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Copyright:
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS) 2020
Créditos:
Presidente:
Marina Grossi
Coordenação do projeto:
Kelly Lima e Matheus Zanon / CEBDS
Edição de conteúdo:
Tatiana Maia Lins / Makemake
Co-edição:
Marcelo Vieira / Approach
Pesquisas e conteúdo:
Tatiana Maia Lins / Makemake e Marcelo Vieira / Approach
Artigos:
Gilberto Scofield (Lupa), Silvana Gontijo (Planetapontocom),
Andréia Coutinho Louback (Instituto Clima e Sociedade) e
Karla de Melo (Diversa)
Projeto gráfico:
IG+ Comunicação Integrada
Onde estamos
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Guia de Comunicação e Sustentabilidade 5
Sumário
Sobre o Carta da
Prefácio | 09
CEBDS | 06 presidente | 07
Primeira parte:
Comunicação e Segunda parte:
Introdução | 12
sustentabilidade O desafio da prática | 28
hoje | 14
Terceira parte:
Comunicação da
Sustentabilidade e Linha do Tempo | 80 Agradecimentos | 93
para Sustentabilidade
| 48
6 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Sobre o CEBDS
O
Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)
é uma associação civil sem fins lucra-
tivos que promove o desenvolvimento susten-
tável nas empresas que atuam no Brasil, por
meio da articulação junto aos governos e a
sociedade civil, além de divulgar os conceitos
e práticas mais atuais do tema. A instituição
foi fundada em 1997 por um grupo de grandes
empresários brasileiros atento às mudanças e
oportunidades que a sustentabilidade trazia,
principalmente a partir da Rio 92.
Hoje reúne cerca de 60 dos maiores gru-
pos empresarias do país, com faturamento
equivalente a cerca de 45% do PIB e res-
ponsáveis por mais de um milhão de empre-
gos diretos. Representa no Brasil a rede do
World Business Council for Sustainable Deve-
lopment (WBCSD), que conta com quase 60
conselhos nacionais e regionais em 36 paí-
ses, atuando em 22 setores industriais, além
de contar com 200 grupos empresariais que
atuam em todos os continentes.
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 7
Carta da presidente
C
inquenta anos separam o lançamento para agir ou influenciar políticas públicas que
dessa publicação da criação do “Dia da efetivamente tragam soluções de impacto.
Terra”, em abril de 1970. À época, o se-
nador norte-americano Gaylord Nelson criou A comunicação está no cerne dos temas da
a homenagem ao planeta, buscando desper- sustentabilidade e é ela quem expõe a nar-
tar a consciência ambiental na sociedade, e rativa de educação e/ou sedução do público
o movimento atraiu 20 milhões de pessoas às para a temática, por meio da divulgação de
ruas para pedir ações imediatas junto a go- ações empresariais, novas políticas, denún-
vernos e grandes empresas que promoves- cias, coberturas de tragédias, e principal-
sem o desenvolvimento sustentável. mente dando visibilidade para as inovações
que passarão da vanguarda ao modismo e à
Na sequência, uma série de movimentos de- referência histórica.
sencadeou ações e programas que nos trou-
xeram hoje uma maior consciência global em
relação ao meio ambiente e às implicações
sociais que dele decorrem. Fato indissociável
é que a conscientização da sociedade sobre
um problema passa diretamente sobre a for-
ma como esse tema é contado, ganha visibili-
“A comunicação está
dade e se espalha. No centro dessa ação está
a Comunicação, seja via mídia tradicional, ou no cerne dos temas da
mais recentemente via mídias sociais, e ain-
da a clássica e imprescindível comunicação sustentabilidade e é ela
direta com funcionários, comunidade, auto-
ridades, enfim, todas as partes interessadas. quem expõe a narrativa
Um estudo científico, uma publicação, dados
técnicos, um posicionamento, debates, en- de educação e/ou
trevistas ou uma foto impactante. A visibilida-
de que esse tema ganha, seja no burburinho,
no boca-a-boca, seja na cobertura da grande
sedução do público
mídia, seja na viralização das redes sociais, é
a responsável pela mudança dramática na for- para a temática”
ma de entender o problema, decodificar suas
causas e consequências e tirar conclusões
8 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Especialmente neste momento em que es- nem mesmo o Acordo de Paris, agora em vias
távamos finalizando o Guia de Comunicação, de implementação efetiva. Antes isso, a revi-
também fomos abalroados pela pandemia são se fez necessária, por compreendermos
provocada pela Covid-19, e mais uma vez a a importância que esta publicação possui
Comunicação faz a diferença, transmitindo tanto para a Academia, quanto na prática do
a informação correta à sociedade, divulgan- dia a dia das áreas de comunicação corpo-
do os parâmetros científicos de segurança e rativa. Também fomos além e buscamos en-
desfazendo boatos, além de ser o elo entre tender o que falta para engajar ainda mais os
as empresas que estão promovendo campa- temas correlatos à sustentabilidade na pauta
nhas de apoio e as instituições que represen- diária da mídia tradicional. Fizemos entre-
tam populações vulneráveis. É por meio da vistas qualitativas com nomes representa-
Comunicação que essa pandemia ganha um tivos, aplicamos questionários a empresas
aspecto único em toda a história mundial das associadas ou não ao CEBDS. Contamos com
pestes que a antecederam, por possibilitar a parceiros importantes na construção de cada
troca de experiências online entre a comuni- parágrafo, pensando sempre em transmitir a
dade científica do mundo todo, com o acom- informação com conteúdo relevante e com
panhamento público e transparente. E é por capacidade efetiva de transformar e renovar
meio da comunicação – empresarial, jornalís- essa cobertura.
tica, científica, informal – que o mundo está
estabelecendo as relações entre a atual cri- A comunicação, o ato de comunicar, já traz
se e temas tão relativos à sustentabilidade, e sua função máxima descrita em sua própria
que já nos preocupam há anos, como a falta etimologia: do Latim communicare, “usar em
de saneamento básico para todos, a desigual- comum, partilhar”. Pois que sejam partilha-
dade social extrema, dentre outros. das todas as informações para o bem comum
e que, a partir delas, seja construído, com a
Dez anos atrás, quando lançamos a primei- experiência dos erros, o sucesso dos acertos,
ra edição deste Guia, não tínhamos ainda os os bons exemplos e os novos projetos, um fu-
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e turo sustentável.
Marina Grossi
Presidente do
CEBDS
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 9
U
ma maneira de pensar radicalmente formas como geramos riqueza, produzimos,
a comunicação e os seus processos é distribuímos e consumimos em nossas casas,
afirmar que o mundo é narrativa. Nar- pensadas na dimensão planetária e cotidiana.
rativa entendida aqui em todas as suas for-
Casa, que em uma abordagem aristotélica, é
mas de expressão: a oral, a impressa, a visual,
a sensorial. Narrativa construída de sons, vista como um anjo da humanidade e de cada
palavras, imagens e sensações. Narrativa de ser humano, hoje, em todas as suas dimen-
tudo aquilo que é percebido e atravessa os sões e perfis étnicos e etários, e de gênero.
nossos sentidos. Uma narrativa-mundo, que
tem a intenção – por isto discurso – de trans- Em 2009, com o sentido de promover o en-
formar o percebido em vivido. Um vivido que tendimento do tema da Sustentabilidade, o
se expressa em memória e experiência. CEBDS lançava o primeiro Guia de Comunica-
ção e Sustentabilidade, no qual eu tive a hon-
Memória e experiência, essa dualidade pode-
ra de escrever o prefácio. No texto, falávamos
rosa de um ser humano, que pensa, a partir
sobre alguns dos desafios que o mundo con-
do presente, o mundo e suas relações com
trastante enfrentava, tais como a quantidade
outros seres sencientes ou não: animais, ve-
alarmante de um bilhão de famélicos, a imi-
getais, minerais. Buscar e conservar rela-
nência da falta de água doce e a quantidade
ções equilibradas entre nós e as dimensões
latente de produção de lixo gerada – possibi-
elementares – a água, o fogo, o ar e a terra –
lidades concretas de inviabilização da nossa
de nosso mundo é parte importante de uma
espécie. Hoje, pouco mais de 10 anos depois,
definição de Sustentabilidade.
as evidências complicaram-se. Enfrenta-
O desafio de comunicar efetivamente a Sus- mos nestes dias uma crise de saúde global,
tentabilidade para todos os seres humanos, a pandemia do Covid-19, um dos frutos en-
vistos aqui como beneficiários de uma rela- venenado, de nossa relação com o ambiente,
ção equilibrada com outros viventes, trans- que reforça a necessidade de mudarmos os
forma os comunicadores e os seus artefatos rituais de acesso aos recursos naturais, aos
– principalmente as narrativas – em protago- rituais de produção, consumo e distribuição
nistas estratégicos na mediação entre o que de bens. O Covid-19 além de frear a economia
a ciência, a tecnologia, a sociedade civil e o global, paralisando as cadeias de produção de
conhecimento tradicional têm a dizer, feito e riqueza da maioria dos segmentos econômi-
debatido sobre temas, dentre outros, como a cos centrais, provocou mudanças radicais em
mudança do clima e as suas relações com as rituais milenares como os da comensalidade,
10 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
do festejar, da aprendizagem e do luto. O que para uso comum continua em eminência, mas
é um ser humano que não convive, não come- também a poluição do ar tem sido uma grande
mora vitórias e transições, não aprende e não ameaça à saúde humana. Quase 6,5 milhões
transmite conhecimentos, não chora as suas de mortes por ano são atribuídas à má quali-
perdas? Neste contexto trágico, a Comunica- dade do ar. O Brasil é o terceiro país no mundo
ção Empresarial se aproximou fortemente de que mais lixo gera. São quase 220 milhões de
interfaces importantes para a superação de toneladas/dia, o que significa pouco mais de 1
adversidades e o entendimento do mundo, quilo diário por pessoa.
como a Antropologia e as Ciências Sociais e
Mais de 45 milhões de pessoas em todo o
Políticas. E o comunicador empresarial tem
mundo estão sujeitas a alguma forma de es-
se firmado como um protagonista decisivo
cravidão moderna e para complicar nosso
para a consolidação social e de mercado de
cenário, vivemos uma séria crise humanitá-
imagens e reputações consistentes e boas de
ria do século - em 2019, o número de pessoas
empresas, de seus gestores e integrantes. Na
deslocadas de seus países fugindo de per-
atualidade, o Comunicador Empresarial pen-
seguições políticas e guerras no mundo ul-
sa além da técnica, a ética e estética do seu
trapassou 70 milhões, consonante a ACNUR.
ofício e da sua profissão.
