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Judaísmo Básico
Plano de estudos
Curso Judaísmo Básico
Aula Conteúdo
01 | O que é o judaísmo.
02 | História judaica 01.
03 | Historia judaica 02.
04 | Ramificações do judaísmo.
05 | Judaísmo Ortodoxo Moderno.
06 | Rabino, Rosh, Moré, Sofer, Mohel, Anciãos e Talmud.
07 | Sinagoga, Bet Hamidrash, Bet Din, Halachah.
08 | Mikvê, Talit, Tsitsit, Tefilin, Mezuza.
09 | Torah, Tanakh, Chumash.
10 | Religiosidade, Família e Rezas.
11 | Teshuvah (arrependimento) e conceito de pecado.
12 | Ciclo Mensal, Rosh Kodesh, Bircat Halevaná, Calendário.
13 | Shabat.
14 | Comportamento Judaico.
15 | Ética Judaica, Monoteísmo Ético, O Nome.
16 | Guiur (conversão) X Teshuvah (retorno). Quem é Judeu.
17 | Formação de Rabino, Semichá.
18 | Kashrut 01.
19 | Kashrut 02.
20 | As 03 rezas diárias.
21 | Bênçãos.
22 | Casamento, Brit Milá, Bar/Bat Mitsvá.
23 | Morte, enterro, luto e Cherem.
24 | Mashiah.
25 | Halachah.
26 | Sacerdócio, Templo e Tsedaká.
27 | Rosh Hashaná.
28 | Yom Kipur.
29 | Sucot, Simchá Torá.
30 | Chanuká.
31 | Tu be’shvat, Jejuns.
32 | Purim.
33 | Pessach. Chametz.
34 | Lag Ba’omer, Shavuot. Tishá Be’Av.
35 | As diversas Meguilot.
36 | Yom Hazikarom. Yom HaShoah.
37 | Salmos, Escritos, Profetas e sua importância.
38 | Dia a dia de uma sinagoga
39 | Metodologia da Pesquisa e encaminhamento do TCC.
40 | Avaliação Final.
Curso Judaísmo Básico
Aula 01
Introdução ao Judaísmo
O que é o Judaísmo?
O judaísmo como prática religiosa e espiritual, assim como todo o povo e toda a religião por
sobre a terra, também possui divisões, devido à forma de interpretar sua religiosidade.
Podemos destacar os grupos chamados de Rabanitas ou Rabinistas (seguem orientações de
Rambam e/ou dos Rabinos) e os grupos escrituralistas (que seguem apenas as escrituras como
o Tanack ou o Mikrá).
O grupo rabinista subdivide-se em Ortodoxos (ortodoxos, ultraortodoxos, chabad, na nach,
breslov, etc.), Conservadores (masorti) e Reformadores (reformistas, progressistas,
reconstrucionistas, e Ortodoxos Modernos, corrente que visa uma pureza judaica no sentido
ético e moral de acordo com o legado ancestral). O grupo escrituralista subdivide-se em
Karaítas, falasha-muras, etc.
Curso Judaísmo Básico
Aula 02
Breve História do Judaísmo
Parte 1/2
Muito se fala sobre a história hebraica, mas muita coisa conflitante. Podemos afirmar que
existem dias visões: a da ciência (atéia, e não da ciência coerente) que afirma que tudo que foi
relatado nas escrituras é mentira, que os patriarcas nunca existiram, que os juízes nunca
existiram e por fim que os grandes reis hebreus nunca existiram. A outra visão seria a judaica
(ortodoxa, fechada, contrária a visão moderna judaica) que afirma que tudo aconteceu
exatamente como se encontra nas escrituras, com nosso patriarcas fugindo da mesopotâmia,
nossos juízes guiando o povo que saíra do Egito rumo a conquista da terra santa, com os
grandes reis criando um poderoso império em Israel. Mas tudo isso encontramos aos montes
pela mídia, e ai que mora o perigo, pois não existe um consenso, ou existe?
Como historiador e judeu, tenho que dizer que existe sim concordância entre a pesquisa
cientifica e arqueológica séria (não a arqueologia bíblica cristã) e as escrituras judaicas (fora da
sandice ortodoxa e retrograda). Para encontrar este ponto de encontro temos que usar da
contextualização.
Vamos tomar por base três pontos bem simples: a língua, os nomes, as lendas.
Sabemos que o povo hebreu começou a partir de um homem e sua família, Abraham (Abraão),
que devido à crença em um Deus único saiu de Ur na mesopotâmia em torno de 1800 – 1600
a.c. rumo a uma terra distante que este mesmo Deus lhe daria. Esta é a visão religiosa judaica
e que a ciência cega diz que não existe, mas vamos aos fatos, vamos basear na ciência
coerente. Sabemos que historicamente, pela instabilidade política da mesopotâmia, levas
sucessivas de tribos semíticas fugiram e se instalaram em várias regiões próximas ao levante
entre 2300 á 1200 a.c. Algumas destas tribos formaram a civilização fenícia, e só a existência
fenícia já serviria para comprovar a existência das tribos hebraicas migrando para fora da
região de abrangência política e econômica do reino babilônico. O que valida este fato é
justamente os fatores étnicos e lingüísticos entre hebreus e fenícios, pois ambos são
etnicamente semitas, e linguisticamente o hebraico e o aramaico são línguas irmãs que se
desenvolveram de forma paralela, mas oriunda de uma raiz comum, tanto no falar quanto na
escrita. Em algumas revistas existe até uma pesquisa que fala o contrário, que no período da
saída dos hebreus, os povos do levante estavam indo para a mesopotâmia, o que é totalmente
falso, pois como vimos as tribos semíticas que fundaram as cidades estados fenícias ainda
estavam migrando para fora, e é lógico pensar que junto nesta migração, as tribos que deram
origem ao povo hebreu saiam também, mas não indo se estabelecer no atual Líbano, Síria e
norte de Israel , mas sim mais ao sul, próximo ao Jordão.
O segundo ponto é a comprovação (e este fato nem os mais céticos podem refutar) da
presença de nomes como Avram, Yacobu, Yssake, etc., nomes de nossos patriarcas, como
nomes comuns em algumas populações da mesopotâmia, pois os mesmos foram encontrados
(nestas formas arcaicas) em escritos em tabuletas de argila. Sendo assim, podemos afirmar
que pelo menos os nomes Abraham, Issaque, Yacov são nomes que realmente existiram, e se
os nomes são reais, por que os personagens que os envergaram não poderiam ter existido?
Anos atrás foram encontrados vestígios de uma tabuleta em Israel onde o rei em questão seria
representante da “Casa de David”, outra comprovação da veracidade dos nomes bíblicos.
O terceiro ponto, a questão cultural das lendas. Podemos afirmar muitas coisas, mas vamos
por parte, para poder recontar a história hebraica/judaica de forma clara, sem transgredir a
tradição e de acordo com as pesquisas históricas mais lógicas, confrontando as escrituras com
a historiografia.
Em torno de 2000 a 1700 a.c. nosso patriarca Abraham deixa Ur na mesopotâmia, juntamente
com seus familiares, seus servos e seus escravos, uma multidão interessante de pessoas para a
época, indo junto com outras caravanas semitas que também deixavam o local, indo até a
atual Turquia, e de lá separando-se destas tribos e descendo para o atual Israel. De lá para o
Egito, e de volta a Israel, onde teve filhos (Ismael, Isaque, e os filhos com as concubinas).
Abraham era um líder tribal, algo muito comum na antiguidade. Seu filho Isaque, filho de sua
esposa, torna-se o líder tribal no lugar de seu pai, e após sua morte um dos gêmeos torna-se o
líder tribal, Esav (Esaú). Sim, Esav e não Yacov, pois lembrem da história, Yacov foge, e
somente na fuga é que começa a erguer sua própria tribo, com suas duas esposas: Lia e
Raquel, e duas escravas / concubinas. Yacov tem doze filhos homens, que seriam os seguidores
da tribo. Após fortalecidos como tribo, os filhos de Yacov descem ao Egito, que nesta época
era governados por reis Hicsos, um povo de origem semítica, mas distante dos hebreus.
Provavelmente os Hicsos façam parte das primeiras levas a sair da mesopotâmia e conquistar
partes da Turquia.
Um século aproximadamente após se estabelecerem no Egito, os reis da dinastia dos Hicsos
foram expulsos pelos egípcios, e aproximadamente em 1550 a.c. tem início a 18ª dinastia
egípcia. Este período da história egípcia é de reconsolidação do poder egípcio, e a presença
hebraica seria vista como presença dos antigos invasores, por isso a tributação e opressão
sofrida nos séculos futuros (o que vem de encontro ao texto das escrituras que fala que vieram
outros reis que não conheciam José e o que ele teria feito pelo povo). Já no século XII a.c. sob a
19ª dinastia, os hebreus (ou hapiru como registrado em inscrições egípcias) começam a sair do
Egito. O faraó em questão provavelmente é Ramsés II, o que afirma muitos pontos da Torah,
principalmente o nome Moshe (Moisés) ou Moses em egípcio. Aqui neste ponto alguns
historiadores diriam que este relato descrito na bíblia seria falso, devido ao fato de faltar
registros sobre a fome na região (no tempo de José), as pragas assolando o Egito (no tempo de
Moises) e a migração em massa dos Hapiru. Bom, a cada dia novas pirâmides são encontradas
no Egito bem como novas inscrições, ou seja, muita coisa deve estar ainda enterrada nas areias
ou destruída pelo Islã. Outro fato que estes pseudo-pesquisadores não falam é o fato de que
cada faraó tinha o costume de “destruir” a memória da dinastia anterior, e podemos afirmar
isso analisando a história do faraó Akenaton, que teve praticamente toda sua história apagada
dos registros egípcios, simplesmente por ter tentado erguer o culto ao Deus único, que ele
chamava de Aton. Este faraó, mesmo de dinastia egípcia, deve ter convivido com hebreus e se
encantou com a lógica de sua crença, e tentou erguer uma religião institucional, que não foi
bem vista pelos naturais da terra devido a ser uma crença de povos invasores.
Já a saída de nossos ancestrais do Egito e a conquista de Canaã é registrada em breves escritos
de varias civilizações ao seu redor, e é claro que era um costume (até mesmo associado por
nossos antepassados) a destruição do material histórico e cultural de outros povos inimigos
(varrerei a memória deste povo da face da terra). O fato é que nesta época, o Sinai e Canaã
eram de controle egípcio, o que facilitaria o deslocamento de tribos servis, que sairiam da
metrópole para a periferia do império.
A consolidação hebraica é facilitada historicamente pela constante luta entre egípcios e hititas
pelo controle da região entre Turquia, Canaã, Sinai e Egito. Após a morte deste Ramsés,
chamado o Grande, começa a 20ª dinastia, e quase dois séculos mais tarde a 21ª dinastia, ou
3º período intermediário. Um período de muita turbulência no Egito o que propiciou a
formação de um reino hebreu, no antigo território de influência egípcia.
No século X a.c. sobe ao poder o primeiro Rei hebreu, Shaul, sucedido pelo pastor de ovelhas
David, e somente após a conquista de Jerusalém por David é que as tribos hebraicas são
unificadas. Sucedido por seu filho Shlomo, o reino de Israel floresce e se fortalece a
religiosidade hebraica, com a construção do templo em Jerusalém.
Após a morte de Shlomo, dois de seus filhos disputam o poder, fragmentando o reino em dois:
Israel ao norte com capital em Samaria, que cairia sob o poderio dos Assírios em 722 a.c.
fazendo com que 10 das 12 tribos originais sumissem da história (a genética e a historiografia
já encontraram descendentes destas tribos nos atuais territórios da china, índia e até mesmo
Japão); e ao sul com capital em Jerusalém ficou o reino de Judá, que cairia sob o domínio neo-
babilônio no ano 586 a.c. ficando por mais de meio século sob este regime de escravidão, só
retornando em 536 a.c. quando Ciro o Grande, rei da pérsia, conquista babilônia, reintegra os
deportados, financia a reconstrução do templo em Jerusalém, cria o reino vassalo de Judá e
devolve a liberdade religiosa aos hebreus, então chamados de Judeus. Nascia assim a segunda
fase da religião hebraica, agora conhecida como judaísmo.
Muitos judeus continuariam no território persa por vontade própria, ou por não conseguirem
provar sua ascendência judaica (um problema atual, mas que na época teve uma resposta e
esta mesma pode ser usada hoje em dia, como veremos nas próximas aulas) e impedidos de
retornar pelos procuradores judeus nomeados por Ciro.
Os judeus mantiveram sei reino até a chegada de Alexandre o Grande, da macedônia, em 322
a.c. mas mantiveram sua liberdade religiosa, até 198 a.c. quando passam a ser uma colônia
Síria (de origem helênica) onde tem que lutar por anos até conseguirem sua liberdade mais
uma vez (história da festividade de Chanuká). Mais tarde, em 63 a.c. os judeus passam a fazer
parte da província romana da Judéia. Em 70 d.c revoltas fracassadas contra os romanos fazem
com que tropas romanas do general Tito destruam Jerusalém e o Templo, e em 135 sob o
governo de Adriano, os judeus são expulsos de Jerusalém e tem início a grande diáspora, que
começou a ter fim a partir de 1948, com a criação do atual estado de Israel, será?
Curso Judaísmo Básico
Aula 03
Breve História do Judaísmo
Parte 2/2
Vamos ver nesta aula os conceitos das ramificações judaicas. Também chamada de
“Religiosidade Judaica”, pois é a forma como o judeu vivencia sua religiosidade. Ao contrário
do que muitos pensam, não existe unidade no Judaísmo, ou seja, não existe um órgão
centralizador e ditador de regras dentro do pluralismo judaico. Mas por mais que não existe
algo como o vaticano no cristianismo, o Judaísmo (por mais diferente a linha) sempre terá
como base o que se encontra na Torah, regras como a Circuncisão, etc.
Faremos um pequeno esquema para que fique claro e didático:
1. Judaísmo Rabínico.
a. Judaísmo Ortodoxo
i. Ortodoxos
ii. Ultra Ortodoxos
iii. Ortodoxos Modernos
b. Judaísmo Conservador
c. Judaísmo Reconstrucionista
d. Judaísmo Liberal
i. Judaísmo Reformista
ii. Judaísmo Progressista
2. Judaísmo Escriturista ou Escrituralista.
a. Karaítas
b. Beta Israel
3. Judaísmo Samaritano
4. Judaísmo Humanista
O Judaísmo Rabínico ou Mishnaico segue a Torah como lei, o Tanakh e o Talmud como fontes
de explicação da vontade divina. Está dividido em três grandes grupos a seguir:
O Judaísmo Ortodoxo é a vertente mais rigorosa em relação aos costumes e a observância da
lei, primando pela primitividade dos ritos. Desenvolveu-se após o retorno do exílio da
babilônia, originado da seita dos “fariseus”, e desenvolvido no período dos Gueonim, Rishonim
e Arraronim. Representam em torno de 15% da comunidade judaica mundial, mas apesar disto
tendem a rejeitar outras vertentes judaicas e a não reconhecer quem não seja ortodoxo como
judeu. Dentro da ortodoxia existem duas vertentes distintas: a Ultra-ortodoxia e a Ortodoxia
Moderna. Os Ultra-ortodoxos são ainda mais rígidos, primitivos (são os estereótipos judaicos),
crêem na vinda de Mashiah, na ressurreição dos mortos, etc. são totalmente resistentes a
mudanças e modernidades, como se ainda vivessem no final da idade media européia. Existem
vários segmentos ultra-ortodoxos, como o Chabad, Breslov, Na Nach, Naturei Karta (este é um
grupo antissionista e não reconhece o Estado de Israel). De outro lado, existe a chamada
Ortodoxia Moderna que tenta sintetizar os valores judaicos e a observância da lei com o
mundo secular, moderno, sendo um ponto de convergência entre o tradicional e o moderno,
permitindo que o judeu viva no mundo (na próxima aula falaremos sobre este movimento, que
representamos).
O segundo grande grupo judaico é chamado de Conservadorismo ou Masorti. Este movimento
concorda que o desenvolvimento da cultura e religiosidade judaica teve influência de outros
povos, mas sem perder suas características próprias. O movimento não permite mudança em
ritos e crenças, mas permite adaptações de alguns hábitos de acordo com a necessidade da
comunidade. Acredita no serviço igualitário e inclusivo, dando os mesmos direitos para
homens e mulheres, vindo ambos a sentarem juntos na sinagoga e serem contados para
minian. Aceitam a ordenação feminina para Rabinas (ortodoxos modernos também). É
erroneamente associado como o meio termo entre a Ortodoxia e o Liberalismo.
O terceiro grupo é o Judaísmo Liberal e o Reconstrucionista. O liberalismo defende a
introdução de conceitos e ideias nas práticas judaicas, para adaptá-las a atualidade. Defendem
a união entre judeus e não judeus, pois o objetivo da Torah seria a espiritualização de toda a
humanidade. Pregam a tolerância, autonomia individual, flexibilidade nos modos
comportamentais e a igualdade de gênero. Aliado a isso o reconstrucionismo defende aliar aos
estudos tradicionais, os estudos acadêmicos e científicos, o não-fundamentalismo para o
ensino da fé judaica, rejeita a ideia de povo escolhido bem como a ideia de milagres.
Diferencia do Reformismo apenas por pregar uma ênfase a vivencia comunal, sendo neste
ponto mais tradicional.
Já os Judeus Escrituristas, como exemplo os Karaítas, seguem apenas a Torah, rejeitando a Lei
Oral e as tradições agregadas ao longo do tempo, defendendo serem os fieis guardadores da
tradição, erguem sinagogas (criação farisaica), talit (modelo farisaico), kipá (invenção
medieval), etc.
Os Samaritanos, por mais que não sejam considerados Judeus, são cidadãos de Israel e pregam
serem descendentes dos antigos convertidos assírios que foram colocados no lugar dos
deportados do Reino de Israel. São assim chamados pelo fato da capital do reino do norte ser
em Samaria. Estes mantêm a linhagem e serviços dos cohanim (sacerdotes), defendem a
santidade do monte gerizim em contraposição ao templo, aceitam apenas a Torah Samaritana
(que difere em alguns pontos da Torah Judaica).
Por fim, temos o Judaísmo Humanista, que é um movimento judaico que busca manter a
identidade cultural e tradição judaica, ao mesmo tempo em que deixa de enfatizar as crenças
teístas. O Judaísmo Humanista, ou secular, propõe ação social, luta por justiça social.
Igualdade, liberdade e dignidade. Acredita que Judeu é aquele que se identifica como judeu e
se sente vinculado as suas histórias, tradições e cultura. Acredita que o Judaísmo é uma
civilização e que o Estado de Israel é o centro cultural do povo. Acredita que a religiosidade
judaica é parte da cultura. Acredita que o Tanakh e Talmud são referencias do significado da
moral e da ética do ser humano, etc.
Como podemos ver, muitas linhas judaicas existem e que exprimem o que é ser judeu. A
transmissão de linhagem judaica (de acordo com a Torah) se dá através da linhagem materna
(ventre judeu) que é popularizada na “Halachah” e também pela linhagem paterna
(desconsiderada pela ortodoxia, mas constante na Torah). Outra forma de se tornar judeu é a
conversão ao povo judeu, através da aceitação pública dos mandamentos, imersão em mikve,
e circuncisão (se for homem), além é claro da adoção de um nome hebraico.
Podemos ainda definir que todas as linhas judaicas compartilham da ideia de um messias
(Mashiah) que virá, trará paz ao mundo, levará as pessoas a crença em um único Deus,
reconstruirá o templo em Jerusalém, entre outras coisas. Sendo assim, como judeus, podemos
afirmar que até o presente momento o messias não veio, pois o mundo não está em paz, o
monoteísmo atualmente abrange cerca de 55% aproximadamente das religiões do mundo, e
no lugar do templo em Jerusalém esta (acreditam a maioria dos estudiosos) a grande
Mesquita.
Somente com estas três características acima podemos afirmar que vertentes intituladas de:
judaísmo-messiânico, judaísmo da unidade, judeus cristão, israelitas do caminho, congregação
israelita da nova aliança (cina), israelitas, tribo de Efraim, entre outras, não são judeus, são
apenas mais uma vertente cristã neo-protestante tentando se passar por judeus, mas que em
suas crenças (por mais que usem nomes em hebraico) vemos que são completamente
diferente do pensamento judaico, pois são cristãos.
Curso Judaísmo Básico
Aula 05
Ramificações no Judaísmo
Judaísmo Ortodoxo Moderno
Posicionamento – Diante do exposto fica claro que várias visões altamente diferentes -
desde tradicionalista para revisionista - são oferecidos sob a bandeira da "Ortodoxia
Moderna". Na verdade, mesmo entre a sua liderança há um acordo limitado "sobre os
parâmetros filosóficos da ortodoxia moderna". Os limites aqui, com relação aos Haredim e aos
conservadores, tornam-se cada vez mais indistinto. Alguns elementos do judaísmo ortodoxo
parecem ser mais receptivos a mensagens que têm sido tradicionalmente parte da agenda
Ortodoxia Moderna. Da mesma forma, a ala esquerda da Moderna Ortodoxia, muitos parecem
se alinhar com elementos mais tradicionais de judaísmo conservador. Ao discutir "Ortodoxia
Moderna" é importante esclarecer a sua posição em relação a outros movimentos no
Judaísmo. Além disso, dada essa ampla gama de pontos de vista, alguns vêem a possibilidade
de que, de fato, A Ortodoxia Moderna é plural.
Filosofia – A Moderna Ortodoxia traça as suas raízes nas obras de rabinos como: Azriel
Hildesheimer (1820-1899) e Samson Raphael Hirsch (1808-1888). Enquanto o papel da
Hildesheimer não é contestado - compreendendo distintas filosóficas e pragmáticas
contribuições - o papel de Hirsch é menos clara, com alguns estudiosos Hirsch, argumentando
que a sua filosofia "Torá im Derech Eretz" é, de fato, em desacordo com a da moderna
ortodoxia. Hoje o movimento é também, e sobretudo influenciado pela filosofia do Rabino
Joseph B. Soloveitchik sobre seu assunto de Torah Umadda , bem como pelos escritos do
Rabino Abraham Isaac Kook . (sionismo religioso, uma filosofia distinta, tem uma influência
indireta.).
Torah im Derech Eretz – De Hirsch Torah im Derech Eretz ( ארץ דרך עם תורה- "Torah
como caminho para a Terra") é uma filosofia do judaísmo ortodoxo que formaliza uma relação
entre o judaísmo halachico atento e do mundo moderno. Hirsch afirmou que o judaísmo
requer a aplicação da filosofia Torá a todo esforço e conhecimento compatível com o ser
humano. Assim, a educação secular torna-se um dever religioso positivo. "O judaísmo não é
um mero complemento para a vida: ela compreende toda a vida ... na sinagoga e na cozinha,
no campo e no armazém, no escritório e no púlpito ... com a caneta e o cinzel". A visão de
Hirsch, embora não sem ressalvas, estendida as ciências , bem como a literatura, filosofia e
cultura. Torah im Derech Eretz continua influente até hoje em todos os ramos do judaísmo
ortodoxo. Note-se que a Nova Ortodoxia, o movimento descendente de Hirsch, considera-se
posicionado, ideologicamente, do lado de fora da ortodoxia moderna contemporânea.
