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BÍBLICA LOYOLA

Sob a orientação da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teoloj


Belo Horizonte — MG

Introdução ao
Antigo Testamento
Erich Zenger |Georg Braulik
Herbert Niehr \ Georg Steins |Helmut Engel
Ludger Schwienhorst-Schönberger
Silvia Schroer |Johannes Marböck
Hans-Winfried Jüngling \Ivo Meyer
Frank-Lothar Hossfeld

Tradução
Werner Fuchs
T itu lo orig in a l:
Einleitung in das A lte Testament
© 1995 W. K ohlham m er G m bH
ISBN: 3-17-014433-2
A lle Rechte Vorbehalten

Sumário

Siglas e A breviaturas.................................................................... 11
Prefácio............................................................................................. 13

A Sagrada Escritura de judeus e cristãos


(E r ich Z e n g e r )

I. A im portância da Bíblia judaica para a identidade c ristã ....................... 16


Edição d e te x to : M arcos M arcionilo
í. O fundam ento do cristianism o..................................................................... 16
Preparação: Renato Rocha
2. O horizonte interpretativo do Novo T estam en to..................................... 18
D iagram ação: R onaldo H id e o Inoue
3. A ntigo Testam ento ou Prim eiro T estam ento?............................................ 19
Revisão: Rita d e Cássia M achado Lopes
4. M aneiras problem áticas de ler e com preender o
Antigo Testam ento no cristian ism o .............................................................. 21
5. H erm enêutica bíblica ju d e u -c ris tã ............................................................... 24
II. O Tanak: Escritura Sagrada dos ju d e u s........................................................ 28
1. A estrutura tripartida do T anak .................................................................... 28
2. A sistem ática herm enêutica do Tanak........................................................ 31
3. A form a do texto tra n sm itid o ....................................................................... 34
III. O Primeiro Testamento: Escritura Sagrada dos c r istã o s ......................... 36
1. O surgim ento do cânon cristão e x te n s o .................................................... 36
2. A estrutura quadripartida do Prim eiro T estam ento................................ 38
3. Prim eira parte da Bíblia cristã una b ip a rtid a ............................................. 41

Os livros da Torá/do Pentateuco


E dições Loyola Jesuítas
Rua 1822, 341 - Ipiranga
04216-000 São Paulo, SP I. A Torá/o Pentateuco com o um todo (Erich Zenger) ..................................... 45
T 55 11 3385 8500 1. A form a final com o pro g ram a te o ló g ic o ................................................... 46
F 55 11 2063 4275 2. O contexto histórico da redação constitutiva............................................ 51
e d ito ria l@ loyo la .co m .b r 3. A Torá com o livro ca n ô n ic o .......................................................................... 58
vendas@ loyola.com .br
w w w J o y o la .c o m .b r II. O surgim ento do Pentateuco (Erich Zenger) ................................................... 61
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser
1. Indícios de um processo de surgim ento em m últiplas c a m a d a s 63
reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer 2. Os três m odelos básicos de hipóteses de form ação
,
meios (eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia e gravação) ou do P e n ta te u c o .................................................................................................... 79
arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão
escrita da Editora. 3. Etapas im portantes na pesquisa crítica do P e n ta te u c o ........................... 81
4. Situação atual da pesquisa.............................................................................. 88
ISBN 978-85-15-02328-8
III. O livro do D euteronôm io (Georg Braulik) ....................................................... 96
R eim pressão: ja n e iro d e 2016 1. Nome, categoria literária, estrutura............................................................. 97
© EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2003
I. PECULIARIDADE E IMPORTÂNCIA DA SABEDORIA
EM ISRAEL
( E r ic h Z e n g e r )

Bibliografia: J. A ssm ann, Ma'at. Gerechtigkeit und Unsterblichkeit im alten Ä gypten,


M ünchen 1990; J. Blenkinsopp, W isdom and the Law in the Old Testament. The Ordering
o f Life in Israel and Early Judaism, Oxford 1983; M. G ilbert (ed.), La Sagesse de L'An­
den Testam ent (BEThL 51), Leuven, 2a ed., 1993; M. G örg, W eisheit in Israel. W urzeln,
W ege, W irkungen: KatBl 113, 1988, pp. 544-549; O. Kaiser, D er M ensch unter dem
Schicksal. Studien zu r Geschichte, Theologie und G egenw artsbedeutung der W eisheit
(BZAW 161), Berlin 1985; H.-J. Klauck, "C hristus, G ottes Kraft un d G ottes W eisheit"
(1 Kor 1,24). Jüdische W eisheitsüberlieferungen im N euen Testament: W iW ei 55,1992,
pp. 3-22; M. Küchler, Frühjüdische W eisheitsliteratur. Zum Fortgang weisheitlichen
D enkens im Bereich des frühjüdischen Jahw eglaubens (OBO 26), F ribourg/G öttingen
1979; H. D. Preuß, Einführung in die alttestamentliche Weisheitsliteratur (UB 383), Stutt­
gart 1987; G. von Rad, W eisheit in Israel, N eukirchen-V luyn, 4a ed. 1992; K. F. D. Röm-
held, Die W eisheitslehre im A lten Orient. Elem ente einer Form geschichte (BN.B4),
M ünchen 1989; H. H. Schm id, W esen und G eschichte der W eisheit (BZAW 101), B er­
lin 1966; S. Schroer, Die göttliche W eisheit und d er nachexilische M onotheism us, in:
M.-T. W acker/E. Z enger (eds.), Der eine Gott und die Göttin (QD 135), F reiburg 1991,
pp. 151-182; G. T. S heppard, W isdom as a H erm eneutical Construct. A S tu d y in the Sa-
pientializing o f the Old Testam ent (BZAW 151), Berlin 1980; B. W illmes, A lttestam ent­
liche W eisheit und Jahweglaube. Zur Vielfalt theologischer D enkstrukturen im Alten
Testament, F rankfurt a. M. 1992.
284 — I n t r o d u ç ã o a o A n t ig o T e s t a m e n t o O S LIVROS DA SABEDORIA — 285