Isso quer dizer que uma em cada 113 pessoas
no mundo é solicitante de refúgio, deslocada
interna ou refugiada.
O significado dos números
Em contraposição a esse complexo cenário,
Além da pandemia do Covid 19, quase um bi-
que já antecedia a pandemia global, sinais
lhão de pessoas ainda vão dormir todos os
de novas perspectivas surgiam com expres-
dias sem ingerir as calorias mínimas para
sividade. Crescia o número de brasileiros em
suas atividades diárias. Segundo a ONU, cer-
nível inicial de consumo consciente. Pela pri-
ca de 40% do crescimento urbano em todo o
meira vez, negros são maioria nas universi-
mundo ocorre em favelas e, em 2020, quase
dades públicas do Brasil. Nos últimos 2 anos,
1,5 bilhão de pessoas estarão morando em
aumentava em 70% a quantidade de negó-
uma. A possibilidade de falta de água doce
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 11
cios com impactos sociais, ou seja, uma ge- duzir sentidos que extrapolam os ambientes
ração de empreendedores preocupados não corporativos. Um tipo de narrativa humaniza-
apenas em obter lucros, mas também em da, que faça sentido para cada indivíduo e que
mudar o mundo. transforme números, estatísticas e metas em
nomes, em histórias de vida firmemente liga-
Ademais, tem crescido expressivamente a
das aos seus territórios.
quantidade de empresas preocupadas em
alinhar a sustentabilidade ao seu negócio ou Por que a comunicação da sustentabilidade
construí-lo a partir dela. Se antes práticas é estratégica para os negócios? Porque ela
de governança (G) com foco na saúde finan- pode traduzir autenticamente sua essência,
ceira da empresa eram mais valorizadas, da sua permanência e sua aparência. Porque ela
última década para cá, vimos a influência da pode deflagrar de modo construtivo a neces-
parte ambiental e social (ES) aumentar consi- sidade de uma organização de reinventar seu
deravelmente não apenas nos relatórios, mas propósito de existir. Porque ela pode ampliar
nas rotinas empresariais. E neste sentido, a a consciência dos mais diversos públicos e da
pressão por parte dos investidores em rela- sociedade sobre as transformações sociais
ção a excelência do termo ESG colabora para inerentes dos ambientes corporativos e seus
alavancar negócios sólidos e testar sua adap- impactos para além de seus muros. Neste
tabilidade à Agenda 2030. Sob este prisma a contexto, a comunicação da sustentabilidade
comunicação é substancial. revela que a empresa é, cada vez mais, essên-
cia e extensão do território onde se localiza. A
pandemia do Covid 19 revelou uma integração
O comunicador na legitimação em que as categorias geográficas do local e
de rituais do global, do interno e do externo, se diluíram
na ideia de humanidade.
O primeiro Guia de Comunicação e Sustenta-
bilidade tinha como desejo ser uma publica- Que a leitura deste guia contribua com o
ção com orientações sobre a comunicação de alargamento do seu olhar sobre sustentabi-
conteúdos relacionados à sustentabilidade. lidade e o apoie na construção de narrativas
Evidenciava-se nele a necessidade do comu- mais afetivas e efetivas sobre a comunica-
nicador ser mais do que um transmissor de ção para ela.
informações, assumindo o papel de um legi-
timador de rituais. Este guia, pouco mais de *Paulo Nassar
10 anos depois, demonstra a maturidade do
é Diretor Presidente da Aberje (Associação
processo de comunicação da temática. Mais
Brasileira de Comunicação Empresarial),
do que construir discursos sobre a sustenta-
Professor Titular da Escola de Comunicações
bilidade, fundamental na produção de signi-
e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA
ficados coletivos sobre o tema, vemos agora
-USP) e Coordenador do Grupo de Estudos de
a necessidade de construção de narrativas
Novas Narrativas (GENN ECA-USP)
socioambientais singulares, capazes de pro-
12 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Introdução
O
processo de construção do Guia de samos a equilibrar as atividades caseiras com
Comunicação e Sustentabilidade foi o trabalho remoto, suas sucessivas telecon-
iniciado em 2018, no âmbito da Câ- ferências, e vários webinares que se aprovei-
mara Temática de Comunicação e Educa- taram do encurtamento das distâncias para
ção do CEBDS, que à época contava com as promover os mais diversos e interessantes
co-lideranças das representantes da Vale e debates.
da Michelin, Karla Melo e Glauce Ferman. Ao
Enquanto acompanhamos de maneira bas-
longo dos dois anos que antecedem esse lan-
tante preocupada e doída o crescimento do
çamento, houve um processo de construção
número de vítimas acometidas pela COVID-19,
coletiva, que envolveu mais de 30 empresas
também trabalhamos no CEBDS em medidas
associadas ao CEBDS, dezenas de entrevis-
emergenciais e produção de protocolos de
tas com jornalistas, debates com especialis-
retomada dos negócios para que, quando
tas da área de sustentabilidade do mercado
chegasse este momento, além da segurança
e do setor empresarial, além de mais de 150
e saúde de todos, também possamos pensar
profissionais de comunicação que se dedica-
em construir um mundo mais sustentável,
ram a responder nossa pesquisa.
aproveitando essa parada para reavaliarmos
Às vésperas do lançamento oficial, previsto o futuro do trabalho, o futuro do capitalismo
para março de 2020, a pandemia provocada e o futuro da liderança.
pelo novo coronavírus paralisou tudo, suspen-
Esses três pontos de análise são acompa-
deu atividades presenciais, cancelou even-
nhados de perto neste primeiro semestre de
tos previamente marcados e nos colocou em
2020 pela elaboração de outra publicação
casa, num intenso home-office, em que pas-
do CEBDS, a Visão 2050, que traz diretrizes Cada vez mais vacinada contra o vírus do
para um Brasil mais sustentável nas próxi- greenwahsing ou do socialwashing, a socie-
mas décadas. Enquanto nos resguardamos dade está cobrando ainda mais coerência en-
na quarentena, debatemos o planejamento tre discurso e prática das organizações para
de longo prazo com executivos, ambientalis- conferir sustentabilidade às ações de comu-
tas, especialistas em tecnologia, finanças, nicação durante esta crise, mostrando ama-
alimentos, pessoas. durecimento das expectativas, e já fazendo
surgir o termo covidwashing. Com isso, o ge-
Fez todo sentido, então, colocarmos em meio renciamento de reputação também foi res-
a essas discussões o resultado das intensas significado. A capacidade de adaptação e de
pesquisas, entrevistas e debates feitos no resposta rápida das instituições aos cenários
âmbito da comunicação da sustentabilidade, de incerteza passou a contar muitos pontos
em vez de aguardar um melhor momento para no alicerce da reputação, sempre baseada na
fazer o lançamento formal e presencial des- percepção dos stakeholders em torno da qua-
te guia. E nada mais contemporâneo à atual lidade de produtos e serviços, governança,
crise do que lançá-lo acompanhado de uma inovação e credibilidade.
série de três webinares que que discutiram a
Comunicação de Causas; a Resiliência e Ino- Com a cidadania corporativa adquirindo
vação na Comunicação; e o Risco e Reputa- maior relevância para determinar a reputação
ção; todos os temas sob a luz do novo corona- de uma organização, as métricas usadas para
vírus. Os debates, claro, serão incorporados a acompanhá-la também devem mudar. Nes-
esta edição posteriormente. te sentido, métricas de awareness (conheci-
mento da marca e de suas ações) dão lugar
Acreditamos que as páginas aqui contidas a métricas de percepção, em tempo real, de
sejam essenciais no atual momento em que geração de valor compartilhado no gerencia-
a área de comunicação está, como muitas mento de reputação mais moderno.
outras, se reinventando sobre novas bases.
Essa pandemia exige das organizações res- O fato é que o novo coronavírus não só causou
postas ágeis, novas soluções e novas abor- grave crise sanitária e econômica nos países
dagens sistêmicas dos negócios. Ao mesmo afetados. Mas pode ser dramático também para
tempo, pede do profissional de comunicação empresas que não souberem se comunicar
seu olhar mais apurado no combate a infor- dentro de novos parâmetros. A sociedade lem-
mações distorcidas ou enganosas; seu bom brará das organizações que agiram para mini-
senso para evitar os apelos do marketing ante mizar os impactos negativos da pandemia e as
à real situação de vulnerabilidade da socieda- que se acomodaram. Estar ciente do que há de
de; e uma forma mais humanizada de comuni- vanguarda na comunicação da sustentabilidade
car, com propósito e foco. é um caminho para enfrentar os obstáculos.
14 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Primeira
parte Comunicação e
sustentabilidade hoje:
1 Comunicação e
sustentabilidade hoje:
Vitalidade da Comunidade
Equilíbrio de Tempo entre
Vida Pessoal e Trabalho
Bem estar psicológico
Diversidade Ecológica
Diversidade Cultural
Condições de Vida
Boa Governança
e Moradia
Educação
Saúde
Case Toyota
A Toyota vem buscando ao longo de sua história atrelar seus lançamentos a causas
sustentáveis. Em 2019, a montadora assinou o Acordo de SP, tornando-se integrante
de um grupo de empresas com a missão de disseminar ideias sustentáveis para o setor
produtivo. O objetivo é reduzir a emissão de CO2 e gases de efeito estufa no Estado até
2030. Ao longo dos anos, antes do acordo, a empresa se comprometeu a criar novas
soluções e veículos que utilizam energias renováveis.
Além da fabricação de carros eficientes, a montadora tem o compromisso de aplicar
métodos de fabricação, como o uso de energia 100% renovável, capazes de mitigar a
emissão de CO2. Desta forma, alinhada com o Desafio Ambiental Toyota 2050, a em-
presa visa alcançar o nível zero de emissões no funcionamento e fabricação dos seus
modelos. Em 1997, a empresa lançou o Prius, primeiro híbrido produzido em massa do
mundo. Desde então, a Toyota aposta nesta tecnologia, colaborando com a redução de
77 milhões de toneladas de CO2 emitidas. Caso esta quantidade fosse produzida, seria
necessário plantar 500 milhões de árvores para ter o equilíbrio necessário no meio am-
biente. Até o momento, mais de 15 milhões de híbridos Toyota foram vendidos no mun-
do. No ano passado, a Toyota lançou a 12ª geração do Corolla, equipado com a exclusiva
tecnologia híbrida flexfuel. O modelo contribuirá para o desenvolvimento da indústria
nacional, uma vez que representa o primeiro híbrido fabricado no País. Em 2019, o Bra-
sil também passou a ter um portfólio 100% híbrido de Lexus.
