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Epístola de Tiago é uma das cartas do Novo Testamento, assim conhecidas porque
foram escritas como cartas circulares, isto é, para serem lidas em várias igrejas, ao
contrário das "Epístolas de Paulo" que eram enviadas a igrejas específicas ou a
determinados indivíduos. Entretanto fica evidenciado pelo conteúdo da carta que o
autor direciona seus conselhos aos cristãos judeus recém-convertidos.

Havia vários homens importantes no Novo Testamento que se chamavam Tiago.


O autor identifica-se somente como “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo” (Tg 1:1).

A carta é tradicionalmente atribuída a Tiago, irmão do Senhor. Ele é mencionado


duas vezes nos Evangelhos (Mt 13:55; Mc 6:3), onde é identificado como um
dos irmãos consanguíneos de Jesus Cristo[1][2][3]. Esse Tiago somente se tornou um
seguidor do Senhor após a Ressurreição. Ele estava entre os discípulos
primitivos que, no cenáculo, esperavam pela descida do Santíssimo Espírito e
“perseveram de modo unânime em oração e súplica” (At 1:14). Ele foi
martirizado nas mãos dos judeus no ano 63 d. C. conforme relata o
historiador Flávio Josefo. De um homem nessa posição de responsabilidade e
autoridade, haver-se-ia de esperar uma carta pastoral de conselhos práticos
concernentes a questões que afetavam a vida espiritual da Igreja, sendo
exatamente isto que é encontrado nessa epístola.
Outros supõem que esta epístola foi escrita pelo apóstolo Tiago, filho de
Zebedeu (Mt 10:2), que Herodes Agripa I ordenou à morte em 44 d. C. (At 12:2),
contudo os eruditos costumam repudiar esta tese. A visão de que o autor seria
o outro apóstolo Tiago, filho de Alfeu (Mt 10:3), é vista com hesitação pelos
antigos eruditos, sendo que os modernos ainda o discutem, inclinando-se para
a negativa.

Data da escrita
Não há evidências na epístola ou de fontes externas que ajudem a determinar com
exatidão a data em que foi escrita esta carta. Contudo, alguns estudiosos conservadores
argumentam que pode ter sido escrita em 45 d. C., enquanto que outros acreditam que
fora escrita em 62 d. C.

Há ainda datas mais recentes baseadas no fato de que na epístola o autor não faz
nenhuma menção do problema da admissão de gentios na Igreja, posto que é conhecido
que Tiago estava profundamente preocupado com esta questão em uma época posterior.
Esses que propõem uma data posterior ressaltam as doutrinas evangélicas contidas nessa
carta como sendo para uma Igreja que está dando seus primeiros passos na fé, o que
favorece a tese de uma datação posterior às cartas de Gálatas e aos Romanos, nas quais
o autor tratou de assuntos doutrinários fundamentais.
Entretanto, o aspecto-chave não é o ano exato, mas o período. Se, como indicam os
relatos históricos extra-bíblicos, Tiago foi martirizado em 63 d. C., a epístola claramente
foi escrita antes dessa data.