Pragmatismo – Rabino Azriel Hildesheimer, junto com o rabino Hirsch, insistiu que, para os
judeus ortodoxos que vivem no oeste, não havia possibilidade de separar-se por trás dos
muros do gueto. Pelo contrário, a educação judaica moderna deve ensinar os judeus a melhor
forma de enfrentar e lidar com a modernidade em todos os seus aspectos. A sua abordagem
"Cultivadas na Ortodoxia", foi definida como representando "acordo incondicional com a
cultura dos dias atuais; harmonia entre o judaísmo e a ciência;. mas também firmeza
incondicional na fé e as tradições do judaísmo ". Ele foi, no entanto, "o pragmático em vez de o
filósofo", e é de suas ações, ao invés de sua filosofia, que se tornaram institucionalizadas na
moderna ortodoxia, e através do qual a sua influência ainda é sentida.
Ele estabeleceu a educação judaica para homens e mulheres, que incluíram tanto estudos
religiosos e seculares.
Ele estabeleceu o Seminário Rabínico Hildesheimer, uma das primeiras yeshivot Ortodoxas a
incorporar estudos judaicos modernos, estudos seculares e bolsa de estudos no seu currículo.
Ele era não-sectárista, e trabalhou com os líderes comunitários, mesmo os não-ortodoxos,
sobre questões que afetavam a comunidade.
Ele manteve ligações tradicionais para a Terra de Israel e trabalhou com os não-ortodoxos
em seu nome.
Torah Umadda – Torah Umadda ( ומדע תורה- "Torah e conhecimento secular") é uma
filosofia sobre o mundo secular e o judaísmo, e em particular o conhecimento secular e
conhecimento judaico. Ele prevê uma pessoal - em oposição a filosófica - " síntese "entre a
Torá e erudição ocidental, erudição secular, o que implica, também, o envolvimento positivo
com a comunidade mais ampla. Aqui, o "indivíduo tem absorvido as atitudes características da
ciência, a democracia e a vida judaica e responde adequadamente em diversas relações e
contextos". Esta filosofia, tal como foi formulada, hoje, é em grande medida um produto dos
ensinamentos e filosofia do Rabino Joseph Soloveitchik (1903-1993), Rosh Yeshiva em
Universidade Yeshiva. No pensamento "do Rav Soloveitchik", o judaísmo, que acredita que o
mundo é "muito bom", ordena o homem a se envolver em Tikkun Olam . " O Homem
Halachico" deve portanto, tentar trazer a santidade e a pureza do reino transcendente ao
mundo material. A Ortodoxia Centrista é o modo dominante da Moderna Ortodoxia no
Estados Unidos, enquanto a Torá Umadda permanece intimamente associado com a
Universidade Yeshiva.
Rabino – a palavra rabino vem do hebraico Rav (mestre, professor), sendo também usual a
palavra Rabi (meu professor). Ao contrário de outras religiões, no judaísmo não existe
sacerdote, logo, o Rabino não é o equivalente a um padre ou pastor, é antes de tudo um
professor de Torah, alguém com grande conhecimento de Torah.
Um Rabino nos dias de hoje é formado em uma escola, seminário, instituição de nível superior
ou em uma Yeshivá (escola judaica própria para formar rabinos). Mas não foi sempre assim.
A instituição dos Rabinos surgiu ainda no cativeiro da babilônia, onde foram os responsáveis
por preservar a tradição, a lei e a judaicidade do povo cativo, ergueram sinagogas e
continuaram a instruir a comunidade. O termo, segundo algumas informações, só foi usado no
século 01 da era comum, em referencia a associação de 23 juízes obrigatórios em cada
comunidade judaica da época. Com a queda do templo, os rabinos acabaram por se tornar a
única autoridade máxima em se tratando de Torah (oral e escrita), e o posto de Rabino era
dado através da imposição de mãos de um Rabino em seu aluno que se formava, era
respondida a pergunta “quem te fez Rabino?”. Esta ordenação rabínica chamada de Shemichá
(se lê xemirrá) se manteve até meados do século 04, quando foi suspensa (época do
fechamento do Talmud), e só voltou a ser instituída novamente no século 15 pelo Bet Din do
Rabino Yacov Beirav na cidade de Safed, sendo um dos primeiros ordenados o ilustre Rabino
Yossef Caro. Esta ordenação teria sido dada desde Moises até os dias do segundo templo,
através da imposição de mãos de geração em geração, até os homens da grande assembléia.
Mas uma pergunta que não quer calar. Se a ordenação foi suspensa por mais de 11 séculos,
quem transmitiu a ordenação ao Rabino Yacov Beirav? Esta pergunta teria mil e uma
explicações, mas nenhuma satisfatória. O fato é que a ordenação rabínica através do estudo
em yeshivah e transmissão de autoridade rabínica através da imposição de mãos sobre o aluno
não é a única forma de se formar um rabino.
Em primeiro lugar um Rabino deve saber a Torah, tanto escrita quanto oral, afim de que saiba
ensinar, julgar, tomar decisões e ser apto para compor um tribunal jurídico judaico (Bet Din).
Tendo estas características, e sendo reconhecido pela comunidade, esta mesma o elege como
sendo seu Rabi. E assim aconteceu até a restituição da ordenação rabínica novamente. Sendo
assim, hoje um rabino pode ser formado em uma yeshivah, escola superior, seminário judaico,
escolhido pela comunidade bem como se for estudar direto com outro rabino e este lhe der a
shemichá, ou seja, lhe transmitir a autoridade rabínica.
Um rabino hoje em dia pode ser ligado a uma instituição judaica ou não e mesmo assim ser
ainda rabino. O Judaísmo não possui uma instituição centralizadora da fé como o vaticano é
para o catolicismo. Sendo assim, existem tribunais rabínicos ligados a federações, a
instituições, aos próprios rabinatos em Israel e também existem tribunais independentes,
livres, e que mesmo assim possui a mesma autoridade do que os tidos como “oficiais”.
Lembre-se, não existe vaticano no judaísmo.
Bons exemplos disso são o United Beth Din, tribunal rabínico independente de orientação
ortodoxa moderna, presidido pelo Rabino Anderson Fonseca, com sede em Londres e a União
Sefaradita Hispano-Portuguesa de orientação ortodoxa, presidida pelo Rabino J. de Oliveira e
com sede em Israel.
Rosh – em hebraico significa cabeça, e é usado em algumas comunidades judaicas para titular
um membro que seja uma liderança local.
Moré – professor, morá – professora, são as pessoas responsáveis apenas pela educação
judaica, podendo ser aptos a ensinar algum conhecimento específico, como língua, historia,
liturgia, etc.
Shofer – escriba, especialista em fabricar tinta, preparar o couro (pergaminho) e copiar textos
sagrados. Um rolo de Torah é feito em pergaminho por um escriba que domina a técnica de
escrita.
Mohel – especialista em realizar circuncisão. Lembrando que no Brasil o mohel tem que ser um
médico ou enfermeiro, para não ser acusado de uso ilegal da medicina.
Talmud – estudos, é um compendio de registros de discussões rabínicas, dividido em
basicamente duas partes: a Mishná (terminado no século II) e a Guemará (terminado no século
V). Após a destruição de Jerusalém, teve-se a necessidade de compilar a lei oral, mas como
podemos observar, nem sempre os rabinos foram unânimes em aceitar esta ou aquela decisão
oral, visto que no Talmud temos um claro exemplo onde de 10 rabinos, 09 deliberam a favor
de uma interpretação e apenas 01 em favor da interpretação contrária de determinada lei, e
mesmo assim, ambas as decisões são válidas: a da maioria para toda a comunidade judaica e a
do rabino contrário para a sua própria comunidade.
Neste ponto, muitos se questionam sobre a validade do Talmud. Devemos ressaltar que nada
está acima ou em igualdade com a Torah, e mesmo que uma decisão talmúdica seja unânime,
jamais deve ser contrária a Torah, e se assim for deve ser entendida como um costume e
jamais como uma lei, e sua observação seria opcional e não obrigatória.
É verdade que para a ortodoxia judaica, muitas vezes o Talmud é encarado como mais sagrado
do que a Torah, o que é um erro, pois sagrada somente a Torah. Os outros dois grupos de
livros que compõem o Tanakh junto com a Torah: Nevim (profetas) e Ketuvim (escritos) é que
são os complementos da Torah, e o Talmud serve mais como um guia para a legislação judaica,
pois em alguns momentos muitas leis da Torah se tornaram impossíveis de serem cumpridas,
como as ofertas no Templo (visto que o Templo não existe mais), o respeito ao Rei e ao Sumo
Sacerdote, etc., neste ponto entra o Talmud, ou melhor, as suas discussões para dar uma
opção ao cumprimento destas regras.
No Talmud também encontramos explicações de pontos onde a Torah se cala, como por
exemplo, a forma de abater um animal, de se realizar a lavagem de mãos, da prostração nas
orações (prática realizada por judeus sefaradim antes da expulsão de alambra, mas que hoje é
realizada apenas por Karaítas, Samaritanos, Yemenitas).
Infelizmente, baseado nos preceitos escritos no Talmud, muita insanidade é ensinada dentro
de círculos judaicos como sendo lei quando na verdade são costumes. Por exemplo: existe a
Lei da modéstia para as mulheres, mas cada comunidade interpreta de forma diferente
(costumes), indo desde a proibição de se usar calças nas sinagogas, até a loucura de instruir as
mulheres a rasparem a cabeça e usarem perucas para ficarem feias.
Lembre-se: a Lei é para todos (Torah), exemplo: Brit Milá para os homens; Costume é apenas
para a comunidade, exemplo: Acender uma vela para cada filho no Shabat ao invés de apenas
duas, não comer arroz em Pessach, usar apenas roupa preta, etc.
A lei oral, ao contrario de Karaítas e outros grupos escrituralistas pensam, foi transmitida por
Deus á Moises no Sinai, e deste para os homens da grande assembléia, que tiveram a
necessidade de compilar a partir da destruição de Jerusalém pelos romanos com a finalidade
de que os judeus não deixassem de as executar e assim não se afastassem da Torah quando
não entendessem alguma instrução. Infelizmente estes primeiros rabinos eram homens, tanto
quanto nós na atualidade, e por serem homens decretaram que apenas o que eles estavam
debatendo valeria, e que outras interpretações posteriores não teriam valor, desmerecendo
assim as gerações futuras de rabinos e eruditos da Torah.
Mas não deve ser por este aspecto humano que toda a Torah oral ou Talmud devem ser
desmerecidos, muito pelo contrário, possuem um valor dentro das tradições judaicas muito
importante e devem ser respeitadas, mas claro, sempre o que estiver de acordo com a Torah.
Curso Judaísmo Básico
Aula 07
Conceitos religiosos
Sinagoga (do grego συναγωγή, composto de σύν “com, junto” e ἄγω “conduta, educação”) é o
local de culto da religião judaica, possui como o seu objeto central a Arca da Torá. O serviço
religioso da sinagoga, quando se forma um quórum, é feito todos os dias, sendo que alguns
envolvem leituras daTorá, cujos rolos são retirados da Arca (heikhal) e transportados até o
púlpito (Tebá). Em língua hebraica a sinagoga recebe o nome de ת נס כ ית ב, transliterado para
beit
knésset e traduzido para "casa de reunião". Também pode ser chamada ה יל תפ ית ב, beit
tefila,
ou seja, "casa de oração". Em yiddish, o termo é šul ou shul () ול ש, o que expressa o hábito de
se referir à sinagoga como "escola". Um exemplo desse uso é a Piazza delle Cinque Scole, no
velho ghetto de Roma. Entre judeus da nação portuguesa é comum chamar de esnoga ou as
variantes esnoa e scola. Entre judeus reformistas é comum o nome de templo. Por volta de
587 a.C., o Reino de Judá foi conquistado pelos Babilónios e sua população dispersa. Depois do
regresso do exílio na Babilônia que o judaísmo começou a se desenvolver, com o culto a
centrar-se na sinagoga, um hábito adquirido na Babilônia devido à inexistência de um templo.
A sinagoga passou a funcionar como um ponto de encontro dos judeus para as orações e para
a leitura das Escrituras. A sinagoga não se limita ao prédio. As reuniões religiosas dos fariseus
no judaísmo pós-destruição do templo eram feitas em casas privadas, e ainda há sinagogas
que reúnem-se em casas privadas. Naquele período a instituição da sinagoga popularizou-se.
No século I da era comum havia cerca de 394 ou 480na região de Jerusalém somente. A
sinagoga mais antiga a ter um registro seria aquela de Jericó, perto das ruínas de um palácio
Hasmoneus, descoberta junta a uma piscina de mikvah perto do Kelt Wadi pelo professor Ehud
Netzer e primeira do século aC. Após a destruição do templo pelos romanos em 70 dC, houve a
proibição de erguer sinagogas na Palestina. Não obstante, há na região cerca de cem ruínas de
sinagogas do período do segundo templo e dos primeiros séculos da era comum, como a
notável Sinagoga de Cafarnaum. Além do judaísmo rabínico, as sinagogas inspiraram locais de
culto de outras religiões nascidas do mesmo período, como as sinagogas samaritanas, igrejas
cristãs e kenesa caraítas. Segundo descobertas arqueológicas recentes, a primeira sinagoga
fundada nas Américas foi a Sinagoga Kahal Zur Israel, construída no Brasil em 1637 e cujas
antigas ruínas encontram-se cuidadosamente preservadas na cidade de Recife, no mesmo local
onde foi posteriormente construído o Centro Cultural Judaico do Estado de Pernambuco. As
sinagogas geralmente possuem uma comissão administrativa. Uma comissão ad hoc de três
membros adultos, com profundo conhecimento da halacá, formam o Bet Din, para exercer
funções judiciárias. Um presidente leigo da congregação, chamado em hebraico de rosh
haknesset, pode presidir sobre a disciplina, finanças, supervisão dos empregados, com o apoio
de anciãos que formam um conselho, os parnas. Um bedel, o gabbai, é responsável pela
manutenção e providenciar elementos dos serviços. Os serviços são presididos e cantados por
um Chazan ou cantor. Hodiernamente tornou-se comum contratarrabinos para exercer
funções congregacionais em uma sinagoga.
Todas as sinagogas possuem um tebá, uma mesa central de onde a Torá é lida e outras orações
são presididas. Oposto a ela encontra-se a arca dos rolos da Torá, chamado em hebraico de
heikhal, posicionada para o Monte do Templo em Jerusalém. Muitas sinagogas mantém uma
lâmpada (ner tamid) acesa continuamente, além de menorás. Embora as sinagogas possam ser
decoradas, retratos tridimensionais são vistos como violação da Torá. Os assentos são
geralmente arranjados ao redor da tebá e da arca. Em sinagogas ortodoxas se observam o
mechitzah, separação de gêneros. As mulheres ou ficam em balcões, alas separadas com
barreiras, fundos ou assentos designados, distintos dos homens. Alguns elementos são
opcionais. Há em várias sinagogas um dossel, sob o qual são realizado cerimônias
matrimoniais. Algumas sinagogas preservam um assento reservado ao profeta Elias. Os
arquivos-mortos das sinagogas, genizas, são importantes fontes para a preservação da história
judia. Salvo raríssimas exceções (como a Sinagoga Portuguesa de Amsterdão), não há órgãos
ou outros instrumentos musicais nas sinagogas ortodoxas. Em sinagogas reformadas e liberais
passou ser comum o uso de música instrumental nos serviços. BET HA-MIDRACH - (o mesmo
que "iechivá" em nossos dias). "Bet" = "casa de"; "midrach" = "estudo" - designa os locais de
estudo de Torá, sejam grandes escolas ou pequenas salas em cujos recintos o estudo é
realizado de forma permanente ou contínuo. BET DIN - é o tribunal dos sábios da Torá,
chamados "Daianím" (plural de "Daian" - juiz). Compõe-se de três, de vinte e três ou de
setenta e um. O Bet Din dos setenta e um é Sábios que se assentava no local do Templo
chamado "Lichcat ha-Gazit" é conhecido como "Sanedrin" (sinédrio, no dicionário português).
O líder de um Bet Din - seja qual for o número de seus componentes - é chamado "Av Bet Din".
Juntava-se a ele no Sanedrin o "Nassi". Os tribunais rabínicos posteriores ao selar do Talmud
são chamados de tribunais de "ieĥidim" por não serem componentes do grande corpo
chamado "sanedrin", não disporem de autoridade da "semikhá" e por serem para apenas
determinadas regiões, consequentemente. HALAKHÁ - (plural: halakhôt) assim se denomina
cada uma das particulariedades de cada um dos seiscentos e treze preceitos, ou seja, cada
preceito da Torá divide-se e subdivide-se em pequenos pormenores que levam esta
denominação. A expressão "halakhá" é derivada do verbo hebreu "halakh" - que significa
"caminhar" (o verbo aqui figura em tempo passado na terceira pessoa, como se faz pela
gramática hebraica, e não no infinitivo, como se faz nas línguas ocidentais em geral). Quer
dizer: a forma pela qual deve-se caminhar no que concerne ao cumprimento da Torá. É
importante lembrar que quando dizemos halakhá leMoshê mi-Sinai (halakhá desde Moshê no
Sinai), referimo-nos às halakhôt que foram ditas a Moisés oralmente, sobre as quais não há
discussão, e não acham-se escritas em lugar algum na Torá, nem têm alusão alguma nos
escritos. Há no campo da halakhá casos especiais, nos quais se diz, por exemplo, "halakhá,
veen morim ken" ("é [o caso citado] halakhá, mas não se ensina [às pessoas que o façam]
conforme ela"), ou seja, casos que o feitio delas pode acarretar problemas de cunho diverso
entre as pessoas que sabem pouca Torá, como no caso de continuar com os tefilin sobre si
após o crepúsculo, que é permitido desde que haja posto antes do pôr-do-sol, e pessoas
simplórias ao ver rabinos ou estudantes de Torá agindo assim, virão muito provavelmente a
colocá-los à noite, ou após o crepúsculo, incorrendo em transgressão contra a Torá. Outro caso
especial é o que se denomina "matin", que significa literalmente "entornar". Dizemos então,
por exemplo: "Halakhá kerabi peloni, akh matin kerabi almoni", ou seja: "A halakhá é de
acordo com as palavras de rabi fulano, e entorna-se como rabi ciclano". Este segundo caso,
apesar de ser distinto plenamente do anterior, é efetuado por motivo similar, e vem ou
facilitar, ou dificultar, para evitar do público geral o tropeço pela falta de conhecimento
suficiente da Lei no meio da massa. Como exemplo deste caso, poderia ser citado o caso de
cozinhamento no chabat sem intenção, discussão em beraitá repetida em cinco lugares
diferentes no Talmud por Rabi Ioĥanan, Rabi Iehudá e Rabi Meir, apesar de muitos rabinos pós
talmúdicos dizerem que o caso não pode ser tido como "matin", pois todo caso de
entornamento da halakhá tem por meta facilitar para a maioria, que é o povo simples, e
dificultar para os sábios e seus discípulos, que são poucos e mais capacitados a suportar o
difícil. Este último caso somente pode ser dito em casos de que seja a halakhá decisão
unânime do Sanedrin, e não em pormenores diretos do Sinai, nos quais não pode haver
discussão.
Curso Judaísmo Básico
Aula 08
Conceitos religiosos
Mikvê – é uma piscina artificial ou natural usada na purificação ritual. Não tem nada a ver com
o batismo cristão, já que o mesmo é originário de meios pagãos. A mikvê é onde se realiza a
Tevilá (imersão ritualística de purificação). Existem dois tipos de Mikvê: as naturais, que
podem ser pequenas lagoas, enseadas, barragens. As artificiais, que são piscinas construídas
junto ao solo ou em anexo a um prédio, abastecida por água das chuvas (natural), deve ter no
mínimo 200 litros (mikveot modernas contem em média 1000 litros), e devem ser profundas o
suficiente para pelo menos ficar 11 cm da linha da cintura de um adulto de pé. Caso não exista
a possibilidade de recolher água da chuva, pode-se usar água vindo de um filete de água de
rio, que é recolhida e depois encaminhada para a mikvê. A água deve estar parada no
momento da Tevilá, mas devidamente higienizada, clorada, pois a higiene é fundamental. Caso
não exista a possibilidade de usar uma mikvê natural ou artificial, se pode usar uma piscina,
desde que preenchida com as dimensões mínimas, com água da chuva ou de rio. A “tevilá”
feita em rio não é tevilá, pois no rio a água é natural, mas não é parada. Como deve ser feita a
tevilá? Totalmente nu, no caso das mulheres pode ser um roupão, desde que seja bem solto e
largo, pois a água deve entrar em contato com todo o corpo e orifícios do corpo, por isso que
deve ser nu e não se deve misturar homens e mulheres como fazem os cristãos. Passo-a-passo:
Leia a reza e decore: Barukh atah Ado-nai Elo-henu melekh ha'olam asher kideshanu
b'mitzvotav v'tzivanu al ha'tevillah. Tradução (não precisa recitar a tradução): Bendito és Tu, A-
Do-Nai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos e nos
ordenou sobre a imersão.
1. Lave-se minuciosamente em banho de chuveiro. Após o banho será necessário despir-se
totalmente para a imersão ritual, isto inclui a remoção de adornos como brincos, pulseiras,
anéis, maquiagem, esmalte de unhas, piercings, etc.). Quando a cerimônia é realizada em local
público (um lago, praia ou nascente de rio, etc) é permitido o uso de uma vestimenta folgada
ou roupa de banho.
2. Entre na água e, quando esta estiver à altura do peito, recite a reza em hebraico acima e
depois mergulhe a cabeça também.
3. Levante a cabeça e mergulhe 2 vezes mais, desta vez sem recitar a prece.
4. O ritual deve ser feito em presença de pelo menos uma testemunha do mesmo sexo.
Como obediência à Halachá, Lei Judaica, as mulheres realizam este ritual depois que passar o
período menstrual.
