria o fundamento da resolução
do contrato de arrendamento.
Nota: esta autorização para funcionar é necessário que exista um
trespasse.
Todavia, no que toca à locação, esta problemática da transmissão
da posição contratual de arrendatário, não suscita apenas o
problema da necessidade ou não de autorização, coloca também o
problema da comunicação ao senhorio (que não se confunde com a
notificação para exercício do direito de preferência).
A obrigação de comunicação ao senhorio da transmissão da
posição contratual de arrendatário, está prevista nos artigos 1038º
alínea g) e 1112º nº3 CC, tendo a transmissão de ser celebrada por
escrito e comunicada ao senhorio.
Não tendo, porém, o artigo 1112º nº3 CC consignado o prazo em
que a comunicação deve ser ocorrida. Uma interpretação possível
é de que a comunicação tem de ser feita do prazo de 15 dias, nos
termos do artigo 1038º alínea g) CC.

Nota: a ausência de comunicação não constituiria o fundamento da


resolução do contrato de arrendamento.

Aula OT- Ricardo Afonso


Aula 16.12.21
Locação Financeira

O contrato de locação financeira é um contrato com uma matriz


locatária- tem uma relação direta com a lógica da locação, no
sentido em que é um contrato por via do qual alguém disponibiliza
a outrem mediante retribuição a utilização de um determinado bem.
Mas, na verdade, é só no que toca a essa estrutura que a locação
financeira tem similitudes com a locação. Só a essa circunstância
deve esse nome.
A locação financeira é um contrato que, pelo menos na origem do
instrumento revela sobretudo uma vocação financeira- é a parte
financeira deste contrato que revela a natureza essencial do mesmo.
Isto é claramente um contrato financeiro, um contrato tipicamente
empresarial, tipicamente comercial, ainda que hoje em dia, o
campo de utilização da locação financeira vai para além do mundo
empresarial- foi absorvido pelas zonas não profissionais da vida
civil- hoje, por exemplo, é possível usar um contrato de locação
financeira como instrumento de financiamento do consumo. Na
origem não era essa e a vocação não é essa- a vocação é tipicamente
empresarial, tipicamente comercial.
Locação financeira como um instrumento de financiamento das
empresas.
Qual é a lógica de financiamento que está associada a este contrato?
A ideia é esta ou a ideia foi esta em meados do século XX quando
este instrumento contratual começou a ser desenvolvidos nos EUA.
Começou a perceber-se que não era uma medida de gestão
adequada afetar um excesso de liquidez à aquisição de bens de
equipamento. No fundo, a lógica da utilização dos bens estava
necessariamente ligada à qualidade de proprietária dos mesmos.
Se uma empresa pretendia utilizar um determinado equipamento
industrial estava condenado a adquiri-lo. Ao fazê-lo hipotecava de
modo violento, digamos assim, a sua disponibilidade financeira, a
sua capacidade de tesouraria. A locação financeira vem permitir
uma lógica alternativa de financiamento para obter a
disponibilidade do bem sem que, para o efeito, a empresa necessite
de afetar toda a liquidez que seria necessário afetar à aquisição do
mesmo.
É preciso comprar, por exemplo, uma máquina nova para manter
um nível de competitividade alto na exploração da minha empresa.
Eu em vez de comprar essa máquina que é caríssima, seria um
investimento brutal, eu vou ter com o meu banco, digo-lhe que eu
preciso daquela máquina, o banco compra a máquina sob o
compromisso de a seguir mo alugar. No fundo, eu todos os meses
vou pagar uma renda que se destina a amortizar o investimento do
banco e a remunerar o banco pelo capital disponibilizado para a
aquisição. O que é suposto é que a utilização daquele bem vá
providenciando rendimentos que permitam suportar o encargo
mensal decorrente da celebração do contrato.
É um instrumento de financiamento alternativo ao crédito
hipotecário, com a particularidade que a garantia da entidade
financiadora é maior do que aquela que ocorre no crédito
hipotecário. Neste contexto, a garantia é constituída pelo próprio
direito de propriedade.
Daqui resulta uma característica absolutamente essencial da
regulação fundamental deste contrato- assunção inequívoca de que
na locação financeira, a propriedade do banco não tem outra função
que essa função de garantia.
Na verdade, é o banco o proprietário juridicamente falando, mas
essa propriedade não desempenha outro papel que não seja o de