22 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
das como menos engajadas. ro de 2020, o banco Goldman Sachs anunciou que a partir
Engajamento este refletido de 1º de julho de 2020 se recusará a trabalhar nos Estados
na integração do gerencia- Unidos para a abertura de capital de empresas que não de-
mento de riscos em relação monstrem diversidade em seu conselho de administração14.
às mudanças climáticas no
planejamento estratégico,
na adoção de ações para re- 1.5 Pandemia evidencia a necessidade de
dução de emissões e na de- gerenciar riscos
monstração de uma visão de
longo prazo sobre como me- Antes da disseminação global do novo coronavírus, em janei-
lhor gerenciar ativos. ro de 2020, pela primeira vez na história, os riscos climáticos
dominaram os cinco principais riscos mais prováveis e impac-
Como resultado do amadu- tantes para os negócios do Relatório Global de Riscos15 divul-
recimento da compreensão gado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF).
sobre a importância da sus-
tentabilidade para os negó- O gráfico a seguir mostra a composição dos riscos divulgados
cios, em 2018, mais de 8.400 pelo Relatório Global de Riscos desde 2007, divididos pelas ca-
empresas responderam aos tegorias de riscos econômicos, ambientais, geopolíticos, so-
questionários do CDP so- ciais (que já alertava para o risco de uma doença contagiosa
bre mudança climática, se- impactar os negócios) e tecnológicos. Desde 2017, os riscos
gurança hídrica e florestas. econômicos deixaram de aparecer entre os cinco mais pro-
Essas empresas represen- váveis de acontecer e com maior impacto para os negócios,
tam mais de 50% do valor de dando lugar aos riscos relacionados ao clima e meio ambiente.
mercado global13. Os impactos da pandemia de Covid-19, contudo, evidenciaram
a interconexão de povos, nações e negócios. A sobrevivência
Uma pesquisa realizada em de negócios depende de sua capacidade de reação às crises.
2018 pelas empresas DDI e Quanto mais preparadas as instituições estiverem para mitigar
Ernst & Young (EY) com 2,4 riscos, maiores as chances de sofrerem menores impactos ne-
mil empresas de 54 países gativos em momentos de crises internas e externas.
mostrou que “as empresas
que tiveram 30% de diversi-
dade de gênero - e mais de
20% no nível sênior - apre- A evolução da pandemia
sentaram melhores resulta-
dos financeiros na compa-
de Covid-19 em 2020
ração com as demais”. Ainda
de acordo com esta pesqui-
reescreveu a forma como
sa, a presença de diversida-
de significativa na empresa
os riscos são encarados e
leva a uma chance 1,4 maior
de crescimento sustentado
gerenciados por empresas,
e lucrativo. Por concordar governos e organizações
sociais.
com a teoria de que empre-
sas com mais diversidade
funcionam melhor, em janei- 14
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/01/goldman-sachs-vai-recusar-
clientes-sem-diversidade-no-conselho-de-administracao.shtml
CDP Media Factsheet - Novembro de
13 15
Global Risks Report 2020. https://www.weforum.org/reports/the-global-risks
2019 -report-2020
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 25
3 Dinamarca Lego
4 Brasil Natura
7 Alemanha Bosch
8 Japão Canon
9 França Michelin
10 Suécia Ikea
16
https://www.natura.com.br/a-natura/nossa-historia
17
https://www.natura.com.br/blog/inovacao/natura-ganha-o-premio-mais-importante-de-mudancas-climaticas-
do-mundo
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 27
Os principais temas da
Sustentabilidade até 2030
Os temas que dominarão a pauta do
desenvolvimento sustentável nos
próximos anos estão relacionados ao
alcance da Agenda 2030 e com a ca-
pacidade de as instituições regene-
rarem o planeta e as economias. Com
implicações diretas na forma como as
pessoas vivem, se locomovem, se ali-
mentam, produzem, têm os seus direi-
tos respeitados e sobre como garantir
o acesso das próximas gerações aos
recursos naturais. São eles:
Temas relacionados a como as
pessoas vivem, se locomovem e se
alimentam: Moradia digna, Sanea-
mento, Mobilidade Urbana, Cidades
Inteligentes, Desenvolvimento de
territórios e Alimentação Saudável
Temas relacionados a como as
pessoas produzem: Inovação, Fu-
turo do Trabalho, Ética, Complian-
ce, Economia Circular, Sustentabi-
lidade da Cadeia de Fornecedores,
Governança, Transparência, Con-
corrência Justa e Parcerias para
alcance dos Objetivos de Desen-
volvimento Sustentável.
Temas relacionados à proteção e
à promoção de direitos: Respeito
aos Direitos Humanos, Combate
às desigualdades de oportunida-
des, Segurança de dados, Acesso
a serviços de Saúde e Segurança
Alimentar.
Temas relacionados à salvaguarda
do acesso das próximas gerações
aos recursos naturais: Respeito
aos recursos do planeta, incluindo
proteção de águas e solos; Redu-
ção de impactos de produção ne-
gativos; Combate ao desperdício
de matérias-primas e Combate às
mudanças climáticas.
28 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
SEGUNDa
parte OS DESAFIOS DA
COMUNICAÇÃO
2 Os desafios da
comunicação
O
que se espera dos comunicadores em publicidade tradicional, dada a queda na
hoje é algo bem parecido com o que circulação dos impressos18, não garante a re-
era esperado há uma década, duas tenção de conteúdos pelos públicos-alvos,
ou três. O que mudou nos últimos anos foi a que estão com a atenção pulverizada em múl-
expectativa dos stakeholders em relação às tiplos canais.
empresas, e os cenários em que as comuni-
Até, muito recentemente, tida como principal
cações acontecem para a criação de lastro
canal de comunicação utilizado pelas empre-
reputacional.
sas para comunicação com a sociedade - seja
Se antes as empresas detinham as suas nar- via assessoria de imprensa, seja via conteúdo
rativas, com o advento da autopublicação e da patrocinado ou publicidade, a mídia vive uma
consolidação das redes sociais, não há mais crise de confiança. Segundo pesquisa reali-
controle sobre as narrativas que as envolvem. zada com dois mil jornalistas em dez países,
Se antes as mídias sociais eram pautadas incluindo o Brasil, pela Cision19, o auge da des-
pela mídia tradicional, atualmente a mídia tra- confiança com a imprensa ocorreu em 2017,
dicional é pautada pelas mídias sociais. Como quando o índice foi de 91% contra 63% em 2019.
não há mais controle sobre as narrativas, res-
Ainda em 2017, no Brasil, uma pesquisa reali-
ta às empresas a preparação para possíveis
zada pelo Datafolha com 2.771 pessoas entre
cenários com auxílio de especialistas em ge-
renciamento de crise de imagem. Se antes, 18
Seguindo uma tendência internacional, a circulação im-
pressa dos 11 principais jornais diários do Brasil caiu 41,4%
em momentos de crise, a compra de espaço entre 2014 e 2017. http://www.abi.org.br/em-3-anos-jornais
publicitário nos jornais de circulação nacional -perdem-520-mil-exemplares-no-brasil/
parecia uma ótima solução para dar respos- https://exame.abril.com.br/negocios/releases/de-fake-
19
news-a-queda-de-credibilidade-pesquisa-aponta-desafios
tas à sociedade, hoje o investimento vultoso -enfrentados-pelo-jornalismo-atual/
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 31
Case CBA
recuperados
das na reabilitação das áreas lavradas, tendo sido
investidos, entre 2008 e 2019, R$ 10 milhões em 1,3
O perigo da desinformação
em ambiente digital
“Sustentabilidade e
reputação possuem uma
E
interlocução estratégica m 2013, o bilionário italiano Guido
muito forte, pois partem Barilla, CEO do grupo Barilla, um
dos maiores fabricantes de mas-
de uma essência comum: sas do planeta, descobriu da pior forma
entender as demandas possível como as redes sociais podem ser
usadas para destruir, em questão de ho-
e expectativas dos seus ras, uma reputação de excelência cons-
públicos estratégicos. truída com esforço ao longo de muitos
anos. Em uma entrevista à rádio italiana
Diante de tantas “La Zanzara”, Barilla decidiu expor seus
transformações do piores preconceitos ao afirmar que não
nosso contexto social, desejaria que casais gays participassem
de campanhas publicitárias de suas mar-
pluralidade de vozes e cas. Pior: afirmou que a publicidade de
demandas urgentes, seus produtos só deveria ser estrelada por
“famílias tradicionais”, colocando na mar-
é imperativo que as ginalidade milhões de arranjos familiares
organizações monitorem compostos por pessoas LGBTQ+.
em tempo real as A reação foi imediata e uma campanha
principais ameaças ao de boicote à marca chegou aos trending
topics do Twitter com a hashtag #boycot-
vínculo de confiança tbarilla e #boicotebarilla, esta última no
estabelecido com os seus Brasil. Um usuário identificado como
Maso Notarianni (@masonotarianni) es-
stakeholders.” creveu na plataforma: “#Barilla: 206 tipos
de massas, nunca ouviu falar em diver-
Dario Menezes, professor sidade. #boycottbarilla”. O conteúdo foi
da FGV e diretor da Caliber - retuitado à exaustão, até que, assustado
Gestão de Marca e Reputação. com a repercussão negativa, Guido Barilla
foi ao canal oficial da empresa no Twitter
para pedir desculpas um dia depois: “Peço
muitas desculpas por ter ofendido a sensi-
bilidade de tantos.Tenho o mais profundo
respeito por todas as pessoas sem distin-
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 35
ção”. No Facebook da Barilla, escreveu: “Com referência à mi- muitos veículos de mídia. As
nha declaração feita ontem na La Zanzara, peço desculpas se empresas são, elas próprias,
minhas palavras têm gerado controvérsia ou mal-entendido, e mídia e devem se aproveitar
se elas têm ofendido a sensibilidade de algumas pessoas. Para desse fato, orientadas por
maior clareza, gostaria de salientar que tenho o mais profun- equipes de comunicação que
do respeito por todas as pessoas, sem distinção alguma. Eu dominam o ambiente digital e
tenho o maior respeito por homossexuais e pela liberdade de chanceladas por plataformas
expressão de qualquer um. Eu também disse e repito que res- capazes de buscar com ra-
peito o casamento das pessoas de mesmo sexo. pidez e facilidade a verdade
dos fatos em bancos de da-
Barilla em suas propagandas têm sempre escolhido represen- dos confiáveis.
tar a família porque este é o símbolo da hospitalidade e cari-
nho para todos”. Não é tarefa simples, mas é
importante. Não é estratégia
O caso acima mostra bem a velocidade e a escalada de uma cara, já que a maioria das fer-
crise de reputação em ambiente digital. Já é bastante sabido ramentas de checagem estão
que as redes sociais deram voz ao consumidor. Fala-se numa disponíveis de forma gratuita.
