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E SUSTENTABILIDADE SOCIAL
Este relatório recebeu fortes críticas quer por parte de intelectuais dos
chamados países do Primeiro Mundo — para quem a tese de MEADOWS repre-
sentaria o fim do crescimento da sociedade industrial — quer por parte dos
designados países subdesenvolvidos — que defendiam pretenderem os primei-
ros, com este relatório, “fechar a porta” ao desenvolvimento dos países mais
pobres com base numa justificação ecológica.
Em 1973 MAURICE STRONG lançou o conceito de eco-desenvolvimento,
que integrava um conjunto de princípios que vieram a ser explicitados por
IGNACY SACHS. De acordo com este autor, seriam seis os caminhos para o
desenvolvimento: satisfação das necessidades básicas; solidariedade com as
gerações futuras; participação da população envolvida; preservação dos recursos
naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que garantisse
emprego, segurança social e respeito por outras culturas; e programas de edu-
cação. Esta teoria referia-se principalmente às regiões subdesenvolvidas, con-
tendo uma crítica à sociedade industrial.
Foram precisamente os debates em torno do eco-desenvolvimento que
abriram espaço ao conceito de desenvolvimento sustentável, o qual recebeu con-
tributos quer da Declaração de COCOYOK das Nações Unidas — que afirmava
ser a pobreza a causa da explosão demográfica que, por sua vez, gerava também
a destruição desenfreada dos recursos naturais, contribuindo os países indus-
trializados para esse quadro através de altos índices de consumo que era neces-
sário refrear — quer do relatório conhecido como Relatório DAG-HAMMAR-
SKJÖLD , preparado pela fundação com o mesmo nome em 1975, com
colaboração de políticos e pesquisadores de 48 países.
Foi, contudo, apenas em 1987 que o conceito de desenvolvimento susten-
tável veio alcançar uma formulação mais consolidada, quando a Comissão
Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED),
presidida por GRO HARLEM BRUNDTLAND e MANSOUR KHALID, apresentou
um documento chamado Our Common Future, mais conhecido por relatório
BRUNDTLAND. Ao contrário dos documentos anteriores, este não formulou
críticas à sociedade industrial, tendo antes reclamado o crescimento tanto dos
países industrializados como dos subdesenvolvidos, ligando a superação da
pobreza nestes últimos ao crescimento contínuo dos primeiros. Foi, por isso,
bem aceite pela maioria dos países.
Foi ainda este relatório que, pela primeira vez, efectuou uma ligação estrita
entre desenvolvimento sustentável e solidariedade intergeracional, ao definir aquele
como o “que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
de as gerações futuras atenderem ás suas próprias necessidades”.
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(1)
Para mais desenvolvimentos sobre a evolução do conceito de desenvolvimento
sustentável vide BURSZTYN, Marcel, Para Pensar o Desenvolvimento Sustentável, 2. ed.
São Paulo: Brasiliense, 1994. Para uma perspectiva geral dos vários documentos europeus
relativos a esta problemática, cfr. GOMES, Rogério, Ambiente Urbano. Conceito e Estratégia,
Urbe, 2000, pp. 23 e ss.
(2)
Os conceitos de sustentabilidade ampliada e progressiva são da autoria de
CANEPA, Carla, “Cidades Sustentáveis”, in AA.VV. A Cidade e o seu Estatuto (Coord. Maria
Garcia), S. Paulo, Juarez de Oliveira, 2005, pp. 137-138.
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3. Planeamento e sustentabilidade
(3)
Veja-se, a título de exemplo, o modelo da sustentabilidade conhecido de “pica-
bue model” que identifica quatro pilares fundamentais do desenvolvimento sustentável: o
pilar da posteridade (cuidados a ter com as gerações futuras), o pilar do ambiente (cuidados
a ter com a protecção do ecossistema), o pilar da equidade (cuidados a ter com os pobres
e desfavorecidos) e o pilar da participação (garantia da participação das populações nas
decisões que lhe digam directamente respeito). Sobre este modelo vide GOMES, José Barros,
“Participação Pública: Componente Preliminar na Concepção do Ambiente Humano
Construído”, in Urbanismo Preventivo, Colecção Fórum, Urbe, Actas das Conferências
realizadas em 16 e 17 de Junho de 2000, no âmbito do 2.º Fórum Internacional de Urba-
nismo, pp. 84-85.