garantir o reembolso do capital utilizado para a aquisição do
equipamento.
Na verdade, para todos os efeitos, quem é tratado como proprietário
por parte do quadro regulatório da locação financeira é o locatário-
é o locatário que tem todas as responsabilidades associadas à
qualidade de proprietário e é o locatário que tem todas as
prerrogativas inerentes à qualidade de proprietário. A intervenção
do banco é precisamente: resume-se apenas à função de
financiador.
O banco limita-se a adquirir por conta e no interesse do locatário,
o bem que o locatário escolhe. Financia a aquisição. A qualidade
de proprietário económico é sempre reconhecida ao locatário.
O proprietário, ao contrário do que acontece na locação, não
responde pelos vícios ou deterioração da coisa, ou por inaptidão da
coisa- o proprietário nada teve que ver com a respetiva escolha.
Se o bem deixar de funcionar, ao contrário do que aconteceria na
locação, o locatário é obrigado a continuar a pagar as rendas. O
risco corre pelo risco do locatário, ao contrário do que sucede na
locação.
Há uma estrutura específica.
No artigo 1º do DL há elementos imprescindíveis para que um
determinado contrato possa ser qualificado como contrato de
locação financeira. Desde logo, é sempre necessário uma lógica
triangular, no sentido em que a montante do contrato de locação
financeira propriamente dito, tem sempre que existir um contrato
de fornecimento ou um contrato de empreitada- o bem que é objeto
da locação financeira tem que ser previamente fornecido ou
construído por uma entidade escolhida pelo locatário. Há sempre
um contrato que antecede o entabulamento formal do
relacionamento comercial entre o banco e o locatário financeiro.
Sendo certo que esse caráter triangular é imprescindível, não é
absolutamente necessário que tenhamos três personagens
diferentes a ocupar os três vértices do triangulo- dois desses
vértices podem ser ocupados pelo próprio locatário. Nessa
modalidade específica de locação financeira de que se fala é que
ainda fica mais evidente o carater financeiro do contrato.
É muito comum fazer-se isto: uma determinada entidade
imaginemos uma construtora está a desenvolver a sua atividade. De
repente apresenta-se com dificuldades de tesouraria. O que é que
pode fazer? Obviamente é uma das possibilidades- outras há para
se poder financiar. Vamos admitir que tem uma grua desonerada
de valor muito substancial que vale 1.000000 de euros- ela pode
chegar ao Banco, pode pedir ao banco que lhe compre a grua com
o compromisso de o banco lha aluguer de seguida. Isto é conhecido
como a locação financeira restitutiva. É o próprio locatário que
também desempenha a função de fornecedor do bem que vai ser
dado na locação.
Nesta modalidade de locação financeira, não há dúvida alguma que
a locação financeira se desmarca de forma radical da lógica da
locação- a locação visa em primeira linha garantir a disponibilidade
de um bem contra retribuição. Na locação financeira restitutiva,
esse não é o objetivo porque a disponibilidade do bem já o locatário
tinha antes de celebrar a locação financeira. O que evidentemente
se pretendeu com esta modalidade era obtenção de financiamento.
Tudo isto, digamos, tem uma lógica própria.
Solução consagrada no artigo 13º- o locador, que é o banco, não
responde por vícios ou inaptidão da coisa. O que significa que o
locatário, para não incumprir a locação financeira tem que
continuar a pagar as rendas. Mas, o fornecedor do bem, pode
responder pelo vício que a coisa evidencie.
Quem é que comprou o bem ao fornecedor? O banco- em bom
rigor, quem tem legitimidade para invocar um vício que a coisa
venha a apresentar perante o fornecedor é obviamente o banco. Só
que o banco não tem interesse nenhum em fazê-lo. A única pessoa
que tem interesse em reagir contra o vício da coisa é o locatário.
Mas, o problema é que o locatário não estabeleceu relação jurídica
alguma com o fornecedor- há partida, estaria impedido de reagir
contra o fornecedor em relação à temática do vício que a coisa
apresente. A lei soluciona o assunto, permitindo ao locatário
exercer contra o fornecedor todos os direitos que há partida
poderiam ser exercidos pelo proprietário, pelo locador, pela
entidade que lhe adquirir o bem.
A outra característica que marca o DL é: a opção de compra, no
fim.
Artigos 12º, 13º- são importantes.

