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I – Os Pais Apostólicos
Os chamados pais apostólicos são os primeiros escritores pós-bíblicos, os quais viveram no fim do primeiro século e inicio do segundo da era
cristã. Eles receberam o titulo de pais apostólicos porque, na época, acreditava-se que alguns desses autores conheceram os apóstolos de
Cristo ou foram contemporâneos deles. Embora os escritos desses autores não sejam canônicos, conhecer a vida e o pensamento dos pais
apostólicos é importante para se entender os problemas, divisões internas, perseguição e outros conflitos da igreja nos dois primeiros séculos.
Os escritos mais importantes desses autores que destacamos são: A Primeira Epistola de Clemente, escrita em Roma, por volta do ano 95
d.C; A Epistola de Policarpo, escrita em Esmirna, por volta de 110 d.C; as Epístolas de Inácio escritas por volta de 115 durante sua viagem a
Roma; A Epístola de Barnabé, escrita no Egito em 130 d.C; Uma Segunda Epistola de Clemente, escrita em Corinto ou Roma, por volta do
ano 140 d.C; O Pastor de Hermas, escrito em 150 d.C na cidade de Roma; A Didaquê ( Os ensinamentos dos Doze Apóstolos) escrita
provavelmente na Síria em 101 d.C, embora alguns acreditem que se trata de uma obra mais antiga. Outra importante obra desse período foi
os Fragmentos de Papias, os quais foram escritos em Hierápolis, na Frígia, em 150 d.C, ao passo que essa obra foi citada nos textos de
Eusébio.
Clemente escreveu aos cristãos de Corinto também por muitas razões por que Paulo lhes escreveu. Além de conclamá-la a permanecer
fortes e leais a fé diante da perseguição, ordenou-lhes que rejeitassem a divisão e a contenda, como um só corpo de crentes em Cristo.
Segundo parece, a igreja estava tão cheia de discórdia como em meados do século I quando Paulo interveio com suas cartas. Mas a solução
de Clemente para tais atitudes e ações de cisma foi mais enfática do que a de Paulo. Enquanto Paulo tinha dado ênfase para sua união num
só Espirito e num só batismo mediante a fé em Cristo, Clemente ordenou que obedecessem ao bispo que Deus nomeara como seu
superior (OLSON, 2001, p. 42)
Ao que tudo indica, atitudes de insubordinação em relação a liderança havia sido instaurada na igreja de Corinto.
As várias igrejas cristãs na cidade estavam sob a responsabilidade do bispo, ao passo que alguns cristãos da cidade rejeitavam sua autoridade.
Portanto, no intuito de corrigir esse problema, Clemente escreve a igreja de Corinto advertindo-a da necessidade de se respeitar o bispo e as
demais lideranças da Igreja. Em sua epístola, Clemente recorre com frequência ao Antigo Testamento e, destaca nomes de personagens que
foram exemplos de humildade de obediência
Tomemos como exemplo Enoque, que pelo fato de ter sido achado justo em sua obediência foi transladado e nunca viu a morte. Noé, porque
foi achado fiel em seu serviço, proclamou a renovação do mundo, pois por meio dele o Mestre salvou os animais que entrariam
pacificamente na arca. Abraão, que foi chamado amigo, provou fielmente naquilo que obedeceu as palavras de Deus. Pois ele partiu
obedientemente de sua terra e parentela e da casa de seu pai, de forma que, deixando uma pequena terra, um clã fraco e uma pequena
família, ele se tornou o herdeiro da promessa de Deus (GONZALEZ, 2004, p. 64)
Vale ressaltar que o fato de um bispo de Roma escrever para os cristãos de outra cidade, não significa que Clemente se considerava sucessor
dos apóstolos ou superior aos demais lideres da igreja de então. Em nenhum momento a epistola sustenta a superioridade de Clemente em
relação às demais lideranças.
O objetivo pela qual a Didaquê foi escrita era dar instruções que dizem respeito à moralidade cristã e também como os cristãos deveriam
tratar os profetas que falavam em nome do Senhor. Além disso, o texto também dava instruções sobre o batismo e espiritualidade cristã
Foi considerado livro canônico por vários grupos de cristãos nos primeiros séculos. É um manual de instrução para o batismo, espécie de
catecismo explicando e esquematizando as principais verdades da fé e da ética cristã. Esse livro oferece um panorama significativo sobre a
vida da igreja na época de sua composição. Muito se discutiu se esse livro deveria o não pertencer ao cânon bíblico, mas a Igreja, sem
nenhuma determinação oficial o foi colocando fora da lista dos livros canônicos (ALMEIDA, 2012, p. 78)
A Didaquê é composta de 16 capítulos, os quais estão agrupados em três sessões e um epílogo, o que trata sobre a segunda vinda de Jesus,
também denominada de parusia: os capítulos 1 a 6 tratam de uma catequese moral. O livro começa falando de dois caminhos – o caminho da
vida e o caminho da morte; os capítulos 7 a 10 abordam a respeito de instruções relacionadas à liturgia, incluindo o batismo, o jejum, a
oração e a ceia. Com respeito a isso, o texto dizia que os cristãos deveriam jejuar às quartas e sextasfeiras, além de orar ao Pai três vezes ao
dia; os capítulos 11 a 15 são uma espécie de manual de disciplina, onde se da, por exemplo instruções de como lidar com os profetas
A resposta da Didaquê é que os profetas são conhecidos por seu comportamento. Se eles pedem dinheiro, ou ordenam que uma mesa seja
colocada para que eles possam comer, ou não praticam o que ensinam, eles são falsos profetas e mercadores de Cristo. Por outro lado, os
verdadeiros profetas merecem ser sustentados, e a comunidade deve prover para eles (GONZALES, 2004, p. 70)
O Didaquê tem muitas citações de outros textos bíblicos como Mateus, Lucas e Provérbios. Outra característica importante desse texto é que
o Didaquê é o único documento que fala de maneira clara no batismo por imersão nos dois primeiros séculos do cristianismo
Quanto ao batismo, faça assim: depois de ditas todas essas coisas batizem com água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espirito
Santo. Se você não tiver água corrente, batize em outra água. Se não puder batizar com água fria, faça com agua quente. Na falta de uma ou
outra, derrame três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo. Antes de batizar, tanto aquele que batiza como o
batizando, bem como aqueles que puderem, devem observar o jejum. Você deve ordenar ao batizando um jejum de um ou dois dias (Didaquê
7, 1-4)
Portanto, a Didaquê é importante para termos informações sobre a disciplina e a liturgia na igreja em seus primeiros anos.