Quando deve ser feita? As mulheres sempre após o final da menstruação, parto; homens e
mulheres em yom kipur e algumas comunidades tem por prática usar antes de shabat. Talit –
manto de oração. Para que seja válido a colocação de tsitsit, o manto deve ser de no mínimo
04 cantos; de tecido, desde que não haja mistura de fios ou fibras, manto de tecido com os
cantos de pele pode colocar tsitsit, mas mando de pele com cantos de tecido não; as franjas
dos lados devem ser da mesma cor e do mesmo material que o manto; o manto pode ser de
qualquer cor, mas o mais tradicional é que seja branco, como um símbolo de pureza. Não de
deve colocar tsitsit de lã em manto de linho e vice versa. O manto deve ser suficientemente
grande para cobrir um menino que ande sozinho pela rua (entende-se que em um homem
adulto o manto deve cobrir boa parte de seu corpo (com que te cobrires). De acordo com a
Torah, o manto deve ser apenas de lã ou de linho. Sendo talit o manto de oração, hoje é
conhecido como Talit Gadol (grande talit) em comparação com a invenção rabínica chamada
de Talit Katan (pequeno talit) que é uma camiseta sem mangas e sem costura na lateral. Mas a
mitsvá da Torah é apenas o Manto, o talit katan é mitsvá derabanan, ou seja, instrução
rabínica, sem base sólida na Torah. Tsitsit – sequência de quatro fios trançados ao meio,
formando oito fios ao final, que deve ser colocado nas quatro pontas do talit. Cada
comunidade tem uma forma de amarrar os fios, mas basicamente são compostos com cinco
nós ao longo da trança. Por mitsvá da Torah deve-se colocar um fio azul na trança, ou outros
seguem a cor do manto, mas este azul de acordo com o Mishnê Torah deve ser da cor do
firmamento no momento do alvorecer, ou seja, um tom de azul mais escuro. Somente coloca-
se o fio azul, chamado de Techelet se o mesmo for de lã. Como mistvá derabanan, usa-se
apenas os fios brancos (da cor do manto) sem o uso do techelet, que por muitos séculos ficou
perdida sua forma de tingimento. Sendo assim, rabinicamente se aceita tsitsitot da cor dos
mantos, sem a presença do fio azul, sendo do mesmo material do manto (lã ou linho). Existem
várias formas de se fazerem os nós, e entre os sefaradim a mais comum (e não a única como
ensinam muitos por ai) é com a sequência de nó duplo, 10 voltas com o techelet, nó duplo, 5
voltas, nó duplo, 6 voltas, nó duplo, 5 voltas e nó duplo. Mas de acordo com o descrito no
Talmud a sequência descrita é mais próxima a algumas realizadas pelos caraitas.
Tefilin – traduzem este termo em português " filactérios", palavra de origem grega, e são dois:
o do braço e o da cabeça, pelo que está escrito na Torá: "Serão por sinal sobre tua mão, e por
frontais entre teus olhos..." - Dt 6:8. Este preceito tem grande importância no judaísmo, por
servir de ajuda imensa para o judeu, que ao levar o nome de Deus escrito sobre si, se enche de
temor, seriedade e respeito, pelo que é uma pena que os pormenores deste preceito tenham
sido deixados no esquecimento pela maioria dos rabinos, que não somente não cuidam de
explicar o feitio deste preceito para as pessoas em geral, especialmente para os jovens a partir
dos treze anos, senão são os primeiros a proibir, caso inquiridos, o usá-los sobre si durante o
dia todo, pelo que a maioria usam-nos somente durante a oração matutina.
No talmud consta que os Sábios cuidavam de não andar nem quatro côvados (dois metros)
sem ter sobre si os "tefilin", e escreveram que todo o tempo que o homem hebreu encontrar-
se sem eles postos em seu braço e em sua fronte - incorre em anulação de preceito positivo,
que é mais grave de que transgressão sobre preceitos negativos. Os primórdios do abandono
do cumprimento deste preceito como se deve remonta ainda às perseguições e decretos anti-
judaicos do Império Romano (Chabat 49:a - extraíam o cérebro da pessoa em vida, através de
um orifício aberto no local onde se põe o filactério da cabeça), e os geonim da Babilônia
alertaram sobre o perigo de tomarem os judeus na Babilônia e no mundo exemplo
dos da Terra de Israel, que após haverem se acostumado com os decretos dos romanos,
mesmo após a anulação deles já não cuidavam de manterem os filactérios postos durante o
dia todo. Tal mau costume de desprezo de um preceito tão importante atingira maiores
proporções durante o longo exílio, perante o escárnio dos gentios. Entre os maiores rabinos
das últimas gerações que tentaram devolver este preceito para seu real lugar - está o Gaon de
Vilna - Rabi Eliahu ben-Chelomoh Ĥassid. Ele não só foi exemplo vivo, não andando a exemplo
dos sábios talmúdicos nem mesmo quatro côvados sem ter sobre si os "tefilin", senão
escrevera acerca do trazido no Chulĥan 'Arukh por Rabi Iossef Caro uma reparação às suas
palavras: "O preceito [de tefilin] é que estejam postos durante todo o dia; mas, por razão de
limpeza corporal (quer dizer: intestinal), e por razão de descontração - acostumaram-se a não
colocá-los durante o dia todo..." - (Siman 37, se'if 2) - sobre o que escreve"...o Gaon de Vilna
uma listagem de páginas talmúdicas (Berakhot 44b - tossafot: Na Terra de Israel costumava-se
proferir uma bênção especial para tirá-los à noite; Menaĥôt 36b - Rabi Ĥiiá e Raba bar rav
Huná oraram no caminho em viagem, tendo-os postos; menaĥôt 37b - Rav Achê encontrava-se
sentado perante Amimor, e apareceu seu filactério braçal; Iomá 86a: "Disse Rabi Ioĥanan
(como exemplos de profanação do Nome de Deus:" - Por exemplo, eu, que caminho mais que
quatro côvados sem tefilin..." "; Chabat 118b: "Disse Rav Chechat: "...eu cumpro o preceito de
tefilin!" ", Rachi explica: "não andava mais que quatro côvados sem tefilin."; Sucá cap. 2 - todo
o cap. trata de assuntos como quem dormiu e esqueceu de tirar os tefilin, sendo proibitivo
dormir com eles sobre si, mas nos lembra especialmente a pág. 28a, onde lemos que Rabi
Ioĥanan ben-Zacái jamais andou quatro côvados sem tefilin; e capítulo 4 de Megilá, pág. 28a:
"Perguntaram a Rabi Zera: Como mereceste a longevidade de dias?" - Entre as razões que
enumera, disse: Jamais andei quatro côvados sem tefilin...";), e sela suas palavras, dizendo:
"...uchmá' minah!" - ou seja:"...e aprenda do promulgado no Talmud!" . Os Sábios dizem que o
fato de tal preceito ser tão desprezado pela maioria se dá devido a ser este um dos preceitos
sobre os quais os judeus não se mostraram dispostos a morrer por ele, em tempos de
perseguição e decretos anti-judaicos, como se entregaram à morte pelo preceito da
circuncisão e da guardia do shabat (Tr Chabat 49a e 133b). O termo "filactério" nada tem a ver
com a palavra "tefilin" - sendo que os gregos pensavam que os "tefilin" fossem uma espécie de
talismã, que é o significado da palavra em sua fonte. O tefilin é feito de couro de animal kasher
e tingido de preto, tanto as duas caixas chamadas de batim (plural de bet = casa) quanto as
correias. Dentro das caixas encontram-se pergaminhos com o Shemá.
Curso Judaísmo Básico
Aula 09
Conceitos religiosos
Torah
A Torah (Torá) é a base de toda crença e religiosidade judaica. Encontramos a Torah como
parte integrante do Tanakh ou de forma isolada.
O Tanakh é um acrônimo para o conjunto de livros que formam o “Canon” judaico, por assim
dizer. São eles:
Ta = Torah;
Na = Nevim;
Kh = Ketuvim.
Um Sefer Torah possui exatamente 79.847 palavras, 304.805 letras. Leva de seis a 12 meses
para ser confeccionada, possui 60 cm de altura (seus pergaminhos) e pode pesar a te 10 kilos.
Um Sefer Torah é escrito em folhas costuradas com o mesmo couro com que é feito o
pergaminho e tem entre 62 à 84 folhas amarradas para formar o Rolo.
É considerada uma Mitsvá positiva que um judeu escreva um Sefer Torah, mas como se sabe
da dificuldade e delicadeza deste serviço, um tipo de profissional acabou se especializando e
como forma de cumprir esta Mitsvá, nós somos orientados pelos nossos Sábios a então
patrocinarmos uma Torá. Se não tenho como escrever um Sefer Torah (seja por ser analfabeto
em hebraico, ou pela extrema dificuldade do preparo de todos os materiais envolvidos, que
requerem tempo, cautela, fé extrema e confiança ao Criador), então devemos patrocinar uma,
ou seja, ajudar a comunidade a adquirir uma, ajudar a um Shofer (profissional que vive disso) a
sobreviver, ajudar uma comunidade a comprar seu Sefer, etc. não quer dizer que devemos
comprar um Sefer Torah Kasher para nossa casa (quem dera fosse possível), mas podemos
ajudar nossa comunidade ou outras comunidades a terem a sua, através de uma prática bem
comum hoje em dia que é a compra simbólica de letras da Torah.
A “compra” de uma letra, ou mais (dependendo das condições financeiras de cada um) ajudam
a que muitos possam cumprir a Mitsvá positiva.
O cumprimento de uma Mitsvá nos aproxima do Criador. Já cumpriu quantas Mitsvot hoje?
Quer cumprir esta?
Curso Judaísmo Básico
Aula 10
Conceitos religiosos
Religiosidade Judaica
Pode existir a expressão da religiosidade judaica sem se ter uma sinagoga ou uma
comunidade? Será que a premissa de que judaísmo se faz em comunidade apenas é
totalmente verdadeira?
Na atualidade, muitos segmentos e linhas judaicas pregam que só se pode ser judeu em
comunidade, chegando a pregar o absurdo de que não se pode participar de comunidades
virtuais, devendo-se largar a vida em sua cidade, seguindo uma premissa talmúdica de que se
não existe comunidade judaica em sua cidade deve-se mudar para outra.
Desconhecem estes alguns fatores importantes: a atualidade do mundo onde vivemos, que na
maioria das vezes não nos permite largar casa, família, trabalho, e nos mudarmos para uma
cidade onde haja uma comunidade judaica e sermos “parasitas” vivendo à custa daqueles que
trabalham, até que possamos começar uma vida; outro ponto é justamente territorial, ou seja,
sendo o Brasil considerado um país continental, inviável se torna a simples visitação a outra
comunidade em estado vizinho, quanto mais em alguma comunidade na outra ponta do país;
mas o mais interessante se esquecem estes que são contra a interação virtual é justamente a
forma como foi compilado o Talmud.
O Talmud é um compêndio de, vejamos bem, cartas entre Rabinos que discutiam a
interpretação e aplicabilidade das leis judaicas, ou seja, estes sábios não moravam na mesma
cidade e dependiam de cartas para se comunicar. Se o Talmud fosse compilado nos dias de
hoje com toda a certeza estes mesmos sábios usariam dos meios disponíveis hoje, e pela
rapidez que a interação virtual proporciona, usariam recursos como mídias sociais, e-mail,
comunicadores instantâneos, e quem sabe até o uso de vídeo conferência.
Mas, voltando à premissa inicial, é possível ter uma vida judaica afastado fisicamente de uma
comunidade? A resposta é Sim! Pois os que afirmam que judaísmo só se vive em comunidade,
e que fora de uma comunidade não se pode ser judeu, logo afirmam que os anussim não são
judeus. Pois sendo os anussim também chamados de “cripto-judeus”, realizavam suas praticas
religiosas totalmente desprovidos da assistência de qualquer comunidade, pois era realmente
impossível viver em uma comunidade vivendo-se em países que somente aceitavam uma
vertente religiosa cristã, em países onde sinagogas eram queimadas ou convertidas em igrejas,
em países onde os judeus eram roubados, perseguidos, expulsos ou mortos. Nestes tempos
era imprescindível a discrição e o sigilo, por isso é questionável o que certos pesquisadores
que era um costume anussim no Brasil a participação de reuniões secretas, o que como
historiador é muito improvável.
Vejamos o que nos diz o Rabino Andy em seu Seminário de Conversão Judaica:
Judaísmo e a família
“O judaísmo é uma fé que valoriza a família e suas cerimônias começam cedo quando, por
exemplo, o menino é circuncidado ao oitavo dia de vida, seguindo instruções que D-us deu a
Abraão há 4 mil anos atrás. Muitos costumes judaicos são centrados no lar. Um exemplo disso
é a refeição do shabbat quando toda a família se reúne para celebrar o início de um dia
especial.”
Sim, a prática judaica é feita no interior do lar, pois sinagoga não é igreja, rabino não é padre e
judaísmo não é cristianismo. Devemos lembrar também que nossos patriarcas praticavam sua
espiritualidade no interior de seu lar. Lembremos também que o dia a dia judaico, na visão
espiritual, consiste em práticas de oração ao nosso Criador, como a Amidá, a oração silenciosa,
o próprio Shemá que é a declaração judaica por natureza. Como o próprio Rabino nos
esclarece o kabalat shabat se faz em casa, etc.
Para aprender as rezas consulte um Sidur, mas abaixo colocamos algumas das bênçãos
judaicas a serem proferidas em diversas oportunidades de nosso dia a dia:
Antes de ingerir qualquer alimento devemos pronunciar uma bênção. Através deste ato
demonstramos reconhecer que D-us criou todo o universo e que Ele é a fonte da vida e da
existência. Segundo nossos sábios, esta é uma forma de pedir “permissão a D-us” para ter
proveito do Seu mundo.
No judaísmo até um ato físico pode ser uma forma de se espiritualizar, se realizado com a
intenção adequada.
Depois de comer agradecemos a D-us por nos ter proporcionado a alimentação, recitando as
“Brachót Acharonót”, ou “bênçãos finais”.
Pão
Antes de comer pão, “Matsá”, pita ou pizza (feitos à base de um dos cinco cereais – trigo,
cevada, centeio, aveia ou espelta) recitamos a bênção de "Hamotzí" ( mas se a base da massa
tiver sido feita com algum outro líquido que não água, vide “4. Mezonót”).
Primeiro deve-se banhar as mãos, vertendo água de uma caneca ou copo três vezes
consecutivas sobre cada uma, até o pulso, iniciando pela mão direita (o canhoto inicia pela
mão esquerda).
Antes de enxugar as mãos, esfrega-se levemente uma na outra. A bênção é recitada com as
mãos erguidas juntas, enxugando-as em seguida:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mélech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu al
netilat yadáyim
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo,que nos santificou com Seus
mandamentos, e nos ordenou sobre a ablução das mão.
Em seguida, sem interrupções, é recitada a bênção do pão:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mélech haolam, hamôtsi lêchem min haárets.
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que faz sair pão da terra
"Mezonót"
Antes de ingerir produtos à base de um dos cereais mas que não seja pão (como bolo, torta,
macarrão, biscoitos etc.) recita-se:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mélech haolam, borê minê mezonot
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que cria diversas espécies de alimentos.
Se a base da massa tiver sido misturada a um suco de frutas em lugar de água, esse pão é
considerado “pão Mezonót”.
Vinho
O vinho tem um significado especial no judaísmo, e assim mereceu uma bênção exclusiva.
Antes de tomar vinho ou suco de uva natural, recita-se:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mélech haolam, borê peri hagáfen.
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que cria o fruto da vinha.
Frutas
Antes de ingerir uma fruta que nasce em árvore recita-se:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mélech haolam, borê peri haets.
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que cria o fruto da árvore
Antes de ingerir frutas que nascem em árvores que não renovam seus galhos (caso da banana)
ou que crescem muito próximas ao solo (caso do morango e melão) recita-se:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mélech haolam, borê peri haadamá.
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo que cria o fruto da terra
Vegetais
Antes de ingerir legumes, verduras, hortaliças ou frutas que nascem na terra recita-se:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, borê peri haadamá.
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo que cria o fruto da terra
"Shehakol"
Antes de ingerir um alimento não incluído nas categorias acima, como chocolate, bala, pipoca,
sorvete, cogumelo, queijo, ovo, peixe, carne etc. ou antes de beber qualquer líquido (fora
vinho ou suco de uva), recita-se:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, shehacol nihyá bidvarô.
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que tudo vem a existir por Seu verbo.
Bênção após as refeições – “Bircat Hamazon”. A Torá ordena: "Abençoe D-us após comer e
sentir-se satisfeito" (Deuteronômio 8:10). Em adição às “bênçãos anteriores” que foram
instituídas por nossos sábios, a Torá nos ordena agradecer ao Todo Poderoso e abençoá-Lo
após comer pão e concluir uma refeição, expressando assim nossa gratidão a Quem “alimenta
o mundo inteiro com Sua bondade, com graça, com benevolência e com compaixão" (excerto
do "Bircát Hamazón").
O “Bircát Hamazón” consiste de quatro bênçãos primárias. A primeira (bênção“Hazán”) foi
composta por Moisés no deserto quando o Maná caiu do céu; a segunda (bênção “Al Haáretz
Veál Hamazón” foi redigida por Josué quando os filhos de Israel comeram os frutos da primeira
colheita após entrar na Terra Santa; a terceira (bênção pela reconstrução de “Yerushalayim”)
pelos reis David e Salomão, e a quarta (bênção “Àquele que é bom e faz o bem”) por nossos
sábios nos tempos da “Mishná”.
O "Bircát Hamazón" só deve ser pronunciado após uma refeição que incluiu pão, e sua
recitação abrange todos os alimentos ingeridos durante a refeição.
O conceito de Teshuvah é muito divulgado no meio judaico, muito se fala e se discute sobre
isso, mas poucos realmente estudam tudo que está inserido neste conceito. Vamos lá.
Toda a Lei e instruções estão contidas na Torah, e como forma de normatizar o ensino e
aplicabilidade da Torah surgiu o Talmud (como já explicado anteriormente), que explicava a
Torah Escrita e a Torah Oral. Mas como é um texto muito pesado e complexo, por tratar-se de
discussões rabínicas, o Rabino Moshe ben Maimon, o Rambam, entre 1170 e 1180, quando
ainda vivia no Egito, escreveu a obra chamada de Mishne Torah, onde ele compila estas leis. O
Mishne Torah não esta totalmente traduzido para o português, mas é facilmente encontrados
tratados pela internet e a venda em boas livrarias do gênero.
Já no século XVI, outro grande erudito, o Rabino Yossef Karo, cataloga toda a Halachah e
escreve o famoso SHulchan Aruch (mesa posta), onde estariam todas as leis judaicas
compiladas de forma didática, o que algumas comunidades judaicas não aceitam e continuam
a seguir apenas o Mishne Torah de Rambam. Mas pela complexidade do texto, vários rabinos
vêm tentando resumir estas leis, o que chega ao nosso tempo uma obra bem conhecida como
Kitzur Shulchan Aruch (Shulchan Aruch resumido), propondo-se a resumir todas as leis e
explicar o que se deve em aproximadamente 1200 páginas. E é este Kitzur que se populariza
hoje em dia como o resumo da halachah para todas as comunidades judaicas, por mais que na
própria obra exista a distinção entre leis concernentes as comunidades ashkenazitas e para as
comunidades sefaraditas. Infelizmente não é bem assim, pois como falaremos em outra
oportunidade, muitas das leis para as comunidades sefaraditas são na verdade leis
ashkenazitas, como uma forma de impor uma forma de pensar de uma comunidade (que
historicamente era minoria, mas que esta se tornando maioria) sobre a outra.
Então, como sefaraditas, como ficamos? Em quais escrituras rabínicas podemos confiar? A
resposta mais simples seria a adoção do Mishne Torah de Rambam, “pois de Moshe a Moshe
nunca ouve outro como Moshe”, ou seja, que Rambam é ainda o maior comentarista das
escrituras e em caso de dúvidas ficamos com o que ele diz. Mas nunca devemos nos esquecer
de um ponto fundamental, a contextualização. Entre Rambam e nossa era vão-se quase mil
anos, muita coisa aconteceu. Por toda esta dificuldade, o Rabino Shmuel Laniado, em 1990
recompilou todas as leis exclusivas para as comunidades sefaraditas na obra Shulchan
HaMelech (A mesa real), com agregações e leis atualizadas pelo próprio Rabino Ezra Basri
Shlita, chefe do tribunal rabínico de Jerusalém na época, e traduzido para o espanhol pelo
Rabino Daniel Lituak.
Nesta obra, o Shulchan HaMelech, os sefaraditas podem observar leis próprias para as suas
comunidades, sem a interferência do pensamento ashkenazita. Podemos ter a certeza de que
o texto constante nesta obra é de acordo com Talmud e Halachah. Por exemplo, para a
lavagem das mãos não se faz necessária as xícaras de duas asas como pregam os ashkenazitas
como lei, basta mesmo até um copo, caneca, concha, pois o mais importante é a intenção do
ato. No Shulchan HaMelech fala que até uma circuncisão feita por um cirurgião é válida, desde
que presenciada por testemunhas judaicas acompanhadas por rezas especificas do ato, não
sendo necessária ser realizada só por um Mohel “sugador”.
E é baseado em obras exclusivas para as comunidades sefaraditas que abordaremos a temática
Teshuvah.
Teshuvah é tido como Retorno, ou seja, retornarmos aos passos e ao caminho da Torah, por
varias formas:
Quando descumprimos um mandamento positivo ou negativo, querendo ou sem querer, Deus
permite que nos arrependamos e retornemos ao bom caminho, para isso basta a intenção de
reconhecer o erro e o desejo forte de não cometê-lo mais, após esta reflexão do erro,
aceitação que erramos, sentimento verdadeiro de arrependimento, pedimos ao Criador que
nos perdoe da seguinte forma: “Por favor Deus cometi um erro, pequei, me rebelei diante de
Ti, e fiz estas e estas ações, e me arrependi e me envergonhei de meus atos, e no voltarei a
incorrer nestas faltas”.
O texto ainda é claro em afirmar que somente quando o arrependimento é sincero é que
realmente expiamos nossa falta, ou seja, sem sinceridade no coração de nada adianta horas e
horas rezando.
Ainda é dito que nestes tempos em que não possuímos mais o Templo, somente a Teshuvah
sincera é capaz de expiar todos os erros. Ainda nos fala que se descumprimos um
mandamento, positivo ou negativo, mas que não é de pena de morte (espiritual), a Teshuvah e
o Yom Kipur reparam (desde que com sinceridade), agora se é um mandamento cujo a pena
por descumprir seja de morte, além da Teshuvah e dos serviços em Yom Kipur, o sofrimento na
vida irá restabelecer o equilíbrio espiritual, ou seja, ninguém salva ninguém de erro algum, e se
descumprimos uma lei estamos fadados as conseqüências de nossos atos.
O shulchan HaMelech ainda fala em outros três tipos de pecadores que são:
A – Quem afirma que não existe profecia e que não existe conhecimento que vem de Deus até
os homens;
B – Quem renega a profecia de Moises;
C – Quem defende que Deus troca as Mitsvot como bem entende, trocando mandamentos por
outros ou abolindo os mandamentos quando bem entender (como afirmam os cristãos, por
exemplo).
O orgulho, o ego são dois sentimentos que fecham as portas para uma verdadeira Teshuvah.
Por exemplo, quem não respeita seus mestres e rabinos, quem desvia uma comunidade
inteira, quem não aceita a Teshuvah de sua comunidade, quem burla os mandamentos.
Sobre burlar os mandamentos é bem interessante, pois justamente comunidades ashkenazitas
fazem isso. Exemplo: dizem que não se pode ligar luz em Shabat, e quando se esquecem de
deixar a luz ligada pedem para um não judeu que venha ligar sua lâmpada, mas isto é burlar,
pois se não pode, não pode. Isso é burlar a lei, claro uma lei que eles criaram, mas que estão
burlando.
