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Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei, 93022-000, São Leopoldo, RS, Brasil.
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Attribution License (CC-BY 3.0), sendo permitidas
reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
José Odelso Schneider
A dimensão social relaciona-se com a supera- O segundo modelo confere prioridade total
ção da miséria social/pobreza, o bem-estar so- à vida e aos seres vivos e leva o ser humano
cial, o meio ambiente e o equilíbrio econômico. a desenvolver e aplicar tecnologias que aper-
Devem satisfazer-se as necessidades da so- feiçoem as cadeias biológicas que contribuem
ciedade, tais como alimentação, roupa, habita- para o seu bem-estar. Este aufere os frutos ge-
ção e trabalho, pois, se a pobreza é habitual e rados por essas cadeias biológicas sem destruí-
progressiva, o mundo se está encaminhando -las e eliminá-las irremediavelmente. Os pro-
para catástrofes de vários tipos, incluídas as tagonistas deste modelo utilizam tecnologias
ecológicas. Por outro lado, o desenvolvimento que transformam a matéria inorgânica tão
e o bem-estar social estão limitados pelo nível somente quando estas conduzem ao aperfei-
tecnológico, os recursos do meio ambiente e a çoamento das cadeias biológicas em coerência
capacidade deste para absorver todos os efei- com a solidariedade do ser humano para com
tos das ações humanas. Diante desta situação, os seres vivos que lhe proporcionam bem-es-
coloca-se a possibilidade de aperfeiçoar a tec- tar individual e social. Este modelo assegura
nologia e a organização social de forma que o o verdadeiro desenvolvimento sustentável e
meio ambiente possa recuperar-se no mesmo constitui a base de uma civilização a serviço
ritmo e na mesma intensidade em que é afeta- da vida e do aperfeiçoamento dos seres vivos.
do pela atividade humana. Apoiando-se sobre as estruturas políticas
vigentes (União, Estados, Municípios e Acor-
A evolução do conceito de dos Internacionais), este modelo de desenvol-
vimento pautar-se-á pelas exigências de cada
desenvolvimento sustentável
ecossistema e bioma no que diz respeito:
• ao processo de urbanização;
Sustentabilidade, a exuberância • à gestão dos recursos hídricos;
e a diversidade dos seres vivos • à ocupação e exploração do solo,
• à manutenção da qualidade do ar;
A exuberância e diversidade de seres vivos, • à implantação da infraestrutura eco-
tão bem formuladas na recente visão de “bio- nômica (energia, transporte e meios de
diversidade”, devem ser levadas em conta no comunicação) e social (educação, habi-
planejamento e execução das atividades hu- tação, saneamento básico e demais servi-
manas nos diversos conjuntos de ecossistemas. ços de saúde).
Este planejamento, porém, é chamado a optar
entre dois processos e modelos distintos de “desen- É bem verdade que não são raros os casos
volvimento sustentável”. Na realidade, cada um de propaganda enganosa em que se veicula a
desses modelos corresponde a um conceito e a palavra sustentabilidade para adoçar práticas
um paradigma específico de civilização. predatórias. Ao mesmo tempo, pode parecer
O primeiro modelo corresponde ao para- credulidade valorizar o movimento em direção
digma de civilização oriundo das revoluções à responsabilidade socioambiental bancária,
industriais dos séculos XIX e XX, que confere quando se levam em conta a magnitude e a ori-
prioridade total à transformação da matéria gem da crise financeira que teve início em 2008 e
bruta inorgânica para colocá-la a serviço do que responde por uma elevação impressionante
ser humano, mesmo que este empreendimen- da insegurança, do desemprego e da opacidade
to elimine irremediavelmente cadeias inteiras que marcam as práticas financeiras atuais. Não
de seres vivos. Seu único cuidado é utilizar há dúvida que a grande maioria das operações
tecnologias que destruam o menos possível bancárias não se pauta por critérios básicos e ex-
essas cadeias biológicas e ao mesmo tempo plícitos quanto a seus impactos socioambientais.
assegurem a rentabilidade econômica e finan- Tais operações defendem interesses eminente-
ceira do empreendimento. Por esse motivo, mente privados, lucrativos e exclusivistas.