Direito Comercial da Empresa


Aula OT Dr. Ricardo Afonso
Dia 28.10.21

O âmbito de entrega tem que ver com a composição do


estabelecimento e com aquilo que tem que ser entregue na
sequência de um negócio que transfira a titularidade definitiva ou
temporariamente do estabelecimento comercial.

Esta temática só pode-se explorar-se de forma conveniente por


referência aos negócios que precisamente operam a transmissão da
titularidade do estabelecimento comercial, a saber:
- Trespasse:

É a fórmula contratual que engloba todas as concretas modalidades


de transmissão inter vivos, definitiva, onerosa ou gratuita, do
estabelecimento comercial.

Exemplos:
- A compra e venda (modalidade mais frequente de trespasse);
- A doação;
- A dação em pagamento (é o pagamento de uma dívida através da
entrega de um determinado bem, ora, trespasso o meu
estabelecimento comercial para o pagamento de uma divida);
-a entrada para uma sociedade comercial em espécie precisamente
através de um estabelecimento comercial (a constituição de uma
sociedade comercial pressupõe que os sócios realizem entradas,
em regra, que transfiram para a sociedade dinheiro para
realizarem o chamado capital social, mas na verdade, a realização
das entradas não tem, necessariamente, de ser feita em
dinheiro, pode ser feita através de qualquer bem suscetível de
avaliação pecuniária, designadamente, através de um
estabelecimento comercial. Ora, eu transfiro para a sociedade o
meu estabelecimento comercial, em troca de uma participação que
vou ter no capital social da mesma. E realizei por esse via a minha
entrada na sociedade e nessa decorrência foi-me atribuída uma
participação no capital social dessa sociedade).

A aquisição sucessória do estabelecimento, na sequência da morte


de alguém, ou seja, a transmissão não voluntária, não é um
trespasse.

- Locação de Estabelecimento Comercial:

Corresponde a um contrato pela via do qual alguém, contra


retribuição (onerosa), transfere para outrem a exploração do
estabelecimento comercial de forma temporária.
A locação não pode ser gratuita.
Atenção:

A é proprietário de um imóvel, na qual arrenda o imóvel a B, e B e


C celebram um contrato de locação para a exploração do
estabelecimento comercial, quem é o arrendatário do imóvel é B.
Neste caso, estamos perante dois contratos de locação que se
sobrepõe, temos um contrato de locação entre B e C cujo objeto é
o estabelecimento comercial, e temos um contrato de locação, entre
A e B, mais propriamente, um contrato de arrendamento, cujo
objeto é o imóvel.
Ora, se B locar o estabelecimento por um período de dois anos a C,
durante esse período, B mantém a qualidade de arrendatário do
imóvel.
O locatário do estabelecimento apenas terá, em relação ao imóvel,
um direito de disponibilidade sobre o mesmo, porque é este que o
está a usar.
Ao contrário do trespasse, não obstante a não haver da transmissão
da posição contratual de arrendatário na locação, é necessário haver
a comunicação, isto para que o senhorio saiba a que titulo é que há
uma nova pessoa a utilizar o seu imóvel.
Por exemplo, A celebra um contrato de arrendamento com B, na
qual este lhe paga a renda, e A quando chega ao seu imóvel, vê o
seu imóvel a ser utilizado por C. Ora, é necessário que B
comunique ao senhorio.

Em qualquer destas figuras contratuais, estou obrigada a proceder


à entrega do estabelecimento comercial, devido à entrega ser uma
consequência natural da celebração destes contratos, seja no
trespasse, porque se transmite a titularidade definitiva, seja na
locação, onde se cede exploração por um período, conforme tenha
sido contratualizado.