1. Sabedoria como saber prático da vida e direcionados para a vida, que fazer o bem pode favorecer a vida e que aq u e­
le que tenciona o bem em última análise não pode fracassar. Pelo contrário, em
Com o conceito "sabedoria" designa-se um fenôm eno intercultural am ­ Israel isso está fundam entado no que a sabedoria denom ina "tem or a Deus".
plam ente difundido na A ntiguidade, da M esopotâm ia ao Egito, m as tam bém N um a sentença m estra citada várias vezes na literatura sapiencial de Is­
da Grécia a Roma, o qual poderíam os cham ar de sab er prático da vida ou sa­ rael consta, por isso: "O tem o r a Deus é o com eço da sabedoria" (Pr 1,7; 9,10;
b er do cotidiano adquirido pela prática e que visa à prática. "Uma pessoa que 15,32; Jó 28,28), o que a tradição latina traduziu de form a muito acertada: "Timor
sabe muito... ainda não é sábia. E um sábio tam pouco precisa ser alguém que dom m i principium sapientiae", isto é, tem er a Deus constitui o princípio, o p rin ­
sabe m uito ou m esm o tudo" (M. Gõrg, Weisheit, p. 544). Para que alguém se cípio básico da sabedoria. Temor a Deus é o princípio inerente à sabedoria
torne sábio, ele precisa do saber adequado e precisa ser capaz de lidar de m odo genuína e a fundam enta essencialm ente. Temor sapiencial a Deus não é tem or
correto com esse saber. A sabedoria está interessada no saber certo a respei­ a Deus no sentido de um a fé obediente, exigida em Gn 22 de A braão, m as é
to da vida. Para ela está em jogo aprender, praticar e passar adiante o saber confiar em Deus, ou seja, confiar em Deus com o aquele que, não obstante to ­
viver, a arte de viver. das as perturbações e perigos, governa o todo e dá sucesso à trajetória de vida
Ponto de partida de toda teologia sapiencial, desde um a sim ples reg ra de das pessoas que buscam as ordens da vida, que agem de acordo com elas e as
com portam ento até um a m áxim a ética refletida, é a convicção, colhida da ex­ com unicam adiante. Temor a Deus enquanto confiança no p o d er prom otor da
periência, da ligação entre ação e bem -estar/m al-estar. Essa ligação, cada p es­ vida, de um Deus bom , po r conseguinte, é de fato o princípio que conduz para
soa a conhece e aprova no seu cotidiano com o orientação básica do agir hu­ a sabedoria e motiva para a prática do conhecim ento sapiencial da vida. Com
m ano, a saber: que fazer o bem faz bem (à com unidade em que se vive e, mais razão pode-se, po r isso, designar a sabedoria mais antiga de Israel (seguindo
profundam ente, ao próprio benfeitor) e que fazer o mal faz mal (à com unidade M. Gõrg) com o "teologia da razão prática". A fonte de seu reconhecim ento é a
e de m odo m ais profundo ao próprio malfeitor). A perspectiva da ligação en­ razão. Sua intenção não se dirige prim ordialm ente ao conhecim ento teórico,
tre ação e resultado (bom ou mau) serve com o alicerce de toda pedagogia do m as à prática boa da vida que traz bons resultados. E seu princípio básico é
cotidiano que tenciona m otivar para o bem e m anter afastado do mal. O nexo um saber fundam ental sobre Deus como aquele que, por ser Criador do m undo,
entre ação e resultado pressupõe um saber básico do bem e do mal, e sobre­ com bate o mal e prom ove o bem.
tudo um saber das ordens do bem na vida do indivíduo, da família, dos grupos
sociais, do estado e dos povos, sim, do cosm os inteiro. Por isso a sabedoria in­
veste m uito esforço em reconhecer, form ular e ensinar essas ordens nos seus 2. Principais correntes da sabedoria de Israel
m últiplos níveis.
Todas as o rd en s singulares são, seg u n d o o ensinam ento da sabedoria Em correspondência com os contextos sociais e históricos em que as p e s­
m esopotâm ica, egípcia e israelita antiga, elem entos de um a ordem abrangente soas do Israel bíblico form ularam seu sab er da vida, podem -se distinguir três
correntes básicas da tradição sapiencial.
do m undo e da Criação, em vista da qual os deuses organizaram o m undo e o
equiparam com energia prom otora da vida. A ordem da vida que abarca tudo,
envolve e p erp assa até o m undo dos deuses. A essa ordem originária que di­ 2.1. A sabedoria clânica ("sabedoria popular")
rige o m undo, os sum érios cham am de ME, os egípcios de M aat e os israelitas
de Sedãqãh. A arte sapiencial da vida consiste em reco n h ecer a ordem a b ra n ­ Israel foi em grande parte um a sociedade aldeã e agrícola com um ethos
g en te universal no exercício da vida e solidificá-la pela prática da "justiça que apostava na coesão do clã, propícia à vida. A partir desse enfoque, a lin­
(axioma: justiça produz sãlõm, "salvação, paz"). O ponto de p artid a da arte guagem , as im agens e os conteúdos da sabedoria clânica são populares e gi­
sapiencial da vida não é um a revelação de Deus, q u alq u er que seja sua for­ ram p red o m in an tem en te em to rn o do co m p o rtam en to social cotidiano no
ma, m as a razão do ser hum ano que visa dom inar a vida. Na teologia sapiencial convívio dos gêneros e das gerações, bem com o da proteção dos valores b á­
tardia de Israel, é a p rópria sabedoria divina que inspira as pessoas em sua sicos da vida e da liberdade. Porém , ela se ocupa igualm ente com o dia-a-dia
busca po r sabedoria. concreto do rurícola, com eçando pela observação do clima, das plantas e dos
Nem por isso a sabedoria, tanto em Israel quanto em seu m undo envol­ anim ais, até as reg ras de conduta ao sem ear e colher, ao lidar com cidadãos
vente, é som ente um a ocupação profana, ou m esm o desvinculada de Deus. Não u rb an o s e com estrangeiros. Sob o ângulo da história cultural, a sabedoria
se pode deduzir de um otimismo simplório que o m undo e suas ordens são bons clânica não apenas é a form a m ais antiga da tradição de sabedoria de Israel,
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que rem onta ao tem po anterior ao estado. D urante m uitos séculos ela tam bém sabedoria, a sabedoria m ais recente inverte a perspectiva: ela fala de que a sa­
continuou sendo a guardiã crítica e sensível dos ideais de solidariedade e ju s­ bedoria é um m istério inerente à Criação e à história, que requesta por aceita­
tiça para todos, quando se desenvolveu nas cidades, particularm ente a partir ção e acolhida por parte dos seres hum anos. Assim, finalm ente, a sabedoria é
das capitais Sam aria e Jerusalém , um a sociedade de classes, na qual se q u e­ personificada. Sob influência egípcia, m as tam bém em continuidade a tem as
bravam m ais e m ais os velhos ideais da solidariedade familial. A crítica profé­ teológicos israelitas, form a-se a concepção da Dona Sabedoria que, com o face
tica de Am ós e M iquéias, m as tam bém os m andam entos sociais agrupados no do Deus de Israel é propícia às pessoas e bondosa, procura, ama, nutre e con­
Decálogo estão enraizados no ethos da sabedoria clânica. sola os seres hum anos (cf. especialm ente Pr 8,22-31; Sr 24; Sb 6,22-11,1). N es­
sa teologia sapiencial m ais recente, a arte de viver não é mais um a realização
da razão prática, e sim um a dádiva divina. A sabedoria transform a-se em sa­
2.2. A sabedoria palaciano-citadina ("sabedoria de escolas") bedoria de revelação.

