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SINCRETISMO RELIGIOSO NO BRASIL

O sincretismo foi criado pelos escravos, por ser de extrema necessidade naquela época de escravidão, para
o próprio desenvolvimento da religião. Sem o sincretismo, os negros escravos não conseguiam a sobrevivência
da religião em suas raras modalidades.
Os sacerdotes africanos, quando criaram o sincretismo, visaram apenas a sobrevivência da religião
yorubana, que era oprimida, convencendo o homem branco da época, que cada orixá convocado a incorporar nos
praticantes da religião era santo do céu. E assim conseguiram permissão para celebrar seus atos religiosos com
segurança e sem perseguições.
Esta perseguição das autoridades da época aos praticantes das religiões yorubanas fez ser criado
o sincretismo católico, pois o catolicismo e seus santos são reconhecidos a mais de dois mil anos. É a religião
mais antiga do mundo, portanto, sempre foi livre em toda e qualquer parte a sua prática.
Ao Brasil foram trazidos para a popularização dos santos que mais identificavam-se com os deuses. Desta
forma, para os adeptos das religiões afro-brasileiras, cada deus yorubano é representado por um santo católico,
como por exemplo os que mais se destacaram: São Lázaro, Nossa Senhora da Conceição, São Sebastião, São
Jorge e outros.
Esses deuses nunca tiveram vida terrena ou material, mesmo quando habitaram a terra, o mundo que hoje
é dos humanos. Eles eram deuses formados apenas de força, luz, energia, poder e pela essência da natureza. Ao
contrário dos santos católicos que foram seres humanos e habitaram a terra com vida normal, como qualquer
outra pessoa, são santos que viveram como seres vivos.
Devido ao sincretismo católico, há uma certa coincidência entre as datas que se homenageia os orixás e
as que se comemoram os santos católicos.
O sincretismo católico foi o responsável pela identidade masculina e feminina dos orixás, pois fez a
comparação de cada orixá com o santo ou santa católica que mais identificava-se com cada orixá.
Com a imposição do catolicismo no período colonial, o sincretismo religioso, por muito tempo, foi um
imperativo para que a religiosidade de matriz africana pudesse manter parte das suas práticas na esfera pública.
Até os dias atuais muitos costumes nossos ainda revelam uma fusão de diversos rituais oriundos de diferentes
matrizes culturais; e, no final do ano, muitas vezes, independentemente da religião ou crença praticada, adotamos
costumes cuja origem é, por nós, desconhecida.
Com a tradição da roupa branca para as festas do ano novo, uma importante tradição do candomblé –
muitos praticam, mas não sabem - popularizou-se, junto com o ato de oferecer flores no mar, praticado por quem
cultua Iemanjá ou não.
São poucas as pessoas que se declaram praticantes de religiões de matriz africana. Quando comparamos
ao quantitativo de religiões hegemônicas, no entanto, nas areias das praias, na virada do ano, uma multidão,
vestida de branco, comemora e emana seus votos para o novo ciclo que se aproxima. Durante o ano podemos
enumerar as inúmeras praticas cotidianas que foram internalizadas ao longo da nossa formação e apenas quando
nos aproximamos das tradições afro-brasileiras entendemos o sentido de cada uma delas.

PLURALISMO RELIGIOSO

Nos últimos 200 anos, novos movimentos religiosos floresceram. Nunca houve tanta diversidade de
correntes religiosas como agora. Em países que receberam múltiplas influências culturais, como o Brasil,
sincretismos e crenças originais enriquecem a experiência da humanidade. O pluralismo religioso é uma
característica marcante do País. Muitos segmentos têm sua fé marcada em tradições milenares, como a
consciência de Krishna, conhecida mundialmente entre outras religiões.
É sempre difícil respeitar o que não conhecemos. E, quando tratamos do complexo mundo das crenças,
experimentamos dificuldades de compreensão, entendimento e respeito às religiosidades alheias. Daí a
importância do diálogo, pois é ele que nos permite a troca, o conhecimento e o reconhecimento das vivências
religiosas dos outros.
É muito comum conhecermos pessoas de diferentes religiões e, consequentemente, com tradições e
hábitos diversificados. Respeitar essas diferenças é fundamental, principalmente porque o objetivo principal das
religiões é transmitir os aspectos positivos dos seres humanos, relacionados à sua natureza, princípios e valores,
tendo sempre em mente a compreensão do outro.
Nos dias atuais, as religiões podem congregar-se pacificamente e reivindicar seus direitos, e, ao mesmo
tempo, tornar pública essa diversidade desconhecida pela sociedade. Esse é um despertar de uma nova
consciência tão necessária. Não podemos ficar apenas como meros espectadores diante do preconceito, do abuso,
do fanatismo, das guerras em nome de religiões, exploração da fé de pessoas inocentes em nome de Deus. A
Quarta Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa se faz presente para que todos tomem consciência de fatos
que antes ignorávamos.
O Movimento Hare Krishna, por exemplo, não é um movimento sentimentalista, é um movimento de
reforma. A menos que o governo e as massas populares tomem conhecimento da defesa da liberdade religiosa,
jamais haverá bons homens ou mesmo bons religiosos.
O instrumento que os devotos de Krishna possuem e divulgam ao redor do mundo para que essa mudança
se proceda é o Maha-mantra Hare Krishna, devido à sua potência espiritual. Já tivemos ordem de parar o cantar
do Maha-mantra Hare Krishna nas ruas, e fomos perseguidos há muitos anos. O fato de ainda acontecerem atos
preconceituosos indica que o nosso movimento é realmente autorizado. Por isso, somos conhecidos como "Hare
Krishnas". Cantamos diariamente o mantra Hare Krishna, nos templos ou em nossas casas, divulgando nas ruas
para que outras pessoas sejam beneficiadas e tenham sucesso em suas caminhadas.
Quando nos permitimos conhecer as vivências e práticas religiosas dos outros, não estamos abrindo mão
de nossa própria convicção ou crença. Quanto mais conhecemos as religiosidades, maior discernimento e clareza
terão também sobre nosso segmento.
Dialogar, conhecer, estudar ou pesquisar o universo religioso são atividades fascinantes, interessantes e
servem, sobretudo, para acabar com os fundamentalismos. Os fundamentalistas são aqueles que cultivam a ideia
de que sua religião é única e de que todas as demais formas têm de ser abolidas.
Em nome das religiões, não se justificam guerras e conflitos, porque todas elas deveriam ensinar o amor
como valor maior da convivência humana. Em nome das religiões, cabem atitudes de respeito, consideração,
diálogo e paz. As religiões são caminhos diferentes que buscam o mesmo fim.

