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CLASSIFICAÇÃO

DOS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO

A Sagrada Escritura dos primeiros


cristãos era a Septuaginta, lida e
interpretada à luz do que Jesus disse
e fez. Isso significa: ao ler os textos
bíblicos, eles não buscavam apenas o
seu sentido literal, mas um
significado mais profundo, como
fazia o próprio Jesus (Eu, porém vos
digo...).
Através do método alegórico, herdado
do judaísmo da diáspora, e do método
tipológico (1 Co 10), elaborado pelas
próprias comunidades, os cristãos liam
os textos de tal maneira que neles
encontrassem um testemunho sobre a
Jesus. É por isso, por exemplo, que o
Sl 22 adquiriu uma importância tão
para a história da paixão(cf. Mc
15,24,29,34; Mt27,43).
Mas ao lado da Septuaginta,
muitos outros documentos
nascidos nas próprias
comunidades passaram, aos
poucos, a ser utilizados para a
instrução na fé cristã.
• Por volta do ano 150, já havia
um núcleo muito sólido de
documentos usados com essa
finalidade.
Mas foi só por volta de 400 d.C.
que as comunidades cristãs
tomaram uma decisão definitiva
sobre isso: dentre muitos outros
documentos nascidos em seu
meio, elas reconheceram 27 livros
como canônicos, acrescentando-os
à Sagrada Escritura e aceitando-os
como norma para orientar a sua fé
e conduta.
Esses livros foram chamados de
Novo Testamento,
para diferenciá-los dos outros
livros sagrados que as
comunidades compartilhavam
com o judaísmo, e que passaram
a ser chamados de
Antigo Testamento.
A expressão Novo Testamento
equivale à Nova Aliança
(kainh/ diaqh,kh / kainê
diatéke).
Ela pode ser encontrada nos
relatos de instituição da Santa
Ceia (Lc 22.20; 1 Co 11.25) e
em 2 Co 3.6.
A expressão Nova Aliança remonta ao
profeta Jeremias, que anuncia no
exílio babilônico a expectativa de um
novo tempo. Nesse tempo Deus
firmará com o seu povo uma nova
aliança, na qual sua vontade será
conhecida por todas as pessoas, pois
estará na mente e no coração delas (Jr
31.31-34).
Por volta do ano 400, os livros do
NT foram colocados na sequência
em que hoje se encontram.
Vamos em seguida tentar
entender o sentido dessa ordem,
classificar esses livros por
grupos e oferecer uma rápida
visão de seu conteúdo.
Por que os livros foram postos nessa
sequência?
Não foi pela ordem cronológica de sua
redação. Não confere, por exemplo,
que Mateus tenha sido o primeiro
evangelho a ser escrito ou que a
carta aos Romanos tenha sido a
primeira que Paulo escreveu. A
sequência observa, por alto, a
evolução dos fatos que se espelham
nos textos e algumas questões de
conteúdo.
Segundo esses
critérios, os livros
podem ser classificados
em três blocos que,
juntos, refletem um
período de um século.
BLOCO I : LIVROS NARRATIVOS
(1-60 d.C.)

No início do NT foi colocado um bloco de


cinco livros que podem ser chamados de
livros narrativos, porque narram,
sobretudo, histórias, embora também
possam conter discursos e reflexões.
• Esse bloco pode ser dividido em duas
partes, cada uma delas referindo-se a um
conteúdo e a um período histórico
distinto.
a) HISTÓRIAS SOBRE A VIDA, MORTE E
RESSURREIÇÃO DE JESUS (1-30 d.C.)

