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EAD

Carta de Tiago

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1. OBJETIVOS
• Conhecer e identificar os elementos fundamentais da
Carta de Tiago.
• Compreender e analisar as principais questões relativas
ao texto e, sobretudo, os problemas que lá aparecem,
como a datação e a contradição entre a Carta de Tiago e o
pensamento paulino.
• Apresentar e avaliar as diversas partes da Carta de Tiago
com comentários teológicos que podem ser ampliados
pelo estudo da bibliografia.

2. CONTEÚDOS
• Carta de Tiago.
• Data e lugar da composição e seus destinatários.
• Estrutura da Carta de Tiago.
• O texto da Carta de Tiago.
52 © Cartas aos Hebreus e Católicas

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) Para que você possa se contextualizar com o tema, é ne-
cessário ler a Carta de Tiago. Sem a leitura desse texto
bíblico, não haverá a sua adequada compreensão. Pode
parecer redundante, mas, para estudar um texto, é ne-
cessário que ele seja lido!
2) É importante que você saiba que o que se segue aqui e
em outros textos é um comentário teológico, que não
dispensa, absolutamente, a leitura da carta. Sirva-se de
uma boa tradução em português.
3) É conveniente que você já tenha um conhecimento pré-
vio do Corpus Paulinum para que possa fazer um quadro
comparativo entre ele e as Cartas Católicas, especial-
mente a Carta de Tiago, analisada nesta unidade.
4) Para um melhor conhecimento do período Patrística,
que é quando começam as notícias, a aceitação e a re-
jeição de textos, que vão se tornando canônicos ou não,
sugerimos que consulte esta obra clássica: ALTANER, B.;
STUIBER, A. Patrologia − vida, obra e doutrina dos pa-
dres da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1972.
5) Para outra introdução da Carta de Tiago, sugerimos a lei-
tura das introduções das Bíblias, especialmente da Bíblia
de Jerusalém. Sugerimos, também, a interessante e es-
quemática obra de TRIMAILLE, M. As epístolas católicas.
In: CARREZ, M. et al. As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e
Judas. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 287-302.
6) Outra introdução de grande valor você encontrará em:
KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São
Paulo: Paulinas, 1982, p. 531-546.
7) Um texto bem recente, sem novidades quanto às origens
da Carta de Tiago, mas com um bom comentário sobre
seus supostos temas polêmicos, é: TUÑI, J. O.; ALEGRE,
X. Escritos joaninos e Cartas Católicas. São Paulo: Ave
Maria, 2007, p. 263-294.
8) Para um aprofundamento da forma das cartas neotesta-
mentárias, você pode consultar o clássico: SCHREINER,

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© Carta de Tiago 53

J.; DAUTZENBERG, G. Forma e exigências do Novo Testa-


mento. São Paulo: Paulinas, s/d.
9) Sugerimos que você leia, também, o texto de Romanos
(3,1; 5,11).
10) Consulte bons dicionários de teologia bíblica para o cor-
reto entendimento do conceito de parusia. Como suges-
tão, oferecemos: VAN DEN BORN. A. Dicionário enciclo-
pédico da Bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1983, colunas
1122-1130.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No estudo da unidade anterior, você foi subsidiado por con-
teúdos relacionados às Cartas Católicas e ao Novo Testamento.
Já nesta segunda unidade, você conhecerá a Carta de Tiago,
que é a primeira obra das chamadas “Cartas Católicas”. Ela tende
a ser muito mais comentada do que as outras, em função da apa-
rente contradição com a teologia de Paulo. Aqui, você encontrará
uma análise histórica, literária e teológica dessa carta, o que não
dispensa a consulta a alguma obra de referência. Para isso, sugeri-
mos que faça a leitura e o estudo de algum título apresentado na
bibliografia.

5. CARTA DE TIAGO
O primeiro livro das Cartas Católicas é a Carta de Tiago. Ela
é um escrito deuterocanônico do Novo Testamento e é atribuída
a Tiago, o irmão do Senhor, constando de cinco capítulos e 108
versículos. Esse texto, datado de antes do ano 70 d.C., encontrou
algumas dificuldades em sua aceitação por parte das Igrejas. Essas
dificuldades são, fundamentalmente, de duas ordens:
• O desconhecimento do texto por parte de algumas Igre-
jas, o que pode ser intuído pela ausência de indicação em
alguns cânones antigos.
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• As dificuldades ou os contrastes de argumentos relativos


aos escritos paulinos, especialmente com relação aos ro-
manos.
A Carta de Tiago ou algumas de suas partes são citadas por:
1) Clemente Romano, bispo de Roma, isto é, o papa, em 1
Clemente (há dúvidas a respeito);
2) Pastor de Hermas (há dúvidas a respeito);
3) Orígenes, prolífico escritor e teólogo do século 2º;
4) Hilário de Poitiers, bispo de renome;
5) São Jerônimo, o tradutor das Escrituras;
6) Santo Agostinho, grande escritor e filósofo cristão.
Estes, porém, negam sua canonicidade:
1) Eusébio de Cesaréia, bispo e historiador;
2) Tertuliano, escritor romano.
Já no Cânon de Muratori, de cerca de 200 d.C., nem sequer
está presente.
Em certo passo, mais precisamente no capítulo dois, versícu-
los de 14 a 26, o texto é, diametralmente, oposto a Paulo. Talvez
isto não fosse tão importante, mas bastou para que Lutero des-
considerasse essa carta, passando a chamá-la "epístola de palha".
Mesmo assim, Tiago faz parte do cânon da Reforma Protestante.
A Carta de Tiago é um escrito único no Novo Testamento.
Nela, estão ausentes as questões mais comuns dos demais textos,
como, por exemplo, a cristologia, a doutrina da encarnação, a so-
teriologia e a doutrina trinitária. Essa carta é um escrito de ordem
eminentemente prática, parenética, e está muito próxima dos es-
critos relacionados à sabedoria como era entendida no Antigo Tes-
tamento. O estilo do texto é de sentenças curtas ou de pensamen-
tos que raramente têm ligação e solução de continuidade.
A Carta de Tiago foi escrita em grego koiné. Do ponto de
vista literário, é rica de hapax legomena − ao todo, 63 −, sendo
que 13 palavras são neologismos. Usa muitas citações do Antigo

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Testamento, como se encontra na Septuaginta. É uma espécie de


carta circular, com argumentos suficientemente amplos para sa-
tisfazer às necessidades de leitores das mais diversas localidades,
e, ao mesmo tempo, apto para convencer um leitor singular de
seu compromisso social, nascido da adesão à fé. Todavia, um leitor
desavisado, habituado às argumentações paulinas, seguramente
ficará decepcionado com a série de considerações de feições sa-
pienciais sem muito nexo. Mas a carta é identificada como um tex-
to parenético, feito por um cristão, certamente de origem judaica,
e convencido da importância da lei como ponto de partida para a
salvação.

