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Introdução ao
Antigo Testamento
Erich Zenger |Georg Braulik
Herbert Niehr \ Georg Steins |Helmut Engel
Ludger Schwienhorst-Schönberger
Silvia Schroer |Johannes Marböck
Hans-Winfried Jüngling \Ivo Meyer
Frank-Lothar Hossfeld
Tradução
Werner Fuchs
T itu lo orig in a l:
Einleitung in das A lte Testament
© 1995 W. K ohlham m er G m bH
ISBN: 3-17-014433-2
A lle Rechte Vorbehalten
Sumário
Siglas e A breviaturas.................................................................... 11
Prefácio............................................................................................. 13
mais percepção da atualidade de uma palavra de ordem como a de 51,5: "Nem em reproduzir o número total do alfabeto em 22 versos (cf. no Saltério, SI 33;
Israel nem Judá são viúvos de seu Deus". Na história da penetração de Jeremias 38; 50; 103). Esses chamados acrósticos já se comprovam na tradição acádica
refletiu-se, quando muito, sobre a palavra da "Nova Aliança" (31,31). (onde correspondem ao tipo de letra silábica e não alfabética) e na Bíblia po
dem ser encontrados no Saltério (SI 9s; 25; 34; 37; 111 s; 119), no livro de Provér
bios (Pr 31,10-31) e, de modo fragmentário, entre outros, em Na 1,2-8. É incerto
IV. LAMENTAÇÕES se a totalidade assim expressa possui ou originalmente podia ter possuído um
(Ivo M e y e r ) sentido mágico ou mnemotécnico. A seqüência provavelmente pode ser per
cebida melhor na leitura que na audição e em todo caso constitui uma moldura
Texto: Jerem ias, Baruch, Threni, Epistula Jerem iae, ed. J. Ziegler (Septuaginta: Vêtus que protege o autor de extravasar ilimitadamente.
Testam entum G raecum XV), G öttingen, 2a ed. 1976.
A pontem os ainda para um a singularidade: talvez o desvio na ordem das letras
Comentários: W. Rudolph (KAT), 1962; O. Plöger (HAT), 2a ed., 1969; F. A sensio (BAC),
e, assim, das estrofes nos cânticos 2, 3 e 4 possa ser avaliado com o indício de um
1970; D. R. Hillers (AncB), 1972; H. J. K raus (BK), 4a ed., 1983; H. J. Boecker (ZBK), 1985;
núm ero m aior de autores.
H. L. Ellison (EBC), 1986; H. G roß (NEB), 1986; O. Kaiser (ATD), 4a ed., 1992.
Faz parte das peculiaridades da configuração literária, sobretudo nos prim eiros
M onografias: B. A lbrektson, Studies in the Text and Theology o f the Book o f L a m en
quatro capítulos, um desequilíbrio extraordinariam ente freqüente entre as duas
tations (STL 21), L und 1963; J.-D. Barthélém y, Les devanciers d'Aquila (VT.S 10), Lei
m etades da linha, com o K. Budde o descreveu pela prim eira vez em 1882. Em vis
d e n 1963; S. B ergler, T hreni V — n u r ein a lp h a b e tisie ren d e s Lied? V ersuch einer
ta de que a m étrica presum ida de 3+2 pode ser encontrada principalm ente em
D eutung: VT 27, 1977, pp. 304-320; R. B ran d scheidt, G otteszorn und M enschenleid.
poem as de lam entação, ela é cham ada de m étrica qinãh (qinãh = lamentação). Evi
Die G erichtsklage des leidenden G erechten in Klgl 3 (TThS 41), Trier 1983; O. B runet,
dencia-se tam bém que Lm é constituído por textos poéticos por causa da freqüente
Les Lam entations contre Jérémie. Réinterprétation des quatre prem ières Lamentations,
Paris 1968; idem , La cinquièm e L am entation: VT 33, 1983, pp. 149-170; F. M. Cross, ocorrência de linhas e m etades de linha com estruturação paralela, bem com o em
Studies in th e S tru ctu re of H eb rew Verse. The Prosody of L am entations 1:1-22, in: articulação de palavras que — talvez em benefício do ritm o — divergem da ordem
FS D. Freedman, W inona Lake 1983, pp. 129-155; M. D ahood, New Readings in Lam en usual na prosa.
tations: Bib. 57,1976, pp. 174-197; E. G ersten b erger, D er klagende M ensch, in: FS G.
