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ÁREA PASTORAL NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

ESCOLA DE MINISTROS

Armínio Artur de Carvalho

AS CARTAS CATÓLICAS

As “Cartas Católicas” são um conjunto de sete livros do Novo Testamento escritos


pelos apóstolos Tiago (Tg), Pedro (1 e 2Pd), João (1, 2 e 3Jo) e Judas (Jd), situados após as
cartas de S. Paulo e antes do último livro, o Apocalipse.

Essa denominação foi empregada no séc. IV pelo historiador Eusébio de Cesaréia,


(História Eclesiástica, II, 23,25) e pelo Concílio de Laodicéia no ano 360 (cânon 59), pois as
cartas não possuem destinatário específico, são para “toda a Igreja”. Com efeito, o termo
“católico” provém do grego kata+holos, que significa, “para+todos”. Elas se distinguem,
portanto, das cartas de S. Paulo, normalmente destinadas às comunidades (Roma, Corinto,
Éfeso…), ou à pessoas (Tito, Timóteo…).

Exceção seja feita à duas cartas: 2Jo possui, como destinatário, a “Senhora eleita”,
que aparenta ser mais uma comunidade particular do que toda a Igreja; e a 3Jo que se
destina a “Gaio”, provavelmente um presbítero de alguma comunidade.

A Carta de Tiago é mais que uma carta, poderia classificar-se como uma homilia ou
catequese que exorta à paciência nas tribulações, ao domínio da língua, à misericórdia etc.
É dirigida a todas as comunidades cristãs, simbolizadas pelas doze tribos de Israel. A Carta,
sobretudo, reduz a lei ao mandamento do amor ao próximo: exalta os pobres e adverte
severamente os ricos. Insiste nas práticas das boas obras e previne contra uma fé estéril. A
exigência do amor exclui a exploração, e apresenta a passagem mais violenta do Novo
Testamento contra os ricos exploradores na linha profética do Antigo Testamento.

O autor se dá o nome de Tiago, irmão ou parente do Senhor, que dirigiu o Concílio


de Jerusalém e morreu mártir no ano 62. No entanto, o estilo e o grego refinado da carta
tornam improvável ter sido escrita por um judeu de Jerusalém. Talvez se deva pensar num
judeu helenista do final do séc. I, entre os anos 80-100. Até o séc. III não foi considerada
como canônica.

As Cartas de Pedro (1 e 2). 1Pd é um escrito didático e exortatório que se propõe


afiançar na fé grupos de cristãos ameaça dos pelo perigo da apostasia. O ensino gira em
torno da graça e do compromisso do Batismo e da esperança na vinda de Cristo. Os cristãos
foram escolhidos e convocados por Deus para seguir e obedecer a Jesus Cristo na sua vida
e em seus ensinamentos. A Igreja é escolhida Templo de Deus e do Espírito, cuja firmeza é
Cristo, a pedra angular sobre a qual está construída.

O autor é o apóstolo Pedro, conforme nos diz na própria carta. É escrita na


Babilônia, denominação pejorativa de Roma no Apocalipse (14,8). Embora alguns

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coloquem em dúvida sua autenticidade, não há razões para não atribuí-la a Pedro. Data do
ano de 64, anterior à perseguição de Nero.

2Pd apresenta-se como o testemunho de Pedro que vê próxima a sua morte. Os


autores, no entanto, costumam atribuir-lhe uma data posterior, apoiados em razões de
tipo interno, de estilo, vocabulário etc. É atribuída a um discípulo do apóstolo na primeira
metade do séc. II.

O tema central da carta é a volta de Cristo. Não a descreve como uma


transformação do mundo nem como o reinado de Deus sobre a sua criação, senão como a
destruição total da realidade presente. Três pontos da carta merecem destaque: a vocação
cristã à “participação da natureza divina”; a definição do caráter inspirado das Escrituras; a
certeza da parusia futura (segunda vinda de Cristo no final dos tempos), apesar da demora
e da incerteza de seu dia. Termina com a perspectiva de um mundo novo onde habitará a
justiça.

As Cartas de João (1, 2 e 3) 1Jo foi dirigida às comunidades cristãs da Ásia Menor,
que passavam por séria crise, provocada por um grupo de dissidentes carismáticos que
propunham uma doutrina gnóstica.