Questões de autoria
O autor identifica-se, no capítulo um, versículo um, como
“Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”, o que nos leva
à questão: quem é esse Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo? Seria o apóstolo? Vejamos o que é possível saber sobre o
referido Tiago.
Tiago Maior
É chamado de “Maior” apenas para ser distinguido do “Me-
nor”. Esse “Maior" não consta no texto bíblico. É um dos "filhos de
Zebedeu". Em Mateus (4,21), encontra-se a menção ao chamado
desse Tiago e de seu irmão, João: “passando adiante, [Jesus] viu
outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que
estavam com seu pai Zebedeu consertando as redes”. Em Marcos
(3,17, grifos nossos), lê-se que receberam o nome de "Filhos do
Trovão": “Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs
o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão”. Esse apeli-
do deve ser pelo fato recordado em Lucas (9,51-56), especialmen-
te no versículo 54.
Segundo os sinóticos, esse Tiago, seu irmão João e, ainda,
Simão Pedro, foram as testemunhas privilegiadas de momentos
muito significativos da vida de Jesus: a transfiguração (Mt 171;
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Mc 9,2; Lc 9,28) e a agonia no Monte das Oliveiras (Mt 26,37; Mc


14,33). Na crucificação de Jesus, lemos em Marcos (15,40): “acha-
vam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as
quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José,
e Salomé”. No mesmo passo, na narração de Mateus (27,56) lê-se:
“entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e
de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu”. Isto indica que a "mãe dos
filhos de Zebedeu" (citada em Mateus) não é a "mãe de Tiago, o
Menor, e de José e Salomé” (citada em Marcos).
Em Atos dos Apóstolos (12,2), no contexto da perseguição
de Herodes Agripa I à Igreja de Jerusalém, lê-se a respeito do mes-
mo Herodes: “mandou matar a espada Tiago, irmão de João”. Isto
pode ser datado de 44 d.C. Esse Tiago, dito Maior, não pode ser o
autor da Carta de Tiago, que data de um tempo bem posterior a
essa data.
Tiago Menor
É um dos filhos de Alfeu, conforme se lê em Mateus (10,3):
“Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o Publicano; Tiago, o filho
de Alfeu, e Tadeu”. Em Marcos (3,18), encontra-se, também, essa
indicação de "filho de Alfeu" logo após o texto mencionar Tiago,
filho de Zebedeu e irmão de João, ambos apelidados de "Filhos do
Trovão" no versículo anterior. Em Lucas (6,15), esse Tiago é mais
uma vez mencionado como "filho de Alfeu", sendo que o Tiago
anterior, irmão de João, e inclusive este, não recebem mais indica-
ções. Ele foi confundido, desde São Jerônimo, com o Tiago "irmão
de Jesus", porque, em Marcos (15,40), lê-se: “entre elas, Maria
Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de Joset, e Salomé”.
Mas vê-se, claramente, que esse Tiago, mesmo sendo apelidado
de “Menor", é o filho de Maria e o irmão de Joset e Salomé, não
sendo identificado em nenhum lugar como “filho de Alfeu”. Assim,
o Tiago “Menor" é o filho de Alfeu, um dos Doze. Após essas pou-
cas informações, ele desaparece do Novo Testamento.

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Tiago, o irmão de Jesus


Assim ele pode ser identificado, por referência cruzada, em
Mateus (13,55): “não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a
mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” No
passo paralelo de Marcos (6,3), lê-se: “não é este o carpinteiro,
o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão?“ Ele é o
irmão do Senhor e parece ser filho de uma Maria.
Em Mateus (27,53), ele é identificado como filho de Maria,
também mãe de José. “Entre elas se achavam Maria Madalena e
Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu”.
Como se pode notar, a mãe dos filhos de Zebedeu e a Maria, mãe
de Tiago e de José, são pessoas diferentes.
O mesmo passo narrativo − a Paixão de Jesus − de João
(19,25) indica: “junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a
irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena”.
Então, o que se tem é o seguinte: essa Maria, mulher de Cléofas,
parece ser irmã da mãe de Jesus e também se chama Maria. Essa
confusão de "duas Marias" e dos filhos dessa Maria mãe de Joset,
Judas e Simão serem chamados, indiretamente, de irmãos de Je-
sus (Mc 6,3) é que causa transtorno quanto à identidade da mãe
de Jesus e desse seu "irmão", que parece ser "primo" de Jesus. É
ele que é chamado de "Menor” em Mateus (15,40). Esse apelido
“Menor” pode ser por sua estatura ou para contrapô-lo ao outro
Tiago, o filho de Alfeu, ou mesmo o Tiago, irmão de João e filho de
Zebedeu. Dessa forma, há um terceiro Tiago, alguém muito perto
de Jesus e participante de sua intimidade, pois é membro de sua
família humana.
Contudo, é preciso admitir que há algumas dificuldades em
identificar esse Tiago, o irmão do Senhor, e o Tiago da Carta de
Tiago. Os evangelhos recordam que os "irmãos de Jesus" não o
tinham em grande consideração. Em Marcos (3,21), lê-se: “quando
os seus o souberam, saíram para o reter; pois diziam: ‘Ele está fora
de si…’”. Estes, "os seus", pelo contexto em que aparecem, devem
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ser os tais irmãos de Jesus, seus parentes. Em contrapartida, em


João (7,5), lê-se: “com efeito, nem mesmo os seus irmãos acredi-
tavam nele”.
Esta é uma informação que pode levar à confusões pelo con-
texto em que aparece, no qual, mais à frente, é usado o mesmo
termo "irmãos", talvez para identificar os discípulos. É difícil con-
firmar essa ideia partindo do texto. É certo, porém, que os Doze,
claramente chamados assim, e não sob a identidade de "irmãos",
estão já enfrentando dificuldades pelo seguimento de Jesus. Eles
são mencionados em João (6,70).
O que parece muito claro é o fato de que o Novo Testamento
não identifica os "parentes" ou "irmãos" de Jesus como apóstolos
ou discípulos. Pode-se ver isto em Atos (1,13s):
Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde cos-
tumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe,
Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador,
e Judas, irmão de Tiago. Todos eles perseveravam unanimemente
na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de
Jesus, e os irmãos dele.