Também a cultura urbana, que em Israel estava ligada ao surgim ento da 2 - Uma corrente distinta da teologia sapiencial pós-exílica considera a
m onarquia e à organização, necessária para ela, de um aparelho adm inistra­ Torá de Israel com o a m aior e verdadeira dádiva divina da sabedoria. E ncon­
tivo diferenciado e ao cultivo de relações internacionais diplom áticas, jurídicas trará a sabedoria com o o m istério do Deus que rege tudo — é essa a tese dessa
e econôm icas, criou e cultivou seu sab er vivencial específico, que tratava dos corren te — quem transform a a Torá em m áxima de vida. N um a form ulação
tem as e problem as do contexto urbano e palaciano. Aqui a sabedoria foi ensi­ clássica encontra-se essa teologia sapiencial já na cam ada m ais recente do
nada literalm ente em escolas, isto é, na educação e form ação dos filhos do rei D euterônom io, em Dt 4,6-8, e sobretudo no livro do Sirácida (v. infra, D.VIII) e
e dos funcionários. Em conseqüência, sua linguagem e suas figuras espelham em Baruc 3,9-4,4 (v. infra, E.III.3). Na teologia rabínica essa idéia leva à con­
o am biente de vida da cidade. Elas denotam elaboração artística e complexa. cepção de que Javé cria, com o prim eira "obra da Criação", a Torá, que passa a
Seus tem as ab rangem desde reg ras de boas m aneiras quando se é convidado ser o projeto de construção de acordo com o qual cria o m undo.
na corte, e de freqüentes advertências contra consum o de vinho e preguiça,
até a ética profissional de juizes, escreventes e reis. Seus ideais estão aponta­
dos para a estabilização da ordem estatal vigente e giram em torn o de lealda­ 3. As formas literárias da sabedoria
de, riqueza, fruição da vida e honra. A sabedoria palaciano-citadina de Israel
é singularm ente intercultural. Ela estuda e adota as tradições de sabedoria dos A sabedoria bíblica apresenta-se em quatro form as literárias principais:
países vizinhos, em especial a sabedoria do Egito. Assim, por exemplo, encon­ provérbio, discurso didático, poem a didático, narrativa didática. Essas form as
tra-se no livro dos Provérbios um trecho mais extenso (22,17-23,11), que re ­ de expressão sapienciais localizam-se na Bíblia tam bém fora dos "livros da
p resen ta um a tradução da doutrina sapiencial egípcia de A m eném opes. Po­ sabedoria" (p. ex., em livros proféticos).
dem os partir do pressuposto de que na academ ia de príncipes e funcionários
de Jerusalém se traduziam , liam e ensinavam escritos sapienciais egípcios e
3.Í. O pro vérb io
poesia egípcia, em especial lírica de am or egípcia.
O provérbio constitui a form ulação m ais densa da experiência a serviço
2.3. A sabedoria teologizada da orientação da vida. Seu propósito é ajudar a retira r de um a situação a di­
m ensão do inesperado e am eaçador, pelo fato de que no Provérbio a situa­
E nquanto a sabedoria de Israel até a época do exílio se m ovim entou p re ­ ção é nom eada com o usual e, em geral, recorrente. O provérbio é conciso e
dom inantem ente, no enfoque teológico, dentro das possibilidades de im agina­ breve, quase sem pre provido de um ápice que serve com o escora da m em ó­
ção e expressão gerais do Oriente, começa no período pós-exílico um a crescente ria. Sua figura poética básica é o paraiellismus m em brorum , isto é, o p a re n ­
teologização da sabedoria, que se pode reconhecer em duas propriedades: tesco figurativo, ou de conteúdo, de dois "m em bros" consecutivos (rima de
im agens, rim a de idéias):
1 - A ordem originária que está na base de tudo passa a ser entendida cada
vez m ais com o um a form a de revelação do D eus Javé. E nquanto na sabedoria "Quem cava um fosso nele cairá,
m ais antiga as pessoas são incentivadas e instruídas a b u scar e a p re n d e r a e quem rola um a pedra, ela lhe cairá p o r cima" (Pr 26,27).
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De acordo com a respectiva form a lingüística ou intenção com unicativa, um a m aneira ou o utra a ligação en tre ação e bem -estar/m al-estar. Portanto,
podem -se reconhecer cinco form as de provérbios sapienciais, que m uitas ve­ é no provérbio exortativo que se concretiza plenam ente a intenção p e d a g ó ­
zes aparecem em série. gica da sabedoria.
Exemplos: Pr 23,12 (justificativa implícita); 23,19-21 (justificativa explícita);
1 - 0 ditado (popular): ele form ula, m uitas vezes de m aneira figurada e 31,2-9 (uma coletânea program ática).
drástica, a experiência de vida do povo. O ditado tem um a visão panorâm ica
de m uitas experiências sem elhantes e as condensa, quase com o um a soma,
3.2. O discurso didático
num breve provérbio. Em bora sua intenção seja didática, o ditado não fo rm u ­
la o ensinam ento expressam ente, porém deixa po r conta do ouvinte que tire
Na form a com pleta, o discurso didático voltado para o destinatário (ou
pessoalm ente do ditado as conseqüências práticas. Q uase sem pre o ditado é
palestra instrutiva) é form ado po r três partes. Ele com eça com um cham ado
de um a linha só, m as tam bém pode o co rrer com o provérbio de duas linhas. O
inicial para a instrução, que visa interpelar diretam ente "os alunos" ("meu fi­
ditado aborda experiências do âm bito da vida cotidiana. E ntretanto, tam bém
lho, m inha filha") e d ar um a m otivação para o ensinam ento a ser transm itido.
serve para interpretar, com realce súbito, situações políticas.
Esse ensinam ento, via de regra, é apresentado num estilo m isto de exposição
Exemplos: Pr 9,17; 14,4; Ez 16,44; 18,2. e interpelação exortativa e/ou adm oestadora. Um tem a p redileto é a pergunta
pela justiça e o sentido da vida em vista da sorte dos ímpios. Como terceira parte
2 - A sentença (ou veredicto): ao contrário do ditado, que não cita expres­
(conclusiva) segue geralm ente a lem brança (como "moral da história") das con­
sam ente o fato real visado, na sentença se aborda a realidade enfocada, e g e­
seqüências de um com portam ento sábio ou tolo, explicadas não raro por obser­
ralm en te ela é in te rp re ta d a p o r m eio de um a c o m p a raç ã o explicativa ou
vações da natureza ou da vida diária. O discurso didático, configurado com o
contrastante. A vida é registrada tal com o de fato é (como ela é na verdade:
m onólogo, tam bém pode ser am pliado para form ar um refinado diálogo, um
"dito verdadeiro", "veredicto"). Sua intenção é g u a rd a r de ilusões e capacitar
tipo de controvérsia sapiencial de ensino e disputa.
para um a prática realista do cotidiano.
Exemplos: Pr 1,8-19 (advertência contra m ás com panhias); 5,1-23 (adver­
Exemplos: Pr 12,4; 14,15; 16,1; 18,2.
tência contra o adultério); Jó 32-37 (discursos didáticos em form a de m onólo­
go); Jó 32-27 (discursos didáticos em form a de diálogo).
3 - 0 provérbio enigm ático: po r interm édio de sua form a interrogativa,
que se apresenta com o um a espécie de enigm a pedagógico, o provérbio enig­
m ático visa estim ular a reflexão, para desse m odo m otivar o com portam ento 3.3. O po e m a didático
visado. Com sua form a idiom ática artisticam ente refinada, m as tam bém com
os cam pos da vida a que se refere, o provérbio enigm ático revela que procede N esta form a sapiencial de discurso (centrado no m estre, sem interpelar
do am biente da classe alta e que provavelm ente tinha seu "lugar vivencial" por o aluno), o sábio reflete/m edita sobre as questões fundam entais da vida, da
excelência na form ação áulica de oficiais. percepção do m undo e da história — à procura da boa ordem originária oculta.
Exemplos: Pr 23,29-35; 30,4-5. Tais poem as didáticos encontram -se especialm ente em Eclesiastes (v. infra,
D.V). Tam bém no livro dos Salm os há um a série de poem as didáticos sapien­
4 - 0 provérbio num érico: apresen ta de form a n um erada um a série de ciais, que ab o rd am q uatro "áreas da vida": 1 - Diante da experiência de so­
fenôm enos ou situações, sendo que a contagem constitui um recurso estilístico frim ento e m orte, as orações sapienciais m editam sobre o sentido e o êxito
p a ra realçar o fen ô m en o e n u m e rad o em últim o lugar. A ênfase do últim o da vida (cf. SI 37; 49; 73). 2 - A p a rtir da observação da Criação e de suas leis,
m em bro da série em geral já é indicada na introdução (n..., n+1...). elas têm o objetivo de m otivar p ara a confiança na vida diária e para um "sim"
Exemplos: Pr 6,16-19; 30,18-19.21-23. fundam ental a esse m undo (cf. SI 104). 3 - M editando sobre a história do povo
sob a perspectiva sapiencial de ação e bem -estar/m al-estar, tenta-se desco­
5 - 0 provérbio exortativo: en q u an to os provérbios listados até aqui dei­ b rir um sentido d essa história e tra ç ar as respectivas conseqüências (cf. SI 78;
xam de p ro n u n ciar a conseqüência prática, ela é expressam ente form ulada 105; 106). 4 —A poesia sapiencial m edita tam bém sobre a Torá com o m aravi­
no provérbio exortativo. Ele convoca p a ra um determ in ad o agir, exortando lhosa orientação p ara a vida, dada pelo Deus de Israel que am a seu povo e o
ou advertindo. Com freqüência acrescen ta um a justificativa, que incute de m u n d o (cf. SI 1; 19; 119).
290 — I n t r o d u ç ã o a o A n t ig o T e s t a m e n t o O S LIVROS DA SABEDORIA — 291

