Você está na página 1de 7

Fichamentos des.

Sustentável e sustentabilidade:

A geopolítica na virada do milênio: logística e desenvolvimento sustentável: Berta


K. Becker:

Logística: a geopolítica da inclusão/exclusão:


Entende logística como relações tecnológicas do mundo globalizado, da lógica de
encurtamento de espaço pelo tempo, sensível às realidades locais, o que valorizou o
cultural. Esta seria a “nova Geopolítica”, pós-modernismo etc.
Se questiona se existe uma nova racionalidade que estabelece nexos sob a (des)ordem
global? Tem-se que a logística é a nova racionalidade capaz de explicar a
simultaneidade da desordem/ordem, de globalização/fragmentação, da complexidade da
questão ambiental.
A relação entre política e território era uma questão do Estado (inteligência militar,
imperativo estratégico, Ratzel, Lacoste...). Esta associação entre Política do Estado e
Estratégia, quanto à seleção de pontos de aplicação de força, foi transportada para a
Geopolítica interna via o planejamento interno, pela política de desenvolvimento
regional, cuja maior expressão é a teoria e prática dos polos de crescimento.
Esta racionalidade foi ultrapassada pela revolução tecnológica da comunicação em um
contexto de crise de Estado (planejamento centralizado), a nova racionalidade é inerente
à tecnologia, que possui velocidade como essência. Logística é entendido como
preparação contínua dos meios para a guerra, ou para competição (produção, transporte
e execução). Aí conta a seleção de veículos e vetores para o movimento perene, controle
do tempo presente e futuro, a seleção de lugares.
A logística é uma das raízes da (des)ordem e da globalização/fragmentação, pois ao
passo que uma nova tecnologia se difunde pelo espaço ao nível operacional, ela é
seletiva gerando uma política de inclusão/exclusão. Ela avança rápido nos setores
industriais e outros subsistemas logísticos, e opera com dificuldades no setor público. O
mesmo processo se observa quanto ao espaço.
Quem controla a logística? Esta questão envolve o debate sobre o grau de autonomia da
tecnologia e seus riscos.
Imperativo tecnológico e politização da natureza: o desenvolvimento sustentável:
De uma proposta internacional para uma nova relação sociedade-natureza, o
desenvolvimento sustentável exposto no Relatório BRUNDTLAND, é uma feição
específica da Geopolítica contemporânea. Revaloriza a dimensão política do espaço.
Tenta ajustar o capitalismo por conciliação da lógica da acumulação com lógica
cultural, particularmente os movimentos ambientalistas. Esta conciliação se torna
instrumento de pressão nas relações Norte-Sul, e imposição de uso dos territórios
nacionais, exclui e inclui territórios, apresenta agendas ambientais para o mundo, mas se
despreocupa com os problemas sociais internos a cada país.

A ecologia como novo parâmetro geopolítico:


Se o novo padrão indicam desordem global, mas também uma tentativa de manter a
ordem das relações Norte-Sul, a ecologia é vetor deste movimento.
Na revolução tecnológica, se questiona o eco, envolvendo conflitos de valores quanto à
natureza, como valores de existência e valores de estoque.
A questão ambiental é complexa pois não envolve só a consciência ecológica, mas suas
utopias e ideologias.
Define consciência ecológica (preocupação legítima com a crise ambiental, no que
tange os limites objetivos da biosfera); utopia ecológica (fracasso capitalista e socialista,
é difícil reconhecer no presente o comum e um futuro comum) e ideologia ecológica
(como todos os Estados hoje tem problemas, a ecologia é instrumento dominante, ao
propor agendas e criar laboratórios das biotecnologia em países terceirizados,
implicando controle territorial).