Inicialmente, são citados os discípulos de Jesus; na sequên-


cia, no final na informação, vêm os seus irmãos. Em 1º aos Corín-
tios (9,5), Paulo questiona seus leitores a respeito de um direito
que ele poderia ter em levar consigo uma "mulher irmã", assim
como o fazem os outros apóstolos e, até mesmo, Cefas, destacan-
do à parte os irmãos do Senhor: “caso não temos nós direito de
deixar que nos acompanhe uma mulher irmã, a exemplo dos ou-
tros apóstolos e dos irmãos do Senhor e de Cefas?”.
O que pode ser muito significativo nesse debate é a informa-
ção de Paulo em 1º aos Coríntios (15,7). Esse importante capítulo
de Coríntios é uma das mais antigas declarações de fé e de ade-
são ao Evento da Ressurreição. Paulo indica o processo de tradição
como meio de testemunhar os valores e as verdades que estão
sendo por ele vividas e que já foram por outros. Ele inicia dizendo:
“eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido”

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(1Cor 15,3) e passa a elencar os fatos e as situações, bem como as


pessoas que estiveram envolvidas com o Evento da Ressurreição.
No sétimo versículo, ele faz uma importante e significativa descri-
ção. Veja os versículos 3-8 para ter mais claro o contexto:
Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido:
que Cristo morreu por nossos pecados,
segundo as Escrituras;
foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia,
segundo as Escrituras; 
apareceu a Cefas,
e em seguida aos Doze. 
Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez,
dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são mortos);
depois apareceu a Tiago,
em seguida a todos os apóstolos.
E, por último de todos, apareceu também a mim, como a um abor-
tivo (1Cor 15,3-8).
Desse texto, pode-se tirar algumas conclusões:
1) Cefas, isto é, Pedro, tem destaque notável no testemu-
nho de Paulo a respeito da Ressurreição e da experiência
com O Ressuscitado.
2) Os Doze é um grupo específico; nem são chamados de
apóstolos aqui. Seguramente, são os que acompanham
Jesus desde o início.
3) Há outros que foram apóstolos. Resta saber se são cha-
mados "apóstolos" em função dessa experiência com O
Ressuscitado aqui indicada ou se eram antes da Ressur-
reição.
4) Finalmente, Tiago aparece em destaque, separado do
grupo dos Doze, o que deve provavelmente indicar que
pode não ser nem o Tiago filho de Alfeu nem o Tiago
filho de Zebedeu. Deve ser o Tiago irmão do Senhor.
Pode-se levantar a hipótese de que esse Tiago, depois de ter
visto O Ressuscitado, se converteu e o aceitou como Cristo, cum-
pridor das Escrituras (insistentemente recordadas por Paulo no
texto 1º aos Coríntios). Talvez, o parentesco com Jesus, provavel-
mente de primo "em primeiro grau", aliado a algum tipo de prestí-
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gio anterior, deu destaque a ele e, aos poucos, liderança também.


O certo é que um Tiago é o líder da Igreja de Jerusalém.
Isto é lembrado em Atos dos Apóstolos (15,13ss), quando
acontece a Assembleia de Jerusalém, na qual são decididos os ru-
mos da evangelização. Tiago aparece como quem decide além da
própria autoridade de Pedro, que, por sua vez, defende os princí-
pios de Paulo.
Também em Gálatas (12,7-10), Paulo, ao narrar as memórias
de sua conversão, sua adesão e sua missão em meio aos pagãos,
recorda a presença de Tiago, indicando-o em primeiro lugar, antes
mesmo de Cefas e de João. A esse grupo ele chama “colunas da
Igreja”. Assim, lê-se: “Tiago, Cefas e João, que são considerados as
colunas, reconhecendo a graça que me foi dada, deram as mãos a
mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo”.
O que é curioso e não passa de especulação são as afirma-
ções de Paulo quando vistas isoladamente. Em Gálatas (2,6), quan-
do Paulo apresenta a narração da decisão em apoiá-lo na evangeli-
zação dos pagãos, ele afirma: “quanto aos que eram de autoridade
− o que antes tenham sido não me importa, pois Deus não se deixa
levar por consideração de pessoas −, estas autoridades, digo, nada
me impuseram”.
Quais autoridades eram estas? O que elas eram antes? Pro-
vavelmente, seriam coisas muito significativas, suficientes a ponto
de influenciar alguns; exceto Paulo, a quem isto não importava,
“[…] pois Deus não se deixa levar por consideração de pessoas
[…]”. Aqui, não pode haver uma menção implícita a alguma prer-
rogativa, a algum prestígio familiar da parte de Tiago ou de seus
companheiros?
No entanto, no início da carta, no versículo um, lê-se: “Tiago,
servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da disper-
são, saúde!”. Por que ele usa o título "servo de Deus e do Senhor
Jesus Cristo"? Não poderia usar o título "irmão do Senhor", como
é chamado por Paulo quando narra em Gálatas (1,19) sua primeira
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© Carta de Tiago 61

ida para Jerusalém, logo após sua conversão e na sequência da


perseguição, bem como da saída de Pedro da cidade?
Diante de tudo isso, é muito provável que o autor da chama-
da “Carta de Tiago” seja esse Tiago, chefe da Igreja de Jerusalém.
Ele se dirige às Doze tribos da Dispersão (Tg 1,1), o que é argumen-
to de índole judaica. Tiago seria um parente de Jesus, um dos que
antes o achavam louco, mas que, aos poucos, foram mudando seu
modo de pensar. Teria o testemunho de sua mãe, irmã da mãe de
Jesus, que acompanhou o Senhor muito tempo. Isto lhe dava pres-
tígio na Igreja, um prestígio que Paulo não considera, pois se sente
livre dos laços de sangue, apenas confiando na graça da presença
do Ressuscitado.
Após a Ressurreição e Pentecostes, ele passou a ser um ju-
deu cristão, alguém que aceitou a identidade messiânica de Jesus
e que compreendeu sua importância e seu alcance nos horizontes
do Povo de Israel, mas que não percebeu o alcance muito além dos
limites da experiência e da esperança judaica. Tiago era o chefe
da comunidade herdeira dos primeiros convertidos: habitantes de
Jerusalém, judeus piedosos que esperavam a vinda do Messias e
que o encontraram em Jesus.
Tiago é mencionado uma última vez em Atos dos Apóstolos
(21,18), no contexto da visita de Paulo a Jerusalém. Este vai até a
casa de Tiago, e o texto de Atos informa que era lá que se reuniam
os anciãos, isto é, os responsáveis pela comunidade de Jerusalém.
O texto que se segue não cita palavras suas, apenas mostra que
eles, os anciãos, certamente junto a Tiago, louvavam o que acon-
tecia na evangelização dos pagãos. Afirmam, porém, que a men-
sagem de Paulo era de negação a Moisés, abandono dos costumes
judaicos e rejeição aos seus valores.
Isto era, seguramente, uma constante na abordagem de Pau-
lo e de sua mensagem por parte dos judeus cristãos. Tiago não
aparece nessa controvérsia; não é ele quem faz as observações
de Atos (21,20-21): o texto sugere que foram os anciãos. Eles so-
62 © Cartas aos Hebreus e Católicas

brepõem o que Paulo afirmava sobre a conversão dos pagãos − a


notícia de que “milhares de judeus” abraçam a fé.
É difícil não entrever nessas linhas muita tensão e descon-
fiança. Eles pedem que Paulo vá até o Templo com alguns outros
devotos e que com eles se purifique, cumprindo, assim, as prescri-
ções judaicas. O final desse encontro é uma recordação das pres-
crições feitas aos pagãos convertidos na Assembleia de Jerusalém,
no capítulo 15 de Atos. Os pagãos convertidos devem preservar-se
das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e
das uniões ilegítimas (At 21,25). Não se fala em cuidar dos pobres,
como Paulo cita em Gálatas (2,10).
A continuação do episódio é conhecida e muito dramática.
Paulo é feito prisioneiro, e a autoridade de Tiago não aparece em
nenhum passo para tentar libertá-lo. A partir desse ponto, as in-
formações a respeito de Tiago não existem mais, e Paulo segue em
Roma seu caminho de testemunho de Jesus Cristo. Teria Tiago algo
a ver com essa situação conflituosa? Poderia tê-la evitado? Essas
questões são totalmente impossíveis de serem respondidas.
A Carta de Tiago seria uma tentativa de comunicação desse
líder da Igreja de Jerusalém com os judeus dispersos pelo mundo
mediterrâneo, como se pode ler em Tiago (1,1).

