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O nome “pais apostólicos” tem sua origem na Igreja do Ocidente do século II. São
chamados de “pais apostólicos” os homens que tiveram contato direto com os apóstolos
ou com algum bispo que teve contato direto com os pais apostólicos. Mas simplesmente
esse contato não basta para ser um Pai Apostólico. É mister que tenha produzido teologia
ou um escrito importante para a igreja da época em que viveu. Destacam-se entre os
indivíduos que regularmente recebem esse título Clemente de Roma, Inácio e Policarpo,
principalmente este último, pois existem evidências precisas de que ele teve contato direto
com os apóstolos. Outros escritos assaz importantes dessa época são: A Epístola de
Barnabé, o Pastor de Hermas e o Didaquê, que fizeram parte do cânon do Novo
Testamento, enquanto este estivera em formação, mas que por questões difíceis de se
encontrar o autor, acabaram ficando de fora no momento definitivo O objetivo dos
escritos desses Pais Apostólicos era exortar e edificar a Igreja, que estava em seu período
totalmente novo e precisava se desenvolver para o mundo de então.
Quem era Clemente de Roma? Há algumas hipóteses levantadas sobre Clemente para
identificá-lo. Para alguns ele pertencia à família real. Para outros, ele era colaborador do
apóstolo Paulo. Outros ainda sugeriram que ele escreveu a carta aos Hebreus. Em verdade,
as informações a respeito de Clemente de Roma vão desde lendárias a testemunhas
fidedignas. Alguns pais, como Orígenes, Eusébio de Cesareia, Jerônimo, Irineu de Lião,
entre outros, aceitaram como verdadeira a identificação de Clemente de Roma como
colaborador do apóstolo Paulo. A Igreja Católica Romana coloca-o como sucessor de
Anacleto, como quarto Papa, porém cremos que na época em questão (ano 81-96), esta
divisão que futuramente ocorrerá entre os ofícios de Bispo e Presbítero ainda não estava
consolidada, dada a proximidade com os escritos apostólicos onde essa divisão não se
perfaz. Ao citar os oficiais instituídos pelos apóstolos, Clemente fala apenas de Bispos e
Diáconos, e o próprio Clemente era provavelmente um co-presbítero junto com Lino e
Anacleto. Uma coisa que se pode dizer do autor com certeza é que ele era um grande
discípulo de Pedro e Paulo, citados como exemplos a serem seguidos.
Não podemos deixar de notar a ênfase dada pelo autor à graça e soberania de Deus:
há um constante uso que Clemente faz da designação “eleitos de Deus” para se referir aos
Coríntios, afirmando que eles foram escolhidos por meio de Jesus Cristo, sendo eleitos
para sermos o seu povo particular dentre todos os espíritos e seres vivos. Necessário se
faz também observar a primeira declaração pós-apostólica sobre a Justificação, uma
declaração que mostra como a teologia bíblica da salvação e justificação enviada a Roma
por meio de Paulo, quando escreve a sua Carta aos Romanos, estava latente, cristalina e
brilhante aos olhos de Clemente. Quando fala da origem última de nossa justificação, ele
declara que essa justificação não é alcançada “por nós mesmos, nem pela nossa sabedoria,
inteligência, nem nas obras que realizamos com pureza de coração, mas pela fé e é por
ela que Deus justificou todos os homens desde as origens”.
Mesmo sendo de Antioquia, seu nome, Ignacius, deriva-se do latim: igne, “fogo, e
natus: “nascido”. Conforme seu nome sugere, Inácio era um homem nascido do fogo,
ardente, apaixonado por Cristo. Segundo Origenes, após a morte de Evódio, que teria sido
o primeiro bispo de Antioquia, Inácio fora nomeado o segundo Bispo dessa influente
cidade. Inácio escreveu algumas epístolas às comunidades cristãs asiáticas: à igreja de
Éfeso, às igrejas de Magnésia, situada no Meander, às igrejas de Filadélfia e Esmirna e,
por fim, à igreja de Roma. O objetivo da carta a Roma era solicitar que os irmãos não
impedissem seu martírio, o que aconteceria durante o reinado de Trajano (98-117).
A cidade de Antioquia foi fundada por volta do ano 300 a.C., por Seleuco Nicátor,
com o nome de Antiokkeia (cidade de Antíoco). Tornou-se capital do império selêucida
e grande centro do Oriente helenístico. Conquistada pelos romanos por volta do ano 64
a.C., conservou seu estatuto de cidade livre e foi a terceira cidade do Império depois de
Roma e Alexandria (no Egito), chegando a abrigar 500 mil habitantes. Evangelizada pelos
apóstolos Pedro, Paulo e Barnabé, tornou-se metrópole religiosa, sede de um patriarcado
e centro de numerosas controvérsias, entre elas, o arianismo, o monofisismo e o
nestorianismo. Era considerada a igreja-mãe do Oriente.
