Você está na página 1de 131

Matriz Religiosa Semita

APRESENTAÇÃO

Professor Esp. Érlon Migliozzi

● Especialista em Empreendimentos Educacionais (UCB/RJ);


● Bacharel em Teologia (UniFil);
● Bacharel em Ciências Econômicas (FAFICOP);
● MBA em Liderança (UniFil);
● Mestrado Livre em Liderança Pastoral Urbana (STF/UniFil);
● Docente do curso de Teologia EaD (UniFatecie);
● Consultor Educacional da UniFatecie.

Palestrante e ministrante de cursos teológicos livres na área do Velho


Testamento e Escatologia. Ministro do Evangelho na Igreja Evangélica Assembleia de
Deus. Consultor empresarial pelo Conselho Regional de Economia de Curitiba/Pr.
Professor de Matemática e Sistema de Informações Gerenciais e Ensino Religioso na
Rede Estadual do Paraná. Além de possuir experiência em sala de aula, tem
conhecimento na área administrativa de instituições de ensino, onde, assessorou Pró-
Reitoria de Extensão e Pós-Graduação e departamentos comerciais. É Consultor e Perito
Judicial pelo Conselho Regional de Economia de Curitiba/PR.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/8601941430171375


APRESENTAÇÃO DA APOSTILA

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) aluno (a), é sempre muito bom ter você junto conosco. Nos estudos
das religiões, é imprescindível o conhecimento a respeito das religiões semitas. Estamos
prestes a conhecer uma ramificação do estilo de vida e adoração a Deus, que, não
somente é um dos mais antigos sistemas religiosos, como, é o que mais rompeu séculos
e provocou mudanças na história da humanidade.

Você está sendo convidado a estudar um povo que trouxe inovações e muita
mudança no sistema socioeconômico mundial, influenciou continentes e fez a história
se dividir. Estaremos conhecendo as três principais religiões monoteístas Abraâmicas,
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, procurando entender aspectos históricos e
impulsionadores destas religiões, que, de forma tão evidenciada, se misturam ao estilo
de vida e cotidiano dos seus adeptos.

Na unidade I, vamos conhecer a origem dos termos e o contexto para a formação


religiosa e suas ramificações, bem como, os seus reflexos, até os dias atuais. Já na
unidade II, iremos conhecer um pouco sobre o judaísmo, buscando entender como esta
religião permanece sob os mesmos preceitos da época de Abrão e como ela se permite
incluir na modernidade, suas lutas e seus objetivos.

Depois, na unidade III, talvez, uma das mais difíceis de se analisar, vamos estudar
sobre o Cristianismo, o qual, por estar presente em nosso cotidiano, espiritualizado, não
nos atentamos muito ao seu conceito e sua importância para a humanidade.

E por falar em humanidade, na unidade IV, vamos conhecer uma religião que
contribui muito para o bem-estar da sociedade moderna, um ramo da religião semita,
conhecido como Islamismo, o qual, pode ter sua imagem confundida pelos
acontecimentos do último século.

Reitero o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de


conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e ministerial.

Muito obrigado e bom estudo!

UNIDADE I

MATRIZ RELIGIOSA SEMITA

Professor Especialista Érlon Migliozzi

Plano de Estudo:

• O que são religiões semitas?

• O mundo e as religiões semitas;

• Guerras Santas;

• As religiões semitas no mundo atual.

Objetivos de Aprendizagem:

• Identificar as características específicas de cada manifestação religiosa;

• Contribuir para o conhecimento das particularidades das religiões semitas;

• Refletir sobre a intolerância e o crescimento do terrorismo religioso.


INTRODUÇÃO

Você já deve estar familiarizado com alguns nomes e termos utilizados nos
noticiários e nas disciplinas teológicas, tais, como, judeu, hebreu, israelita. Todos estes
nomes buscam classificar um povo com uma cultura, uma história e uma religião única.
À medida que nosso conhecimento amplia, vamos conhecendo novos termos que têm
relação direta com este povo e sua religião. Um termo que antecede aos termos
descritos é o termo “semita”, que, muitas vezes, é dito no nosso meio de várias formas,
como: antissemitismo, semítico, judeus sionistas, entre outros termos.

Nesta primeira unidade de estudo, acerca das religiões semitas, vamos trazer
considerações a respeito da importância e influências destas religiões na formação do
mundo e no mundo atual. Nosso foco, não é somente estarmos entendendo e
visualizando os aspectos históricos, mas, adquirir uma visão atual e escatológica destas
religiões, por exemplo: De acordo com o surgimento e o andamento destas religiões,
qual será a tendência de futuro e de diálogo do cristianismo, frente, às demais religiões.
Onde entra o Ecumenismo Religioso? O que é possível evitar para que a religião cumpra
o seu papel espiritual e qual o caminho para uma religião sem vertentes políticas
externas?

Atualmente, diante de tantos extremismos, vemos que o diálogo inter-religioso


precisa ser cultivado em sua base, precisa refletir o interesse coletivo e não uma
tendência de momento ou desejos de minorias.

Não teremos a pretensão de tratar cada uma das religiões de maneira profunda,
nos seus aspectos intrínsecos, porém, precisamos entender seus reflexos exteriores
para nas demais unidades adquirirmos o conhecimento individual de cada uma e
colaborar para que haja compreensão correta e entendimento, entendendo, que
fazemos parte do diálogo daquilo que faz parte do nosso dia-a-dia e está presente em
muitas decisões importantes pelo mundo.

Desejo a você um ótimo estudo e creio que vamos aprender muito juntos! Ao
trabalho!!!
1 O QUE SÃO RELIGIÕES SEMITAS?

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-illustration/interfaith-dialog-concept-


66952828

1. 1 O que são povos semitas?

Primeiramente precisamos entender o que é o termo “SEMITA”. Ser semita é


pertencer a um grupo populacional ou linguístico, cuja origem está atribuída a “Sem”,
filho de Noé. “Sem”, é uma variação grega do nome hebraico “Shem”, nome de um dos
filhos de Noé. Estes grupos, ou povos, são os hebreus, árabes, aramaicos e assírios. O
termo semita é um adjetivo mais aplicado aos judeus e dá origem a outro termo o
“antissemitismo”, que é conhecido como preconceito aos judeus. Atualmente, as
línguas semíticas estão incluídas na família camito-semítica, que são, línguas faladas em
grande extensão da África setentrional, Arábia no Oriente Médio, também em países
próximos, alcançando até as fronteiras do atual Irã. O termo “semita”, começou a ser
utilizado em 1787 d.C. e começou a ser utilizado para designar os povos orientais.
(SEMITA, 2021)

As línguas faladas na Antiguidade diferem das modernas. Na era antiga eram as


línguas: acadiano, ugarítico, fenício, hebraico antigo, aramaico, egípcio, amorita,
aramaico e caldeu. Atualmente são: Berbere, Hauçá, Guanche, Árabe, Hebraico
Moderno (SARDE NETO, 2020, p. 15).

Há teorias, não confirmadas, que defendem que os povos da China e Índia


também descendem da linhagem de Sem. Devido às várias migrações, não podemos
falar de uma homogeneidade na língua semita, pois houveram muitas derivações ao
longo da caminhada dos povos. Estes mesmos grupos não compartilhavam da mesma
crença religiosa e, na sua maioria, eram rivais entre si.
Geograficamente, as tribos permaneceram em locais estratégicos, como oásis
e rotas comerciais, durante muitos séculos. Desenvolviam uma cultura
seminômade, baseada no pastoreio com grandes criações de caprinos, e
sepultavam seus mortos em lugares considerados sagrados, dado seu
conteúdo. Também fundaram locais de reverência e culto aos ancestrais, os
quais, eventualmente, vinham a ser transformados em territórios de
sacralidade e de importância como referência de cultura.

Sobre a língua hebraica, alguns historiadores e linguistas supõem


que sua origem provém de grupos cananeus e, graças às inscrições históricas
que narram a epopeia dos hebreus, seus ascendentes e descendentes, o
idioma prevaleceu (SARDE NETO, 2020, p. 16)

A origem geográfica do povo semita está no Oriente Médio, nas regiões do Mar
Vermelho e do Planalto Iraniano, tanto, que os árabes, os hebreus e os fenícios são
descendentes semitas (TABELA DAS NAÇÕES, 2022).

Estes povos tiveram grande influência nas três grandes religiões monoteístas
mundiais, pois, provêm da cultura desses povos a escrita alfabética e as três grandes
religiões monoteístas do mundo -- judaísmo, cristianismo e islamismo.

1. 2 Religiões Monoteístas, Politeístas, Teístas e Não-Teístas

Para prosseguirmos em um entendimento seguro sobre as religiões semitas,


precisamos entender qual sua influência nas crenças existentes no mundo, como ela se
situa em fé e espiritualidade perante outras correntes Téo filosóficas.

De uma forma abrangente, vamos elencar as a lista de religiões e tradições


espirituais em que está baseado as grandes doutrinas (doutrina = conjunto das idéias
básicas contidas num sistema filosófico, político, religioso, econômico) no mundo.
Primeiramente temos que entender que toda religião que crê em uma ou mais
divindades é uma religião “teísta”. Ser Mono”teísta” é acreditar em um só deus e
Poli”teísta” é creem em vários deuses.

Nas religiões teístas, encontramos as de raiz Abraâmica (que tiveram sua origem
nas tradições do Oriente Médio e na crença de Abraão em um único Deus). As religiões
monoteístas Abraâmica são formadas pelas três principais religiões do mundo:
Cristianismo, Judaísmo e Islã. São as religiões semitas (HEXHAM, 2003, p. 76).

Nas religiões teístas de raiz “não” Abraâmicas, encontramos o Espiritismo, a


Igreja Messiânica Mundial, Seicho-no-ie, Fé Bahá'í, a Religião Tradicional Chinesa,
Religiões de Matriz Africana (Vodu, Candomblé, Umbanda, Quimbanda), entre outras.

Já podemos entender que há um diferencial nesta raiz teísta. Essas religiões


creem em uma divindade, mas, somente as semitas creem no Deus de Abraão, portanto,
o Deus consumador da fé dos cristãos, hebreus e do Islã, não será o mesmo Deus das
demais religiões descritas. Ser “semita” é crer unicamente no Deus Bíblico, ou melhor,
no Deus de Abraão (MATA, 2010, p. 06).

É importante saber que há religiões monoteístas, não Abraâmicas e “Satíricas”.


As Igrejas monoteístas satíricas, são igrejas que crêem em um Deus, mas, não como
divindades inacessíveis ou convencionais. Entre elas, temos a igreja Maradoniana (que
adora o jogador de futebol Maradona), O Pastafarianismo (que sugere que o Deus
criador seja “o monstro do Espaguete Voador”). Quero explicar ao leitor, que, incluir
estas explicações no nosso conteúdo, traz muito proveito, pois, vemos que será
constante a criação de religiões monoteístas pelo mundo afora, porém, há nas religiões
de origem Abraâmica, as raízes milenares não foram mudadas, não foram criadas para
escárnio ou sátira ou protesto, sua criação ocorreu de forma inclusiva no meio em que
surgiram (CABRAL, 1992, p. 99).

Vamos continuar nossa apresentação das religiões, apresentando outra forma


de doutrina de fé: as religiões politeístas, as quais, o próprio nome define como sendo
religiões que reconhecem vários deuses em um mesmo patamar, ou seja, não há
soberano completo. O Helenismo, o Xamanismo, o Druidismo, entre outras, formam
estas correntes, que, muitas vezes, têm origem mitológica.
Para concluirmos, temos um grande grupo de várias religiões, que apresentam
um teísmo indefinido. São monoteístas ou politeístas e sua base de crença está dividida
entre o poder sobrenatural e o racional, são elas: o Hinduísmo, Satanismo, Ocultismo e
Xintoísmo.

1.3 O que são Religiões Semitas?

Diante da apresentação que realizamos ao estudarmos os tópicos anteriores,


chegamos a uma conclusão óbvia e com todos os esclarecimentos sobre a denominação
de religião semita.

Religiões semitas, são, religiões monoteístas, que creem no Deus de Abraão, tem
suas raízes no Oriente Médio e levam o nome do filho de Noé, Sem o qual, foi a
continuidade da raiz de Adão e Eva que continuou a adoração a um deus único (MATA,
2010, p. 06).

Ser semita, hoje, não necessariamente é estar no Oriente Médio e, tampouco,


ser descendente de Abraão ou ser judeu ou árabe ou pertencer a algum grupo étnico
que tenha sua raiz linguística semita.

As religiões semitas Abraâmicas são as principais religiões monoteístas do


mundo e sua importância vai além dos padrões de fé e adoração, são influenciadores
socioeconômicos e culturais.

As suas bases refletem ações e reações por toda a face da terra e influenciam
nações por todo o mundo, tanto, as próximas ao seu berço no Oriente Médio, como, do
outro lado do globo terrestre.
2 O MUNDO E AS RELIGIÕES SEMITAS

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-vector/vector-illustration-old-book-different-


religious-1723745302

Vamos iniciar este tópico partindo do ponto em que surgem as religiões semitas.
A história da humanidade se divide basicamente em Idade Antiga, Idade Média, Idade
Moderna e Idade Contemporânea.

As religiões semitas e muitas outras religiões monoteístas e politeístas


originaram na Idade Antiga e na Idade Média. Temos exceções, como a “Fé bahá'í”, que
é a mais jovem das grandes religiões mundiais.

A Idade Antiga, compreende de 4.000 a.C. até o ano 476 d.C., onde ocorreu a
queda do Império Romano do Ocidente.

A Idade Média é de 476 d.C. (Século V) até o Século XV, embora, não haja
consenso sobre a data exata, mas, adota-se a queda do Império Bizantino.

A Idade Moderna vai do Século XV até 1789 d.C., data da Revolução Francesa.

A Idade Contemporânea iniciou-se após a Revolução Francesa e está ocorrendo


até os dias atuais.

Como eram as religiões e as culturas no mundo e no tempo em que surgem as


religiões semitas, neste caso específico, as Abraâmicas? (SCHNEEBERGUER, 2010, p. 95-
130).

No Egito, por volta do ano 1.300 a.C., o faraó Amenotepe IV, ou Aquenáton,
provocou uma desordem no reinado quando exigiu a adoração somente ao seu Deus, o
deus Áton. Com isso, entende-se, que o primeiro ensaio de adoração a um deus único
em uma nação dominante estava acontecendo. Infelizmente, para o faraó, sua inovação
no reino não deu muito certo e logo após a sua sucessão, depois de dezessete anos de
reinado, todas as estátuas do deus Áton foram retiradas do Egito e enterradas no
deserto. O Egito queria ser politeísta e não adiantava ir contra esta vontade e costume
já enraizado no povo egípcio.
Por volta do ano 1.100 a.C., o Zoroastrismo surge no Irã, como uma religião
monoteísta, Aura-masda ou Ormuz, era o deus supremo. Esta concepção religiosa
introduz o dualismo (guerra entre o bem e o mal), e vai influenciar posteriormente o
cristianismo, inclusive (PEREIRA, 2020, p. 16).

No Antigo Oriente, também, cada comunidade tinha seu deus, o “padroeiro”


local, o deus que representava cada povo e, precisava ser defendido nas guerras.

O mundo caminhava em uma divisão absoluta entre o monoteísmo e o


politeísmo, era o período de incubação das futuras grandes religiões.

O monoteísmo no mundo ocidental tem como sua principal fonte a Bíblia


Hebraica. São os relatos de Moisés, sobre a vida de Abraão, que concretizam e
difundem, tanto a fé hebraica, como, a escrita semita.

Abraão relata uma experiência sobrenatural, ele ouve o Deus único e vivo, que,
fala com ele e o incumbe de uma missão: Formar uma nação diferente das demais
nações.

Neste ponto, podemos entender que a adoração ao Deus de Abraão toma uma
forma totalmente inovadora e diferente do que se praticava nas outras religiões no
mundo.

Primeiro, o Deus de Abraão não tinha imagem, não precisava ser carregado, não
tinha morada terrena e não precisava ser defendido. Além disso, era o Deus de Abraão
que tomava as iniciativas e dava os parâmetros para Abraão.

Era neste ponto da história que as civilizações começaram a tomar forma política,
começaram a implementar os Estados, estabelecendo suas formas de organização e
implementando relações entre si. Surgem as principais sociedades, o Egito, a
Mesopotâmia, a China, a Grécia e Roma antigas, os Persas, os Hebreus, os Fenícios, os
Celtas, os Etruscos, os Eslavos e os Povos Germanos.

Todas essas ascensões culturais, formam uma rede de descobertas e um


emaranhado de conjuntos de crenças e um conhecimento cultural muito distinto. Foi
inevitável a jornada de cada cultura e religião entre os povos. Os êxodos contribuíram
para que pessoas levassem seu conhecimento até outros povos, até, mesmo, a
peregrinação de Abraão foi um exemplo de divulgação da crença.

As religiões semitas mudaram padrões no mundo. Não se pode ignorar que a


facilidade em respostas, a padronização dos princípios divinos na criação e a origem dos
acontecimentos sucessivos na caminhada de líderes influenciam os pequenos grupos.

De uma forma breve, podemos entender que o mundo foi muito modificado
pelas religiões semitas, por exemplo, a religião Islã, do profeta Maomé, influencia no
panorama político mundial, dentro da era cristã, a partir do ano de 622 d.C., onde,
iniciou sua expansão, após a morte do profeta Maomé, com a instituição dos califados,
o mundo árabe inicia um processo de unificação e perseguição aos cristãos e judeus,
resultando, em guerras ideológicas, conhecidas como guerras santas.

Vamos tratar cada influência e cada característica nas unidades anteriores, onde,
vamos poder nos aprofundar nas intenções e consequências de cada um dos segmentos
religiosos semitas.
3 GUERRAS SANTAS

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/religious-symbols-representing-3-


monotheistic-religions-1313648825

3.1 A Crise do Terceiro Século, a tetrarquia e o Grande Cisma

Vamos começar falando sobre o cenário que contribuiu para as famosas guerras
santas. Primeiramente, vamos tratar de um assunto interno. Em 18 de março de 235
d.C. foi assassinado o imperador Romano, Alexandre Severo. Assim, o Império Romano
caiu em um período de 50 anos de guerra civil. Esse período é conhecido como “a crise
do terceiro século”.

Durante os anos 235 d.C. ao 284 d.C., houve paz nas fronteiras externas do
Império Romano, embora, internamente, houve uma grande rotatividade de
Imperadores e aspirantes mortos pelas próprias tropas. No ano de 293 d.C. Diocleciano
dividiu o império Romano, instituindo a Tetrarquia, a fim de conter as inúmeras revoltas
que ocorriam dentro do Império Romano.

Diocleciano, nomeou um imperador menos graduado denominado “César”,


subordinado a um imperador mais graduado, denominado “Augusto”. Por serem
Oriente e Ocidente, ficaram assim, quatro governadores dividindo o poder e
constituindo a Tetrarquia.

Estes imperadores não ocuparam Roma, ocuparam cidades estratégicas


regionais: Nicomédia, Sirmio, Mediolano e Augusta dos Tréveros.

A Tetrarquia durou até o ano de 313 d.C. e marcou a resolução da Crise do Século
III.
Entendemos, assim, que o Império Romano tinha uma divisão geográfica, porém,
o Império Romano Ocidental teve seu fim em 476 d.C. com a abdicação de Rômulo
Augusto e o Império Romano Oriental sobreviveu um pouco mais, indo, até o ano de
1453 d.C. (MORRISSON, 2013, p. 46-48).

Figura 1 - O assalto final e a queda Constantinopla em 1453

Fonte: https://www.shutterstock.com/image-illustration/final-assault-fall-constantinople-1453-
captured-200507513

O que nos importa na verdade neste conteúdo todo é entender que o Império
Romano sofreu divisões e junções ao longo de sua história e principalmente até o ano
de 1054 d.C., onde, houve o evento chamado de “O Grande Cisma” ou “Grande Cisma
do Ocidente”.

Este evento, pode ser considerado o compilador dos grandes motivos que vão
desencadear as “Cruzadas” e a “Guerra Santa”.

No final dos séculos X e XI, a Igreja se esforçou para cristianizar os costumes


da sociedade militar, propondo aos cavaleiros o ideal de proteger os fracos e
oprimidos e de defender a paz através da luta contra os salteadores. A Trégua
de Deus e os movimentos pela paz destinados a fazer respeitar esse ideal
iniciaram e, por um certo tempo, se limitaram ao sudoeste da França. O
Concílio de Narbonne (1054) decretou que “aquele que mata um cristão,
derrama o sangue de Cristo”. Sob a égide do papado, se organizou uma ação
armada ao serviço da Igreja; em terras cristãs, sua função era manter a ordem
e estabelecer a justiça; nas fronteiras, se destinava a combater os sarracenos.
Em 1063, Alexandre II declarou como sendo justa a luta contra aqueles “que
perseguem os cristãos e os expulsam de suas cidades” e, mais ainda, concede
o perdão dos pecados aos combatentes em tais empresas (MORRISSON,
2013, p. 7-8).
Não delongando muito sobre o evento, podemos dar um resumo, já, que
entendemos que o Império não vinha com seu poder consolidado ao longo dos séculos
anteriores.

O Grande Cisma, ocorreu, quando em 1054 d.C., os líderes da Igreja Católica


Romana e da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa (Igreja de Constantinopla), se
excomungaram mutuamente.

Figura 2 - Visita à primeira nação Cristã

Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/yerevan-armenia-26-june-2016-visit-1537731884

Recentemente, em 2016, o Papa Francisco, em uma reunião em Cuba,


juntamente com o Patriarca de Moscou, Cirilo I, os dois líderes se reuniram por duas
horas, juntamente com o presidente Raul Castro e fizeram declaração conjunta, com o
objetivo de aproximar as duas igrejas para combater a violência que ameaça extinguir a
presença de cristãos, católicos e ortodoxos, no Oriente médio e na África. Foi a primeira
reunião entre os líderes após 1.000 anos de divisão.

Anteriormente houve uma tentativa em 1965, onde, o Papa Paulo VI e o Patriarca


Atenágoras I tentaram aproximar as duas igrejas católicas, mas, só houveram avanços
nos processos de excomunhões, os quais foram retirados em 1966.

3. 2 Guerras Santas

Enfim, vimos que a Igreja Romana se dividiu no ano de 1054, mas, entendemos
que este foi um efeito final de desajustes que vinham desde séculos anteriores.
Vamos avançar na história: Em 1054 a Igreja se divide definitivamente. Os líderes
iniciam um processo de consolidação dos marcos religiosos e leis que regeriam cada
Igreja.