6. DATA E LUGAR DA COMPOSIÇÃO: DESTINATÁ-


RIOS
A língua usada pelo autor é o grego, mas a mentalidade, os
princípios e o estilo são hebraicos. Isto sugere que o autor seja de
origem judaica. A clara reação aos princípios paulinos da justifica-
ção pela fé reforça os pontos de apoio à autoria judaica da carta.
Se seu autor é Tiago, dito irmão do Senhor, citado em alguns luga-
res de Atos dos Apóstolos, é lógico que tenha essa postura crítica
diante do pensamento paulino.

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© Carta de Tiago 63

Entretanto, a questão da data da composição tem uma difi-


culdade. Sabe-se que Tiago foi morto no ano 62 d.C., em Jerusa-
lém, como indica Flávio Josefo. A Carta Paulina aos Romanos, na
qual se encontram os princípios da justificação, já teria, naquele
tempo, uma divulgação tão ampla? Teria ela já apresentado difi-
culdades para os cristãos de origem judaica a ponto de Tiago es-
crever contra?
O lugar principal das ideias contrárias da justificação pela
fé estão em Tiago (2,14-26). Poderia ser uma interpolação tardia,
o que tornaria a carta bem menos insistente contra a mensagem
paulina. De fato, excetuando essa perícope, A Carta de Tiago tem
um caráter parenético.
Em contrapartida, com a destruição do Templo em 70 d.C.,
deixou de existir a ideia das "tribos da dispersão" para identificar
Israel e o judaísmo. Essa ideia existiu enquanto havia o centro, ou
seja, Jerusalém, e o Templo. Lá, concentravam-se os integralistas
que se opunham a Paulo e à sua mensagem. Logo, essa Carta de
Tiago não pode ser posterior ao ano 70 d.C.
Tem-se, então, uma referência teórica provável: a carta
pode ser anterior a 62 d.C., considerando-se sua autoria, e pode
ser, também, anterior a 70 d.C., o ano da destruição do Templo
e dissolução do grupo integralista de Jerusalém. A carta poderia
ser de Tiago, redigida antes de 62 d.C., sem a perícope polêmica
de 2,15-6. Isto poderia ser acrescentado até 70 d.C., especialmen-
te antes de 66 d.C., quando as hostilidades com os romanos se
tornaram intensas. Todavia, com a dissolução dos integralistas de
Jerusalém, o polo que predominou certamente foi o paulino, com
sua maior abertura e liberdade. A carta não poderia ser difundida
após 70 d.C. sem provocar reações por parte das Igrejas fundadas
por Paulo. De fato, isto é o que parece ocorrer em algumas fontes:
a rejeição de Tiago em função da oposição a alguns pontos do pen-
samento paulino.
64 © Cartas aos Hebreus e Católicas

É notável que a corrente “vencedora” da história e de seus


limites, das oposições e perseguições, foi a corrente paulina, com
a liberdade perante a lei e a justificação em Jesus Cristo, não no
cumprimento dos princípios legais. Isto certamente não foi muito
fácil de compreender, uma vez que, afinal, Jesus foi judeu, foi iden-
tificado como Messias para Israel; cumpriu as promessas feitas aos
pais de Israel. Além disso, esse povo sempre foi fechado às influ-
ências externas, pois isto colocava em risco sua própria adesão
a Deus, o Deus único. Os fatos que sucederam a Ressurreição de
Jesus e a difusão de Seu Evangelho, especialmente pela vertente
evangelizadora dirigida aos gentios, surpreende, ainda hoje, quem
observa com atenção a história.
Se a autoria da Carta de Tiago é do conhecido Tiago, irmão
do Senhor, personagem de fama e destaque em Jerusalém, então,
ela deve ser anterior a 70 d.C. e, provavelmente, antes de 62 d.C.
Sua redação deve ter acontecido em Jerusalém, e o interesse era
animar os cristãos de origem judaica. Se a Carta de Tiago é pseudo-
epigráfica, então, poderia ser datada de fins do século 1º e início
do século 2º, o que justificaria a dificuldade de sua aceitação por
parte de algumas Igrejas.
Talvez por tudo isto, pelas dificuldades de compreensão das
tensões internas da carta e, especialmente, pelo que "não está es-
crito" ao seu respeito, mas é “suspeito”, a Carta de Tiago encon-
trou a resistência de muitas partes. Ela entrou para fazer parte do
cânon das Igrejas apenas no final do século 4º.

7. ESTRUTURA DA CARTA DE TIAGO


A Carta de Tiago não possui estrutura! Ela pode ser enten-
dida como uma sucessão de ideias, muitas vezes, sem conexão,
expostas com vistas a formar uma espécie de manual de conduta e
de ações inspiradas na observância da lei.

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© Carta de Tiago 65

Isto pode ser estranho de ser afirmado, mas o que vem da


carta justamente é a falta de um plano lógico. Excetuando-se o
primeiro capítulo e o primeiro versículo, nos quais encontra-se o
endereço e uma pequena saudação, não há um sinal de que seja
uma carta, um escrito destinado a um grupo específico. O que é
certo é a seriedade do autor a respeito da conduta de seus ouvin-
tes. Ele é exigente e, ao mesmo tempo, realista sobre a vida e as
situações que ela apresenta.
Embora ela não tenha um plano lógico, pode-se fazer uma
divisão em temas. É o que se sugere:
Estrutura básica
1,1 Saudação
1,2-4 A tentação
1,5-8 A súplica pela esperança
1,9-11 O rico
1,12-15 A provação e a superação
1,16-21 A retidão da Palavra
1,22-25 A prática da Palavra
1,26-27 A verdadeira religião
2,1-9 Os pobres
2,10-13 Os mandamentos e [a] sua observância
2,14-26 Fé e obras
3,1-12 A linguagem, seus perigos e [suas] riquezas
3,13-18 A sabedoria
4,1-10 As discórdias e [os] seus motivos
4,11-12 Maledicência
4,13-5,6 Aos ricos: exortações
5,7-11 A vinda do Senhor
5,12 Não jurar
5,13-18 A oração e a enfermidade
5,19-20 Epílogo: o caminho da verdade

8. O TEXTO DA CARTA DE TIAGO


Saudação: 1,1
A saudação é ao modo das Cartas Paulinas, que, por sua vez,
seguem o esquema clássico: o autor ou o remetente e os destina-
66 © Cartas aos Hebreus e Católicas

tários. Tiago intitula-se “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”.