esse modelo conduz na prática a um pseudo- Ainda no que tange a possíveis distorções, o
desenvolvimento sustentável. É este modelo conceito de sustentabilidade parece ter sido se-
que provocou a famosa “Questão Social”, que questrado por empresas para fazer “greenwash”,
emergiu no bojo da Revolução Industrial e a ou seja, dar aparência verde ou ecológica. Essa
acompanhou ao longo de toda a sua evolu- palavra foi introduzida depois, como se entre-
ção, em que os empresários geralmente saíam gasse aquilo que o desenvolvimento sustentável
como os grandes beneficiados e os trabalhado- significa. Você precisa olhar cada empresa para
res assalariados, como as grandes vítimas. saber se ela está adotando a sustentabilidade ou
tório, ou seja, a força que busca rupturas e tica de Imigração dos EUA, o número de latino-
questionamentos junto aos setores das elites, -americanos cruzando a fronteira hoje é duas
que concentram e se negam a distribuir as vezes maior que há dez anos, atingindo quase
riquezas da nação, surge dos movimentos 300 mil por ano. Dois terços desse contingente
sociais. Estes, desse modo, são protagonistas são de mexicanos.
nas lutas contra as desigualdades – materiais Em alguns países como Equador, Guatemala,
e imateriais – e por uma sociedade mais justa El Salvador, República Dominicana e o México,
e equânime. as remessas recebidas de parentes do exterior
representam parcela significativa do dinheiro
A sustentabilidade no contexto em circulação e influenciam o PIB do país. Isso
é expressão de uma dantesca diáspora. Nos
da América Latina: resistências
últimos anos, acentuou-se também a migração
e novos caminhos intrarregional.
A América Latina é um continente fraturado
por séculos de colonização, por ditaduras e pela
Outros elementos componentes
desigualdade social. A partir dos anos 1980, tor- do conceito de sustentabilidade –
nou-se um laboratório do capitalismo mundial repartir em prol de um consumo
sob as orientações do ‘Consenso de Washington’. sustentável
O vendaval arrasa-quarteirão do neoliberalis-
mo levou o continente ao ‘fundo do poço’. Segundo o economista Marcio Pochmann
E isso ocorreu através das seguintes medi- (2012), “o padrão de consumo dos ricos tornou
das: (i) Privatizações, desregulação, (ii) aber- cada vez mais grave a crise ambiental no pla-
tura indiscriminada das economias nacionais neta. A saída, portanto, não pode ser a conten-
ao capital e a empresas multinacionais, (iii) ção do crescimento da demanda material dos
inserção subordinada à economia internacio- pobres, mas a reversão do modelo de vida dos
nal, (iv) fragilização do Estado, (v) desman- países e indivíduos ricos, assentado no consu-
telamento e ataques aos direitos dos traba- mo ostentatório”2.
lhadores, e a consequente crítica e resistência O economista chama a atenção para o risco
à legislação trabalhista e previdenciária, que da “chamada economia verde estar a serviço
surgiram nos avanços de mais sensibilidade da ocultação, mais uma vez, da manutenção do
social, a partir de 1930 até 1990; (vi) desestru- quadro geral de dominação imposto pelos paí-
turação do mercado de trabalho e (vii) emigra- ses ricos. Isso pode estar ocorrendo justamente
ções acentuadas, que caracterizam o cenário quando as economias do norte convivem com
latino-americano nos anos 1990. inegável esvaziamento de suas posições relati-
Em que pese a redução – ano a ano – da vas no mundo” (Pochman, 2012, p. 3).
pobreza no continente, ela é ainda muito alta. Eis alguns aspectos a serem destacados
Segundo a Comissão Econômica para a América dessas ideias:
Latina e o Caribe (CEPALC), em 2006 os latino- (a) As resistências à mudança por parte do
-americanos que viviam em situação de pobre- sistema econômico dominante terminam por
za chegavam a 205 milhões (38,5% da popula- dar maior curso ao aprofundamento da cri-
ção na região), sendo 79 milhões de indigentes se ecológica atual. Sem a revisão do padrão
(14,7 % da população no continente). Um dos de crescimento do consumo material global,
indicadores perversos da deterioração social prossegue a tendência do desaparecimento
foi a intensificação da migração. da abundância dos recursos naturais e da ele-
De acordo com os dados do Centro Latino- vação das emissões de gases nocivos ao meio
-Americano e Caribenho de Demografia (CELA- ambiente, provocando a mudança climática e
DE), houve na América Latina e no Caribe, nos o aumento da temperatura média da terra.
primeiros cinco anos do terceiro milênio, um (b) Das 45 mil espécies atualmente catalo-
significativo aumento do número de migran- gadas, quase 40% encontram-se ameaçadas de
tes, passando de 21 milhões, em 2000, para 26 extinção. Somente nas últimas três décadas, o
milhões, em 2005. Segundo o Instituto de Polí- planeta perdeu um terço de suas florestas na-
2
Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em artigo publicado originalmente
no jornal Valor Econômico (2012).