A questão do âmbito de entrega tem a ver com a definição dos


elementos cuja transferência ocorre quando o trespasse se realiza,
porque não é absolutamente necessário que a transmissão da
empresa envolva a transmissão de todos os elementos que a
compõem. Daí a problemática do chamado âmbito de entrega e dos
múltiplos âmbitos do estabelecimento comercial.

Ou seja, relativamente a um telemóvel, por exemplo, que é uma


coisa com uma configuração simples, em que a entrega ou não
entrega era óbvia, aqui, não é possível levantar a questão filosófica
relativamente ao cumprimento ou não da obrigação de entrega
decorrente da celebração de um contrato que implique a entrega do
telemóvel.

Já relativamente a um estabelecimento comercial, a questão é


diferente, pois devido à sua plasticidade, pode permitir que em cada
caso concreto se levantem dúvidas:
1º em relação ao conjunto dos elementos que na sequência do
trespasse ou acessão de exploração, têm que ser entregues ao novo
titular; ou
2º se na verdade, não obstante a entrega de algumas coisas, se
essa entrega consubstanciou, na verdade, a entrega de um
estabelecimento comercial.

Ora, é fácil concluir que a transmissão e a entrega do


estabelecimento, podem não coenvolver a entrega de todos os
elementos que o compõem, desde logo, é possível que as partes
negoceiem contratualmente os limites desse âmbito de entrega, ou
seja, negociar quais os elementos que vão acompanhar essa
entrega.

Todavia, essa liberdade contratual não é total, porque alguns


elementos integram o âmbito mínimo do estabelecimento
comercial, ou seja, alguns elementos são absolutamente
imprescindíveis para a identificação do estabelecimento, que é
objeto do negócio que estamos a celebrar.

Os elementos do âmbito mínimo só são suscetíveis de ser


identificados em concreto, por referência a um determinado
estabelecimento comercial, quer isto dizer que não é possível em
abstrato definirmos os elementos do âmbito mínimo dos
estabelecimentos comerciais, pois dependendo do estabelecimento
comercial, os elementos variam, pois, cada estabelecimento
comercial, em face da sua especifica configuração, há de ser
identificado por um conjunto essencial e diversificado de
elementos.
Se, porventura, algum desses elementos não for entregue isso à de
querer significar que na verdade aquele negócio não está a
proporcionar a transmissão de um estabelecimento comercial,
sendo certo que essa consequência pode ser:
- Puramente casual, em face da forma que o negócio foi
configurado e do pouco rigor que essa configuração; ou
- Decisão premeditada das partes, com o objetivo de obterem
uma qualquer vantagem indevida, por exemplo, num trespasse que
estão a simular.