Ele não se chama "apóstolo", assim como faz Paulo na introdução
de suas cartas. Tiago dirige-se às doze tribos da dispersão (em gre-
go, diáspora), o que indica a migração dos judeus palestinos para
o Egito, a Síria, a Macedônia e para outras regiões.
A "dispersão" começou muito antes do primeiro século; o
exílio já é um passo da dispersão no sentido de que muitos dos exi-
lados não retornaram à Terra Prometida após o edito de Ciro. Mais
significativo para a dispersão foi o período de Alexandre Magno e
do helenismo. Os judeus espalharam-se por toda a bacia do Medi-
terrâneo, criando comunidades fortes nas grandes cidades, como
em Alexandria, no Egito, na Antioquia da Pisídia, em Roma etc.
Tiago dirige-se às tribos da dispersão; portanto, aos judeus,
mas não apenas judeus. São judeus e cristãos, marcados pela acei-
tação da Pessoa e da Missão de Jesus. Talvez essa carta de Tiago
deveria ser chamada “Carta aos Hebreus”, pois ela é, claramente,
dirigida a eles.

A tentação: 1,2-4
Tiago inicia o argumento da tentação indicando que os ir-
mãos, os cristãos judeus que ouvem sua palavra, são objeto de
múltiplas tentações. Não está claro quais seriam essas tentações,
mas, sim, as consequências delas surgidas: a provação da fé. Essa
perseverança produz, segundo o versículo quatro, uma obra per-
feita. Trata-se, então, de uma fé provada, comprovada pelas con-
tradições. Aqui, já está o sentido do debate quanto às obras e à fé
que será apresentado mais adiante.
No pensamento de Tiago, os homens perfeitos e íntegros
nascem da provação da fé e da perseverança em seu caminho.
Como será notado, a fé tem implicações práticas de compromisso
que, hoje, podem ser chamados “sociais”.

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© Carta de Tiago 67

A súplica pela esperança: 1,5-8


O argumento da sabedoria é apresentado. Para compreen-
der a ação de Deus e receber algo dele, é necessário sabedoria.
Esta é indispensável para a constância e a retidão. Isto é perfeita-
mente compreensível, conforme a ideia judaica da perfeição: estar
em Deus e manter a comunhão com Ele é a perfeição, mas ela só é
alcançada pela retidão das obras.

O rico: 1,9-11
Em uma perícope não muito clara, a Carta de Tiago inicia sua
crítica aos ricos, que são comparados à flor da erva perante o sol:
este as faz secar e cair da planta. Essa perícope é uma introdução
ao tema da riqueza e de sua ilusão. Talvez esses versículos expres-
sem a continuação do argumento do versículo oitavo do capítulo
quinto, quando Tiago cita a pessoa que busca a sabedoria sem fé.
Ela é comparada às ondas do mar (vers. 6), e, provavelmente, por
essa inconstância, o rico é igual.
A "sorte" do rico será retomada mais adiante, no início do
segundo capítulo da carta.

A provação e a superação: 1,12-15


Em seguida, sem muito motivo para tanto, a carta muda o
foco de sua atenção. A paciência passa a ser elogiada como neces-
sária para vencer a tentação. Tiago nega a tentação como vinda
de Deus. Pelo contrário, declara que ela vem do próprio homem,
de sua tendência para o pecado que ele chama “concupiscência”
(vers. 14).
Aparece uma sequência interessante para a queda do pe-
cado: a concupiscência leva o homem ao pecado seduzindo-o;
depois, ela "dá a luz ao pecado”, e este, crescendo, gera a morte
(vers. 14-15). É uma descrição interessante, quase lógica, do fato
do pecado e de suas ocasiões.
68 © Cartas aos Hebreus e Católicas

A retidão da Palavra: 1,16-21


A carta interrompe, mais uma vez, o argumento e passa a
elogiar a ação de Deus em sua Palavra. Esta vem do alto, do “Pai
das luzes” (Tg 1,17). A "Palavra da Verdade" será a condutora da
vida do fiel.
Seria possível dizer que Tiago interrompe, constantemente,
seu argumento. Mas é difícil fazer tal afirmação, pois não há, clara-
mente, um plano lógico, uma argumentação sequencial no texto.
Em função da Palavra, que veio ao encontro dos homens,
Tiago exorta seus ouvintes a serem “prontos para ouvir, mas tardio
para falar e tardio para encolerizar-se” (Tg 1,19), identificando a
cólera como incapaz de cumprir a vontade de Deus, a qual a carta
chama, aqui, de “justiça”.
Para receber essa Palavra, o ouvinte deve ser humilde e lim-
po (vers. 21). Sugere-se, aqui, uma prática ritual, ainda que não ex-
plícita, de pureza. No judaísmo, a pureza era um ponto de grande
importância. Ela era conseguida com vários rituais. Tiago não fala
deles; antes, sugere uma certa pureza interior, pois fala da liberta-
ção da maldade (vers. 21).

A prática da Palavra: 1,22-25


Tiago lança uma notável invectiva: "tornai-vos praticantes da
Palavra e não simples ouvintes, enganando-vos a vós mesmos!"
(Tg 1,22). Não basta ouvir a Palavra, é necessário que ela seja se-
guida, cumprida e vivenciada. O homem não pode simplesmente
seguir seus instintos e suas opiniões, como um espelho que reflete
quem o olha. Ele precisa buscar a Palavra da liberdade.
Em seguida, a carta indica a necessidade do homem em de-
dicar-se ao estudo da lei da liberdade (vers. 25). Isto é bem ao
modo judaico de pensar: o estudo, a aproximação do texto e sua
perscrutação serão uma nota característica do judaísmo no futuro.
Aqui, já é apresentada como um modo de conhecer a Palavra, cha-
mada “Lei da liberdade” nesse texto.

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© Carta de Tiago 69

A verdadeira religião: 1,26-27


Esse argumento parece estar ligado à ideia da verdadeira
religião. O homem que ouve a Palavra está ligado à verdadeira re-
ligião, e esta o leva a refrear a língua (vers. 26). Tem-se aqui, final-
mente, uma ligação interna explícita. Essa ideia de língua está em
referência à ideia do "lento para falar" de alguns versículos atrás.
Contra uma possível impressão de legalismo absoluto que
possa surgir do contexto de algumas partes da carta, aqui se en-
contra um mandamento de alto teor social: a religião verdadeira,
que Tiago chama “verdadeira e sem mácula”, "é assistir os órfãos e
as viúvas em suas tribulações e guardar-se da corrupção do mun-
do” (Tg 1,27).
Isto está em acordo com o pensamento profético e, até mes-
mo, com o projeto do Êxodo. Lá, em 22,21ss, se encontra a imposi-
ção do compromisso de apoio, de ajuda, de socorro e de promoção
humana alicerçados na Aliança. Não se trata de uma observância
vã dos costumes legais, mas, sim, de um vivência interior com di-
mensões práticas da fé.