3
As citações literais da fala de Gro Brundtland são extraídas do jornal Folha de S. Paulo (Brundtland, 2012).
Manaus, ela responde: “houve uma mudança Somente 500 grandes corporações transna-
considerável no uso de energia. O que você cionais controlam a metade da produção mun-
pode ganhar aumentando a eficiência energé- dial, em grande medida voltada ao atendi-
tica está longe de estar realizado”. A entrevista mento do padrão de consumo ostentatório dos
segue questionando se existe algum país que ricos e imitado por muitos não ricos. Nesses
possa liderar a economia verde e uma trans- termos, tem-se o risco de parte da teorização
formação nos modos de produzir, ao que ela em torno da chamada economia verde estar a
considera que a Coreia do Sul fez muitos es- serviço da ocultação, mais uma vez, da manu-
forços nessa direção, mas não chega a afirmar tenção do quadro geral de dominação imposto
que poderia liderar um processo consistente pelos países ricos. Isso pode estar ocorrendo
de mudança. justamente quando as economias do norte
E, em relação ao Brasil no aspecto da sus- convivem com inegável esvaziamento de suas
tentabilidade, ela opina que “há uma melhora posições relativas no mundo.
na questão do desmatamento na Amazônia,
que pode ser medida. Mas está muito melhor O cooperativismo e a opção
agora do que quando viemos em 1985. Eu me em prol da sustentabilidade
lembro que estive em Manaus com um go-
vernador famoso [Gilberto Mestrinho] que Em eventos internacionais recentes, o
achava uma estupidez isso de os ambientalis- Secretário-Geral da Organização das Nações
tas virem dizer o que fazer com a Amazônia. Unidas (ONU), Ban Ki-moon, reafirmou o
Quando estivemos em Cubatão, aquilo era um apoio aos 17 Objetivos de Desenvolvimento
dos casos mais graves de poluição industrial. Sustentável (ODS) propostos por um grupo
Hoje é um exemplo de como as coisas mudam de trabalho de Estados membros para a nova
e o que pode ser feito”. agenda que o Fórum Mundial aplicará entre
2015 e 2030.
As distorções no desenvolvimento Os 17 ODS, negociados durante um perío-
em época de globalização do de nove meses, incluem uma ampla gama
de problemas socioeconômicos, como pobre-
Constata-se recentemente que o padrão de za, fome, igualdade de gênero, industriali-
consumo dos ricos tornou cada vez mais grave zação, desenvolvimento sustentável, pleno
a crise ambiental no planeta. A saída, portan- emprego, educação de qualidade, mudança
to, não pode ser a contenção do crescimento climática e energia sustentável para todos. A
da demanda material dos pobres, mas a rever- maior parte deles faz parte dos oito Objetivos
são do modelo de vida dos ricos assentado no de Desenvolvimento do Milênio (ODM), esta-
consumo ostentatório ou conspícuo, segundo belecidos para 2018 e que vencem no final de
Thorstein Veblen (1974). O crescimento da pro- 2015, e já se sabe que em alguns deles as metas
dução permite elevar o nível geral de riqueza, não serão alcançadas.
enquanto requisito básico para melhorar a sor- O Secretário-Geral disse que os 17 ODS
te dos pobres. Mas o aumento da riqueza sem são uma clara expressão da visão dos Esta-
a sua justa redistribuição favorece justamente dos membros e de seu desejo de contar com
os ricos, impulsionando a prevalência do pa- uma agenda que possa acabar com a pobreza,
drão de consumo ostentatório. alcançar a prosperidade e a paz e proteger o
Atualmente, os países ricos representam um planeta, tudo isso sem exclusões. Ban Ki-moon
quinto da população mundial e detêm 80% da destacou a necessidade de uma aliança mun-
riqueza global. A perspectiva das nações não ri- dial renovada para o desenvolvimento, entre
cas para enfrentar a crise ecológica global não países ricos e pobres, no contexto da agenda
pode ser a mesma defendida pelos ricos. posterior a 2015.