Ainda para uma Teshuvah completa devemos abandonar sentimentos de ira, raiva, maus
pensamentos, calunia e laços de amizade com pessoas de má índole. Sem nos apartarmos
disso, jamais realizaremos Teshuvah. Todos possuímos o livre arbítrio (palavras do próprio
Shulchan HaMelech) para escolher seguir por um caminho bom ou por um caminho mal.
Vejamos uma explicação do Rabino Laniado: “muitos tolos de não judeus e certos judeus
obtusos pensam que esta predeterminado se uma pessoa vai ser um justo ou malvado, e não é
assim, já que toda a pessoa tem a possibilidade de ser bom ou mal, cruel ou misericordioso,
sábio ou ignorante, etc; e não existe quem o obrigue ou decrete que vai seguir por um
destes caminhos, a não ser a pessoa que decide conduzir-se pelo caminho que deseje,
portanto é o pecador que causa dano a si mesmo.” E onde encontramos sobre o Livre arbítrio
na Torah? No seguinte versículo: “Veja, hoje coloco diante de ti, a vida e a morte”
(deuteronômio 30: 15, 19).
A Teshuvah não deve ser realizada apenas pelos atos cometidos contra mandamentos, ou os
relacionados acima, mas sim com todos os traços negativos de caráter, como raiva, inveja,
ganância, desprezo, etc. Somente uma Teshuvah completa, pura, sincera é capaz de acelerar a
vinda de Mashiah. Vamos então realizar nossa Teshuvah (arrependimento e retorno) de forma
plena e sincera.
Curso Judaísmo Básico
Aula 12
Ciclo mensal
Rosh Hodesh – Cabeça do Mês (literalmente em hebraico) – masca o início do mês lunar
hebreu. Os Chassidim costumam jejuar na véspera do aparecimento da lua nova.
A véspera de Rosh Hodesh é considerada Kipur Katan (pequeno kipur), porque neste dia fazia-
se a expiação dos pecados do mês anterior no Templo. O nome Kipur Katan e o jejum foram
instituídos pelo Kabalista Moshe Cordovero em Safed, 1570, sendo observado pelos
Ashkenazitas.
Neste dia faz-se sair a Torah da arca e lê-se nela o trecho Vayhal. Lê-se também a Haftará
dirshu Adonay, Selihot e Tahanunim.
Nos meses em que há trinta dias, o trigésimo dia é considerado Rosh Hodesh junto com o
primeiro dia do mês seguinte. É um dia semi-festivo.
O calendário hebraico foi fixado pelo último chefe (Nassi) da religião, Hillel Hasheni, na
palestina aproximadamente 1700 anos atrás. Antes disso a lua nova era dada pelo
avistamento, como fazem ainda os Caraítas.
Em Rosh Hodesh lê-se a parte da Torah que trata das oferendas feitas no Templo.
Bircat Halenavá – santificação da lua. A reza Bircat Halevaná deve ser dita de preferência em
“Motsé Shabat”. Deve ser rezada com alegria.
Quando recitá-la? A Lua tem que estar totalmente visível no céu no momento de proferir a
bênção. Deve ser recitado a partir do 3º dia da lua nova até exatamente a metade do ciclo
lunar, período em que a Lua se encontra em sua fase crescente. Após este tempo de 72 horas,
a bênção não é mais recitada. Dizem nossos sábios: “Todo aquele que recita na época
apropriada a Bênção da Lua é como se tivesse recebido a revelação da shechiná, Presença
Divina”.
Por este motivo deve ser proferida de pé, vestindo roupas especiais (um momento apropriado
é na saída do Shabat, quando escurece e ainda estamos vestindo roupas festivas) e na
presença do maior número de pessoas possível, já que está escrito que é glória para o Rei
quando Ele é louvado diante de uma multidão.
Como proceder? Deve ser recitado apenas por homens (ou meninos que já sabem recitar as
bênçãos). As mulheres são isentas por tratar-se de uma mitsvá positiva com tempo
determinado para seu cumprimento. Os chassidicos, chabadim, e outros Ultraortodoxos
culpam Hava, a primeira mulher, por ter sido a causa da expulsão do paraíso, por isso proíbem
as mulheres de certas Mitsvot.
Ao proferir a bênção devemos olhar uma única vez para a Lua e depois não deveremos mais
olhar para ela indicando que nossas preces são direcionadas ao Todo Poderoso, e não à Lua.
Esta prece deve ser pronunciada ao ar livre, sem obstáculos entre a pessoa e a Lua. Se for
muito difícil sair de casa, a pessoa pode recitar no interior de sua residência, com a janela
aberta.
A partir do mês de AV e nos dez dias de penitência não rezamos Bircat Halevaná. Já a saída de
Yom Kipur, rezamos bircat halevaná, pois a lua é o símbolo do perdão e da expiação do
pecado; olhando a brancura da lua e a sua luz temos a esperança de que foram expiados os
nossos pecados no dia do perdão e se tornaram brancos como a neve. Acabando a reza de
Yom Kipur, cumprimos imediatamente as Mitsvot de Bircat Halevaná e de fazer a sucá.
Curso Judaísmo Básico
Aula 13
Shabat
Shabat – O Shabat é o sétimo dia da criação, e por isso é o dia mais sagrado para os judeus, tão
sagrado que apenas pode ser quebrado para preservar sua vida (e somente nestes casos é que
seria permitido o trabalho) e para realizar a Mitsvá de Brit Milá (a circuncisão pode ser feita
em Shabat).
O Shabat, pela sua santidade, é um dia especial, de festas e de alegria. Não se faz jejum em
Shabat, mesmo os enlutados não devem ficar tristes neste dia (pelo menos devem tentar ficar
o menos tristes possível, se assim for possível).
No Shabat não devemos realizar os 39 trabalhos identificados no Talmud: arar, semear, colher,
agrupar a colheita, debulhar, dispersar o grão ao vento, selecionar e separar (grãos), moer,
peneirar, fazer massa, assar (cozinhar e fritar também não pode), tosquiar, lavar (tecido, ou lã
para tecer, não quer dizer que não devemos tomar banho, mas sim são trabalhos relacionados
as questões financeiras, e o lavar é relativo ao ofício de fiandeiros), desembaraçar a lã não
trabalhada (ou lã crua), tingir (lã ou tecido), esticar o fio para tecer, passar o fio entre dois
anéis (típico de teares), tecer, desfazer os fios, atar (nós, como o tsitsit, ou mais propriamente
da profissão de tecelaria), desatar (os nós anteriores), costurar, rasgar tecido para usá-lo,
caçar, abater, pelar o couro, curtir o couro, alisar o couro, demarcar o couro (para cortá-lo
mais tarde), cortar (de acordo com um desenho, linha ou medição certa), escrever (na questão
financeira, em contas, contratos, documentos que irão gerar lucros), apagar (o que se escreveu
no item anterior), construir (ligado a área da construção), acender fogo, apagar fogo (mas esta
é uma questão bem discutida e complexa), dar acabamento a uma peça, transportar objetos
de propriedade particular para publica ou vice-versa (entrega de mercadorias comerciais,
como desde produtos comprados até as entregas de quentinhas).
Como podemos observar, os 39 trabalhos seguem uma razão estritamente particular em
relação a vida financeira, ou seja, estes trabalhos devem ser entendidos como proibições
ligadas aos ofícios e não a vida rotineira de uma casa. Como a Torah fala, que o Criador ao criar
o mundo em seis dias e descansou no sétimo, mais adiante Ele usa este exemplo a Moises e diz
que nos deu seis dias para trabalharmos e ganharmos a vida e o sétimo dia teríamos que
dedicar a nossa elevação espiritual. Sendo assim podemos ver que todos estes trabalhos são
ofício que deveriam ser evitados nos tempos bíblicos, e que agora devemos inserir os ofícios
atuais, ou seja, em Shabat somos proibidos de realizar nossos ofícios que nos dão o sustento.
Um exemplo prático é um marceneiro, proibido em Shabat de executar sua profissão, mas
apenas como profissão, o que não o impediria de executar como hobbie (que não tivesse uma
finalidade financeira) ou para ajudar a consertar a casa de um irmão em necessidade
(executando caridade), mas desde que isso não interfira em seu encontro com o Criador neste
dia e no cuidado para com sua família.
Os 39 trabalhos não proíbem, por exemplo, as relações sexuais conjugais, e até segundo alguns
rabinos são recomendadas neste dia por ser um dia mais que especial, pois estamos sobre a
proteção da Shekhinah, a presença divida, e o fruto deste relacionamento seria abençoado.
Mas isto apenas para relações sexuais dentro do casamento (casamento do ponto de vista
sentimental e não apenas no papel).
E se analisamos que os trabalhos proibidos possuem relação estritamente com ofícios e
profissões, como devemos entender a proibição do fogo? Primeiro devemos entender o que é
o fogo. Fogo de acordo com o Talmud é tudo a aquilo que se apaga ou assoprando ou
abafando, sendo assim a eletricidade seria fogo? De acordo com alguns Rabinos Ortodoxos a
resposta seria sim, mas apagamos a lâmpada em nossa casa assoprando sobre ela ou
colocando algo que a abafe? Sempre devemos seguir a lógica e o bom senso. Fogo, ou melhor,
a sua proibição, ao contrário do que alguns ortodoxos sugerem não deve se estender a tudo
que provoca faíscas, pois se assim fosse seriamos proibidos de tocar em pedras (primeira
forma de fazer fogo da humanidade), facas ou laminas cortantes, pois ao bater uma lamina na
outra ou em alguma superfície dura (pedra, metal, etc.) pode criar faísca, e a mesma gera fogo
se em contato com material combustível. Sendo assim, a proibição de objetos que criam
faíscas (elétricos) como lâmpadas, computadores e até mesmo automóveis, não tem base
halachika, pois quando o Talmud foi fechado nem eletricidade em residências existia ainda
(somente através de raios, de forma natural).
Outro assunto pertinente ao fogo seria o caso dos filhos de Aharon que embriagados
apresentaram “fogo inapropriado” para o Eterno. Em primeiro lugar eles estavam bêbados, o
que é uma falta de respeito ao nosso Criador, e este fogo inapropriado seria pela idolatria, o
que caracteriza a proibição de outro fogo cerimonial, fogueira, velas, etc, que tenham cunho
exclusivo religioso, e por isso acendemos as velas 20 minutos antes de iniciar o shabat.
Yom hashishi
Vaichulu hashamaim vehaaretz vechol tsevaam
Vaychal Elohim bayom hashevii melachto, asher assá
Vayshbot bayom hashevii micol melachto asher assá
Vayvarech Elohim et yom hashevii vaykadesh Oto
Ki vo shavat micol melachto, asher bará Elohim laassot.
Savri Maranan (os presentes respondem “lehaym”)
Baruch atah Adonai, Elohenu Melech haolam, boré Peri haguefen
asher kideshanu, bemitsvotav, vetsivanu al Hatzedaká.
Baruch atah Adonai, Elohenu Melech haolam, asher kideshanu, bemitsvotav, veratsa vanu,
veshabat kodshó beahava uvratson inhilanu, zicaron lemaasse bereshit, tehilá lemikraé
kodesh, zecher litsiat mitsraim;
Veshabat kodshechá beahava uvratson hinhaltánu.
Baruch atah Adonai, mekadesh haShabat.
Os participantes dizem Amén.
Todos saúdam “lehaym” e bebem do vinho.
Baruch atah Adonai, Elohenu Melech haolam, asher kideshanu, bemitsvotav, vetsivanu al
netilat yadayim.
Então se descobre a Chalá (que estava encoberta por um pano até o momento, duas para
lembrar o maná em dobro, uma sobre a outra) e se realiza a bracha sobre o pão.
Baruch atah Adonai, Elohenu Melech haolam, hamotsi lechem min haarets.
Corta-se a Chalá que esta por baixo, deixando a de cima para o outro dia.
Pronto, acabamos de realizar um ritual de Kabalat Shabat em casa com nossos familiares.
Mantendo um ar de harmonia no ambiente, aproveitem o restante do Shabat em sua família.
Caso seja obrigado a trabalhar, tenha em mente que antes de tudo vem o respeito e proteção
a vida, e se for o caso, a Torah o permite (desde que para o sustento), mas lembre-se mesmo
no trabalho de parar por algum instante, abençoar um copo de vinho (ou de suco de uva
natural de preferência, devido a estar trabalhando) e um pedaço de pão (Instruções Rabincas
pelo Rabino Anderson Fonseca, Av BetDIn).
Vale lembrar acima de tudo que este pequeno estudo serve apenas como uma base para que
todos possam realizar um bom Shabat em família. Logicamente se procurarem em outros
Sidurim encontrarão outras formas, mas esta é uma das varias catalogadas em Sidurim
Sefaraditas, como o Sidur Matzliah e o Sidur Kol Tuv Sefarad. As bênçãos estão de acordo com
o Sidur Matzliah em pronúncia, e as ordens das rezas, orações e salmos de acordo com Kol Tuv
Sefarad, que é um Sidur de comunidades Sefaraditas de Amsterdã e América do Norte.
Curso Judaísmo Básico
Aula 14
Comportamento Judaico
O estudo a seguir é uma complicação do que encontrado nos textos da Mishnê Torah de
Rambam, no tocante ao tipo de Comportamento que a Torah apregoa como sendo o correto
para todo judeu, seja ele homem ou mulher, criança, adulto ou velho.
O mesmo se encontra pontuado em onze mandamentos, sendo cinco preceitos positivos (o
que devemos fazer) e seis preceitos negativos (o que estamos proibidos de fazer). Lembramos
ainda de que quando a Torah proíbe alguma atitude, logo em seguida a mesma explica e
orienta o porque da proibição e qual o caminho mais correto a se seguir.
Assemelhar-se a Deus em suas virtudes – O primeiro preceito sobre comportamento nos diz
que devemos nos assemelhar a Deus em suas Virtudes, mas não afirmando que devemos nos
tornar um deus, uma divindade (como pregam certas ideologias religiosas), até porque somos
criaturas e jamais um Criador. Sendo assim, não existe distinção entre pessoas, pois não existe
um ser que seja o único “filho” do Eterno e enviado perfeito a terra. Todos somos suas
criaturas, em iguais condições de realizar boas atitudes.
O assemelhar-se ao Criador é no tocante a combater vícios morais, tais como: o orgulho, a ira,
ambição (Quem ama a prata, dela não se satisfará [Ec 5.9]), avareza, o vir a passar necessidade
apenas para demonstrar que é um sofredor para servir a Deus, bem como suas contrapartes
em excesso. O Mishnê Torah é claro ao afirmar que sempre devemos agir com bom senso,
nunca em demasia e nem em total falta: arrogância e subserviência, que são dois extremos da
verdadeira humildade. Ainda segue afirmando que não devemos ser, em linguagem popular,
um pavio curto, mas também não devemos ser daquelas pessoas que são totalmente frias
diante de uma ofensa. O caminho do meio é sempre o único correto, e é o chamado caminho
dos sábios (Andarás por Seus caminhos, Dt 28:9).
Sempre que detectamos um destes sintomas doentios (raiva, ira, orgulho), devemos tentar
(como remédio) nos colocar em situações onde estes defeitos irão aparecer, para que
possamos aprender a controlá-los. Da mesma forma buscar situações onde não venhamos a
nos sentir orgulhosos, etc.
Comer e beber quando necessário, mantendo boa alimentação. Não buscar apenas o prazer
nestas ações, nem na comida, bebida, sexo, etc. o ato de jejuar constantemente é tido como o
ato de um pecador, pois que se pune indevidamente, colocando-se no lugar de Deus que é
nosso único Juiz. Os jejuns são em épocas estipuladas não devendo ser feito a moda dos
idolatras (que jejuam para barganhar com suas divindades).
Dormir apenas um terço do dia (oito horas) e apenas a noite. Enfim, recomenda-se uma boa
alimentação, sonos constante e regrado, bom senso em suas relações, não buscar os desejos
carnais de forma a saciar apenas desejos, não se assemelhar aos idolatras.
Amar ao próximo – O mandamento ordena amar a todos os filhos de Israel como a si mesmo.
Sendo assim não devemos falar injurias, calúnias, difamações, etc. sobre qualquer pessoa que
seja. Não se deve querer crescer fazendo cair os demais. Aquele que faz com que os outros
passem vexame, segundo Rambam, não tem lugar no mundo vindouro.
Amar aos conversos – O mandamento de amar e receber bem o converso esta expresso em
deuteronômio 10:19, pois que de bom grado e por vontade própria vem até nós e se coloca
debaixo das “asas da shekhiná”, por isso a Torah escreve que devemos amar ao converso
como a nós mesmos, pois todo o que ama o converso terá sua recompensa para com o
Criador, como consta em deuteronômio 10:18.
Não odiar aos irmãos – Todo o que odeia ao seu irmão esta contrariando o que diz a Torah em
Levitico 19:17. Pois a Torah é contra todo e qualquer vestígio de sentimento de ódio de ira no
coração do homem para com um de seus semelhantes.
Admoestar – Nunca devemos guardar o rancor em silêncio por algo dito ou feito pelo nosso
próximo, antes devemos ir a te ele e lhe falar sobre suas atitudes e palavras, abrindo nosso
coração, mostrando o seu erro de forma serena, não para humilhá-lo, e jamais em publico,
mas sim com serenidade e de forma restrita e intima, pois assim realmente estaremos fazendo
um bem a ele. Caso com esta conversa, nosso irmão se arrepender do que fez ou disse e pedir
desculpas ou perdão, é nossa obrigação perdoá-lo e esquecer o acontecido. Caso ele não
reconheça o mal que fez, perdoemos em nossos corações e assim rompemos o vinculo com o
malfeitor, pois a Torah nos ordena que não nos vinculemos a malfeitores e pessoas de má
índole.
Não envergonhar publicamente a ninguém – Todo aquele que envergonha ao outro, seja de
forma publica ou intima é digno de punição. Devemos sempre ter atitudes brandas, amenas,
amigáveis, serenas, a fim de que o nosso falar em publico não venha a causar vergonha ao
outro. E se assim procedermos, devemos em publico nos retratar, a fim de alcançar o perdão
de nossa ofensa perante Aquele que nos criou, e assim nos reconciliarmos com nosso
companheiro.
Não causar sofrimento aos sofredores – muito pelo contrário, devemos abrandar o
sofrimento daqueles que sofrem. Uma Mitsvah é a Tsedaká, que recolhemos em erev Shabat,
em festividades como Purim, no começo do mês, e sempre que pudermos contribuir.
Recolhidas devem ser encaminhadas aos necessitados, assim como alimentos, roupas e
principalmente gestos e palavras de carinho e motivação.
Não ser Rakhil “fofoqueiro” – O livro da Lei é claro em Levítico 19:16, quando proíbe a fofoca
e o mexerico, e é chamado por Rambam de Lashon Hará, ou seja, língua ruim ou má. Todo o
que é culpado de Lashon Hará é como se tivesse contrariado um dos princípios da Torah e
perde seu lugar no mundo vindouro. Ainda sobre a fofoca, é dito que ela causa mal a três
pessoas: ao que diz, ao que escuta e ao de quem se fala. Principalmente mais ao que escuta do
que o que inventa, por isso é que devemos nos manter afastados de fofocas.
Infelizmente sempre tem aqueles que com o pretexto de entender uma situação acabam
ouvindo fofocas (porque assim o querem) e acabam impulsionando-as, e cada vez que repassa
a fofoca acaba aumentando um pouco, tornando-se assim culpado, quase que de um crime de
morte, tamanha a gravidade do crime de Lashon Hará. Seja por vingança, por não gostar da
pessoa ou por simples brincadeira, Lashon Hará é um crime contra o Criador e contra sua
criação.
Não vingar-se – Em Levítico 19:18 é claro que jamais devemos agir com vingança, pois quando
nos vingamos nos colocamos no papel de juízes, o que só cabe ao Eterno que nos criou e que
de tudo sabes. O ato de vingança é desprezível aos olhos do Criador. Não devemos nos apegar
a ofensa, pois toda a vez que alguém nos ofende, saibamos que Deus conduzira o julgamento e
punirá aquele que for o transgressor.
Não conservar mágoa no coração – A mágoa leva a vingança e/ou ao Lashon Haraá, bem como
a todos os males da alma, como ira, inveja, etc. Sendo assim não devemos guardar mágoa de
ninguém, seja a ofensa que for, pois acima de tudo está Aquele que nos criou e que é o único
Juiz por sobre toda a terra que tem todo o poder e justiça, e que sempre age da melhor
maneira a fim de nos conceder aquilo que merecemos.
Todos os dias vêm até nós pessoas de outras religiões, que se chegam ao judaísmo por faltar
em suas crenças um caminho certo e seguro para uma vida correta. Chegam alegando que
desejam viver uma vida em conformidade com a Torah e que desejam saber o que Deus quer
delas. Nos pedem para interpretarmos profecias, quando na verdade teriam é que apenas ler e
entender a Torah. Querem um caminho para o Criador, para amar a Deus em atos e atitudes,
mas se esquecem de que as palavras são claras como expostas neste pequeno estudo, por isso
fica a recomendação a todos os que desejam do fundo do coração entender o que o Criador
quer de cada uma de suas criaturas, que devam seguir o que encontramos no
livro Mishnê Torah de Rambam, na parte intitulada como Livro da Ciência, parte sobre os
Fundamentos, onde estão todos os preceitos resumidos aqui e que orientam a uma vivência
saudável tanto no tocante a forma física quanto a vivencia espiritual. Agindo desta forma
estaremos agindo em conformidade com a Torah e com os desígnios do Criador.
Curso Judaísmo Básico
Aula 15
Ética Judaica para a Ortodoxia Moderna
O estudo a seguir é uma continuação do estudo anterior, onde foi abordada uma compilação
do pode ser encontrado nos textos da Mishnê Torah de Rambam, mas agora mostrando
aspectos do cotidiano de acordo com a filosofia da Ortodoxia Moderna, mas antes cabe
ressaltar alguns pontos fundamentais.
Em primeiro lugar devemos entender o que é realmente a Ortodoxia Moderna Judaica. O
Judaísmo Ortodoxo Moderno é um movimento dentro da própria Ortodoxia Judaica que vem
para sintetizar os valores éticos, morais e espirituais do Judaísmo com o mundo moderno e
atual, acompanhando a evolução secular e valorizando outros aspectos que possam fazer do
Judaísmo uma ferramenta de progresso para a humanidade.
Dentro deste aspecto, podemos afirmar que o Judaísmo Ortodoxo Moderno não é uma “linha”
ou vertente judaica, mas sim que é o puro Judaísmo, não sectarista, racional, lógico,
consciente e principalmente ético. Sendo assim, fica claro, de um ponto de vista histórico, que
a Ortodoxia Moderna tenta resgatar muitos pontos que foram perdidos pela Ortodoxia
(tradicional) ao longo dos séculos, e principalmente no Brasil, onde a única instituição judaica a
seguir este movimento é o United Beth Din, e que imprime características próprias para a
interpretação moderna do Judaísmo, que interpretamos como nada mais nada menos do que
o pensamento judaico Sefaradi pré-Decreto de Allambra.