Os pobres: 2,1-9
Tiago retoma a argumentação que ocupará grande parte da
carta: a situação dos pobres. O princípio que é exposto parte da fé
em Jesus Cristo − ela não admite a acepção de pessoas, a distinção
entre uns e outros, especialmente se o critério for o das posses
ou das aparências. O exemplo citado nos versículos 2-4 é muito
eloquente: a exaltação do rico, daquele que tem aparência ou que
ostenta posses, e a humilhação de quem é humilde. A clareza do
argumento é o caminho de uma séria reflexão ética para todos os
leitores da carta.

É interessante o fato de que a Carta de Tiago cita Jesus Cristo


apenas duas vezes: no endereço e na saudação (1,1) e, nesse
passo (2,1), quase que de modo passageiro, para compor o argu-
mento introdutório.
70 © Cartas aos Hebreus e Católicas

Tiago anuncia que os pobres são os amados de Deus (vers.


5). Em contrapartida, os ricos são acusados por Tiago de levar os
fiéis aos tribunais (vers. 6). Esse argumento reflete, seguramente,
alguma situação concreta vivida na comunidade de Tiago. Além
dessa perseguição empreendida pelos ricos, Tiago cita a blasfêmia
(vers. 7) contra o nome de Deus, que ele indica como o "nome
sublime". A distinção entre ricos e pobres e o privilégio daqueles
sobre estes está contra a vontade de Deus, e Tiago invoca como
fundamento para esse princípio moral o mandamento do amor a
Deus, primeiro mandamento do decálogo. A essa perícope, corres-
ponde a perícope de 4,13-5,6.

O amor ao próximo––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Contrariamente ao que muitos pensam, o mandamento do amor ao próximo não
é exclusivo do Novo Testamento. Esse mandamento se encontra no contexto de
Mateus (22,34-40), especialmente no versículo 39. A situação é de questiona-
mento sobre Jesus, sobre qual é o maior mandamento da lei. Jesus responde ci-
tando parte do Shemá Israel, o credo histórico de Israel, que se inicia com: “ouve
Israel, o Senhor teu Deus é o único Senhor” (Dt 6,4). E logo vem o mandamento
em questão: “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, com toda a alma
e com toda a mente” (6,5). Em Levítico (19,18), encontra-se o mandamento do
amor ao próximo. “Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”.
Esses dois mandamentos − o primeiro claramente estabelecido como identidade
da Aliança de Deus com Israel, e o segundo como uma consequência da adesão
a essa Aliança −, são unidos na novidade do Evangelho que Jesus anuncia.
Tiago recorda a necessidade desse amor ao próximo em função da adesão ao
Mistério de Jesus Cristo, tema inicial dessa perícope.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Os mandamentos e sua observância: 2,10-13


A citação do mandamento do amor a Deus e ao próximo dá
a oportunidade de Tiago fazer uma consideração importante a res-
peito da observância do conjunto dos mandamentos que ele espe-
cifica bem: os “mandamentos da lei” (vers. 10).
Esse tema é complexo para a compreensão de um cristão,
especialmente quando colocado junto à teologia de Paulo: a liber-
dade perante a lei. A Carta de Tiago começa a adentrar o núcleo da
argumentação que oferece mais dificuldades: a fé e as obras. Este
será o tema da perícope a seguir.

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© Carta de Tiago 71

Entretanto, ainda na perícope dos mandamentos e de sua


observância, Tiago coloca outros dois mandamentos do decálogo:
a proibição do adultério e a proibição de matar. Ele alerta que,
sendo ambos verdadeiros mandamentos, devem ser observados
em sua inteireza. A observância de um e a inobservância do outro
é a negação de ambos (vers. 11).
Curiosamente, Tiago (2,12) cita um texto de orientação pau-
lina: a liberdade que a lei propõe. Nesse versículo, lê-se: “falei,
pois, e agi como os que hão de ser julgados pela lei da liberdade”.
O tema é muito marcante em Paulo, como, por exemplo, em Ro-
manos 2. É claro que tudo está sendo preparado para a questão da
lei e das obras − o tema da próxima perícope.

Fé e obras: 2,14-26
Este é o ponto da suposta polêmica entre Tiago e a teolo-
gia de Paulo a respeito da fé. Trata-se do tema da justificação: a
identidade da relação do fiel com Jesus Cristo e sua graça. Mas é
necessário informar, antes de tudo, que a polêmica é suposta ou
aparente. Deve-se observar, claramente, o campo ou o contexto
em que as palavras de Tiago são apresentadas.
Em Tiago (2,14), este inicia seu argumento contrapondo
obras e fé. Não se trata, porém, de uma contraposição teológica,
mas, sim, parenética, isto é, prática, ética. Talvez seja difícil com-
preender isto logo à primeira vista em função da pergunta retórica
no final do versículo: “acaso esta fé poderá salvá-lo?”. Essa per-
gunta não faz ligação clara com o versículo seguinte, que é, por
sua vez, eloquente na questão: um necessitado que está à vista
sem ser atendido ou apenas ouvido, sem uma resposta coerente
e concreta. Essa situação, sem uma resposta oriunda da fé, teste-
munha contra ela própria. É nesse sentido que Tiago insiste nas
"obras da fé", afirmando: “a fé, se não tiver obras, é morta em si
mesma” (vers. 17). Em outras palavras, isto é facilmente compre-
ensível: não se trata das "obras da lei”, que, aliás, Tiago não as cita.
72 © Cartas aos Hebreus e Católicas

Trata-se das obras de compromisso social, que estão evidentes no


corpo da carta, especialmente no final.
Por sua vez, Paulo, especialmente em Romanos, insiste na
justificação como uma adesão não às obras da lei ou à própria
lei, mas, sim, à Pessoa de Jesus Cristo em Seu Mistério. Paulo é
eminentemente teológico, com uma profundidade notável e en-
tusiástica. Tiago é prático, observador das ações e das possíveis
declarações de um fiel a respeito de sua fé. Esta precisa ser coe-
rente. Não se trata − e isto é claro − da adesão às obras da lei, mas,
sim, às obras de solidariedade, de fraternidade ou, na palavra que
compromete a compreensão, de justiça. Mas de "justiça", nesse
sentido, ética e social.
Em Tiago (4,21-23), este usa o exemplo de Abraão e chega
à mesma conclusão programática de Romanos (4,3): “Abraão creu
em Deus e isto lhe foi imputado como justiça”. Paulo insiste em
dizer que foi pela adesão da fé; Tiago afirma que foi pela obra de
oferecer o sacrifício de seu filho. Um e outro dependem de uma
decisão interior, de uma segurança absoluta que nasce da intimi-
dade com o centro da fé, que é Deus. Dependem, também, da prá-
tica da moção interior. Não há contradição, mas, sim, complemen-
taridade.
A citação de Raab no versículo 25, no qual ele recorda o epi-
sódio do assédio a Jericó, no capítulo dois de Josué, vai, também,
por essa linha: uma obra de compromisso. Essa obra deve estar ali-
cerçada na graça que vem pela identificação com O Ressuscitado,
o que Paulo repete insistentemente.