Certamente o avanço tecnológico pode Segundo Ban Ki-moon, os recursos, a tec-
contribuir para que o padrão de vida urbano nologia e a vontade política são fundamentais
reduza o grau de emissão de gases nocivos à não só para a aplicação da agenda, uma vez
biosfera, bem como altere o conteúdo forte- adotada, mas inclusive agora, para gerar con-
mente material do consumo. Mas cabe indagar fiança enquanto os Estados membros negociam
a respeito da propriedade dos novos avanços seus parâmetros finais. Espera-se que os ODS,
tecnológicos quando cerca de dois terços dos que continuarão submetidos à revisão, estejam
investimentos em tecnologia se encontram em completos em 2015 e que a Assembleia Geral da
poder das grandes corporações transnacionais. ONU, de 193 membros, os adote em setembro.
Um novo informe que sintetiza os 17 ODS, comunidade em geral. Combatem, pois, o ab-
intitulado O Caminho para a Dignidade em 2030: senteísmo, a inexistência de vínculos afetivos e
Acabar com a Pobreza, Transformar Todas as Vidas efetivos nestas empresas que lhes asseguram a
e Proteger o Planeta, apresenta um conjunto in- sobrevivência e o bem-estar.
tegrado de “seis elementos essenciais: a digni- Como e por que surgiram as cooperati-
dade, as pessoas, a prosperidade, nosso plane- vas? Elas foram criadas por representantes da
ta, a justiça e a associação”. A menção a estes classe operária no início da revolução indus-
seis elementos visa oferecer certa orientação trial capitalista. Então, a classe trabalhadora,
conceitual para o trabalho que há pela frente”, a grande vítima da QUESTÃO SOCIAL, pro-
explicou Ban Ki-moon aos meios de comunica- vocada pela revolução industrial capitalista,
ção (Instituto Humanitas Unisinos, 2014). estava submetida à ganância incontrolável de
Cabe perguntar por que as Nações Unidas empreendedores industriais da época, que os
priorizam a importância dos empreendimen- mantinham entre 12 a 16 horas contínuas de
tos associativos, considerando-os um modo trabalho diário, com salários de fome, em con-
sustentável de trabalho e geração de renda, dições precárias de saúde e de segurança labo-
com potencial de gerar dignidade aos mais ral, sem legislação trabalhista, previdenciária
pobres. Tentando responder aos elementos es- e sindical que os protegesse. Os operários de
senciais de um desenvolvimento sustentável, então criaram cooperativas de consumo e de
diríamos que, na área destes empreendimen- trabalho, autônomas, solidárias, integralmente
tos, situam-se, como expressiva presença, as sob o seu controle, a serem geridas democrati-
muitas e variadas experiências e organizações camente, na base de “uma pessoa, um voto”.
da economia cooperativa e solidária. No caso Isso se torna, então, algo inusitado no cenário
particular dos empreendimentos cooperati- econômico, social e político europeu, tanto no
vos, eles tendem a ser um sistema, uma em- processo produtivo quanto na distribuição dos
presa, uma organização que se estrutura não excedentes gerados.
em busca do lucro, mas do excedente, onde o Na sequência das propostas do socialista
primeiro fomenta a apropriação individual, utópico Robert Owen, propõe-se a expansão
o segundo, a apropriação coletiva, mediante do modelo, para que a classe trabalhadora,
decisão democrática e transparente em assem- através de cooperativas, pudesse controlar
bleia geral. O empreendimento cooperativo/ progressivamente empreendimentos econô-
associativo não tem por finalidade acumular micos na indústria, na construção civil, na
bens e riquezas em mãos de poucos, gerando produção agropecuária e no setor de serviços.
crescentes processos de desigualdade econô- Junto com essas iniciativas e emergindo tam-
mica e social. Mas sim, visa satisfazer cada vez bém como reação à Questão Social, surgem
mais e melhor, e de forma equitativa, as ne- também os primeiros sindicatos e os diversos
cessidades de todas as pessoas que participam movimentos e partidos socialistas.