As histórias sobre Jesus acontecem entre


os anos 1 e 30 e estão narradas em quatro
evangelhos, redigidos a partir do ano 70:
Mateus, Marcos, Lucas e João.
Os evangelhos descrevem os atos de Jesus.
Algumas histórias são narradas por quatro
evangelistas, outras por três, outras por
dois e outras por um só.
Centro da pregação de Jesus
era a proximidade do reino de
Deus (Mc 1.15).
A expressão aparece cerca de
120 vezes nos evangelhos.
Esse tema domina de tal forma
a pregação e a prática, que
tudo o que ele ensina ou faz
pode ser relacionado a essa
mensagem.
A plenitude desse reinado é
objeto de esperança (Mt
6.10), mas ao mesmo tempo
se antecipa e se concretiza
na história, transformando
pessoas e situações de
acordo com a vontade de
Deus (Mt 12.8).
Reino de Deus não é um espaço
geográfico, mas uma nova realidade
que surge quando Deus começa a
reinar sobre pessoas e situações. Por
isso se trata, em verdade, do reinado
de Deus. Jesus proclama a vinda desse
reinado como a oferta da graça de
Deus, da qual todos necessitam e da
qual decorre a exigência do
arrependimento.
Embora todos os evangelhos
queiram testemunhar o
mesmo acontecimento, cada
qual foi escrito para
contextos específicos e
transmite uma visão própria
sobre a mensagem de Jesus.
Mateus foi colocado na frente porque, ao
destacar a continuidade entre o Antigo
Testamento e Jesus, estabelece uma ponte
entre os dois testamentos. Marcos e Lucas
foram escritos em ambiente gentílico e
destacam a importância de Jesus também
para os não-judeus. João escreve um
evangelho de caráter mais reflexivo,
destinado a grupos de diferentes vertentes
com os quais se debate.
• b) HISTÓRIA DA EXPANSÃO DAS
PRIMEIRAS COMUNIDADES (30-60)

O livro de Atos dos Apóstolos começa


onde os evangelhos terminaram. Atos foi
escrito pelo mesmo autor de Lucas e foi
concebido como uma continuação do
terceiro evangelho.
• O livro relata histórias sobre o
nascimento e a expansão da igreja, entre
os anos 30 e 60.
Atos narra como, a partir da
comunidade de Jerusalém,
onde Jesus foi morto e
ressuscitado, o evangelho se
espalha por novas regiões
(Judéia, Samaria, Síria, Ásia
Menor, Grécia), até alcançar
Roma, a capital do Império
Romano.
O livro ressalta a iniciativa do
Espírito Santo nesse processo. Por
isso também poderia ser chamado de
Atos do Espírito Santo. O livro
destaca, sobretudo, a contribuição de
Pedro e Paulo para a expansão do
evangelho, mas também de outros
tantos missionários.
BLOCO II: CARTAS (50-90)

O segundo bloco é formado por 21 cartas,


escritas entre os anos 50 e 90 por
diferentes pessoas a diversas comunidades
ou líderes comunitários.
• As cartas surgem de circunstâncias
concretas e respondem a problemas
específicos.
• Também o bloco das cartas pode ser
dividido em dois grupos.
a) CARTAS DE PAULO (50-60)

Paulo é um judeu da diáspora, de


formação farisaica, que se tornou
cristão por volta do ano 33.
• Entre 48 e 60, ele fez grandes viagens
missionárias e fundou várias
comunidades em várias regiões do
Império Romano.
• Quando essas comunidades passam por
dificuldades e Paulo não pode visitá-las,
eles se comunicam por cartas (1 Co 7.1;
11.34; Gl 4.20; 1 Ts 2.17-18).
Conhecemos treze dessas
cartas (outras se perderam – 1
Co 5.9; Cl 4.16): uma aos
Romanos, duas aos Coríntios,
uma aos Gálatas, uma aos
Efésios, uma aos Filipenses,
uma aos Colossenses, duas aos
Tessalonicenses, duas a
Timóteo, uma a Tito e uma a
Filemom.
• Quase todas as cartas foram escritas
a uma comunidade específica ou a
um líder comunitário.
• Só a carta aos Gálatas foi escrita a
várias comunidades de uma região
(Gl 1.2).
• Apenas duas cartas foram escritas a
comunidades que Paulo não fundou:
a carta aos Romanos (1.13) e aos
Colossenses (1.7;2.1).
As treze cartas de Paulo, escritas entre 50 e
60, podem ser divididas em três grupos:

1. Cartas Maiores:
Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas

São as mais extensas e as mais importantes


teologicamente.
• Em volume, elas ocupam quase a metade das
cartas paulinas.
• Em termos de conteúdo, elas abordam os
principais temas da teologia do apóstolo:
justificação por graça e fé, relação entre lei e
evangelho, cruz e ressurreição, a nova vida em
Cristo.
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2
Tessalonicenses e Filemom

São menores em extensão e densidade


teológica.
• Mas também abordam temas
importantes: a unidade da igreja, o
significado cósmico da obra de Cristo, a
segunda vinda de Cristo, o combate a
falsas doutrinas, a escravidão.
• Ef, Fp,Cl e Fm são chamadas de cartas do
cativeiro, pois foram escritas da prisão
(Ef 3.1; 4.1; 6.20; Fp 1.9,13,17,19; Cl
4.3,18; Fm 1.9,23).
3. Cartas Pastorais:
1 e 2 Timóteo, Tito
São assim chamadas porque foram
destinadas a dois colaboradores de Paulo,
“pastores” nas comunidades de Éfeso e
Creta.
• As cartas querem mostrar como se deve
proceder na igreja de Deus (1 Tm 3.15) e
contêm orientações sobre a organização
das comunidades, a qualificação e a vida
exemplar dos que exercem cargos de
liderança e a necessidade de zelar pela
doutrina correta do evangelho.
b) Cartas gerais (60-90)

Às cartas de Paulo segue um grupo de oito


cartas gerais ou católicas(=universais):
Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro,
1, 2 e 3 João e Judas.
São chamadas de gerais porque não
possuem um destinatário específico ou se
destinam a várias comunidades ao mesmo
tempo.
1 e 2 Jo fogem dessa caracterização, pois
a primeira foi escrita a uma
família/comunidade? (1.1) e a segunda, a
Gaio (1.1).
Uma observação quanto ao título
que a tradição deu a essas cartas:
enquanto Hebreus foi designada
pelo nome dos pretensos
destinatários (=pessoas de origem
judaica), as demais receberam o
nome dos pretensos autores
(Tiago, Pedro, João e Judas).
Quatro das cartas gerais são
anônimas, ou seja, elas
mesmas não revelam o nome
de seu autor: Hb, 1, 2 e 3 Jo.
• A tradição atribui a autoria
das três últimas a João, por
causa de sua proximidade
temática com o quarto
evangelho.
Além de combater falsas doutrinas e
falsos mestres, as cartas gerais
lembram que a fé deve se tornar ativa
através do amor (Tg,
1 Jo).
• Algumas delas refletem sobre o
tema do sofrimento, que os cristãos
passam a suportar por causa de sua
fé e de sua nova vida em Cristo (1 e
2 Pe).
BLOCO III: LIVRO PROFÉTICO (95)

O último livro do NT é o Apocalipse.


• Trata-se de um livro profético porque, à
semelhança dos profetas do AT, ele
proclama o juízo e a graça de Deus sobre
a história.
• João, o autor do livro, anuncia a
destruição do mundo dominado pelo
Império Romano e a criação de um novo
céu e de uma nova terra, onde não mais
haverá morte, nem tristeza, nem choro
nem dor (21.4).
• Apocalipse foi escrito por volta de 95,
quando o imperador Domiciano tinha
iniciado uma perseguição mais
sistemática aos cristãos, que não
queriam adorá-lo e obedecê-lo como se
ele fosse um Deus.
• Através do livro, o autor quer animar os
cristãos a perseverar na fé, na certeza de
que a vitória final pertencerá a Deus.

• Comparado ao AT, o Apocalipse se


aproxima muito de Daniel, também o
último livro do AT a ser escrito.
Referências

KÜMMEL, Werner G. Introdução ao


Novo Testamento. p. 22-24.
Autoria: Prof. Verner Hoefelmann
Faculdades EST

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