3.4. A narrativa didática 4,22a.25). É sobretudo o evangelho de Lucas (cf. apenas Lc 7,31-35) que retrata
Jesus com o m ensageiro da sabedoria e com o personificação da sabedoria, em
A narrativa didática tem o objetivo de, a partir de um a história particular, plena coincidência com a já descrita "sabedoria teologizada" (v. supra, 2.3). O
transm itir com o "verdadeira" um a sabedoria de vida universal, ou um ensino próprio Paulo recorre à teologia sapiencial judaica, para elaborar sua cristo-
sobre a vida de m odo concreto e convincente. Essa narrativa vem a ser um a logia de Jesu s en q u an to sab ed o ria de D eus em contraposição à sabedoria
h istó ria ex e m p lar d id átic o -p rá tic a , q u e visa d e s p e rta r sim u lta n e a m e n te desse m undo (cf. IC o r 1-3).
aceitabilidade e m otivação po r m eio do cenário e das pessoas nela atuantes. As tradições sapienciais do Prim eiro Testam ento poderiam oferecer im ­
Por isso é geralm ente colocado no centro um personagem ideal que, po r meio pulsos e auxílios significativos para a existência cristã hoje: 1 - A sabedoria está
de personagens negativos de contraste, é transform ado em persona imitabilis. radicada num a confiança básica na realidade da Criação e do m undo e visa
A narrativa didática da sabedoria, cujo objetivo é levar para a prática correta, m otivar para um "sim" fundam ental à vida e para a "fruição" da vida. Ela o faz
pode apresentar-se de form as distintas, a saber: não po r meio de um a idealização cega do m undo, m as pelo confronto concreto
com a realidade do cotidiano. 2 - A sabedoria se em penha em prol de um a
1 - Lenda (ênfase: o p ersonagem individual; p. ex., Jó em Jó 1-2; 42, v. in­ perspectiva m últipla da percepção do m undo e da vida, e apela à co m p reen ­
fra, D. II) são própria, às experiências próprias e ao discernim ento próprio do indivíduo.
2 - Novela (ênfase: o acontecim ento individual; p. ex., Rute, v. supra, C.V) Ao m esm o tem po ela m antém a perspectiva com unitária e (geralm ente) a rg u ­
3 - Rom ance (ênfase: a vida hum ana num m undo complexo; p. ex., Tobit, m enta com um conceito de vida que atenta para a interdependência social e
v. supra, C.X) histórica dos indivíduos. 3 - A sabedoria p rocura destacar o que é com um a
todos os seres hum anos. Sob esse aspecto ela denota, com o atividade intelec­
tual, um a paixão intercultural. Com sua ética ligada às pessoas e à vida, ela
4. Relevância constitui, sob enfoque histórico, um a das raízes dos direitos hum anos, expli­
citam ente form ulados som ente na Idade M oderna. 4 - Sua natureza sóbria, às
E nquanto a sabedoria com o sab er prático da vida possui g ran d e im portância na vezes até cética, constitui um bom corretivo contra todas as form as de exal­
ética judaica e goza de alta consideração, na teologia cristã, em especial no hori­ tação religiosa.
zonte da tradição da Reforma, sem pre se levantam reservas contra a sabedoria em
geral e contra alguns livros de sabedoria em particular. Entre outras, afirma-se que:
1 - Já d en tro do AT a sabedoria está posicionada "à m argem ", porque lhe faltaria II. O LIVRO DE JÓ
a vinculação especial com Javé e com a história da salvação. 2 - A sabedoria seria (L u d ger S c h w ie n h o r s t - S c h ö n b e r g e r )
expressão de um a religiosidade burguesa, orientada para este m undo, ou seria em
gran d e p arte profana. 3 - As exortações para o agir ético fariam parte, em term os
Comentários: F. Delitzsch (BC), 2a ed. 1872; B. D uhm (KHC), 1897; G. Fohrer (KAT), 1963,
teológicos, da esfera "da lei", particularm ente p or causa da m entalidade de rea­
2a ed. 1989; F. Horst (BK I), 1968; M. H. Pope (AncB), 3a ed. 1974; R. Gordis (1978); F. Hesse
lização e m érito contida na relação de ação e resultado, ou seja, a esfera que, afi­ (ZBK), 1978; N. C. Habel (OTL), 1985; H. Groß (NEB), 1986; T. M ende (GSL.AT 14/1), 1993.
nal, Jesus e Paulo queriam superar. Acima de tudo a ética otim ista da sabedoria
constituiria um contraste com a teologia n eotestam entária da cruz e com a ju sti­ Monografias: K. J. Dell, The Book o f Job as Sceptical Literature (BZAW 197), Berlin/New
ficação "som ente pela graça". 4 - Com o especialm ente problem áticos alguns te ó ­ York 1991; J. Ebach, Art. H iob/H iobbuch: T R E 15,1986, pp. 360-380; G. Fohrer, Studien
logos cristãos consideram os livros de Eclesiastes e Jó. Em suas aporias estaria zum Buche Hiob (BZAW 159), B erlin/N ew York, 2a ed., 1983; G. Fuchs, M ythos und
patente o fracasso do p ensam ento sapiencial. Hiobdichtung. A u fn a h m e und U m deutung altorientalischer Vorstellungen, S tu ttg art
1993; R. Gordis, The Book o f God and Man. A Study o f Job, Chicago/London 1965; O.
C ontra esse tipo de depreciações cristãs das tradições sapienciais ju d ai­ Keel, Jahwes E ntgegnung an Ijob. Eine D eutung von Ijob 38-41 vor dem Hintergrund der
cas cabe lem brar que o N ovo Testamento é determ inado de form a praticam en­ zeitgenössischen Bildkunst (FRLANT 121), G öttingen 1978; R. Kessler, "Ich weiß, daß
m ein E rlöser lebet." Sozialgeschichtlicher H in terg ru n d und teologische B edeutung
te constitutiva pela sabedoria judaica (cf. H.-J. Klauck, Christus, Gottes Kraft,
d e r Löser-Vorstellung in Hiob 19,25: Z T h K 89; 1992, pp. 139-158; C. Kuhl, N euere Lite-
pp. 3-22). O registro m ais antigo de Jesus já o m ostra com o m estre da sab e­ rarkritik des Buches Hiob: ThR.NF 21, 1953, pp. 163-205; R. Laurin, The Theological
doria, que fala com o os livros de sabedoria do Prim eiro Testam ento (cf. tão- Structure of Job: Z A W 84,1972, p p . 86-89; J. Lévêque, Job et son Dieu (2 vol.) (EtB), Paris
som ente os prov érb io s sapienciais de Jesu s em M c 2,17b.l9bc; 3,21.24.27; 1970; V. M a a g , Hiob. W andlung und Verarbeitung des Problem s in Novelle, Dialog­
292 — I n t r o d u ç ã o a o A n t ig o T e s t a m e n t o Os LIVROS DA SABEDORIA — 293

dichtung und Spätfassung (FRLANT128), G öttingen 1982; T. M ende, Durch Leiden zur 1.2. A seção d e diálogos
Vollendung. Die Elihureden im Buch Ijob (Ijob 32-37) (TThSt 49), Trier 1990; H.-R Müller,
Das Hiobproblem. Seine Stellung und E ntstehung im Alten Orient und im Alten Testa­ Na seção de diálogos, os discursos de Jó e dos am igos podem ser a g ru ­
m en t (EdF 84), D arm stadt, 3a ed. 1995; idem, Theodizee? A n schlußerörterungen zum pados em três rodadas:
Buch Hiob: ZThK 89,1992, pp. 249-279; J. van O orschot, Gott als Grenze. Eine literar­
und redaktionsgeschichtliche Studie zu den Gottesreden des Hiobbuches (BZAW 170) 3 monólogo de Jó: lamento
Berlin/N ew York 1987; L. G. Perdue/W . C. Gilpin (eds.), The Voice from the Whirlwind.
Interpreting the Book o f Job, Nashville 1992; L. Schw ienhorst-Schönberger/G . Steins, Ia rodada 2a rodada 3a rodada
Zur E ntstehung, G estalt u nd B edeutung d er Ijob-Erzählung (Ijob lf; 42): BZ 33,1989, 4-5 Elifaz 15 Elifaz 22 Elifaz
pp. 1-24; C. W esterm ann, Der Aufbau des Buches Hiob (CTM 6), Stuttgart 1977; M. Witte, 6-7 Jó 16-17 Jó 23-24 Jó
Philologische Notizen zu Hiob 21-17 (BZAW 234), Berlin 1995. 8 Bildad 18 Bildad 25 Bildad
9-10 Jó 19 Jó 26 Jó
11 Sofar 20 Sofar _ _
12-14 Jó 21 Jó 27-28 Jó
1. Estrutura
29-31 monólogo de Jó: desafio a Deus
O livro de Jó se estrutura em três partes:
32,1-6 apresentação de Elihu
32,7-33,33 primeiro discurso de Elihu
I Prólogo 1-2 34 segundo discurso de Elihu
11 Seção dos diálogos 3-42,6 35 terceiro discurso de Elihu
III Epílogo 42,7-17 36-37 quarto discurso de Elihu

O prólogo e o epílogo foram redigidos em prosa, form ando a m oldura em 38-10,2 primeiro discurso de Javé
40,3-5 primeira resposta de Jó
torn o da seção de diálogos, form ulada com o poesia. 40,6-41,26 segundo discurso de Javé
42,1-6 segunda resposta de Jó

1.1. O p ró lo g o
Há divergências se o prim eiro discurso de Jó (cap. 3) constitui ab ertu ra da p ri­
m eira rodada de discursos ou se aparece isolado, com o um m onólogo. Com o em
O prólogo relata um a dupla aprovação de Jó, no sofrim ento e num a su b ­
Jó 3 não há nenhum tipo de referência aos trê s am igos presentes, deve-se acei­
seqüente visita de seus três am igos. Ele se subdivide num a exposição e em
ta r a tese do m onólogo. Assim, Jó 3 e 29-31 form am um a m oldura em to rn o das
cinco cenas: três rod ad as entre Jó e seus am igos. Em term os de conteúdo, o discurso de fina­
lização de Jó (caps. 29-31) aponta para a frente. Jó desafia Deus a d ar um a re s­
1,1-5 A fé e felicidade de Jó posta (31,35). Contudo, antes disso seguem -se quatro discursos do qu arto am i­
2,l-7a Segunda cena celestial: depois que go, Elihu, que até então não fora m encionado (32-37). Som ente em 38-41 Javé
1,6-12 Primeira cena celestial: depois que
Satanás duvidou da fé desinteressada Satanás duvidou perante Javé de que Jó resp o n d e a Jó de dentro do tem poral. Se deixam os inicialm ente fora de conside­
de Jó, ele obtém de Javé a permissão para ficará firme na fé quando for atingido pela ração 40,1, a resp o sta de Javé é d ad a em dois g ran d es discursos (38-39; 40,6-
"tocar" tudo o que ele possui. enfermidade, ele obtém a permissão de 41,26), a cada um dos quais segue um a breve resposta de Jó (40,3-5; 42,1-6).
"vitimá-lo", respeitando, porém, a sua vida.
1,13-22 Primeira prova e aprovação de Jó: 2,7b-10 Segunda prova e aprovação de Jó: 1.3. O epílogo
em quatro golpes Jó perde seu gado e Jó é vitimado com pústulas, mas persiste
seus filhos, sem se rebelar contra Javé. na fé, apesar da solicitação de sua mulher,
para que amaldiçoe a Deus. O epílogo se desm em bra em duas cenas:
2,11-13 Os três amigos Elifaz de Teman, Bildad de
42,7-9 o julgamento de Javé sobre os três amigos
Shüah e Sofar de Naamá visitam Jó, para consolá-lo
e lhe manifestar sua simpatia. 42,10-17 o restabelecimento de Jó
294 — I n t r o d u ç ã o a o A n t ig o T e s t a m e n t o Os LIVROS DA SABEDORIA — 295