Sobre os vários problemas e as valências de um desenvolvimento sustentável cfr.
PAULET, Jean Pierre, Le Développement Durable, Ellipses, Paris, 1998.
(4)
Existe também uma articulação entre as políticas territoriais plasmadas nos
instrumentos de planeamento territorial com a dinâmica de planeamento de âmbito
nacional e regional realizada no Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN)
2007/2013 e no PRODER 2007/2013, articulação esta que visa a integração entre polí-
ticas territoriais e as políticas de programação das intervenções financiadas pelos Fundos
Estruturais e de Coesão da União Europeia com vista a garantir uma maior sustentabilidade
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o resto da população, incluindo oportunidades de viver fora das áreas tradicionalmente povoadas
por grupos minoritários" (Conselho da Europa, 2000, p. 15).
Ora, a falta de liberdade de residência e a existência de discriminação e desigualdade
requer uma intervenção pública que permita corrigir as falhas de mercado. Intervenção
exigida pela própria Constituição, não sendo assim o resultado de uma opção política, mas
de uma exigência decorrente de vários direitos e princípios de ordem constitucional.
(11)
Assim o defende PONCE SOLÉ, Juli, Poder Local y Guetos Urbanos, cit., p. 37.
(12)
Sobre cada uma das preocupações referidas no texto, como relevantes na defi-
nição de um modelo de desenvolvimento social sustentável das cidades, vide BAILLY, Antoine;
BRUN, Philippe; LAWRENCE, Roderick e REY, Marie-Claire, Développent Social Durable des
Villes. Principe et Pratiques, Paris, Anthropos, 2000. De acordo com estes Autores, a fim
de aproximar as diferentes perspectivas temáticas, propõe-se um novo modelo de política
integrada que se baseia em cinco grandes princípios: 1) o princípio económico do reforço do
potencial endógeno: revitalizar, reforçar, inovar, manter; 2) o princípio social da diversidade e
equidade social: redistribuição social, redistribuição territorial, diversidade cultural; 3) o prin-
cípio ecológico da preservação do ecossistema: princípio da precaução, equilíbrio dos ecossis-
temas; 4) o princípio geográfico da equidade territorial: governança à escala das metrópoles,
integração urbana, redução das disparidades espaciais, luta contra a fragmentação e a exclu-
são; 5) e o princípio político da autonomia territorial: governança respeitadora da democra-
cia, decisões de baixo para cima, subsidiariedade, cooperação, parcerias.
Ora, segundo os referidos autores, para promover um desenvolvimento sustentável
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das cidades é necessário ligar as dimensões espaciais e sociais do planeamento. Ob. cit.,
pp. 152-153.
Para mais desenvolvimentos sobre esta problemática cfr. Conseil d’Analyse Écono-
mique, (Rapport de FITOUSSI, Jean-Paul; LAURENT, Éloi, JOËL, Maurice) Ségrégation Urbaine
et Intégration Sociale, La Documentation Française, Paris, 2004; TOURETTE, Florence,
Développement Social Urbain e Politique da la Ville, Paris, Gualiano Edicteur, 2005 e
MORAND-DEVILLER, Jacqueline, “La Ville Durable”, in Mélanges en L’Honneur de Henri
Jacquot, cit., pp. 417 e ss.
(13)
Cfr. PONCE SOLÉ, Juli, Poder Local y Guetos Urbanos, cit.
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(14)
Para além do princípio da ponderação de interesses, a dimensão social da
sustentabilidade tem ainda fundamento jurídico nas normas da Constituição que consagram
o princípio da igualdade e as que impõem ao Estado a promoção das condições favoráveis para
o progresso social e económico e a protecção e melhoria da qualidade de vida, as quais exigem,
por sua vez, solidariedade entre as diversas partes do território nacional. Tal fundamento
pode também ser encontrado nas normas constitucionais que reconhecem o direito à habi-
tação como direito fundamental de carácter social.
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(15)
Cfr. HUET, Michel, Le Droit de L’Urbain. De l’Urbanisme à L’Urbanité, Paris,
Económica, 1998, pp. 33 e ss.
