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A concepção de desenvolvimento sustentável

As ocorrências das expressões sustentabilidade e desenvolvimento sustentável encontram-se associadas


nos documentos oficiais, sejam internacionais ou nacionais. Contudo, deve-se apontar que
sustentabilidade é uma expressão mais antiga e com significado singular.  Sustentabilidade é uma palavra
de origem latina, sustentare, e significa sustentar, manter algo. O conceito de sustentabilidade surgiu nas
províncias da Saxônia e da Prússia, nos primórdios da modernidade, nos processos de manejo das
florestas (BOFF, 2016) e se consolidou na Alemanha do século XIX, dando origem à prática da
silvicultura (restauração de florestas).  

Na primeira metade do século XX, a sustentabilidade esteve majoritariamente ligada aos domínios da
biologia e, em especial, da ecologia. Ao longo da segunda metade do século XX, o termo se estende para
a problemática da explosão demográfica e da poluição na sociedade global, como alertou o zoólogo
Eugene Odum (2001, p. 812):

“chegou o momento de o homem administrar tanto a sua própria população com os recursos de que
depende, dado que pela primeira vez na sua breve história se encontra perante limitações definitivas, e
não puramente locais”.

Tal estado de coisas se deve à intensidade das intervenções antropogênicas que afetaram decisivamente

“[...] o frágil e complexo equilíbrio entre componentes e acontecimentos que determinam a organização
do ecossistema no Planeta Terra ao longo de milhões de anos” (ALMEIDA, 2016, p. 58).  

A noção de sustentabilidade, em sentido amplo, é primordialmente a manutenção dos sistemas de suporte


à vida. Portanto, a sustentabilidade é um conceito sistêmico, visto que conjuga saberes interdisciplinares,
especificamente aqueles de sustentação da vida no planeta e, no caso da vida humana, os processos
econômicos, sociais, culturais e, claro, ambientais. 
A partir dos domínios da ecologia, com as suas preocupações com a superpopulação, uso dos recursos
naturais e a poluição e seus resíduos, houve a transposição de suas análises para outros domínios,
notadamente através dos relatórios patrocinados pelo Clube de Roma, grupo de empresários e pensadores
formado no final da década de 1960 e que patrocinou uma série de discussões sobre o futuro do planeta.
Um dos estudos foi particularmente importante, o denominado  Os limites do crescimento, do ano de
1972, elaborado por cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), também conhecido como
Relatório Meadows, por ter sido liderado por Dennis Meadows e Donella Meadows. A principal
conclusão desse estudo científico foi de que:  

Se se mantiverem as tendências actuais de crescimento da população mundial, da industrialização, da


poluição, da produção de alimentos e de esgotamento de recursos, os limites de crescimento do nosso
planeta serão atingidos nos próximos cem anos. O resultado mais provável vai ser um declínio súbito e
incontrolável da população e da capacidade produtiva. (TAMARES,1983, p. 151)  

Contudo, o relatório científico apontou: 

É possível alterar essas tendências de crescimento e criar condições de estabilidade ecológica e


económica que podem ser mantidas a longo prazo. O estado de equilíbrio global pode ser concebido de
forma a garantir, a cada habitante da Terra, a satisfação das necessidades materiais básicas e a igualdade
de oportunidades por forma que cada pessoa possa atingir a sua plena realização humana. (TAMARES,
1983, p. 151)  

Apesar das críticas que recebeu, diante de suas projeções pouco otimistas sobre o futuro da humanidade,
deixando clara a finitude de recursos naturais em uma sociedade de consumo acelerado, o Relatório
Meadows contribuiu para que as discussões ambientais adentrassem definitivamente no tabuleiro global.
Afinal, ele tocou num ponto central para o sistema econômico global: a necessidade de limitações nos
padrões de produção e consumo. 

É a partir desse momento que entra em debate uma série de termos e teorias para equacionar as premissas
do crescimento econômico em um mundo finito, limitado. Por isso, a ideia de crescimento, central para o
pensamento moderno e intensificada após o término da Segunda Guerra Mundial, precisará ser
sustentada, razão pela qual se iniciam as formulações teóricas para uma concepção de desenvolvimento,
que deverá ser sustentável. Isto é, um desenvolvimento em que a economia seja sustentada pelo uso
racional dos recursos naturais; o que é preciso reconhecer, trata-se de um dos grandes desafios da
contemporaneidade. Gradativamente, como veremos, as
expressões desenvolvimento e sustentabilidade serão associadas, com o surgimento da compreensão de
desenvolvimento sustentável e de uma multiplicidade de sentidos para a palavra sustentabilidade.

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