rede social aquilo que apenas alguns teriam coragem de falar Mas a demora na percepção
em canais típicos de reclamação sobre produtos e serviços, da importância desta comu-
sejam eles os Procons estaduais, sejam os SACs das próprias nicação em ambientes digi-
corporações. Sem o contato visual de uma conversa de bal- tais tem um preço alto. Não
cão, o discurso nos meios digitais é mais furioso, emotivo, basta mais hoje dizer que de-
ferino. Nos últimos anos, a esse ambiente de volatilidade e ra- terminada informação é “fake
pidez se uniu o fenômeno da desinformação. news”. A expressão foi enfra-
quecida e ressignificada por
Como executivo de uma agência de notícias especializada políticos que gostam de des-
em checagem de fatos - a agência Lupa -, já perdi a conta da qualificar reportagens sérias
quantidade de empresas que nos consultam aturdidas com e bem apuradas que os reve-
histórias inverídicas envolvendo suas marcas, produtos ou lam para além das aparências.
mesmo a natureza dos seus negócios. Ninguém está a salvo Não é diferente no mundo
de estratégias deliberadas de desinformação contra empre- corporativo. Resta às marcas
sas. Elas podem partir de consumidores irritados com a de- e seus executivos a tarefa de
mora na resposta a um problema, funcionários temerosos de produzir conteúdo confiável e
uma demissão em massa, concorrentes que lançam mão de transparente. Afinal, o melhor
mentiras para roubar fatias de mercado. antídoto contra a desinforma-
Na Lupa, somos capazes de acompanhar em tempo real uma ção é a educação e a infor-
mação verdadeira, confiável.
mentira levantando voo com compartilhamentos maiores a
“Low profile” - aquela ideia de
cada 15 minutos. E podemos abatê-la com a ajuda da verdade
que quanto menos uma em-
dos fatos. Nem sempre a repercussão de uma desinformação
presa conversa com o seu pú-
se equipara ao seu desmentido. Por isso mesmo é preciso
blico, melhor - é um conceito
se precaver com estratégias digitais bem coordenadas. Se
que não existe mais.
o fenômeno das redes sociais transformou cada consumidor
em sua própria mídia, é bom lembrar que as redes sociais de Gilberto Scofield
muitas empresas possuem mais capilaridade e audiência que Diretor da Agência Lupa
36 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
01 - Erradicação da pobreza: acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares do mundo.
02 - Fome zero e agricultura sustentável: acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da
nutrição e promover a agricultura sustentável.
03 - Saúde e bem-estar: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
06 - Água limpa e saneamento: garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos.
07 - Energia limpa e acessível: garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos.
10 - Redução das desigualdades: reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
13 - Ação contra a mudança global do clima: tomar medidas urgentes para combater a mudança climática
e seus impactos.
14 - Vida na água: conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, e dos recursos marinhos para
o desenvolvimento sustentável.
15 - Vida terrestre: proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir
de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e
deter a perda da biodiversidade.
16 - Paz, justiça e instituições eficazes promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e
inclusivas em todos os níveis.
Já os professores e profes-
soras têm a nobre missão de
cultivar em seus alunos e alu-
nas um mindset sustentável,
Case Ecolab
para que as futuras gerações
tenham ações e tomem de-
cisões de modo sustentável.
A Ecolab, líder mundial em tecnologias e serviços
Há mais informações sobre
relacionados a água, higiene e energia, foi incluída
como inserir a sustentabili-
entre as 325 empresas listadas no índice de igual-
dade nas pautas jornalísticas
dade de gênero Gender-Equality Index (GEI) 2020
e nas salas de aula nos capí-
da Bloomberg, após uma ação de comunicação
tulos “Cobertura da susten-
interna. A empresa compôs um grupo voluntário
tabilidade por jornalistas” e
de funcionários para reforçar o empoderamento
“Comunicação para a susten-
feminino e equidade de gênero na empresa, com
tabilidade na educação”.
uma meta pré-estabelecida: aumentar o número
de mulheres em posições que possuem maior do-
Informações sobre os mínio de homens.
ODS no Brasil Comprometida a ter uma força de trabalho diver-
sificada e inclusiva, a empresa fez dessa meta um
Os indicadores brasileiros
valor de todos os funcionários, que participaram
para o alcance dos ODS são
de vários eventos e se engajaram na causa, dando
acompanhados pelo Insti-
mais oportunidades para as mulheres e as incenti-
tuto Brasileiro de Geografia
vando a concorrerem a postos mais altos. O GEI, da
e Estatística (IBGE) e divul-
Bloomberg, acompanha o desempenho financeiro
gados pelo site https://ods.
de empresas privadas comprometidas em apoiar a
ibge.gov.br/. Uma série de
igualdade de gênero, por meio do desenvolvimento
vídeos com linguagem aces-
de políticas, representação e transparência.
sível a toda a população
está em https://odsbrasil.
gov.br/home/videos.
Case MICHELIN
“Espera-se da comunicação que ela tenha papel fundamental e estratégico junto ao RH para que as
empresas sejam um agente de inclusão de negros, pessoas com deficiências e populações LGBTQ+.”
Tássia di Carvalho, CEO da Agência IS, especializada em ações de impacto social
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 43
"Quem não se posiciona é posicionado. Então, é necessário que as marcas e empresas se posicionem
para defender valores e causas, sobretudo em momentos em que o contexto social e político mostre
que esta defesa é necessária. Uma parcela muito significativa da população se sente órfã no meio dos
extremos da polarização e as marcas estão perdendo uma excelente oportunidade de participar das
principais conversas e de se posicionar de forma clara. Estão perdendo uma excelente oportunidade
de aumentar o seu grau de fidelização em relação a alguns públicos que são tão estratégicos, inclusi-
ve o de formadores de opinião."
Ricardo Sales, consultor em diversidade.
“A comunicação corporativa e de
mercado não precisa ser baseada
somente em diferenciais, ela
também pode ser baseada em “Ao passar por uma crise de
atributos de valor. Há mais espaço integridade, primeiro a empresa
para o posicionamento por valores precisa pagar o que a legislação
porque as empresas, em relação à prevê, seja com executivos presos
sustentabilidade, historicamente seja por multas e reparações
sociais, mostrando todos os
adotaram uma comunicação esforços para que o que gerou a
reativa, por receio de serem crise não ocorra novamente. A
acusadas de greenwashing ou comunicação nesses casos precisa
socialwashing. A comunicação de ser menos expositiva e mais
sustentabilidade hoje pode ser interativa, com corpo a corpo,
uma ferramenta para impactar visitas, portas abertas e criação de
tanto jovens talentos quanto comitês participativos em que
stakeholders possam também ter
investidores em busca de lucro uma uma participação na
ético. Para isso, a comunicação da reconstrução da empresa em um
sustentabilidade precisa ser trabalho de médio e longo prazos.“
regular, não esporádica. E deve
Fábio Risério, consultor em Integridade e
também escolher os seus grandes professor da Fundação Dom Cabral
temas, que são relacionados aos
impactos e ao core business da
empresa.”
Ricardo Voltolini, CEO da consultoria Ideia
Sustentável.
“Se a empresa quiser ter um bom relato de sustentabilidade, ela precisa ter um
bom modelo de gestão de seu negócio. O reportar, em si, é um espelho do que é
a empresa por dentro. É preciso que a alta direção tenha um entendimento real
da importância de uma visão ampla e integrada da gestão de seus ativos, dos
impactos positivos e negativos de seus negócios e faça uso inteligente de recur-
sos. Sustentabilidade vem de dentro para fora.”
Maria Angélica Costa, consultora empresarial, coordenadora do capítulo Rio de Janeiro da Comissão
Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado.
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 45
Case BRK
Mudanças de uma era com ram por falta de recursos, pandemias, ca-
inovação, resiliência e tástrofes, guerras e incertezas. Não tinham
respostas, desbravaram, testaram, aprende-
empatia ram e evoluíram. Me pergunto se realmente
ainda estamos vivendo a Idade Contemporâ-
N
nea, estabelecida desde 1789 que teve como
o final do século XX, especialistas marco a Revolução Francesa.
anunciavam que estaríamos dian-
te de uma quarta revolução indus- As soluções antigas não resolvem mais os
trial (Klaus Schab) e que seria uma nova problemas novos. Temos muito mais pergun-
era da comunicação. Outros diziam que tas, uma dose extra de inquietude. Somos
seria a era do conhecimento (Marc Haley); instados a nos abrir ao novo, com coragem
da abundância (Peter Diamandis); da co- para assumir riscos e compartilhar valores.
laboração (Don Tapscot) ou do pós-digital Este é conceito de inovação, e acontece
(Walter Longo). Neste momento, cons- desde sempre. Nada se cria, tudo se trans-
tatamos que, sim, é tudo-isso-ao-mes- forma e se combina a partir das referências,
mo-tempo-e-agora. Vivemos mudanças repertório e conexões vinculados essencial-
em uma mesma era. Múltiplos caminhos mente nas necessidades impostas.
se tornaram complexos demais e presen-
Iniciamos 2020 com o CEO da BlackRock,
ciamos a necessidade real de simplificar.
Larry Fink cobrando mudanças estruturais
Entendemos que é importante começar a
nas finanças, inserindo a sustentabilida-
fazer o que precisa ser feito, priorizando
de como balizadora de investimentos, para
e silenciando a ansiedade generalizada
melhorar resultados a longo prazo em pro-
deste mundo.
cessos de tomada de decisão nos negócios.