(16)
Um exemplo é a necessidade de satisfazer a exigência de criação de mesquitas
perto da residência e do emprego da população muçulmana.
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(17)
As directivas de planeamento são normas de conduta dirigidas à Administração
na sua actividade planeadora e que devem ser tomadas em consideração como linhas gerais
de orientação nesta tarefa administrativa.
A doutrina distingue as directivas internas — aquelas que se encontram nas respecti-
vas leis de planificação e, em particular, nos normativos que se referem a cada tipo especí-
fico de plano — das directivas externas — as que constam de outros preceitos legais gené-
ricos não necessariamente dirigidos ao planeamento, mas que não deixam, por isso, de
impor importantes limites à discricionariedade planificadora. É o caso, para além das
directivas constantes da legislação relativa à liberdade religiosas já referidas, e apenas a título
de exemplo, das exigências constantes da Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto
— que contempla a necessidade de previsão nos instrumentos de planeamento, de
infra-estruturas de utilização colectiva para a prática desportiva (artigo 8.º, n.º 2, do
Decreto-Lei n.º 5/2007, de 16 de Janeiro) — e das exigências constantes do Regulamento
Geral do Ruído — que impõe que os planos municipais promovam uma distribuição
adequada dos usos no território, tendo em consideração as fontes de ruído existentes e
previstas (artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 9/2007, de 17 de Janeiro, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 278/2007, de 1 de Agosto).
(18)
A exigência de que os instrumentos de planeamento territorial promovam a
mistura de tipologias de habitação destinadas a estratos sociais diferentes pode ser feita pelo
próprio legislador, que tem a possibilidade de estabelecer ora uma habilitação genérica ora,
mesmo, uma obrigação de que estes instrumentos prevejam reservas de solos para a cons-
trução de habitação destinada à população mais desfavorecida (ainda que exigindo a sua
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mistura com a habitação da restante população), assumindo a coesão social como um dos
objectivos a ser atingidos pelo planeamento do território. Esta possibilidade é particular-
mente acentuada no nosso ordenamento por a Constituição considerar o direito do urba-
nismo (e, logo, também os seus instrumentos) como uma garantia do direito fundamental
à habitação, determinando a alínea a) do n.º 2 do artigo 65.º que incumbe ao Estado
“programar e executar uma política de habitação inserida em planos de ordenamento geral do
território e apoiada em planos de urbanização que garantam a existência de uma rede adequada
de transportes e equipamento social”. A revisão constitucional de 1997, ao consagrar no
mesmo título os temas da habitação e do urbanismo, estreitou ainda mais a associação entre
ambos, motivo pelo qual a doutrina vem concluindo que o direito do urbanismo tem um
papel fundamental como garantia do direito à habitação. Cfr. CORREIA, Fernando Alves,
Manual de Direito do Urbanismo, cit., pp. 100-102.
Em Espanha existem vários exemplos de leis autonómicas que ora habilitam expli-
citamente os entes locais a reservar terrenos para a construção habitação submetida a
algum regime de protecção pública — ainda que sem impor qualquer obrigação, ficando
essa possibilidade na inteira discricionariedade da Administração — ora impõem aquela
reserva, havendo, neste último caso, duas alternativas expressamente admitidas: aquela
em que a lei estabelece a referida obrigação de reserva sem concretizar percentagens (o
que abre a discricionariedade administrativa para as fixar em função das necessidades de
habitação locais e das circunstâncias fácticas que condicionem o ordenamento urbanístico)
e aquela em que tais percentagens constam expressamente da lei. Para maiores desenvol-
vimentos, vide PONCE SOLÉ, Juli, Poder Local y Guetos Urbanos, cit., p. 160 e ss. e LÓPEZ
RAMÓN, Fernando, “Ordenación Urbanística Sustantiva”, in El Derecho Administrativo
En El Umbral Del Siglo XXI: Homenaje al Profesor Dr. D. Ramón Martín Mateo, Valencia,
Tirant lo Blanch, 2000, Tomo I, p. 412 e RAMÓN FERNÁNDEZ, Tomás, Manual de Dere-
cho Urbanístico, Madrid, El Consultor de los Ayuntamientos (La Ley), 21.º Edição, 2008,
p. 52.