Antioquia, à margem do Orontes, era a capital da província romana da Síria, terceira
cidade do Império que ocupa um importantíssimo lugar na história do Cristianismo. Foi
ali que o apóstolo Paulo pregou o seu primeiro sermão cristão (numa sinagoga), e foi lá
que os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez de cristãos.
Inácio (35 - 110 d.C.) foi Bispo de Antioquia da Síria; de acordo com a tradição, ele
foi discípulo do apóstolo João, também conheceu o apóstolo Paulo e foi sucessor de Pedro
na igreja em Antioquia, fundada pelo próprio apóstolo. Segundo Eusébio de Cesareia,
Inácio foi o terceiro Bispo de Antioquia da Síria e, segundo Orígenes, teria sido o
segundo Bispo da cidade. Inácio foi detido pelas autoridades e transportado para Roma,
onde foi condenado à morte no Coliseu.
Foi preso por ordem do imperador Trajano (98 - 117 d.C.) e condenado a ser lançado
aos leões no Coliseu em Roma, as autoridades romanas esperavam fazer dele um exemplo
e, assim, desencorajar o Cristianismo; porém, sua viagem a Roma ofereceu-lhe a
oportunidade de conhecer e ensinar os conceitos cristãos e, no seu percurso, Inácio
escreveu seis cartas para as igrejas da região e uma para um colega Bispo. Ao falar sobre
sua execução, Inácio disse a famosa expressão: “trigo de Cristo, moído nos dentes das
feras”. E, na iminência do martírio, prometeu aos cristãos que, mesmo depois da morte,
continuaria a orar por eles junto de Deus.
Unidade da Igreja
Inácio enfatiza nas suas cartas que se preserve a unidade da Igreja de Cristo:
“Convém estardes sempre de acordo com o modo de pensar do vosso Bispo. Por outro
lado, já o estais, pois o vosso presbitério, famoso justamente por isto e digno de Deus,
sintoniza com o Bispo da mesma forma que as cordas de uma harpa. Com vossos
sentimentos unânimes, e na harmonia da caridade, constituís um canto a Jesus Cristo. Mas
também cada um deve formar juntamente com os outros, um coro. A concórdia fará com
que sejais uníssonos. A unidade vos fará tomar o dom de Deus, e podereis cantar a uma
só voz ao Pai por Jesus Cristo. Também ele, então, escutar-vos-á e reconhecerá pelas
obras que sois membros do seu Filho. Importante, por conseguinte, vivermos numa
irrepreensível unidade. Assim poderemos participar constantemente da união com Deus”.
De acordo com Inácio, se os cristãos estiverem unidos numa mesma Fé, tanto será
mais forte a oração. A caridade está diretamente ligada à unidade da Igreja, por isso Inácio
chama de orgulhoso aquele que não guarda a unidade da Igreja junto com o Bispo: “Se a
oração de duas pessoas juntas tem tal força, quanto mais a do Bispo e de toda a Igreja!
Aquele que não participa da reunião é orgulhoso e já está por si mesmo julgado, pois está
escrito: “Deus resiste aos orgulhosos.” Tenhamos cuidado, por tanto, para não resistirmos
ao Bispo, a fim de estarmos submetidos a Deus.”
A) Jesus Cristo
B) Trindade
Alguns unicistas enfatizam que a doutrina da Trindade só veio a surgir muito tempo
depois dos tempos apostólicos; entretanto, além de estar na Bíblia, os escritos de Inácio
enfaticamente ensinam a crença na doutrina da Trindade: “Procurai manter-vos firmes
nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na
carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim,
unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos
presbíteros e diáconos segundo Deus. Sejam submissos ao bispo e também uns aos outros,
assim como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e os apóstolos se submeteram a
Cristo, ao Pai e ao Espírito, a fim de que haja união, tanto física como espiritual”.
C) O Culto
Policarpo exorta aos Filipenses a uma vida virtuosa, às boas obras e à firmeza, mesmo
ao preço de morte, se necessária, uma vez que tinham sido salvos pela fé em Cristo. Ao
contrário de Inácio de Antioquia, Policarpo não estava interessado em administração
eclesiástica, mas antes em fortalecer a vida diária, prática dos cristãos.
O martírio de Policarpo é descrito um ano depois de sua morte, em uma carta enviada
pela Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio. Esse registro é o mais antigo martirológico
cristão existente. Diz a história que o procônsul romano, Antonino Pius, e as autoridades
civis tentaram persuadilo a abandonar sua fé, quando já avançado em idade, para que
pudesse ser livre. Ele, entretanto, respondeu com autoridade: “Eu tenho servido a Cristo
por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que
me salvou? Eu sou um cristão! ”