Destinatários
A aplicação simbólica do autor se refere provavelmente aos judeus que
aceitaram Jesus como Messias e Salvador através da pregação do Evangelho. Tiago
dirige sua epístola “às doze tribos dispersas entre as nações” (1:1). No contexto judaico,
o termo “doze tribos” designa Israel em sua totalidade; O termo “dispersão” usado pode
fazer alusão às primeiras perseguições sofridas pela Igreja que levaram os convertidos a
Cristo a se espalharem por diversas regiões palestinas e extra-palestinas, em alusão a
“entre as nações”. Além disso, Tiago, ao usar tal construção, poderia ter em mente todo
“Israel Espiritual” que abrange os diversos fiéis a Cristo Jesus em diversas etnias,
culturas, e regiões.
Canonicidade
Ver artigo principal: Antilegomena
A Epístola de Tiago não foi originalmente confirmada como livro inspirado
pela Igreja. Eusébio de Cesareia, no começo do século IV, afirma que ela ainda é
contestada por alguns.
Durante a Reforma Protestante, alguns teólogos, como Martinho Lutero, argumentavam
que a epístola não deveria integrar o Novo Testamento canônico, devido à aparente
controvérsia entre a "justificação pelas obras"[4], ali contida, e a "justificação pela fé"
pregada nas cartas paulinas. Lutero via aí uma contradição com a doutrina da sola
fide ("somente pela fé").
Na África, Tertuliano e Cipriano a desconhecem e o catálogo de Mommsen (cerca do
ano de 360) ainda não a contém. Não figura no cânon de Muratori, editado por
Ludovico Antonio Muratori, e é muito duvidoso que ela tenha sido citada por Clemente
Romano ou pelo autor do Pastor de Hermas. Foi, porém, incluída entre os 27 livros do
Novo Testamento relacionados por Atanásio de Alexandria e posteriormente
confirmada por uma série de concílios no século IV.
Nas igrejas de língua siríaca, foi apenas no decurso do século IV que a epístola foi
introduzida no cânone do Novo Testamento. Mas mesmo não tendo canonicidade não
pareceu ter criado problemas no Egito, onde Orígenes citou como Escritura inspirada.
Com o passar dos tempos a maior parte das denominações do Cristianismo considerou-a
como uma epístola canônica do Novo Testamento.
Conteúdo
Observa-se com frequência que a Epístola de Tiago é o livro com as mais marcantes
características judaicas do Novo Testamento; em razão desse aspecto e da ênfase no
comportamento piedoso, essa carta é comparada à literatura sapiencial do Antigo
Testamento.
Devido à sua preocupação com a justiça social, Tiago é com regularidade tratado
como Amós do Novo Testamento. Nota-se, ainda, profunda similaridade dos
ensinamentos do autor com os ensinamentos de Jesus no Sermão do Monte (Tg 5:12;
5:2; 4:11,12, confronte Mt 5:34-37; 6:19; 7:1); fator que é assim visto por Doremus
Almy Hayes: “Tiago é aquele que faz menos menção acerca de Jesus do que qualquer
outro autor do Novo Testamento, contudo, em compensação, o seu discurso é o que
mais se assemelha com o discurso do Mestre quando comparado ao discurso dos outros
escritores”.
Características
Os cristãos judeus a quem Tiago se dirige enfrentavam problemas pessoais e outros
maiores em suas congregações devido a religiosidade e hipocrisia de alguns entre eles.
Dentro desse contexto, passavam por grandes provações e tentações (1:30). Alguns
cristãos despendiam absoluta atenção aos ricos (1:9-11; 2:1-13), enquanto que outros
eram roubados pelos ricos (5:1-6). Os cristãos judaicos por terem passado muitos anos
apegados a religião local ainda competiam por cargos de liderança entre os congregados
confirmando a imaturidade na fé em Cristo.

A principal dificuldade da igreja era que muitos dos cristãos judeus não viviam de
acordo com a profissão de fé em Jesus Cristo (1:22-25). Além disso, a língua também
causava problemas sérios (1:26; 4:11-12), a ponto de gerar conflitos e divisões na
congregação (3:14); outro problema dizia respeito à mentalidade mundana e a
necessidade de renovação da mente.

Entretanto, Tiago não discute uma série de problemas variados aleatoriamente; todos
esses conflitos têm uma só causa: imaturidade espiritual. Os cristãos referidos pelo
autor, em síntese, não estavam crescendo e amadurecendo espiritualmente; fator que
aponta para o tema central da epístola: "as características de uma vida cristã
madura".
Em várias ocasiões Tiago usa o termo perfeito, palavra que
significa maduro, completo (1:4, 17, 25; 2:22; 3:2); ao fazer menção de um "perfeito
varão" (3:2) não se refere a um indivíduo impecável, mas sim a um indivíduo maduro e
equilibrado. O autor conclama seus leitores a que se desenvolvam sobre o alicerce da
Salvação perfeita de Cristo e cresçam em maturidade, enumerando algumas
características de um cristão maduro: é paciente em meio à provação (cap. 1), sendo a
paciência, segundo o que se observa na carta, a cerne de uma vida cristã prospera e
ideal; pratica a verdade (cap. 2); controla sua língua (cap. 3); é um pacificador, não um
contendedor (cap. 4); e ora em meios aos problemas (cap. 5).
Tiago aconselhou os cristãos judeus que possuíam já maturidade espiritual para que
auxiliasem o mais fraco na fé a voltar a prática do verdadeiro evangelho de Cristo e
assim tal irmão receberia de Deus sua devida recompensa "Meus irmãos, se algum de
vocês se desviar da verdade e alguém o trouxer de volta,lembrem-se disso: Quem
converte um pecador do erro do seu caminho, salvará a vida dessa pessoa e fará que
muitíssimos pecados sejam perdoados." 5:19,20.