Por exemplo, a transmissão da posição contratual, seja em que


contrato for, depende sempre da autorização da contraparte, nos
termos do artigo 424º CC. Essa regra geral, para o contrato de
locação, é confirmada, pelo artigo 1038º alinea f) CC, ora a
transmissão da posição contratual de arrendatário, no caso de
arrendamento, não prescinde da autorização da parte do senhorio.
Todavia, nos termos do artigo 1112º CC, é dispensada a
necessidade de autorização do senhorio, para a transmissão da
posição contratual de arrendatário no caso de trespasse, isto para se
garantir a livre circulabilidade do estabelecimento comercial e para
evitar que o senhorio, por essa via indireta, tenha uma espécie de
direito de veto em relação à possibilidade do trespasse ocorrer.
Esta é uma situação muito violenta para o senhorio, pois este pode
ver-se na contingência de ter como arrendatário alguém de quem
não gosta e não confia, com quem nunca teria contratado.
Mas a lei acha preferível garantir a livre circulabilidade da
empresa, como um interesse ligado ao mundo empresarial
fundamental, do que salvaguardar as legitimas espectativas do
senhorio.
Esta norma era muito importante, porque os contratos de
arrendamento antigos até 2006 gozavam de uma característica
muito particular, que era a características do vinculismo, esta
característica decorria da circunstância de o senhorio não se poder
opor à renovação do contrato, ora, no que ao senhorio respeitava, o
contrato de arrendamento tinha uma natureza tendencialmente
interna, portanto, no âmbito do trespasse, era possível transmitir
essa posição contratual de arrendatário sem autorização do
senhorio, o que permitia que existissem contratos de arrendamento
antigos cujas rendas eram absolutamente desproporcionais em
relação aos imóveis que eram objetos dos contratos.
O que acontecia antes da existência desta norma era que a
transmissão da posição contratual do arrendatário dependia de
autorização do senhorio, ora, o senhorio só autorizava se as partes
aceitassem atualizar a renda para valores justos, assim sendo, o que
daí decorria era que muitas vezes o suposto trespassário, ou seja, o
suposto adquirente do estabelecimento comercial, não tinha de
facto o interesse na aquisição do estabelecimento comercial, o que
ele tinha interesse era na possibilidade de utilizar naquelas
condições o imóvel em que aqueles estabelecimento comercial
estava instalado, para lá poder instalar outro, e daí que muitas vezes
se simulassem trespasses para se beneficiar desta regra que
dispensava a autorização do senhorio para que a transmissão
ocorresse e era por isso que muitas vezes aquilo que se entregava
na sequência desse negócio não era um verdadeiro estabelecimento
comercial, muitas vezes por violação dos limites que determinavam
o âmbito mínimo de entrega do estabelecimento comercial.
Estamos perante uma simulação relativa, temos o negócio
simulado que é o trespasse, e um negócio dissimulado, que é a
transmissão da posição contratual de arrendatário, o negócio que as
partes escondem. O negócio simulado é nulo, e o negócio
dissimulado só é válido se respeitar a forma, e neste caso, não
respeita, é inválido, porque dependia da autorização do senhorio, e
a autorização não foi obtida, porque o objetivo de tudo isto era
escapar à necessidade de autorização.
É ao redor destes problemas que a questão do âmbito mínimo se
coloca, isto é, não há dúvidas de que quando se celebra um qualquer
destes negócios é absolutamente imprescindível garantir-se que se
entrega na verdade o estabelecimento comercial. E, entregar o
estabelecimento comercial parece uma coisa óbvia, mas que não é
assim tão óbvio porque às vezes entregam-se um conjunto de coisas
que até parecem o estabelecimento comercial, mas que não o são,
por falta de alguns dos elementos que compõem o âmbito mínimo
do estabelecimento comercial.
O âmbito de entrega tem que ver com a composição do
estabelecimento e com aquilo que tem que ser entregue na
sequência de um negócio que transfira a titularidade definitiva ou
temporariamente do estabelecimento comercial.

Esta temática só pode-se explorar-se de forma conveniente por


referência aos negócios que precisamente operam a transmissão da
titularidade do estabelecimento comercial, a saber:

- Trespasse:

É a fórmula contratual que engloba todas as concretas modalidades


de transmissão inter vivos, definitiva, onerosa ou gratuita, do
estabelecimento comercial.
Exemplos:

- A compra e venda (modalidade mais frequente de trespasse);


- A doação;
- A dação em pagamento (é o pagamento de uma dívida através da
entrega de um determinado bem, ora, trespasso o meu
estabelecimento comercial para o pagamento de uma divida);
-A entrada para uma sociedade comercial em espécie precisamente
através de um estabelecimento comercial (a constituição de uma
sociedade comercial pressupõe que os sócios realizem entradas,
em regra, que transfiram para a sociedade dinheiro para
realizarem o chamado capital social, mas na verdade, a realização
das entradas não tem, necessariamente, de ser feita em
dinheiro, pode ser feita através de qualquer bem suscetível de
avaliação pecuniária, designadamente, através de um
estabelecimento comercial. Ora, eu transfiro para a sociedade o
meu estabelecimento comercial, em troca de uma participação que
vou ter no capital social da mesma. E realizei por esse via a minha
entrada na sociedade e nessa decorrência foi-me atribuída uma
participação no capital social dessa sociedade).

A aquisição sucessória do estabelecimento, na sequência da morte


de alguém, ou seja, a transmissão não voluntária, não é um
trespasse.