Quando se questiona a legitimidade de o legislador impor standards deste tipo aos
instrumentos de planeamento, terá de se afirmar que sendo a diversidade uma das condições
indispensáveis para garantir maior coesão social, e estando a mesma relacionada com direi-
tos de expressão constitucional, ela não pode, nem deve, ficar na mão da absoluta discri-
cionariedade do planificador, o que justifica uma intervenção mais acentuada do legislador
que permitirá, da mesma forma, uma maior intervenção de controlo por parte dos tribunais.
Deve assim afastar-se uma argumentação que foi utilizada pelos tribunais espanhóis contra
a regulamentação destes aspectos pelos instrumentos de planeamento do território, segundo
a qual os planos não podiam reservar terrenos para estes fins porque tal não fazia parte dos
seus objectivos.
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Com o objetivo de alcançar a mistura de usos (e, consequentemente, de classes
sociais), o artigo L-302 do Côde de L’Urbanisme Francês (alterado pela “Loi sur solidrarité et
le renouvellement urbains”) veio requer que certas cidades francesas (dependendo da sua
população e das características das aglomerações) deveriam ter, dentro de 20 anos, uma oferta
adequada de habitação social numa percentagem de 20% do total das residências. Para tal,
o sistema jurídico francês projectou uma série de figuras (por exemplo, a aprovação de planos
específicos de habitação para avaliar necessidades de habitação social), estabelecendo, ainda,
formas de controlo dos municípios para aferir se estas obrigações estavam a ser cumpridas.
Numa decisão 7 de Dezembro de 2000, o Conseil Constitutionnel sustentou a cons-
titucionalidade do objectivo da mistura social definida pela Lei da Solidariedade e do dis-
positivo que permite o estabelecimento de quotas obrigatórias de habitação social.
Para uma análise desta questão no direito francês cfr. QUILICHINI, P., Logement social
et décentralisation, LGDJ, París, 2001.
(20)
O autor espanhol que mais se tem dedicado a esta problemática é PONCE SOLÉ.
Realçam-se aqui as seguintes obras deste autor: Derecho urbanístico, vivienda y cohesión social
y territorial, (coord.), Marcial Pons, Madrid, 2006; Land Use Law, Housing and Social and
Territorial Cohesión, RMLUI, University of Denver, 2006; “Sociedades pluriculturales y
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(22)
Esta segunda designação é a que lhe advém do domínio do direito do ambiente.
(23)
Trata-se de uma técnica característica de um planeamento urbanístico funcio-
nalista, que assenta na decomposição funcional do território, isto é, na identificação pelo
plano de zonas, cada uma delas destinada a uma função urbana distinta. O zonamento
assim entendido correspondia a um esforço de dar ordem às actividades humanas, colocando
cada uma no local que lhe fosse mais conveniente do ponto de vista da sua utilização e
funcionamento. Em nome desta concepção, consumou-se a dissociação funcional da cidade
tendo-se determinado a localização necessariamente pré-determinada e classificada de cada
uma das utilizações possíveis dos solos. Os postulados do funcionalismo, contidos na Carta
de Atenas e difundida sobretudo após a 2.ª guerra mundial e técnica do zonamento que
lhe está associada, são actualmente alvo de várias críticas.
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Cfr. CARVALHO, Jorge, Ordenar a Cidade, Ordenar a Cidade, Coimbra, Quar-
teto, 2003, pp. 307 e ss.
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(25)
Sobre os vários recortes que a técnica de zonamento pode assumir e, em espe-
cial, as formas de a tornar mais flexível e aberta a negociação, CARVALHO, Jorge, ob. cit.,
p. 309-310.