O escritor também é a Escritura de referência (Tiago 5:14, 15) para a prática da unção
dos enfermos: "Se algum de vós estiver doente, chame os anciãos da igreja, a fim de que
estes orem sobre a pessoa enferma, ungindo-a com óleo em o Nome do Senhor; e a
oração, feita com fé, curará o doente, e o Senhor o levantará.".
A passagem do cap. 2:14-26
A intensa vertente de ensino do autor nos resultados práticos da fé cristã, às vezes torná-
lo um aparente oponente de Paulo no que tange a salvação, uma vez que este enfatiza
que a salvação é resultado exclusivo da fé (Rm 4); pensamento este aparentemente
contrário àquilo que Tiago defende. Tamanha é a aparente contradição entre os dois
escritos no assunto relativo a salvação, que Martinho Lutero, adepto do pensamento de
Paulo, designou a Epístola de Tiago como contrária a fé cristã e a denominou de
“epístola de palha”.
Entretanto, ao se analisar a carta e o pensamento de Tiago de modo cauteloso, nota-se
ocorrer diferenças linguísticas em função do público alvos das epístolas: Paulo escreveu
a gentios e Tiago a cristãos judeus. Neste aspecto, Tiago usa a palavra ‘fé’ referindo-se
a um consentimento meramente intelectual, enquanto que o uso do termo ‘fé’ por Paulo
refere-se à convicção que traz consigo o consentimento da vontade. Quando Paulo
menciona ‘obras’, refere-se às obras da lei, isto é, as obras do legalismo judaico que
nunca poderiam salvar a alma, enquanto que Tiago usa o mesmo termo referindo-se às
boas ações que fluem naturalmente de um coração cheio de amor por Deus e pelo
próximo.

É evidente nas Escrituras que Paulo concorda substancialmente com os ensinos de


Tiago, porquanto Paulo também escreve: “pois, diante de Deus, não são os que
simplesmente ouvem a Lei considerados justos; mas sim, os que obedecem à Lei, estes
serão declarados justos” (Rm 2:13).
Portanto, o ensinamento de Tiago retrata a fé como força transformadora, que molda
cada cristão à imagem de Cristo; mudança exteriorizada através de um viver santo,
justo, e reto (Tg 1:4). Por conseguinte, não há contradição à teologia de Paulo, mas sim
um complemento: Paulo retrata o “primeiro” estágio da vida cristã: a redenção,
enquanto que Tiago o sucessor “segundo” estágio: os frutos da redenção na vida do
remido.

Bibliografia
 Comentário Bíblico Beacon, Vol. 10 - Ross Price / C. Paul Gray / J. Kenneth
Grider / Roy Swin.

Referências
1. ↑ Riesner 2007, p. 1256.
2. ↑ Davids, Peter H (1982). I Howard Marshall and W Ward Gasque, ed. New
International Greek Testament Commentary: The Epistle of James Repr. ed.
Grand Rapids, Mich.: Eerdmans. ISBN 0802823882
3. ↑ Evans, Craig A (2005). Craig A Evans, ed. Bible Knowledge Background
Commentary: John, Hebrews-Revelation. Colorado Springs, Colo.:
Victor. ISBN 0781442281
4. ↑ «Tiago e as obras»

Ligações externas

O Wikiquote possui citações de ou sobre: Epístola de Tiago


 Epístola de Tiago - Almeida Corrigida Fiel
 Epístola de Tiago - Almeida Revista e Corrigida (1995)
 Epístola de Tiago - Nova Versão Internacional
 Epístola de Tiago - Scrivener’s Textus Receptus 1894
 Epístola de Tiago - Nestle 1904 Greek New Testament
 Epístola de Tiago - Bíblia Ave Maria[ligação inativa]
 Epístola de Tiago - Vulgata Latina
 Epístola de Tiago - Tradução do Novo Mundo (revisão de 2015)

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