A linguagem, seus perigos e suas riquezas: 3,1-12


Nessa longa perícope, o foco está no uso da fala. É um ponto
muito prático e que certamente toca a todos os fiéis. A retidão no
falar e a consequente exclusão do pecado da fala é um dom que
controla todo homem (vers. 2). Os exemplos do cavalo e do na-
vio são no sentido de evidenciar a necessidade de uma condução

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© Carta de Tiago 73

da fala. É isto o que desenvolvem os versículos 5-6: a importância


da língua como antonomásia da capacidade de falar com discer-
nimento. O exemplo do fogo e do incêndio é, também, muito elo-
quente para a consciência da presença em um grupo.
Tiago afirma que a mesma boca provém bênção e maldição
(vers. 10). É necessário velar sobre o que se diz, pois, aqui, pode
estar a fonte da felicidade ou a fonte da infelicidade. A questão é,
profundamente, prática e atual. Os exemplos da natureza, fonte
da água e das árvores (vers. 11-12) são bem eloquentes para a
conclusão da perícope e de seu argumento.

A sabedoria: 3,13-18
O tema da sabedoria vem como um coroamento do que co-
meçou com a fé e com as obras. Após a necessidade de demons-
trar a fé pelas obras e de ter temperança na linguagem humana,
que é tocada pela ação de Jesus Cristo, tudo isto é apresentado
− ou, pelo menos, sugerido − como sendo fruto da sabedoria, que
é a adesão a Deus.
Tiago inicia com uma pergunta retórica sobre a sabedoria e
o entendimento (vers. 13). Continua evidenciando que a inveja, o
egoísmo e a mentira são impedimentos para a sabedoria. O texto
faz a contraposição entre as virtudes que levam à sabedoria e a
inveja, a preocupação egoísta: isto causa desordens e más ações
(vers. 16). Em contrapartida, o que é puro, pacífico, indulgente e
conciliador é sinal de justiça (vers. 17-18).
Aqui está claro o que deseja a Carta de Tiago: conduzir à ob-
servância das virtudes da lei como sinal de eleição de Deus e de
aliança com Ele. Essa aliança é a continuação da Aliança do Antigo
Testamento e empenha o interior da pessoa; não apenas as suas
aparências.
74 © Cartas aos Hebreus e Católicas

As discórdias e os seus motivos: 4,1-10


Aqui, Tiago inicia sua argumentação relativa às discórdias.
Começa com a pergunta retórica da origem das guerras e lutas
(vers. 1), querendo citar, claramente, os problemas localizados na
comunidade ou nas comunidades da dispersão. A essa pergunta
da origem das guerras e das lutas, segue a resposta que indica os
prazeres. Dois vícios e suas motivações são elencados: a cobiça,
resultado do não ter, e a morte, resultado da avidez. Em outras
palavras, o desejo sem medida e sem limites. O vers. 3 afirma que
os leitores e os ouvintes de Tiago não sabem pedir; por isso, não
recebem o que lhes convém.
Na sequência, o texto apresenta a palavra mais severa, talvez,
de toda a carta. "Adúlteros" (vers. 4) é o adjetivo usado por Tiago
para se referir aos que não pedem bem e, consequentemente, não
recebem bem. O tema “adultério” e o tema correlato "prostitui-
ção" são recorrentes nos profetas e estão bem em sintonia com
a negação da Aliança. Aqui não surge o argumento da Aliança de
modo claro, mas, sim, o da “amizade com Deus” (vers. 4).
A humildade é necessidade para o recebimento da graça.
Isto é afirmado na citação de Provérbios (3,34) conforme o texto
grego da Septuaginta; o texto hebraico é um pouco diferente, e as
Bíblias modernas seguem-no.
Tiago indica com firmeza o caminho: a sujeição a Deus e a
fuga do Diabo (vers. 7). Certamente, é um mandamento forte. Ele
evidencia, pelo contexto, que o soberbo está submisso ao Diabo
(vers. 5-7). Em seguida, vem uma série de invectivas, espécies de
convites feitos no modo imperativo, expressando sua urgência e
absoluta necessidade (vers. 8-10):
Aproximai-vos de Deus, e Ele se aproximará de vós.
Lavai as mãos, pecadores, e purificai os vossos corações, ó homens
de dupla atitude.
Reconhecei a vossa miséria, afligi-vos e chorai.
Converta-se o vosso riso em pranto e a vossa alegria em tristeza.
Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará.

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© Carta de Tiago 75

Por que Tiago tão intensamente insiste nesse ponto? Estaria


ele percebendo que a conduta dos fiéis estava deixando o caminho
da sujeição a Deus bem nos moldes da sujeição desejada pela lei
imposta pelos costumes judaicos? Isto poderia ser um fruto − in-
direto, ao menos − da teologia de Paulo, que impunha a adesão a
Jesus Cristo de modo incondicional e que qualificava os costumes
relacionados à lei como inúteis.

Maledicência: 4,11-12
São em poucos versículos que Tiago condensa o problema
da discórdia verbal, da calúnia e dos desentendimentos. Segundo
ele, falar mal do outro indica falar mal da lei, o que é inadmissível
(vers. 11). A lei é para ser praticada, não julgada.
Percebe-se que o pano de fundo, nesses versículos todos, é
a convivência comunitária ou o empenho em estar unido na obser-
vância da lei. Resta saber o lugar que Jesus Cristo ocupa nessa si-
tuação, pois Ele não aparece em qualquer lugar, a não ser no início
do capítulo dois. Tiago fala para os judeus que estão empenhados
na observância da lei como um sinal de unidade.

Aos ricos: exortações: 4,13;5,6


Após os arroubos relacionados à observância da lei e à ne-
cessidade da amizade com Deus, Tiago dirige-se, novamente, aos
ricos. Inicia sugerindo uma vida de tranquilidade, vinda dos negó-
cios e dos empenhos econômicos (vers. 13). Isto tudo é engano,
pois nem o dia de amanhã é conhecido. Tiago indica os ricos como
sendo "vapor" (vers. 14). É necessário humildade e o reconheci-
mento da ação de Deus. Subitamente, vem a imagem do bem e do
mal e da necessidade de se fazer o primeiro (vers. 16-17).
Os ricos são convidados a chorar, pois o que possuem é pe-
recível. Numa sequência de versículos, Tiago toca em questões
muito delicadas: o salário dos trabalhadores, as necessidades dos
humildes, o abuso de uns sobre os outros (vers. 4-5). Ele conclui
76 © Cartas aos Hebreus e Católicas

com a imagem do justo posto à morte (vers. 5). No que − ou em


quem − Tiago estaria pensando ou se referindo? Ele certamente
não inventa esses problemas, mas os apresenta como uma reali-
dade palpável.