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“145 — (…)
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Para Eva Desdentado Daroca a conservação, reabilitação e renovação da cidade
decorrem das exigências do princípio da contenção urbana que se apresenta como uma
exigência do princípio da sustentabilidade. Cfr. DESDENTADA DAROCA, Eva, “Ultimas
Tendencias en la Reducción Y Control de la Discrecionalidad del Planeamiento Urbanístico”,
cit., p. 208-209
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(27)
O mesmo efeito tem o decréscimo de importância que em Portugal tem sido
dado ao alojamento social. A este respeito, as intervenções têm vindo a ser direccionadas
para a qualificação e restauro do parque habitacional social e para a substituição da pro-
moção de habitação social pela atribuição de subsídios de alojamento, o que contribui para
o objectivo de maior coesão social e para a diminuição da exclusão social, uma vez que
reduz a estigmatização que se associa à habitação social e permite uma maior integração
dos extractos sociais menos solventes. Os programas de incentivo ao arrendamento a jovens
permitem, por um lado, facilitar o acesso à habitação a um escalão etário da população que
apresenta maiores dificuldades e, por outro, contribuir para a revitalização demográfica e
económica de áreas urbanas com maiores problemas de envelhecimento e declínio funcio-
nal e económico.
Para uma visão distinta da apontada, no sentido de que a heterogeneidade das popu-
lações (mistura de classes sociais) não contribui, pelo contrário, para o desenvolvimento de
solidariedades sociais GONÇALVES, António Custódio, “Estruturas Espaciais e Práticas Sociais:
o Caso da Cidade do Porto”, in Relações Sociais de Espaço. Homenagem a Lean Remy,
Org. Casimiro Balsa, Edições Colibri/CEOS — Investigações Sociológicas, FCSH-UNL,
pp. 127 e ss.
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religiões e de grupos sociais que têm de conviver num mesmo espaço. Ora, se
os instrumentos de planeamento pretendem garantir a sustentabilidade social,
os mesmos terão de garantir que os interesses de todos, na sua diversidade e
heterogeneidade, serão efectivamente tidos em conta, para o que se revela
essencial garantir boas práticas no processo de planeamento que garantam a
participação efectiva de todos.
O plano precisa, efectivamente, de se aproximar de todos aqueles que
apresentem necessidades específicas, o que torna particularmente relevante o
procedimento de recolha dessas necessidades e dos interesses que lhe estão
associados. Tal significa que as ideias fundamentais da democracia e da promo-
ção da plena participação do público nos procedimentos territorial e ambiental-
mente relevantes se apresentam como importantes dimensões do princípio da
sustentabilidade na sua vertente social.
O princípio da participação corresponde, assim, à dimensão procedimental
do princípio do desenvolvimento sustentável: a validade das decisões territoriais
depende do grau de participação cívica efectiva e da tomada em consideração
dos interesses em jogo.
O relevo desta questão tem levado alguns governos europeus a elaborar
Guias de Boas Práticas para assegurar igualdade na diversidade nos procedimen-
tos de planeamento. É o caso do documento intitulado Diversity and Equality
in Planning. A good practice guide (28), no qual se fornecem importantes direc-
tivas para a elaboração dos instrumentos de planeamento, designadamente
aquelas que apontam no sentido de que estes devem: (i) reflectir as necessida-
des dos diversos grupos da população; (ii) combinar informações e orientações
da política nacional com dados locais e a fazer um levantamento de dados
relativos aos diversos grupos sociais; (iii) garantir uma participação e, mesmo,
uma concertação com diferentes grupos que têm necessidades distintas; (iv) pro-
mover abordagens proactivas para chegar a grupos-alvo e obter deles declarações
de envolvimento comunitário; (v) assentar em técnicas de engajamento com os
grupos-alvo; (vi) ponderar as necessidades de grupos sociais com problemas
especiais (ciganos e nómadas); (vii) identificar os recursos; (viii) envolver a
comunidade nas soluções; (ix) promover a eliminação de barreiras físicas;
(x) efectuar a avaliação do impacto social das opções tomadas; (xi) tornar os
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Diversity and Equality in Planning. A good practice guide, School of the Built
Environment, Heriot-Watt University, Edinburgh e Office of the Deputy Prime Minister,
Janeiro de 2005.
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Uma questão importante que se coloca a este propósito, e que se prende com
o princípio da solidariedade intergeracional, é a de saber como dar cumprimento à parti-
cipação das gerações futuras no procedimento de planeamento e como promover a repre-
sentação actual desses interesses.
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Conclusão
(30)
Cfr. DESDENTADO DAROCA, Eva, “Ultimas Tendencias em la Reducción y
Control de la Discrecionalidad del Planeamiento Urbanístico”, cit., pp. 205 e ss.
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