A pandemia da Covid-19 acelerou isso, di- Empresas que não conseguem provar seu
minuindo o ritmo do mundo. Potencializou propósito, o quanto geram de valor para a
essa necessidade em um cenário disrupti- sociedade, e o quanto são merecedoras de
vo. E exigiu novas formas de fazer o trivial. lucro admirável perderiam e perderão inves-
A natureza agradeceu e resultados foram tidores, clientes e reputação.
perceptíveis em diversos centros urbanos
Com a pandemia da covid-19, a tese de con-
com a diminuição das emissões de gases
firmou na prática: CEOs e marcas equivoca-
do efeito estufa.
dos antes a crise perderam cliente, ao mes-
Por outro lado, a humanidade não tem mo tempo que empresas proativas tiveram
mais uma fórmula pronta para o futuro. rápida recuperação. Afinal, os sistemas de
Retornamos à ancestralidade, reinven- valores estão mudando. Como sociedade
tando e nos adaptando a um mundo des- global, sairemos deste contexto mais solidá-
conhecido, diante de novas ferramentas. rios e cientes de nosso papel social, exigindo
Muitos dos nossos antepassados passa- das empresas nova postura, também já im-
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 47
TERCEIRa
parte Comunicação da
Sustentabilidade e
para Sustentabilidade
3.1 Comunicação da sustentabilidade por 3.10 Como comunicar riscos 62
profissionais de comunicação corporativa 50 3. 11 Como comunicar a diversidade 64
3.2 Conteúdo 50 3.12 Como comunicar causas 64
3.3 Públicos 50 3.13 Cobertura da sustentabilidade
3.4 Comunicação multicanal 51 por jornalistas 68
3.5 Iniciativas de compartilhamento 3.14 Glossário amigo para os jornalistas 71
de conhecimento 58 3.15 Comunicação para a
3.6 Cultura corporativa sustentabilidade na educação 74
legitimiza narrativas 59 3.16 Atitudes para o aprendizado 75
3.7 Sustentabilidade e reputação 60 3.17 Dicas de atividades 78
3.8 A sustentabilidade e as 3.18 Como o Guia CEBDS pode ajudar
crises de imagem 61 na formação dos estudantes 78
3.9 Como aumentar a confiança 61
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 49
50 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Comunicação da
3 Sustentabilidade e para
Sustentabilidade
Relacionamento com a
Boas práticas para a imprensa
comunicação interna Os jornalistas são considerados um público
1. Todo mundo é produtor de conteú- prioritário por grande parte das empresas
do: Dar voz aos colaboradores, além que desenvolvem mapeamento de stakehol-
de ser inevitável, faz com que ele se ders, como pode-se observar pelas relações
sinta parte e responsável pelos re- de públicos-chave publicadas em relatório de
sultados. Esclareça o propósito, os sustentabilidade. Não é à toa que um grande
valores e os objetivos da empresa e número delas conta com departamentos e/
surpreenda-se com o conteúdo que ou contrata assessorias de relacionamento
seus colaboradores podem criar. com a imprensa, um mercado que movimen-
ta cerca de R$ 2,5 bilhões, segundo o Anuário
2. Um diálogo sem limites: Renuncie da Comunicação Corporativa 2018, publicado
ao controle do que é dito dentro ou pela Mega Brasil.
fora da empresa. Esses limites não
existem mais. Alinhe seu discurso Por um lado, a maioria dessas empresas tem a
com as práticas que, de fato, ocor- expectativa de que suas iniciativas sejam di-
rem na empresa, se não os funcioná- vulgadas pelos veículos de comunicação. Por
rios farão isso no seu lugar. Vincular outro, desejam construir uma relação de con-
a agenda interna com as melhores fiança e credibilidade que conte a seu favor
práticas e discussões sobre a sus- em situações de eventuais crises de imagem.
tentabilidade também é bem-vindo.
O desejo é compreensível, mas pode se tornar
3. O exemplo da liderança: O enga- uma fonte de ruídos com esse público, espe-
jamento da liderança é condição cialmente quando as empresas colocam em
essencial para que o comprometi- segundo plano a função social do jornalismo,
mento das equipes exista. A relação que é o compromisso de veicular as informa-
de confiança e de credibilidade com ções de interesse de seu público leitor.
supervisores e gerentes é essencial
Para publicar uma notícia, o jornalista usa cri-
para mover as pessoas do discurso
térios de interesse, chamados noticiabilidade
para a prática.
ou valor-notícia, levando em consideração,
4. Tenha clareza de suas intenções: basicamente, a relevância de uma determi-
A empresa já definiu seu propósito? nada informação para seus leitores. Quanto
Tem clareza de seus valores e es- maior a percepção que o jornalista tiver do
tratégias para a sustentabilidade? impacto gerado pelo fato na vida das pessoas,
As causas defendidas e a maneira para a economia local ou nacional ou para o
como as empresas as integram à meio ambiente, maior o valor-notícia.
gestão do negócio têm uma forte in-
Não raro, o que parece uma excelente notícia
fluência sobre a percepção e a iden-
para uma empresa é visto como algo que tem
tidade que os públicos, interno e ex-
pouco ou nenhum impacto na vida do restan-
terno, desenvolvem a seu respeito.
te da sociedade. Em outras situações, o que
Faça esse propósito estar presente
a empresa quer comunicar sequer é uma no-
a todo momento, em todo o proces-
tícia, trata-se apenas da adesão a práticas
so de comunicação da empresa.
já consolidadas e que não trazem qualquer
novidade – outro aspecto essencial para
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 53
o trabalho dos jornalistas. que são enviadas. Segundo eles, as sugestões ainda estão
Apenas 16% dos jornalistas muito atreladas a ações internas ou de impactos reduzidos
que participaram da pes- para a sociedade. Eles também relataram sentir falta de da-
quisa quantitativa realizada dos e índices que possam ser acompanhados e verificados
para este guia afirmaram por terceiros, assim como da indicação de fontes com auto-
que aproveitam sugestões ridade nos assuntos propostos, sendo constante a sensação
de pautas enviadas pelas de perda de tempo ao ler sugestões de pauta.
empresas e assessorias com
frequência. Falta de dados Para construir uma boa relação com a mídia, é importante
(81%), falta de contextuali- que a empresa esteja disposta a atendê-la não apenas quan-
zação (78%) e irrelevância do do houver algo positivo a ser noticiado, como nas épocas de
assunto (75%) foram aponta- crise. É preciso também lembrar que a empresa pode ser
das como as maiores razões notícia durante todo o ano. Nas datas comemorativas como
para recusa das sugestões “dia da mulher”, “da água” e “da consciência negra”, os jorna-
pautas pelos jornalistas. listas recebem um volume de sugestões de pauta impossível
de ser absorvido.
Os jornalistas ouvidos em
profundidade foram unâni- De tempos em tempos, pense em ações de relacionamento
mes na ênfase de que falta com os jornalistas, como as ações de portas abertas. Confiar
às empresas um olhar sobre na empresa que enviou a sugestão de pauta é primordial para
o que interessa aos jornalis- que o jornalista decida se deve aproveitá-la. E confiança é
tas nas sugestões de pauta algo que se constrói (ou se destrói) em cada interação.
dards-download-center/
58 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
mente no digital. Se você espera ser lido Foco no essencial: Relatórios muito lon-
por investidores, não adianta apresentar gos ou com um rol muito extenso de as-
uma visão geral: esse público espera infor- suntos tendem a criar uma impressão de
mação estratégica e aprofundada. que a empresa não tem clareza sobre sua
estratégia. Saber escolher sobre o que fa-
Mostre o todo: Uma das características lar é um passo para tornar sua mensagem
importantes dos relatos de sustentabili- mais eficiente.
dade é a completude, isto é, apresentar o
escopo e os limites da atuação da organi- Seja copiloto do leitor: Um bom relatório
zação de forma clara. Procure demonstrar oferece ao leitor ferramentas para que ele
como funciona seu negócio, qual a cadeia navegue em seus capítulos e seções, en-
de valor relacionada a ele e como ele im- contre as informações que são de seu inte-
pacta os seus stakeholders. Deixe claro resse e tenha uma visão geral, apresentada
quem são os principais stakeholders e de forma simples e clara, do que foi con-
como eles foram mapeados e priorizados. templado na publicação.
Materialidade no centro: Garanta que seu Conheça sua mensagem: Ter a clareza da
relato traga uma explicação clara sobre mensagem que se quer passar durante o
como foi construída a sua matriz de ma- processo de relato é essencial para enga-
terialidade e que os temas previstos nela jar e se comunicar com os públicos. Isso
sejam contemplados no conteúdo. significa ter definido qual é a mensagem
geral do ano e quais são os posicionamen-
Apresente sua proposta: Seções como tos sobre temas específicos que se quer
“Introdução” e “Para ler seu relatório” não que sejam ressaltados e compreendidos a
devem servir apenas para apresentar da- final da leitura.
dos gerais sobre o relatório. Aproveite o
espaço para explicar a proposta editorial Abuse do design: Transformar informa-
da publicação e como ela dialoga com os ção textual em visual, estabelecendo
temas materiais da gestão sustentável da comparações, entregando uma narrati-
organização. va com ajuda de cores e formas, é uma
das mais efetivas maneiras de conquis-
Capriche no contexto: Em muitas situa- tar leitores. O engajamento começa
ções, a estratégia e as ações das organiza- desde a capa.
ções não são totalmente compreendidas
pelos leitores. Isso pode o ocorrer porque
o contexto que motiva essas escolhas não
é devidamente apresentado – ou pior, a
narrativa da empresa está claramente em
3.5 Iniciativas de
conflito com a percepção que os públicos compartilhamento de
têm da realidade em que ela atua. conhecimento
Traga outras vozes: Um relatório em que o A natureza técnica e estratégica dos relatos
discurso da empresa é um monólogo tem de sustentabilidade faz com que eles evoluam
mais dificuldade em produzir confiança. ao longo do tempo, acompanhando as mu-
Leitores externos, entrevistas com sta- danças nos formatos e tecnologias de comu-
keholders e outras iniciativas de trazer ou- nicação, assim como as decisões da empresa
tras vozes para dentro do relato ajudam a na gestão de seus temas materiais. Acompa-
construir credibilidade. nhar novas perspectivas, práticas inovado-
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 59
ras e tendências de reporte nem sempre é fácil, devido à sua TrendWatching em 200553
quantidade e diversidade. veio para ficar e também foi
alvo de outros relatórios da
Para facilitar essa tarefa, existem grupos de discussão e hubs
consultoria em 201554 e em
de conteúdo que buscam estabelecer o diálogo entre profis-
201755.
sionais de comunicação da sustentabilidade do mundo inteiro
ao mesmo tempo em que oferecem curadoria da informação A forma como uma empresa
publicada sobre o tema. se comunica é reflexo de sua
cultura corporativa. Empre-
Entre essas iniciativas, destacam-se:
sas que possuem a susten-
The Reporting Exchange: também oferecido pelo WBCSD, tabilidade como pilar para as
é uma plataforma em que todas as empresas participan- tomadas de decisões conse-
tes do próprio WBCSD e, no Brasil, do CEBDS, podem se guem comunicá-la para além
inscrever. Lá, o participante encontra conteúdo variado das peças tradicionais de re-
sobre relato de sustentabilidade e pode usar filtros para porte, como os relatórios e
receber informações customizadas aos seus interesses, peças de comunicação espe-
setor, localização geográfica etc. No fórum, é possível cíficas para ações correlatas
compartilhar ideias e conteúdo. ao tema de sustentabilidade.