- Locação de Estabelecimento Comercial:

Corresponde a um contrato pela via do qual alguém, contra


retribuição (onerosa), transfere para outrem a exploração do
estabelecimento comercial de forma temporária.

A locação não pode ser gratuita.


Atenção:
A é proprietário de um imóvel, na qual arrenda o imóvel a B, e B e
C celebram um contrato de locação para a exploração do
estabelecimento comercial, quem é o arrendatário do imóvel é B.
Neste caso, estamos perante dois contratos de locação que se
sobrepõe, temos um contrato de locação entre B e C cujo objeto é
o estabelecimento comercial, e temos um contrato de locação, entre
A e B, mais propriamente, um contrato de arrendamento, cujo
objeto é o imóvel.
Ora, se B locar o estabelecimento por um período de dois anos a C,
durante esse período, B mantém a qualidade de arrendatário do
imóvel.
O locatário do estabelecimento apenas terá, em relação ao imóvel,
um direito de disponibilidade sobre o mesmo, porque é este que o
está a usar.
Ao contrário do trespasse, não obstante a não haver da transmissão
da posição contratual de arrendatário na locação, é necessário haver
a comunicação, isto para que o senhorio saiba a que titulo é que há
uma nova pessoa a utilizar o seu imóvel.
Por exemplo, A celebra um contrato de arrendamento com B, na
qual este lhe paga a renda, e A quando chega ao seu imóvel, vê o
seu imóvel a ser utilizado por C. Ora, é necessário que B
comunique ao senhorio.

Em qualquer destas figuras contratuais, estou obrigada a proceder


à entrega do estabelecimento comercial, devido à entrega ser uma
consequência natural da celebração destes contratos, seja no
trespasse, porque se transmite a titularidade definitiva, seja na
locação, onde se cede exploração por um período, conforme tenha
sido contratualizado.

A questão do âmbito de entrega tem a ver com a definição dos


elementos cuja transferência ocorre quando o trespasse se realiza,
porque não é absolutamente necessário que a transmissão da
empresa envolva a transmissão de todos os elementos que a
compõem. Daí a problemática do chamado âmbito de entrega e dos
múltiplos âmbitos do estabelecimento comercial.

Ou seja, relativamente a um telemóvel, por exemplo, que é uma


coisa com uma configuração simples, em que a entrega ou não
entrega era óbvia, aqui, não é possível levantar a questão filosófica
relativamente ao cumprimento ou não da obrigação de entrega
decorrente da celebração de um contrato que implique a entrega do
telemóvel.
Já relativamente a um estabelecimento comercial, a questão é
diferente, pois devido à sua plasticidade, pode permitir que em cada
caso concreto se levantem dúvidas:
1º em relação ao conjunto dos elementos que na sequência do
trespasse ou acessão de exploração, têm que ser entregues ao novo
titular; ou
2º se na verdade, não obstante a entrega de algumas coisas, se
essa entrega consubstanciou, na verdade, a entrega de um
estabelecimento comercial.

Ora, é fácil concluir que a transmissão e a entrega do


estabelecimento, podem não coenvolver a entrega de todos os
elementos que o compõem, desde logo, é possível que as partes
negoceiem contratualmente os limites desse âmbito de entrega, ou
seja, negociar quais os elementos que vão acompanhar essa
entrega.

Todavia, essa liberdade contratual não é total, porque alguns


elementos integram o âmbito mínimo do estabelecimento
comercial, ou seja, alguns elementos são absolutamente
imprescindíveis para a identificação do estabelecimento, que é
objeto do negócio que estamos a celebrar.

Os elementos do âmbito mínimo só são suscetíveis de ser


identificados em concreto, por referência a um determinado
estabelecimento comercial, quer isto dizer que não é possível em
abstrato definirmos os elementos do âmbito mínimo dos
estabelecimentos comerciais, pois dependendo do estabelecimento
comercial, os elementos variam, pois, cada estabelecimento
comercial, em face da sua especifica configuração, há de ser
identificado por um conjunto essencial e diversificado de
elementos.
Se, porventura, algum desses elementos não for entregue isso à de
querer significar que na verdade aquele negócio não está a
proporcionar a transmissão de um estabelecimento comercial,
sendo certo que essa consequência pode ser:
- Puramente casual, em face da forma que o negócio foi
configurado e do pouco rigor que essa configuração; ou
- Decisão premeditada das partes, com o objetivo de obterem uma
qualquer vantagem indevida, por exemplo, num trespasse que estão
a simular.