Enquanto isso... Um líder de um clã turco, chamado Seljuque desentendeu-se


com Yabgu, um líder supremo do clã Oguzes, ao qual pertencia e, assim, dividiu o clã,
que estava ao norte do mar Cáspio, nas estepes do Turcomenistão. Montou
acampamento no banco ocidental do baixo rio Sir Dária e ali, converteu-se ao Islã.

No início do Século XI, os seljúcidas migraram para o interior da Pérsia e tiveram


sua primeira batalha contra o Império Gasnévida. Os “seljúcidas”, como foram
denominados, se misturaram com a população Persa e adotaram a sua cultura e língua.

Em 1065 e 1067, os turcos seljúcidas, foram para a Armênia, do lado de dentro


das Fronteiras Bizantinas (Bizantinos = Igreja Católica Apostólica de Constantinopla),
dentro do território católico. Atacaram Antioquia, Icônio, Jerusalém (no ano de 1078),
Esmirna, e em 1091, Constantinopla é sitiada.

Podemos entender que já estavam ocorrendo guerras santas, pois, o domínio


Católico estava perdendo espaço e terras para o Islã.

Formada por contingentes feudais sobrecarregados por não-combatentes


marchando isoladamente, a cruzada não correspondia em absoluto à vontade
do papa, que havia desejado uma expedição unificada, dirigida
espiritualmente por seu legado religioso e secularmente por um comandante
militar leigo. Ela correspondia ainda menos aos desejos do imperador
bizantino, que havia triunfado sobre os invasores petchenegos ao norte,
derrotara Tzachas, o emir de Esmirna, e estabelecera por meios diplomáticos
um relacionamento pacífico com o sultão dos turcos seljúcidas de Rum, Kilidj-
Arslan, que estabelecera sua capital em Nicéia (MORRISSON, 2013, p. 16).

Em 1095, O Concílio de Clermont-Ferrand, inaugurado pelo Papa Urbano II, foi


um concílio não ecumênico, e teve como principal função, conclamar e conceder
indulgência plenária a qualquer um que fosse para o Oriente Médio, defender os
peregrinos, pois, as viagens mercantes estavam cada vez mais perigosas. Assim, o Papa,
prometeu salvação a todos os cristãos que morressem em combate contra os pagãos, a
maioria dos pagãos seriam os muçulmanos do Islã, assim, damos o entendimento de
como começaram as Cruzadas.

Com esta ação, o Papa, não só tentava uma reaproximação da Igreja de


Constantinopla, ortodoxa, como, dava demonstração de um poderio bélico muito forte
e buscava reaver monumentos e locais importantes da história do catolicismo.

3. 3 A Primeira Cruzada

Ao contrário daquilo que podemos imaginar, a primeira Cruzada não ocorreu no


Século XI, mas, no Século VIII, em seu início, o Califado Islâmico Omíada, conquistou o
Egito, o Norte da África, a Palestina a Síria e invadiu a Península Ibérica. Foi o primeiro
registro de povos de origem católica realizando uma luta de reconquista da terra, com
um cunho ideológico, foram católicos contra muçulmanos.

Em 1009 o califa Fatímida Aláqueme Biamir Alá, entra em cena e ordena a


destruição do Santo Sepulcro em Jerusalém, fato que traz a reação ao mundo cristão.

No mesmo momento, acontecia a derrota do Califado Omíada e outras dinastias


muçulmanas menores, também, estavam em derrocada, tais como: Aglábidas e os
Cálbidas. Estes grupos muçulmanos, batendo em retirada, se instalaram em cidades do
extremo sul da península Italiana.

A partir do final do século X, a instauração da paz no mar Mediterrâneo


favoreceu o movimento dos peregrinos, que aumentava sem cessar. O final
da pirataria muçulmana na Provença (972) e em Creta (961), o controle do
Mediterrâneo oriental pela marinha bizantina, a cristianização da Hungria e a
expansão da autoridade bizantina, que passou a abranger desde a Bulgária
até a Síria setentrional, tornaram menos perigosas tanto as rotas marítimas
como terrestres em direção à Terra Santa, nas quais os sultões da dinastia
fatímida davam toda a liberdade aos peregrinos desde que pagassem um
pedágio. A perseguição – dirigida também contra os judeus – ordenada pelo
califa Al-Hakim e que culminou com a destruição da basílica do Santo Sepulcro
(1009) foi apenas um episódio excepcional, logo seguido por um acordo entre
os fatímidas e o governo de Bizâncio, que permitiu a restauração do
santuário. A cristandade se revoltou por algum tempo, mas sua única reação
efetiva foi a conversão forçada ou o massacre de algumas comunidades
judaicas estabelecidas na Europa, que foram responsabilizadas pelos funestos
acontecimentos (MORRISSON, 2013, p. 07).

Era perceptível a disposição de conquista do Islã e, ao mesmo modo, era


perceptível ao cristianismo, promover reconquistas, a fim de também se apoderar de
novos territórios. Estava nascendo uma nova concepção política do cristianismo.

Em 1091, a guerra entre católicos e muçulmanos estava no seu auge. O controle


do Mar Mediterrâneo estava em jogo.

Surge a “Ordem de Cluny”, uma ordem monástica católica que se originou dentro
da Ordem de São Bento. Esta Ordem, mais centralizada no Papado, através da
independência de seus bispos, surge com a ideia de ser o suserano dos reinos europeus.
Ser um suserano é ser um doador de terras, assim, a ordem iria levantar guerreiros, que
iriam resgatar terras e devolvê-las aos “vassalos” (vassalos são os recebedores dos
dotes), tudo isso, em troca de lealdade, assim, os reinos ficariam leias ao Papado e Igreja
(troca de favores).

Assim, surgiu a união de reinos sob a orientação papal, os exércitos combatentes


do Islã.

Começa, de maneira abundante, a formação de exércitos por toda a Europa,


afim, de recuperar todas as terras que estavam nas mãos dos muçulmanos, pois, antes
de terem sido deles, eram de reinos cristãos e precisavam ser libertas, assim, como, os
locais sagrados de Jerusalém e onde os apóstolos constituíram bases de evangelismo.

Começou em 1074 a tentativa de reconquista das terras dominadas pelos


muçulmanos. O Papa Gregório VII, apelou aos Soldados de Cristo para que fossem ao
Oriente Médio defender o Império Bizantino que havia sofrido grandes derrotas contra
os Turcos Seljúcidas, porém, este pedido não foi atendido e sofreu oposição, mas,
ajudou a focar a atenção do Império Católico ocidental para o Oriente.
Retornamos ao ponto em que partimos no capítulo anterior, a Guerra Santa de
1095, com o Santo Discurso do Papa Urbano II, que conseguiu a atenção e o
convencimento da assistência armada, que marchou em direção à Terra Santa.

Enfim, as guerras santas tiveram um início ideológico, em reconquista da terra e


reconquista de locais sagrados para o cristianismo, mas, passou a ser fonte de escambo
entre o poder religioso e político da época, a fim, de garantir o crescimento de reinos e
perpetuar papados, bem, como, impedir o surgimento de novas sitas ou religiões pagãs.
4 AS RELIGIÕES SEMITAS NO MUNDO ATUAL

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-vector/peace-dialogue-between-religions-


christian-symbols-348628025

Vamos iniciar nosso tópico analisando os últimos 100 anos, isso nos dá uma
base maior para visualizar a expansão e tendência das religiões semitas no cenário
global. Para isso, vamos utilizar os dados do ano de 2012, levantados pelo Pew Research
Center, sediado em Washington DC, EUA. O Pew é um órgão que realiza pesquisas de
tendências globais e utiliza pesquisa de opinião pública e realiza pesquisa demográfica,
análise de conteúdo de mídia e outras pesquisas empíricas de ciências sociais.
Estaremos utilizando os dados de pesquisa de 2012, que foi realizada em mais de 200
países e conta com 2.400 fontes de dados. O Censo das religiões ao redor do mundo não
é algo muito novo. O primeiro censo a incluir perguntas acerca da religião, foi em 1776,
no Canadá.

Observe o gráfico:

Gráfico 1 - Distribuição dos Cristãos no Mundo

Fonte: ASSETS. 2011. Disponível em: https://assets.pewresearch.org/wp-


content/uploads/sites/11/2012/07/christianity-graphic-01.png. Acesso em: 05 abr. 2022.

Vamos fazer as considerações sobre o Cristianismo na última década:

O Cristianismo representa 1/3 (um terço – 2,18 Bilhões) da população mundial,


população mundial que é estimada em 6,9 Bilhões de habitantes.

Os cristãos estão geograficamente espalhados, não há como um continente


reivindicar ser o centro do cristianismo, como era a Europa anteriormente.
A um século atrás, a Europa detinha o maior número de adeptos do cristianismo,
mas, em um século, isto mudou muito. Hoje, apenas, cerca de um em cada quatro
cristãos do mundo vivem na Europa.

Em um século, o número de cristãos quase quadruplicou no mundo, passando


de 600 milhões para 2 Bilhões.

De 2012 para os dias atuais, passaram-se uma década, mas, a modificação no


cenário é pequena, não refletiu a tendência do último século.

O que vemos no cristianismo, é uma troca interna, denominacional. Troca-se de


liderança, mas, a fé continua cristã. É o caso da ascensão dos Evangélicos Protestantes,
nas últimas décadas, onde, a Igreja Católica Romana perdeu um número considerável
de fiéis, porém, estes, na sua grande maioria, continuaram professando a fé em Cristo,
não indo para outras religiões ou seitas.

Observe o gráfico:

Gráfico 2 - Principais Tradições Cristãs

Fonte: ASSETS. 2011. Disponível em: https://assets.pewresearch.org/wp-


content/uploads/sites/11/2012/07/christianity-graphic-02.png. Acesso em: 05 abr. 2022.

Vamos agora, observar no mapa, como estão localizadas geograficamente as


religiões pelo mundo e como estão localizadas as religiões semitas:

Figura 3 - Distribuição das Maiores Religiões do Mundo

Fonte: Wikimedia Commons contributors. As Religiões do Mundo, Distribuição das Religiões. 2008.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a6/Religion_distribution.png
Podemos observar que o Cristianismo e o Islamismo, cobrem maior parte dos
territórios, porém, a terceira religião semita, o Judaísmo, é quase imperceptível, o que
a faz ser considerada uma religião de porte médio em comparação das demais.

Em uma pesquisa de atualização realizada no ano de 2015, o Pew Research Center,


divulgou que o Islamismo é a religião que mais cresce no mundo, graças, a alguns
fatores, como: Taxa de fertilidade que é a estimativa da quantidade de filhos que uma
mulher tem até o fim do seu período fértil, mulheres muçulmanas tem cerca de 3,1
filhos, enquanto, as mulheres de outras religiões tem 2,3 filhos. Outro fator é a idade
dos muçulmanos, que são, em média, sete anos mais jovens que os demais integrantes
de outras religiões.

Hoje há cerca de 1,6 Bilhões de muçulmanos pelo mundo, a sua maioria na


Indonésia.

representando 23,4% da população global. Acredita-se, diante dos estudos e projeções,


que, em 2050 a Índia será a maior comunidade muçulmana do mundo, a qual, hoje é
hinduísta.

E o judaísmo?

Vemos que o judaísmo está espalhado por todo o mundo. Atualmente, estima-
se que cerca de 14,6 Milhões de adeptos pelo mundo.

Observe o mapa:

Figura 4 - População Judaica Mundial (2018)

Fonte: Berman Jewis Databank, Nova York. 2018. Disponível em:


https://www.jewishdatabank.org/content/upload/bjdb/2018_Map_World_Jewish_Population_(DB,_Del
laPergola).pdf. Acesso em: 05 abr. 2022.
A Agência de notícias Francesa (Agence France-Presse AFP), em uma de suas
publicações em 11 de abril de 2018, fez menção a publicação de Israel. Nesta publicação,
o governo Israelense, afirma que em 2018, setenta anos “após” a segunda guerra
mundial, o número de judeus no mundo reduziu 2,0 Milhões. Em 1939, antes da guerra,
eram cerca de 16,6 Milhões de judeus.

A maioria dos judeus que vivem fora de Israel está nos Estados Unidos da
América, cerca de 5,7 Milhões de judeus e em Israel, cerca de 6,6 Milhões.

O motivo por estarem concentrados ocorre devido a perseguição e a proteção


dada pelos Estados Unidos da América.

Embora tenha havido uma recuperação no número de adeptos ao judaísmo, após


a segunda grande guerra, atualmente, o crescimento tem sido modesto, cerca de 0,6%
(média) ao ano, nos últimos dez anos.

Nas Unidades de estudo a seguir, traremos um detalhamento maior dos dados.

SAIBA MAIS

A chamada “solução final” foi o nome dado pelos nazistas ao plano de genocídio
colocado em prática contra os judeus ao longo da Segunda Guerra Mundial, no
Holocausto. O plano voltava-se, principalmente, para a política de erradicação total da
população de judeus da Europa, porém, é importante lembrar que, no Holocausto, além
de judeus, foram executados ciganos, testemunhas de jeová, homossexuais, doentes
mentais e negros.

As câmaras de gás foram criadas com o intuito de aumentar o volume das


execuções realizadas. As primeiras câmaras de gás foram testadas contra prisioneiros
soviéticos em vagões de trem adaptados. A morte foi por envenenamento por monóxido
de carbono.

Estima-se que cerca de três milhões de judeus tenham morrido nos fuzilamentos
e nas câmaras de gás. Outros três milhões morreram em decorrência dos maus-tratos,
exaustão, fome, doenças etc. Os historiadores estimam que cerca de 2/3 dos judeus da
“Europa” tenham sido mortos pelas ações dos nazistas.

Fonte: SILVA, Daniel Neves. Solução final: o plano nazista de extermínio dos judeus na Europa. Brasil
Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/solucao-final-plano-nazista-exterminio-
dos-judeus-na-europa.htm.Acesso em: 12 maio 2021.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

Antes do Holocausto, haviam 16,6 Milhões de judeus no “mundo” e 1/3 foram


mortos, cerca de 6 Milhões de vidas. Atualmente estima-se cerca de 14,6 Milhões de
judeus em todo o mundo. Diante disto, você diria que o judaísmo está crescendo ou
diminuindo?

Fonte: O autor (2021).

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredito que você tenha uma compreensão sobre o que é ser um povo semita,
uma língua semita é uma religião semita. A grande importância de saber distinguir e
entender a origem do termo semita é um passo básico para um diálogo assertivo no
quesito de tolerância e convivência entre religiões. Precisamos entender que não
estamos tratando somente de uma preferência de fé, mas, de um conjunto de regras
que nasce com a comunicação, com a geografia e com experiências de fé exclusivas, e,
diferenciadas das demais existentes.

Quando entendemos que a necessidade atual das religiões e denominações é


coexistência, abrimos espaço para um ambiente voltado para o diálogo, porém,
precisamos entender que, da mesma forma que não existe sistema socioeconômico
perfeito no mundo, as razões para os grupos e indivíduos, na maioria das vezes, vai se
concentrar em seus próprios interesses e, cremos, que a tendência do diálogo atual
passa a conter um discurso muito mais remediador ao invés de preventivo à harmonia.

O ecumenismo, que, a simples modo, pode ser descrito como uma tentativa de
universalizar a fé e estabelecer uma harmonia diante das diferenças, precisa ser
analisado do ponto de vista de cada segmento religioso semita.

Movimentos originais têm surgido ao longo dos tempos com o intuito de gerar
um ambiente de diálogo, mas, embora, haja êxito em muitas áreas, ainda existem
extremos que precisam ser conquistados e somente estabelecendo um diálogo inter-
religioso, poderemos estabelecer um diálogo fora de cada esfera denominacional
religiosa.

Como dissemos em nossa introdução, não tínhamos a pretensão de tratar cada


uma das religiões de maneira profunda, nos seus aspectos intrínsecos, porém,
precisávamos entender seus reflexos externos. Nas demais unidades, iremos adquirir o
conhecimento individual de cada uma e colaborar para que haja compreensão correta
e entendimento para a compreensão dos efeitos que cada uma das linhas semitas traz
ao mundo, desde sua origem, até os dias atuais.
LEITURA COMPLEMENTAR

O que é “Ecumenismo”?

O termo “Ecumênico” provém da palavra grega οἰκουμένη (oikouméne), que


significa “mundo habitado”. Na sua origem, o termo descreve um processo que busca a
união apesar das diferenças. Em seu sentido mais restrito, é a busca da unidade entre
as Igrejas Cristãs.

Não se trata de uma união entre as igrejas, como era na antiguidade, mas,
atualmente, compreende-se que este movimento visa a aproximação e cooperação
entre os segmentos do cristianismo.

Melhor, ainda, este movimento procura estabelecer um diálogo e uma


cooperação comum, buscando superar as divergências históricas e culturais, através da
aceitação das diversidades entre as igrejas cristãs.

Uma base para o diálogo ecumênico é que a Igreja de Cristo vai além das
diferenças geográficas, culturais e políticas.

O Primeiro Concílio de Nicéia, em 325 d.C. foi o primeiro concílio ecumênico,


pois, refere-se tanto à reunião de pessoas de distintos lugares, quanto à doutrina e
costumes eclesiásticos. Posteriormente o Primeiro Concílio de Constantinopla, em 381
d.C., também foi um concílio ecumênico. O Credo niceno-constantinopolitano é
considerado ecumênico, por ser uma profissão de fé aceita por todos os cristãos.

William Carey, iniciou um movimento que preconizou o ecumenismo moderno


no final do Século XVIII. Ele, através das Missões Protestantes, propôs a cooperação
entre os cristãos para fazer frente à evangelização de um mundo cada vez maior a ser
cristianizado.

A face do ecumenismo não é única, o ecumenismo tem uma face múltipla.


Basicamente a sua divisão se dá em vários níveis e sua classificação mais compreensível
é dada das seguintes formas: Ecumenismo Espiritual, Institucional, Oficial, Doutrinal,
Local e Secular.

No Brasil, desde 1982, o órgão ecumênico mais expressivo é o CONIC (Conselho


Nacional de Igrejas Cristãs), formado pelas Igrejas Católica Apostólica Romana, Episcopal
Anglicana do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Presbiteriana Unida do
Brasil e Católica Ortodoxa Siriana do Brasil.

No mundo, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), foi fundado em Amsterdã em


1948, contando hoje com 350 igrejas do mundo e com mais de 500 milhões de fiéis.
Fazem parte do CMI a maioria das denominações protestantes e das igrejas ortodoxas,
porém, a Igreja Católica Romana, ainda, não está efetivada como membro, apenas,
participa de movimentos individuais (algumas das faces ecumênicas), como, por
exemplo, a Comissão de Fé e Ordem.

Como podemos observar, já foi feito muito progresso através do diálogo inter-
religioso pelo mundo, mas, ainda há muito o que fazer para chegar ao pleno objetivo do
ecumenismo.

Fonte: OLIVEIRA, R. F. de. Seitas e Heresias - Um Sinal do Fim dos Tempos, Raimundo Oliveira, CPAD.
2010, Pg. 173 - 178.
LIVRO

• Título: O Deus dos semitas

• Autor: João Evangelista Martins Terra.

• Editora: Edições Loyola; 1ª edição (6 março 2015).

• Sinopse: Os semitas tinham mais de cinco mil deuses, mas seu culto era irrelevante.
Quase não há estátuas dos deuses semitas. Entretanto, as estátuas dos adoradores são
milhares. Os reis, os nobres e os potentados faziam estátuas de arantes em pé, com as
mãos postas e os imensos olhos esbugalhados e a colocavam como seus representantes
nos templos. Essas estátuas são impressionantes: de mãos postas, em atitude de
recolhimento e oração, os olhos desmesuradamente grandes, direcionados para o céu,
olhando o infinito.
FILME/VÍDEO

• Título: Cruzada

• Ano: 2005.

• Sinopse: Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela
morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu
pai, que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter
a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também a esta meta, mas após a morte
de Godfrey ele herda terras e um título de nobreza em Jerusalém. Determinado a
manter seu juramento, Balian decide permanecer no local e servir a um rei amaldiçoado
como cavaleiro. Paralelamente ele se apaixona pela princesa Sibylla (Eva Green), a irmã
do rei.

• Link do vídeo: https://megafilmeshd.site/filmes/cruzada-dublado/

WEB

Munido de cruzes e espadas, príncipes, cavaleiros e pessoas comuns,


empreenderam jornadas que partiram da Europa em busca da Terra Santa. Esta deveria
retornar ao domínio dos cristãos.

Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=oh1ijevNSO8


REFERÊNCIAS

BACARJI, A. D. Eclesiologia Católica [livro eletrônico]/Arlene Denise Bacarji. Curitiba.


Intersaberes, 2019.

CABRAL, J. Religiões, Seitas e Heresias. Rio de Janeiro. Gráfica Universal, 1992.

DANTAS, Gabriela Cabral da Silva. "Fé Bahá'í". Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/religiao/fe-bahai.htm. Acesso em: 23 mar. 2022.

HEXHAM, I. Dicionário das Religiões e Crenças Modernas. São Paulo. Vida, 2003.

MATA, Sérgio da. História & Religião. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2010.

MORRISSON, C. Cruzadas. Porto Alegre. L&PM Pocket. 2013.

OLIVEIRA, R. Seitas e Heresias - Um Sinal do Fim dos Tempos. Rio de Janeiro. CPAD,
2002.

PEREIRA, Sandro. Religiões do Mundo Antigo [livro eletrônico]/Sandro Pereira.


Curitiba. Intersaberes, 2020.

PIAZZA, W. Religiões da humanidade. São Paulo. Loyola, 1997.

PIÉ-NINOT, S. Introdução à Eclesiologia. São Paulo. Loyola, 1998.

SARDE NETO, E. Islamismo: história, cultura e geopolítica. Curitiba. InterSaberes, 2020.

SCHNEEBERGUER, Carlos A. Manual Compacto de História: Ensino Fundamental. São


Paulo. Riddel, 2010.
SEMITA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Semita&oldid=62655043.
Acesso em: 22 dez. 2021.

TABELA DAS NAÇÕES. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia


Foundation, 2022. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Tabela_das_Na%C3%A7%C3%B5es&oldid=
63487590. Acesso em: 29 abr. 2022.

VAN BAALEN, J. K. O Caos das Seitas. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1970.

UNIDADE II

JUDAÍSMO

Professor Especialista Érlon Migliozzi

Plano de Estudo:

• História do Judaísmo;

• Estrutura Sociocultural e Religiosa do Judaísmo;

• Fé Monoteísta, Torá e a Diáspora;

• Principais Correntes do Judaísmo: Ortodoxo, Histórico e Reformado: Movimento

Sionista, a Shoah.