sensíveis da agenda sustentável, e que po- que, em um universo de 260 empresas brasi-
dem afetar a reputação das empresas. leiras consultadas, 84% dizem ter uma per-
cepção clara da relação entre sustentabili-
Para que a sustentabilidade seja realmente
dade e reputação. Outras 58% afirmam que
percebida como um valor intrínseco a uma
existe relação direta entre as práticas sus-
empresa, ela precisa estar inserida nas to-
tentáveis e o valor de mercado da companhia,
madas de decisão para que as comunicações
assim como sua capacidade de gerar receita.
sejam sustentadas em dados e fatos, como
abordamos no capítulo “A Sustentabilidade da Relativamente recente no cenário da ges-
Comunicação”. No atual mundo interconecta- tão empresarial, as técnicas e métricas para
do, a sustentabilidade também é comunica- a gestão da reputação estão em rápido de-
da pela forma como a empresa encara seus senvolvimento, usando desde as tradicionais
competidores e pelas parcerias que realiza. pesquisas de opinião até as informações pro-
porcionadas pelos big data em tempo real. No
Levando em consideração que a busca pela
entanto, é consenso entre as diversas meto-
sustentabilidade é um caminho a ser percor-
dologias que temas centrais da sustentabi-
rido, cabe às organizações a realização de
lidade têm impacto direto na reputação das
diagnósticos sobre os temas que lhe são sen-
organizações:
síveis do ponto de vista da sustentabilidade e
sobre os temas correlatos, os quais a empre- Liderança: Articulação entre discurso e
sa é percebida como tendo lugar de fala e de prática das empresas e seus líderes.
ação. Este cuidado inicial fará toda diferença
Governança: A maneira como a empresa
em seu Planejamento Estratégico de Comu-
incentiva e garante princípios essenciais
nicação e, consequentemente, diminuirá as
para ação das empresas, como ética,
situações de crises de imagem.
transparência e integridade.
Cidadania: A atuação social de uma orga-
nização é reflexo de seus valores e de seu
3.7 Sustentabilidade e compromisso com o desenvolvimento da
sociedade de que ela faz parte.
reputação
Ambiente de trabalho: Fazer da empre-
Quando se fala em formas de demonstrar o
sa um bom lugar para trabalhar engaja o
Retorno Sobre o Investimento (ROI, na sigla
público interno, um dos que mais têm im-
em inglês) da sustentabilidade, um dos pri-
pacto sobre a reputação, e ajuda a atrair
meiros itens citados é o impacto negativo
os profissionais mais qualificados, o que
que as práticas não sustentáveis trazem para
também tem impacto sobre a reputação.
a reputação de uma organização, muitas ve-
zes em uma velocidade que não deixa espaço Qualidade: A sustentabilidade incentiva a
para ação ou reação de seus gestores. A isso ampliação do conceito da qualidade para
se soma o posicionamento positivo que as abarcar a preocupação com os impactos
práticas sustentáveis proporcionam às em- de produtos serviços ao longo de todo o
presas que as adotam. seu ciclo de vida e da cadeia de valor – o
que vem sendo cobrado de forma cada
A pesquisa “Relevância de práticas de gover-
vez mais perceptível pelos consumidores,
nança em sustentabilidade”, publicada em
governos e sociedade civil, de acordo com
março de 2019 pela consultoria EY56, mostra
seguidas pesquisas e estudos publicados
56
https://www.ey.com/pt_br/news/2019/03/pesquisa-da-ey sobre o tema.
-revela-o-grau-de-integracao-entre-sustentabilidad
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 61
Narrativas em descrédito
Quando perguntados que nota dariam, em uma escala de 0 a 100, para o quanto
acreditam nas narrativas sobre sustentabilidade das empresas, os jornalistas que
responderam a pesquisa que serviu de base para este guia deram a nota média 43.
Transparência de dados e informações divulgadas foi o atributo indicado por eles
como sendo o de maior peso para conferir credibilidade às narrativas, seguido por
promoção de diálogos com partes interessadas.
3.10 Como comunicar riscos bém têm sido abordadas em relatórios para
investidores, portais de transparência e ou-
A gestão de riscos nas empresas tem rece- tras peças complementares de comunica-
bido atenção crescente: o cenário atual com ção da sustentabilidade.
empresas publicando seus modelos de ge-
renciamento (especialmente as que optam Um bom relato necessariamente precisa ex-
pelo modelo de relato integrado) e com au- plicar qual é a estratégia da empresa para lidar
mento de ofertas de formação e de eventos com os riscos; qual o alcance da sua gestão, ou
relacionados ao tema é bem diferente da dé- até que ponto da operação e da cadeia de valor
cada anterior, quando a gestão de riscos era eles foram mapeados; que riscos e fatores de
uma discussão mais limitada aos especialis- influências foram listados na matriz desenvol-
tas do tema. vida pela organização; e como é realizada sua
mitigação. Também é relevante que a organi-
Esse momento de protagonismo não ocorre à zação conte com estratégias e ferramentas
toa. É possível dizer que uma das definições para a comunicação desses riscos aos gover-
possíveis para empresa sustentável é aquela nos, investidores, empregados, consumido-
que gerencia seus riscos de uma forma ade- res, comunidades e à sociedade em geral.
quada. No entanto, o processo de comunica-
ção de riscos ainda está em fase de amadu-
recimento, pois são poucas as organizações
que se sentem à vontade para discuti-los de
sem comunicar riscos,
forma detalhada e pública. sem credibilidade
Por exigência legal ou de investidores e or- A pesquisa quantitativa com jorna-
ganismos de financiamento, além do fortale- listas, as pesquisas em profundidade
cimento da mentalidade de relato integrado, com especialistas e os encontros com
as grandes empresas, especialmente as de acadêmicos e jornalistas realizados
capital aberto, têm sido incentivadas para para levantar insights para a constru-
avançar na transparência sobre seus riscos, ção coletiva deste guia indicaram que
na medida em que isso representa respeito a falta de transparência na comunica-
aos seus potenciais investidores e à socie- ção de riscos impacta negativamen-
dade em geral. O reporte dos riscos associa- te na percepção de credibilidade das
dos ao negócio e a estratégia para lidar com pessoas em relação às narrativas de
eles são considerados itens fundamentais sustentabilidade das empresas.
nos relatos integrados. Essas questões tam-
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 63
57
Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission, algo como Comitê de Entidades Patrocinadoras da
Comissão Treadway. Esse Treadway (James C. Treadway) foi o presidente dessa comissão.
58
https://www.coso.org/Documents/COSO-WBCSD-ESGERM-Guidance-Full.pdf
64 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
3.11 Como comunicar a Tem dúvidas sobre como tratar temas ligados
ao universo LGBT? O Manual de Comunicação
diversidade LGBT, da Associação Brasileira de Lésbicas,
A importância social que diversidade inclusão Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
ganharam nos últimos anos59 tem despertado a (ABGLT), é uma boa fonte de orientação. Já a
atenção de empresas nos mais variados seto- Cartilha pela Diversidade de Raça, da KPMG e
res. No entanto, trata-se de um tema com um Faculdade Zumbi dos Palmares, ajuda a dire-
nível de complexidade maior do que pode apa- cionar as ações das empresas para que elas
rentar inicialmente. Isso tem resultado em gra- se tornem mais inclusivas do ponto de vista
ves equívocos em posicionamentos e peças de racial. Por fim, o Guia Diversidade para Em-
comunicação, que acabam reproduzindo vie- presas e Boas Práticas60, publicado pela con-
ses e preconceitos arraigados na sociedade. sultoria Ideia Sustentável, traz um roteiro de
ideias para que a sustentabilidade seja comu-
Para compreender a diversidade e se comu- nicada de dentro para fora das organizações.
nicar com as maiorias invisibilizadas que se
quer engajar, são necessários exercícios, por Nos últimos anos, a IBM tem se consolidado
parte da empresa, de escuta desses públicos, como uma referência de empresa com boas
com o objetivo de incluí-los de maneira efeti- práticas e boa comunicação para a diversi-
va, exercitar a empatia e combater mecanis- dade61. Dirigida globalmente pela executiva
mos de exclusão. Conceitos como represen- americana Ginni Rometty desde 2012 e tendo
tatividade e lugar de fala são essenciais para como líder de diversidade na América Latina
o entendimento das realidades vividas pelos a executiva Adriana Ferreira, que entrou na
grupos que têm menor acesso aos bens so- IBM como estagiária de RH aos 38 anos, a IBM
ciais e são constrangidos, sistematicamente, tem legitimidade para levantar as bandeiras
pela sua orientação sexual, cor da pele, gêne- de diversidade e inclusão. Com um extenso
ro, idade ou deficiências. cardápio de ações nesta temática, a empre-
sa adotou as cores do arco-íris em sua versão
Uma empresa que queira se posicionar como de logomarca usada em eventos sobre diver-
diversa e comunicar isso, para não incorrer sidade e inclusão62 e realiza eventos de ben-
em contradição, precisa que esses conceitos chmarking63 abertos a outras empresas.
estejam presentes na sua visão de mundo. In-
cluir, representar, ouvir e se posicionar pas-
sam a ser verbos imperativos. A diversidade, 3.12 Como comunicar causas
para ser real, precisa estar presente desde a
composição da liderança da organização até A comunicação do propósito das empresas e
sua publicidade. das causas que dele derivam é uma das con-
sequências da maior exigência pela atuação
Para as áreas de comunicação, é importante sustentável das organizações. Essa tendência
conhecer as boas práticas de comunicação é comprovada por pesquisas e estudos, como
inclusiva, tratadas em publicações editadas a Earned Brand 201864, conduzida pela Agência
por organizações representativas dos movi- 60
https://ideiasustentavel.com.br/guia-diversidade-para
mentos LGBTI+, negro e de equidade de gê- -empresas-boas-praticas/
nero, dentre outros. 61
https://www.revistadareputacao.com.br/single
-post/2017/04/29/Adriana-Ferreira-e-a-diversidade-na-IBM
59
Para um histórico sobre o debate sobre diversidade nas 62
https://www.meioemensagem.com.br/home/marke-
organizações ao longo do tempo, ver a série de posts “Bre- ting/2017/01/10/entenda-o-que-esta-por-tras-do-novo-lo-
ve Histórico da Diversidade nas Organizações” organizado go-da-ibm.html
pelo consultor Ricardo Sales, fundador da Mais Diversidade. 63
https://www.sympla.com.br/benchmarking-de-diversida-
http://www.aberje.com.br/blogs/post/breve-historico-da- de--inclusao-ibm__761491
diversidade-nas-organizacoes/ 64
https://www.edelman.com/earned-brand
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 65
O
cenário da comu-
Comunicação do Terceiro Setor
nicação no tercei-
As instituições do Terceiro Setor enfrentam desafios si- ro setor integra
milares aos enfrentados pelos departamentos de comu- um universo de caminhos
nicação de empresas com fins lucrativos: equipes redu- e ramificações. Embora
zidas, dificuldade de atrair a atenção da mídia, dificuldade a realidade de muitas or-
de engajar públicos para a sustentabilidade. Neste sen- ganizações da sociedade
tido, as recomendações para a construção de confiança civil seja atravessada por
para as empresas com fins lucrativos contidas neste guia similaridades, a experiên-
também são válidas para as instituições do terceiro setor. cia individual de quem
vive, constrói e reinventa
Transparência de dados e de governança, prestação de
a arte de comunicar cau-
contas e mobilização em torno de causas devem nortear
sas é uma aventura sin-
as ações de comunicação do terceiro setor. Ações com
gular. Afinal, comunicar
tom de empoderamento de públicos atendidos são prefe-
para quê? Para quem?