í.4. O encadeam ento das idéias na seção de diálogos para o fato de que não são os inocentes m as os ím pios que vivem na felicidade.
É nisso que se evidencia que ele, Jó, o infeliz, não é um ímpio, m as um justo.
Contra a opinião m uito difundida de que os discursos da seção de diálogos Na terceira rodada de discursos (22-28), Elifaz pela prim eira vez acusa a b e rta ­
girariam em círculo e, em decorrência, não perm itiriam perceber nenhum tipo m ente Jó de te r com etido graves transgressões, explica seu sofrim ento como cas­
de avanço nas idéias, defendem os aqui a posição de que, apesar de tem as vá­ tigo p o r essa culpa (22,2-11) e o desafia ao arrependim ento (22,21-30). Jó, contu­
rias vezes repetidos e de esquem as perm anentes de argum entação, se pode des­ do, declara m ais um a vez sua inocência (23,10-12; 27,2-6) e lam enta a ausência de
cobrir um a "progressão de idéias" na seqüência de cada rodada de discursos. Deus (23,8-9) que, se o julgasse, reconheceria que é justo (23,10).
O m ovim ento geral perceptível da seqüência dos discursos pode ser descrito Uma posição central na com posição é ocupada pelo cântico sobre a sabedoria (28),
como um processo de crescente alienação entre Jó e seus amigos, e como uma provavelm ente inserido em m om ento posterior. Pelo seu versículo final, que por
inclinação cada vez m ais intensa de Jó para Deus, expressa no lam ento e na sua vez talvez ten h a sido acrescentado mais tarde ainda (v. 28: "O tem o r de Javé,
esperança. Ele o invoca inicialmente com o juiz (9,33-35), depois como testem u­ esta é a sabedoria, e m anter-se longe do mal, o entendim ento"), o cântico faz re ­
nha (16,19-21) e finalm ente como redentor (go’él: 19,25). Por fim, desafia-o a dar- ferência ao início do livro (1,1b) e, com sua redefinição teológica da sabedoria como
lhe um a resposta. um a grandeza oculta ao ser hum ano e unicam ente acessível para Deus, ele adianta
o olhar para os discursos de Deus. Ao m esm o tem po Jó, em cujos lábios é coloca­
do o cântico, é reabilitado com o sábio, pois previne-se contra a im pressão de que,
Nos três discursos da primeira rodada (4-14) Jó passa da crítica a Deus (7,20), pela
repelindo a sabedoria tradicional dos am igos, Jó estaria rejeitando qualquer for­
acusação de Deus (9,14-35), à solicitação de que Deus reconheça sua inocência
m a de sabedoria. Fazendo a ligação de 28,28 de volta para 1,1b, o próprio Jó d e ­
(13,23). Nos discursos dos am igos pode-se observar igualm ente um a intensifica­
clara no fim da controvérsia com os am igos a sua inicial (1,1b) e jam ais ab an d o ­
ção. Elifaz explica o sofrim ento de Jó a partir da fragilidade do ser hum ano como
nada atitude de tem or a Deus (1,22; 2,10; 27,2-6) como sendo (a verdadeira form a
criatura (4,17-21), ele apela p ara o seu tem o r a Deus (4,6) e lhe recom enda que
de) sabedoria. Desse m odo antecipa a atitude que tom ará explicitam ente no final
ap resente seu pleito a Deus (5,8). Jó rejeita a idéia com a observação de que o p ró ­
dos discursos de Deus. Assim, o cântico sobre a sabedoria faz a ponte entre "Jó,
prio Deus, a quem pela prim eira vez dirige a palavra em 7,14-21, se posicionou o sofredor" do prólogo com "Jó, o rebelde" dos diálogos.
contra ele (6,4). Jó deseja ser integralm ente aniquilado por Deus (6,9) e expressa
pela prim eira vez sua decepção com os am igos (6,14-30). Depois disso, Bildad fala No g ran d e discurso de encerram ento (29-31), Jó prim eiro contrapõe um passado
num tom mais d uro (8,2). Ele se coloca na posição da fé que crê na recom pensa feliz (29) ao presente penoso (30). Em seguida reitera mais um a vez sua inocência
para am bos os lados (8,20). Partindo do princípio de que Deus não distorce o di­ perante Deus (31,1-34) e o desafia a dar um a resposta (31,35-40). No entanto, an ­
reito (8,3), ele p resum e que Jó pecou e que p o r isso tem de sofrer (8,4.6). Se ele se tes que Javé responda, um quarto am igo tom a a palavra: Elihu.
voltasse hum ildem ente a Deus, poderia contar com sua restauração (8,5-7). Na ré­
plica, Jó assevera que é inocente (9,21; 10,7), acusa Deus de q u eb rar a justiça (9,22) Nos discursos de Elihu (32-37) são criticados os am igos e tam bém Jó. Os
e em ite a declaração de que Deus governa sobre a terra como um ímpio (9,24). De­ am igos são censurados porque não foram capazes de convencer Jó (32,1-22).
pois disso Sofar o ataca com veem ência (11,1-6). Ele ensina a Jó que ele não tem Diante da posição de Jó, Elihu faz um a abordagem m uito diferenciada, reto ­
capacidade p ara conhecer a deliberação insondável de Deus (11,7-10). Uma m u­ m ando as afirm ações dele (33,8-11.13; 34,5s.9; 35,3) e rejeitando-as um a a uma.
dança só poderá ser esperada se Jó afastar o mal que o cerca, voltando-se de novo
para Deus (11,13-19). Jó rejeita term inantem ente as palavras dos am igos (12,2-6; No prim eiro discurso, Elihu refuta a acusação de Jó de que Deus estaria calado:
13,1-12), desafia Deus p ara a disputa jurídica (13,3.13-28) e expressa sua falta de Deus fala às pessoas com freqüência, m as elas não lhe dão atenção (33,14-22). O
esperança com um lam ento conclusivo sobre a vida hum ana destinada ao sofri­ sofrim ento constitui um a form a de exortação divina, com o objetivo de im pedir o
m ento e à m orte (14; cf. 3). Os discursos de Jó (16-17; 19; 21) na segunda rodada ser hum ano de conduzir a vida erroneam ente, a fim de salvar sua vida da m orte
(15-21) são m arcados pelo desafio a Deus que se torna cada vez mais intenso. Jó (33,19.29s). No segundo discurso (34), Elihu replica à afirm ação de Jó, Deus lhe te ­
repele as palavras "esfarrapadas" dos am igos (16,2-5; 19,2-5), reitera sua inocên­ ria negado o direito. C ontra a acusação de que Deus não tom a o partido dos opri­
cia (16,17) e clam a p o r socorro e m isericórdia ao Deus que faz justiça aos injus­ m idos, Elihu indica, no terceiro discurso (35), que Deus, em sua soberania infi­
tam ente perseguidos (16,19-21; 19,23-27), contra o Deus ("Deus inimigo", cf. 13,24; nita, definiria pessoalm ente o m om ento de sua interferência. No quarto discurso
33,10) que o persegue sem razão (16,6-14; 19,6-U.21s). Na linha contrária, os amigos (36-37), Elihu expõe m ais um a vez que o sofrim ento é um a provação (36,21) e um a
expressam com clareza cada vez m aior a desconfiança de que o próprio Jó seria um m odalidade do agir salvador de Deus (36,15). Ele adverte Jó para não se voltar ao
ímpio (15,4-6), descrevendo com figuras ilustrativas a desgraça que atinge o ím ­ mal (36,21). Rem ete ao m istério inescrutável de Deus (37,23), diante do qual a úni­
pio (15,17-35; 18,5-21; 20,4-29). Jó, p o r sua vez, aponta em estilo de paródia (21,7-21) ca atitude adequada do ser hum ano é o tem or a Deus (37,24).
296 — I n t r o d u ç ã o a o A n t ig o T e s t a m e n t o Os LIVROS DA SABEDORIA — 297

Em com paração com os três am igos, cai na vista que Elihu perg u n ta com (ANET, pp. 601-604; RGT, pp. 157-160): ao lado de um a série de tem as, resulta como
m ais determ inação pela finalidade que pela causa do sofrim ento, em bora esse correspondência com o livro de Jó sobretudo a form a do diálogo. Um justo que so­
aspecto tam bém não seja ignorado pelos três am igos (5,17s). Os discursos de fre se queixa da injustiça no m undo, enquanto inversam ente seu am igo, de m a­
Elihu conduzem , m orm ente na sua parte final (36,22-37,24), para os discursos neira com parável à dos am igos de Jó, aponta a ordem do m undo determ inada por
de Deus, um a vez que destacam de m odo singular a grandeza e o m istério de Deus e inacessível aos seres hum anos (linha 256; cf. Jó 11,7-9), convidando o so­
Deus e de seu agir. R epresentam a tentativa de solucionar o problem a de Jó a fredor a voltar-se com hum ildade a Deus.
partir da sabedoria tradicional m ediante o reconhecim ento dos limites que os 4 - Da literatura egípcia cita-se a categoria da controvérsia sapiencial (Papyrus
discursos de Deus lhe colocam. A nastasi I, fim do séc. XIII) (ANET, pp. 475-479), além da cham ada literatura de
confrontação depois da ruína do im pério antigo no fim do 3° milênio: o lamento
do agricultor (ANET, pp. 407-410), o diálogo da pessoa cansada da vida com sua alma
2. Surgimento (ANET, pp. 405-407), as palavras de exortação de Ipu-Ver (ANET, pp. 441-444).