Objetivos de Aprendizagem:

• Identificar as características específicas de cada manifestação religiosa;

• Contribuir para o conhecimento das particularidades das religiões semitas;


• Refletir sobre a intolerância e o crescimento do terrorismo religioso.
INTRODUÇÃO

Caro (a) Aluno (a),

Você já foi apresentado aos principais assuntos que envolvem as Religiões


Semitas, porém, de uma forma abrangente. Nesta Unidade, vamos entender um pouco
mais sobre a Religião Judaica, a pioneira das três religiões principais religiões semitas e
a menor de todas elas.

Como diz o ditado popular, “nem sempre tamanho é documento”, vamos ver
como um grupo religioso que possui algo em torno de 15 milhões de adeptos, pode ter
sido grande influenciador na política global e, ainda, é responsável por grandes e
importantes resoluções.

Primeiro, vamos saber o que é o judaísmo, quais seus pilares e fundamentos,


porque ele influencia tanto no campo religioso e por onde ele influencia no campo
político. Posteriormente, vamos entender sua estrutura social, cultural e religiosa, como
uma cultura e uma nação se incorporam uma a outra e como, isto é, nos dias de hoje.

Finalmente, vamos tratar dos assuntos internos da religião judaica, será que há
consenso interno geral? Quais são os pontos de discussão entre os seus adeptos? A
religião judaica é uma só? Qual a herança dos acontecimentos passados para os dias
atuais? Há possibilidades de um diálogo inter-religioso com os judeus? Falaremos,
também, dos seus diferenciais, vamos retornar um pouco a falar da Torá, da Fé
Monoteísta e da Diáspora e suas repercussões pelo mundo.

Teremos nossas próprias conclusões, após lermos esta unidade de estudo e


vamos realmente conhecer um povo que é diferente dos demais, pois, tem a sua
concepção realizada diante do chamado de ser não apenas uma religião, mas, uma
nação diferenciada das demais.

Convido você a estarmos estudando a religião Judaica como ela se concebeu,


buscando contextos e motivos econômicos e políticos para que paradigmas sejam
quebrados e possamos falar com propriedade sobre o que é ser um judeu.
Vamos Aprender Juntos!!!

1 HISTÓRIA DO JUDAÍSMO

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/religion-image-jewish-holiday-


hanukkah-background-1847972008

Primeiramente, precisamos entender que ao falarmos sobre judaísmo, estamos


falando de uma religião. Muitos podem iniciar a história desta religião referenciando-se
no chamado de Deus a Abraão. Poderíamos, também, dizer que tudo começa com o
povo descendente de Sem, filho de Noé, através da escrita semita, mas, precisamos
entender que Sem, deu origem a um povo, Abraão separou-se do povo para formar uma
nação e, até, mesmo, Moisés, foi usado para libertar o povo de Deus originado em
Abraão.

A relação destes homens e destas gerações com Deus era íntima, não exerciam
culto a outros deuses, mas, a adesão a este estilo de vida, não traziam regras extras do
seu convívio diário. Eles adoravam ao Deus único de forma natural, estava em seu estilo
de vida.

Quando falamos da “Religião Judaica”, queremos trazer a compreensão da


crença e do conjunto de regras que a torna uma religião. Conhecemos a história destes
homens e destas gerações, através do Pentateuco e demais livros do Cânon Bíblico,
portanto, queremos buscar o que ocorreu após estas gerações que estivessem este
estilo de vida, como, uma religião de fato.

Uma grande contribuição para a propagação do judaísmo foram as guerras, as


conquistas territoriais, as expansões e sobretudo, os exílios, principalmente o
Babilônico.

Conforme Flávio Josefo (37-103), o Cativeiro Babilônico, ou exílio Babilônico, não


foi somente um episódio de tratamento de Deus na sua relação com o povo escolhido.
O regresso do cativeiro, marcou um novo período para a nação judaica, foi quando
surgiu o costume de leitura da Torá nas sinagogas, estamos falando do ano de 538 a.C.,
e cerca de cinquenta mil judeus retornaram para sua terra (JOSEFO, 2004, p. 491).

O primeiro retorno foi liderado por Zorobabel, descendente da Casa de Davi e o


segundo retorno ocorreu um século depois e foi conduzido por Esdras, o Escriba. Esdras
é responsável pela reconstrução do Templo, ou melhor, pelo período do Segundo
Templo. E pela formação da “Grande Assembleia”, que é o supremo órgão religioso e
judicial do povo judeu (JOSEFO, 2004, p. 486).

Podemos entender que neste período o judaísmo começa a ser organizado como
religião, tal, qual, conhecemos de fato. As práticas judaicas, alicerce visível da religião,
foram exercidas livremente até a destruição do Segundo Templo, este período foi até o
ano 70 d.C., onde o Imperador Tito destruiu o Segundo Templo (JOSEFO, 2004, p. 487)

A história dos judeus e do judaísmo no primeiro século, foram registradas pelo


historiador Flávio Josefo, um importante escritor judeu, que, se tornou cidadão romano
e escreveu importantes obras que contam a revolta dos judeus contra o império romano
e a história do mundo sob uma perspectiva judaica. Importante observar que Flávio
Josefo, viveu no primeiro século e acompanhou todo o cenário, ou seja, escreveu in loco,
todas as suas obras literárias.

A história do judaísmo, se entrelaça com a história do povo judeu novamente, de


uma forma dramática, pois, a teocracia judaica, era constantemente ameaçada por
impérios que queria a posse das terras da Judéia e o domínio sobre o povo.

O importante para nós, é entender que no ano 70 d.C., quando o Império


Romano destruiu Jerusalém, os judeus foram dispersos, vendidos como escravos. Anos
depois, em 132 d.C., houve a revolta de Shimon Bar Kochba, onde, os judeus voltaram a
conquistar Jerusalém e toda a Judéia, mas, como o Império Romano era muito forte,
três anos depois, novamente, os judeus foram subjugados (DUBNOW, 1953, p. 235).

Embora os judeus e o Segundo Templo tivessem sidos totalmente destruídos,


uma pequena comunidade de judeus permaneceu em Jerusalém, e aos poucos foi se
fortalecendo e ganhando volume com os judeus que iam regressando da dispersão
realizada pelos romanos.
A vida institucional e comum foi se renovando, os sacerdotes foram substituídos
por rabinos e a sinagoga tornou-se o foco das comunidades judaicas. A Lei Religiosa
Judaica, conhecida pelo nome de “Halacha”, serviu como elo comum entre os judeus e
foi passado de geração a geração.

Então, aqui, conhecemos a forma na qual os preceitos e leis judaicas foram


perpetuados nas gerações seguintes, através do Halacha.

O que é o Halacha?

A maioria das religiões baseiam-se num texto sagrado e dele é extraída uma série
de ensinamentos que servem como referência ética e espiritual. No judaísmo, o livro
sagrado é a Torá e, o conjunto de normas e leis que servem como guia, são conhecidas
pela palavra “Halacha”. É uma palavra de origem hebraica e pode ser traduzida como
“caminho”. Em outras palavras, a Halacha indica qual deve ser o caminho certo a seguir
para levar uma vida de acordo com os ensinamentos da Torá, tanto na escrita como na
oral. Este conjunto de leis é válido a todas as comunidades judaicas. Na prática, constitui
o modelo ético que serve como referência a qualquer praticante da religião judaica. No
cristianismo, os apóstolos, logo após a morte de Jesus, compilaram as normas e
condutas que um cristão deveria ter, este conjunto de ensinamentos, chamou-se
“Didaquê”, que referencia a doutrina dos apóstolos.

Não podemos esquecer que a Torá surgiu em um Concílio Canônico Judaico, logo
no início do Primeiro Século, com objetivo de blindar o ensino judaico de receber
influência dos ensinos apostólicos.

A história do judaísmo vai seguir os séculos seguintes sofrendo várias divisões,


devido ao entendimento gerado através dos estudos da Torá.

Grupos ortodoxos, conservadores, separatistas, enfim, correntes doutrinárias


divergentes surgem ao longo do tempo e, ainda, hoje, são motivo de fomento da fé
judaica por todo o globo terrestre.

Quero registrar que um desses grupos de judeus, conhecidos como “Judeus


Messiânicos”, acreditam que Jesus seja o Messias, mas, ignoram uma religião de Cristo,
pois, para o judeu messiânico, Cristo faz parte do judaísmo. Assim, não haverá judeu
messiânico comungando a mesma fé que os cristãos, pois rejeitam Igrejas Evangélicas
(DUBNOW, 1953, p. 235).
2 ESTRUTURA SOCIOCULTURAL E RELIGIOSA DO JUDAÍSMO

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/knesset-jerusalem-israel-october-3-


2019-1521277808

Quando falamos de uma estrutura sociocultural, estamos nos referindo a


qualquer processo ou fenômeno relacionado com os aspectos sociais e culturais de uma
comunidade ou sociedade, assim, um elemento sociocultural, tem a ver exclusivamente
com as realizações “humanas” e que podem servir tanto para organizar a vida comum à
sociedade como para dar a esta comunidade o seu significado.

Faz quase dois mil anos que o povo de Israel foi expulso de suas terras. Esse povo
judeu se instalou, principalmente, na Europa, no Norte da África e no Oriente Médio.

Com o passar dos séculos, eles formaram grandes comunidades judaicas em


terras próximas e distantes uma das outras. Nestas comunidades, experimentaram
longos períodos de crescimento e prosperidade, mas também foram, por vezes, alvo de
discriminação, ataques, expulsões. Cada momento de perseguição e violência fortalecia
sua crença no conceito de "Reunião dos Exilados" e inspirava indivíduos e grupos a
retornar à sua pátria ancestral, ou seja, o território de Israel e Judá.

No final do Século XIX, foi fundado o “Movimento Sionista”, o qual, com a


instituição do Estado de Israel, tornou-se Lei e mudou radicalmente a forma de agir de
todo o povo judeu. O conceito Sionista passou a ser um modo de vida.

O movimento se resume em, a grosso modo, conceder a cidadania a todo judeu


que quiser retornar para sua nação e estabelecer-se no país.

Foi durante o período de domínio britânico (1917-1948), que a comunidade


judaica situada nos territórios de Israel, organizaram a maior parte de sua estrutura
social e econômica, política e cultural.
Com a motivação sionista, o povo judeu desenvolveu instituições sociais e
políticas que exerciam autoridade sem soberania, com todos os níveis de comando e
execução mobilizados para a “consolidação” e o “crescimento”.

Segundo a Embaixada de Israel em portugal, o movimento sionista se


caracterizou pelo voluntariado e sua estrutura política, e teve no igualitarismo, sua
mensagem social.

Nos primeiros quatro anos após a formação do Estado de Israel (1948-1952), a


população em Israel dobrou de tamanho, passando de 650.000 para 1,3 milhões de
judeus, isto, trouxe uma mudança significativa na estrutura social de Israel.

O novo povo em Israel era composto por dois grupos principais: 1) A MAIORIA:
composta pela comunidade “Sefaradi” (que eram os judeus já estabelecidos no
território israelense), os “Asquenazi” (veteranos e sobreviventes do Holocausto) 2);
UMA GRANDE MINORIA: formada de imigrantes judeus recentes vindos dos países
Islâmicos do Norte de África e do Oriente Médio (EMBASSIES, 2020).

Enquanto a maioria da população que já estava estabelecida no território, estava


comprometida com fortes movimentos e convicções ideológicas e um modo de vida
democrático, os judeus que viveram durante séculos em territórios árabes aderiram a
uma organização social patriarcal (o exercer do poder emana dos homens e não dos
grupos ou instituições ou códigos de leis), e tiveram dificuldades em integrar-se à
sociedade de Israel e sua economia em desenvolvimento. E até 1950, os dois grupos
existiam praticamente sem interação social e cultural.

Constantemente o governo israelense sofria com protestos e era ignorado pelos


judeus do Norte da África e do Oriente Médio. Na década de 1960, estas exigências por
uma maior participação política, recursos compensatórios e ações efetivas para ajudar
a reduzir as diferenças entre os judeus do Norte da África e do Oriente Médio, e os
israelenses mais antigos, viraram ponto culminante nas pautas de interação e
consolidação da unidade em Israel.

Durante longos anos o povo judeu enfrentou vários momentos de tensão devido
a sua diversidade interna.
A sociedade israelense, também, teve de lutar pela independência econômica,
defesa dos ataques dos árabes do outro lado da fronteira. Mesmo assim, os pontos
comuns da religião, a memória histórica, e a coesão nacional dentro da sociedade
judaica foram fortes o suficiente para superar todos os desafios.

Israel sempre continuou a receber novos imigrantes, estes, provenientes dos


países livres do ocidente, e de áreas de risco. É da União Soviética, a onda de imigração
em massa mais recente. Estes judeus, durante anos pelo direito de emigrar para Israel
e aproximadamente 100 mil chegaram na década de 1970. Mas, desde 1989 mais de um
milhão já se instalaram no país.

Neste retorno ao lar, vieram muitos profissionais altamente qualificados,


cientistas, artistas, músicos famosos, cujos conhecimentos e talentos contribuem para
a vida econômica, científica, acadêmica e cultural do Estado de Israel.

De 1980 ao ano 2000, houve duas grandes migrações vindas da antiga


comunidade judaica da Etiópia. Acredita-se que esta comunidade existia no local desde
os tempos do Reis Salomão. Foram 50 mil imigrantes vindos de um ambiente africano
agrário para uma sociedade ocidental industrializada, isto, demonstra, o quanto o povo
judeu vai recebendo influências de outros costumes e demonstrando sua unidade,
mantendo suas bases religiosas locais (EMBASSIES, 2020).

E a religião? Como ficam os costumes religiosos diante da integração de tantos


grupos massivos advindos de costumes diversos e diferentes?

O povo judeu é um povo monoteísta, isto, é um componente tanto religioso


como nacional. Em meados do século XVIII, a maioria dos judeus do mundo vivia na
Europa Oriental. Eles tinham pouca interação com as sociedades ao seu redor, eram
discriminados e confinados à periferia. Nas suas comunidades, eles lidavam com seus
próprios assuntos, aplicando a lei judaica através do Halacha.

O desejo de emancipação e nacionalismo que aflorou na Europa do século XIX,


juntamente com o Iluminismo, desenvolveu uma abordagem mais liberal de educação,
cultura, filosofia e teologia. Assim, também, originou-se vários movimentos judaicos,
alguns desenvolvidos em linhas religiosas liberais, outros com ideologias nacionais e
políticas. Assim, a maioria dos judeus, rompeu com a ortodoxia e seu estilo de vida, com
alguns se esforçando para integrar-se completamente à sociedade em geral, um
movimento de secularização do povo judaico.

A sociedade judaica em Israel hoje é composta por: Judeus “praticantes” e “não


praticantes”, isto, dentro do universo “ultra ortodoxo” até o judeu que se considera
secular, mas, as diferenças entre estes grupos que se situam nos extremos, não são bem
definidas ou claras.

O judeu que possui um grau de adesão às leis judaicas e práticas religiosas é


considerado ortodoxo. Sendo, assim, a ortodoxia que define o grau de interação
religiosa do povo e consequentemente o grupo em que irão participar.

Podemos visualizar o povo judeu, residente no território de Israel, procedendo


da seguinte forma: a) 20% dos judeus israelenses se esforçam para cumprir todos os
preceitos religiosos, b) 60% seguem alguma combinação das leis de acordo com escolhas
pessoais e tradições étnicas, c) 20% são não praticantes (EMBASSIES, 2020).

Como o Estado de Israel foi considerado um Estado Judeu, o Shabat e as Festas


Judaicas são seguidos por todos, independente das suas outras práticas.

Não podemos avaliar o grau de adesão religiosa pelo índice de pais que
matriculam seus filhos em escolas com ensino religioso ou por eleitores que votam em
partidos praticantes ou não, pois, a necessidade tem feito que pais não praticantes
matriculem seus filhos em escolas religiosas e cidadão ortodoxos votem em partidos
políticos mais liberais.

Podemos dizer, hoje em Israel, a maioria pode ser caracterizada por “judeus
seculares”, estes, manifestam estilos de vida modernos, com certo respeito e prática
dos preceitos religiosos. Dentro dessa maioria de judeus seculares, muitos seguem uma
forma modificada da vida tradicional.

Alguns optam por atuar em correntes religiosas liberais. Já a minoria, sefaradi e


asquenazi, a grande maioria aderem a um modo de vida religioso, regulado pela lei
religiosa judaica. Participam da vida nacional do país e consideram o Estado Judaico
moderno como “o primeiro passo para a vinda do Messias e a redenção do povo judeu.”
Em um oposto, alguns dos judeus ultra ortodoxos acreditam que a soberania
judaica na Terra pode ser restabelecida “somente após a vinda do Messias”. Por isso
eles mantém estrita a observância à lei religiosa judaica. São famílias que moram em
bairros separados, têm escolas próprias, vestem roupas tradicionais, mantêm papéis
distintos para homens e mulheres e um estilo de vida estritamente definido e
contraditório a tendência de modernidade.

E a Sociedade do Kibutz, muitas vezes mencionada nos documentários e jornais?

É um modelo social e econômico. Baseia-se em princípios igualitários e comuns.

O Kibutz surgiu na sociedade pioneira do país (início do século XX) e transformou-


se em uma forma permanente de “vida rural”.

Estabeleceu-se uma economia próspera, no início essencialmente agrícola e mais


tarde introduziu indústrias e serviços, ajudou, com as contribuições de seus membros,
para a criação e construção do Estado.

Antes do Estado de Israel, ser considerado um Estado, e nos seus primeiros anos
de existência, o kibutz assumiu funções centrais no assentamento dos imigrantes, na
própria imigração e na defesa do território, porém, quando elas foram transferidas para
o governo, a ação entre o kibutz e o restante de Israel foi reduzida.

Sua posição de liderança influenciadora e mediadora, como uma vanguarda para


o desenvolvimento social e institucional, foi reduzindo rapidamente e desde a década
de 1970, o mesmo ocorreu com sua força política. Porém, a participação dos kibutzim
(territórios das comunidades) sempre foi maior do que sua proporção no restante dos
territórios do restante da população.

O Kibutz, nas últimas décadas, tornou-se mais introspectivo, enfatizando as


realizações individuais e o crescimento econômico da nação. Muitos kibutzim, mantém
a ética de trabalho do “faça você mesmo”, porém, tornou-se menos rígida e o tabu sobre
o trabalho terceirizado enfraqueceu. Hoje, um número maior de trabalhadores
assalariados, ou seja, terceirizados, está sendo empregado nos kibutzim (kibutzim =
comunidade que pratica o “modelo” kibutz). Concomitantemente, um número
crescente de membros dos kibutzim trabalha fora do kibutz, com seu salário sendo
agregado à renda do kibutz.

Figura 1 - Retrato de grupo de membros de um kibutz judeu, na Palestina. Ca. 1920-39.

Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/group-portrait-members-jewish-kibbutz-palestine-
242816485

O kibutz de hoje é a realização de três gerações: a) Os fundadores - motivados


por convicções fortes e uma ideologia definitiva. B) Seus filhos - nascidos na estrutura
social existente, trabalharam duro para consolidar a base econômica, social e
administrativa de sua comunidade. C) A atual geração - que cresceu em uma sociedade
bem estabelecida, enfrenta os desafios da vida contemporânea.

Atualmente, muito se discute sobre o futuro do relacionamento e


responsabilidade mútua entre o indivíduo e a comunidade do kibutz, suas ramificações
dos recentes desenvolvimentos em tecnologia e comunicações para a sociedade.

Alguns defendem e são receosos, que, ao adaptar-se às novas circunstâncias, o


kibutz está se afastando perigosamente de seus princípios e valores originais. Outros
acreditam que essa capacidade de adaptação é fundamental para a sobrevivência e a
permanência do modelo de economia primária do Estado de Israel.
3 FÉ MONOTEÍSTA, TORÁ E A DIÁSPORA

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/adult-jewish-man-holding-siddur-


book-1842426679

A origem da palavra “Judeu”, no hebraico é “yehudi”, no qual, o feminino é


“Yehudit”, que quer dizer “Judite”. Já no grego, a palavra “ioudaios”. O mais próximo da
língua portuguesa é no latim: “judaeus”. O termo foi utilizado pela primeira vez como
referência aos cidadãos do Reino Sul ou Judá. Antes, somente os homens membros da
tribo de Judá eram chamados como “is yehuda”, cujo significado é: “homens de Judá”.
Dos anos 597 e 586 a.C., houve o exílio das classes mais altas de Judá para a região sob
o domínio da Babilônia. Grande parte de judeus fugiram para o Egito. Entre eles estava
o profeta Jeremias. Assim, deu-se início à “Diáspora”, que é o fenômeno da dispersão
judaica por todo o globo até os dias atuais (SOUZA, 2019).

Na Diáspora, podemos elencar, como carro chefe, ou, uma característica de


destaque, a crença em uma única divindade, inatingível, mas, que interage
sobrenaturalmente com o seu povo. A fé monoteísta Abraâmica é atípica nas demais
religiões e cultos conhecidos na sua época de concepção. A fé monoteísta, tem indício
de ter se iniciado com o “zoroastrismo”, no Séc. VI a.C., porém, não vamos entrar mais
a fundo nesta manifestação monoteísta, pois, ainda, não há muito o que se provar em
referência a época do seu surgimento, embora, possamos aceitar que possa ter surgido
antes do período de Abrão, há diferenças na forma de soberania da divindade de Abraão
e a de Zoroastro. O Deus de Abraão é um Deus totalmente soberano, que não precisa
lutar para vencer oposição, ou seja, ele não tem opositor que o possa atingir, porém, no
zoroastrismo, o deus Aúra-Masda, precisará lutar com seu oponente, Arimã, que
representa o mal sobre o universo. Pelo fato de estarmos falando de semitismo, não
vamos entrar no assunto do zoroastrismo, mas, fica a dica para pesquisa e leitura, com
intuito de agregar conhecimento.
Outro expoente na fé monoteísta é o componente e didático manifesto através
da Torá, a qual, possui, uma versão escrita e oral, divisão, esta, que divide grupos judeus
até hoje. A Torá é o pilar do judaísmo. Ela abrange todos os fundamentos, leis e
ensinamentos do judaísmo. O Pentateuco é a Torá, e esta é, como conceituado a Torá
Escrita, ou Torah she-Bichtav. Deus também transmitiu a Moisés, a parte oral da Torá, a
Torah she-Be’alpeh, que consiste das interpretações e explicações dos mandamentos da
Torá Escrita. Segundo se crê no judaísmo pelos seus principais grupos, a Torá oral é
revelada na Torá escrita, claramente.

Conhecendo, agora, estas três faces do judaísmo, Fé Monoteísta, Torá e


Diáspora, podemos buscar, também, a compreensão destes elementos para o progresso
judaico. Ambos estão intrinsecamente ligados e completando-se no intuito de
fortalecimento da religião dos judeus.

