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O Filho Eterno

por

Michael S. Horton

“Creio em Jesus Cristo, Seu único Filho, Nosso Senhor”,


Credo dos Apóstolos

Algumas vezes, até mesmo os cristãos conservadores dão a


impressão de que não importa se as crianças nas escolas
públicas oram a Deus e Pai de nosso Senhor Jesus, ou a Alá, ao
“Poder Maior”, a Krishna, ao deus finito dos Mórmons, à
deidade não trinitária das Testemunhas de Jeová [* e de outros
sectários] ou à luz divina interior. O interesse é simplesmente
no fato de que existe algum reconhecimento do lugar de “Deus”
na sociedade. “Talvez isso não seja o Cristianismo tradicional”,
escreveu um pastor, “mas é, com certeza, um passo na direção
correta”.

Mas, no Antigo e no Novo Testamento, tudo o que vai além da


adoração ao verdadeiro Deus é chamado de idolatria; e idolatria
nunca é um passo na direção correta . Adorar um “Deus” geral é
coisa ruim. Vamos simplesmente ter de perceber que o
Cristianismo não considera a religião como algo benigno e
honroso, mas faz reivindicações públicas que se opõem
diretamente às de cada rival. A partir da perspectiva cristã, a
religião não é menos temerária do que o ateísmo. Procurar
conhecer ou adorar a Deus através de qualquer outro modo que
não pela pessoa e obra de Jesus Cristo é o mesmo que pedir a
ira e a confusão. É um Deus único que nos é descrito pelo
próprio Deus na Escritura e na História.

Não se deve pensar em Deus à parte de Cristo por duas razões:


Ele é o Filho eternamente gerado, a segunda pessoa da Santa
Trindade, e falar sobre "Deus" é se referir à Trindade. Segundo,
foi o Filho - não o Pai ou o Espírito Santo - quem se tornou
homem e revelou Deus à humanidade. Isso nos leva ao coração
de nossa afirmação nessa linha do Credo: 
“Seu Único Filho, Nosso Senhor”

O credo de Israel foi resumido no Shemá: “Ouve, Israel, o


Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). Eles não
deveriam ter outros deuses (Êx 20.3). Enquanto o monoteísmo
(crença em um único Deus) se encontra no coração da religião
bíblica, a triunidade de Deus foi mantida a partir do próprio
princípio. Com certeza, isso se torna mais claro nos capítulos
consecutivos da história redentora; todavia, mesmo no ato de
abertura do drama, podemos ver Deus agindo na Divindade
triúna. O Pai fala a Palavra, enquanto o Espírito Santo paira
sobre a face das águas (Gn 1.2,3; Jo 1.1-3).

Quando chegamos à criação de Adão, lemos: “Também disse


Deus, ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança” (Gn 1.26). Três interpretações foram oferecidas a
respeito do uso plural, “ façamos ” e “ nossa ”. Alguns
argumentam que a referência é ao plural de majestade – o “nós
real”. Deus, aqui, está falando como um personagem real. O
problema com essa interpretação é que ela depende
inteiramente da convenção da história e língua inglesas. Não
temos nenhuma evidência de que governadores do Antigo
Oriente Médio tenham adotado uma convenção gramatical
semelhante. Sendo assim, essa interpretação não parece ser
plausível.

Uma segunda opinião é a de que o uso do plural se refere a


Deus, a seus anjos e às hostes celestiais. Mas, a menos que
estejamos querendo dizer que a criação à imagem de Deus foi,
realmente, uma criação à imagem de Deus e seus anjos, essa
interpretação apresenta problemas. Além disso, essa imagem é
expressa em domínio, o qual pertence peculiarmente a Deus e
não aos anjos. Mais tarde em Gênesis, somos confrontados com
o Anjo de Iavé (Jeová), que é descrito como o próprio Iavé e
também distinto de Iavé (Gn 16.7-13; 18.1-21; 19.1-28).

Finalmente, o próximo versículo anuncia: “Criou Deus, pois, o


homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou” (vs. 27). Por essa razão, pode parecer que
Deus está se referindo, aqui, a si mesmo sozinho, mas a si
mesmo em pluralidade de pessoas. Essa terceira interpretação
parece ser mais consistente com a narrativa assim como com o
restante das Escrituras. Temos, em outras palavras, a primeira
referência à pluralidade de pessoas dentro da Divindade única.

A base real para a Trindade, assim como para qualquer outra


revelação da natureza de Deus, deve ser encontrada na ação
divina, não na contemplação abstrata da natureza divina.
Conseqüentemente, a doutrina da Trindade, embora revelada
um tanto obscuramente no Antigo Testamento, é claramente
exposta na obra da redenção quando culmina no envio do Filho
e, em seguida, no derramamento do Espírito.