5 - Na literatura grega faz-se referência à discussão do sofrim ento hum ano nos
2.1. Textos paralelos no antigo O riente escritores trágicos, como, entre outros, a Prometeu e Os Persas de Ésquilo (525-
456 a.C.), além dos dram as de Eurípides (cerca de 480-406 a.C.) (cf. M. Hadas,
De um a série de textos paralelos do antigo O riente se d epreende que o Hellenistische Kultur, Viena 1981, pp. 157-165).
livro de Jó não trata de um tem a genuinam ente israelita, m as com um ao O rien­
te. Há, hoje docum entados, textos do 3o m ilênio ao séc. V a.C. que abordam o
"problem a de Jó" de form as diferentes e com ênfases tem áticas distintas. Não 2.2. A form a pré-literária
se pode excluir que, entre outras, pela transm issão cananéia, tais textos ou
outros sem elhantes eram conhecidos dos autores do livro de Jó. A caracteriza­ De m aneira sim ilar ao procedim ento dos trágicos gregos ou dos poetas m oder­
ção de Jó com o não-israelita (da terra de Us no Oriente: 1,1.3) poderia ser re ­ nos (p. ex., G oethe, Fausto), o au tor da form a m ais antiga da narrativa de Jó deve
te r recolhido um a lenda popular para trab alh ar seu tem a. A referência m ais a n ­
flexo ou até indício dessa circunstância. A ponta na m esm a direção a erudição
tiga a ela se en co n tra em Ez 14,12-23. Ao lado de Noé e Daniel, Jó é visto nesse
do(s) autor(es) que, entre outros, se m anifesta pelo recurso a circunstâncias fora
texto com o um justo. O contexto e a citação das pessoas Noé e D aniel (a referên ­
de Israel (hipopótam o, respectivam ente, cavalo fluvial, crocodilo).
cia feita é da tradição do Daniel "ugarítico") tornam provável que a form a literá­
ria m ais antiga, não m ais atingível para nós, dessa narrativa poderia te r tido as
Como textos paralelos a Jó são citados, entre outros, os seguintes (outras referên ­
feições de que Jó, p o r causa de sua religiosidade possivelm ente com provada no
cias de textos em H.-P. Müller, Das H iobproblem, pp. 49-57.69-72):
sofrim ento, pôde salvar da m orte seus filhos (como Noé) ou buscá-los de volta
1 - “H om em e Deus" ou o "Jó sum ério" (por volta de 2.000 a.C.) (ANET, pp. 589- do subm undo dos m ortos (como Daniel) (assim pensa R. Gordis, p. 69, referindo-
591; RGT, pp. 169s): o texto com eça com um convite para louvar a Deus. Um ho­ se tam bém a Gn 22).
m em não-nom eado lam enta seu grave sofrim ento, pede por salvação, é atendido
e, p o r fim, louva seu Deus. Com o causa do sofrim ento é apontada, entre outras, a
pecam inosidade de todos os seres hum anos, d ada com a p ró p ria n atureza h u ­ 2.3. História do crescim ento literário
m ana ("desde o nascim ento") (linhas 101-103; cf. Jó 4,17-21; 9,2; 15,14-16; 25,4-6).
2 - Ludlul bei nem eqi ("Eu enaltecerei o senhor da sabedoria"), tam bém conheci­ 2.3.1. O m odelo básico segundo a crítica literária
do sob a designação o "Jó babilónico" (cerca do séc. XII a.C.) (ANET, pp. 596-601;
RGT, pp. 160-163): o texto inicia com um a exaltação de M arduk, o "senhor da sa­ Q uando se analisa o livro de Jó de acordo com a crítica literária, conta-se
bedoria". O poeta conta com o deus o ab andonou sem motivo, com o todos os seus em geral na pesquisa com o seguinte processo de crescim ento, apesar de n u ­
parentes e conhecidos se afastaram dele (cf. Jó 19,13-22; 29-31), m as que ele no m erosas divergências nos detalhes:
final experim enta — anunciada previam ente p o r sonhos — a salvação de sua an ­ O cerne mais antigo está no substrato básico da narrativa da m oldura (1-2;
gústia p o r m eio de M arduk. 42,7-17). A prim eira ampliação volum osa deu-se pela incorporação da seção de
3 - 0 "diálogo de um sofredor com seu am igo religioso", conhecido pela d esig ­ diálogos (3-27; 29-31; 38-42,6). M ais tard e foram acrescentados ainda os dis­
nação de "teodicéia babilónica" e “Q ohélet babilónico" (cerca de 1000-800 a.C.) cursos de Elihu (32-37).
298 — I n t r o d u ç ã o a o A n t ig o T e s t a m e n t o O S LIVROS DA SABEDORIA — 299