A Diáspora foi um martírio para os indivíduos judeus, mas, foi o veículo de


propagação de um modelo de fé que o mundo não conhecia de fato. A Torá é a “cereja
do bolo”, pois, ela traz o conhecimento ao homem, é uma obra que permite seu uso
para o crescimento espiritual do indivíduo que a prática, assim, gera testemunho aos
que estão ao redor, influenciando de maneira positiva e conquistando adeptos.

Quando estudarmos o Islamismo, veremos, que o povo árabe desejava ter acesso
a Torá, porém, os judeus, no intuito de não receberem influência em sua raiz, não
permitiram o acesso dos descendentes de Ismael, assim, Deus, revelou-se ao povo árabe
através do Alcorão (isto na visão árabe).

O combustível da expansão judaica, certamente, é a fé monoteísta. Professar um


único Deus, totalmente soberano, resolveu as questões que outros modelos religiosos,
panteísmo, politeísmo, entre outros, não conseguiram resolver. No monoteísmo, um
Deus soberano não precisa prestar contas, pedir, somente o seu desejo e vontade são o
suficiente para que as coisas aconteçam.

O fato é que grande população mundial está sendo influenciada, direta e


indiretamente pela diáspora, que, pode ser considerada finda com a instituição do
Estado de Israel, pois, agora o movimento mundial é de retorno e, a fé monoteísta tem
seu espaço definido em todas as gerações, bem, como, a Torá será fonte de instrução
enquanto houver povo judeu.

Um diálogo bem-sucedido com o judaísmo precisa levar em consideração estes


pilares imutáveis. Podemos dizer que nestas questões, só deveremos apresentar uma
atitude de respeito, através da convivência e tolerância, atitudes, que por muitos anos
não foi seguida e provocou muitos embates regionais e até globais.
4 PRINCIPAIS CORRENTES DO JUDAÍSMO: ORTODOXO, HISTÓRICO E REFORMADO:
MOVIMENTO SIONISTA, A SHOAH

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/flag-original-proportions-israel-


silhouette-soldier-573407464

Quem é judeu? Esta pergunta tem gerado muita discussão até os dias atuais. Os
judeus devem ser compreendidos como uma comunidade social, religiosa, nacional ou
étnica-cultural? A Halaca, traz a resposta através da tradição judaica, e diz, que uma
pessoa que nasceu de mãe judia ou que se tenha convertido a religião judaica é um
judeu. Portanto, para ser “judeu” teria que ter descendência, consanguinidade ou
pertencimento religioso (independente do grupo ou movimento judeu). Essa definição
não teve adesão total, ela foi posta em xeque no contexto do Holocausto impetrado
pelos nazistas. Nesta ocasião, em que muita gente de ascendência judaica, mas, que não
era judeu, segundo a definição da Halaca, foi assassinada, o Holocausto evidenciou
questões acerca da inclusão e exclusão dentro da comunidade judaica.

O Estado de Israel, através de sua Corte Suprema, decidiu que um apóstata do


judaísmo não pode novamente reivindicar cidadania automática como judeu, sob a “Lei
do Retorno”. Recentemente o movimento Norte Americano da Reforma Judaica tentou
redefinir o termo JUDEU para incluir, além de convertidos à religião, qualquer pessoa
cuja descendência judaica possa ser comprovada e atestada, seja essa por via materna
(os Cohen), seja paterna (askenzin), mas, mesmo nessa última tentativa de definição
permanecem as exigências de se que pratique o judaísmo e se identifique como judeu
perante todas as sociedades.

Assim, vemos que já é difícil um consenso único sobre quem é de fato um judeu,
mas, o mais difícil não é identificar um judeu e, sim, qual a sua corrente filosófica e seu
posicionamento dentro do judaísmo.

Ao longo da história mais recente de Israel, os judeus se dividiram em várias


correntes e desenvolveram vários movimentos. Vimos que os judeus são bem definidos
quanto à sua fé, sua sacralidade e aprenderam muito com seus movimentos de idas e
vindas nos exílios e na última diáspora.

Vamos conhecer, alguns dos movimentos, ou correntes do judaísmo, lembrando,


que estamos nos referenciando aos grupos de maioria, que tem expressão dentro ou
fora do território do Estado de Israel.

O que é um judeu ultra ortodoxo?

Consiste em um dos três grandes ramos do judaísmo e caracteriza-se pela


observação rigorosa de costumes e rituais em sua forma primitiva e tradicional, segundo
as regras estabelecidas na Torá e no Talmud.

O judaísmo ultra ortodoxo, também se subdivide em duas ramificações: A


Ortodoxa Moderna e a Ultra Ortodoxa.

Os judeus ortodoxos representam 15% da comunidade internacional, são


radicais e não reconhecem sinagogas e rabinos não ortodoxos.

Quero que você analise agora, a “Crença” dos judeus ortodoxos, isso é muito
importante, pois, nos norteia aos acontecimentos globais envolvendo Israel e o motivo
pelo qual eles ocorrem. Observe o quadro abaixo:

Quadro 1 - JUDEUS ORTODOXOS - CRENÇAS

CRENÇAS DOS JUDEUS ORTODOXOS:


● Torá e suas leis são divinas e foram transmitidas por Deus a Moisés, são eternas e
inalteráveis.
● Há uma lei oral no judaísmo, que contém a interpretação oficial das seções legais da
Torá escrita e também é divina em virtude de ter sido transmitida por Deus a Moisés
juntamente com a lei escrita, como incluído no Talmud, Midrash (Forma de interpretação
da Torá) e numerosos textos relacionados, todos intrínseca e inerentemente ligados com
a lei escrita da Torá.
● Zohar (uma coleção de comentários místicos sobre a Torá) fontes da Cabalá (é um
método esotérico, disciplina e escola de pensamento no misticismo judaico) que são
fontes importantíssimas para o povo Judeu
● Segulot (orações ou rezas) que são os encantos protetores, que são para fins como
inveja, risco de vida, prosperidade, casamento e etc...
● Ética dos Pais ensina como os Judeus devem lidar com os seus filhos
● Não se aceita Jesus como salvador
● Auto responsabilidade pelos atos cometidos e não culpas atribuídas ao "Diabo"
● sem crenças ao Inferno
● Crenças no mundo vindouro
● Hashem é único como o Shemá Israel fala
● O messias, de acordo com este ramo do judaísmo, ainda virá. Não creem em Yeshua,
ou Jesus (como é denominado em língua portuguesa) como o ungido e filho de Deus.
● O Mashiach (messias) deverá ser da casa de David e virá após a vinda de Elias
● O beit hamidrash (sala de estudos) será construído na vinda de Mashiach (messias)
Fonte: MIDRASH. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. [1]

Entendemos que muito do que vai divergir dentro do judaísmo, pelo menos em
boa parte dele, é o tema “Messias”, “Diabo” e “Responsabilidade para com o Ensino
Religioso”.

Se os ortodoxos são judeus conservadores, o que podemos entender sobre os


ultra ortodoxos?

O judeu ultra ortodoxo é conhecido como “haredi”. Este é resistente à mudança


e abrandamento das leis judaicas. Ele mantém o embelezamento das leis com sua
diferenciação de outros povos como vestimentas e costumes fortes, entre outras
palavras, são adeptos de usos e costumes, tradição e rituais imutáveis. Em algumas de
suas correntes encontramos um diálogo contra a existência do Estado de Israel e,
obviamente, contra o sionismo porque para estes grupos um Estado Judeu só pode
existir com o “advento da vinda do messias”.

Há uma corrente pequena chamada Neturei Karta, que é antissionista.

Na ultra ortodoxia judaica, o mais importante é saber suas correntes, assim,


temos uma dimensão onde o judaísmo tem sido radical e porque tantas divergências
políticas contra os haredis.

Acompanhe a tabela a seguir:

Tabela 1 - OS JUDEUS HAREDI

SUBDIVISÕES DA ULTRA ORTODOXIA JUDAICA (JUDEUS HAREDI):

● Litaiim ou Mitnagdim - Este é o grupo maior e o mais homogêneo entre os


haredim. Esta linha teve a Lituânia como seu grande foco inicial, mas
existia em toda a Europa. Pode-se reconhecê-los por sua vestimenta.
Normalmente usam terno escuro com blusa branca, kipá preta e, sobre
ela, chapéu de aba reta. Diferentemente dos hassidim, que usam capota,
chapéus diferentes, alguns de pele, etc... Este grupo é o grupo do “contra”
o judaísmo espiritualizado e místico.
● Hassidim – É um dos maiores grupos dentro dos ashkenazi e é originário
da Ucrânia. Também são conhecidos pelas suas vestes, mas, para
diferenciar os diversos grupos dentro de seu próprio grupo. São aqueles
judeus que usam chapéu de pele, os quais, cada tamanho designa o
grupo ao qual pertence.
● Haredim sefaradim – São judeus originários da península Ibérica
(Espanha e Portugal), possuem hábitos diferentes dos outros ashkenazin
do restante da Europa. Também se subdividem em três grupos.
● Haeda Hacharedit e Neturei Karta – São totalmente contra o Estado de
Israel, não recebem sequer verbas e são totalmente contra o sionismo.
● Haredi Moderno - É um pequeno grupo entre os haredim, mas tem
crescido muito, principalmente nos Estados Unidos. Em Israel, este grupo
não tem uma presença forte na comunidade haredi. Mantém o padrão
religioso, mas, não deixam de ter os luxos do mundo moderno.
Fonte: Enciclopédia Britânica. Disponível em: https://www.britannica.com/. Acesso em: 05 abr. 2022.

O judaísmo histórico é o judaísmo que surge desde o início e que tanto tratamos
até agora. Uma religião que mantém não somente os princípios como a tradição nos
ritos. A inflexibilidade no desenvolvimento das práticas culturais.

E o Judaísmo Reformado?

Surgido em 1801, na Alemanha, através do comerciante Israel Jacobson, com o


intuito de tirar os judeus da margem da sociedade, onde, só exerciam a profissão de
comerciante. Jacobson, motivado pelo movimento protestante da época, aproximou os
judeus locais dos cristãos, afim, dos mesmos interagirem entre si e a cultura judaica não
ser mais uma barreira para a aceitação dos judeus na sociedade local. Jacobson
introduziu uma nova dinâmica nos cultos judaicos, introduziu órgão de tubo, coral, e
introduziu as crianças judias no ambiente educacional burguês, propiciando amplitude
de conhecimento técnico e profissional. Foi tão radical, que passaram a chamar as
sinagogas de templos. São antissionistas, portanto, não são reconhecidos em Israel,
porém, é uma das vertentes mais crescentes no mundo, principalmente nas
comunidades Alemãs.

E o Holocausto, o que podemos dizer sobre ele?

O termo Shoah é originário de um dialeto alemão falado pelos judeus ocidentais.


É a palavra substituta do termo holocausto.

Falar do Shoar ou Holocausto, é voltar aos velhos problemas enfrentados pelos


antepassados judeus, mas, agora, de uma forma mais agressiva, com cunho genocida.

Os assuntos que falamos anteriormente, mostram um sionismo pós-guerra. O


holocausto iniciou-se praticamente no mesmo tempo em que a Segunda Grande Guerra
teve início em 1939, com Adolf Hitler invadindo a Polônia.

Nos seus discursos, Hitler enfatizava que o problema de empobrecimento da


Alemanha, ocasionado pelas taxas e sanções impostas pelos outros países europeus
após a derrota na Primeira Grande Guerra, poderia ter um fim mais rápido se os alemães
tomassem posse das riquezas e bens dos judeus. Este discurso, tem várias vertentes,
mas, sabe-se que o extermínio dos judeus era iminente nos planos da Alemanha.

Não podemos dizer que o judaísmo sofreu um impacto contrário à diáspora, ou


um retrocesso, porque o mundo, embora tenha perdido seis milhões de judeus,
manifestou influência direta e indireta da religião judaica. Neste período, o espírito
judaico foi revelado em vários locais do mundo. Como dizemos na unidade anterior, o
judaísmo tem se recuperado em números a cada década.

O antissemitismo proclamado por Hitler virou uma prática de extermínio. Falar


do holocausto para a nossa geração, talvez, sou como algo superado, ou visto como algo
que não acontecerá novamente, mas, para um judeu, as marcas são muito profundas,
pois, estamos falando de uma ou duas gerações passadas, histórias de famílias inteiras
foram apagadas, interrompidas.

O efeito destas perseguições, desde o embrião da nação israelita, com Abraão,


Isaac, Jacó, sempre produziu reações de crescimento e desenvolvimento para o povo
judeu e sempre acarretou em transformações para o mundo.

O holocausto é um modelo daquilo que o extremismo pode ocasionar, é um


alerta para aqueles que ignoram causas sionistas ou antissionistas, não somente no caso
dos judeus, mas, existem outros movimentos de posse territorial pelo mundo.

Que o diálogo religioso nos dias atuais, não se espelhe no monólogo que foi o
holocausto.
SAIBA MAIS

Após o exílio na Babilônia o termo “judeu” passou a ser usado para se referir a
todos os descendentes desse grupo étnico ou religioso ou, simplesmente; identificados
com ele, sem exigência da pertença racial ou de nacionalidade. Um exemplo encontra-
se no livro de Ester 2,5: Mardoqueu é identificado tanto como judeu quanto como
membro da tribo de Benjamim. Dessa maneira, o termo “judeu” começou a
corresponder à outra designação bem anterior que é “israelita”.

No N.T., “judeu” é um termo complexo, pois pode designar tanto Jesus com seus
seguidores, como também alguns de seus adversários. A rivalidade entre cristianismo e
judaísmo teve raiz nas menções negativas dos judeus no N.T., bem como também
similaridade de som com o nome de Judas, o traidor. Tudo isso, favoreceu que no mundo
cristão judeu passasse ser uma palavra pejorativa, pois, teriam sido eles, os responsáveis
pela crucifixão de Jesus.

Fonte: SOUZA, J. A. Como definir um Judeu. 2019. Disponível em: http://www.pastoraluniversitaria.puc-


rio.br/2019/08/11/como-definir-um-judeu/. Acesso em: 31 ago. 2021.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

“É o relacionamento entre o judeu e seu Criador que define seu Judaísmo, não
seu reconhecimento desse relacionamento ou sua concretização na vida diária.” Sendo
assim, porque ter um Templo para se praticar o judaísmo? Vamos refletir.
Fonte: O autor (2021).

#REFLITA #
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) Aluno (a), buscamos trazer a vista, tudo aquilo que é pertinente para a
compreensão da Religião Judaica. As influências, tanto recebidas, como criadas pela
existência do judaísmo é algo contínuo, que faz parte do momento. Estudar o
judaísmo, para compreensão é adentrar num campo, às vezes, desconfortável, pois,
nos impele a entender lados totalmente opostos de fé.

Nos propomos a aprender a história desta religião e, de fato, compreendemos


que é uma religião que está intimamente ligada na cultura e no estilo de vida de uma
nação por inteiro.

Também, entendemos que suas bases de fé são pilares inabaláveis dentro da fé


que professam, tanto, que nos milhares de anos que se passaram, nas inúmeras
tentativas de expulsão e extermínio, essas bases continuam sólidas.

No Séc. XVIII, com o advento do racionalismo, o judaísmo sobreviveu de forma


preponderante, adquirindo mais adeptos e conquistando maiores espaços.

A guerra intelectual para pôr em cheque a religião judaica, a fim de frear seu
crescimento, trazendo certo descrédito ao que se prega, surtiu efeito benéfico para a
religião, a qual, conseguiu migrar seus seguidores para várias regiões antes não
atingidas.

Concluímos que o judaísmo é uma religião que zela pelos seus membros e não
traça planos de ação para expandir, pelo contrário, o movimento sionista busca o
retorno e a concentração de uma nação em um só lugar.

Nós não sabemos como a história de Israel caminhará daqui por diante,
juntamente qual será o futuro do judaísmo, mas, os judeus ainda esperam um messias,
que, irá libertar integralmente o seu povo e irá proclamar através das leis judaicas, a paz
para a nação.
Sabemos que é dito em Apocalipse, capítulo 21, que novos céus e novas terras
existirão e a Nova Jerusalém será o lugar de vida eterna para a Nação Santa e o Povo
Escolhido de Deus. Shalom, Adonai!!!

LEITURA COMPLEMENTAR

Israel proclamou sua independência em 14 de maio de 1948. Menos de 24 horas


depois, os exércitos do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram Israel, forçando-
o a defender-se.

Na chamada Guerra de Independência de Israel, as recém-formadas e pouco


preparadas forças de defesa de Israel, expulsaram os invasores em um período que
durou aproximadamente 15 meses e custou a vida de seis mil israelenses (quase 1% da
população judaica do país na época).

Durante os primeiros meses de 1949, negociações diretas foram realizadas sob


as mediações da ONU entre Israel e cada um dos países invasores. O Iraque, se recusou
a negociar com Israel.

A Guerra dos Seis Dias (1967), mostra que Israel, desde os seus primeiros
momentos de criação sofreu com ataques e guerras. O o aumento de ataques terroristas
árabes através das fronteiras com o Egito e a Jordânia, e vários bombardeios de
artilharia da Síria, vindos de assentamentos agrícolas no norte da Galileia e grandes
ataques militares dos países árabes vizinhos.

O Egito enviou um grande número de tropas para o deserto do Sinai (em maio
de 1967), ordenou que as forças de paz da ONU (estabelecidas lá a uma década) se
retirassem da região, restabeleceu um bloqueio do Estreito de Tiran, e fez em uma
aliança militar com a Jordânia. Israel viu-se diante de exércitos árabes preparados para
o ataque em todas as frentes.

Conforme seus vizinhos se preparam para destruir o Estado Judeu, Israel


reivindica seu direito de legítima defesa, lançando um ataque antecipado em 5 de junho
de 1967, contra o Egito pelo sul do país. Realizou um contra-ataque contra a Jordânia
pelo leste e afrontou as forças sírias entrincheiradas nas Colinas de Golã pelo norte.

Depois de seis dias de batalha, as antigas linhas de cessar-fogo foram


substituídas por outras, com a Judeia, Samaria, Gaza, a Península do Sinai e as Colinas
de Golã sob o controle de Israel. Consequentemente, as aldeias do norte foram
libertadas após dezenove anos de bombardeios sírios recorrentes; a passagem para
Israel através do Estreito de Tiran estava conquistada e Jerusalém, que estivera dividida
entre Israel e Jordânia desde 1949, foi reunificada sob a autoridade de Israel.

Fonte: Consulado Geral de Israel em São Paulo. História: Estado de Israel. Disponível em:
https://embassies.gov.il/sao-paulo/AboutIsrael/history/Pages/HISTORIA-Estado-Israel.aspx. Acesso em:
05 abr. 2022.
LIVRO

• Título: Judaísmo E Messianismo

• Autor: Rav. Maorel Melo.

• Editora: Fonte Editorial.

• Sinopse: O livro Judaísmo e Messianismo, de Rav Maorel Melo, nos leva a um


mergulho dentro da cultura e tradição judaica. Mesmo o autor tendo grande erudição o
texto é de abrangência popular permitindo ao leitor a fácil compreensão a tradição
religiosa, literária e histórica de um povo que interferiu em todo o ocidente conhecido
hoje. Porém não apenas ao judaísmo do primeiro testamento (Antigo Testamento), mas
ao judaísmo do segundo testamento (Novo Testamento). Rav Maorel faz seu passeio por
inúmeros personagens que toda a cultura cristã é conhecedora. Não há apenas uma voz
dentro do judaísmo nem uma dentro do cristianismo, mas muitas. Este livro irá
possibilitar ao leitor o conhecimento desta intersecção entre estas tradições religiosas
e sua atualidade nas perguntas que são feitas hoje. Esse livro também conhecido com
o título de "As muitas vozes".
FILME/VÍDEO

• Título: O Décimo Homem

• Ano: 2015.

• Sinopse: Ari, que construiu uma carreira de sucesso em Nova York, pensa ter deixado
seu passado para trás. Mas seu distante pai, Usher, que gerencia uma instituição de
caridade em El Once, antiga e unida comunidade judaica em Buenos Aires, o chama de
volta à cidade natal. O que segue é uma comédia de erros, de conexões, emoções de
pessoas perdidas e encontradas e a contemplação sobre a real extensão de poder
realmente se esquecer do passado.
WEB

O Brasil dos Judeus: o que os brasileiros sabem sobre os judeus. Especial da TV


Record, exibido no Domingo Espetacular.

Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=jkDPgMYnk_k


REFERÊNCIAS

DUBNOW, S. História Judaica. Versão portuguesa de Ruth e Henrique Iussim. Buenos


Aires: Editora S Sigal, 1953.

JOSEFO, F. História dos Hebreus. Tradução de Vicente Pedroso. Rio de Janeiro: CPAD,
2004.

EMBASSIES. O povo: Sociedade judaica. Embaixada de Israel no Brasil. 2020.


Disponível em: https://embassies.gov.il/brasilia/AboutIsrael/People/Pages/POVO-
Sociedade-judaica.aspx.

SOUZA, J. A. Como definir um Judeu. 2019. Disponível em:


http://www.pastoraluniversitaria.puc-rio.br/2019/08/11/como-definir-um-judeu/.
Acesso em: 31 ago. 2021.

UNIDADE III

CRISTIANISMO

Professor Especialista Érlon Migliozzi

Plano de Estudo:

• O mundo Cristão e suas consequências históricas;

• Estrutura sociocultural e religiosa do cristianismo;

• Aspecto gnosiológico da fé cristã;

• Duas grandes correntes do pensamento cristão.


Objetivos de Aprendizagem:

• Identificar as características específicas do cristianismo;

• Contribuir para o conhecimento das particularidades da cultura cristã;

• Refletir sobre a inculturação provocada pelo cristianismo.


INTRODUÇÃO

Caro (a) Aluno (a),

Falar do Cristianismo para quem está inserido no contexto cristão desde o seu
nascimento parece algo muito simples, porém, estaremos estudando uma das religiões
mais observada e discutida nos últimos dois mil anos.

Com o passar dos anos, vamos nos atentando aos ritos e práticas cotidianas da
religião, porém, para chegarmos no atual momento do cristianismo, muitas interações
foram realizadas entre a religião e o mundo. Estaremos falando de uma religião que,
sem dúvida, ditou o progresso social, científico e cultural no mundo, principalmente no
mundo Ocidental.

No primeiro capítulo, vamos trazer a importância da religião de Jesus Cristo, o


impacto que ela causou no mundo, sua contribuição para a evolução do pensamento e
da Filosofia e as transformações que ela ocasiona.

Em nosso segundo capítulo, vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto


da estrutura sociocultural e religiosa desta religião, vamos entender a característica
inclusiva da comunidade cristã e como ela interferiu no conhecimento e na busca por
desenvolvimento humano e social.