Primeiro, o Novo Testamento reconhece a identificação do


Redentor de Israel no Antigo Testamento como ninguém mais
do que o próprio Iavé e, então, aplica essa identidade ao homem
Jesus Cristo (Mt 1.21; Lc 2.11; Jo 4.42; Gl 3.13; 4.4-5; Fp 3.20;
Tt 2.13-14). Como Louis Berkhof mostra, o Antigo Testamento
apresenta Iavé como habitando os corações de seu povo (Sl
74.2; 135.21; Is 8.18; 57.15; Ez 43.7-9. Jl 3.17,21; Zc 2.10-11),
enquanto o NT aplica isso especificamente ao Espírito Santo
que habita na sua igreja (At 2.4; Rm 8.9-10; 1 Co 3.16; Gl 4.6;
Ef 2.22; Tg 4.5). Deus envia o filho (Jo 3.16; Gl 4.4; Hb 1.6; 1
Jo 4.9), e tanto o Pai quanto o Filho enviam o Espírito (Jo
14.26).

No batismo de nosso Senhor, há a voz do Pai pronunciando sua


bênção sobre o Filho, com a presença adicional do Espírito
Santo em forma de uma pomba. Uma referência ainda mais
direta à Trindade é encontrada na fórmula batismal, em que o
sacramento deve ser efetuado em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28.19). Primeira Coríntios 12.4-6, Segunda
Coríntios 13.14 e 1 Pedro 1.1 também se referem ao Pai, ao
Filho, e ao Espírito Santo.

Na sua própria vida e ministério, Jesus estava ciente da sua


eterna filiação. Em Mateus 11.27, ele diz de si mesmo: “Tudo
me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o
Pai. E ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o
Filho quiser revelar”, A Grande Comissão procede da própria
pessoa de Cristo: “Toda autoridade me foi dada no céu e na
terra “ (Mt 28.18). Isso, claramente, é uma violação ao coração
da fé de Israel (i.e., monoteísmo), a não ser que Jesus Cristo
seja quem ele reivindica ser: Deus, o Filho em carne . “Ora
ninguém subiu ao céu”, disse Jesus, “senão aquele que de lá
desceu, a saber, o Filho do homem [que está no céu]” (Jo 3.13).
Vemos, mais uma vez, a importância de vir a conhecer Deus
através das suas ações históricas quando Jesus diz: “Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). Isso não
quer dizer que o Pai estava de férias, mas que o papel do Filho
na história redentora tinha, então, assumido um significado
mais direto. O Pai planeja a nossa redenção, o Filho a garante e
o Espírito Santo a aplica.

[* Os sectários] tentaram atenuar tais passagens dizendo que


Jesus supunha ser o Filho de Deus da mesma forma que todos
nós somos filhos de Deus. Mas o público original de nosso
Senhor não tinha dificuldade para compreender seu significado:
“Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo,
porque não somente violava o sábado, mas também dizia que
Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (vs. 18). Isso
não foi simplesmente uma espécie de anúncio que os jovens
judeus faziam circulando pela cidade! Não foi visto como uma
referência benigna e amigável à paternidade universal de Deus
e irmandade do homem, mas como uma declaração de nada
menos do que igualdade com Deus.

Como Jesus respondeu à percepção deles? Ele disse, “Esperem


um minuto! Vocês entenderam mal”? De modo algum! Ele disse:
“Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim
também o Filho vivifica aqueles a quem quer. E o Pai a ninguém
julga, mas ao Filho confiou todo julgamento, a fim de que todos
honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não
honra o Filho não honra o Pai que o enviou”. (vs. 21-23, ênfase
acrescentada).

Estas palavras, “do modo por que”, são inconfundíveis. Jesus


estava alegando que era digno de adoração divina da mesma
forma como o próprio Pai. “Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36). A presença de Jesus
entre nós é a própria presença de Iavé, nosso Criador e
Redentor que se incumbe pessoalmente de nos resgatar .
Jesus Cristo era e é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15). 

[ * ] Expressão substituída por fazer referência a uma realidade


religiosa especificamente norte-americana, sem correspondência
com a nossa.

 
Fonte: Creio – 1999, Copyright 1999, Editora Cultura Cristã.
Publicado anteriormente com o título We Believe, Copyright
1998, by Michael Horton pela World Publishing. Traduzido com
permissão. Artigo sumariado, reproduzido com autorização
da Editora Cultura Cristã .  

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