von Rad, M ünchen 1971, pp. 64-72; I. G. P. Gous, The Origin o f Lam entations, Pretoria
1988, pp. 130-143; W. C. Gwaltney, The Biblical Book of L am entations in th e C ontext 2. Surgimento
of N ear E astern L am ent L iterature, in: W. W. H allo/J. C. M oyer/L. G. P erdue (eds.),
Scripture in Context II, W innona Lake 1983, pp. 191-211; B. Johnson, Form and M essage Há documentação de lamentos sobre uma cidade destruída (ou um tem
in L am entations: Z A W 97,1985, pp. 58-73; B. Kaiser, Poet as "Fem ale Im personator". plo destruído) a respeito de Ur, Nippur, Eridu e Uruk desde o período de Isin
The Im age of d a u g h te r Zion as Speaker in biblical Poem s of Suffering: JR 67, 1987, Larsa (1950-1700 a.C.; cf. ANET 6,11-19). Mais tarde eram usados como textos
pp. 164-183; E. Levine, The Aram aic Version o f Lamentations, New York 1976; J. Ren- didáticos em escolas babilónicas de escribas. Era de esperar que o tema geras
kema, The Literary Structure o f Lam entations (JSOT.S 74), Sheffield 1988, pp. 294-396;
se um desdobram ento comum, porém até o presente nenhum parentesco li
W. H. Shea, The qin ah S tru ctu re of th e Book of L am entations: Bib. 60,1979, pp. 403-
107; C. W esterm an n , Die Klagelieder: F orschungsgeschichte und A uslegung, Neu- terário com o livro bíblico das Lamentações foi comprovado.
kirchen-V luyn 1990.
A tradição que considerava Jerem ias o autor das Lam entações perm aneceu sem
contestação até o séc. XIX. Na form a grega do texto ela é expressam ente form u
lada num a espécie de nota introdutória: "Depois que Israel foi levado ao cativeiro
1. Estrutura
e Jerusalém foi destruída, sucedeu que Jerem ias se sentou aos prantos e lam en
tou esse cântico de lam entação sobre Jerusalém , dizendo". E ssa visão retirava
Todos os cinco poemas, que podem ser nitidamente delimitados e por isso apoio de um a observação sobre a m orte de Josias (2Cr 35,25): "Jerem ias com pôs
coincidem com a subdivisão usual de capítulos, têm a ver, sob o aspecto formal, um a lam entação para Josias, e todos os cantores e cantoras falaram de Josias em
com o alfabeto. Lm 1 e 2 trazem 22 estrofes de três linhas, e Lm 4, estrofes de seus lam entos até o dia de hoje. Isso tornou-se um costum e em Israel, e esses can
duas linhas, cada uma das quais começa com a letra seguinte do alfabeto. Lm 3 tos foram inseridos nas lam entações". A contece, porém , que o livro bíblico exis
até faz iniciar as três linhas de cada estrofe com a mesma letra. Lm 5 contenta-se tente com o título de Lam entações pranteia a destruição da cidade e do tem plo,
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m as som ente com um único verso o destino de um rei, e mais precisam ente não do seu surgimento (após o Cântico dos Cânticos, atribuído a Salomão, e antes
sua m orte, mas sua deportação. Lm 4,20 diz: "O sopro de nossas narinas, o m essias de Daniel, situado no exílio), seja na seqüência das festas litúrgicas, em que
de Javé, nas m asm orras está cativo, ele, de quem nós dizíamos: sob sua proteção são lidos como os cinco nfgiUõt. na Páscoa, o Cântico dos Cânticos; na Festa
viverem os entre as nações". Tomada isoladam ente, a frase cabe tanto para Joa- das Semanas, Rute; no 9o Ab (dia em m em ória da destruição do templo), as
caz/Shalum (cf. 2Rs 23,33 e Jr 22,10-12), para Ioiakin (2Rs 24,8-17 e Jr 22,24-30), Lamentações; na Festa das Tendas, Qohélet; e em Purim, Ester. Essa trad i
quanto para Sedecias (2Rs 24,18-25,7 e J r 39,4-10; 52,1-11). No entanto, um nexo
ção de leitura nos ofícios religiosos, contudo, pode ser com provada para as
com a destruição da cidade ocorre exclusivam ente no último. Em 597 Jerusalém
Lamentações apenas a partir do séc. VI d.C. Resta, pois, como suposição mais
não foi feita em ruínas, com o se d ep reen d e claram ente de 2Rs 24,8-17 e a crônica
neobabilônica confirm a com o um a fonte insuspeita.