do empreendimento coletivo, buscando con- No cenário de crise que hoje vivemos, o
tribuir para a sua dignidade e o seu bem-estar Estado procura repassar para a sociedade ci-
material, social e humano. vil crescentes parcelas de responsabilidade
As organizações cooperativas e da econo- na busca de saídas, entre elas, respeitando
mia solidária são ainda uma discreta e bem o espaço e apoiando o terceiro setor. Assim
recente expressão de uma nova e diferente nascem as Organizações Não Governamen-
forma de organização econômica e social, tais (ONGs). Nesta nova categorização, o
com uma trajetória de apenas 200 anos desde cooperativismo também se inclui neste ter-
as primeiras cooperativas de consumo apare- ceiro setor. Trata-se de uma articulação e as-
cidas na Europa, com os operários das docas sociação de pessoas, com valores e princípios
navais de Chatham e Woolwich já nos finais consciente e previamente consensuados. Am-
do século XVIII, as cooperativas do modelo bas, ONGs e cooperativas, tentam atenuar as
William King, lançadas desde 1827 em Bri- desigualdades sociais oriundas do acúmulo
ghton e a iniciativa dos Pioneiros de Rochdale de riquezas e de poder, próprias do desen-
em 1844 na Inglaterra. O seu diferencial em volvimento capitalista. A cooperação integra
relação ao modelo hegemônico de empresa é a ideia de trabalho social combinado, onde,
que elas exigem de cada membro associado segundo Antunes, é “preciso alterar a lógica
sua plena, participativa e responsável inserção da produção societal; a produção deve ser
nas atividades que assegurem de forma cole- prioritariamente voltada para produzir valo-
tiva a sua sobrevivência, a dos familiares e da res de uso e não de troca”.
culiar e humanista, têm todas as características • É diferente porque ela consegue instau-
para abraçarem de forma mais apropriada as rar adequados processos de autocapitalização
diversas atividades antes mencionadas. Isto junto aos associados, para cada individuo e
porque agem não apenas movidos por uma para a organização, salvaguardando, com a
racionalidade instrumental, eficientista e pro- geração do capital próprio, a necessária auto-
dutivista, que se foca na busca insaciável do nomia política e econômica frente ao mercado
lucro, mas sobretudo por uma racionalidade e, assim, também preservando a peculiar iden-
substantiva, que trata dos aspectos essenciais tidade da cooperativa.
e humanos das organizações, na perspectiva • Ela é mais humana e respeitadora da
do atendimento das necessidades e das aspira- dignidade e do protagonismo de cada associa-
ções dos seus associados. do. Ela abre um espaço para que cada associa-
Quais são alguns dos benefícios decor- do demonstre suas capacidades e qualidades
rentes destas atividades? A adoção de ações de associado participativo, vigilante, mas tam-
de sustentabilidade garante a médio e longo bém como produtor, prestador competente de
prazo um planeta em boas condições para o serviços e prestamista consciente, responsável,
desenvolvimento das diversas formas de vida, dinâmico e sempre presente.
inclusive a humana. Garantem os recursos na- • A cooperativa e a economia solidária,
turais necessários para as próximas gerações, como já se mencionou em referência anterior,
possibilitando a manutenção dos recursos na- contribuem para que cada associado zele, cui-
turais (florestas, matas, rios, lagos, oceanos) e de do seu patrimônio, o explore adequada-
garantindo uma boa qualidade de vida para as mente, sem ferir e agredir o equilíbrio do meio
atuais e futuras gerações. ambiente e, assim, possa assegurar o adequa-
do uso do patrimônio da propriedade para as
gerações futuras de sua família e das demais
Vantagens da economia
famílias de associados.
cooperativa e solidária • Na medida em que a cooperativa con-
tribui para que o associado preserve bem o seu
Eis, a seguir, o elenco de algumas vanta- patrimônio, ele estará em condições de ser um
gens das organizações cooperativas e da pró- zelador vigilante e ativo na defesa do meio am-
pria economia solidária, em geral, em prol de biente e da relação equilibrada e sustentável com
processos de sustentabilidade: a mãe natureza.
