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Carta de Tiago
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1. OBJETIVOS
• Conhecer e identificar os elementos fundamentais da
Carta de Tiago.
• Compreender e analisar as principais questões relativas
ao texto e, sobretudo, os problemas que lá aparecem,
como a datação e a contradição entre a Carta de Tiago e o
pensamento paulino.
• Apresentar e avaliar as diversas partes da Carta de Tiago
com comentários teológicos que podem ser ampliados
pelo estudo da bibliografia.
2. CONTEÚDOS
• Carta de Tiago.
• Data e lugar da composição e seus destinatários.
• Estrutura da Carta de Tiago.
• O texto da Carta de Tiago.
52 © Cartas aos Hebreus e Católicas
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No estudo da unidade anterior, você foi subsidiado por con-
teúdos relacionados às Cartas Católicas e ao Novo Testamento.
Já nesta segunda unidade, você conhecerá a Carta de Tiago,
que é a primeira obra das chamadas “Cartas Católicas”. Ela tende
a ser muito mais comentada do que as outras, em função da apa-
rente contradição com a teologia de Paulo. Aqui, você encontrará
uma análise histórica, literária e teológica dessa carta, o que não
dispensa a consulta a alguma obra de referência. Para isso, sugeri-
mos que faça a leitura e o estudo de algum título apresentado na
bibliografia.
5. CARTA DE TIAGO
O primeiro livro das Cartas Católicas é a Carta de Tiago. Ela
é um escrito deuterocanônico do Novo Testamento e é atribuída
a Tiago, o irmão do Senhor, constando de cinco capítulos e 108
versículos. Esse texto, datado de antes do ano 70 d.C., encontrou
algumas dificuldades em sua aceitação por parte das Igrejas. Essas
dificuldades são, fundamentalmente, de duas ordens:
• O desconhecimento do texto por parte de algumas Igre-
jas, o que pode ser intuído pela ausência de indicação em
alguns cânones antigos.
54 © Cartas aos Hebreus e Católicas
Questões de autoria
O autor identifica-se, no capítulo um, versículo um, como
“Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”, o que nos leva
à questão: quem é esse Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo? Seria o apóstolo? Vejamos o que é possível saber sobre o
referido Tiago.
Tiago Maior
É chamado de “Maior” apenas para ser distinguido do “Me-
nor”. Esse “Maior" não consta no texto bíblico. É um dos "filhos de
Zebedeu". Em Mateus (4,21), encontra-se a menção ao chamado
desse Tiago e de seu irmão, João: “passando adiante, [Jesus] viu
outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que
estavam com seu pai Zebedeu consertando as redes”. Em Marcos
(3,17, grifos nossos), lê-se que receberam o nome de "Filhos do
Trovão": “Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs
o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão”. Esse apeli-
do deve ser pelo fato recordado em Lucas (9,51-56), especialmen-
te no versículo 54.
Segundo os sinóticos, esse Tiago, seu irmão João e, ainda,
Simão Pedro, foram as testemunhas privilegiadas de momentos
muito significativos da vida de Jesus: a transfiguração (Mt 171;
56 © Cartas aos Hebreus e Católicas
A tentação: 1,2-4
Tiago inicia o argumento da tentação indicando que os ir-
mãos, os cristãos judeus que ouvem sua palavra, são objeto de
múltiplas tentações. Não está claro quais seriam essas tentações,
mas, sim, as consequências delas surgidas: a provação da fé. Essa
perseverança produz, segundo o versículo quatro, uma obra per-
feita. Trata-se, então, de uma fé provada, comprovada pelas con-
tradições. Aqui, já está o sentido do debate quanto às obras e à fé
que será apresentado mais adiante.
No pensamento de Tiago, os homens perfeitos e íntegros
nascem da provação da fé e da perseverança em seu caminho.
Como será notado, a fé tem implicações práticas de compromisso
que, hoje, podem ser chamados “sociais”.
O rico: 1,9-11
Em uma perícope não muito clara, a Carta de Tiago inicia sua
crítica aos ricos, que são comparados à flor da erva perante o sol:
este as faz secar e cair da planta. Essa perícope é uma introdução
ao tema da riqueza e de sua ilusão. Talvez esses versículos expres-
sem a continuação do argumento do versículo oitavo do capítulo
quinto, quando Tiago cita a pessoa que busca a sabedoria sem fé.
Ela é comparada às ondas do mar (vers. 6), e, provavelmente, por
essa inconstância, o rico é igual.
A "sorte" do rico será retomada mais adiante, no início do
segundo capítulo da carta.
Os pobres: 2,1-9
Tiago retoma a argumentação que ocupará grande parte da
carta: a situação dos pobres. O princípio que é exposto parte da fé
em Jesus Cristo − ela não admite a acepção de pessoas, a distinção
entre uns e outros, especialmente se o critério for o das posses
ou das aparências. O exemplo citado nos versículos 2-4 é muito
eloquente: a exaltação do rico, daquele que tem aparência ou que
ostenta posses, e a humilhação de quem é humilde. A clareza do
argumento é o caminho de uma séria reflexão ética para todos os
leitores da carta.
O amor ao próximo––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Contrariamente ao que muitos pensam, o mandamento do amor ao próximo não
é exclusivo do Novo Testamento. Esse mandamento se encontra no contexto de
Mateus (22,34-40), especialmente no versículo 39. A situação é de questiona-
mento sobre Jesus, sobre qual é o maior mandamento da lei. Jesus responde ci-
tando parte do Shemá Israel, o credo histórico de Israel, que se inicia com: “ouve
Israel, o Senhor teu Deus é o único Senhor” (Dt 6,4). E logo vem o mandamento
em questão: “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, com toda a alma
e com toda a mente” (6,5). Em Levítico (19,18), encontra-se o mandamento do
amor ao próximo. “Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”.