plausível: quando o cânon dos profetas foi concluído, as Lamentações ainda
não eram consideradas como sendo de Jerem ias, mas já o foram na época
As reservas histórico-críticas contra uma autoria de Jeremias podem ser da tradução para o grego e, depois, para Flávio Josefo no séc. I d.C. (Contra
resum idas como segue: 2Cr 35,25 tem de se referir a outro livro desapareci Apionem, 1.8).
do. É plausível que Jeremias tenha lamentado a morte de Josias, a conside Uma vez que se tom a distância da idéia da autoria de Jeremias, a per
rar pela maneira como contrapõe ao malogrado filho e sucessor ao trono dele, gunta se originalm ente os diversos capítulos surgiram em conjunto e, even
Ioiakin (Jr 22,15), a figura do pai como exemplo contrastante. Contudo, afir tualmente, os indícios para a fixação cronológica devem ser analisados em
mar que, segundo Lm 4,20, ele teria dito acerca de Sedecias, depois de todas separado.
as experiências que teve com ele (Jr 21,1-10; 24,1-10; 32,1-5; 34,1-7.21; 37,1-
- No prim eiro cântico um(a) orador(a) fala inicialm ente do destino de Jerusalém
10.17-21; 38,1-6.14-28), que: "O sopro de nossas narinas, o messias de Javé,
(w. 1-11). No v. 5b ele é explicado teologicam ente. Cada vez nas últim as linhas
nas m asm orras está cativo, ele, de quem nós dizíamos: Sob a sua proteção
das três estrofes conclusivas (w. 9c.10c.Uc) Jerusalém é citada com súplicas dire
viveremos entre as nações" — isso imputa dem asiada ideologia m onárquica
tas e indiretas a Javé. A p artir do v. 12 é a própria Jerusalém que tom a da pala
a Jeremias. Ademais, é pouco provável que quem anunciara ao templo de Je vra, interp reta teologicam ente suas experiências, dá razão a Javé (v. 48), dirigin
rusalém uma sorte como a de Shilô (Jr 7,14; 26,6) agora deva lamentar: "O ad do-lhe diretam ente a palavra nas últim as três estrofes e solicitando-o a castigar
versário estende a mão sobre todos os seus tesouros. Sim, ela vê as nações seus inim igos de acordo com suas ações. O texto pressupõe a destruição de Je ru
entrarem no seu santuário: os que ordenaste não entrar na assembléia que é salém em 586 (term ina a peregrinação, v. 4; profanou-se o tem plo, v. 10). Deve per
tua" (Lm 1,10). E ainda: Jeremias, que no passado condenara com veemência m anecer aberto se um texto com o esse ainda podia ser escrito depois do D êutero-
as esperanças por auxílio político de fora (Jr 2,18: "E agora, o que te atrai rumo Isaías, depois da reconstrução do tem plo e depois da perm issão de reto rn o para
ao Egito, para te dessedentares na água do Nilo? O que te atrai rumo à Assíria os dispersos.
para te dessedentares no rio Eufrates?"), mais tarde, quando se evidenciou - No segundo cântico, um(a) orador(a) eleva nos vv. 1-9 um lam ento sobre Javé que,
que tinha razão, dificilmente poderia dizer cheio de frustração: "Quando nos furioso, tornou-se inimigo, e nos vv. 10-12 sobre a realidade em Jerusalém . A partir
sos olhos ainda se consumiam à espera de uma ajuda, era em vão. Em nossos do v. 13 ele(a) apostrofa a cidade, convocando-a nos w . 18s a clamar, lam entar e
postos de vigia vigiávamos pela vinda de uma nação que afinal não nos sal suplicar. Os vv. 20-22 acusam Javé — enquanto palavras do(a) orador(a) ou como
vou" (Lm 4,17; no entanto, não se pode excluir que, segundo a prática de ci clam ores colocados na boca de Jerusalém . Q uanto à época do surgim ento: o v. 2
tação bíblica, Jerem ias esteja citando uma voz alheia). Finalmente, é muito parte de destruições com provadas apenas depois de 586 (fortificações arrasadas).
improvável que uma confissão de pecado da boca de um crítico contumaz de O lam ento sobre o rei m antido preso entre nações pagãs, no v. 9, deve ter sido for
seus contem porâneos e suas elites tenha soado: "Nossos pais pecaram, eles m ulado antes do tem po persa.