A vinda do Senhor: 5,7-11


Sem qualquer transição, o texto passa da condenação dos
ricos e de seus abusos para a exortação da espera do Senhor. Ini-
cia, aliás, com o convite à paciência (vers. 7). Usa o exemplo do
lavrador e de sua prática agrária de plantar e esperar os frutos.
Tiago fala da vinda do Senhor (vers. 8), isto é, a parusia, o final dos
tempos, quando o Senhor será tudo em todos. Parece que Tiago
tenta recolocar o eixo central de sua exposição no Senhor, que não
tem seu nome citado, mas se supõe ser Jesus.
Em seguida, retorna, ainda que brevemente, à questão da
maledicência (vers. 9) relacionada ao julgamento. Tiago indica que
o juiz está às portas. Cita, depois, os profetas, como exemplos de
vida e de sofrimento. Estará ele citando os profetas do Antigo Tes-
tamento ou os profetas cristãos − que, também eles, claramente
falam em nome do Senhor (vers. 10) −? No final, Tiago cita Jó e o
propõe como exemplo de paciência (vers. 11).

Não jurar: 5,12


Vem quase como um apêndice esse convite ao "não jura-
mento". O que é necessário é o sim ser sim e o não ser não. Aqui
se tem um eco do Evangelho de Mateus (5,34). Talvez esse convite
ou esse mandamento de não jurar está em função do sofrimento
e da paciência: trata-se da defesa da verdade a todo custo pela
própria palavra, pelo empenho pessoal. Nesse caso, não se pode
dizer que é um apêndice do argumento, mas, sim, uma consequ-
ência deste.

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© Carta de Tiago 77

A oração e a enfermidade: 5,13-18


O final da Carta de Tiago guarda, ainda, surpresas para um
leitor não avisado. Ela enfoca a oração, a enfermidade e o enfermo
sem quaisquer sinais literários anteriores; simplesmente pergunta,
sempre retoricamente, se há algum contratempo, alguma dificul-
dade (vers. 13). A solução é a oração. Para a alegria, Tiago sugere
não como "solução" − obviamente −, mas como reconhecimento
do estado de espírito, a canção. Essas duas situações − a tribulação
e a alegria − podem parecer contrapostas e formam, à primeira
vista, uma sequência frágil de argumentação. Contudo, elas são
partes opostas da afetividade humana: tribulação gera tristeza; e a
alegria é o contrário da tristeza. A oração é necessária para a supe-
ração da tribulação; e o canto é o testemunho da alegria. As duas
situações têm sequência literária.
Então, vem a questão da enfermidade e a solução proposta
por Tiago: a oração dos presbíteros, sua imposição de mãos e un-
ção com óleo em nome do Senhor (vers. 15). Aqui está, em parte,
ao menos, o argumento bíblico para a Unção dos Enfermos como
sinal sacramental. Oração, imposição de mãos, unção e perdão dos
pecados, com a possível cura do enfermo.
O versículo 16 fala da confissão mútua dos pecados, bem
como da oração. Parece não se tratar da confissão sacramental,
mas, sim, de uma prática humilde de reconhecimento dos erros e
dos limites. O dado da oração é importante, pois compõe, com a
confissão dos pecados, a situação da cura.
Tiago cita a imagem de Elias, profeta do Antigo Testamento,
que, segundo ele, orou com insistência para que não chovesse e,
depois, para que chovesse. Sua oração foi aceita, e o que ele pediu
aconteceu (vers. 17). Talvez Tiago esteja fazendo alguma referên-
cia ao terceiro versículo do quarto capítulo: “pedis e não recebeis,
porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as vossas paixões”.
Certamente, o tema é a oração e sua necessidade.
78 © Cartas aos Hebreus e Católicas

Epílogo: o caminho da verdade: 5,19-20


Tiago não termina como se faz em uma carta comum; ele
interrompe a sequência de argumentos. Isto é bem de acordo com
a própria índole literária da carta, que se apresenta como uma se-
quência de argumentos, algumas vezes, desencontrados.
O final é uma exortação à condução da verdade (vers. 19).
Segundo Tiago, isto é um sinal de salvação e uma remissão de pe-
cados (vers. 20). Não há despedida, recordações ou outro sinal
epistolar. Exceto no primeiro versículo do capítulo um, no qual se
tem o endereço e a saudação inicial, não há quaisquer sinais que
indiquem o início ou o final da carta.

9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
1) Por que a Carta de Tiago é um texto deuterocanônico do
Novo Testamento?
2) Qual é ou quais são os motivos que levaram os refor-
madores, especialmente Lutero, a desprezar a Carta de
Tiago?
3) Qual é o personagem do Novo Testamento que pode ser
identificado como o autor da Carta de Tiago?
4) Tente descrever como se chega à conclusão de que esse
personagem é o autor de tal carta.
5) Qual é o sentido da expressão "doze tribos da dispersão"
presente no início da Carta de Tiago?
6) Quais são os problemas encontrados na datação da Car-
ta de Tiago?
7) Tente descrever, como em uma apresentação para quem
não conhece a carta, o texto de Tiago em sua estrutura e
em seus argumentos fundamentais.
8) Qual é o grande problema da Carta de Tiago em relação
ao Corpus Paulinum?
9) Qual é a ideia teológica ou ética que a Carta de Tiago
expressa sobre a vivência da Palavra?

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© Carta de Tiago 79

10) Como solucionar o problema da aparente contradição


entre a fé pelas obras e a fé independente delas? Faça
um comentário, baseando-se na comparação dos textos
relacionados a esses pontos.

10. CONSIDERAÇÕES
A Carta de Tiago é um texto de grande importância. O uso e a
vivacidade do Corpus Paulinum fizeram dela um corpo distante do
Novo Testamento, quando não contraditório. É necessário resgatar
essa situação e colocar Tiago em seu justo contexto: a expressão
de um cristão judeu ou de um judeu que abraçou o cristianismo
nascente com intensidade e que expôs seus motivos com vivacida-
de, mas no estilo sapiencial, como era conhecido e usado.
Nesta unidade, pudemos ver que a Carta de Tiago é a primei-
ra das ditas “católicas", bem como perceber que é a mais aberta
para muitas e diversificadas situações. Ela satisfaz a curiosidade do
pesquisador, a necessidade do leitor e a devoção do fiel.
Com tais conhecimentos, estamos aptos a estudar, na próxi-
ma unidade, a Carta aos Hebreus. Então, até lá!

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. Tradução de Isabel Fontes Leal Ferreira
e João Paixão Neto. São Paulo: Paulinas, 1982.
TUÑI, J. O. ALEGRE, X. Escritos joaninos e cartas católicas. Tradução de Alceu Luis Orso.
São Paulo: Ave Maria, 1999.
VOUGA, F. A carta de Tiago. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Loyola, 1996.
______. A epístola de Tiago. In: MARGUERAT, D. (Org.). Novo Testamento: história,
escritura e teologia. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2009.
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