Na Península Ibérica, os Judeus Sefaradim desenvolveram um processo racional em sua forma
de pensar e de vivenciar o Judaísmo, ou seja, apenas deram continuidade a evolução natural
do pensamento judaico, enquanto os judeus do leste europeu, devido as crescentes pressões
do Cristianismo crescente, desenvolveram uma forma mais supersticiosa, irracional e até certo
ponto idolatra e contraria a própria Torah.
Em Sefarad, os Judeus viviam em certa harmonia com Cristãos e Muçulmanos, chegando a
serem tratados como iguais, e com outros grupos judaicos como, por exemplo, Karaítas. Não
podemos nos esquecer que Rambam, um Anussita (pois foi forçado a uma conversão ao Islã e
depois conseguiu retornar ao Judaísmo), foi um grande racionalista judeu, chegando a estudar
filosofia, história e medicina.
Os Judeus Sefaraditas dão mais importância ao conteúdo do que a forma exterior (ao contrário
de grupos Ashkenazim que dizem que o exterior mostra o que tem no interior e por isso se
apegam a práticas externas como lei), ou seja, que ao invés de ficarem horas e horas rezando –
por exemplo – que façamos uma breve oração com sentimento (kavaná) do que longas rezas
decoradas.
Os Sefaradim entendem que toda a prática judaica deve ser entendida, compreendida, para
ser melhor praticada. Um bom exemplo disso é se aproveitar de descobertas no campo da
medicina e da nutrição a fim de entender realmente a Dieta Kasher.
Já se perguntaram, por exemplo, o porquê da necessidade de não se ingerir na mesma
refeição carne vermelha com laticínios? Na verdade, esta instrução alimentar é baseada em
um texto que fala da proibição de se cozinhar um cabrito no leite de sua mãe, o que era uma
iguaria muito comum (até hoje) entre os povos do Oriente Médio. De acordo com estudos
sobre nutrição, sabemos que a ingestão de carne com leite acaba tornando-se uma refeição
pobre em nutrientes, pois o cálcio presente no leite é anulado, ou seja, não absorvido, por
substâncias da carne e o ferro da carne é anulado por substâncias do leite. A própria forma de
“Kasherizar” utensílios serve na verdade como uma forma de esterilizar a fim de evitar
contaminação por bactérias e salmonela, mas de nada adiantará ter talheres para carne e
talheres para laticínios, se ambos não forem higienizados. Sempre devemos usar a razão e a
lógica.
A vivência então de um judeu que segue a Ortodoxia Moderna, deve ser sempre pautada pela
racionalidade, amor para com a Torah, entender que as escrituras restantes devem servir
apenas para explicar pontos difíceis da Torah, mas jamais estarem em pé de igualdade com
esta e nem serem maior que a Torah.
Um Judeu Moderno valoriza as outras áreas do conhecimento humano, as estuda e as
compreende para uma melhor compreensão da Torah, vindo a entender que muitos pontos da
mesma são metáforas de cunho moral. Suas relações sociais devem ser sempre baseadas na
Ética, pois o Judaísmo também é conhecido como Monoteísmo Ético em relação a outras
religiões monoteístas.
O exemplo acima, se dito de forma franca e com a intenção de alertar sobre um possível ato
de maledicência é salutar, pois o criticado pode averiguar o que esta se dizendo dele e refletir
se a critica procede ou não, e pode até concluir o porquê o “José” esta falando o que foi-lhe
relatado. Claro que é bem mais ético nem começarmos a escutar intrigas e fofocas, mas se foi
inevitável devemos alertar a pessoa que sofre para que a mesma tome suas providencias e
para que o mal não prevaleça e não acabe causando um estrago considerável. Já disse certa
vez o ativista Martin Luther King Jr: “O que me preocupa é o silêncio dos bons”.
Outro ponto fundamental é a palavra dada. Quando “damos” nossa palavra, na verdade
estamos colocando em jogo o nosso próprio nome, e neste caso devemos estar cientes da
gravidade de nossas ações perante o Criador, e é por isso que realizamos a Anulação das
Promessas ao começar um novo ano. O Nome é algo tão importante, que outrora foi instituída
a lei do levirato (Ybur – que nunca foi revogada, apenas não se usa) que obrigava o irmão do
falecido a ter um filho com sua cunhada, caso seu irmão tivesse morrido sem ter um herdeiro,
a fim de que seu Nome (do falecido) não fosse apagado por sobre a terra. Outro ponto a favor
desta proposição é justamente como nos referimos ao Eterno – HaShem, ou seja, O Nome.
A palavra Nome – Shem – tem a mesma raiz da palavra Shemá, do nome de Ishma’El, Shimeon,
e por que? Justamente para mostrar a importância que o nome, ou seja, do que somos e do
que colocamos em jogo quando realizamos uma atitude ou tomamos partido em alguma
situação.
Um não-judeu é um ser diferente de um judeu para contaminar o que o judeu come só pelo
toque? Lembremos sempre do bom senso.
Kasher significa “apropriado”, e é o que a grosso modo tem o acompanhamento de um Rabino,
que por ser estudado e versado em Torah e Halachah, sabe as minúcias do que pode e do que
não pode, pois no exemplo do vinho “kasher”, se fosse para não ter contato com um não-
judeu como alguns chegam a afirmar (de forma errada) e seguem afirmando que até se o
garçom não-judeu toca na garrafa o vinho deixa de ser kasher, tendo que ferver o vinho para
voltar a “kasheriza-lo”. Por favor, que pensamento tão pobre, pois se o toque do garçom não-
judeu fizesse o vinho deixar de kasher, então teoricamente o vinho só seria kasher se a garrafa
fosse kasher, a caixa onde as garrafas serão armazenadas seja kasher, o caminhão onde as
caixas serão colocadas seja kasher, etc, pois se o caminhão não é kasher, ou seja, construído
por judeus, com materiais construídos por judeus, faria com que a caixa deixasse de ser
kasher, e assim por diante até chegar ao vinho. Não vamos cair nestas loucuras de achar que
não se pode tomar uma boa taça de vinho com nosso vizinho pelo fato dele não ser judeu.
Kasher é o que é apropriado. Vinho é kasher em Pessach? Sim, pois por mais que seja
fermentado, não é fermentado pelos grãos proibidos em Pessach. Cerveja é kasher em
Pessach? Não, pela presença da cevada. Em Purim se deve encher a cara? Nunca, devemos
apenas estar felizes, beber, mas sempre com moderação, ainda mais se comemorarmos fora
de casa.
Moderação é a palavra de ordem do Judeu Moderno, seja no comer, no beber e no vestir.
O Tzeniut, traduzida como modéstia, são um conjunto de regras que ditam a “moda” judaica!
Outro erro quando se cai no extremo, ao ponto de usar roupas pretas, pesadas, “bicho-morto”
enfiado na cabeça, aparência de barba suja. A modéstia é o saber se vestir, pois não vamos a
praia de terno e nem a uma reunião de trabalho apenas de sunga.
De que adianta a “chaverá” usar véu, roupa sóbria, saia longa, mas uma blusa super apertada e
com um decote super generoso? Está ela sendo uma seguidora do Tzeniut? Entendem o ponto
fundamental na modéstia? Bom senso.
E cuidado sempre com os “super-judeus”, vestidos de preto, que só comem kasher e ainda
criticam os que não são super-judeus como ele. Bom senso sempre!
O que faz o Judeu Moderno se tem que trabalhar em Shabat? A Torah e a Halachah nos dizem
que acima de tudo devemos preservar a vida, e hoje em dia se não trabalharmos podemos
perder o emprego e ai, como manteremos nossa vida e de nossa família? Por mais que a
legislação brasileira nos permita, em respeito a nossa ideologia religiosa, termos nossos dias
“santos” respeitados, não são todas as empresas que consentem na troca de horários ou
compensações. Como fazer? A resposta dada pelo Rabino Andy Fonseca certa vez foi a
seguinte: “Bom senso!”, no horário em que entra o Shabat, dar uma pausa (no momento que
for permitido), abençoar um pedaço de pão e um copo de suco de uva (pois não vamos poder
levar um cálice de vinho para o trabalho), mentalizar nosso lar, nosso Criador, quem sabe
imaginar as velas de Shabat em nosso Lar e firmarmos nosso laço com Deus. Intenção e bom
senso.
Seguindo sempre o bom senso, com certeza estaremos no mundo e não fora dela, pois o que
foi que o Criador disse no Sinai que pretendia para o povo hebreu? “Vós sois uma nação de
sacerdotes para as nações”, sendo assim, devemos estar atuando no mundo e jamais vivermos
separados nele. Lembremos que nossos antepassados Sefaradim eram cidadãos do mundo na
Espanha do século 14, mas nunca deixando de ser judeus.
Curso Judaísmo Básico
Aula 16
Conversão Judaica x Retorno ao judaísmo
Não foi ordem de Deus, mas sim promessa do próprio povo. Mas isto foi prometido, devido ao
fato destas mulheres serem e continuarem a ser idolatras, e passarem a crença da idolatria aos
seus filhos, como fica claro no capítulo anterior, onde os o texto afirma que estes que casaram
com estas mulheres é que abandonaram a fé no Criador, e mesmo assim, por serem judeus,
fizeram Teshuvah e retornaram ao seio do povo, de forma religiosa.
Se a judaicidade fosse passada só pelo ventre, não teria a discussão citada acima por dois
grandes rabinos, que concordam que mesmo a mãe sendo uma “idolatra”, se deixar a idolatria
apenas e aceitar as Mitsvot, seu filho com um judeu, sendo criado na tradição, será judeu de
fato e de direito. Rabi Yossef (Yabia Omer 1, Yoreh Deah 19), citando o Shulchan Aruch, que
por sua vez cita Rambam e Rif, e explora a questão, averiguando que no tempo Talmúdico
existiam várias diferenças com o tempo presente (no momento em que ele escreve), e muito
mais no tempo atual (agora). O exemplo que Rabi Yossef toma por base é que no tempo
talmúdico, a água usada em mikvê, por ser recolhida pela chuva ou através de canais vindos de
rios, a água não era tão límpida quanto a de hoje, o que permitia na época talmúdica que um
Bet Din estivesse presente na conversão de uma mulher, o que hoje em dia impossibilita,
devido a transparência da água, permitir que se veja a nudez da mulher.
Agora que comprovado esta que a judaicidade é tanto por pai quanto por mãe judia ou por
conversão (aceitação de Mitsvot, Brit Milá [homens] e Tevilá), os filhos são sempre judeus,
considerados naturais. Mas o fato que complica o entendimento de conversos é que na Torah
encontramos várias palavras traduzidas por “estrangeiro”, ou seja, para se referir ao não-
judeu.
A Torah fala, por exemplo, em Guer (peregrino) e o Nokheri ou Nekar (estrangeiro), mas na
própria questão do Guer, existem dois tipos diferentes, que são: o Guer Toshav (o peregrino,
que mora junto aos Israelitas, mas que não deseja se unir ao povo, pois sua estadia era
temporária), e o Guer Sedeq (o peregrino justo, aquele que pretende se unir ao povo, que
manifesta o desejo de se tornar um natural). Já o Nokheri, que literalmente significa “cortado”
do povo de Israel, ou seja, um estrangeiro de fato, um não-judeu, que apenas passavam por
Israel, mas geralmente nem pernoitavam. Vejamos que não foi usado o termo Goi, que hoje se
utiliza para designar um não-judeu, mas que na verdade significa aquela pessoa de uma das
setenta nações do mundo. Sendo assim, nem todo o Goi é igual.
Quando falamos em “prosélito”, na aquele que deseja se converter, não podemos nos
esquecer da Mitsvah positiva que manda que amemos o converso, mais do que o natural.
Então, o correto para prosélito, seria o termo Guer Sedeq, alguém que não nasceu judeu, mas
que se torna judeu, abdicando suas crenças anteriores para absorver nossas crenças. E como
se dá esta inclusão? Através de pontos fundamentais, como a aceitação das Mitsvot do Eterno,
a Circuncisão para os homens, e posteriormente se impôs a imersão ritualística (Tevilá) como
símbolo de purificação de uma vida de idolatria. Estes são os únicos três pontos fundamentais
que se deve exigir de uma pessoa que se converte, mas mesmo assim, requerem
entendimento para a sua aplicação.
Sendo homem, deve ter a circuncisão para confirmar o pacto com o Eterno, e isso é
indiscutível em qualquer linha que seja realmente judaica, independente se for ultra-ortodoxa
ou moderna, conservadora ou liberal, a circuncisão é inquestionável. O próximo fundamento é
aceitação de Mitsvot, ou seja, se deve ensinar aos Guer Sedeq o mínimo e fundamental da Lei,
para que ele saiba que é isso que deseja. A halachah fala somente em aceitar as Mitsvot, não
fala que ele, o Guer Sedeq, deve saber tudo de cor e salteado, mas sim que deve saber o
mínimo para tal aceitação, pois se souber tudo, pode ficar constrangido e desistir. E tanto a
circuncisão quanto a aceitação de Mitsvot devem ser conferidas pessoalmente por um Bet
Din? A ortodoxia diz que sim, mas a Halachah diz que é recomendável, mas não indispensável.
Vejamos o resumo de uma discussão Talmúdica sobre o fato: Rabi Hiya bar Aba diz que para
estes processos devem estar presentes três, mas não diz que devem ser rabinos, ou um Bet
Din, mas apenas três. Já no Talmud em Yevamoth 47b, fala-se apenas em dois. Em outras
partes do Talmud não fala em números, mas apenas que deva ter testemunha, e ai coloca-se
como uma nota de explicação a discussão proposta por Rabi Hiya, como um apêndice, uma
referencia, mas não como uma obrigação. Podemos dizer que em toda a seção Yevamoth,
encontramos estes pormenores, que salientam que Tanto a Brit Milá quanto a aceitação de
Mitsvot devem ser acompanhadas por testemunhas, mas a aceitação deve ser pelo Bet Din,
mas não necessariamente de forma presencial. Poderíamos entender que escrevendo uma
declaração e enviando ao Bet Din, o converso firma sua palavra a estes de que aceita as
Mitsvot. Primeiro problema resolvido onde não se tem um Bet Din presencial.
A solução para a Brit Milá é ser feita por um Mohel, mas caso de já ter feito antes de se
converter? Ou se na região não existir um Mohel? O Shulchan Hamelech, que é a compilação
do Shulchan Aruch, mas somente com leis referentes para as comunidades Sefaradim, que fala
que em ultimo caso, na impossibilidade de se conseguir um Mohel, ou um cirurgião judeu,
pode ser feito por um cirurgião não-judeu. O que entende-se que uma vez retirado o prepúcio,
ao aceitar as Mitsvot, sua Brit Milá estaria automaticamente validada, mas pode ser que por
convenção rabínica necessite da retirada de uma ou três gotas de sangue do local onde se
encontrava o prepúcio.
Resolvido dois dos três fatores necessários para a conversão, ou seja, a aceitação das Mitsvot,
tanto direta quanto indiretamente ao Bet Din, a circuncisão por Mohel ou por Médico,
assistido por Judeus, ou sem assistência tendo que ser validada diante de um Rabino,
passaremos a descrever o último passo que seria a Tevilá, a imersão ritual em um Mikvê.
Lembrando que se for mulher, apenas a aceitação e a tevilá (que veremos a seguir), pois esta
não possui prepúcio a ser retirado.
A Tevilá é realizada em Mikvê natural (rio, lago ou até mesmo mar) ou artificial (espécie de
piscina construída para este fim, e cheia de água da chuva). O converso após aceitar as
Mitsvot, entra na Mikvê até o pescoço e deve então mergulhar na água, mas no próprio
Talmud não se tem uma regra se a tevilá deve ou não ser feita na presença de testemunhas, e
ainda mais na presença de um Bet Din. Nas discussões citadas anteriormente, os Rabinos
envolvidos são categóricos e por mais que afirmem que deve ser diante de um Bet Din, deixam
aberta para outras possibilidades, tudo para não criar empecilho ao converso.
De acordo com o livro Sefer halakhot Gedolot , Leis de Circuncisão, p. 152, se o Guer Sedeq,
converso (homem ou mulher), se ao aceitar as Mitsvot em seu coração (e o homem for
circuncidado), e se tiver a prática de realizar imersão para a pureza familiar, é considerado
como tendo aceito Mitsvot e esta imersão válida como Tevilá com fins de conversão. Se esta
imersão torna-se válida, logo não é exigida a presença de um Bet Din para acompanhar a
Tevilá, ainda mais no caso de uma mulher.
Como já dissemos neste estudo, antigamente, como as águas recolhidas eram turvas, um Bet
Din poderia e até deveria acompanhar uma Tevila feminina, mas como hoje em dia tudo é
mais higiênico, e as águas em uma Mikvê artificial são transparentes, é teoricamente proibido
a presença de um Bet Din, para que não vejam a nudez feminina. Por respeito, a mulher pode
fazê-la só, ou na presença de uma testemunha mulher. Por mais que em Israel tenha-se o
costume atual de as mulheres realizarem Tevilá com roupões (o que iria contra, pois o
recomendável é estar nu), seria mais Halachico a imersão só ou com apenas uma testemunha
feminina.
Mas temos ainda outras opções de tevilá que validam a conversão. Pois como a Torah manda
que sempre se preserve a vida, e se for arriscado fazer a imersão durante o dia, pode-se fazer
a noite, e daí, por ser de noite se dispensa o Bet Din. A imersão a noite se considera ainda em
caso de estrema urgência, e que não se pode esperar pela chegada do Bet Din. Imaginemos
um converso, que após anos de estudo, Brit Milá, aceitação de Mitsvot, esta prestes a morrer,
não teria ele o direito de morrer como Judeu? Devido a sua dedicação?
Mas imaginemos que todo este processo se dá em um lugar onde não existe rio, lago, mar,
nem chove, onde exista apenas poços de água natural ou pequenas nascentes, como se daria a
Tevilá? Bom, o Rabi Nachmam de breslev fala-nos da realização de “lavagem do corpo”, onde
se derramaria sobre a pessoa, de uma vez, da cabeça para o resto do corpo, o equivalente a
12,5 litros de água, de fonte natural. Mas este procedimento deve ser apenas a ultima forma
de se realizar a tevilá, pois Tevilá é Imersão, e devemos imergir em água, a fim de renascermos
espiritualmente. E mesmo feito esta lavagem, assim que possível deve ser feita a Tevilá de
forma adequada.
Analisando os três pontos para a conversão de acordo com Torah, Talmud, e fontes Rabínicas,
iremos analisar o procedimento do United Beth Din para averiguar se o mesmo é condizente e
halachico.
Como podemos analisar, o processo proposto pelo United Beth Din segue rigorosamente o que
pede a halachah, indo além do mínimo exigido e requerendo o que está na Lei, não aceitando
ajustes, mas apenas aplicando as discussões possíveis pela Halachah, como demonstrado no
presente estudo.
Sendo assim, esperamos que as duvidas sobre conversão de acordo com a halachah tenham
sido solucionadas, a fim de ficar claro para qualquer pessoa que deseje conhecer uma das
varias linhas judaicas, as que realmente são judaicas, pois todo o judaísmo verdadeiro deve
seguir o que se encontra na Halachah e principalmente na Torah. Em outras palavras,
toda a linha dita judaica, mas que dispensa um destes três itens (Brit Milá, Tevilá, Aceitação de
Mitsvá), ou que cria empecilhos ao converso não deve ser reconhecida como uma linha judaica
autentica, pois na própria Torah está escrito que a Torah é para toda a humanidade, e o
próprio Rambam descreve em seu Sefer Hamitsvot que não se deve afastar os Guerim que
desejam se juntar ao povo; coloca ainda como uma Mitsvá positiva o “Amar ao Converso”,
entre varias outras instruções sobre o ato de facilitar e não o de afastar.
Curso Judaísmo Básico
Aula 17
A formação de Rabinos
Nos estudos anteriores analisamos as situações para uma conversão, definidas pela Halachah e
pela Torah. Podemos identificar que o Judaísmo, como experiência religiosa, respeita acima de
tudo os Direitos Humanos Universais, e no tocante a situação do Brasil, esta em conformidade
com o que diz o artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Sendo assim, analisaremos neste
estudo o essencial e obrigatório para a formação de um Rabino, desde sua evolução histórica,
chegando a atualidade e a responsabilidade deste diante dos processos de conversão em
pleno século XXI.
O que é um Rabino? O uso da palavra Rabino, proveniente de Rabi ou Ribi (meu mestre), tem o
significado de Nosso Mestre, Nosso Professor (Rabeinu), e só se popularizou a partir do século
II da era comum, e até este momento, nossos sábios e profetas não recebiam um título de
honra. Com o passar do tempo o significado do título e seus requisitos evoluíram de forma
natural (como o judaísmo como um todo). Erroneamente acredita-se que um Rabino seja um
sacerdote dentro do judaísmo, mas isto é um grande erro. Os sacerdotes (Cohanim) eram
exclusivamente da tribo de Levi e descendentes diretos de Aharon, e seriam os únicos
oficiantes do Tabernáculo e depois do Templo em Jerusalém. Uma vez que não mais
possuímos nem o Tabernáculo e nem o Templo, a instituição sacerdotal deixa de existir. Mas
então, o que é um Rabino?
Vejamos que o título de Rabino está mencionado como sendo a continuação de duas
instituições judaicas antigas: Anciãos (Zeqanim) e Juízes (Shofetim). Os Anciãos eram
naturalmente os lideres tribais familiares, que é a primeira instituição histórica de poder, e
ainda hoje mantida por sociedades tribais (indígenas, aborígenes, africanas, etc), enquanto
que os Juízes eram escolhidos primeiramente entre os Anciãos mais instruídos na Torah, e que
se tornaram os primeiros auxiliares de Moshe no tocante a aplicação das leis. Sendo assim,
podemos afirmar categoricamente que os Rabinos atuais são a evolução natural dos Juízes
bíblicos, e com isso, analisando o Tanakh, no que diz respeito ao livro que conta a história dos
primeiros Juízes que comandaram (após Josué) a conquista da Terra Santa, podemos confirmar
a presença de Matriarcas servindo como Juízas, o que nos dá uma base legal e histórica para a
instituição de Rabinas, visto que o título não é sacerdotal e sim de legalidade.
Os primeiros Juízes foram escolhidos por Moshe, que após lhes impor as mãos, passam a servir
o povo na condição de árbitros e interpretes da Lei, passando esta função aos seus sucessores
através da repetição do mesmo ato, ou seja, a imposição de mãos (Semichá).
As Origens da Semichá. Embora o próprio título é um desenvolvimento mais recente, a
ordenação de líderes espirituais (e não sacerdotais) começou na aurora da história judaica. A
forma original de ordenação foi transmitida de Mestre para Discípulo em uma cadeia
ininterrupta atingindo todo o caminho de volta para Moisés. Semichá Clássica assegurava que
o estudante era o próximo elo na tradição começada no Sinai e autorizava-o a julgar casos que
envolveriam algum tipo de punição punitiva, ou interpretação da Lei.
