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A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável e

de sustentabilidade

Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência sobre o Meio Ambiente
Humano, em Estocolmo, Suécia. Nesse período, deu-se o delineamento dos contornos da expressão
ecodesenvolvimento por Maurice Strong – Secretário-Geral dessa Convenção –, cabendo a Ignacy Sachs
a popularização do conceito como um projeto de desenvolvimento socialmente inclusivo, ecologicamente
viável e economicamente sustentado, o qual se converteu com o passar dos anos no conceito de
desenvolvimento sustentável. 

A expressão  desenvolvimento sustentável  apareceu pela primeira vez no ano de 1980 no documento
intitulado  Estratégia de Conservação Mundial  (World Conservation Strategy), que foi editado pelas
organizações ambientalistas União Internacional para a Conservação da Natureza (IUNC) e  World
Wildlife Fund (WWF), a pedido das Nações Unidas (BARBIERI, 2020).  

Em 1983, a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo longo ciclo
de audiências e debates com líderes políticos e organizações em todo o planeta resultou, em 1987, como
conclusão de suas atividades, no Relatório  Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório
Brundtland, nome dado em homenagem à senhora Gro Harlen Brundtland, a ex-primeira-ministra da
Noruega, que havia presidido os trabalhos (MELO, 2017). Esse documento definiu os contornos clássicos
do desenvolvimento sustentável, que passou a ser considerado como aquele

“[...] que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as futuras
gerações terem suas próprias necessidades atendidas” (ONU, 1991).

O Relatório Nosso Futuro Comum é um manifesto essencialmente ético, de conjugação da economia com


os propósitos de justiça social e ambiental. A partir de sua elaboração, expressões como desenvolvimento
sustentável e sustentabilidade passam a ser associadas como sinônimos. 

Em 1992, a ONU realizou a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e o
conceito de desenvolvimento sustentável cristalizou-se por meio de um dos seus principais documentos: a
Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujas principais proposições
seguem: 
Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a
uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza (princípio 01).  
O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente
as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras (princípio 03).  
Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do
processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste (princípio 04).  
Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento
sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de
padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo (princípio 05).  
Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados
devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas
demográficas adequadas (princípio 08). (ONU, 1992, [s. p.])  

A Declaração do Rio Janeiro pretendeu, através de suas proposições, conciliar os pleitos do mercado
capitalista com as carências dos países em desenvolvimento e pobres, o que terminou por elencar
princípios contraditórios. De qualquer forma, por meio de uma declaração flexível –  soft law  –, foi
possível articular o desenvolvimento sustentável em escalas e esferas, do global ao local, dos mercados à
sociedade civil, apesar de tal abrangência se reduzir ao plano discursivo. 

Outro documento representativo dessas conjugações foi igualmente editado ao término dos trabalhos da
Rio-92, a ambiciosa Agenda 21. Trata-se de um documento programático, com 40 capítulos, com as
diretrizes para a implementação do desenvolvimento sustentável em todas as escalas, do global ao local,
para o século XXI (MELO, 2017). Apesar de festejada em sua edição, a Agenda 21 foi perdendo força
com os passar dos anos. 

A interpretação sobre desenvolvimento sustentável foi consolidada com a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), realizada em Johannesburgo, África do Sul, em 2002. A
conferência admitiu as limitações e as dificuldades na implementação da Agenda 21, mas reafirmou o
significado de desenvolvimento sustentável da Rio-92. A Declaração de Johannesburgo sobre o
Desenvolvimento Sustentável defendeu o capitalismo verde, diante da globalização e que

“[...] a rápida integração de mercados, a mobilidade do capital e os significativos aumentos nos fluxos de
investimento mundo afora trouxeram novos desafios e oportunidades para a busca do desenvolvimento
sustentável” (MELO, 2017, p. 29).

Contudo,

“[...] os benefícios e custos da globalização são distribuídos desigualmente, e os países em


desenvolvimento enfrentam especiais dificuldades para encarar esse desafio” (MELO, 2017, p. 29).  

Da edição do Relatório Brundtland, passando pela Agenda 21 até chegar aos dias atuais, a esfera
internacional reforçou o aspecto de multiplicidade de significados de desenvolvimento sustentável e da
expressão sustentabilidade, que, inclusive, foi apropriada por adjetivações, tais como sustentabilidade
ambiental, econômica, social, cultural e tantas outras digressões. Apesar dessas perspectivas, as
expressões desenvolvimento sustentáveis e sustentabilidade conjugam a abordagem preferencial dos
documentos oficiais e diplomas legais. 

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