Algo muito importante para nós é entendermos porque pode ser difícil a fé cristã,
talvez, para aqueles que já vieram de um berço cristão, muitos aspectos do
conhecimento e do pensamento cristão podem ser praticados e entendidos sem muito
questionamento, mas, a priori, vamos trará no terceiro capítulo dos aspectos do
Pensamento Cristão, progredindo ainda mais no conhecimento desta religião.

Após conhecermos a formação, o impacto cultural, os aspectos gnosiológicos da


fé cristã, conhecermos a estrutura religiosa, precisaremos desenvolver, no quarto
capítulo, um estudo sobre as correntes filosóficas que propiciaram o cristianismo a se
desenvolver e permanecer com os mesmos princípios até os dias atuais.
Será uma maravilhosa oportunidade de conhecer ainda mais esta religião que
tanto faz parte do cotidiano do Mundo Ocidental. Convido você a estar receptivo e
buscar mais conhecimento com esta unidade.

Vamos ao estudo!!!
1 O MUNDO CRISTÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS HISTÓRICAS

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/tomb-empty-shroud-crucifixion-


sunrise-resurrection-1658002756

Tecnicamente, o cristianismo é uma religião monoteísta que derivou do judaísmo


a mais de 2000 anos. Originou-se, também, no Oriente Médio e é a maior religião do
planeta, com cerca de trinta por cento da população mundial. É a religião mais influente
do Mundo Ocidental.

Caracteriza-se pela fé, na qual, Deus se manifestou através de seu filho Jesus de
Nazaré, e é o “Cristo”. O cristianismo é o solo do desenvolvimento das civilizações do
Mundo Ocidental.

Vamos entender primeiro o que foi o “Helenismo” ou “Cultura Helenista”.

O Helenismo é o período de domínio da cultura grega que se seguiu após a morte


de Alexandre O Grande (323 a.C. até 146 a.C.), no Mundo Antigo.

O Império levantado por Alexandre Magno (ou Alexandre o Grande)


caracterizou-se por levar a cultura grega (chamada helênica) para as regiões que
conquistou. Ficou conhecido, também, por integrar os elementos das culturas
conquistadas, como aqueles da cultura persa (da qual Alexandre era um grande
admirador), e com os elementos da cultura grega. Esse processo construiu um mundo
novo, “ecumênico e integrado” na Antiguidade que recebeu o nome de Helenismo ou
Período Helenístico.

Quem criou os termos “helenismo” e “helenístico” foi o alemão Johann Gustav


Droysen (BRIANT, 2013, p. 48).

Precisamos entender que o mundo no qual Jesus surge é um mundo em plena


transição, pois, todo império que há décadas e até a séculos estavam sob o domínio da
cultura helenista, agora, começam a dar espaço para a introdução do Império Romano,
que, pouco a pouco foi ocupando os territórios alexandrinos através da posse dos
tronos. Os encontros das culturas gregas e judaica, sob o domínio Romano foi um êxtase
cultural e um período de notada mudança nos reinos do Oriente Médio.

O cristianismo foi tão influente que já no Séc. IV havia se tornado a religião


dominante do Império Romano.

Figura 1 - O Império Romano em sua maior extensão em 117 d. C. na época de Trajano

https://www.shutterstock.com/image-vector/roman-empire-greatest-extent-117-ad-
203589544

O Império Romano em sua maior extensão em 117 d.C., na época de Trajano.

Bem, já sabemos muito sobre o que é o cristianismo, como surgiu, mas, quais as
consequências que esta estrutura religiosa trouxe para a civilização?

O foco do nosso estudo, praticamente se inicia agora, pois, por ser uma religião
de muitos e, talvez a sua religião, crescemos a sua sombra, recebendo informações que
se tornam óbvias ao longo do tempo, mas, podemos observar, se analisarmos mais
ceticamente, que, existe uma contracultura ao cristianismo. Assim, pergunto, se o
cristianismo é bom, porque há oposição por parte de outras religiões e o que ela
ocasionou com sua existência.
Não nos damos conta que o cristianismo é conhecido como uma religião
tolerante. Tolerante, quer dizer que se permite a existência e prática, juntamente com
outras religiões. É ordeira e permissiva na sua essência.

Mas, isto pode não ser bem assim, pois, o cristão (quem é adepto ao cristianismo)
pode não ser sempre tolerante e também, outrora, pode ter sido de outra religião, ou
seja, se é uma religião tolerante, porque não é como o judaísmo, que não interfere nas
demais religiões, ou melhor, não tira adeptos de outras religiões. Lembre-se que para
ser um judeu, precisa ter relação com as Leis Judaicas e até a ancestralidade Abraâmica.
É nesse ponto que se inicia o impacto do cristianismo no mundo.

Já no termo usado para seu local de reunião, o cristianismo já se diferencia, pois,


a palavra portuguesas “igreja” é uma composição grega (Ekklesía = ek “para fora” e kaléo
“eu chamo”) junção do que tem o sentido traduzido como “chamados para fora”, ou
seja, o cristão adota um princípio político grego de reunir-se fora de suas casas, a fim,
de discutirem temas propícios para a comunidade. Por isso quis que você entendesse
um pouco sobre o mundo helênico, porque houve várias influências no meio cristão.

O cristianismo cresceu de forma inteligente no Mundo Ocidental, de maneira


que formou a história desta sociedade. E a igreja primitiva trabalhou fortemente os
serviços sociais, os apóstolos ordenaram diáconos para o serviço de distribuição de
alimento aos seguidores do Caminho (assim eram chamados os seguidores de Cristo nos
primeiros momentos).

Através da Educação a Igreja se estabeleceu no ocidente, porque, formou várias


universidades e incentivou o crescimento intelectual e técnico em várias épocas e
gerações, até hoje. Se você se lembrar do estudo do judaísmo, você lembrará que
somente com o Judaísmo Reformado na Alemanha, em 1881, que os judeus começaram
a se dedicar em outros ofícios, antes, eram somente comerciantes. A Igreja já se lança
sobre um pilar de ensino.

A ciência foi fortemente expandida através de cristãos. Vários jesuítas (Uma


Ordem Religiosa de 1534 originada por estudantes da Universidade de Paris), estão
entre os luminares na astronomia, genética, geomagnetismo, meteorologia, sismologia
e física solar, tornando-se alguns dos "pais" dessas ciências.
Figura 2 - Inácio de Loyoia: Líder da Ordem Jesuíta, França, 1869

https://www.shutterstock.com/image-vector/ignatius-loyoia-vintage-engraving-popular-france-
1814709653

Inácio de Loyoia. Líder da Ordem Jesuíta. França, 1869.

A medicina foi fomentada pelos cristãos, grandes organizações globais foram


criadas através do cristianismo, como, movimentos em prol da humanidade e paz
mundial, podemos lembrar da Cruz Vermelha, por exemplo. Embora, hoje, receba
influência de várias religiões e segmentos sociais, teve origem cristã.

A cultura mundial se tornou um meio de expressão de etnias por todo o mundo


e foi incentivada pela igreja, que fomentou culturas locais com o intuito de geração de
renda e benefício para as comunidades.

A política recebeu grande influência, pois podemos citar as descobertas do Séc.


XV d.C., as Cruzadas, que mudaram o cenário da Europa e Oriente Médio (SILVA, s/d).

Qual foi o carro chefe do cristianismo no mundo? Podemos dar a seguinte


resposta: “Os ensinos de Jesus”.

Jesus pregava a simplicidade, um mundo que tem relacionamentos voltados para


a multilateralidade, onde, todos são beneficiados nas ações. Através de parábolas,
como, a do “Bom Samaritano”, Jesus prega a igualdade com equidade, a fraternidade e
muitos outros adjetivos que vão contra a prática de um mundo que busca a conquista a
qualquer custo.

O cristianismo influenciou reinos e regiões, através da geração de Leis que foram


voltadas para os direitos humanos, inclusive, isto é coisa de cristão, na sociedade
judaica, turca, árabe, não havia este diálogo.

Outras práticas deploráveis dentro da sociedade antiga, foram extintas através


do cristianismo, os sacrifícios humanos, a poligamia, a escravidão, o divórcio, o incesto,
a infidelidade, todas estas práticas foram redesenhados dentro das sociedades que se
declararam cristãs. Só assim o mundo poderia prosseguir para um crescimento social
sadio, assim, a sociedade recebe pilares morais e éticos que só com o advento do
cristianismo aconteceu.

Como não deixar de dizer sobre o calendário, a medida do tempo foi


parametrizada no nascimento de Jesus e em 2012, menos de uma década atrás, na
relação de pessoas mais influentes da humanidade, entre as cem pessoas listadas,
sessenta e cinco eram cristãs.

De fato, o cristianismo impactou muito todos os setores da sociedade, ocidental


e indiretamente a oriental, pois, freou movimentos de religiões e culturas orientais,
ocupando espaços importantes na economia de muitos destes países.

Não é só uma religião tolerante, mas, uma religião transformadora.

Algo que precisamos mencionar aqui, neste ponto do estudo, é que o


cristianismo, ou melhor, os ensinos de Jesus, enfatizavam o erro do extremismo judaico
da época, onde, pessoas eram excluídas e deixadas à margem da sociedade. Jesus,
ensina aos seus seguidores que a prática do que viria a ser o cristianismo, deveria ser a
inclusão e o combate a uma religião que havia perdido o foco daquilo que Deus queria
para a Nação Santa e o Povo Escolhido. Deus criou Israel para nela abençoar as demais
nações, mas, os judeus estavam fechados entre si e se importavam mais em disseminar
os ritos e costumes ao mostrar o amor de Deus para com a sua criação.

Até hoje, vemos a natureza cristã manifesta em lideranças, como o líder da Igreja
Cristã de Roma, o Papa, que constantemente realiza visitas aos continentes, pedindo
paz e tolerância religiosa e declara a necessidade de moral e ética entre os povos e
religiões. Além da Igreja de Roma, temos muitos outros líderes cristãos influentes nos
segmentos sociais, visando um diálogo harmônico voltado para o crescimento social.

Até, mesmo, as datas comemorativas do cristianismo são expressões do impacto


transformador do cristianismo pelo mundo. Vemos que dentro de regimes políticos
fechados, datas como o Natal, Páscoa, são incluídas nas datas comemorativas.
Podemos entender porque em determinadas culturas, os cristãos são
indesejados, pois, há um espírito de harmonia, cooperação, expansão e modernidade
que acompanha o cristão.

Será difícil elencar datas, personagens, movimentos cristãos que impactaram o


mundo, modificando as mais diversas esferas de poder, pois, foram muitos testes ao
longo da história e, atualmente, ocorrem com mesma intensidade, porém, por estarmos
em uma sociedade mais harmonizada, pelo próprio cristianismo, não nos atentamos aos
impactos que produzem.

O Impacto do cristianismo também está espiritualizado. Se estudarmos


escatologia, por exemplo, vamos entender, pela teoria futurista, que na interpretação
das “Setenta Semanas de Daniel” descrita no Livro Bíblico de Daniel, estamos vivendo
um tempo entre a penúltima e última semana do Povo de Deus na face da Terra. Este
tempo é o tempo da Igreja de Cristo, a igreja cristã, e Deus permitiu este tempo para
que toda a humanidade tivesse a chance de conhecer a Cristo como Senhor e Salvador
e, assim, não somente os judeus, mas os gentios (todos os povos, menos os judeus)
pudessem herdar a vida eterna.

Terminamos este capítulo apresentando a base principal do cristianismo: Jesus


Cristo veio para Salvar os perdidos, através de sua morte, morte de cruz, todo aquele
que reconhecer o sacrifício de Jesus Cristo, como um sacrifício feito para pagar os nosso
pecados, este, pela fé no sacrifício de Jesus, herdará o Reino dos Céus. Portanto, sem
esta fé, é impossível agradar a Deus (BÍBLIA, Filipenses, 2).

Ainda, é correto afirmar que Jesus veio para trazer o concerto para os judeus,
mas, estes, o rejeitaram e Jesus passou a ser o caminho da salvação para o restante do
mundo.

Segundo o cristianismo, num futuro iminente, a igreja de Cristo será tirada da


face da terra e iniciará o período de remissão para os judeus. Os que aceitarem a Cristo
como o Messias, (que eles tanto aguardam e já teriam vindo uma vez) também serão
salvos.
No Brasil, o último censo demográfico ocorreu no ano de 2010 e é interessante
observar a influência do cristianismo (através do catolicismo e protestantismo) no nosso
país, realmente somos um país cristão, observe o gráfico abaixo (IBGE, 2010):

Gráfico 1 - Religiões Predominantes no Solo Brasileiro


Fonte: IBGE. Censo Demográfico. 2010. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 10 set.
2021.
2 ESTRUTURA SOCIOCULTURAL E RELIGIOSA DO CRISTIANISMO

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/home-church-online-wooden-


community-christ-1694104252

Falar de algo que se é familiar ou cotidiano, talvez, seja até mais difícil, porque,
é tão automático às vezes, que não notamos o “porquê” executamos tais ações. Falar
sobre a cultura social e religiosa do cristianismo pode trazer revelações de coisas que
muitas vezes não entendemos o sentido real e passa a não ser mais uma ação simples,
mas, uma demonstração daquilo que cremos.

São poucas as culturas mundiais que o cristianismo não está presente, portanto,
são muitas culturas e diversidades que o cristianismo está inserido, assim, como
determinar o que realmente é uma cultura cristã?

Vamos iniciar nosso estudo falando sobre o que é uma estrutura social. A
estrutura social é definida através do modo como pessoas e grupos se comportam
dentro de um sistema de relações, interações e obrigações. A cultura está intimamente
ligada ao sistema social, pois, manifesta o comportamento e tradições de um grupo. Um
sistema sociocultural será manifesto por objetos socioculturais, tais como, a língua,
comidas típicas, música local, artes, vestimentas, religião e outros aspectos.

Para identificar a estrutura sociocultural e a estrutura religiosa do cristianismo,


precisamos observar, obviamente, a comunidade cristã, a qual, demonstrará suas
práticas e costumes, que, neste caso, serão fruto da influência religiosa, porém, nem
sempre o óbvio é mais fácil, porque, atualmente, com a globalização, as comunidades
cristãs estão recebendo várias influências e diversidades culturais.

Falar da cultura cristã, é algo muito importante, porque, a cultura cristã está
implícita em muitas culturas mundiais, poucas culturas não foram influenciadas pelo
cristianismo. O Ocidente e a Europa, por exemplo, têm sua cultura criada na totalidade
na cultura cristã. O vínculo é tamanho, que, não temos como separar a história do
cristianismo da história da cultura Ocidental. (EDITORIAL QUECONCEITO, 2021.)

A religião se define através de um conjunto de símbolos e rituais que tem amparo


em uma crença, defendida por um grupo, denominado fiéis. No aspecto cultural, o
cristianismo integrou a cultura grega a tal ponto que se dogmatiza.

A cultura cristã, vai designar os produtos objetivos e subjetivos de interatividade


com a natureza do objetivo consciente do próprio benefício humano. Produtos como a
educação, a ciência, entretenimento, tecnologia, a arquitetura, visão de mundo,
princípios morais, ideologias, entre outros.

Precisamos entender que Deus criou a natureza, mas, a cultura, ou seja, o modo
como vamos usufruir é nós que criamos. O homem produz a sua cultura, porque é fruto
de sua vivência e suas experiências sociais. Fazemos cultura partindo de nossa
cosmovisão, de como entendemos e abrangemos o conhecimento ao nosso redor.

Enfim, o que é específico da Cultura Cristã?

Deixe-me dizer que não existe uma "cultura cristã” apenas. Está nas bases da
estrutura sociocultural do cristianismo, a crença absoluta em Jesus Cristo como Filho de
Deus, Salvador e Senhor. Sem essa fé, em Cristo Jesus, será impossível agradar a Deus.
(EDITORIAL QUECONCEITO. 2021.)

Também, a cultura cristã, se difere por enfatizar o “renunciar-se a si mesmo”, ou


seja, a prática do amor e a tolerância ao próximo deve ser constante, bem, como, o
perdão ao próximo e o desapego aos bens materiais.

A cultura cristã é caracterizada também pela constante anulação do


individualismo, Jesus dizia que era necessário “Buscar em primeiro lugar o Reino de
Deus” (BÍBLIA, Mateus 6, 33), assim, o cristão busca interesses coletivos, comuns à sua
fé, norteada pelos exemplos de Cristo.

Na cultura cristã, a verdade deve ser a base para um relacionamento correto


entre os indivíduos e, também, entre o homem e Deus. Na cultura Ocidental, a maioria
dos valores morais são valores cristãos, porém, o amadurecimento destes valores foi
gradativo ao longo dos tempos, por exemplo: a tolerância e o respeito ao diferente.
Sabemos, também, que muitos valores têm sido deturpados, como a
individualidade que prevalece e, muitas vezes, poda a liberdade humana e a dignidade,
pois, indivíduos esquecem do princípio cristão do amor, do negar-se a si mesmo e do
desapego aos bens materiais e praticam a lei da vantagem.

Para o catolicismo, a cultura é uma manifestação necessária da natureza


humana, portanto, todo o ensino que tenta afastar o homem da manifestação cultural,
não é partilhado pelo catolicismo.

Homens e mulheres no mundo compartilham de um conjunto de vontades,


particularidades e exigências que o caracterizam como “ser humano”. Nós desejamos
felicidade, liberdade, reconhecimento da dignidade pessoal e amor.

Até alguém que não tenha consciência dessas vontades universais, em função de
uma história pessoal na qual elas não conheceram, irão aderir a elas quando as
conhecer, porque isto é humano. A isto, a tradição cristã chama de “Lei Natural” ou
“Natureza Humana”. O cristianismo é universal, é proposto a todas as culturas, para
valorizar todas elas, na medida em que dialoga com estes valores universais e, responde
às respostas a estas exigências profundas dos seres humanos (VATICAN, 1988).

Desde seus primórdios, a proposta do cristianismo nunca foi a de substituir uma


cultura não cristã por outra cristã. A proposta é fazer com que a Boa Nova cristã seja
fecunda em outras culturas, assim, mostrando o significado de suas tradições e de seu
modo de ser e tornando-as assim mais humanas.

Este "fecunda em outras culturas” e crescer dentro delas (e com elas), é o que a
Igreja chama de inculturação do Evangelho. No início a Igreja Católica utilizou o termo
“aculturação” que não soou bem entre as demais culturas, porque, dava o sentido de
cultura dominante. A inculturação é diferente de um processo de aculturação, na qual
um povo é submetido à cultura de outro, perdendo sua identidade original (VATICAN,
1988).

O maior exemplo de inculturação do Evangelho aconteceu durante o Império


Romano. O cristianismo se aculturou na civilização helênica, criando a cultura ocidental.
Segundo Câmara (1957), o domínio cultural europeu, através de ações
missionárias, realizou um trabalho, muitas vezes, bem-sucedido, porém, levou muitas
outras culturas nas Américas, África e Extremo Oriente, a serem destruídas. Esta
destruição foi tão desastrosa que destruiu até mesmo trabalhos missionários anteriores.
Podemos dar como um exemplo o caso dos Sete Povos das Missões nos Séc. XVII e XVIII,
onde, os jesuítas levaram os índios guaranis a se organizarem socialmente, preservando
sua cultura indígena, mantendo sua autonomia, mas, abraçando o Evangelho em toda a
sua essência. Posteriormente a sociedade guarani foi destruída pela colonização de
Portugal e Espanha.

Quanto à estrutura em si do cristianismo, podemos dizer de forma resumida que


ele se estruturou no “Plano Doutrinal'', no “Plano Celebrativo” e no “Plano das
Simbólicas”.

No Plano Doutrinal a Igreja definiu seu conjunto de crenças centrais e passou a


transmitir e ensinar seus “dogmas” (ponto fundamental de fé, indiscutível) aos novos
membros adeptos. Estes pontos da fé, muitas vezes, trazem questões secundárias e
formas de implementação diferentes, mesmo assim, passam a ser institucionalizadas e
tornam-se novos dogmas. Desse modo, a Igreja sempre buscou estar padronizada e
decisiva nas suas leis e verdades.

No Plano Celebrativo, (ou comemorativo) a Igreja sempre promoveu o culto à


Deus de forma solene, deu um sentido formal ao culto. Todo ato público buscava a
formalidade, transformando os momentos de homenagem e celebração, em rituais
marcantes e muitas vezes cíclicos. A celebração de datas comemorativas, as ofertas
públicas à divindade são um modelo de fixação e expansão do cristianismo.

Já no Plano das Simbólicas, o cristianismo trabalhou muito a simbologia em seu


meio e no meio das culturas onde esteve. Símbolos como: a cruz, o peixe eram símbolos
que agregam a ideia de domínio, posse e territorialidade. A subjetividade simbólica
também está nos personagens e eventos bíblicos, trazendo relação entre Velho
Testamento e Novo Testamento.

Diante de uma realidade inclusiva, o cristianismo ganhou o mundo e, já era de se


imaginar, que não demoraria muito para haver o surgimento de rupturas dentro do
sistema religioso. Primeiramente o cristianismo se dividiu entre a Igreja Romana e a
Ortodoxa. Posteriormente, o Protestantismo surgiu para ser um terceiro ramo da
religião.

Figura 3 - Cerimônia do Batismo Ortodoxo

Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/republic-moldovacondrita-september-15-2020-
condrita-1825878857

Com a entrada do protestantismo a partir do ano de 1517, houve o surgimento


de vários blocos religiosos, afinal, houve campo para a liberdade dentro do ramo
protestante e com o surgimento do pensamento Iluminista dois séculos após, houve,
também, surgimento de segmentos diferentes dentro do catolicismo Romano e
Ortodoxo.

Atualmente o Catolicismo Romano é o ramo mais expressivo do cristianismo.


Estima-se, mais de um bilhão de católicos romanos no mundo, tendo, como maior base
de convertidos, o Brasil e o México. Na sua hierarquia interna, o Vaticano é o regente
principal, através do seu líder supremo, o Santo Papa. Logo abaixo na hierarquia, estão
as arquidioceses, dioceses e paróquias. São subordinados aos Papa, os cardeais,
arcebispos, bispos, padres, bem como todos os membros espalhados pela face da terra.

Na leitura complementar, vamos falar um pouco mais detalhado sobre como é a


hierarquia da Igreja Ortodoxa e como funciona o Protestantismo.
3 ASPECTO GNOSIOLÓGICO DA FÉ CRISTÃ

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-illustration/death-after-life-afterlife-concept-


reincarnation-1534265546

Como sujeitos que buscam o conhecimento acerca da fé cristã, precisamos


estabelecer que ao falar de fé, estamos nos voltando para o caminho de suprir uma
necessidade inerente ao ser humano. O desejo de participar do invisível ou sobrenatural
e, assim, completar-se ou ter experiências que nos trazem a sensação de completude.
No meio cristão, costumamos dizer que o homem busca completar um vazio dentro de
si e este vazio só é preenchido em Deus.