não existem mais. Nós é que carregam os suas perversidades" (5,7; contudo - O terceiro cântico, m ais longo, e destacado por sua colocação central, com um
tam bém nesse aspecto deve ser recordado, como relativização, que no m es orador m asculino fazendo uso da palavra, podia ser muito bem relacionado com
mo cântico os mesmos oradores dizem no v. 16b: "Ó infelizes de nós, nós p e Jerem ias, segundo a visão tradicional (cf., p. ex., o v. 14 com Jr 20,7). Ele com eça
camos!"). Essa argum entação em nível de conteúdo é convincente só em ter com um a enxurrada de acusações extrem am ente am argas contra "ele" (identifi
mos. As contradições evidenciadas para Jeremias não excedem o quadro das cado só depois da prim eira terça parte, no v. 22!). Após um a m eia-linha com in
que tam bém se alojaram dentro do livro de Jeremias. Justamente diante disso terpelação no v. 17a, o o rador se volta para a própria pessoa, desafia-se a prestar
chama atenção o argum ento de que as Lamentações não foram inseridas no declarações de confiança, anuncia a si próprio recom endações sapienciais (vv. 22-
cânon hebraico dos profetas, mas entre os "escritos", seja na ordem suposta 30). N esse m om ento o au tor utiliza duas vezes as restrições form ais do acróstico
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p ara com por um staccato im pressionante (bom... bom... bom..., nos w . 25-27, e nos que nos rejeites definitivam ente, em dem asia te irrites contra nós". Essa linha
sim... sim... sim..., nos vv. 31-33). Em seguida o au to r tom a im pulso para um a com sua polissem ia retórica não é suficiente para especulações de longo alcance,
teodicéia de g ran d e em penho retórico (w. 31-38), que transita para um a convo de que nela se estariam exteriorizando as prim eiras dúvidas na teologia deutero-
cação ao auto-exam e (coletivo!) (w. 40-42a). C ontudo, com suas descobertas e sua nom ista (tardia) do arrependim ento, motivo pelo qual seria im perioso supor um
teologia o auto r não alcança o "controle" de suas experiências. Ele não pode nem surgim ento tardio. O v. 18 pressupõe um a situação desolada do Sião, que term i
enfeitar nem calar-se. Seu alfabeto ainda não chegou ao fim. R etorna ao lamento: na o mais ta rd a r com a construção do novo tem plo. Acaso será correto calcular a
"Tu não p e rd o a ste " (v. 42bss). Ele c o n tin u a in te rp ela n d o Javé. As condições partir do v. 7: "Nossos pais pecaram , eles não existem mais" um a distância de um a
coletivas perm anecem no prim eiro plano até o v. 51, em que o olhar se volta no geração = quarenta anos a partir de 586? Não se fala da m orte de um a geração
vam ente para a situação de perseguição pessoal, e em que, no estilo da lam entação toda. Tam pouco os deportados "não existem mais". Em parte algum a se lê que os
individual, as afirm ações de experiências de libertação, confiança, lam entos p e últim os fam iliares da geração que vivenciou a destruição ten h am m orrido de ve
los inim igos e súplicas finalm ente conduzem à certeza de que Deus retribuirá aos lhos. Nem m esm o é im periosa a hipótese de que os pais que pecaram perten ce
inim igos (w. 64-66). Carecem os totalm ente de indícios externos referentes à épo ram precisam ente àquela geração. Por isso resta tam bém nesse cântico como mais
ca do surgim ento. Pode-se ten tar situar cronologicam ente esse cântico apenas no provável um a proxim idade cronológica com os acontecim entos em to rn o dos
contexto da história da teologia pós-exílica. Lm 3 pertence às cercanias dos poe acontecim entos de 586.