O desenvolvimento sustentável como modelo logístico para ordenar o uso do


território:
O desenvolvimento sustentável não se resume à harmonização da relação economia-
ecologia. Ele é mecanismo de regulação do uso do território, na tentativa de ordenar a
desordem global, e como tal, é instrumento político. (resgatar noção ecológica,
aprendizados do des sustentável, mas descartar seu caráter maquiavélico).
A noção de sustentabilidade integra o aproveitamento máximo de recursos e o
movimento perene, e é mais explícita ao nível da firma. Patente no novo paradigma de
qualidade de produto.
Entre infinitas definições de desenvolvimento sustentável, elas têm a sustentabilidade
como cerne e ela é uma expressão da nova racionalidade.
Sob proposta de harmonia espacial e equidade temporal do discurso, a sustentabilidade
busca uma soma positiva, a sinergia, através do planejamento de processos produtivos
miméticos aos ecossistemas, em estreita interconexão, bem com na reutilização que
traduz a noção de movimento perene.
Possui três princípios básicos em seu discurso: eficácia (minimização de consumo
pela/para aprimoração da tecnologia), diferença (inovação contínua expressa pela
diversidade de mercados e recursos) e descentralização (distribuição territorial de
decisão (autonomia) e nova forma de planejamento e governo, a gestão do território está
baseada na parceria entre todos os atores do desenvolvimento, mais como uma nova
relação entre o público e o privado, do que uma autonomia social, enquanto expressão
real, e não opinião da autora).

Desenvolvimento sustentável: que bicho é esse? José Eli da Veiga:


Até o final dos anos 70, sustentabilidade era uma noção usada apenas pela biologia,
especialmente em biologia populacional, que procura avaliar quando uma atividade
extrativa como a pesqueira, ultrapassa os limites de reprodução da espécie estudada.
Procuram identificar o ponto do qual é rompida a resiliência de um ecossistema, com
objetivo de permitir que a humanidade se alimente sem destruir suas fontes de nutrição
(tirar mais peixes das águas sem provocar a extinção de seus estoque s). Mas na hora de
colocar isso em prática, as coisas não são tão simples. Cita um exemplo de pesca de
lagostas, onde incialmente proibida para permitir a reprodução das lagostas, era
justamente a pesca ilegal a mais predatória, por não ser seletiva, e os pescadores da
região sofreram com a falta da atividade.
É fácil entender o termo sustentável se aplicado no campo da biologia, mas se complica
como adjetivo para caracterizar o desenvolvimento.
A expressão “desenvolvimento sustentável” foi empregada pela primeira vez em 1979,
num simpósio das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Os
ambientalistas eram acusados de serem contra o desenvolvimento. Numa dessas
discussões, alegaram não serem contra o desenvolvimento; apenas queremos que ele
fosse sustentável. A expressão emplacou e se tornou mundialmente conhecida quando
foi adotada como principal bordão do “Nosso futuro comum” (Relatório Brundtland).
Esse documento foi apresentado em 1987 à Assembléia Geral das Nações Unidas pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Daí o termo
“desenvolvimento sustentável” foi se legitimando como o maior desafio desse século. E
saiu inteiramente consagrado da Conferência Rio-92. O motivo pelo qual o termo,
ignorado até então, rapidamente se consagrasse: há pelo menos uma dúzia de problemas
ambientais suficientemente sérios para que cenários de colapsos não possam ser
descartados. O “Relatório Brundtland” expressou pela primeira vez o desejo de que o
desenvolvimento seja sustentável, manifesta a ambição de que o crescimento econômico
– por enquanto o principal motor do desenvolvimento – possa respeitar os limites da
natureza, em vez de destruir seus ecossistemas, para satisfazer, “as necessidades
presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias
necessidades”. Mas os grandes desafios ambientais não estão sendo enfrentados, e não
há consenso sobre como poderia ser um desenvolvimento sustentável.
Embora o conceito (desenvolvimento sustentável) seja de grande importância, significa
apenas um ponto de partida para um debate que pudesse gerar ações concretas. A
impressão que fica é de que, a cada encontro e acordo, em vez de se avançar nas ações
concretas e urgentes, há um novo retrocesso.
O crescimento econômico sempre se deu em detrimento da conservação da natureza. As
práticas iniciais de sobrevivência humana causavam impactos ambientais, mas ínfimas,
como por exemplo extinção dos mamutes. Após a dispersão da espécie, práticas de
agricultura passa a constituir um meio mais constante e seguro de obter alimentos (cerca
de 10 mil anos a. C.). É quando o impacto da ação do homem sobre o meio ambiente
começa a se fazer sentir, ainda que com crescimento lento até o século XVIII, quando
ocorrem importantes inovações tecnológicas. Do início da agricultura até agora, o
mundo passou de algo como 4 milhões para cerca de 6 bilhões de pessoas, e nesse
processo, os ecossistemas foram sofrendo profundas alterações. Exemplifica com o
exemplo do desmatamento da Amazônia para introduzir práticas pecuárias. Seria
impossível entender o desenvolvimento sem destruir? O debate científico internacional
opõe otimistas e pessimistas.
Creem-se que o crescimento econômico levaria a uma melhor gestão de recursos
naturais, mas exemplos mostram que não necessariamente, apesar dos sucessos locais,
muitos dos problemas ambientais são globais e não individuais, e certos impactos são
irreversíveis. Índices mostram que o planeta está se deteriorando rapidamente, a
exigência humana sobre seus recursos ultrapassou em muito a sua capacidade. Existem
argumentos pertinentes dos otimistas, mas muitas vezes soa como ficção científica. ).
Para estes terem razão, ainda falta muito progresso tecnológico.
Os considerados pessimistas apresentam uma baseada na entropia. As sociedades
humanas transformam obrigatoriamente energia utilizável em energia não-utilizável.
Não há como evitar essa dissipação de energia, entropia. Em algum momento, a vida da
espécie humana no planeta se tornará inviável. A extinção da espécie humana se mostra
inevitável, é prevista tanto pela termodinâmica quanto pela evolução darwiniana, a
palavra “sustentável” não faz sentido. Quem pensa assim acredita que a humanidade
pode no máximo prolongar sua permanência na Terra, mas será obrigada a desvincular o
seu desenvolvimento do crescimento econômico. Deixar de crescer e decrescer.
Contudo, mesmo seus proponentes reconhecem ser impossível tal mudança.
Ambas as posições possuem fragilidades e podem ser questionadas. Enquanto de um
lado em parte se ignora o real avanço já alcançado pelos impactos ambientais, do outro
poucas propostas são elaboradas. Por isso mesmo, segundo o autor existe um “caminho
do meio”.