O primeiro a ser assim ordenado era Josué. Moisés colocou as mãos sobre ele, como diz o
versículo: "E ele colocou as mãos sobre ele e ordenou-lhe, de acordo com o que o Eterno tinha
falado". Da mesma forma, vemos que Moisés ordenou os 70 juízes, embora sem qualquer
menção de "imposição das mãos". A imposição física de mãos não foi continuada nas gerações
posteriores, e a Semichá passou a ser transmitida simplesmente pelo ato de tratar a pessoa
como "rabino" e dizendo-lhe: "Você está ordenado e você tem o poder de tornar o
julgamento, mesmo em casos envolvendo penalidades financeiras". Josué e os 70 anciãos
ordenaram outros, e eles por sua vez ordenaram a outros, dando aos seus discípulos a
Semichá. Esta tradição continuou até a era talmúdica, quando os sábios eram capazes de
traçar uma linha direta por todo o caminho de volta para os tribunais de Josué e Moisés.
Referencias:
O Talmud, Avoda Zarah 5a e Ben Yehoyada em Bava Metzia 85b-86a.
Talmud Bava Metzia 85b-86ª
Carta pelo rabino Sherira Gaon citado pelo rabino Nathan bar Yechiel em Sefer Haruch, sv Abaye.
Talmud Sanhedrin 13b.
Números 27:23.
Números 11:16 , 25.
Maimonides, Hilchot Sinédrio 04:02.
Maimonides, ibid 04:01.
Talmud Sanhedrin 13b-14a;
Maimonides, Hilchot Sinédrio 04:05.
Rabino Shmuel Tuvia Shtern em Sefer Chukas
Maimonides Hil. Sinédrio 4:6;
Talmud ibid.
Talmud Sanhedrin 5a-b.
Maimonides ibid 4:8,
Talmud Sanhedrin 5a.
Talmud ibid 5b.
Talmud de Jerusalém Sinédrio 10:02.
Talmud de Jerusalém Sinédrio 01:02.
Carta pelo rabino Sherira Gaon ibid.
O Tosefta para Ediyot 03:04 dá uma explicações alternativas dos títulos "Aquele que tem discípulos e cujos
discípulos voltar a ter discípulos é chamado de 'rabi'; Quando os discípulos são esquecidos [isto é, se ele é tão
antigo que até mesmo seus discípulos imediatos pertencem à época passada] que ele é chamado de "Rabban ';
e quando os discípulos de seus discípulos também são esquecidas, ele é chamado simplesmente pelo seu
próprio nome. "
Pirke Avot 01:16
Ibid 01:18.
Ibid 02:08.
Ver carta pelo rabino Sherira Gaon citado pelo rabino Nathan bar Yechiel em Sefer Haruch, sv Abaye;
Pirke Avot 2:09.
Talmud Sanhedrin 14a.
Rabino Moshe Ben Nachman, Nachmonidies, em Sefer HaZechus Talmud Gitin 18a do Rif e seu comentário ao
Talmud ibid 36a; Sefer Haterumah Shaar 45; Rabeinu Nissim 20a de Rif para Talmud Gittin.
Veja Responsa impresso no Kovets Shaarei Tsedek p. 29-30.
Veja Sefer ha-Sheṭarot p 132.
Talmud Makot 23a.
Maimonides leis do Sinédrio 4:11; comentário à Mishná, Sinédrio 01:03.
Veja 'Kunteres hasemichah »impressa em Responsa pelo Rabino Levi ibn Chaviv, Kunteres 1 -. 3 e Igeres
Hasemicha pelo rabino Yaakov Beirav impresso no Kunteres hasemichah'
Veja Eretz Chaim pelo rabino Yosef Chaim S'thon, Choshen Mishpat 1
Birkei Yosef, Choshen Mishpat 01:07.
Ramban, Ashe 153 (como é entendido pelo Rabino Levi ibn Chaviv em Kunteres Hasemicha), Rabi Sholomo
ben Aderes - Rashba no Talmud Bava Kama 36b, o rabino Yom Tov ibn Asevilli - Ritva e Nemukei Yosef no
Talmud Yevomos 122b. Veja também comentário do Rabino Dovid ibn Zimra-Radbaz a Mishná Torá, Hilchot
Sinédrio 04:11 onde ele escreve que a razão desta nova ordenação deixou foi por causa da oposição do Rabino
Levi ibn Chaviv.
Maimonidies, Hilchot Talmud Torah 5:2-3; Shulchan Aruch, Yoreah Deiah 242:4.
Responsa pelo rabino Moshe Isserlis 24 eo rabino Moshe Sofer (Chasam Sofer) Mesmo Haozer vol. 2
Responsa pelo Rabino Yitzchak bar Sheshet, Rivash, 271; brilho do rabino Moshe Isserlis para Shulcan Aruch,
Yoreh Deiah 242:14; Arukh HaShulchan Yoreh Deiah 242:29.
Veja também Responsa pelo rabino Meshulam Rothe, Kol Mevaser, 1: 12, em que ele observa a aparente
contradição entre os dois pontos de vista expressos pelo rabino Moshe Isserlis (ver notas 26-27) e explica que a
visão de Rabi Isserlis 'que se encontra em o brilho do Shulchan Aruch é a sua palavra final sobre o assunto.
Arukh HaShulchan Yoreh Deiah 242:29.
Talmud Sanhedrin 5a.
Veja Shaar Halachá Uminhag vol. 4 p 104-5; sefer Haminhagim p. 75.
Curso Judaísmo Básico
Aula 18
O que é Kashrut
Kashrut é o corpo da lei judaica que trata de quais alimentos podem ou não podem sem
ingeridos e como estes alimentos devem ser preparados e consumidos. "Kashrut" vem da raiz
hebraica Kaf-Shin-Resh, ou seja, em forma, bom ou correto. É a mesma raiz que a palavra
"kasher", que significa “Apropriado”. A palavra "kasher" (e não kosher como dizem os
ashkenazim) também pode ser usada, e muitas vezes é usada para descrever objetos rituais
que são feitas de acordo com a lei judaica e próprios para uso ritual.
O alimento que não estiver de acordo com a Kashrut é chamado Terefá, ou seja, dilacerado,
rasgado (em referencia a proibição bíblica de não se comer carne de animal dilacerado) ou
apenas “inapropriado”. Os alimentos inapropriados estão descritos na Torah da seguinte
forma: Inapropriados todos os animais que não possuem casco fendido e que ruminam, ou
seja, apenas podemos comer mamíferos ruminantes e que tenham o casco fendido. O camelo
é ruminante, mas seu casco não é fendido, logo não é kasher. Repteis, roedores, anfíbios e
insetos são todos proibidos (com exceção do grilo e do gafanhoto). Dos animais marinhos (e
isso inclui água doce também) apenas são permitidos os que tiverem escamas e barbatanas, o
que exclui definitivamente moluscos, todos os frutos do mar e peixes de couro, bem como os
mamíferos marinhos, os tubarões e arraias (são peixes, mas não tem escamas).
Quanto as aves, os critérios da Torah são menos claros, mas o que se tem certeza pelos
exemplos é que são proibidas todas as aves de rapina, ou seja, só se permite aves que sejam
herbívoras, como galináceos em geral. Ovos, leite, carne, lá e pelo destes animais também são
proibidos.
Relativo a alimentação, podemos diferenciar os alimentos kasher da seguinte forma:
Carne: de animais considerados kasher e que foram abatidos de acordo com a lei judaica. Um
corte certeiro e profundo do lado da garganta para que o animal não sinta dor (ou o mínimo
possível), com uma faca utilizada apenas para este fim, bem afiada, sem ranhuras ou quebras.
Drenagem de todo o sangue e posterior averiguação se o animal estava bem de saúde (interna
e externa). Retirada a gordura (que envolve os órgãos como o fígado e órgãos vitais), o nervo
ciático; lavagem e salgamento da carne para que nada de sangue permaneça (o fígado ainda é
grelhado separado para exterminar qualquer partícula sanguínea);
Aves devem ter as seguintes partes retiradas: penas, cabeça e pescoço, veias, pontas das
assas, o pé, órgãos internos. Fígado, rins, moela e coração devem ser inspecionados (o fígado
grelhado a parte). Depois acontece a lavagem e o salgamento;
Alimentos Parve
Parve é um conceito que significa “neutro” e que não são considerados nem carne e nem leite,
como por exemplo: peixes, ovos, frutas, hortaliças, grãos, cereais e sucos naturais. Ovos ainda
devem passar por uma outra observação que é a de não conterem vestígio de sangue. Como
se faz isso? Se cozinha vários ovos juntos, sempre em numero impar e ao se descascar se
verifica se não possui mancha escura (vestígio de sangue). O ovo que tem este vestígio é
descartado e os outros podem ser consumidos.
Não se deve misturar carne e leite na mesma refeição. Se ingeriu leite primeiro, deve-se lavar
bem a boca e as mãos, recitar a benção final da refeição e esperar entre meia hora a uma hora
para ingerir carne. Se ingeriu carne primeiro, lava-se a boca, comer pão e beber liquido
(esperar entre 4 a 6 horas, de acordo com o costume).
Os peixes, sendo kasher, devem ser pescados ou adquiridos inteiros, e em casa se faz a limpeza
do mesmo. Caso não se possa comprar inteiro, verificar na peixaria ou açougue se o peixe é
fresco e saudável. Se for comprar em postas ou filés devem ser comprados de um lugar de
confiança, com certificação (da anvisa mesmo, por questão de higiene). O mesmo para
alimentos embalados. Peixes podem ser comidos com carnes ou com leite, pois são
considerados parve.
Vegetais em geral devem passar por verificação afim de retirar toda e qualquer presença de
inseto.
Vinho kasher
Uma grande polêmica esta no vinho, que para ser kasher, não precisa passar por uma série de
situações que os ultra ortodoxos impõem.
O vinho, sendo feito, ou melhor, se em seu processo não tiver contato com mãos humanas, é
considerado kasher, independente de ter ou não um selo kasher. Sendo assim, uma boa
vinícola, que tenha reconhecimento internacional é apropriado para realizar kidush. Já um
vinho caseiro (ou colonial como se diz no sul do país) deve seguir as regras descritas para a
uva.
Lembre-se, não existe proibição de vinho na Torah e nem no Talmud, apenas a instrução de
não se consumir o vinho que era destinado para cultos idolatras. No período dos gregos e
romanos, estes dedicavam o vinhedo aos deuses, fazendo sacrifícios de sangue junto com o
vinho, vindo a usar o vinho fabricado assim para suas orgias (o que não se utiliza em nenhum
vinhedo da atualidade).
A denominação de vinho kasher é rabínica, e sendo assim, pela halachah, toda vez que um
rabino (ou rabinos) cria uma proibição (que não consta na Torah, e que não vá de encontro a
mesma), deve criar também permissões ou exceções a proibição, pois os rabinatos devem ter
limites, pois apenas a Torah é ilimitada.
Para o shulchan aruch, basta ver os ingredientes e saber se é kasher, sem mesmo a presença
de um rabino. Hoje em dia, como todo o vinho é pasteurizado, acaba tornando-se kasher.
Limitação rabínica
De acordo com esta regra, da limitação rabínica em relação a criação de regras além da Torah,
fica claro que os rabinos quando criam uma proibição devem criar as exceções. Exemplo: os
rabinos podem proibir o consumo de carne com leite (pois o mesmo não é claro na Torah),
mas devem permitir o consumo de seus derivados, uns com os outros, como por exemplo,
permitirem o consumo de um bife com queijo ou com pão que leve leite (mesmo que ultra
ortodoxos discordem), comer um strogonoff seria permitido, pois o creme de leite é derivado
do leite, e não o leite em si. É por isso que podemos comer mel (apesar de que o mel não é
considerado derivado da abelha, mas sim excreção. O mesmo vale para o famoso corante
carmim de cochonilha).
Em outras palavras, diz-se que os “rabinos só podem proibir a 1ª geração, e não a 2ª geração”,
ou seja, se proíbe a substância e não seus derivados (livres da questão de contaminação 1/60),
em todos os aspectos, inclusive com convertidos.
Curso Judaísmo Básico
Aula 20
As três rezas diárias
Amidá
Basicamente, este é o principio chamado de Tefilá (oração) que deve ser cumprida três vezes
ao dia.
Curso Judaísmo Básico
Aula 21
Bênçãos
O ato de abençoar
O ato de abençoar os alimentos é um preceito positivo, mas não um preceito obrigatório pela
Torá, mas na verdade foi instituído pelos sábios. Os sábios nos ordenaram a bendizer antes de
todo o alimento e após estarmos fartos, saciados com ele.
O Mishnê Torá, em seu livro de bênçãos, capitulo 1 item 3 diz: “Assim como se bendiz pelo
deleite, também se bendiz por cada um dos preceitos, cumprindo-o em seguida. E, diversas
bênçãos decretaram os Sábios como enaltecimento e agradecimento, ou como petição, para
que o Criador seja sempre lembrado, mesmo que a pessoa não se deleite de nada, ou cumpra
algum preceito”, sendo assim, fica claro que todo o ato é precedido por uma benção de
agradecimento ou louvor.
O formato das bênçãos, envolvendo tanto o nome do Criador quanto a sua lembrança, foram
instituídas pelo Bet Din de Ezra, por isso não é apropriado modificá-las como fazem alguns
movimentos judaicos. Os sábios ainda falam que podemos abençoar em qualquer língua,
desde que usando a benção apropriada para cada ação. Deve ser dita em tom de voz que pelo
menos possamos ouvir, e não apenas com os lábios como a Amidá.
Quando começa a recitar a benção, não pode interrompê-la até ter proferido por completo.
Casamento
O casamento é o esteio fundamental dentro da cultura judaica, devido ao fato de a
religiosidade judaica ser transmitida no seio da família. Um ponto muito interessante, antes de
começarmos o assunto propriamente dito “casamento” é a argumentação encontrada no
Shulchan Hamelech sobre família. Segundo a obra, toda a família é considerada “kasher” até
que se prove o contrário, e é preferível se apartar de famílias ou pessoas que suspeitam de sua
própria linhagem, ou seja, se alguém levanta falso testemunho ou desconfiança de suspeita da
kesherut de sua família, se deve afastar esta pessoa que esta desconfiando, pois segundo a
própria continuação da argumentação do Shulchan Hamelech, todo aquele que levanta
suspeitas sobre alguém ou alguma família é porque este mesmo não tem uma família kasher e
por isso tenta denegrir o próximo. Também não se devem casar pessoas com uma grande
diferença de idade, por exemplo, um jovem com uma anciã ou um ancião com uma jovem.
Decididas as questões relativas a família e as relações proibidas, parte-se então para a
cerimonia de casamento, onde irá se oficializar a relação. As diferenças entre um casamento
judaico e um casamento cristão são várias: a ketubá é um documento, um contrato de
casamento e não uma certidão; tradicionalmente apenas a noiva usa uma aliança no dedo
indicador, ao contrário de ambos usarem no dedo anelar como na tradição cristã. A
semelhança é que a noiva também é o centro da cerimônia. Existem bênçãos após a chegada
da noiva; os noivos compartilham uma taça de vinho; é feita a leitura da ketubá, assinatura e
colocação da aliança; etc.
Existe o costume de os noivos não se verem durante a semana que antecede o casamento e de
jejuarem no dia que antecede a cerimônia. O casamento deve ser norteado pela “Shalom
bait”, ou seja, harmonia no lar. O esposo tem muitos deveres para com a esposa, entre eles o
de faze-la feliz em todas as situações da vida, amparando-a e respeitando-a.
Caso o casamento venha a acabar, requer-se que se redija um documento chamado get, ou
seja, um documento de divorcio, onde se oficializa o término na relação e liberando os noivos
para que possam iniciar uma nova relação. Em que casos se pode divorciar-se logo no primeiro
casamento? Quando a esposa comete atos de heresia ou de má comportamento, que causem
danos ao nome da família, seja adultera, imoral, etc. Já a esposa pode pedir divórcio nos
mesmos casos, e também se sofre agressões (o que pela lei, além de divórcio, o marido deve
ser castigado publicamente e expulso da comunidade), se o marido for estéril e esta desejar
filhos, etc.
Berit Milá
O Berit Milá é o sinal que todo o homem judeu deve possuir, e que se realiza aos oito dias de
vida do menino que nasce judeu, ou quando o adulto se converte ao judaísmo.
Simbolicamente é nossa assinatura no contrato de “parceria” que realizamos com o Criador. A
pele (prepúcio) que recobre a glande (cabeça do pênis) deve ser retirada. Atualmente a OMS
recomenda a circuncisão como forma preventiva para várias doenças masculinas e
sexualmente transmissíveis.
Quando o caso é de conversão, e o homem já esta circuncidado (devido a cirurgia de
postectomia) alguns rabinos podem exigir que se retire uma ou três gotas de sangue do local
da circuncisão. Isto é correto? De acordo com a Torah não exatamente, pois se analisarmos
que se exige a circuncisão ao oitavo dia do homem nascido judeu, e se o judeu por conversão
antes de se converter já a tinha, e se o derramamento de sangue é proibido pela Torah, logo se
entende que a circuncisão já esta feita, bastando apenas se desejar verificar se a mesma
existe, pois o que conferirá o ato final da conversão é a imersão, tevilá. Analisando ainda que a
Torah sempre nos recomenda que mantenhamos vida e a saúde, e que um procedimento
destes requer cuidado em adultos pela questão do sangramento, recomenda-se que a mesma
seja realizado por cirurgião, com a presença de uma testemunha que confirme que a Berit Milá
foi realizada. O próprio Shulchan Hamelech afirma que na falta de um mohel, a circuncisão
realizada por um não-judeu ou por uma mulher é válida, pois cumpriu-se o preceito.
Bar/Bat Mitsvá
A cerimonia de Bar ou Bat Mitsvá, ou seja, Filho ou Filha do mandamento acontece quando
o(a) jovem atinge sua maturidade religiosa, ou seja, aos doze anos mais um dia para a menina
e aos treze anos mais um dia para o menino. Neste dia tornam-se bnei mitsvá, filhos do
mandamento. O homem então é chamado pela primeira vez a realizar a leitura da Torah e
começa a ser contado para miniam. Para judeus reformistas, a menina realiza seu Bat Mitzvá
aos treze anos e com uma cerimonia idêntica ao do menino.
Algumas comunidades ortodoxas e ortodoxas modernas já aceitam miniam igualitário,
aceitando a leitura pública da Torah por mulheres, o que permite que o Bat Mitsvá seja
idêntico (tirando a questão da idade) entre homens e mulheres. Outras comunidades
recomendam então que a mulher faça a leitura de um texto do Tanakh em uma cerimonia, a
fim de demarcar a passagem da data, ou então que realize uma pesquisa e a exponha em uma
palestra/aula para a comunidade.
Devemos lembrar que esta cerimonia é algo moderno, que não consta nos períodos bíblicos e
nem talmúdicos. Por mais que a Mishná faça referência ao Bar Mitsvá, nunca descreve a
cerimônia como conhecemos hoje, o que implica que a mesma possa ser realizada de acordo
com o costume da comunidade.
Curso Judaísmo Básico
Aula 23
Morte, Enterro, Luto e Cherem
Na aula de hoje abordaremos uma temática muito complexa dentro do judaísmo: Morte.
Vamos analisar por partes, para tentarmos chegar a um entendimento mais amplo a respeito
da Morte e de tudo que está envolvido no assunto. Passaremos dos pontos mais materiais e
práticos da ritualística e até chegarmos aos campos mais espirituais do assunto.
1 – A Morte é a cessação da vida física, e o começo de outra jornada para a Alma. Por isso é
necessário se ter um grande respeito pela pessoa que acaba de falecer, e por isso lidar com o
seu corpo, que foi seu veículo físico com todo o amor e carinho, limpando e prestando os
últimos cuidados;
4 – Do momento da morte até o enterro não se pode deixar o “morto” sem alguém. É
necessário que fiquemos guardando o corpo até o momento de ser colocado em sua
sepultura. Recita-se “salmos” para o morto neste momento. Não se deve conversar, comer, rir,
usar tefilin ou tsitsit, cumprimentar alguém diante do morto. Sempre deve ter um Shomer
(guardião) com o morto.
5 – Não se deve oferecer condolências aos parentes, pois os mesmos podem e devem
extravasar toda sua tristeza e dor. As pessoas devem recitar Salmos (o costume é falar
principalmente os Salmos 33, 16, 17, 72, 91, 104, 130 e estrofes alfabéticas do 119 que
compõe o nome judaico do falecido) em intenção à alma do falecido, mencionar as virtudes e
as boas obras dele e manter no ambiente um clima de circunspecção e sobriedade. Não se
oferta flores, coroa de flores (tão comum na sociedade ocidental). Apenas a sua presença é o
suficiente neste momento de dor.
6 – A condução do “morto” até sua sepultura é um dever tão sagrado que podemos
interromper até mesmo o estudo da Torah para fazê-lo.
7 – De preferencia, não expor o corpo morto em caixão aberto. Logo após confirmado o óbito
o mesmo deve ser preparado e envolto em “mortalha”.
8 – Todos os ritos funerários podem e devem ser feitos pelos convertidos (por mais que
religiosamente estejam afastados de seus pais não-judeus), pois acima de tudo “Honrar Pai e
Mãe”.
9 – O Costume Judaico é que a pessoa seja enterrada em terra pura. Caso não seja possível
(devido a ter parentes não judeus que não aceitem o costume), enterra-se em caixão, mas
toma-se o cuidado de fazer furos no mesmo (caixão) na parte inferior.
10 – A Sociedade Judaica deve adquirir com dinheiro próprio o local onde será feito o
cemitério.
11 – Rezas devem ser feitas ao cobrir o corpo (ou o caixão) com terra.
12 – Deve-se lavar as mãos, e lavar a roupa com que foi ao cemitério logo após sair dele.
13 – Se presta condolência em casa para os parentes nos sete primeiros dias do luto. Isso é
uma Mitsvá, a de prestar condolência aos que perderam entes queridos da mesma forma que
o Criador nos consola quando estamos abatidos e em sofrimento. O ser humano deve buscar
agir conforme o Criador.
16 – O Luto deve ser guardado dependendo da idade do falecido: 11 meses para maiores de 60
anos, para os mais jovens e que não viram seus filhos casar deve ser de 9 meses, e para os
jovens que não casaram de 7 meses.
Cherem
A pessoa que sofre um cherem, ou seja, um afastamento, seja ele temporário ou permanente,
é como se a família o tivesse perdido. Os parentes guardam luto, pois o judeu que recebeu
este decreto é como se morresse religiosamente. Os parentes se afastam do mesmo.
Para ser aplicado este decreto, o judeu deve ter cometido algum crime contra a Torah ou
contra a comunidade ou ao povo Judeu. Este decreto pode ser revogado se o que recebeu o
decreto realizar teshuvah de coração.