Esses dois mandamentos − o primeiro claramente estabelecido como identidade
da Aliança de Deus com Israel, e o segundo como uma consequência da adesão
a essa Aliança −, são unidos na novidade do Evangelho que Jesus anuncia.
Tiago recorda a necessidade desse amor ao próximo em função da adesão ao
Mistério de Jesus Cristo, tema inicial dessa perícope.
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Fé e obras: 2,14-26
Este é o ponto da suposta polêmica entre Tiago e a teolo-
gia de Paulo a respeito da fé. Trata-se do tema da justificação: a
identidade da relação do fiel com Jesus Cristo e sua graça. Mas é
necessário informar, antes de tudo, que a polêmica é suposta ou
aparente. Deve-se observar, claramente, o campo ou o contexto
em que as palavras de Tiago são apresentadas.
Em Tiago (2,14), este inicia seu argumento contrapondo
obras e fé. Não se trata, porém, de uma contraposição teológica,
mas, sim, parenética, isto é, prática, ética. Talvez seja difícil com-
preender isto logo à primeira vista em função da pergunta retórica
no final do versículo: “acaso esta fé poderá salvá-lo?”. Essa per-
gunta não faz ligação clara com o versículo seguinte, que é, por
sua vez, eloquente na questão: um necessitado que está à vista
sem ser atendido ou apenas ouvido, sem uma resposta coerente
e concreta. Essa situação, sem uma resposta oriunda da fé, teste-
munha contra ela própria. É nesse sentido que Tiago insiste nas
"obras da fé", afirmando: “a fé, se não tiver obras, é morta em si
mesma” (vers. 17). Em outras palavras, isto é facilmente compre-
ensível: não se trata das "obras da lei”, que, aliás, Tiago não as cita.
72 © Cartas aos Hebreus e Católicas
A sabedoria: 3,13-18
O tema da sabedoria vem como um coroamento do que co-
meçou com a fé e com as obras. Após a necessidade de demons-
trar a fé pelas obras e de ter temperança na linguagem humana,
que é tocada pela ação de Jesus Cristo, tudo isto é apresentado
− ou, pelo menos, sugerido − como sendo fruto da sabedoria, que
é a adesão a Deus.
Tiago inicia com uma pergunta retórica sobre a sabedoria e
o entendimento (vers. 13). Continua evidenciando que a inveja, o
egoísmo e a mentira são impedimentos para a sabedoria. O texto
faz a contraposição entre as virtudes que levam à sabedoria e a
inveja, a preocupação egoísta: isto causa desordens e más ações
(vers. 16). Em contrapartida, o que é puro, pacífico, indulgente e
conciliador é sinal de justiça (vers. 17-18).
Aqui está claro o que deseja a Carta de Tiago: conduzir à ob-
servância das virtudes da lei como sinal de eleição de Deus e de
aliança com Ele. Essa aliança é a continuação da Aliança do Antigo
Testamento e empenha o interior da pessoa; não apenas as suas
aparências.
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Maledicência: 4,11-12
São em poucos versículos que Tiago condensa o problema
da discórdia verbal, da calúnia e dos desentendimentos. Segundo
ele, falar mal do outro indica falar mal da lei, o que é inadmissível
(vers. 11). A lei é para ser praticada, não julgada.
Percebe-se que o pano de fundo, nesses versículos todos, é
a convivência comunitária ou o empenho em estar unido na obser-
vância da lei. Resta saber o lugar que Jesus Cristo ocupa nessa si-
tuação, pois Ele não aparece em qualquer lugar, a não ser no início
do capítulo dois. Tiago fala para os judeus que estão empenhados
na observância da lei como um sinal de unidade.
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
1) Por que a Carta de Tiago é um texto deuterocanônico do
Novo Testamento?
2) Qual é ou quais são os motivos que levaram os refor-
madores, especialmente Lutero, a desprezar a Carta de
Tiago?
3) Qual é o personagem do Novo Testamento que pode ser
identificado como o autor da Carta de Tiago?
4) Tente descrever como se chega à conclusão de que esse
personagem é o autor de tal carta.
5) Qual é o sentido da expressão "doze tribos da dispersão"
presente no início da Carta de Tiago?
6) Quais são os problemas encontrados na datação da Car-
ta de Tiago?
7) Tente descrever, como em uma apresentação para quem
não conhece a carta, o texto de Tiago em sua estrutura e
em seus argumentos fundamentais.
8) Qual é o grande problema da Carta de Tiago em relação
ao Corpus Paulinum?
9) Qual é a ideia teológica ou ética que a Carta de Tiago
expressa sobre a vivência da Palavra?
10. CONSIDERAÇÕES
A Carta de Tiago é um texto de grande importância. O uso e a
vivacidade do Corpus Paulinum fizeram dela um corpo distante do
Novo Testamento, quando não contraditório. É necessário resgatar
essa situação e colocar Tiago em seu justo contexto: a expressão
de um cristão judeu ou de um judeu que abraçou o cristianismo
nascente com intensidade e que expôs seus motivos com vivacida-
de, mas no estilo sapiencial, como era conhecido e usado.
Nesta unidade, pudemos ver que a Carta de Tiago é a primei-
ra das ditas “católicas", bem como perceber que é a mais aberta
para muitas e diversificadas situações. Ela satisfaz a curiosidade do
pesquisador, a necessidade do leitor e a devoção do fiel.
Com tais conhecimentos, estamos aptos a estudar, na próxi-
ma unidade, a Carta aos Hebreus. Então, até lá!