Temos, então, a nós como sujeitos em busca de conhecimento da fé, uma


característica universal, que, embora não se manifeste em todos, talvez pela própria
falta de conhecimento desta necessidade, com toda a certeza, podemos dizer que ela
está lá dentro de cada ser humano.

Como nosso objeto de conhecimento, agora, não temos somente uma fé


universal, vaga, genérica. Temos uma fé específica, dogmatizada, que traz aspectos de
forma estruturada e com certa previsibilidade e também aspectos empíricos.

De onde parte nosso conhecimento da fé cristã?

Nossa experiência com o cristianismo tem uma raiz: A experiência de Fé de


Abraão, a qual, não tivemos participação direta. Então nosso conhecimento sobre as
experiências cristãs inicia no chamado de Abraão e nos relatos judaicos realizados por
Moisés.

Também, nosso conhecimento sobre o cristianismo é baseado na vida de Jesus


Cristo, relatadas no Novo Testamento Bíblico pelos Apóstolos e escritores dos
Evangelhos.
Estes conhecimentos foram passados por gerações e, de certa forma, estão
eternizados na história, mas, este conhecimento continua sua jornada e
constantemente tem sido sabatinado e aprovado.

Vamos elencar alguns pontos centrais do Pensamento Cristão:

1) A Eternidade do Ser – Para o cristão, todo ser humano é eterno, a


alma é infinita.
Pelo fato de, ainda, não termos passado pela eternidade, ou passado por
algumas experiências cristãs, não podemos ignorar o aspecto idealista que a fé cristã
produz. Cabe-nos analisar a proposta apresentada, neste caso, a imortalidade da alma.
Eu não posso provar o contraditório, portanto, posso crer na imortalidade.

2) Existência de um só Deus - Eternamente subsistente em três


pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo
Parece contraditório e realmente a ideia de Trindade Santa não é uma concepção
fácil aos olhos do monoteísmo, mas, é um aspecto único da fé cristã.

3) A morte vicária e expiatória de Jesus Cristo, em sua ressurreição


corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus.
Somos pecadores, desobedecemos ao Criador, o qual, em nosso favor, permite
que o seu único filho tome o nosso lugar no pagamento desta desobediência e nos dê
vida eterna ao seu lado, é aversão ao que temos como verdadeiro no mundo em que
vivemos. Até mesmo nas demais religiões e nas próprias leis de Moisés e no código
jurídico que vivemos, o devedor responde pelos seus atos. No cristianismo, Deus é amor
e este amor não pode ser compreendido integralmente, não temos este conhecimento.
Este amor existe para ser vivido.

4) A necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Jesus


Cristo.
A fé cristã traz no seu cerne a oportunidade do recomeço em Cristo Jesus.
Embora, a fé considera que aqueles que antes não tinham conhecido a Cristo de fato,
não eram vivos espiritualmente, portanto, diz-se um nascer em Cristo. Esta fé, foi muito
questionada pelos mestres judaicos que não podiam assumir sua inércia espiritual.

5) A vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis.


Outro aspecto do pensamento cristão é a recompensa por uma vida de fidelidade
em seguir os mandamentos de Cristo. Até hoje, existem linhas teológicas que pregam
que a prosperidade é sinal de êxito com Deus, porém, o cristianismo é negar-se a si
mesmo e o cristão não deve esperar honrarias ou compensação, aqui nesta vida, por
seguir a Cristo e seus mandamentos.

Pelo fato de, ainda, não termos passado pela eternidade, ou passado por
algumas experiências cristãs, não podemos ignorar o aspecto idealista que a fé cristã
produz. Podemos observar que a mais proeminente fonte de conhecimento acerca do
cristianismo está no “Testemunho”, tanto pessoal, como da comunidade cristã ao nosso
redor. São aspectos que nos levam a reflexões.

Também, temos como certo que a principal fonte do cristianismo é o judaísmo e


a influência Grega da época.

O cristianismo tem suas referências em um passado de vitórias, superações e


milagres que ocorreram com seus principais personagens. Também traz a referência do
contrário, personagens que não atingiram êxito por não seguirem ao Deus Único.

Na contemporaneidade, o cristianismo se transformou em um modelo


dogmático que atende aos anseios e a necessidade de preenchimento espiritual do
indivíduo, dando-lhe oportunidade de cultuar a um Deus que será fiel e recompensador.

De uma religião que tem seu início através de fonte testemunhal presencial, o
cristianismo passa a ser uma religião que proporciona novos testemunhos aos seus
seguidores e o veículo de passagem é o ensino da Bíblia que é considerada Palavra Viva
e Eficaz de Deus para os homens.
4 DUAS GRANDES CORRENTES DO PENSAMENTO CRISTÃO

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/woman-stands-crossroads-two-forest-


roads-1493399144

A Filosofia ou Pensamento Cristão teve duas fases que contribuíram para sua
difusão, consolidação e constituição: Do período do século I até o século VI e do século
XIII ao século XIV.

Esses períodos são conhecidos como os períodos da Filosofia Patrística e da


Filosofia Escolástica, respectivamente. Estes dois momentos que compreendem quase
a totalidade da era cristã, representaram o pensamento cristão de forma genérica.

Vamos iniciar falando da primeira corrente filosófica chamada Patrística. Na


transição da Antiguidade para a Idade Média, padres da Igreja Católica se dedicaram a
desenvolver uma filosofia que se aproximava do pensamento cristão e do conhecimento
religioso. A dedicação foi tamanha, que boa parte do sistema teológico foi desenvolvido
através dela.

Foi neste período que os dogmas da Igreja Cristã foram avaliados e o


pensamento cristão em si foi mais profundamente abordado. Foram os primeiros padres
que formularam e sistematizaram os princípios da Igreja Católica que conhecemos até
os dias de hoje.

Assim que o Império Romano aceitou oficialmente o Cristianismo como religião,


iniciou-se um período de expansão do cristianismo, porém, houve perseguição e foi
diante desta necessidade que os padres iniciaram seus estudos voltando-se para a
defesa do pensamento cristão. Neste contexto nasce a apologética cristã, um
substantivo teológico que visa afirmar a fé, confirmada pela razão. É claro que como
tudo ainda era muito prematuro, a fé cristã, em alguns casos, trazia um pouco do
paganismo grego.
Neste período, mais precisamente no Séc. II, surge o teólogo católico Romano,
Justino Flávio, que defendia, ou seja, o ponto central de sua apologética era demonstrar
que Jesus Cristo era o Logos que todos os outros filósofos anteriores falaram.

A parte problemática para a Patrística, frente a filosofia grega, é que a Patrística


era essencialmente uma filosofia do pensamento cristão, enquanto, a filosofia grega era
muito mais abrangente, defendia a razão, a lógica e o conhecimento científico.

A Patrística, em si, tem muito do pensamento platônico, porque, foi dos escritos
de Platão que houve a formulação de várias obras patrísticas.

Foi na Patrística que surgiu Agostinho de Hipona, posteriormente conhecido


como Santo Agostinho, que, suas obras e pensamentos foram muito importantes para
o período da escolástica.

Podemos encerrar esta breve apresentação da Patrística dizendo que foram três
séculos onde houve a elucidação progressiva dos dogmas cristãos e pelo que chamamos
hoje de “Tradição Católica”.

Tanto a Patrística como a Escolástica são métodos de pensamento crítico e


aprendizagem Ocidental. A Escolástica surge nos monastérios, busca conciliar no
pensamento cristão a fé e a razão. Os escolásticos utilizaram do método da Dialética
para resolver os problemas de oposição, pois, a dialética utiliza-se de contraposição e
contradição de ideias, levando, assim, a outras ideias e consequente resposta a um todo
problemático.

O ensino nas Universidades medievais, entre os Séculos IX ao XVI, teve o método


crítico escolástico predominando para resolução das questões e exigências da fé. Nas
escolas eram ensinados dois grupos de artes, primeiro, retórica, lógica e gramática e no
segundo grupo geometria, aritmética, astronomia e música.

A Filosofia foi muito beneficiada neste período. Dos traços clássicos e


helenísticos, começou a sofrer influência judaica e cristã a partir do Séc. V d.C., com uma
fé em amadurecimento, os pensadores cristãos entenderam que precisavam
harmonizar esta fé com o pensamento filosófico. O universo grego passou a trabalhar
com temas como Revelação Divina, Criação e Providência.
No pensamento escolástico a harmonização entre fé e razão é o ponto chave. A
Escolástica foi fortemente influenciada por São Tomás de Aquino e sua ingerência no
método foi tão significativa que o período foi dividido em dois períodos, o Pré-Tomista
e o Pós-Tomistas.

Santo Tomás de Aquino foi o fundador do Tomismo, que é um conjunto de


doutrinas teológicas e filosóficas que no Concílio de Trento foi oficializado e adotado
como pensamento oficial da Igreja Católica. A filosofia de Tomás de Aquino alia o
pensamento lógico e racional de raiz aristotélica com a fé cristã. Falamos da Metafísica,
que pode ser entendida como “além da física” e “além da natureza”.

Sem a Patrística e a Escolástica, o mundo não teria a evolução que desfrutamos


hoje. É por causa destes movimentos que o impacto sociocultural do cristianismo o faz
ser um influenciador significativo na estrutura mundial e no pensamento filosófico geral.
SAIBA MAIS

1) As principais crenças do “Catolicismo” estão embasadas na crença em um


único Deus verdadeiro que integra a Santíssima Trindade, que vincula a figura divina ao
seu filho Jesus e ao Espírito Santo. Além disso, o catolicismo defende a existência da vida
após a morte e a existência dos céus, do inferno e do purgatório como diferentes
estágios da existência póstuma. A ida para cada um desses destinos está ligada aos atos
do fiel em vida e também determina o desígnio do cristão na chegada do dia do Juízo
Final.

A liturgia católica reafirma sua crença através dos “sete sacramentos” que
simboliza a comunhão espiritual do fiel junto a Deus. Entre esses sacramentos estão:
Batismo, a Crisma, a Eucaristia, a Confissão, a Ordem, o Matrimônio e a Extrema-Unção.
A “Missa” é o principal culto dos seguidores do catolicismo. Neste evento, celebra-se a
morte e a ressurreição de Cristo e o milagre da transubstanciação (momento/ato em
que pão e vinho se transformam no Corpo e no Sangue de Cristo).

2) O movimento protestante surgiu na tentativa de reformar a Igreja Católica,


iniciada por Martinho Lutero, em 1517. Os motivos para esse rompimento incluíram as
práticas ilegítimas da Igreja, além da divergência em relação a outros princípios
católicos, como a adoração de imagens, o celibato, as missas em latim, a autoridade do
papa, entre outros. Defendem que a salvação vem por meio da graça e bondade de Deus
e, cada pessoa pode se relacionar diretamente com seu criador, sem a necessidade de
um intermediário, diferentemente da fé católica, a qual diz que o método para obter a
salvação é pelos sacramentos e rituais de purificação da alma realizados por líderes
santificados.

Defendem que a Bíblia é a "Palavra de Deus". De acordo com esse ponto de vista,
pela ação do Espírito Santo, os cristãos, ao lerem a Bíblia, teriam uma maior harmonia
com Deus. Por esse motivo, a partir da Reforma Protestante, a Bíblia foi traduzida para
diversas línguas e distribuída sem restrições para as pessoas.

Fonte: SOUSA, R. G. Catolicismo. Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/religiao/catolicismo.htm. Acesso em: 14 ago. 2021.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

No Brasil a Igreja Ortodoxa desembarcou junto com os imigrantes árabes. A


primeira instituição foi edificada em São Paulo, no ano de 1904. A imponente Catedral
Ortodoxa foi aberta ao público em 1954.

Fonte: IGREJA ORTODOXA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Igreja_Ortodoxa&oldid=62034216. Acesso
em: 12 set. 2021.

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) Aluno (a), creio que você pode perceber o quanto o cristianismo é
importante e faz parte da evolução social do mundo, principalmente no Mundo
Ocidental onde ele participa direto da construção dos novos Países e culturas.

Será que o cristianismo necessitará sofrer alterações ou ceder a alguma mudança


para continuar sendo a religião de muitos, principalmente em um mundo dinâmico e em
constante mudanças culturais?

Somente o tempo nos responderá, porém, podemos perceber os sinais e as


tendências para o futuro. É certo que precisamos conhecer as características religiosas
do cristão, para poder visualizar as mudanças quando elas ocorrerem, talvez, este seja
o maior desafio, pois, por fazermos parte, muitos movimentos não são percebidos, até
que, concretizem uma influência macro no contexto que vivemos. O interessante é fazer
parte integral, até mesmo, nos pequenos movimentos.

Vimos no primeiro capítulo, como o cristianismo trouxe impacto socioeconômico


e cultural ao mundo, a evolução e a liberdade do pensamento através do próprio
questionar filosófico do pensamento cristão.

No segundo momento do nosso estudo, conhecemos um pouco mais das


características individuais religiosas e culturais que estão presentes no nosso dia a dia.

Entender porque o cristianismo é uma religião não somente inclusiva, mas,


desafiadora, por trazer questões que nos remetem a respostas profundas, foi o tema
que introduzimos no terceiro capítulo.

Mas, o que pode nos abrilhantar é entender o método que fez do cristianismo
um fator de mudança nos quase vinte séculos da Era Cristã. Saber como se comportaram
as Correntes do Pensamento Cristão é uma vantagem para o estudante, pois, não foi
somente a espiritualidade, mas, a ciência produzida pela espiritualidade que marcou o
mundo.
Vamos aprender ainda mais? Passamos apenas a base e o conceito que
precisamos para entender um todo, porém, quanto mais buscarmos os “por menores”,
seremos edificados!!! Busque mais, estude ainda mais!!!! Deus os abençoe!!!
LEITURA COMPLEMENTAR

Igreja Católica Apostólica Ortodoxa

Em 1054 houve uma ruptura na Igreja Cristã. O Catolicismo, único ramo do


cristianismo na época, se dividiu em dois. De um lado a permanência do Catolicismo
Romano, sujeito a autoridade Papal. Do outro lado, várias igrejas orientais se uniram ao
Poder Patriarcal de Constantinopla, formando o que conhecemos como a Igreja
Ortodoxa. A palavra ortodoxo, significa “doutrina reta” e os cristãos são conhecidos
como cristãos ortodoxos.

Os cristãos ortodoxos são conhecidos por manterem os rituais primitivos e pelo


“Credo Niceno”: Creio em Um Só Deus, Pai Onipotente, Criador do céu e da terra, de
todas as coisas visíveis e invisíveis. E em Um Só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de
Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Luz de Luz, Deus Verdadeiro de Deus
Verdadeiro; gerado e não criado, consubstancial ao Pai, por quem tudo foi feito. O qual,
por nós homens e para nossa salvação, desceu dos Céus e se encarnou pelo Espírito
Santo na Virgem Maria e se fez homem. Por nós foi crucificado; sob Pôncio Pilatos
padeceu e foi sepultado. E ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos
céus e sentou-se à direita do Pai. E novamente virá com glória, para julgar os vivos e os
mortos; e o seu reino não terá fim. E no Espírito Santo, Senhor Vivificante, que do Pai
procede e que, com o Pai e o Filho, juntamente é adorado e glorificado, e que falou pelos
profetas. E na Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica. Professo um só Batismo, para
remissão dos pecados. Espero a ressurreição dos mortos e a vida do século futuro.
Amém.

O alicerce hierárquico é composto por cinco Patriarcados: Constantinopla,


Antioquia, Alexandria, Jerusalém e Roma. No modelo ortodoxo, todos os patriarcados
são livres na esfera administrativa. Os ritos e princípios de fé, são os mesmos.

A estrutura hierárquica ortodoxa tem um objetivo claro de demonstrar que Jesus


é o único líder da Igreja, sem representantes na Terra.
Ao contrário da Católica Romana, a maior autoridade na Igreja Ortodoxa é o
Santo Sínodo Ecumênico, desde a sua fundação até os dias atuais, quem integra o Santo
Sínodo são todos os patriarcas que lideram as igrejas autocéfalas e pelos arcebispos-
primazes das igrejas independentes.

Este Concílio teve seu poder contestado pela Igreja Católica Romana em 1054,
data do “cisma” religioso entre as Igrejas Cristãs.

Os ortodoxos, ao obedecerem ao Patriarca, negaram a liderança do Papa.

A Ortodoxia aceita a existência de sete Concílios Ecumênicos – os de Nicéia,


Constantinopla, Éfeso, Calcedônia, Constantinopla II, Constantinopla III e Nicéia II.

Igrejas Autocéfalas: São quatorze, as quatro mais antigas: Constantinopla,


Alexandria, Antioquia e Jerusalém (todas elas constituem patriarcados). E dez Igrejas
Ortodoxas que surgiram ao longo do tempo: Rússia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Chipre,
Grécia, Albânia e República Tchecoslováquia.

Os Rituais: São constantemente revestidos de pompa e constituem a “essência”


da fé ortodoxa. O Louvor é somente ministrado por corais, não há instrumentalização.
A ortodoxia não permite o uso de imagens esculturais na decoração, somente pintura
sobre madeira representando os santos, Jesus e sua mãe, Maria.

Os cinco rituais mais importantes são o Bizantino, o Alexandrino, o Antioquino,


o Armênio e o Caldeu.

Para a Igreja Ortodoxa o Espírito Santo provém do Pai, “não” está ligado ao Filho.
“Não” acreditam no purgatório.

Na estrutura clerical, “apenas” os bispos são obrigados a manter o celibato.

Os padres são liberados para o matrimônio, desde que este se deu antes da sua
ordenação.

Fonte: MUNDO Educação. Cisma do Oriente e a divisão do catolicismo. Disponível em:


https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/cisma-oriente-divisao-catolicismo.htm. Acesso em: 10
set. 2021.
LIVRO

• Título: Panorama da história cristã: As intervenções de Deus na história

• Autor: Hernandes Dias Lopes

• Editora: Hagnos; Edição atualizada (5 novembro 2018)

• Sinopse: Esta obra é uma síntese dos principais acontecimentos da história da igreja
cristã. É uma análise cronológica dos fatos mais decisivos. Sua leitura é fácil e sua
mensagem é objetiva. O que Deus fez, ele pode fazer novamente. Esta obra intenciona
auxiliar aqueles que têm pouco tempo para compulsar os volumosos livros de história.
FILME/VÍDEO

• Título: Paulo, Apóstolo de Cristo

• Ano: 2018.

• Sinopse: O apóstolo Paulo prega a palavra de Cristo enquanto enfrenta a execução, e


Lucas escreve um livro revolucionário que culmina no nascimento da igreja.

• Link do vídeo: https://youtu.be/BWZ-FJvqCn8


WEB

Como que um grupo de pessoas se tornou a maior religião do mundo? Fé,


perseguição, impérios. Conheça a história do cristianismo em nossa nova série de 6
episódios.

Link do site: https://youtu.be/KmpucxGB1jA

Quem foi o Jesus homem? Jesus é Deus? Qual a diferença entre Jesus e Cristo?
Qual a ideia central do Cristianismo? Quais são as subdivisões desta religião? Leandro
Karnal analisa a História e os textos sagrados da religião com mais seguidores do mundo.
Link do site: https://youtu.be/9cX5rF55-5g
REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém - Nova Edição, Revista e Ampliada. 3 ed.


São Paulo. Paulus, 2004.

BRIANT, P. Alexandre, o Grande. Tradução de Rejane Janowitzer. Porto Alegre. L&PM


Editores, 2013.

CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica.Petrópolis: Editora


Vozes, 1957.

COMISSÃO Teológica Internacional, "Fé e Inculturação", 1988, Vaticano. Disponível


em:
https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_198
8_fede-inculturazione_po.html. Acesso em: 08 ago. 2021.

EDITORIAL QueConceito. “Conceito de Sociocultural”. São Paulo. Disponível em:


https://queconceito.com.br/sociocultural . Acesso em: 08 de ago. 2021.

IBGE. CENSO DEMOGRÁFICO. 2010. Disponível em:


https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/94/cd_2010_religiao_deficiencia
.pd. Acesso em: 31 ago. 2021.

SILVA, D. N. Cruz Vermelha. Brasil Escola. s/d. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/cruz-vermelha.htm. Acesso em: 04 set.
2021.

VATICAN. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. A SALVAÇÃO DE DEUS: A LEI E A GRAÇA.


1988. Disponível em:
https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s1cap3_1949-
2051_po.html. Acesso em: 05 abr. 2022.

WALLIS, F. Medieval Medicine: A Reader. Toronto: University of Toronto Press, 2010.


UNIDADE IV

ISLAMISMO

Professor Especialista Érlon Migliozzi

Plano de Estudo:

• Origens do Islã: da Arábia Pré-Islâmica ao Profeta Maomé;

• A Formação do Império Islâmico;

• O Conflito Israelo–Palestino;

• Modernidade, Fundamentalismo e Tendências Secularizantes: Desafios


Contemporâneos.

Objetivos de Aprendizagem:

• Identificar as características específicas da Religião Islâmica;

• Contribuir para o conhecimento das particularidades dos Islâmicos;

• Refletir sobre a intolerância e o crescimento do terrorismo religioso.


INTRODUÇÃO

Caro (a) Aluno (a),

Você, provavelmente, já deve ter ouvido falar sobre o Islamismo. Talvez, de uma
forma equivocada ou de uma forma que te provocasse certa curiosidade. Muitos dizem
que o Islamismo é mais antigo que o cristianismo, outros vão dizer que é mais antigo
que o judaísmo. Alguns, vinculam a religião islâmica com movimentos extremistas,
terroristas e até mesmo com um mundo sem liberdade e responsabilidade com a vida
humana. Sabemos que em todas as comunidades existem pontos positivos e negativos,
mas, precisamos saber o que realmente vem da religião e o que procede da vontade e
desejo de uma minoria dentro de um grupo.

A proposta desta unidade é fornecer a você, leitor e aluno, o conhecimento


daquilo que foi o palco e o local onde nasceria uma das maiores religiões monoteístas
Abraâmicas do mundo. Vamos, no primeiro capítulo, aborda a história da Arábia, antes
da existência do Islamismo. Vamos conhecer também a história do seu fundador, o
profeta Maomé, enfim, desmistificar muito sobre esta religião.