Cita uma proposta de Herman E. Daly, onde uma biblioteca com acervo lotado, só
mudaria de peça se a outra apresentar uma evolução qualitativa. Assim um combustível
fóssil pode ser substituído pelo eólico sem que o PIB diminua. Contudo o exemplo só
funcionaria em países já desenvolvidos, e não se aplica aos países subdesenvolvidos,
que ainda carecem do desenvolvimento. Na nossa época, parece ainda ser impossível
pensar em desenvolvimento sem crescimento. Mas é provável que essa seja a condição
de sobrevivência da espécie num futuro não tão distante.
Outros estudiosos vêm esboçando um “caminho do meio” para a questão do
desenvolvimento sustentável com novas ideias para pensar o desenvolvimento como um
todo. Destaca Amartya Sen, Celso Furtado e Ignacy Sachs. A primeira e fundamental
característica do pensamento desses economistas é que eles distinguem claramente o
crescimento econômico do desenvolvimento, pois este depende de como os recursos
gerados pelo crescimento econômico são utilizados. Dependendo de onde forem os
recursos, os frutos do crescimento preservarão os privilégios das elites ou beneficiarão o
conjunto da população. Pode-se dizer que há desenvolvimento, portanto, quando os
benefícios do crescimento servem para ampliar as capacitações humanas, quer dizer, o
conjunto de coisas que as pessoas podem ser ou fazer na vida. As mais elementares e
sem as quais não é possível fazer outras escolhas são ter uma vida longa e saudável, ter
instrução e acesso a recursos que permitam um nível de vida digno, além de ser capaz
de participar da vida da comunidade. Mas, além desse básico, é fundamental que as
pessoas tenham liberdade para que possam fazer escolhas, garantir seus direitos e se
envolver em decisões. E é aqui justamente que se centra a crítica dos estudiosos do
“caminho do meio” ao documento já mencionado e que começou a divulgar a noção de
desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento, assim, tem a ver com liberdade, com
proteção dos direitos humanos e com o aprofundamento da democracia. Dificilmente
pessoas pobres e marginalizadas vão obter acesso equitativo a emprego, escolas,
hospitais, justiça, segurança etc., se não puderem lutar por isso. Amartya Sen
desenvolve essas questões em seu livro Desenvolvimento como liberdade. (consenso
sobre autonomia, entre Amartya, veiga, sachs, etc). Para esses estudiosos que tentam
trilhar um caminho do meio, não há desenvolvimento sustentável possível sem que se
harmonizem objetivos sociais, ambientais e econômicos. Diferenciam crescimento e
desenvolvimento, e identificam este com a liberdade, esperam que o desenvolvimento
sustentável possa se tornar mais do que apenas uma expressão na moda. Contudo, o
desenvolvimento sustentável está longe de ser um conceito, tido como utopia, ainda
predomina seu sinônimo entre crescimento econômico e desenvolvimento.
No entanto, pode-se dizer que a noção de desenvolvimento sustentável já é um valor, e
um valor positivo, mesmo que utópico. Assim como justiça social, democracia e tantos
outros. Utopia remete algo não alcançável, mas o autor se remete à importância da
sociedade e das pessoas terem boas aspirações, baseadas em valores coletivos. Cita o
exemplo da escravidão que deixou de ser um modelo aceitável. Algumas indústrias,
ainda que minoria, se preocupam com a renovação do meio ambiente em seus processor
produtivos, como manutenção econômica.
De um lado, há quem diga que essa história de “empresa verde” é impossível e não
passa de mito. De outro, também há visões ultra-otimistas sobre o papel que vem sendo
desempenhado pelas empresas que investem na responsabilidade socioambiental. é
importante ter claro que as empresas nunca foram e nunca serão instituições de
caridade. São instituições de negócio que visam lucro. E nada comprova ser barato e
fácil assumir posturas que levem a resultados significativos do ponto de vista ambiental.
Por isso, o mais importante é lembrar que a responsabilidade final é do público. É a
pressão da opinião pública que está fazendo as empresas perceberem a importância de
mudar de atitude e comportamento. Que está fazendo com que percebam que ter
responsabilidade socioambiental é também uma forma de conseguirem ser mais
competitivas do que suas concorrentes. Em qualquer tema, ser civilizado não é fácil. É
um estado a ser conquistado, mas é possível, como a educação sobre faixa de pedestres
que reduziu atropelamentos em Brasília, ou a campanha sobre lixo em São Paulo que
atingiu resultados além dos esperados.
Termina o texto dizendo que a responsabilidade de práticas ambientais nocivas é, em
última instância, desse público do qual fazem parte (os cidadãos). Mesmo que ainda em
pequeno grau, isso já está ocorrendo. A expressão “desenvolvimento sustentável”,
apesar de suas ambiguidades, já se tornou um imperativo global que chegou para ficar.
Empresas, governos, políticos mudam, e rápido, quando o público passa a esperar e a
exigir deles comportamentos diferentes, e quando passa a recompensar os que
efetivamente demonstram ter responsabilidade socioambiental. Se a utopia for levada a
sério (proposta pela WWF), a proeza de alinhar “pegada ecológica” e capacidade
biológica, em nível global, pode ser alcançada em meados deste século.

Você também pode gostar