Muitas pessoas receberam o decreto de Cherem no passado, como por exemplo, o filósofo
sefaraditas, filho de portugueses anussim e nascido na Holanda Bento (Baruch) Espinosa. O
próprio movimento Chabad inteiro recebeu cherem do Gaon de Vilna, o que por si só já os
desqualificaria como sendo judeus, devido aos atos idolatras que já naquela época realizavam,
como ritual de kaparot e rezas como “kol nidre”, tão comum entre alguns sefaradim, mas que
não fazem parte de nosso costume. Ainda na atualidade este decreto ainda pesa sobre a
comunidade chabad, por mais que muitos tenham esquecido dos decretos dos sábios. Talvez
por isso que o chabad insiste tanto em “ashkenaziar” todos os judeus do mundo, fazendo estes
esquecerem do que realmente é o judaísmo, esquecer de nossos sábios e esquecer nossos
costumes (no caso dos sefaradim).
Basta analisar o que diz Rambam sobre os pecadores que devem ser levados a “Morte”
(receber Cherem é também uma forma de castigo mortal, se não físico, espiritual).
Ao se arrepender, deve realizar teshuvah, se arrepender, pedir perdão ao Criador e retornar a
comunidade, se apresentando ao Bet Din para que este revogue seu cherem e ele seja
novamente reintegrado a comunidade judaica. Deve passar por Tevilá, para se purificar de
seus pecados.
E a alma após a morte? Fica a reflexão!
Leis referentes à Tahará A tahará é realizada pela Chevra Kadisha (Sociedade Sagrada, i.e.,
Sociedade Funerária), composta por judeus instruídos na área dos deveres tradicionais, e que
podem mostrar o devido respeito aos falecidos. Além da limpeza física e da preparação do
corpo para o enterro, eles também recitam as preces exigidas pedindo perdão a D'us por
qualquer pecado que o morto possa ter cometido, e rezando para que o Todo Misericordioso o
guarde e lhe conceda a paz eterna. Fazer parte da Chevra Kadisha sempre foi considerada uma
grande honra comunitária concedida apenas àqueles que são realmente piedosos. Não-judeus,
sob nenhuma circunstância, podem realizar estas tarefas sagradas de preparar o corpo, pois o
ritual de tahará de maneira alguma é meramente um ritual higiênico. É um ato religioso
judaico. Em preparação para o enterro, o corpo é completamente limpo e envolto numa
mortalha simples branca de linho comum. Os Sábios decretaram que tanto a roupa como o
caixão devem ser simples, para que um pobre não receba menos honra na morte que uma
pessoa rica. O corpo é envolto num talit com seus tsitsit, franjas, rasgadas para torna-los
inválidos. O corpo não é embalsamado, e os órgãos e fluidos não devem ser removidos. O
corpo não deve ser cremado. Deve ser sepultado na terra. Os caixões não são obrigatórios,
mas se forem usados, devem ter buracos para que o corpo possa entrar em contato com o
solo. [Este texto, dentro dos colchetes, é de autoria da Chevra kadisha: É proibido embalsamar
o corpo, pois o sangue do morto faz parte dele e deve ser enterrado com ele. Quando se faz
necessário transportar o corpo para outra localidade, a Chevra kadisha aplica as técnicas de
conservação de cadáveres permitidas pela tradição judaica e de acordo com a legislação
brasileira. Dentes de ouro, dentadura, lentes de contato e próteses devem ser retirados do
corpo e não serem enterrados com ele. É permitido deixar os enlutados verem o falecido antes
de fechar-se o caixão, mas deve-se persuadi-los a não fazê-lo. Tocá-lo ou beija-lo é proibido.] O
corpo nunca é exibido em funerais; cerimônias com o caixão aberto são proibidas pela Lei
Judaica. É aconselhável que membros da família imediata se ausentem durante a purificação,
pois embora sua presença pudesse constituir um símbolo de respeito, é considerado muito
doloroso para assistirem. O rabino pode agendar essa purificação através da Chevra Kadisha. A
tarahá é a maneira milenar judaica de mostrar respeito pelos mortos. Isso não é meramente
um "antigo costume" ou uma "bela tradição", mas uma exigência absoluta da Lei Judaica.
Vestir o Corpo
A tradição judaica reconhece a democracia da morte. Portanto, exige que todos os judeus
sejam enterrados com o mesmo tipo de roupa. Ricos ou pobres, todos são iguais perante D'us,
e o que determina sua recompensa não é aquilo que vestem, mas aquilo que são. Há 1900
anos, Rabi Gamaliel instituiu essa prática para que os pobres não se envergonhassem e os ricos
não rivalizassem entre si ao exibir roupas dispendiosas ao serem enterrados. As roupas a
serem vestidas devem ser apropriadas para alguém que em breve estará em julgamento
perante D'us Todo Poderoso, o Mestre do Universo e Criador do homem. Portanto, devem ser
simples, feitas à mão, perfeitamente limpas e brancas. Estas mortalhas simbolizam pureza,
simplicidade e dignidade. Mortalhas não têm bolsos. Portanto, não podem levar riquezas
materiais. Nem um pertence do homem, exceto sua alma, tem importância. A Chevra Kadisha
tem um suprimento dessas mortalhas. Se decorrer algum tempo antes de serem obtidas, o
funeral deve ser retardado, pois são consideradas muito importantes. As mortalhas devem ser
feitas de musselina, linho ou algodão. A regra é que não se deve gastar muito mais que o preço
do linho, mas usar um tecido menos dispendioso. O falecido deve ser envolto em seu talit –
não importa se é ou não dispendioso, novo ou velho. Uma das franjas deve ser cortada. Quem
não era observante ou acostumado a colocar talit pode, se desejado, ser enterrado num talit
comprado especificamente para esse fim. A família do falecido deve decidir nesse caso.
O texto abaixo é de autoria do Rabino Shamai Ende, retirado de seu livro “Os Últimos
Momentos”.
1. É costume judaico lavar a cabeça e o corpo do falecido com água morna. Esta lavagem deve
ser feita somente por judeus, e normalmente é feita pelos membros da Chevra Kadisha.
Parentes como pai, irmão, cunhado, sogro, e especialmente os filhos não devem participar
desta lavagem.
2. Esta lavagem deve ser feita a portas fechadas, e ninguém além dos responsáveis pela
mesma não pode estar presente.
3. Esta de preferência deve ser feita o mais próximo do enterro, sendo que não se deve ter
uma interrupção entre a lavagem e o enterrro de mais de 3 horas, salvo se não houver outra
opção.
4. Após a lavagem, joga-se sobre o corpo uma quantia de 9 Kabin (pouco mais de 12 litros) de
água para purificá-lo, se enxuga completamente o corpo, veste-se mortalhas de linho
especialmente preparadas, e no caso de homens, veste-se o Talit por cima das mortalhas (se
for possível, deve se usar o Talit que usava em vida para rezar), envolvendo-o finalmente com
um lençol antes de colocá-lo no caixão.
5. Existem aqueles que costumam, após envolver totalmente o corpo, chamar os filhos para
amarrar o cinto.
6. Como existem muitas leis e costumes relacionados com a lavagem, purificação e vestimenta,
e muitas preces a serem recitadas, como também existem casos especiais em que esta
lavagem não é feita ou feita de forma diferente, sendo que por estes e outros motivos esta
deve ser feita apenas pelos membros da Chevra Kadisha e aqueles que tem conhecimento e
experiência.
Curso Judaísmo Básico
Aula 24
Estudo sobre Mashiah Judaico.
Muito se fala sobre Mashiah, e este é o ponto central da diferenciação entre Cristianismo e
Judaísmo, o ponto que nos separa drasticamente de qualquer linha cristã. Este pequeno
estudo mostra apenas a visão Judaica de Mashiah, o que drasticamente difere da visão Cristã
de Messias. Uma vez entendido o que é o Mashiah judaico, fica claro afirmar que Judaísmo,
por mais plural que seja ainda espera a primeira e única vinda de Mashiah.
Bem, estas são algumas profecias defendidas por cristãos, mas não são as únicas, gostaria de
citar mais três e explicar todas elas em contexto:
1º quando o Mashiah vier haverá guerra, ele vencerá e daí existirá paz no mundo
todo;
Vamos a analise das profecias, mas antes vale lembrar o seguinte: E aqui existe um fato bem
curioso que todo o cristão se esquece quando fala sobre o Mashiah. O Mashiah, para ser
considerado como Mashiah, deve cumprir TODAS as profecias, pois se não cumprir TODAS não
é Mashiah, por isso muitos loucos se intitularam Mashiah e apenas conseguiram poucos
seguidores e não todos os judeus. Vejamos se Jesus ou Yeshua (o nome não importa pois é
sempre o mesmo. Não adianta mudar o nome para um nome estrangeiro, exemplo: cachorro-
quente sempre será o mesmo pão com salsicha, mostarda e ketchup, ou seja, o mesmo que
hot-dog) se enquadra nestas poucas profecias que citamos. Caso se enquadre mostraremos
outras, caso não se enquadre em apenas uma, já deixa de ser o Mashiah, e se não se
enquadrar em nenhuma, bom, daí não precisamos nem explicar ou desenhar.
A - Mashiah nascer em Belém = Miq. 5:2 “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os
milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os
tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Bem, vejamos que o texto não fala em Belém de
Judá que seria a cidade de David, e sim uma outra Belém, de Efrata, que geralmente serve para
designar os pertencentes a tribo de Efraim, filho de José. Tanto é verdade que encontramos
nas escrituras várias “Belém’s”, como a Belém de Zebulom. Vejamos ainda que o termo
“Efraim” as vezes é tido como uma referência aos dispersos da diáspora. Se Jesus nasceu em
Belém de Judá, logo não se encaixa nesta profecia, pois esta Belém é outra, se refere a uma
cidade (ou linhagem, a real) que esta na diáspora, e Jesus nasceu, viveu e morreu um século
antes da diáspora. Tanto é verdade que o Rabino Kook tem uma profecia sobre os dispersos,
que diz assim: “Na luta por se livrar do exílio, Efraim salvará o mundo”. Afirmando que esta
profecia do Mashiah é de alguém que não esta em Israel, mas na diáspora. O profeta ainda
segue falando que esta Belém é pequena entre OS milhares de Judá, ou seja, entre os milhares
de judeus dispersos, pois não existe mais Judá desde a dominação romana, e se fosse
referente a uma cidade seria entre AS milhares de cidades de Judá. O artigo muda muito a
compreensão. Mas se a tradução seguir o que diz a “bíblia de Jerusalém”, teremos que belém-
efrata pequena entre os clãs de Judá, o que novamente não fala em cidade, mas em clãs,
famílias, e a nota de rodapé dos tradutores cristãos é clara, o Mashiah é um Rei Triunfante em
Sião. Jesus foi rei? Profecia não cumprida por Yeshua, pois o mesmo afirma que nasceu em
Belém de Judá a cidade de David, não foi rei e muito menos nasceu no período da diáspora.
B – vinda predita por um mensageiro = Isa. 40:3 “Voz do que clama no deserto: Preparai
o caminho do SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus.” Na verdade a tradução mais
próxima, de acordo com a Bíblia de Jerusalém é esta: “Uma voz clã: No deserto abri um
caminho para YHVH; na estepe aplainai uma vereda para o nosso Deus.”.
Quem é esta voz? Segundo a tradição judaica é o profeta Elias (malaquias 3:23-24), e João
batista afirmou categoricamente várias vezes que ele não era Elias. E se ele mesmo afirmou
não ser o Profeta Elias, que subiu aos céus em vida numa “carruagem” de fogo, quem somos
nós para afirmar isso, ainda mais que João batista nasceu de uma tia de Jesus, ou seja, se Elias
não morreu, como poderia nascer de uma mulher séculos depois? Profecia não cumprida por
Yeshua, pois o mesmo afirmava contra a vontade do primo que este seria Elias (mas como?
Sem morrer, como renasceu?), e em algumas vezes o primo nem sabia quem era Yeshua.
D - Ter sido traído por amigo e discípulo Sl 41:10 “Até o meu próprio amigo íntimo,
em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.” =
Bem, isso não é profecia, e porque? Porque o Rei David não era profeta, e se fosse não
precisaria ter mandado buscar um homem de Deus (profeta) para solucionar seus problemas.
Profecia não cumprida por Yeshua, até porque o texto não é profecia, mas sim um lamento de
David devido a traição de seu amigo Aquitofel, conselheiro de David.
E - Ele seria traído pelo preço de 30 moedas de prata, como consta em Zac.
11:12 “Porque eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não,
deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata.” = Vamos lá averiguar sobre esta
profecia, que na verdade não fala sobre Mashiah, mas apenas que o profeta Zacarias não iria
mais ser profeta de Israel, por isso pede o salário no qual tem a ofensa de receber o mesmo
valor que custava um escravo. A própria tradução da Bíblia de Jerusalém é clara em afirmar
isso. Profecia não cumprida por Yeshua, pois esta também não é uma profecia sobre Mashiah,
e se por acaso se aplica a Yeshua o mesmo é referido como um escravo que foi vendido e não
como o Servo Sofredor citado por Isaias, já que as escrituras são claras em separar servo de
escravo.
F - Ter ficado mudo frente aos seus acusadores Isa. 53:7 “Ele foi oprimido e afligido
(é a Nação judaica), mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro,
e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele (o povo) não abriu a sua
boca.” = Aqui encontramos o profeta falando do famoso “servo sofredor” que muitos
messiânicos falam ser Yeshua, como se referindo ao Mashiah Ben Yossef (mais adiante
falaremos sobre este “Mashiah”). A perspectiva Judaica afirma que este “servo” é a própria
nação de Israel, pois podemos comprovar isso na contextualização da profecia, onde vemos
claramente no começo do capitulo 52, a referencia clara nas seguintes palavras: “desperta,
desperta, reveste a tua força, ó Sião!”, e quando a escritura fala em Sião é sobre a própria
nação hebraica, o que apenas resta afirmar que esta profecia é sobre os males que se
abateram ao povo judeu. Profecia não cumprida por Yeshua, pois o mesmo não é um povo
inteiro, era apenas um homem (se é que existiu).
1º Quando o Mashiah vier, haverá guerra, ele vencerá e daí virá uma paz no
mundo todo. Isa 2:4. Aqui fica minha pergunta, o mundo esta em paz mesmo depois de
tantas e tantas guerras? Lembrando que o próprio Mashiah lutaria a guerra quando vier.
Yeshua quando veio lutou uma guerra? Venceu? O mundo ficou em paz após sua vinda?
Profecia não cumprida por Yeshua, pois o mesmo não lutou guerra alguma, e nem o mundo
esta em paz após sua vinda.
O messias deve reunir o povo judeu do exílio e devolvê-los a Israel “E ele deve
criar uma bandeira para as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e reunirá os
dispersos de Judá dos quatro cantos da terra.” (Isaías 11:12).
O Messias vai governar em uma época de paz no mundo inteiro. “E julgará entre
muitos povos, e castigará poderosas nações até mui longe, e converterão as suas
espadas em enxadas, e as suas lanças em foices: uma nação não levantará a espada
contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra.”. (Miquéias 4:3). “O lobo habitará
com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o
animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão
juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi.” (Isaías 11:6-
7). Em outras palavras: O messias trará a paz universal e tornará desnecessária a guerra.
Uma era de paz eterna entre todos os povos e todas ás nações Fonte: Isaías 2:2-4;
Miquéias 4:1-4; Ezequiel 39:9.
Ressurreição de todos os mortos Fonte: Isaías 26:19; Daniel 12:2; Ezequiel 37:12-13;
Isaías 43:5-6.
O termo Halachah vem da raiz que significa “Caminhar”, ou em outras palavras, é o caminho
da Torah, ou seja, a forma como se deve seguir a Torah.
É necessário o uso da halachah, pois em muitos momentos acontecem certas situações na
Torah que devem ser entendida de acordo com um contexto especial, ou melhor dizendo, em
certos casos especiais, como os seguintes:
Quando a Torah não explica certos termos. Ex.: “este mês será o primeiro dos meses”, ou
“diga aos filhos de Israel para fazerem como eu te falei”, sem explicar minuciosamente como
foi que falou;
Quando a Torah generaliza uma questão, como a proibição de trabalho (melakha) em
Shabat, o que seria este tipo de trabalho?;
Quando não se sabe qual Mitsvá prevalece a outra, como no caso de berit milá em Shabat;
Quando surge uma situação que não esta descrita na Torah, como um animal que não esta
no texto sagrado como saber se o mesmo é Kasher? Claro que nesta situação podemos
entender pela própria Torah, mas é um caso pertinente o fato novo, como eletricidade em
Shabat;
Quando a Torah não menciona certa prática, como o lesbianismo. É permitido ou proibido?
O homossexualismo masculino (ato) é proibido mas e o ato feminino? Ou o processo de
conversão?
Ao ocorrer uma mudança drástica no povo, como a introdução do culto ao Templo (pois o
templo não existe no período da Torah) ou a troca de sacrifícios por orações especificas;
Quando o fator “exílio” não nos permite praticar certas ações descritas na Torah, como o
sacrifício de Pessach, que só se pode fazer em Israel e não na diáspora;
E quem teria autoridade para interpretar estas situações? A resposta esta na própria
Torah. A corte instituída por Moshe, os sábios do grande sanhedrin.
Talvez a confusão sobre halachah encontra-se no fato de associarmos o termo Torah aos
textos na integra dos cinco primeiros, sendo que na verdade Torah significa simplesmente
ensinamento, e os cinco livros de Moshe recebem o nome de Torah, pois é neles, e apenas
neles que encontramos todos os “ensinamentos” da vivencia judaica, e por isso, devemos ter
muito cuidado em sua correta interpretação.
Já a palavra Mitsvá, mandamento, é uma ordem, e não necessariamente algo que foi instruído
no Sinai, como a Ordem (Mitsvá) do Rei David ao instituir as turmas de Kohanim para os
serviços no tabernáculo e que depois passaram ao templo.
Já o termo Torah Oral não significa que foi uma Torah paralela e que nunca foi escrita. É
apenas a parte da tradição que era passada sim de forma oral, u seja, cultural do povo, e que
podia estar escrita sim, mas jamais foi transmitida como um livro ao povo como foi a “Torah”.
Sendo assim, a corte dos sábios pode instituir uma halachah, ou seja, uma mitsvá
(mandamento) para podermos cumprir o que se encontra na Torah.
E caso a corte errar? A própria Torah explica o que deve ser feito, e o próprio talmud no
tratado Hodayot trazem inúmeras discussões a respeito do que se fazer quando a corte emitir
uma mitsvá errada, ou que for contra a Torah ou quando interpretar a Torah de forma
equivocada, e se remetem em suma ao texto de vaycrá 4: 13-15, isentando a comunidade pelo
erro dos sábios e isentando de castigo os sábios deste erro, pois erraram tentando ser zelosos
da Lei. Mas no próprio tratado hodayot, capitulo 1, afirma que todo o judeu deve ser
independente dos sábios, e que a corte dos sábios deve servir para guiar aqueles que não
conseguem seguir a Torah sozinhos, ou seja, todo e qualquer judeu deve ter condições de
interpretar e aplicar a Torah em sua vida cotidiana, a fim de ser senhor de seus atos.
Mas se a corte emitir um decreto que for contra a Torah, devemos seguir a Torah e não a
halachah.
O Mishne Torah explica todos os princípios para se formar uma corte como no Sanhedrin, para
que não exista a possibilidade de se ter uma corte corrupta (o que não acontece atualmente
em muitos tribunais rabínicos), por isso que uma pessoa sozinha não tem condições de criar
uma halachah individual, ou um grupo sem esta conformação espiritual.
Para que um tribunal hoje em dia crie uma halachah é necessário um certo contexto e
fidelidade a Torah para que se possa realmente aceitar a mesma como halachah, por isso que
de certa forma é errôneo o conceito de halachah, pois devemos falar halachot (no plural) ao
descrever o que chamamos de “Lei Oral”, ou normas que explicam a Torah.
Literatura judaica:
Mishná – publicada por Yehudá HaNassi aproximadamente no ano 200 d.c., foi a primeira
forma de compilação da “lei oral”, devido a perseguição romana;
Tossefta – composta por Rabi Chiya e seu aluno Hoshaiyah no fim do século II, como sendo
uma revisão da Mishná, contendo discussões e explicação de halachot;
Os Talmudim – o Talmud da Babilônia e o Talmud de Jerusalém, que abrangem apenas 37
dos 63 tratados da Mishná;
Mishnê Torah – composta por Rambam no século XII, considerada a melhor fonte de
pesquisa sobre halachah.
Sacerdócio
Cohen ou Kohen (em hebraico כהן, sacerdote, pl. כהניםkohanim) é o nome dado aos
sacerdotes na Torá, cujo líder era o Cohen Gadol (Sumo Sacerdote de Israel), sendo que todos
deveriam ser descendentes de Aarão.
Sumo Sacerdote de Israel (em hebraico גדול כהן, transl. Kohen Gadol) é o nome dado ao mais
alto posto religioso do antigo povo de Israel, e posteriormente a época do exílio babilônico era
também a mais alta autoridade política do país. O sumo sacerdote coordenava o culto e os
sacrifícios, primeiro no tabernáculo, depois no Templo de Jerusalém. De acordo com a tradição
bíblica, apenas os descendentes de Arão, irmão de Moisés, poderiam ser elevados ao cargo.
Posteriormente a época do exílio babilônico, durante o período do Império Aquemênida persa,
do Egito da dinastia ptolomaica e do império selêucida, o sumo sacerdote passou a cumular
funções políticas, além das religiosas, tornando-se o chefe político de Israel, submetido ao
governador da Síria. Durante e depois da Revolta dos Macabeus, o cargo de sumo sacerdote
passou a ser exercido pelos reis descendentes dos Macabeus, os Hasmoneus, até o ano de 37
a.c. Posteriormente, os sumo sacerdotes passariam a ser indicados por Roma.
Durante este período, o sumo sacerdote presidia o Sanhedrin (Sinédrio).
Em suma, para ser um Cohen, deve-se primeiro pertencer a tribo de Levi, e ser descendente
direto de Araão, pois não é um título, e sim uma ascendência tribal. Hoje em dia, devido a
questão da ausência do Templo em Jerusalém, não possuímos mais as funções sacerdotais, e
por isso, as funções realizadas pelos Cohanim não devem e nem podem ser realizadas em
sinagogas, e nem sequer por membros de outras tribos. Um Rabino não é um Cohen, apesar
que um descendente desta tribo hoje em dia possa vir a se tornar um Rabino.
Templo
O Templo de Salomão (no hebraico: המקדש בית, transl. Beit HaMiqdash), foi, segundo o
Tanakh, o primeiro Templo em Jerusalém, construído no século XI a.C., e teria funcionado
como um local de culto religioso judaico central para a adoração ao Criador, Deus de Israel, e
onde se ofereciam os sacrifícios conhecidos como korbanot.
O rei Davi, da tribo de Judá, desejava construir uma casa para Deus, onde a Arca da Aliança
ficasse definitivamente guardada, ao invés de permanecer na tenda provisória ou tabernáculo,
existente desde os dias de Moisés. Segundo as escrituras, este desejo foi-lhe negado por Deus
em virtude de ter derramado muito sangue em guerras. No entanto, isso seria permitido ao
seu filho Salomão, cujo nome provem da raíz Shalom, que significa "paz". Isto enfatizava a
vontade divina de que a Casa de Deus fosse edificada em paz, por um homem pacífico. (2
Samuel 7:1-16; 1 Reis 5:3-5; 8:17; 1 Crónicas 17:1-14; 22:6-10).