ECUMENISMO, DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO E PROSELITISMO

O que muita gente talvez não saiba é a diferença entre ecumenismo e diálogo inter-religioso. Sob o ponto
de vista teológico, ecumênico é o diálogo entre os cristãos que professam a fé em Jesus, na Trindade, no Mistério
Pascal, na Redenção, na Graça, enfim, toda a fé do Novo Testamento.
Esta segunda parte da Bíblia é onde também consta o desejo de Jesus a respeito da unidade entre aqueles
que O seguem, como relata o evangelista João (cf. Jo 17,21-23). A partir deste trecho da Sagrada Escritura,
percebemos que o diálogo ecumênico não é uma invenção dos cristãos, mas uma condição, uma vocação,
apresentada por Jesus, para que o mundo creia em Seu Nome.
“Isso é vocação de unidade, vem do Batismo e da Graça do Espírito Santo. A unidade entre os cristãos
não é um produto, resultado apenas desse diálogo, mas é uma vocação da Igreja. E a gente que participa desse
diálogo, acolhe a Graça e vai promovendo essa vocação de comunhão entre todos os batizados por quem Jesus
deu a vida”.
Já o diálogo inter-religioso, como a própria nomenclatura sugere, acontece entre as diferentes religiões
(Budismo, Islamismo, Judaísmo, Xintoísmo, Kardecismo, Cristianismo, etc). Esse tipo de diálogo não é focado
na unidade, como aquela que acontece no ecumenismo.
“Trata-se de um diálogo para discernir como a Graça de Deus opera no coração destes homens e
mulheres de outras tradições; como eles e nós, de algum modo, podemos atuar juntos no testemunho da verdade,
da justiça, da paz, da promoção humana; como nós podemos atuar juntos, como homens e mulheres religiosos,
na construção de uma cidadania, de uma sociedade justa, do cuidado ambiental”, esclareceu.
Entretanto, esse diálogo também tem uma motivação teológica para os cristãos, não se tratando de deixar
o anúncio de Jesus de lado e ficar apenas no diálogo.
“Ao contrário: o nosso diálogo com os membros de outras tradições não cristãs é a nossa forma de
missionar, de modo recíproco, dialógico, testemunhar a nossa fé. Transformar esse diálogo num espaço de
anúncio, pela nossa vivência, nossa presença evangélica cristã”.
O proselitismo, por sua vez, refere-se a fazer tudo para “trazer o outro para a minha Igreja”. O prosélito
atua justamente por falta de diálogo ecumênico. Quando os cristãos não dialogam, não oram/rezam juntos, não
se unem para ouvir a palavra de Deus, criam distâncias.
“Essa distância acaba atravessada por relações de mercado, de oposição. Então, sem uma perspectiva
de fé, de caridade entre cristãos, nós mesmos nos vendemos, barganhamos essa perspectiva por outra. Esta tem
sido invadida, sobretudo no Brasil, por um comportamento mercadológico. A fé se torna uma mercadoria e o
fiel se torna um cliente. Infelizmente, é justamente por falta de um diálogo ecumênico sério que não compromete,
que não aproxima a gente na oração, que temos nos distanciado e dado espaço, não para uma relação de
comunhão, de cristãos, mas infelizmente, para uma relação de concorrência claramente mercadológica”.
Outro resultado do proselitismo: a intolerância religiosa!

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