m as de p erso n ag en s que desem p en h am um papel ou carregam um problem a,
com o as cham adas confissões de Jerem ias, o livro de Jó ou os textos do justo so
fred o r no Saltério. 3. Ênfases teológicas e relevância
- No quarto cântico, um(a) orador(a) no singular descreve nos w . 1-16, com im a
gens que opõem o passado glorioso ao p resen te op resso r (tal com o existem so As Lamentações constituem cinco respostas autônomas para a situação
bretu d o em cantigas fúnebres), o te rro r e h o rro r de Jerusalém em cenas h o rripi após a catástrofe de 586. Estetas podem discutir se a opção pelos limites do
lantes, fu ndam entando-as teologicam ente nos w . 11 e 16. N os w . 17-20 acrescen acróstico alfabético tem efeito artificial ou artístico. Eles possivelmente são tex
tam -se vozes lastim osas de atingidos, antes que nos w . 21 s, após um a sarcástica tos de leitura, mais destinados ao olho que ao ouvido. A partir de seu surgimento
convocação de Edom p ara alegrar-se, se anuncia, entre duas palavras de juízo à eles não foram previstos para o uso em celebrações religiosas, porém há séculos
filha de Edom, à filha de Sião que sua culpa findou. Pois "ele" não m ais leva ao
estão sendo em pregados no contexto da liturgia judaica no dia memorial da
exílio. O elem ento drástico assu stad o r proíbe recorrer, no intuito de torná-lo ino
fensivo, a tópicos sim ilares de elegias e cenários catastróficos. Não obstante, é
destruição do templo e na liturgia católico-romana da Semana Santa.
im possível esquivar-se do conflito de interpretação: se o autor fala de um a cons Os traum as de 586 jamais cicatrizaram integralmente. Pelo contrário, fo
tatação concreta, a asseveração de um a virada, por tudo o que sabem os, soa co ram sofridos por sempre novas gerações de judeus e, até os dias de hoje, por
mo prem atura. Por isso terem os de en ten d er o recurso às cores m ais chocantes sempre novos contingentes da humanidade. O que um povo marginal semita
com o fundo de legitim ação p ara o ataque m aciço contra Edom , cujo papel de do Noroeste experimentou há dois milênios e meio no âmbito da efêmera ex
beneficiário traiçoeiro da catástrofe de 586 perm aneceu com o m em ória viva (cf. pansão do reino neobabilônico, seguramente não merece, na história mundial
SI 137,7 "Senhor, p ensa nos filhos de Edom, que diziam no dia de Jerusalém : 'A rra dos vencedores e bem-sucedidos, mais que uma nota de rodapé. Turistas de
sai, arrasai até os fundam entos!'". Q uanto à história rica em conflitos com Edom, catástrofes e voyeurs da miséria conhecem alvos mais compensadores. O deci
cf. Gn 15,27-34; 32,2-22; Nm 20,14-21; 24,18; 2Sm 8,14; lR s 11,14-22; 2Rs 8,20-22; sivo é como desde então aquilo que naquele tempo foi quebrado está sendo
14,7; 16,6; SI 60,10s; 83,7; 108,10s; Is 34,1-17; 63,1-6; Jr 49,7-22; Ez 25,12-14; 35,1-15;
mantido inteiro, precária mas exemplarmente, nas tentativas de interpretação
Am 1,11 s; 9,12; J1 4,19; Ab 8-15; Ml 1,2-5).
de testemunhas bíblicas. Religião — não mais concebida como confirmação re
- Todo o quinto cântico, conclusivo, concede a palavra a um a maioria, que fala no cíproca de uma divindade e veneradores(as) humanos(as), mas muito antes como
estilo da lam entação do povo. Ele principia com cham ados pedindo a atenção de lamentação. Isso tem pouco a ver com lamúria e autocomiseração, mas com um
Javé, apresenta-lhe nos w . 2-18 praticam ente o reverso detalhado de um a ordem apelo penetrante a Deus, para que veja essa miséria que ele causa por sua au
econôm ica e social intacta, ocasião em que se reconhecem no v. 7 os pecados dos sência na sua Criação, a miséria do santuário, a miséria dos poderosos e das
pais e no v. 16 os próprios pecados. A exposição da m iséria term ina com o olhar
elites espirituais. E tudo isso porque ele permitiu que se deteriorasse o escabelo
p o r sobre o Sião devastado. A esses motivos de intervenção expostos perante Javé
segue-se um a confissão ao seu senhorio eterno (v. 19), assim com o a p erg u n ta
de seus pés, porque ele pisoteia pelo seu jardim, porque esqueceu suas festas.
acusadora pela duração de sua ocultação (v. 20) e o pedido de que ele retorne e Pela evidência desse livro, acontece algo espantoso no meio dessa lamentação:
provoque retorno e m udança (v. 21). O últim o versículo causa problem as: "A me- culpa é confessada. Evidentemente "poder confessar" tem a ver com "conso
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