• A cooperativa é mais justa e equitativa, • A cooperativa é uma excelente escola
pois distribui melhor e mais igualitariamen- para a formação em prol da cidadania. Na me-
te os bens e serviços que produz, permitin- dida em que o associado participa razoavel-
do a cada associado usufruir daquilo que ele mente de todas as atividades da cooperativa,
ajudou a construir coletivamente e na exata das suas assembleias gerais, das pré e minias-
proporção do seu envolvimento participativo sembleias, dos cursos de capacitação para qua-
como coproprietário e como usuário. lificá-lo como produtor, prestador de serviços
• A cooperativa é uma empresa e como tal e prestamista, na medida em que aprende a
deve seguir a racionalidade, a estrutura e a dis- falar e a escutar, mesmo as opiniões controver-
ciplina de qualquer empresa, em busca de mais sas, na medida ainda em que o informa sobre
eficiência e economia de recursos, mas como em- as complexas, contraditórias e imprevisíveis
presa tem um grande diferencial. O diferencial tendências do mercado, ele adquire uma com-
consiste em que internamente exige a democra- plexa cultura econômica, social e administrati-
cia, a participação decisória e de usuário dos as- va. Esta cultura o ajuda não apenas para gerir
sociados, em todos os processos produtivos e de bem sua cooperativa e seu patrimônio, mas
prestação de serviços. Por isso, o resultado final também para ser um cidadão ativo, dinâmico
é melhor e mais justa e democraticamente distri- e criativo na comunidade e no município no
buído. qual vive e atua.
• A economia solidária é diferente em rela- • A cooperativa supera a dependência e
ção às demais empresas presentes no mercado, subordinação paternalista, própria de quem
porque produz bens e serviços para o adequado espera de forma passiva doações e proteção,
uso dos seus associados e o seu melhor bem-es- mas se estrutura como empresa, para que
tar. Produz não para lucrar e explorar os outros, seus associados, numa adequada visão de au-
mas para servir a comunidade interna e externa tonomia, sejam os efetivos agentes de desen-
a ela, na satisfação de suas reais necessidades. volvimento e os protagonistas, na produção
qualificada e sempre maior de bens e serviços, sustentável das comunidades de sua área de
assumindo de forma coletiva e responsável a atuação.
participação e a transparência em todas as ati- • Que a cooperativa, como empresa possa
vidades de seu projeto e empreendimento co- ser um caso exemplar junto e ao lado das de-
letivo e solidário. mais empresas para ser uma efetiva empresa
• Em momentos de aguda crise econômica cidadã, e de relevante impacto econômico, so-
e social, igualmente muitas organizações coo- cial e local, que prepare as entidades empresa-
perativas e da economia solidária vão à falên- riais e as pessoas que nelas trabalham em prol
cia. Mas é, em geral, em momentos de crise que de um elevado senso social, comunitário e am-
as cooperativas conseguem desencadear do seu biental.
interior as energias e o potencial ético e comuni-
tário para reagir melhor às crises, potencial que, À guisa de conclusão, face às considerações
às vezes, está meio adormecido no corre-corre e anteriores, cabe apenas enfatizar que os em-
na luta pela sobrevivência num mercado voraz- preendimentos cooperativos e solidários já são
mente competitivo. Assim agindo, conseguem e podem ser cada vez mais importantes instân-
não só sobreviver, mas crescer e fortalecer-se cias de construção de uma economia e de uma
em meio à crise econômica e social, com maior sociedade sustentável.
visibilidade e presença no mercado.
Referências
Mas, para que tais qualidades possam ser
efetivamente acionadas, é importante que, no BOITEMPO EDITORIAL. [s.d.]. Disponível em:
plano interno, a cooperativa busque superar http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/Ti-
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acontece em algumas cooperativas. Deveria es- lo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.
tabelecer-se, por disposição estatutária, que um br/fsp/ciencia/32761-existe-um-abuso-do-con-
dirigente poderá ser reconduzido apenas mais ceito-de-sustentabilidade.shtml#. Acesso em:
17/06/2014.
uma vez, após uma primeira e boa gestão. Mas
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lideranças em prol do próprio bem da coopera- INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. 2014. Os 17
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• Não fechar-se numa “ilha de prospe- guem intatos. Disponível em:http://www.ihu.
ridade e de boa organização”, mas abrir-se unisinos.br/noticias/538310-os-17-objetivos-de-
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mais com o seu olhar para a relação externa à
Acesso em: 17/06/2015.
cooperativa, e dar-se o tempo para envolver- POCHMANN, M. 2012. Repartir para o consumo
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bem-estar e no desenvolvimento equilibrado e unisinos.br/noticias/507747-repartirparaocon-
sustentável das comunidades nas quais estão sumosustentavel. Acesso em: 11/12/2014.
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• Que a cooperativa, abrindo-se mais e tudo econômico das instituições. São Paulo, Ática,
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mais para enfrentar os desafios das comunida-
des nas quais se insere, se coloque junto e ao
lado de outras entidades civis, políticas e de Submetido: 02/04/2015
caráter religioso em prol do desenvolvimento Aceito: 21/05/2015