A carta mostra que é vazio e sem valor qualquer espiritualismo que não se traduz
em comportamento prático. Não é possível amar a Deus sem amar ao próximo e sem
formar comunidade: se Deus é Pai, os homens são filhos e família de Deus, e
consequentemente todos devem amar-se como irmãos. Deus manifestou o seu amor por
meio de Jesus, que tornou possível o amor entre os homens. Daí o perigo de negar que
Jesus é o Messias, o Filho de Deus, que viveu e deu sua vida pelos homens. Por outro lado,
somente pela fidelidade ao exemplo e mandamento de Jesus é que o homem tem vida
plenamente humana.

O centro da carta é o amor, que traduz a fé em vida concreta. Amar ao próximo


significa conhecer a Deus, viver na luz, estar unido a Deus e aos irmãos, não pertencer ao
mundo e cumprir os mandamentos. Portanto, amar a Deus é praticar a justiça, é ser filho
de Deus, obter o perdão dos pecados e libertar-se do medo.

2Jo, esta carta se dirige a uma comunidade personificada como ‘‘Senhora eleita’’,
repetindo frases da primeira carta de João. Trata-se de comunidade exposta à ameaça de
perder o próprio coração da fé e da vida cristã. Alguns pregadores ‘‘avançados’’ negam que
o homem Jesus seja o Messias enviado por Deus e deixam de lado o mandamento do amor
mútuo, rompendo consequentemente sua relação com Deus. Em poucas palavras, pregam
um conhecimento elevado que não necessita da fé em Jesus nem do seu evangelho de
amor. O Ancião é radical: proíbe que a comunidade mantenha qualquer relacionamento
com esses impostores. Trata-se sem dúvida de pessoas que pertencem ao grupo combatido
pela primeira carta de João. O remetente assina ‘‘Ancião’’ (= presbítero) e os destinatários
se encontram na Ásia Menor. O autor e a época são os mesmos da primeira carta de João.

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3Jo, é uma carta de encorajamento, que apresenta situação e pessoas bem
concretas. O ‘‘Ancião’’ é certamente responsável por um grupo de comunidades, e está
encontrando a oposição de Diótrefes, o dirigente de uma igreja local, a quem acusa de ser
dominador e de ter uma língua ferina. O Ancião enviou alguns missionários que se
hospedaram na casa de Gaio, mas Diótrefes não permitiu que eles tivessem acesso à
comunidade local; agora torna a enviá-los e pede a ajuda de Gaio. Demétrio, portador da
carta, talvez seja um desses missionários. Note-se que a crítica ao dirigente Diótrefes não
é a respeito de uma doutrina errada, mas de um espírito autoritário, que toma decisões
sem consultar a comunidade.

A Carta de Judas. O autor desta carta se diz irmão de Tiago, que é, sem dúvida, o
parente do Senhor. O estilo e a linguagem retórica da carta não são próprios de um judeu
palestinense. Isso e outras referências a pregações dos apóstolos sobre os tempos difíceis
sugere uma época relativamente tardia. Assim como a carta de Tiago, parece ser do final
do séc. I.

O que interessa a Judas é delatar os perversos doutores que colocam em perigo a


fé cristã. Ameaça-os com um castigo divino. Suas blasfêmias e abusos morais não passarão
sem o castigo diante Deus.

Observa-se que as Cartas Cristãs têm em comum algumas temáticas como os


cuidados a ter com os falsos mestres, a necessidade de guardar a integridade da fé, a
exortação à fidelidade na perseguição e a proximidade do fim dos tempos.

Tais temáticas denunciam uma época relativamente tardia, em que esses


problemas eram os mais prementes, devido ao aparecimento das primeiras heresias
cristológicas e a algumas perseguições. Mas estas podem ter vindo do poder político
exterior ou do interior da própria comunidade – ou seja, dos falsos mestres.

Os livros foram sendo aceitos aos poucos na lista dos escritos sagrados. De fato,
será no Concílio, já citado, de Laodicéia, final do séc. IV, que veremos essas cartas serem
lidas, efetivamente, por toda a Igreja do Oriente e do Ocidente.

Portanto, a denominação de “cartas católicas” indica apenas aquelas sete cartas


que, originalmente, não possuíam destinatários particulares e escritas por apóstolos.
Certamente que todos os textos que o Magistério da Igreja inseriu na Bíblia são “para
todos”.

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