A fav o r da h ip ó tese de su rg im e n to acim a referid a d ep õ em as seg u in te s o b ­ 2.3.2. O utras diferenciações da crítica literária
servações:
Partindo do modelo básico da história do surgim ento acima esquematizado,
1 - Tensões entre a narrativa da moldura e a de diálogos:
processam -se m uitas vezes outras diferenciações de crítica literária.
Tensões estilísticas: a - A narrativa da m oldura foi com posta em prosa, com exce­
ção de 1,21, a seção de diálogos, em poesia, exceto o trecho de 32,14. b - Na nar­ 1 - Na narrativa da moldura conta-se em geral com um processo de cresci­
rativa da m oldura é usado o nom e de Deus, Javé, 23 vezes, e a designação de Deus m ento de duas ou até três fases. Em bora ainda não haja consenso, a tendência
Elohim, 11 vezes. Na seção de diálogos, porém , bem m ais extensa, "Javé" ocorre da pesquisa se encam inha para considerar as duas cenas no céu com o litera­
som ente 6 vezes: em 12,9b, com o citação de Is 41,20al3, além da introdução aos riam ente secundárias (L. Schw ienhorst-Schõnberger/G . Steins).
discursos de Deus (38,1; 40,1.6) e das respostas de Jó (40,3; 42,1). Além disso a seção
de diálogos traz um a vez "Adonai" (28,28), contra 45 vezes "El", 41 vezes "Eloah", 2 - D entro do bloco de diálogos, a terceira rodada de discursos (22-28)
31 vezes "Shadai" e 6 vezes "Elohim". apresenta algum as irregularidades, em com paração com as duas anteriores.
Tensões sócio-históricas: o Jó da narrativa da m oldura é descrito com o um xeque C om parado com todos os discursos anteriores, o discurso de Bildad (25,1-6)
patriarcal de nôm ades (1,3; 42,12); o Jó da seção de diálogos, por sua vez, como é m uito curto. A dem ais, Sofar não recebe m ais a palavra. Poderíam os p re su ­
um cidadão u rb an o de elevada posição social (29). m ir nesse fato um a intenção original de expressar algo, a saber, de que já no
nível form al se p reten d e m o strar que os am igos de Jó ficaram sem palavras
Tensões teológicas: o Jó da narrativa da m oldura aceita seu sofrim ento subm isso
no final da discussão com ele. Um desnudam ento desses corresponderia à re ­
a D eus ("Jó, o sofredor"), enquanto o Jó da seção de diálogos se revolta contra o
jeição dos seus discursos po r Elihu (32,1.3.7-19) e Javé (42,7-10). Porém , algu­
sofrim ento, se queixa e desafia Deus p ara que dê um a resposta justificadora ("Jó,
m as constatações apontam para o fato provável de que essa não era a inten­
o rebelde").
ção original do poeta de Jó. Pois no texto existente seguem três discursos de
2 - Para a tese de que os discursos de Elihu são literariam ente posteriores no blo­ Jó diretam ente um após o outro, duas vezes com a form ulação introdutória,
co dos diálogos, são aduzidos sobretu d o dois argum entos, ao lado das observa­ divergente da dos dem ais discursos, "e Jó continuou p ro n unciando seu p o e­
ções idiom áticas e estilísticas: a - Elihu não é m encionado na narrativa da m oldu­ m a e disse":
ra, ao contrário dos outros três am igos de Jó. b - Os discursos de Elihu interrom ­
pem o nexo entre o clam or de Jó a Deus (31,35) e a resposta de Deus (38,1). Se os
26,1: "então Jó respondeu e disse:"
discursos foram posteriorm ente acrescentados, há que p erg u n tar se eles visam
corrigir a m ensagem geral do livro no sentido da ortodoxia, ou se neles se a p re ­ 27,1: "e Jó continuou pronunciando seu poema e disse:"
senta um a teologia que — em analogia à posição dos três amigos — deve ser carac­ 28: cântico da sabedoria
terizada, no contexto do livro, com o insatisfatória. 29,1: "e Jó continuou pronunciando seu poema e disse:"
No entanto, há tam bém um a série de arg u m en to s que depõem a favor de que os
discursos de Elihu são p arte constitutiva originária da seção de diálogos, ou que Há igualm ente motivos de conteúdo que indicam o fato de que a 3a rodada
foram a c re sc en ta d o s pelo m esm o a u to r n u m a fase p o ste rio r do tra b a lh o (R. de discursos sofreu interferência. O que Jó afirma em 27,13-23 não com bina
Gordis, pp. 104-116). N esse caso Elihu estaria conduzindo, p o r um lado, com o com o que disse nas outras ocasiões, m as com a teologia dos amigos. Por um
crítico dos am igos e de Jó igualm ente, p ara a teologia dos discursos de Deus, lado, form alm ente o cântico da sabedoria (28) faz parte do discurso de Jó que
ressaltando so b retu d o o caráter de m istério de Deus e de seu agir, m as p o r ou­ com eça em 27,1. Por outro lado, razões de conteúdo e form ais endossam a vi­
tro lado estaria com plem entando essa teologia pela idéia da função pedagógica são de que o cântico deve ser um acréscim o posterior. Quem fez o acréscim o
do sofrim ento. D iferente dos discursos dos am igos, os de Elihu não são nem re ­
inseriu-o no discurso de Jó, que ele retom ou em 29,1. Ao m esm o tem po se
jeitados nem confirm ados em 42,7-40. In d ep en d entem ente de terem sido parte
direciona desse m odo o discurso conclusivo de Jó (29-31) para a frente, para
constitutiva original do livro ou adicionadas num segundo m om ento, as palavras
os discursos de Deus.
de Elihu assum em um a posição central p ara a com preensão geral do livro. Não
faz justiça à sua posição e função no livro de Jó o julgam ento que se pode en co n ­ No âm bito das rodadas de discursos, são m uitas vezes processadas ope­
tra r com freqüência, de que seriam um a repetição totalm ente desnecessária d a ­ rações de crítica literária que vão além dessas observações, dizendo respeito
quilo que os am igos já disseram . sobretudo aos discursos de Jó. Contudo, as tensões tam bém se explicam pela
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possibilidade de contar com citações irônicas: Jó cita ironicam ente, porém sem 4 - Há um a intensificação na seqüência das duas respostas de Jó. Na p ri­
a respectiva introdução do citado, as opiniões expressas anteriorm ente pelos m eira resp o sta (40,3-5) ele declara que não continuará a falar com o fez até
seus amigos, refutando-as desse modo, ou em seguida de form a explícita, como, aqui. Na segunda (42,1-6) dá um passo adiante, ao retratar-se do que afirm ou
por exemplo, em 12,7-25; 24; 27,7-13 (R. Gordis, pp. 81-85.98). até então.

3 - As num erosas análises de crítica literária dos discursos de Deus po­


dem ser resum idas, segundo J. van O orschot, em cinco modelos: 3. Contexto histórico