No segundo momento, vamos dar consistência ao chamado do profeta Maomé


e mostrar como a necessidade de um povo e o agir da fé contribuíram para a formação
de uma organização religiosa muito importante para a identidade de um povo. E, como
tudo aquilo que cresce, ocupa um lugar novo, vamos relembrar, na história, o motivo de
tantos atritos, guerras e disputas que envolvem o povo muçulmano e os seus vizinhos
israelitas, assim, no terceiro capítulo, vamos falar sobre os conflitos entre Israel e a
Palestina.

Finalizando nossa unidade, queremos abordar os desafios atuais de uma nação,


que, como Israel, forma uma nação religiosa. Quais são os extremos, as necessidades e
desafios do Islamismo frente ao mundo moderno e as mudanças radicais que o mundo
está vislumbrando, globalização, tendências.
Convido você a vir comigo e, juntos, aprendermos sobre uma fé que tem forte
contribuição na transformação do mundo em que vivemos!!!

Salamaleico (A paz esteja convosco - Árabe)


1 ORIGENS DO ISLÃ: DA ARÁBIA PRÉ-ISLÂMICA AO PROFETA MAOMÉ

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/saudi-arabia-387587188

1. 1 A Arábia Pré-Islâmica

A ascensão do Islamismo ocorreu por volta do ano 630 d.C., na região da Arábia,
ou Península Arábica como também é conhecida. Esta região localiza-se no sudoeste da
Ásia e no nordeste da África. Geologicamente, é considerada um subcontinente asiático,
generalizada pelo clima desértico. A Península Arábica possui 5/6 da sua área total
desértica, com clima seco e quente, e conta com pequenos oásis.

Viviam em tribos patriarcais, ao todo eram 300 tribos divididas entre beduínos,
nômades e citadinos urbanos e sedentários (ARMSTRONG, 1991, p. 05).

O período anterior a esta década, é denominado de período Pré-Islâmico e


através da arqueologia, foram encontrados vestígios de nativos datados do século IX
a.C., porém, a maior fonte de referência da vida na península foi registrada pelos seus
vizinhos, através de escritas do povo Egípcio, Romano, Persa e Grego. Como no
judaísmo, também, a tradição Oral existiu para trazer os acontecimentos do mundo
árabe. Como relata Karen Armstrong (1991):

No período pré-islâmico, freqüentemente havia tribos expulsas dos oásis


durante as guerras: todos os medinenses estavam familiarizados com essa
punição e os Qaynuqas deviam saber que teriam de ir embora. Eles se
refugiaram em outro grupo judeu, em Wadi al-Qura, e acabaram se
estabelecendo na fronteira da Síria (ARMSTRONG, 1991, p. 99).
A história do mundo árabe adquire maior compreensão, a partir do Séc. III d.C.,
com o surgimento do Reino Homerita, datado de 110 a.C., este reino, veio a conquistar
Sabá em 280 d.C.

Houve também, na constituição do povo árabe, o povo Catanita, que tem sua
origem semita e surgiu na região do Levante, região que não inclui a Península Arábica.
A expansão árabe, começou de forma gradativa e progressiva, primeiro com a
assimilação de outro povo de origem semita, que viviam às voltas de Canaã, o povo
Nabateu, isto, já no primeiro ano da Era Cristã (LEWIS, 1990, p. 32).

A origem do povo da Península Arábica, surge com as migrações ocorridas por


volta do ano 2300 a.C., quando, povos de origem semita migram para a península e para
a Mesopotâmia, mais precisamente na Suméria, formando o Império Acádio. Destas
migrações, surgiram os cananeus, os amoritas e os arameus.

Podemos identificar que através das migrações muitas rotas comerciais foram
criadas e o povo, embora, sedentário, tinha uma grande parte nômade e as idas e vindas
foram constantes e cada vez mais aumentando na região compreendida da Península
Árabe ou no Levante (HOURANI, 1991, p. 139).

Um povo característico pelo comércio e pela descentralização do seu poder, pois,


cada grupo formava um clã, e este clã, tinha suas leis e costumes, seguiam a um líder e
adoravam a muitos deuses, eram na grande maioria politeístas e não estabeleciam um
modo político único.

A Arábia estava ao redor de dois Impérios poderosos da época, que


constantemente estavam se enfrentando: O Império Bizantino e o Império Persa
Sassânida. A base da formação das comunidades árabes era o patriarcado. As famílias
eram enormes e ficavam sob o domínio de um único homem, assim, as disputas e
guerras entre as comunidades, também eram constantes.

Nestas comunidades havia a influência politeísta como prática predominante,


mas, também havia grupos monoteístas, formados por judeus, cristãos, zoroastras e
coptas, o que dificultava ainda mais o estabelecimento de ordem completa nas
comunidades (HOURANI, 1991, p. 13).
1. 2 O Profeta Maomé

Maomé pertencia ao clã dos Hachemitas, pertencente a tribo dos coraixitas. Era
filho de “Abedalá” e “Amina”. Seu pai faleceu pouco tempo antes do seu nascimento,
deixando à esposa como herança cinco camelos e uma escrava.

Havia em Meca, a tradição dos pais de entregar suas crianças (homem) para os
beduínos, a fim, que a criança vivesse no deserto e aprendesse valores de sobrevivência
e relacionamento. Em troca, os beduínos recebiam presentes dos habitantes de Meca.
A mãe de Maomé, Amina, o entregou aos cuidados de uma ama-de-leite chamada
“Haleemah”.

Com seis anos de idade a mãe de Maomé faleceu, assim, ele passou a viver com
o seu avô paterno, “Abedal Motalibe” e com os filhos dele. Eram filhos de Abedal
Motalibe, “Abas” e “Hâmeza” e que eram praticamente da mesma idade que Maomé
(filhos de um casamento tardio do avô). O avô de Maomé ocupava em Meca o
importante cargo no serviço de distribuição pelos peregrinos da água sagrada do poço
de Zamzam, porém, dois anos depois, ele faleceu e Maomé foi viver com o seu tio “Abu
Talibe”, novo chefe do clã Hachemita (HOURANI, 1991, p. 16).

Meca era uma “cidade-estado” no deserto, onde se encontrava um santuário


conhecido por Caaba (o Cubo) administrado pelos coraixitas. A Caaba era venerada por
todos os árabes, e recebia uma peregrinação anual. Nela se encontrava a “Pedra Negra”
e vários ídolos, imagens de deusas e de deuses, e o principal era o deus nabateu “Hubal”.
Naquela época, existiam os “Hunafá”, os crentes no Deus único de Abraão, Judeus ou
cristãos, que acreditavam que foi Abraão que tinha sido o fundador da Caaba.

A tradição islâmica acredita e prega que Maomé foi o último profeta do Deus de
Abraão. Maomé foi pastor durante sua adolescência. Em uma de suas viagens para a
Síria, segundo os relatos muçulmanos, quando Maomé, o seu tio e outros
acompanhantes regressavam, cruzaram com um eremita cristão chamado “Bahira” que
após ter olhado Maomé, concluiu que este era o enviado que todos aguardavam. Bahira
recomendou ao tio de Maomé, que levasse o seu sobrinho para Meca, que velasse pelo
bem-estar dele (ARMSTRONG, 1991, p. 28).

O nome completo de Maomé é “Abul Alcacim Maomé ibne Abedalá ibne Abedal
Motalibe ibne Haxime”. Nasceu em Meca no dia 25 de abril de 532 d.C. e faleceu em
Medina em 08 de junho de 632 d.C.

O nome de Maomé em árabe pode ser transliterado como “abū al-qāsim


muḥammad ibn ʿabd allāh ibn ʿabd al-muṭṭalib ibn hāshim” (Pronuncia-se: Abu Alcácime
Maomé ibne Abedalá ibne Abedal Motalibe ibne Haxime). (HOURANI, 1991, p. 16)

Muhammad significa "louvável". Abedalá (Abd Allah), significa "servo de Deus".


Maomé é uma forma aportuguesada do francês Mahomet. Mahomet é uma deformação
do turco Mehmet, do qual, surgiu os adjetivos portugueses “maometano” e
“maometismo”, que designava o seguidor e a crença difundida por Maomé (ROGERSON,
2004, p. 14).

Para os muçulmanos (seguidores do Islã), Maomé foi um profeta que teve uma
experiência real com Deus e, como profeta, foi precedido por Abraão, Ismael, Isaac, Jacó,
Davi, Moisés e Jesus. No Alcorão (Livro sagrado dos muçulmanos) os nomes de Jesus,
Moisés e muitos outros personagens Bíblicos, aparecem com certa frequência.

O poder político de Maomé, foi tão grande, que ele conseguiu unir árabes da
Península Ibérica até a Pérsia.

Ao contrário de como os cristãos veem Jesus Cristo como Filho de Deus, os


muçulmanos não reconhecem Jesus Cristo como Salvador, mas, como um profeta
humano que trouxe contribuição para o que eles dizem que os homens conhecessem o
verdadeiro Deus. Assim, também, Maomé não é reconhecido como uma divindade, mas,
como um humano “perfeito” (ARMSTRONG, 1991, p. 140).

Maomé era mercador, a profissão predominante no mundo árabe, devido, a


necessidade de deslocamentos no deserto. Suas viagens eram longas e ele era
conhecido como um homem que orava constantemente nos montes próximos de Meca.
A história espiritual de Maomé, começa quando no ano de 610 d.C., em uma de
suas viagens a Meca, ele se retirou para orar em uma das cavernas do Monte Hira e ali,
foi visitado pelo anjo Gabriel, que o fez recitar uma oração que eram versos enviados
por Deus. Ali, nesta ocasião, o anjo Gabriel o comunicou a Maomé, que ele seria o último
homem profeta enviado para a humanidade.

Maomé entendeu que Deus o havia escolhido e iniciou sua peregrinação em


busca de propagar a mensagem divina de Deus aos homens. Neste ponto, entendemos,
que Maomé conhecia o Cristianismo e o Judaísmo. Ele também era monoteísta, porém,
Maomé tinha a missão de proteger as religiões cristãs e judaicas, através da restauração
dos ensinamentos originais destas religiões, que haviam sido, ou esquecidos, ou
corrompidos.

Com toda a certeza, após, perceber que haviam diferenças irreconciliáveis entre
seus ensinos e a religião judaica, tornou-se hostil ao povo judeu. Qual era o ponto
principal de incompatibilidade? Para Maomé, ser um muçulmano teria que crer
incondicionalmente no chamado que Deus o fizera, algo, que os judeus jamais creriam.

Maomé não foi só rejeitado pelos judeus e cristãos da época. O próprio povo
árabe o rejeitou no início e o expulsou, juntamente com vários de seus seguidores, da
cidade de Meca, isso, no ano de 622 d.C. Esta migração de Maomé é conhecida por
“Hégira”, na verdade, é o nome dado a fuga de Maomé para a cidade de Iatrebe,
atualmente a cidade de Medina. Foi ali que Maomé criou a primeira comunidade
muçulmana.

A repulsa pelos habitantes de Meca para com a comunidade muçulmana em


Medina, gerou várias guerras entre elas e, foram os muçulmanos e Maomé, em Medina,
que venceram. Assim, o exército vencedor, iniciou um período de conquistas das demais
tribos árabes, unificando todo o território e povo árabe em torno do Islã.

O que sabemos de Maomé, tem origem no próprio Alcorão, porém, sua biografia,
foi escrita pela primeira vez nos séculos VIII e IX, e são conhecidas como “Siras” e
“Hadices”. A sira de “ibne Ixaque”, nominada de “Vida do Mensageiro de Deus” (Sirat
Rasul Allah) escrita em 767 é a mais importante entre todas. O Livro de Raides foi escrito
entre os anos 747 e 823 da Era Cristã, por “Uaquidi” e contam as histórias das
campanhas militares de Maomé. Há uma coleção de hádices que formam a tradição oral
do Islã e fala daquilo que o profeta fez e daquilo que ele aprova diante das circunstâncias
cotidianas.

Quando Maomé tinha 25 anos de idade, conheceu Cadija, uma viúva rica de 40
anos de idade. Maomé por ser honesto nos seus negócios encantou Cadija, que propôs
casamento ao jovem. Assim, Maomé passa a ter acesso a uma classe social diferente,
mais rica. Também, passa a ser herdeiro, pois, como um menor, não teria herança.
Cadija teve seis filhos de Maomé e faleceu em 619. Foram quatro mulheres, Zainabe,
Rucaia, Um Cultum e Fátima e dois homens, Alcácime e Abedulá, que faleceram durante
a infância.

Dizem que Maomé era analfabeto, mas, como ele desempenhou funções na área
do comércio, muito provável que ele tenha possuído conhecimentos essenciais de
escrita.

O tio de Maomé fundou uma ordem de cavalaria que assistia visitantes


estrangeiros e habitantes locais. Maomé foi um membro entusiasta, a ponto de receber
o reconhecimento de “Ameen” que quer dizer “o confiável”, pois, orientava na
resolução de problemas e disputas, porque, agia com imparcialidade e honestidade nos
julgamentos e orientações.

Maomé se casou várias vezes, antes e depois da morte de sua primeira esposa
Cadija, cita-se, de onze a quinze mulheres, todas viúvas, exceto Aixa. Aixa, foi sua esposa
mais importante e, tornou-se noiva de Maomé com apenas 6 anos de idade, tendo se
casado aos 9 anos e, segundo os relatos, acredita-se que a consumação do casamento
ocorreu por volta dos 13 anos de idade.

Maomé escolhia suas esposas por alguns motivos claros. Um deles era dar
proteção a esposas de companheiros que haviam morrido, garantindo assistência
financeira. Outras mulheres eram frutos de saques, uma delas teve seu marido
torturado e executado. Outras porque eram belas e outras para aliança política. O
Alcorão determina que um homem só pode ter quatro esposas simultaneamente, mas,
no mesmo Alcorão, há uma exceção para o profeta Maomé (ROGERSON, 2004, p. 17).
Maomé, um ano antes da sua morte, dirigiu-se pela última vez aos seus
seguidores e fez o sermão final do profeta - o sermão do adeus. A morte de Maomé
ocorreu aos 62 anos de idade, em junho de 632, em Medina.

Deixou como legado a Península Arábica com todas as tribos unidas por uma
religião única. Como nenhum dos filhos de Maomé tinha atingido a vida adulta, a morte
do profeta deu origem a uma grande crise entre os seus seguidores, pois, não havia a
possibilidade de uma sucessão natural (ARMSTRONG, 1991, p. 30).

Imediatamente após a morte de Maomé, muitas tribos abandonaram o Islão.

Algumas tribos regressaram ao politeísmo, assim, teve origem nas chamadas


"guerras da apostasia" ou as guerras “Ridda”, que duraram ainda cerca de um ano,
conseguindo a conversão total dos rebeldes.

O Império expandiu-se constantemente, ao longo do reinado dos vários califas,


tendo chegado a conquistar praticamente toda a Península Ibérica, entre os anos de 661
a 750 d.C., durante o Califado Omíada.
2 A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO ISLÂMICO

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/mecca-saudi-arabia-may12-2017-


muslim-1902107293

Perto do ano de 627, com o desaparecimento dos inimigos internos, Maomé


tinha unido Medina sob o Islão. Os beduínos tornaram-se aliados de Maomé e passaram
a professar o islamismo. A conversão dos beduínos foi gradual. Maomé, já não tinha
mais revelações espirituais e, então, regressou para Meca afim de tomar posse da
Caaba. Meca, neste período, foi pressionado economicamente por Maomé, afim, de se
aderir ao Islã.

No ano 628, Maomé “peregrinou” para Meca. com um exército de 1600 homens
que o acompanhavam. A liderança de Meca fez um tratado com Maomé, estabelecendo
uma trégua por dez anos, onde, os muçulmanos poderiam peregrinar para Meca sem
problemas, assim, para consolidar o acordo, o antigo inimigo de Maomé, Abu Sufiane,
deus sua filha em casamento. Logo após assinar a trégua, Maomé ataca o oásis judaico
de Caibar, onde, habitavam agora a maioria dos Banu Nadir, que em 625 ele expulsara
de Medina. Caibar foi rendida. Maomé toma a filha do chefe judeu como sua esposa.
Alguns judeus vencidos foram autorizados a permanecer no oásis, e poderiam continuar
a praticar a religião judaica, mas, em troca dos seus bens e do pagamento do imposto
de 50% sobre as suas colheitas. Foi assim que surgiu uma nova situação para os vencidos
na guerra, o "dhimmi" ("povo protegido"), que tinham certa autonomia na sua
comunidade, e eram protegidos de agressões exteriores, porém, enquanto pagassem o
imposto, que se chamava “jizia” (LEWIS, 1990, p. 52).

No ano 629, Maomé enviou embaixadores a seis (ou oito) reis ou governadores
para os chamar ao Islão. Estes eram o governador dos coptas no Egito, o governador da
Síria, o príncipe de Omã, o príncipe do Iêmem, o governador do Barém, o governador da
Abissínia, o imperador bizantino Heráclio, o xá sassânida Cosroes II. O teor exato das
cartas não é certo, mas, o que é consenso entre os historiadores é o teor delas, que
sugeria "submeta-se ao Islã e ficará a salvo". Alguns se converteram ao Islão.

Em novembro de 629, dois anos após o tratado de Meca, este, foi quebrado.
Aliados de Meca atacaram um aliado de Maomé, o que levou Maomé a romper o tratado
de Al-Hudaybiyah. Maomé marchou sobre Meca em janeiro do ano 630 com dez mil
guerreiros. Foi um ataque sem derramamento de sangue, Abu Sufiane e as lideranças
de Meca submeteram-se formalmente. Muitos habitantes de Meca converteram-se ao
islão, entre eles Abu Sufiane, que teve um diálogo com o profeta, durante o qual um dos
seus companheiros lhe ordenou que se convertesse "antes que percas a cabeça”.
Maomé destruiu todos os ídolos na Caaba, em Meca (LEWIS, 1990, p. 53).

Maomé começou a estabelecer alianças com tribos nómades. À medida que o


seu poder cresceu, insistiu que as tribos potencialmente aliadas se tornassem
muçulmanas, e enviou grupos “armados” convidando à conversão.

No ano de 630, Maomé foi informado, ainda em Meca, de que havia uma grande
concentração de tribos hostis e partiu para o confronto. Levando um exército de doze
mil homens, em Hunain, contra seus inimigos antigos de Meca, a tribo beduína dos
Hawazin. Maomé também venceu os aliados dos Hawazin, os Tacifes, no mesmo ano.
Capturaram cerca de seis mil mulheres e crianças, gado e armas, vinte e quatro mil
camelos e outros bens. A batalha foi tão importante que teve sua menção no Alcorão.
Como seria de esperar, a maior parte dos Hawazin converteu-se ao Islão nesta mesma
ocasião. Assim, Maomé ordenou, em consequência da adesão ao Islão, a devolução das
mulheres e crianças que tinham sido capturados. Maomé, agora, era visto como o
homem mais poderoso da Arábia, assim, a maioria das tribos enviou delegações para
Medina, em busca de aliança (LEWIS, 1990, p. 54-55).

Antes da sua morte, Maomé conteve rebeliões em partes da Arábia, assim, o


Estado Islâmico tinha força suficiente para lidar com elas.

Com as constantes adesões ao islão, provocadas pelas derrotas frente ao


exército de Maomé, o Islamismo foi ganhando tamanho e passando a ser religião oficial
em ema extensa área populacional e terrestre.
O Alcorão passou a reger problemas sociais que antes não tinham resolução.
Podemos dizer que o Alcorão regimentou certas situações sociais que anteriormente
não eram bem definidas, tais, como, a segurança social, a estrutura familiar, a
escravidão e os direitos da mulher e das crianças.

O grande problema de Meca, na época, era a pobreza, assim, o Alcorão instituía


a cobrança de um imposto específico para servir de esmola ao povo menos favorecido.
Assim, a adesão ao sistema religioso de Maomé era cada vez maior (HOURANI, 1991, p.
75).

Não podemos dizer que foi uma conquista integral em todas as áreas, pois, há
vários estudiosos que sugerem que em várias comunidades, as mulheres foram
prejudicadas com a adesão ao Alcorão, pois, o senso de liberdade anterior era mais
abrangente e real. No alcorão, novos limites foram drasticamente impostos para as
mulheres.

Com a morte de Maomé, o Islamismo estava em grande expansão, mas, havia


um grave problema, Maomé não havia deixado filhos preparados para a sucessão,
assim, o conselho de companheiros de Medina nomeou Abacar, como o califa sucessor,
mas, outro grupo de seguidores do profeta, os xiitas, acreditavam que Maomé havia
designado Ali, como o sucessor, devido a um sermão público de Maomé em Haje,
enquanto estava vivo e em peregrinação para Meca. Assim, o Islamismo conhece sua
primeira ramificação, os Sunitas e os Xiitas, isto, em no ano 732. Não somente a questão
sucessória, mas, outras divergências resultaram na ramificação.

Uma terceira corrente do Islamismo surgiu, supostamente, cinquenta anos após


a morte de Maomé. O “Ibadismo”, ou movimento Ibadita, é uma “variante” do Islão
distinta do sunismo e do xiismo. Surgiu do islamismo em Omã e no território de Zanzibar,
com comunidades na Argélia, na Tunísia, na Líbia e na África Oriental (HOURANI, 1991,
p.74-80).

Acompanhe, abaixo, um resumo comparativo das vertentes islâmicas:


Quadro 1 - Ramificações do Islamismo

A DIVISÃO DO ISLAMISMO

SUNITAS XIITAS IBADITAS

O sucessor de Maomé é o califa, O chefe é o Imã descendente de Qualquer homem pode ser um líder
Adjetivos: Homem de moral, honra, Maomé que é inspirado por Alá, sua dentro da comunidade islâmica. São
respeito, trabalhador e humilde, palavra é inquestionável. Fiel contrários aos padrões dos sunitas
não soberbo. Fidelidade única ao apenas ao Corão. e xiitas.
Corão e ao Suna.

Fonte: (HOURANI, 1991, p. 86-89).

Observe no mapa abaixo, a disposição das vertentes islâmicas:

Figura 1 - Islã por país. Mapa do mundo das áreas de maioria muçulmana

Fonte: WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em:


http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Islam_by_country.svg. Acesso em: 05 abr. 2022.

O Império Islâmico foi sendo degradado aos poucos após a morte de Maomé.

Constantes perdas começaram a ocorrer, porém, entre 661 e 750, o Império


Islâmico conheceu sua maior extensão territorial, somando territórios na Índia, Ásia
Central, norte da África e Península Ibérica.

No ano 750, com a derrota da dinastia Omíada, pelos Abássidas, o território do


Império Islâmico começou a sofrer desanexação, primeiramente o território que hoje
conhecemos como os Emirados, posteriormente, os Turcos começaram a empreender
independência em outras áreas e os cristãos vencendo nas guerras de reconquistas.
Todo este processo foi culminar no século XV, onde, o Império Islâmico deixou de ser
dominante.