Inácio também condenou a cristologiadoceta do gnosticismo, sem entrar em debate contra o gnosticismo como um todo. Afirmou muito
enfaticamente a verdadeira divindade e humanidade de Jesus Cristo como Deus aparecendo em forma humana. Quando a verdadeira
humanidade física de Jesus escreveu aos trálios: ‘Mas se, conforme dizem alguns ateus ( ou seja, incrédulos), ele sofreu apenas na
aparência ( ao passo que eles existem somente em aparência!) por que estou em cadeias? E por que quero lutar com feras? Se este for o
caso, estou para morrer sem motivo; pior do que isso, estou contando mentiras a respeito do Senhor’. Ao afirmar o sofrimento genuíno de
Jesus, Inácio repudiou a cristologia dos gnósticos, especialmente a versão doceta. Alguns cristãos primitivos, no entanto, questionavam a
genuína divindade de Jesus Cristo, sua igualdade com Deus (OLSON, 2001, p. 46).
Assim, a visão doceta do gnosticismo negava a humanidade de Jesus, pois esse grupo pensava que Jesus era uma espécie de ser celestial, cujo
corpo não era uma algo tangível. Por outro lado, havia indivíduos que negavam a divindade de Cristo e, entendiam que ele era apenas um
mestre nos moldes do judaísmo.
Inácio foi então um dos primeiros a sistematizar a doutrina de que Jesus era plenamente homem e plenamente Deus quando se encarnou.
Jesus era da linhagem de Davi; nasceu de forma natural, ele comeu e bebeu; e como todos os seres humanos experimentou o sofrimento, ao
passo que o maior exemplo disso foi sua morte expiatória na cruz. Além da cristologia, Inácio também foi o responsável por criar o termo
‘eucaristia’, para referir-se ao momento da ceia e, para ele, a participação na eucaristia era um fator importante no processo da salvação
humana. Inácio foi martirizado em Roma cerca de 110 ou 115 de nossa era.
A parte doutrinária é dedicada principalmente à interpretação alegórica de textos do Antigo Testamento. A questão do entendimento mais
apropriado do Antigo Testamento fora, por algum tempo, uma questão séria entre judeus helenistas. Assim, já vimos como Filo ofereceu
uma interpretação alegórica do Antigo Testamento, tornando as Antigas Escrituras compatíveis com sua própria filosofia. De uma forma
semelhante, os cristãos estavam enfrentando agora uma aparente incompatibilidade entre alguns textos do Antigo Testamento e os
ensinamentos do Novo. Além disso, o aparecimento da igreja cristã produziu uma controvérsia entre os cristãos e os judeus, controvérsia
essa que tinha a ver com a correta interpretação do Antigo Testamento. Desse modo os cristãos se acharam obrigados a procurar meios de
interpretação que unissem os dois testamentos. Um desses métodos foi a interpretação alegórica, um procedimento pelo qual era possível
livrar os preceitos do Antigo Testamento daquela natureza mais primitiva que os cristãos, e até mesmo alguns judeus, tinham dificuldade em
aceitar. Foi em Alexandria que tal interpretação alegórica floresceu, primeiro entre os judeus tais como Filo, e depois entre cristãos tais
como o Pseudo-Barnabé, Clemente e Orígenes. É por isso que Clemente e Orígenes tinham a assim chamada Epístola de Barnabé em alta
estima, e até mesmo a incluíam entre os escritos do Novo Testamento. E é também por esse motivo que os eruditos modernos crêem que
Alexandria foi o lugar da composição deste documento (GONZALES, 2004, p. 82-83)
Um dos exemplos que podemos citar de interpretação alegórica na Epístola de Barnabé é o texto do Antigo Testamento que proíbe comer a
carne de porco.
De acordo com autor dessa epístola tal proibição na verdade nos ensina de que não devemos nos unir a pessoas que são como porcos.
Portanto, o método alegórico não enfatiza o sentido literal do texto. Já a segunda parte da epístola é muito parecida com o Didaquê, pois
também trata da questão dos dois caminhos – caminho da vida e caminho da morte.
Após aquela grande e santa chamada, se alguém peca porque foi tentado pelo diabo, ele tem um arrependimento. Mas se ele peca e se
arrepende continuamente, não há nenhum proveito para tal homem no arrependimento, pois ele dificilmente viverá (GRANT, 1972, p.6)
Hermas aborda ensinamentos práticos sobre moralidade cristã através de dez parábolas, pois para o autor o cristianismo é uma série de
preceitos que devem ser seguidos.