ríveis a ações com tom de vitimização, assim como a men-
Para onde?
suração de impacto positivo nas divulgações de prestação
de contas é tão importante quanto a mensuração de im- Uma das minhas atuais
pactos negativos nas comunicações de denúncias. inquietações é a tentativa
de decifrar o enigma do
A pesquisa com jornalistas realizada para este guia apontou
real lugar da comunicação
que as instituições do terceiro setor tem uma grande opor-
na cultura organizacional
tunidade, nem sempre aproveitada, de gerar ou compilar
de uma instituição. Se
dados para pautar a mídia e os debates que se fazem ne-
estabelecemos como pa-
cessários para o alcance da agenda 2030. É hora, portanto,
râmetro a compreensão
de estreitar laços com jornalistas e formadores de opinião.
do que é atividade-fim e
Por fim, espera-se criatividade e bom senso em ações o que é atividade-meio,
que tenham por objetivo o financiamento coletivo de nos deparamos com dois
projetos do terceiro setor. As instituições que só pedem riscos. O primeiro é o de
dinheiro, mas não se comunicam com seus públicos de frustrar a expectativa
interesse em outras situações, estão fadadas ao fracas- do/a profissional que de-
so. Equilíbrio é a receita.
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 67
seja atuar diretamente com as os temas prin- jamento e dedicação seguem na contramão
cipais da organização na qual atua. O outro é de uma demanda?
o de confinar o papel do/a comunicador/a à
Quando minha trajetória profissional migrou
robotização de tarefas e atividades operacio-
oficialmente para a filantropia, construí de
nais, sob a justificativa de que o cargo é uma
maneira intencional várias alianças com pro-
posição de apoio, sem protagonismo. Como
fissionais de comunicação. Fiz um exercício
resolvemos esse dilema?
de escuta e observação de experiências, bus-
Em 2019, a pesquisa realizada pela Nossa cando entender o caminho pelo qual eu dese-
Causa, em parceria com 14 instituições, in- java percorrer. Qual legado para a comunica-
vestigou o cenário das práticas e percep- ção eu escolheria deixar?
ções de organizações brasileiras do terceiro
Trouxe questionamentos sem apresentar res-
setor sobre comunicação e marketing. Ba-
postas de forma proposital, a fim de deixar cla-
seada em uma metodologia quantitativa, os
ro que nem sempre precisamos de um conclu-
eixos de análise foram estruturados no perfil
sivo como ponto de partida. Muitas vezes, as
dos institutos, estrutura e investimento na
respostas chegam durante a resolução da tira-
área e os mecanismos sobre a comunicação.
nia dos problemas. Nossas resoluções emer-
Em meio à infinidade de dados, o que mais
gem da construção do nosso cotidiano, pois
me confrontou foi o óbvio: 50% das organi-
nossa atividade é – de fato – um emaranhado
zações contam com apenas uma pessoa na
de questões. Minha esperança é que este guia
área para realizar todos os processos on e
seja um aliado para orientar e fomentar novas
off-line do planejamento.
estratégias do campo de comunicadores, para
É nesse território solitário - ou às vezes com além da excelência operacional.
pouquíssimos braços - que comunicadores/as
Cada contribuição é única. Não importa se
estão desenhando suas histórias. Lutar pela
estamos em atividade-fim ou atividade-meio.
comunicação no centro da estratégia da uma
O que, na verdade, é realmente significativo é
organização é um ato político. Faz parte de uma
a capacidade de influenciar debates, condu-
sucessão de testes – entre erros e acertos –
zindo nosso público-alvo à tomada de decisão
para ajustar perspectivas. É descobrir o poder
mais consciente e responsável. Muito se fala
das redes para compartilhar insights e desafios,
hoje sobre resultados e métricas para atestar
entendendo que a articulação é um valor inego-
hipóteses e mensurar impactos. Absorvemos
ciável. É explorar a ousadia de dar visibilidade
ideias de um milhão de livros e artigos sobre
às causas que carecem de incidência do po-
organização de fluxos de trabalho e gerencia-
der público, trazendo ainda mais humanidade e
mento de tempo. Tudo tem seu valor. Tudo
sensibilidade à nossa atuação cotidiana.
tem seu lugar. E só o tempo nos ensina que é
Não importa qual é a missão da sua organiza- preciso (re)aprender e desaprender hábitos e
ção. Sempre haverá um senso de urgência e vícios para realizar uma comunicação efetiva.
imediatismo pela melhor estratégia a fim de Afinal, comunicar é transformar!
torná-la pública. Porém, em muitos cenários,
a estrutura e os recursos são insuficientes Andréia Coutinho Louback
para ir além do substancial. Como, então, fa- Coordenadora de Comunicação do Instituto
zer malabarismos quando o tempo de plane- Clima e Sociedade (iCS)
68 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Criado pelo World Business Council for Sustainable Development, esse con-
ceito propõe produzir mais e melhor com o uso menor de recursos naturais,
ECOEFICIÊNCIA
o que resulta na redução do custo econômico e do impacto ambiental, sem
deixar de atender às necessidades humanas.
Gases que absorvem uma parte dos raios do sol e os redistribuem em for-
GASES DE EFEITO
ma de radiação na atmosfera, aquecendo o planeta. Os mais conhecidos são
ESTUFA
CO2, CH4, N2O, O3, halocarbonos e vapor d’ água.
Cinco recomendações
pedagógicas para o
3.15 Comunicação para a ensino de comunicação do
sustentabilidade na educação desenvolvimento sustentável
Um dos caminhos mais promissores para a 1. Os professores podem considerar a
construção de uma cultura de sustentabili- sustentabilidade como um sistema
dade no Brasil é reforçar a importância e a interligado de opções para o desen-
consistência da apresentação desse con- volvimento, baseado em esforços ge-
teúdo nos currículos dos cursos de gradua- rais de governança que têm grande
ção e pós-graduação. influência nas trajetórias sociais em
Em um quadro mais amplo, é desejável que que a ação da mídia se desenvolve.
esse processo se dê ao longo de toda a jor- 2. Partindo do item anterior, os profes-
nada de formação, do ensino infantil ao su- sores podem integrar a seus currícu-
perior, com o objetivo, de que o conceito de los e planos de ensino a noção de que
sustentabilidade se torne mais presente, de um sistema de mídia livre, indepen-
maneira interdisciplinar e transversal à for- dente e pluralista é parte integrante
mação. Essa aproximação tem a capacidade da governança para o desenvolvi-
de influenciar não apenas o aprendizado, mas mento sustentável. Essa conclusão é
como a própria relação dos alunos com a sus- referendada pelo High-Level Panel of
tentabilidade nos contextos em que vivem e Eminent Persons (Painel de Alto Nível
atuam, como família, escola e comunidade. de Pessoas Eminentes), que assesso-
Em 2015, pensando nos cursos de formação ra o Secretário-Geral da ONU das Na-
de profissionais de comunicação, a Unesco ções Unidas.
lançou a publicação Teaching Journalism for 3. Os professores devem acreditar que
Sustainable Development (Ensinando jorna- seu foco pedagógico no desenvol-
lismo para o Desenvolvimento Sustentável). O vimento sustentável vai levar a uma
guia parte da premissa de que uma imprensa comunidade maior de pessoas, muito
livre, plural e independente é essencial tanto além da sala de aula, as discussões
para o desenvolvimento sustentável como sobre a sustentabilidade e o aperfei-
para o próprio processo de aperfeiçoamento çoamento da mídia, o que já torna o
de aspectos como governança, políticas de foco nesse tema legítimo.
inclusão e normas para a regulamentação dos
diversos aspectos da sustentabilidade. 4. A formação dos estudantes pode criar
um vínculo entre a prática da comu-
O resultado dessa reflexão sugere a adoção nicação, o impacto de uma mídia livre,
de novas práticas com potencial de aperfei- plural e independente e as questões
çoar não apenas a formação de profissionais de desenvolvimento sustentável.
de imprensa como também dos comunicado-
res corporativos, agências e outros profissio- 5. A pedagogia da comunicação pode
nais envolvidos na comunicação, reporte e fornecer aos alunos uma estrutura e
engajamento para a sustentabilidade. significado globais relevantes para o
desenvolvimento de conhecimentos,
atitudes e habilidades.
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 75
O objetivo é que,
Os princípios listados no quadro apontam
para que a formação em Comunicação, em
um sentido mais amplo, possa oferecer no-
vas e relevantes aproximações em relação às por meio da
muitas dimensões que compõem o desenvol-
vimento sustentável. aproximação do
tema, os estudantes
3.16 Atitudes para o
aprendizado
possam ter acesso
Na sala de aula, incentivar que estudantes as-
a experiências
sumam determinadas atitudes pode ampliar
muito o desempenho e o aprendizado. O obje-
motivadoras em
tivo é que, por meio da aproximação do tema,
os estudantes possam ter acesso a expe-
relação a seu
riências motivadoras em relação a seu papel papel como fonte
de mapeamento
como fonte de mapeamento e distribuição de
informações, assim à própria lógica de como
as notícias são produzidas e registradas.
Essas atitudes-chave são sete:
e distribuição de
entender que o desenvolvimento sus-
informações
tentável está ligado a questões finan-
ceiras relevantes e que isso é essencial conhecer profundamente um tema. Isso
para entender como e por que decisões pode ser conseguido acompanhando de
são tomadas; perto o trabalho de quem se destaca na
cobertura daquele assunto;
encontrar o local dentro do global, isto é,
por mais amplo que seja um tema, sempre inscrever-se em mailings especializados é
há um ângulo que pode reforçar a relevân- outra maneira de manter-se informado so-
cia dele para o público de uma publicação bre o que acontece nas várias dimensões
ou organização específica; da sustentabilidade, como questões climá-
ticas, resíduos, direitos humanos etc;
a cada nova notícia, perguntar-se como
ela afeta os aspectos sociais, ambientais Ler jornais é outra maneira acompanhar
e econômicos de uma organização ou co- os acontecimentos ao mesmo em que se
munidade e a relação entre esses mesmos entende os critérios e ferramentas usados
aspectos (desse questionamento normal- pela mídia para lidar com esses assuntos;
mente surgem novos ângulos para repor-
e, por fim, permanecer conectado às
tar essas informações);
suas (muitas) fontes. É a partir da mul-
uma das melhores maneiras para conse- tiplicidade de olhares que têm a sua dis-
guir espaço para um determinado tema na posição que o jornalista ou comunicador
mídia é acompanhar as tendências, isto constrói uma leitura mais rica do cenário
é, editores e jornalistas em geral tendem onde as questões da sustentabilidade se
a dar ouvidos a pessoas que demonstram desenvolvem.