Do ano de 750 ao ano de 1258 d.C., surgiram as dinastias “Abássidas”, de origem


Persa. Bagdá passou a ser a capital política e cultural do Mundo Islâmico.
Figura 2 - Mapa de Expansão Islâmica

FONTE: WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em:


https://commons.wikimedia.org/wiki/Commons:Licensing/pt-br. Acesso em: 05 abr. 2022.

Muito da cultura Islâmica produziu um vasto patrimônio cultural e contribuiu


com vários segmentos da sociedade através da filosofia, medicina, matemática,
arquitetura e outras áreas. Enfim, foi-se o Império, mas, restou a cultura e a religião.

Em busca de aperfeiçoamento e conhecimento a religião islâmica contribuiu para


várias descobertas e invenções, por exemplo:

Na Indústria química, descobriu-se o álcool, açúcar, o nitrato de prata, o


carbonato de sódio e novas fórmulas para a produção de vidro e esmaltes cerâmicos.

Na área da medicina, as cirurgias e as causas de algumas moléstias como o


sarampo. No campo das Ciências Exatas, a utilização do zero e dos algarismos arábicos,
a álgebra. No campo da Filosofia: a tradução das obras de Aristóteles e Platão. Na Física,
a ótica, com o desenvolvimento de lentes. Na Astronomia, o astrolábio e outros
instrumentos de medição e orientação espacial.
3 O CONFLITO ISRAELO–PALESTINO

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-vector/conflict-between-israel-united-arab-


emirates-1802376859

Desde a década de 1940 judeus e palestinos se confrontam. Tudo, porque após


a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido teve a missão de estabelecer um novo lar na
Palestina para os judeus.

Os judeus haviam acabado de sofrer com o regime nazista de Adolf Hitler e o


Reino Unido havia tomado o controle da Palestina desde a Primeira Grande Guerra,
quando derrotou o Império Turco Otomano.

A Palestina era povoada por uma maioria árabe e uma minoria judia, porém,
entre os anos de 1920 até 1940, o número de judeus cresceu muito na região, pois, havia
a chegada de muitos refugiados e perseguidos pelo holocausto.

A Palestina foi escolhida pelos judeus por causa do movimento sionista, que
desde o século 19 incentivava e promovia a formação de um Estado Judeu, localizado
nas terras que Deus prometera a Abraão, assim, o movimento sionista promovia o
retorno a terra prometida.

Com o crescimento judeu na região, o aumento das tensões entre judeus e


árabes e o enfrentamento contra o domínio britânico cresceu.

Partiu dos extremistas judeus o ataque realizado contra o hotel King David, que
culminou na morte de 91 estrangeiros. Este hotel era o escritório britânico local.

Em 1947, a ONU votou para que a Palestina fosse dividida em dois Estados, um
judeu e outro árabe, com Jerusalém figurando como uma cidade internacional, mas,
somente os judeus aceitaram.

Já no ano seguinte, os britânicos deixaram o local e os judeus declararam a


formação do Estado de Israel.
Muitos palestinos, árabes dos países vizinhos se opuseram e iniciaram uma
guerra. Tropas dos países árabes vizinhos invadiram Israel.

Houve fuga de mais de 700 mil palestinos, forçados a deixarem suas casas.

No ano seguinte, com o final da guerra, Israel havia expandido sua presença
militar por maior parte do território inimigo, inclusive, partes do que seria o projeto da
ONU para o Estado Palestino.

A Jordânia ocupou as terras a oeste do rio Jordão que é a Cisjordânia e o Egito


ocupou Gaza. Jerusalém foi dividida em duas: As forças israelenses no Ocidente e as
forças da Jordânia no Oriente.

Figura 3 - Israel e Palestina divididos por muro de segurança

Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/israel-palestine-divided-by-security-wall-
1929665261

Nunca houve acordo de paz e, com o apoio dos Estados Unidos, Israel venceu os
confrontos com os palestinos e as guerras seguem até hoje.

A Guerra dos Seis Dias, de 1967, fez que Israel ocupou Jerusalém Oriental e a
Cisjordânia, bem como as Colinas de Golã da Síria, a Faixa de Gaza e a península do Sinai.

A maioria dos refugiados palestinos e seus descendentes vive em Gaza e na


Cisjordânia, bem como nas vizinhas Jordânia, Síria e Líbano. Israel ainda ocupa a
Cisjordânia.

Israel deixou Gaza em 2005. A ONU ainda considera aquele pedaço de terra como
parte do território ocupado, porque Israel determina o que entra e sai da Faixa de Gaza
por meio de um controle militar.
Israel reivindica toda Jerusalém como sua capital, enquanto os palestinos
reivindicam Jerusalém Oriental como a capital de um futuro Estado Palestino, conforme
previa o plano da ONU.

Os Estados Unidos, que têm em Israel seu maior aliado no Oriente Médio, é um
dos poucos países que reconhecem a reivindicação de Israel sobre a cidade inteira.

Muitas ações contra Israel, são motivadas pelo fundamentalismo e o terrorismo


e estas ações tem prejudicado muito o diálogo de paz entre os povos judeus e islâmicos.

Veremos no próximo capítulo, as influências do fundamentalismo e suas


consequências no diálogo de paz.
4 MODERNIDADE, FUNDAMENTALISMO E TENDÊNCIAS SECULARIZANTES:
DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/image-photo/beautiful-arab-woman-taking-part-


conference-519963121

O que é mais pontual e relevante para o Islamismo em relação a filosofia do


pensamento ocidental é o conceito de “liberdade”.

Naquilo que conhecemos do mundo ocidental, lembramos que foi um mundo


formado por princípios de inclusão, com múltiplas transformações históricas, assim, o
conceito de liberdade ocidental pode se apresentar de forma muito confusa,
característica de uma sociedade em constante movimento cultural.

O ocidente instiga um ambiente motivacional, cada ramo da cultura ocidental


provoca modificações repentinas e sem sincronia uma com as outras. Com a cultura em
movimento, a liberdade ganha valores e conceitos dos mais variados, assim, discernir o
que é liberdade real, fica cada vez mais difícil. O que é um valor essencial acaba
precisando provar-se em vista das muitas concepções de liberdade que participam da
esfera ao nosso redor.

Quando bem compreendidas, o Islã não negocia e nem discute as liberdades


fundamentais do homem.

O conceito de livre-arbítrio, cidadania e liberdade de pensamento, estão bem


definidas e reconhecidas dentro do Islã.

Foi o Islã quem lutou pela imutabilidade destes valores, posteriormente o


ocidente.

No pensamento filosófico do Islã, é inconcebível deixar estes valores serem


destruídos dentro da sociedade, muitas vezes, por movimentos que buscam a confusão
do real valor, fundamento e princípio.

Não há possibilidade para os muçulmanos separarem o material do moral,


quando o assunto envolve princípios humanos, assim, o movimento ocidental que fez a
cultura de liberdade ser confundida de dar lado ao materialismo e ao interesse
individual, se concretizou quando houve a separação do Estado da Religião. Esse
processo do século XVII, provocou a destruição de valores em justificativa do progresso.
A Revolução Industrial impactou a cultura ocidental, mas, dentro do mundo Árabe, o
progresso ocorreu de forma a fundamentar a posição inicial e preservar os valores
essenciais do homem. Com o consumo de massa, desenvolveu-se um abismo entre os
valores tradicionais e a concepção ocidental de modernidade.

Religião, no ocidente, tornou-se sinônimo de um ultrapassado conservadorismo,


inadequado na ideia de modernidade como um ideal maior. Não é mais a religião que
guia o homem, mas, a religião é guiada pelas vontades do homem.

Por isso, a condição em que o Islã se coloca, de ser a “orientação divina e verdade
permanente” seja compreendido pelo pensamento ocidental como “mais uma religião”,
com as características consideradas negativas e ultrapassadas pela modernidade que o
ocidente conhece.

Quando meditamos sobre as fases que o pensamento religioso passou, vamos


facilmente identificar uma primeira época de religião dominante e após, uma ideia de
tempos modernos, como se um pensamento tivesse evoluído um do outro, ou seja, o
pensamento religioso foi ultrapassado pelo pensamento moderno.

Muito embora essa tese parece muito razoável, os fatos objetivos, a realidade
do homem moderno, o caos social decorrente da fragmentação dos valores éticos e
religiosos mostram que não houve bem uma evolução.

É bem verdade que o mundo ocidental rege que o velho deve dar lugar para o
novo, mas, o Islã não aceita isto, pois, ele identifica esta vontade como o desejo de
anular o essencial através da superficialidade.

Para o Islã, o ocidente confundiu liberdade com individualismo, assim, os


princípios éticos e religiosos foram enfraquecidos.

No ocidente, quando se exerce a liberdade, muitas vezes o que se reflete é o


individualismo, que não considera limites, que ferem a dignidade e o respeito próprio e,
muito menos considerando os direitos dos outros e coletivos.

Então como é a relação Islã e modernidade?

O Islão não tem a natureza de se opor à modernidade. No pensamento Islão, os


benefícios da ciência e da tecnologia são bênçãos para a humanidade.

A busca do conhecimento útil, aplicado a beneficiar a vida do homem e da


sociedade é o incentivo do Islã, mas, o que não aprova é a mentalidade estreita que
idolatra a modernidade e que deseja, sem uma análise consistente, todos os aspectos
da evolução científica e tecnológica. O Islã não faz da modernidade um padrão decisivo
para os costumes da sociedade.

Fundamentalismo Islâmico é um termo utilizado para definir a ideologia política


e religiosa fundamentalista que sustenta o Islã.

Este termo define que o Islã não é apenas uma religião, mas, um sistema que
também governa a política, a economia, a cultura e a sociedade de Estado, quebrando
o conceito dos “Estados Laicos”, comum no Ocidente.

Figura 4 - Conflito Israel Palestina


Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/palestinians-supporters-hamas-attend-antiisrael-
rally-1979836583

O fundamentalismo islâmico busca tomar o controle do Estado, afim de


implementar o sistema islamista. Assim, abrigar e coordenar todos os aspectos sociais
de uma comunidade através da Xaria Islâmica.

No atentado de onze de setembro de dois mil e um, derrubando as torres gêmeas


nos Estados Unidos, essa impressão ficou bem nítida.

Foi a revolução do aiatolá Khomeini no Irã, que ofereceu uma inspiração a muitos
radicais islamitas e serviu como um exemplo de como um Estado Islâmico é
estabelecido.

Muitos ataques fundamentalista islâmico tem sido dirigido contra governos de


sociedades muçulmanas aos quais os fundamentalistas se opõem por eles não seguirem
a xaria.

Há algum debate quanto à questão de saber em que medida os movimentos


fundamentalistas islâmicos permanecem influentes. Alguns acadêmicos afirmam que o
fundamentalismo islâmico é o movimento de uma minoria, que está diminuindo. Isso
tem dividido opiniões.

Conheça os principais Movimentos Fundamentalistas Islâmicos no mundo:

● Egito - Gama'at Islamiya


● Líbano - Hezbollah
● Síria/Iraque - ISIS
● Somália - Al-Shabaab
● Sul da Ásia - Jamaat-e-Islami (existente na Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri
Lanka, Caxemira)
● Sudeste Asiático - Jemaah Islamiyah
● Filipinas - Moro Islamic Liberation Front
● Cisjordânia e Faixa de Gaza - Hamas, Jihad Islâmica da Palestina
● Arábia Saudita – Uaabismo

Figura 5 - Medina - Masjid Al Nabawi durante o dia

https://www.shutterstock.com/image-photo/26-january-2019-medina-masjid-al-1755126419

Medina - Masjid Al Nabawi durante o dia

Talvez o maior desafio do Islã seja a preservação da unidade. Nas mais diferentes
esferas de pensamento e poder, o Islã, também precisa combater as mesmas ameaças
que judeus e cristãos enfrentam.

O extremismo ou a total omissão por parte de seus adeptos, a intolerância por


parte de um mundo propenso ao repúdio de um povo que não soube conter seu
fundamentalismo.

O desafio do Islã moderno é, manter-se na posição, porém, o risco maior não


está sendo externo, mas, cada vez que a religião islâmica é reconhecida no mundo
ocidental como ameaça, internamente, cria-se uma instabilidade que se enraíza nos
pilares do princípio bases da própria religião.

Terminamos esta unidade, relembrando, que, os movimentos atuais do Islã, para


defender-se da secularização, produz milhões de refugiados por muitos territórios. As
guerras não são mais sinais de poder, mas, sinal de incapacidade de diálogo e, portanto,
instabilidade interna. Aos poucos, ocorre um crescimento de muçulmanos praticantes
da religião, mas, que não querem participar de um governo sob o domínio do Islã.

Afinal, um dia o cristianismo atuou como Religião e Estado por muito tempo e,
hoje, já não atua assim mais. A história pode se repetir com outra Religião Semita?
SAIBA MAIS

A Faixa de Gaza é uma estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar
Mediterrâneo. Faz fronteira com Israel no Leste e no Norte e com o Egito a Sudoeste.
O território tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros
de largura, com uma área total de 365 quilômetros quadrados.

Mas sua população é de cerca de 1,9 milhão de pessoas, o que a torna um dos
territórios mais densamente povoados do planeta.

Na Faixa de Gaza, os últimos 21 assentamentos judeus na área foram


desmontados em 2005 e seus colonos, evacuados. Naquele ano, os militares israelenses
desocuparam o território, mantido, no entanto, sob bloqueio militar há anos. A maior
parte controlada por Israel e outra, pelo Egito.

A imensa maioria de seus habitantes (98% a 99%) é palestina.

Chama-se Faixa de Gaza devido à cidade de Gaza, cuja existência remonta à


Antiguidade, e é governada pelo grupo extremista palestino Hamas.

Fonte: FAIXA DE GAZA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Faixa_de_Gaza&oldid=61811652. Acesso em:
10 ago. 2021.

#SAIBA MAIS#
REFLITA

No Alcorão, “Alá” é identificado por 99 adjetivos, três deles são “pacificador”,


“misericordioso” e “clemente”. Por que, então, há tanta guerra em nome de Alá?

Fonte: O autor (2021).

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalmente! Creio que foi muito importante para o nosso conhecimento sobre
as Religiões Semitas, aprender o que é o Islamismo e onde ele se encaixa no contexto
global. Agora podemos falar com conhecimento sobre o tema.

Conhecer o Islamismo, em sua raiz, nos mostra como a religião é integrada para
o crescimento e perpetuação de um povo e sua cultura.

Vimos no primeiro capítulo, o quanto foi propício ao povo árabe a religião, pois,
formavam um povo com política descentralizada, eram, de certa forma, vulneráveis aos
acontecimentos externos. Acreditamos, que, no futuro o povo da Península Arábica
seria um povo sem uma cultura característica dominante, e isso, é uma tendência que
observamos na atualidade, onde, mesmo com cultura forte, o secularismo e a
globalização, tem moldado muitas tradições em vários outros povos e nações.

Ao mostrarmos o meio em que o profeta Maomé estava inserido e a condição da


Península Arábica, antes do Islamismo, podemos entender o modo como deu-se a
propagação da religião islâmica pelo território.

Posteriormente, vimos no segundo capítulo, como ocorreram as expansões e


como era a base religiosa que influencia a política e os árabes a se imporem ao mundo.

Também, vimos como deu-se as divergências entre árabes e israelense após a


Segunda Grande Guerra, onde culminou tanta desordem em uma terra tão historiada.

Finalmente, vimos no último capítulo desta unidade, como a religião sofreu com
divergências internas, fundamentalismos, extremismos e até mesmo, pelos
aproveitadores e opositores.

Creio que após este estudo, você verá com outros olhos os acontecimentos
mundiais envolvendo o terrorismo e a religião Islâmica. Acredito que você saberá
identificar melhor os fatos.

Espero que esta leitura possa ter contribuído contigo no conhecimento para
entender como pode se dar o diálogo religioso entre as religiões semitas e,
principalmente, entre os povos que confessam a fé em um único Deus.
Insha'Allah!! (Inshalá) (“Se Deus Quiser” ou “Se Alá Quiser”)

LEITURA COMPLEMENTAR

O que é o grupo Hamas?

O Hamas é o maior entre vários grupos de militantes islâmicos da Palestina. O


nome em árabe é uma abreviação para “Movimento de Resistência Islâmica” (Ḥarakat
al-Muqāwamat al-Islāmiyyah), que se originou em 1987 após o início da primeira
“intifada palestina”, ou “levante”, em resistência a ocupação israelense da Cisjordânia e
Faixa de Gaza.

No seu Estatuto, o Hamas se compromete com a destruição de Israel. O


propósito inicial do grupo era dividido em dois: Implementar uma luta armada contra
Israel e oferecer programas de bem-estar social aos palestinos.

Mas desde 2005, o Hamas se envolveu no processo político da Palestina, quando


Israel retirou tropas e colonos de Gaza. Internamente, o Hamas disputa o poder com
outro grande grupo e rival, o "Fatah" e, em 2006, venceu o rival na assembleia legislativa
e ocupou o controle da Faixa de Gaza. O Fatah continuou com o domínio sobre a
Cisjordânia.

Isso, na prática, criou dois governos independentes em dois pedaços de território


palestino, mas, estes territórios estão dentro de Israel. Desde então, militantes em Gaza
travaram guerras contra Israel.

O Hamas é classificado como um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos,


União Europeia e Reino Unido, bem como por outras potências globais.

O Estatuto Inicial do Hamas, definiu a Palestina histórica, incluindo a atual Israel,


como terra islâmica e não aceitam qualquer paz permanente ou troca com o Estado de
Israel. No estatuto, o povo judeu é rejeitado e tido como inimigo extremo
“antissemitismo”, assim, não permitem negociações entre árabes e judeus.
No ano de 2017, o Hamas refez seu Estatuto e suavizou algumas de suas posições
declaradas e usou uma linguagem mais moderada.

Obviamente, Israel não aceitou o novo documento, mas, permitiu a criação de


um Estado Palestino “provisório” em Gaza, Cisjordânia e na parte Oriental de Jerusalém.

O novo Estatuto enfatiza que a luta do Hamas “não é contra os judeus”, mas
contra "os agressores sionistas de ocupação". Isto, tensiona ainda mais a relação com
Israel, porque, Israel disse que o grupo estava "tentando enganar o mundo".

Fonte: O autor (2021).


LIVRO

• Título: Entenda o Islã

• Autor: Christine Schirrmacher.

• Editora: Vida Nova.

• Sinopse: Essa obra é escrita de uma perspectiva firmemente cristã e reformada,


ancorada em uma visão comprometida com as inspirações das Escrituras Sagradas e de
um ponto de vista europeu, o que a torna altamente relevante e contemporânea, dada
a forte presença islâmica na Europa. Será leitura essencial e obrigatória para todos os
cristãos interessados em conhecer mais do islã, especialmente a apologistas e
evangelistas, e missionários, a pastores e teólogos.
FILME/VÍDEO

• Título: Maomé - O Mensageiro de Alá

• Ano: 1976.

• Sinopse: No século VII, os poderosos líderes de meca entraram em conflito com


Maomé, que atacou seus hábitos materialistas e suas injustiças; após as visões com o
anjo Gabriel, Maomé e seus seguidores vão para o deserto; junto ao seu povo, Maomé
lutou e derrotou os chefes de meca, destruindo os 300 ídolos da kaaba e passando todos
a adorar um único deus, bondoso e misericordioso; Maomé vai para Medina e junto com
seus seguidores constrói a primeira mesquita do mundo; após longos anos fora de meca,
o número de discípulos cresce tanto, que o profeta decide voltar para meca e a doutrina
do alcorão é ensinada para os mulçumanos - e Maomé passa a ser considerado o
´mensageiro de Alá; drama que retrata toda a vida de Maomé, desde o início de sua
pregação até a sua morte.

• Link do vídeo: (Parte 1) https://www.youtube.com/watch?v=94PDZIhTbt4

(Parte 2) https://www.youtube.com/watch?v=yGIM4AU6pz4
WEB

Qual o real significado da palavra “jihad”? É correto usar o termo "terrorismo


islâmico"? Leandro Karnal analisa esta religião com 1,4 bilhão de seguidores.

Link do site: https://youtu.be/T90Dxs_uYcM


REFERÊNCIAS

ARMSTRONG, K. Maomé Uma biografia do profeta. São Paulo. Editora Schwarcz.


1991.

HOURANI, A. Uma história dos povos árabes. São Paulo. Editora Schwarcz. 1991.

LEWIS, B. Os árabes na história. Lisboa. Editora Estampa, 1990.

ROGERSON, B. O Profeta Maomé. Rio de Janeiro. Record. 2004.

CONCLUSÃO GERAL

Caro (a) Aluno (a),

Chegamos ao Final, Parabéns!

Nós não teríamos estudado religião, de forma satisfatória, se não tivéssemos nos
dedicado ao estudo desta disciplina. As Religiões Semitas, é importante por trazer a
história do monoteísmo, e adoração a um Deus invisível e o conhecimento sobre um
Deus que influencia diretamente na vida da humanidade e, não depende do homem,
mas, o homem depende dele.

Ao estudarmos o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, aprendemos que não é


somente a “Fé” que foi beneficiada com estas religiões, mas, há mais estruturas sendo
influenciadas no cotidiano através desta crença.

Na Unidade I nós tivemos uma abrangente apresentação dos efeitos que estas
religiões, juntas, representam para a formação do mundo, das ciências e como
influencia na alocação dos homens nas diferentes regiões terrestres. Trouxemos as
causas e efeitos que a existência destes grupos gera até os dias de hoje. Iniciando nosso
conhecimento mais específico sobre o Judaísmo, na Unidade II, falamos como tudo
começou e porque Abraão foi tão importante para as três ramificações. Como o
judaísmo se desenvolveu e como é sua influência atual.

Na Unidade III, mantemos a sequência dos acontecimentos. Vimos como o


cristianismo surgiu como uma religião que incluiu, ou melhor, abriu a possibilidade aos
demais povos não-judeus, de participarem da Fé de Abraão.

E por fim, na Unidade IV, conhecemos a última ramificação expressiva do


monoteísmo Abraâmica, o islamismo, que, na sua essência, surgiu para corrigir e
completar a mensagem de Deus aos homens. De uma forma muito clara, vimos como a
ótica do islã, vislumbra o judaísmo e o cristianismo e como ela dialogava no início e
atualmente.

Bem, vimos que a questão da fé é muito mais complexa quando buscamos o


diálogo entre as religiões. Numa esfera única, podemos entender um pouco o motivo
das religiões incorrerem no protecionismo de suas convicções e perceber que para que
o mundo possa estabelecer um diálogo ecumênico, precisa de mais que mera força de
vontade.

Muito obrigado, Sucesso!

Você também pode gostar