Por exemplo, a transmissão da posição contratual, seja em que


contrato for, depende sempre da autorização da contraparte, nos
termos do artigo 424º CC. Essa regra geral, para o contrato de
locação, é confirmada, pelo artigo 1038º alinea f) CC, ora a
transmissão da posição contratual de arrendatário, no caso de
arrendamento, não prescinde da autorização da parte do senhorio.
Todavia, nos termos do artigo 1112º CC, é dispensada a
necessidade de autorização do senhorio, para a transmissão da
posição contratual de arrendatário no caso de trespasse, isto para se
garantir a livre circulabilidade do estabelecimento comercial e para
evitar que o senhorio, por essa via indireta, tenha uma espécie de
direito de veto em relação à possibilidade do trespasse ocorrer.
Esta é uma situação muito violenta para o senhorio, pois este pode
ver-se na contingência de ter como arrendatário alguém de quem
não gosta e não confia, com quem nunca teria contratado.
Mas a lei acha preferível garantir a livre circulabilidade da
empresa, como um interesse ligado ao mundo empresarial
fundamental, do que salvaguardar as legitimas espectativas do
senhorio.
Esta norma era muito importante, porque os contratos de
arrendamento antigos até 2006 gozavam de uma característica
muito particular, que era a características do vinculismo, esta
característica decorria da circunstância de o senhorio não se poder
opor à renovação do contrato, ora, no que ao senhorio respeitava, o
contrato de arrendamento tinha uma natureza tendencialmente
interna, portanto, no âmbito do trespasse, era possível transmitir
essa posição contratual de arrendatário sem autorização do
senhorio, o que permitia que existissem contratos de arrendamento
antigos cujas rendas eram absolutamente desproporcionais em
relação aos imóveis que eram objetos dos contratos.
O que acontecia antes da existência desta norma era que a
transmissão da posição contratual do arrendatário dependia de
autorização do senhorio, ora, o senhorio só autorizava se as partes
aceitassem atualizar a renda para valores justos, assim sendo, o que
daí decorria era que muitas vezes o suposto trespassário, ou seja, o
suposto adquirente do estabelecimento comercial, não tinha de
facto o interesse na aquisição do estabelecimento comercial, o que
ele tinha interesse era na possibilidade de utilizar naquelas
condições o imóvel em que aqueles estabelecimento comercial
estava instalado, para lá poder instalar outro, e daí que muitas vezes
se simulassem trespasses para se beneficiar desta regra que
dispensava a autorização do senhorio para que a transmissão
ocorresse e era por isso que muitas vezes aquilo que se entregava
na sequência desse negócio não era um verdadeiro estabelecimento
comercial, muitas vezes por violação dos limites que determinavam
o âmbito mínimo de entrega do estabelecimento comercial.
Estamos perante uma simulação relativa, temos o negócio
simulado que é o trespasse, e um negócio dissimulado, que é a
transmissão da posição contratual de arrendatário, o negócio que as
partes escondem. O negócio simulado é nulo, e o negócio
dissimulado só é válido se respeitar a forma, e neste caso, não
respeita, é inválido, porque dependia da autorização do senhorio, e
a autorização não foi obtida, porque o objetivo de tudo isto era
escapar à necessidade de autorização.
É ao redor destes problemas que a questão do âmbito mínimo se
coloca, isto é, não há dúvidas de que quando se celebra um qualquer
destes negócios é absolutamente imprescindível garantir-se que se
entrega na verdade o estabelecimento comercial. E, entregar o
estabelecimento comercial parece uma coisa óbvia, mas que não é
assim tão óbvio porque às vezes entregam-se um conjunto de coisas
que até parecem o estabelecimento comercial, mas que não o são,
por falta de alguns dos elementos que compõem o âmbito mínimo
do estabelecimento comercial.

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