76 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Q
somos sequer consultados.
Quando na década de 70 Jean Baudrillard desenvolveu
_ Olá cara Silvana, quais as
suas teorias sobre a sociedade pós-moderna -“organi-
novidades? Respondo atônita
zada em torno da simulação, cuja ruptura radical com
parafraseando o velho Sérgio
as sociedades modernas tem como demiurgos os modelos,
Cabral, a uma mensagem de
os códigos, a comunicação, as informações e a mídia”- ele
remetente desconhecido:_
afirmava que nesse delirante circo as subjetividades esta-
Por enquanto a nossa amizade.
riam fragmentadas e perdidas. As classes sociais, os sexos,
as diferenças políticas e as diversidades culturais e religiosas Mas não abandonamos o barco.
implodiriam uns sobre os outros apagando as fronteiras e as Seguimos conectados, presos
diferenças num caleidoscópio pós-moderno. a essa miríade de experiências
fascinantes às quais nos agar-
Seria esse pensamento um vaticínio para o polarização redu-
ramos, para evitar o naufrágio
cionista que vivemos hoje?
do não pertencimento.
Na visão de Baudrillard a hiper-realidade desse mundo pós-
Como descobrir uma rota
moderno seduziria muito mais do que a realidade. Os indiví-
mais segura e um processo
duos abandonariam o “deserto do real” pelo êxtase da hiper
de interação social menos
-realidade e pelo novo reino do computador, da mídia digital
angustiante?
e da tecnologia.
Na era da incerteza muitas
Uma visão inquietante sobre a sociedade do simulacro. Se na
perguntas e poucas respostas.
perspectiva moderna as tecnologias eram uma extensão dos
seres humanos, que as usavam para dominar e controlar a na- A escola, as famílias e as
tureza, os pós-modernos, ao contrário. Esses acreditavam, empresas precisam repen-
inicialmente, que as tecnologias preponderariam e que cada sar suas práticas educativas
vez mais viveríamos sob a tensão de ter os meios para acessar para formar cidadãos autô-
qualquer tipo de informação e o medo de sermos dominados. nomos, críticos, criativos,
Não mais pelas tecnologias, mas pela tirania da compulsão solidários e independentes.
por essas informações. Empanturrados de imagens, concei- É imprescindível garantir aos
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 77
Case HEINEKEN
sustentabilidade
em sala de aula
80 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
Linha do Tempo
ANOS ANOS
1940 1950
ANOS ANOS
1960 1970
ANOS
1980
Lester Brown, fundador do 1981 A Lei nº 6.938/81 institui a 1985 Convenção de Viena,
Earth Policy Institute, cunha Política Nacional do Meio Ambiente, voltada para a proteção da
pela primeira vez o termo com o objetivo de preservar, melho- camada de ozônio.
“Sustentabilidade” (1984). rar e recuperar a qualidade ambien-
Boicote à Nestlé por causa tal propícia à vida, visando dar
de propaganda de fórmulas condições ao desenvolvimento
infantis em países em socioeconômico, aos interesses da
desenvolvimento e subde- segurança nacional e à proteção da
senvolvidos. dignidade da vida humana.
ANOS
1990
1987 Gro Brundtland, 1988 PNUMA (Programa das 1991 Criação do IDH – Índice
primeira-ministra da Nações Unidas para o Meio de Desenvolvimento
Noruega, publica o Relatório Ambiente) e Organização Humano.
Brundtland no documento Meteorológica Mundial
“Nosso Futuro Comum”, pela constituem o IPCC – Painel
Comissão Mundial de Meio Intergovernamental sobre
Ambiente e Mudanças Climáticas – com
Desenvolvimento, então o objetivo de fornecer
chefiada por ela. Protocolo informações científicas,
de Montreal para banir o uso técnicas, ambientais, sociais
de clorofluorcarbonatos e econômicas que
(CFCs). contribuam para o
entendimento das mudanças
climáticas.
84 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
ANOS
1990
1992 Realização da Eco-92 – 1993 Realizada pela 1995 Fundação do 1996 Nike é acusada
Conferência das Nações ONU a Conferência Gife – Grupo de de empregar
Unidas sobre Meio Ambiente Mundial sobre Direitos Institutos, trabalho infantil no
e Desenvolvimento – ou Rio- Humanos, com a Fundações e Paquistão.
-92, na qual foram elabora- participação de 171 Empresas –, fruto
dos documentos importan- Estados, que reafir- do processo de
tes, como Declaração do Rio maram o compromis- redemocratização
e Convenção-Quadro sobre so com a Declaração do PIS, do
Mudanças Climáticas. O Universal dos Direitos fortalecimento da
evento foi o ponto de partida Humanos. sociedade civil e da
para o Protocolo de Quioto e conscientização do
a Agenda 21. empresariado
brasileiro. Reúne
1992 Criação da Fundação empresas que
Brasileira para o Desenvolvi- fazem investimento
mento Sustentável – FBDS, social privado.
instituída com o objetivo de
implementar as convenções
e os tratados aprovados na
Eco-92. É uma entidade que
pensa e estrutura projetos de
desenvolvimento sustentá-
vel, graças a uma organiza-
ção que concilia a fronteira
do conhecimento com
capacidade gerencial.
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 85
ANOS ANOS
1990 2000
1999 Criação do Índice Dow Jones 2000 Lançada pelo então Presidente
de Sustentabilidade. É o primeiro da República Fernando Henrique
índice global que acompanha o Cardoso, a Agenda 21 Brasileira, com o
desempenho financeiro das objetivo de ampliar as discussões
companhias líderes em sustenta- relativas à sustentabilidade nacional
bilidade em todo o mundo com nos âmbitos estaduais e regionais.
papéis negociados na Bolsa de
Nova York. 2000 Lançamento dos Indicadores
Ethos de Responsabilidade Social. São
1999 Fórum Econômico Mundial é ferramentas de aprendizado e avalia-
realizado pela ONU, reunindo ção da gestão, no que se refere à
líderes empresariais. Palco de incorporação de práticas de responsa-
criação do Pacto Global, desafio bilidade social e empresarial ao
proposto por Kofi Annan, então planejamento estratégico e ao
secretário geral da ONU. Busca a monitoramento e desempenho geral
mobilização do setor privado para da empresa.
o alinhamento das práticas
empresariais com valores 2000 Cúpula do Milênio da ONU,
universais nas áreas de direitos encontro realizado em Nova York. Deu
humanos, trabalho, meio ambien- origem à Declaração do Milênio, que
te e combate à corrupção. define os 8 Objetivos de Desenvolvi-
mento do Milênio – metas concretas a
serem atingidas pelos 191 estados
membros da ONU até 2015.
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 87
ANOS
2000
ANOS
2010
2008 Projeto de Lei da 2009 Lançada a primeira 2010 Realizado road show de
Política Nacional de edição do Guia CEBDS de apresentação do Guia CEBDS de
Mudanças Climáticas é Comunicação e Comunicação e Sustentabilidade,
debatido com a Sustentabilidade. que culminou com a apresentação
sociedade. do case por Eraldo Carneiro na
Conferência Internacional do
Reputation Institute, em maio, no
Rio de Janeiro.
ANOS
2010
2011 Lançamento dos Princípios 2012 2013 Desabamento de 2015 Lançamento pelas
Orientadores para Empresas e Realização da prédio Rana Plaza, em 24 Nações Unidas da Agenda
Direitos Humanos, das Nações Conferência de abril, na periferia de 2030 e 17 dos Objetivos
Unidas. Rio+20, no Daca, capital de do Desenvolvimento
Brasil. Bangladesh, deixando 1.127 Sustentável (ODS).
2011 Aprovação, pelas mortos e levantando Adoção do Acordo de
Assembleia Geral das Nações debates sobre a Paris, com o objetivo de
Unidas, da resolução sustentabilidade na moda, enfrentar as mudanças
“Felicidade: Rumo a uma pois o prédio abrigava climáticas.
Abordagem Holística do fábricas de 25 marcas.
Desenvolvimento”, que, com 2015 Recall pela
base na experiência do Butão, 2013 Publicação do Volkswagen de milhares
estabeleceu o Gross National relatório “Felicidade: de carros após a
Happiness (GNH), uma espécie Rumo a um novo companhia admitir
de “PIB da Felicidade”, como um Paradigma para o fraude em testes de
indicador a ser levado em conta Desenvolvimento”, emissões.
por governos e empresas. complementar à
resolução, de 2011, da ONU 2015 Rompimento da
2011 Lançamento da Plataforma sobre o tema. barragem de Fundão, em
Liderança Sustentável pela Mariana (MG), o maior
consultoria Ideia Sustentável, desastre ambiental da
que passou a se chamar história do Brasil.
Plataforma Liderança com
Valores em 2018.
Guia de Comunicação e Sustentabilidade 91
2017 Realizado o seminário 2018 Lançamento do Guia 2019 A greve global pelo
Reputação Brasil >> “Sustentabilidade para RH: clima e a ativista Greta
Caminhos para o Amanhã, no 10 Desafios”, pela consultoria Thunberg ajudam a
Rio de Janeiro, que debateu Ideia Sustentável, em ampliar a repercussão do
o papel das empresas e da parceria com a Associação debate sobre as
sociedade na construção da Brasileira de Recursos mudanças climáticas.
reputação do país. Humanos (ABRH Nacional),
consolidando a inserção do 2019 Rompimento da
tema Sustentabilidade na barragem da mina de
agenda de Recursos Córrego do Feijão, em
Humanos das empresas no Brumadinho (MG), que
Brasil. resultou na morte de 270
pessoas.
2018 Carta anual do CEO da
Black Rock, maior fundo de 2019 Onze mil cientistas
investimentos do mundo, declaram que o planeta
convida empresas a está passando por um
buscarem propósito em seus Estado de Emergência
negócios. Climática.
92 Guia de Comunicação e Sustentabilidade
ANOS ANOS
2020 2030
Agradecimentos
TM
APOIO