O Rei Salomão começou a construir o templo no quarto ano de seu reinado seguindo o plano
arquitetônico transmitido por Davi, seu pai (1 Reis 6:1; 1 Crónicas 28:11-19). O trabalho
prosseguiu por sete anos. (1 Reis 6:37, 38) Em troca de trigo, cevada, azeite e vinho, Hiram ou
Hirão, o rei de Tiro, forneceu madeira do Líbano e operários especializados em madeira e em
pedra. Ao organizar o trabalho, Salomão convocou 30.000 homens de Israel, enviando-os ao
Líbano em equipes de 10.000 a cada mês. Convocou 70.000 dentre os habitantes do país que
não eram israelitas, para trabalharem como carregadores, e 80.000 como cortadores (1 Reis
5:15; 9:20, 21; 2 Crónicas 2:2). Como responsáveis pelo serviço, Salomão nomeou 3.300 como
encarregados da obra. (1 Reis 5:16). Salomão mandou entalhar grandes pedras (1 Reis 5:15)
que eram encaixadas umas nas outras, de forma que não se usavam ferramentas para entalhar
na obra (não se ouviam martelos ou instrumentos de ferro na obra). O templo tinha uma
planta muito similar à tenda ou tabernáculo que anteriormente servia de centro da adoração
ao Deus de Israel. A diferença residia nas dimensões internas do Santo e do Santo dos Santos
ou Santíssimo, sendo maiores do que as do tabernáculo. Após a construção do magnífico
templo, a Arca da Aliança foi depositada no Santo dos Santos, a sala mais reservada do edifício.
Teria sido pilhado várias vezes e teria sido totalmente destruído por Nabucodonosor
II da Babilónia, em 586 a.C., após dois anos de cerco a Jerusalém. Os seus tesouros teriam sido
levados para a Babilónia e tinha assim início o período que se convencionou chamar de Exílio
Babilônico ou Cativeiro em Babilónia na história judaica. Décadas mais tarde, em 516 a.C., após
o regresso dos judeus do Cativeiro Babilónico foi iniciada a construção no mesmo local do
Segundo Templo, que foi destruído pelo general Tito em 70 d.C, pelos romanos, no
seguimento da Grande Revolta Judaica. Hoje o que resta, erguido, do Templo é o Muro das
Lamentações, usado por judeus como lugar de oração.
Tzedaká
Tzedaká, no hebraico: צדקה, é o mandamento judaico traduzido muitas vezes, erroneamente,
como caridade. Tem origem na palavra tzedek (justiça) sendo uma tradução mais precisa o
conceito de justiça social. É a obrigação que todo judeu tem de doar algo de si, quantificado
em no mínimo 10% dos ganhos, ao necessitado judeu ou filho de Noé (na verdade, este
conceito de 10% é o designado a doar para o Templo, para manter o mesmo e os sacerdotes
que trabalhavam no templo, e eram dados na forma de comida, grãos, e jamais em dinheiro ou
bens, e mais precisamente é o que poderíamos falar como “dízimos”). Também podem ser
doados trabalho ou conhecimento e todos os judeus têm que cumprir com o preceito da
tzedaká, tanto os ricos quanto os miseráveis e as crianças. Maimônides diz que, enquanto a
segunda maior forma de tsedaká é dar donativos anonimamente para destinatários
desconhecidos, a forma mais elevada é dar um presente, empréstimo ou parceria que irá
resultar no receptor ser auto-sustentável em vez de viver com o auxílio dos outros ou seja
"Não dar o peixe e sim ensinar a pescar". Ao contrário da filantropia, que é completamente
voluntária, o tsedaká é visto como uma obrigação religiosa, que deve ser realizada
independentemente da capacidade financeira e deve ser realizada até mesmo por pessoas
pobres. A tzedaká é uma das três mitzvot que podem salvar a vida de um judeu de um mau
destino, pois auxilia na correção de sua alma no mundo, dando a oportunidade do mesmo
fazer o bem aqueles que realmente necessitam, e assim se torna “imagem e semelhança” do
Criador, ao amparar uma de Suas criaturas.
Curso Judaísmo Básico
Aula 27
Rosh Hashaná
Rosh Hashaná (em hebraico השנה ראש, literalmente "cabeça do ano") é o nome dado ao
ano-novo judaico, ou seja, o momento onde começa a contagem de um novo ano, pois dentro
do judaísmo existem outros momentos que também são considerados como “anonovo”. Na
Torá consta como um dia onde o shofar deve soar, um dia de aclamação (Yom Teruá), e a
literatura rabínica complementa afirmando que foi neste dia que Adam nasceu (foi criado), e
não a criação do mundo.
A partir da perspectiva rabínica, sabemos então que o que comemoramos ser neste ano civil
de 2015, em setembro, será o começo do ano 5776 do nascimento de Adam e não do começo
do mundo, o que implica que antes da humanidade surgir os dias não eram contatos como
hoje, ou seja, em períodos de 24 horas, o que nos leva a compreensão de que a Torá, ao falar
sobre os dia da criação estaria falando em longos períodos de tempo, o que encaixa
perfeitamente com as teorias cientificas sobre a criação do planeta.
Ocorre no primeiro dia do mês hebraico de Tishrei, durando exatamente os dois primeiros
dias. Por ser um dia solene, é considerado quase igual ao Shabat em sua observância, ou seja,
nada de trabalhos proibidos (salvo exceções para manter a vida, como moramos no Brasil),
nada de jejum, nada de tristeza. O shofar é tocado nas sinagogas, em torno de cem toques.
Escutar o toque do shofar é uma mitsvá.
As seguintes tradições são seguidas nas diversas comunidades judaicas espalhadas pelo
mundo:
Orações: os judeus sefaradim tem o costume (não lei) de recitar Selichot (poemas e orações de
pedido de perdão) durante o amanhecer do mês de Elul, que antecede Tishrei.
Ainda se recitam Selichot nos dez dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur; em Rosh Hashaná
inclui-se as orações adicionai, chamadas de Musaf na amidá;
Algumas comunidades fazem o Hatarat Nedarim, ou seja, a anulação de promessas, o que não
é um costume Sefaradi.
Deve-se fazer soar o shofar (chifre de carneiro). Um membro da congregação, que não seja o
oficiante, deve tocar o shofar da seguinte forma: parado repetir três vezes esta sequência,
Tekiá, Shevarim, Teruá, Tekiá; depois três vezes Tekiá, Shevarim, Tekiá; e finalizar repetindo
três vezes Tekiá, Teruá, Tekiá. Não eaquecer a benção antes do shofar. É uma mitsvá que deve
ser cumprida durante o dia e não a noite.
O shofar não é tocado nem na véspera e nem na noite do primeiro dia de Rosh Hashaná. O
corte de cabelo deve ser feito na véspera, de preferência antes do meio dia. Usa-se roupa
branca, com plena confiança na bondade do Criador. Se faz Tevilá na véspera.
Não se come em Rosh Hashaná nada ácido e nem nada que foi cozido em líquido ácido. Deve-
se comer muitas frutas doces como maça com mel, tâmaras, romã, come-se também peixe,
chala redonda, carne, doces, bebidas agradáveis, etc.
A raiva e a discórdia, a discussão, não devem fazer parte da festividade. Não se dorme durante
o dia de Rosh Hashaná (por mais que seja um “feriado”). Tenta-se levantar cedo para
aproveitar bem o dia em louvor ao Criador, mas caso tenha dor de cabeça ou outra moléstia,
pode dormir durante o dia, mas depois de meio dia.
É bom para redimir a alma, na véspera de Rosh Hashaná ofertar Tzedaká. A oração neste
período deve estar cheia de kavaná. Algumas comunidades tem o costume de ler o livro dos
salmos duas vezes neste dia.
As cerimonias de Tashlich (anulação de pecados) e Hatarat Nedarim (anulação das promessas)
não fazem parte dos costumes sefaraditas, apesar de algumas pessoas o fazerem.
Segundo o Shulchan Hamelech e os Sábios Sefaradim, somente se “tiram” os pecados através
de um arrependimento sincero e de verdadeiras suplicas de perdão, e não apenas com uma
cerimônia. Da mesma forma, o Hatarat Nedarim apenas é um símbolo de que nos
arrependemos de promessas feitas e não cumpridas apenas, mas que de nada vale se
realmente não estivermos arrependidos de não termos cumprido com nossas promessas.
As saudações que fazemos neste dia aos nossos amigos e familiares são: Shana
Tová que a forma tradicional usada e significa "Bom ano" (em hebraico: .(טובה שנה
Alternativamente, usa-se Shana Tovah Umetukah, que significa "Um ano bom e doce" (em
hebraico: ) ומתוקה טובה שנהe Ketiva ve-chatima tovah ("Que você seja inscrito e selado para
um bom ano." (em hebraico: ) טובה וחתימה כתיבה. Já entre os sefardim, a saudação formal é
Tizku leshanim rabbot ("que você mereça muitos anos"), à qual se responde ne'imot vetovot
("bons e agradáveis").
Curso Judaísmo Básico
Aula 29
Sucot
Sucot é um festival judaico que se inicia no dia 15 de Tishrei de acordo com o calendário
judaico. Também conhecida como Festa dos Tabernáculos ou Festa das Cabanas ou, ainda,
festa das colheitas visto que coincide com a estação das colheitas em Israel, no começo do
outono. É uma das três maiores festas, conhecidas como Shalosh Regalim, onde o povo de
Israel peregrinava para o Templo de Jerusalém.
Sucot relembra os 40 anos de êxodo dos hebreus no deserto após a sua saída do Egito.
Nesse período o povo judeu não tinha terra própria, eram nômades e viviam em pequenas
tendas ou cabanas frágeis e temporárias. Como forma de simbolizar este período, durante a
celebração de Sucot, os judeus fazem suas refeições sob folhas e galhos ao ar livre, em uma
sucá. A sucá deve ser erguida ao ar livre (e não dentro de casas, apartamentos ou locais
fechados) e ser constituída de palha ou folhagem, que possibilite ver o céu. Deve ter pelo
menos 03 paredes as quais não devem estar pregadas ao teto. Além desta passagem pelo
deserto, a sucá também simboliza todos os judeus que moram na diáspora, ou seja, fora de
Israel. O uso de um ramo com quatro espécies, assim precisamente chamado (arba'á minim)
em hebraico, que são lulav, etrog, hadas e aravah é usado. A festa da cabana era uma
cerimonia religiosa como agradecimento a Deus, por ele ter suprido os israelitas no deserto e
não ter deixado faltar água.
A sucá
Para que o judeu não se esqueça de seu verdadeiro propósito na vida, Deus, em Sua infinita
sabedoria e bondade, nos faz deixar nossas casas confortáveis nesta época, para habitar numa
frágil sucá, cabana, por sete dias. A sucá nos lembra que confiamos em Deus para nossa
proteção, pois a sucá não é nenhuma fortaleza, nem ao menos fornecendo um telhado sólido
sobre nossa cabeça. Lembra-nos também de que a vida nesta terra é apenas temporária.
As refeições na sucá
Durante a festa de Sucot, os homens devem comer diariamente numa sucá (cabana)
especialmente construída para este fim. Nestes sete dias, não é permitido comer fora da sucá
qualquer refeição que contenha pão ou massa. Há aqueles que não costumam beber nem ao
menos um copo de água fora da sucá. Nos primeiros dois dias e noites da festa, o kidush, prece
sobre o vinho, antecede a refeição. Nas duas primeiras noites, é obrigatório comer na sucá ao
menos uma fatia de pão (além do kidush), mesmo que esteja chovendo. Nos outros dias, se
chover, é permitido fazer as refeições dentro de casa.
Confiança em Deus
Refletir sobre a sucá nos dá uma ampla visão do significado de fé em Deus e da extensão de
Sua Divina Providência. Vamos para a sucá durante a Festa da Colheita depois de haver colhido
o fruto dos campos. Se uma pessoa recebeu a bênção Divina e sua terra produziu com fartura,
seus estoques e adegas estão repletos, alegria e confiança preenchem seu espírito - aí a Torá a
leva a abandonar a casa e residir em uma frágil sucá, para ensina-la que nem riquezas, nem
posses, nem terras são proteções na vida; somente Deus é que sustenta, mesmo os que
habitam em tendas e cabanas e oferece uma proteção de confiança.
E se alguém está empobrecido e seu trabalho não conheceu a bênção Divina; se a terra não
deu o seu produto, se o fruto da árvore não foi armazenado em celeiros e se está incerto e
temeroso ao encarar o perigo da fome nos dias de inverno que se aproximam, também
encontrará repouso para seu espírito na sucá. Lembrará como Deus hospedou-nos em Sucot
no deserto; nos sustentou e nos abasteceu, não nos deixando faltar nada.
A sucá o ensinará que a Divina Providência é segurança melhor do que qualquer bem material,
pois não abandona os que verdadeiramente crêem em Deus. A sucá o ensinará a ser forte e
corajoso, feliz e tranquilo, mesmo na aflição e na dificuldade.
Simchat Torah
Simchat Torá, literalmente “A alegria da Torá”, marca o fim do ciclo anual da leitura da Torah.
No serviço religioso de Shacharit (matutino) é realizada a leitura da Torá e todos os presentes à
sinagoga recebem a honra de uma aliá, a oportunidade de ser chamado para a leitura,
inclusive as crianças que ainda não fizeram bar mitzvá ou bat mitzvá.
A comemoração de Simchat Torá teve início durante o exílio na Babilônia, após a destruição do
Primeiro Templo, em Jerusalém. Naquela época, em Israel, a leitura da Torá era feita em
períodos de três anos ou três anos e meio. Somente depois de o costume de se ler a Torá ao
longo de um ano ter se popularizado, durante o exílio na Babilônia, e com a compilação do
Talmud, por volta do ano 500, é que a festa foi aceita pelas lideranças religiosas em Israel.
Dentre os costumes de Simchat Torah existem as Hakafot que são celebradas na véspera e na
manhã seguinte, que são danças abraçados com a Torah, e que são precedidas por um
conjunto de dezessete versículos, chamado Atá Há’raita, é cantado três vezes.
Tradicionalmente, membros da congregação são homenageados liderando a congregação na
recitação desses versículos; em sinagogas onde há muito mais congregantes que versículos, é
costume “leiloar” as homenagens, com a renda sendo destinada para tsedacá, caridade.
Todos os Rolos de Torá são então retirados da Arca. Segundo o Zohar, as coroas da Torá não
devem ser retiradas, mas sim permanecer nos rolos durante toda a dança. Membros da
congregação são homenageados com o direito de segurar os rolos (um Rolo de Torá deve ser
sempre segurado sobre o ombro direito), e o líder leva a procissão ao redor da bimá (mesa de
leitura da Torá), enquanto entoa preces breves implorando sucesso e liberdade ao Criador,
com a congregação respondendo de acordo. Isso é seguido por cantos e danças, com os Rolos
da Torá geralmente sendo passados de pessoa em pessoa, permitindo que todos tenham a
chance de ser “os pés da Torá”. As crianças, também, tomam parte nesta alegria,
tradicionalmente dançando com bandeiras especiais de Simchat Torá, e com frequência
recebem o privilégio de assistir às danças sentadas nos ombros de seu pai. Este procedimento
é seguido sete vezes – sete hakafot. Após cada hakafá o gabai da sinagoga anuncia: “Ad kan
hakafá…” (“Chegamos à conclusão da hakafá número x”); os Rolos de Torá então são
devolvidos à Arca, e começa a próxima hakafá (geralmente com um grupo diferente de
pessoas segurando as Torot, e com uma nova pessoa líderando o grupo).
Chanuká
Chanuká ( חנכהḥănukkāh ou חנוכהḥănūkkāh) é uma festa judaica, também conhecido como o
Festival das luzes. "Chanucá" é uma palavra hebraica que significa "dedicação" ou
"inauguração". A primeira noite de Chanucá começa após o pôr-do-sol do 24º dia do mês
judaico de Kislev e a festa é comemorada por oito dias. Uma vez que na tradição judaica o dia
do calendário começa no pôr-do-sol, o Chanucá começa no 25º dia.
Por volta do segundo século antes da era comum, os judeus eram um povo autônomo mas
vassalo dos selêucidas, um reino remanescente do império macedônico e de cultura grega,
que reinava na região da síria. Seu rei na época era Antioco IV Epifanes, e este começou a
obrigar os judeus a se helenizar, o que encontrou grandes barreiras, vindo então a obrigar que
um dos principais sacerdotes judeus, Matitiahu, viesse a sacrificar um porco para Zeus no
templo em Jerusalém (o que já vinha sendo feito, além de proibir o estudo da Torah), o que
este sacerdote se negou, matando um guarda sírio e dando inicio a revolta dos macabeus.
Após alguns anos de luta, o filho de Matitiahu, Yehudá hamacabi (Yehuda o macabeu),
chamado assim devido a ser considerado “O martelo (macabi) de Deus”, venceram e
expulsaram os selêucidas de Jerusalém, e finalmente começaram a limpar o Templo.
Esta vitória foi considerada um verdadeiro milagre, pois os poucos e mal preparados soldados
judeus estavam em número bem menor do que os soldados selêucidas, mas pelo fato de
guardarem o Shabat, o Criador lhes concedeu a vitória, mostrando que o Shabat é uma Mitzvá
muito importante. O segundo milagre foi do óleo para a purificação do Bet Hamikdach, que,
depois de anos de profanação, tinha se esgotado e tinha apenas a quantidade para um dia, o
que não seria suficiente para todos os oitos dias de festividade de libertação, mas mesmo
assim, Yehuda ordenou que fosse feita e que o Criador iria ajudar. Assim foi feito e
inexplicavelmente a cada novo dia o óleo era suficiente, e finalmente o óleo durou os oito dias
de festividades.
De acordo com o Talmud, temos que esse feriado marca a derrota das forças selêucidas que
tentaram proibir Israel de praticar o judaísmo. Judas Macabeu e seus irmãos destruíram forças
surpreendentes, e rededicaram o Templo. O festival de oito dias é marcado pelo acendimento
de luzes com uma menorá especial, tradicionalmente conhecida como uma chanukiá.
O Talmud (Shabat 21b) diz que após as forças de ocupação terem sido retiradas do
Templo, os Macabeus entraram para derrubar as estátuas pagãs e restaurar o Templo. Eles
descobriram que a maioria dos itens ritualísticos havia sido profanada. Eles buscaram óleo de
oliva purificado por ritual par acender uma Menorá para rededicar o Templo. Contudo, eles
encontraram apenas óleo suficiente para um único dia. Eles acenderam isso, e foram atrás de
purificar novo óleo. Milagrosamente, aquela pequena quantidade de óleo queimou ao longo
dos oito dias que levou para que houvesse novo óleo pronto. É a razão pela qual os judeus
acendem uma vela a cada noite do festival.
No Talmud dois costumes são apresentados. Era comum tanto ter oito lamparinas na primeira
noite do festival, e reduzir o número a cada noite sucessiva; ou começar com uma lamparina
na primeira noite, aumentando o número até a oitava noite. Os seguidores do Shamai
preferiam o costume anterior; os seguidores do Hilel advogavam o segundo (Talmud, tratado
Shabat 21b). Josefo acreditava que as luzes eram um símbolo da liberdade obtida pelos judeus
no dia em que Chanucá é comemorado.
As fontes talmúdicas (Meg. eodem; Meg. Ta'an. 23; comparar as diferentes versões Pes. R. 2)
descrevem a origem do festival de oito dias, com seus costumes de iluminar as casas, até o
milagre dito ter acontecido na dedicação do Templo purificado. Isso foi que o pequeno
vasilhame de óleo puro que os sacerdotes Hasmoneus encontraram intocados quando eles
entraram no Templo, tendo estado vedado e escondido. Esse pequeno montante durou por
oito dias até que novo óleo pudesse ser preparado para as lamparinas do candelabro sagrado.
Uma lenda similar em características, e obviamente mais antigo, é aquele aludido em Mac. 2
1:18 et seq., de acordo com o qual o reacendimento das luzes do fogo do altar por Nehemias
foi devido a um milagre que ocorreu no vigésimo quinto dia de Kislev, e no qual parece ter sido
dado como a razão para seleção da mesma data para a rededicação do altar por Judas
Macabeu.
A festa de Chanucá é celebrada durante oito dias, do dia 25 de Kislev ao 2 de Tevet (ou o 3 de
Tevet, quando Kislev só tem 29 dias). Durante esta festa se acende uma Chanukiá, ou
candelabro de 9 braços (incluindo o central e maior, denominado Shamash, ou servente). Na
primeira noite acende-se apenas o braço maior e uma vela, e a cada noite se vai
acrescentando uma vela, até que no oitavo dia o candelabro está completamente aceso. Este
ritual comemora o milagre do azeite que queimou por oito dias no candelabro do Templo de
Jerusalém .
Antes do século XX, o Chanucá era um feriado relativamente menor. Contudo, com o
crescimento do Natal como o maior feriado no Ocidente e o estabelecimento do estado
moderno de Israel, o Chanucá começou a servir crescentemente tanto como celebração da
restauração da soberania judaica em Israel e, mais importante, como um feriado para se dar
presentes voltado para a família em Dezembro que poderia ser um substituo judaico para o
feriado cristão. É importante notar que a substituição pelo Natal não é universalmente aceito,
e muitos judeus não tomam parte nesta significação extra naquilo que eles consideram um
feriado menor. Crianças judias, primariamente entre osAshkenazim, também jogam um jogo
onde eles giram um pião de quatro faces com letras hebraicas chamado de dreidel ( ביבון ס
sevivon em hebraico) .
Algumas leis e considerações sobre Chanuká, conforme Shulchan Hamelech e Shulchan Aruch.
É proibido jejuar, mas é permitido trabalhar em chanuká;
Após acesa as velas de chanuká as mulheres não trabalham enquanto as mesmas estiverem
acesas;
Dar preferência a lâmpadas de óleo para cumprir com a festividade;
As velas de chanuká devem estar acima de 30 cm do chão e abaixo de 10 metros (de
preferência abaixo de um metro);
Não se acende a chanukia antes do por do sol;
Não se acende em um lugar e transporta para outro;
Ao horário e acender, não se come ou estuda até que se acenda as velas;
É costume acender uma vela em memoria a alma de Rabi Meir Baal Hanes em Rosh Chodesh
Tevet.
Todo tipo de óleo e mechas são permitidas para acender as velas de chanuká;
Mão se pode usar as velas de chanuká para proveito como se fosse uma lanterna;
Coloca-se as velas na chanukia e somente depois é q são acesas, no próprio lugar onde se
encontram;
Na véspera de Shabat, se acende primeiro a Chanukia e depois as velas de Shabat;
Para havdalá, se faz a Havdalá e depois acende a Chanukia.
Curso Judaísmo Básico
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