1 - Os discu rso s de Deus não fazem p arte do com plexo inicial do poem a de Jó.
3.1 - É possível que a cam ada básica da narrativa de Jó (1,1-21*; 42,12-17*)
O livro term inava originalm ente com os discursos de desafio de Jó (29-31) ou com
tenha surgido antes do exílio. Mais provável, porém , é um surgim ento dela logo
um a teofania sem palavras (cf. 38,1), à qual se seguia um a breve reação de Jó
(42,5s; F. Hesse).
após o exílio. O "herói" da narrativa é um não-israelita. Essa am plitude teoló­
gica, com sua tendência implícita de m onoteísm o universal, encaixa bem nas
2 - Os discursos de Deus e as duas respostas de Jó form am um a unidade e fazem correntes da teologia exílica e pós-exílica, tal com o se evidenciam , entre ou­
parte do volum e original do poem a de Jó (V. Kubina). tros, nos livros de Jonas, Rute e Daniel. Indício do tem po im ediatam ente p o s­
3 - Os discursos de Deus e as duas respostas de Jó, exceto 40,1 (ditografia [dupli­ terior ao exílio é tam bém a ampliação da narrativa por meio das cenas celestiais,
cação] e erro de cópia de 40,3), constituem um a unidade (38,1-39,30; 40,2+40,3-5 porque nela "Satanás" (acusador), à sem elhança de Zc 3,ls, designa um ente
e 40,6-41,28+42,1-6), sendo integrantes do texto original do poem a de Jó (F. Stier; celeste de intenções hostis ao ser hum ano, m as ainda não é utilizado, com o em
R. Gordis; O. Keel). IC r 21,1, com o nom e próprio.
4 - A com posição originalm ente autônom a encerrava com um discurso de Deus,
em 38,l*.2-39,2.5.19.26s. U m a revisão p o ste rio r A teria co rtad o o discu rso de 3.2 - O poem a de Jó problem atiza e reflete, num a form a literária e lin­
Deus, um a revisão posterior B teria colocado em seu lugar 40,6-14, outra revisão güística altam ente artística, a doutrina sapiencial tradicional da relação de ação
secundária C o teria substituído novam ente pelos discursos de Elihu, e som ente e bem -estar/m al-estar, motivo pelo qual não poderia ser contado entre as obras
a redação final teria confeccionado, das q u atro reform ulações que circulavam , m ais antigas da literatura sapiencial judaica. A confrontação crítica com um a
o atual texto m asorético (V. Maag). teologia sapiencial tradicional aponta para a proxim idade com o tem po de
Eclesiastes. A identificação entre sabedoria e tem or a Deus no versículo 28,28
5 - 0 discurso original de Deus consistia em 38,1-39,30; 40,15-41,3; 40,2.8-14. D e­
pois seguia um a resposta de Jó em 40,3-5; 42,2.3b.5s (K. Budde). (cf. 37,24), provavelm ente acrescentado em época bem tardia, tangencia um
tem a que se m anifesta na redação final do livro dos Provérbios e é tratado à
No fundo é som ente a introdução dos discursos em 40,1 que oferece um m argem po r Eclesiastes, e porm enorizadam ente pela Sirácida, m as que no
verdadeiro problem a de consistência. Pode-se contar ou com um a ditografia próprio livro de Jó ainda não assum e um papel central.
de 40,3, mais tarde corrigida, ou com a figura estilística da inclusio (38,1/40,3),
O utros argum entos citados para inserir o livro cronologicam ente depois do exí­
cuja finalidade é indicar o final do prim eiro discurso de Deus. De acordo com
lio são: a - a linguagem fortem ente perm eada de aram aísm os; b - Jó 12,9b co n s­
O. Keel, os dois discursos de Deus abordam duas acusações distintas: o prim eiro
titui com g rande probabilidade um a citação de Is 41,20a(3; c - Jó 14,7-22 rejeita a
discurso de Deus trata especialm ente da queixa feita em Jó 3, de que a terra
opinião, que possivelm ente acabara de surgir, de que há um a vida após a m orte
seria um caos, dem onstrando pela indicação do Deus C riador (38,4-38) e com para o ser hum ano, assum indo assim, nessa questão, a m esm a posição "proto-
auxílio da figura do "Senhor dos animais" (38,39-39,30) a ordem do m undo que saducéia" que Eclesiastes (3,16-22; 9,5-6.10).
vigora apesar da existência de forças caóticas. O segundo discurso de Deus res­
ponde à acusação, lançada especialm ente em 9,24, de que a terra estaria e n ­ 3.3 - A tentativa provavelm ente m ais diferenciada de localização histórica das
tregue ao poder de um malfeitor. A pontando para a luta sem pre renovada de diferentes cam adas do crescim ento do livro foi apresentada, no tem po m ais re ­
Javé contra os ímpios (40,9-14) e para as figuras representativas do mal, o hi­ cente, por Th. M ende. Ela distingue, com exceção de algum as glosas, seis cam a­
popótam o b e h e m o te o crocodilo leviatã (40,15^11,26), esse discurso evidencia das literárias, nas quais se estaria articulando, na caracterização distinta da figu­
a justiça de Javé. ra de Jó, a experiência de sofrim ento de Israel em cada nova situação histórica.
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0 term inus po st quem non [prazo último de redação possível] é o final do cursos de Deus, indaga-se de Jó (retoricam ente) se ele de fato algum a vez de­
séc. II a.C., visto que A ristéias pressupõe o livro com os discursos de Elihu sem penhou o papel do Deus Criador e se poderá assum i-lo (40,9-14). Pergun-
(JSHRZIII/2, pp. 296s). Sr 49,9 não constitui um a referência segura da existência ta-se a ele se esteve presente no ato originário da Criação (creatio prima) e se
do livro de Jó, porque é possível que o texto se refira apenas a Ez 14,14.20. Por conhece as leis de sua preservação (creatio continua). Corrigido pelo discurso
isso devem os situar o surgim ento do livro de Jó com m aior probabilidade na divino, Jó confessa que falou com ignorância sobre coisas elevadas dem ais e
época entre os sécs. V e III a.C. m aravilhosas dem ais para ele (42,3.6). Assim, atravessando o lam ento e encon-
trando-se com Javé (42,5), ele reencontra a posição de aceitação silente (40,4s),
já apresentada no prólogo com o exemplar.
4. Ênfases teológicas
4 - A pergunta pela atitude correta no sofrimento, porém , é desenvolvida
Dificilmente se conseguirá resum ir a teologia do livro de Jó num único no livro de Jó não apenas na figura do protagonista, m as tam bém no com por­
tem a. Revelam-se com o úteis para a apresentação das ênfases teológicas as tam ento de seus amigos. Eles são representantes de um a teologia sapiencial
duas definições estabelecidas com m aior freqüência, de que o livro trata um a que pode se basear em um consenso relativam ente amplo de tradições do AT.
vez da questão do com portam ento do ser hum ano no sofrim ento e, com o se­ Contudo, na situação concreta do Jó que sofre, eles fracassam , porque sua “dou­
gundo ponto, da questão da causa e da finalidade do sofrim ento. trina de Deus" continua sendo um a fala sobre Deus e não se torna um "falar" a
Deus que, na solidariedade de sofrer com Jó, se dirige a ele lam entando (acusan­
do), questionando e suplicando. Sua teologia torna-se, desse modo, um a expres­
4.1. O co m p o rta m en to correto n o sofrim ento
são da falta de envolvimento com a realidade hum ana, do desprezo cínico do
ser hum ano. Por isso obscurecem precisam ente o rosto daquele a quem tentam
1 - A narrativa da moldura considera com o concretização da atitude h u ­
defender com tanto em penho em sua teologia contra as acusações de Jó.
m ana correta no sofrim ento que Jó aceita o sofrim ento com subm issão a Deus.
Da boca de Jó não sai nenhum a palavra de crítica e queixa (1,22). Ele aceita o
sofrim en to com o vindo de D eus, sem p e rg u n ta r pelo p o rq u ê e p a ra quê 4.2. Causa e finalidade do sofrim ento
(1,21a). Na m ais p rofunda d esg raça ele executa o ritual do luto ditado pela
tradição (1,20) e profere um louvor a Javé (1,21b). A com preensão tradicional 1 - Na form a da narrativa da moldura, possivelm ente a mais antiga (sem as
judaica e cristã do livro de Jó atém -se sobretudo à narrativa da m oldura, na duas cenas no céu), não se aborda a questão do porquê e para quê do sofrim en­
qual Jó, enquanto sofredor piedoso, é apresentado diante do leitor com o per- to. E ntretanto, a m aneira com o se descrevem os quatro casos de desgraça, em
sona imitabilis. que são adotadas m etáforas do agir julgador de Deus (cf. 1,16: "fogo de Deus"),
deixa entender que o infortúnio que se abate sobre Jó provém de Deus. Em 1,21
2 - Na seção de diálogos essa solução é problem atizada. O bloco inicia com Jó confessa sua calam idade como causada por Javé e a aceita com o tal.
um grande lamento de Jó (3), que se potência até a acusação a Deus (9,14-35).
R ecorrendo à tradição sapiencial, Elifaz interpela Jó a p arar com seu lam ento 2 - Na form a da narrativa da m oldura am pliada pelas duas cenas do céu
(5,1-2; cf. Pr 29,11). Elifaz parece recom endar a Jó que aceite a solução do p ro ­ é refletida adiante a pergunta pela causa e finalidade do sofrimento. A resposta
blem a visada pela narrativa da m oldura. Jó se nega a assum ir a atitude do so­ desenvolvida de m odo narrativo condiz plenam ente com o que afirm a a trad i­
fredor subm isso a Deus (6,1-13; 7,11; 10,1). Como o epílogo caracteriza a "fala ção teológica sobre a questão (cf. Tomás de Aquino, Summ a theologica, vol. 1,2,3
sobre Deus" de Jó com o "reta" e condena o discurso dos am igos (42,7s), p are­ ad 1): Deus perm ite o sofrim ento. O sofrim ento não provém diretam ente de
ce que o autor de Jó está reconhecendo com o atitude hum anam ente legítim a Deus, nem é causado pela iniciativa dele. Quem tom a a iniciativa é Satanás, e
o lam ento no sofrimento. ele tam bém executa a desgraça, porém m ediante concessão e tam bém sob cla­
ras delim itações do sofrim ento po r parte de Deus. A perm issão do sofrim ento
3 - Nos discursos de Deus, Jó é criticado no aspecto de que em suas lam en­ p o r Deus, contudo, atende à finalidade de refutar um a acusação levantada con­
tações ele levantou a acusação de que o m undo seria um caos (3; 21,7-11) e esta­ tra Jó, a saber, de que a religiosidade de Jó não seria desinteressada. Assim,
ria entregue na m ão de um crim inoso (9,24). Com essa acusação ele ultrapassa po r m ais paradoxo que possa parecer, na narrativa da m oldura a calam idade
sua experiência hum ana pessoal e se arroga um direito quase divino. Nos dis­ causada p o r Satanás ao ser hum ano (Jó) é perm itida por Deus "por causa da
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dignidade do ser hum ano". Deus não duvida da natureza desinteressada da fé Todavia os discursos de Deus tam pouco se referem ao sofrim ento de Jó.
de Jó, pelo contrário: aposta nela. Em term os de conteúdo, são-lhe apresentados fenôm enos da natureza e do
m undo animal, os quais se subtraem à sua capacidade de com preensão com o
3 - Nos discursos dos amigos podem ser destiladas ao todo quatro respos­ tam bém ao seu poder de interferência. Os animais citados no segundo discurso
tas à perg u n ta pela causa e finalidade do sofrimento: de Deus vivem na selva, não fazem parte da área de dom ínio do ser hum ano.
Assim os discursos de Deus de certo m odo desviam o olhar de Jó dele p ró ­
a - Sofrim ento é decorrência de culpa humana. A finalidade do sofrim ento é vista prio para a natureza que, em bora acessível com o experiência, não lhe é ple­
com o a necessidade de que a culpa hum ana seja castigada e redim ida e o peca­ nam ente penetrável em suas causas (e está fora de seu poder de comando). Ela
do r seja exortado p ara o arrep en d im en to (36,10). Essa explicação é parte cons­
é apresentada com o Criação de Javé. Ela tem elem entos caóticos, porém não
titutiva da assim cham ada fé na dupla recom pensa, segundo a qual o fiel recebe o
é um caos total, m as um caos sem pre de novo controlado pelo Criador. A or­
prêm io por seu com portam ento, porém o ímpio tem de esperar o castigo (15,20-35;
dem reiteradam ente im posta ao caos não pode nem ser produzida nem suas
18,5-21; 27,7-10.13-23; 36,5.14). Essa visão foi d esdobrada na doutrina da retribui­
ção, na qual se inferia a causa a partir da conseqüência: o feliz agiu m oralm ente causas totalm ente perscrutadas pelo ser hum ano (Jó). Ela é ao m esm o tem po
bem , o infeliz procedeu m oralm ente errado. m aravilhosa, terrível e m ajestosa.
Assim, os discursos de Deus de certa form a livram (redimem) Jó, ainda
b - Sofrim ento faz parte da natureza humana, ele é decorrência de sua condição antes da sua "restauração" explícita, de um antropocentrism o fechado em si
de criatura (4,17-21; 5,7; 9,2; 15,14-16; 25,44). Por ser criada com m atéria corruptí­
próprio. Desse m odo correspondem , de m odo previsível-imprevisível, ao seu
vel ("casa de barro": 4,19), a vida do ser hum ano, independentem ente de qualquer
anseio p o r um a resposta do Todo-Poderoso. O m ovim ento aqui desenvolvido
tran sg ressão ética, está carreg ad a de sofrim ento.
pode ser descrito com o um a evolução do antropocentrism o pelo cosm ocen-
c - Sofrim ento é um a form a de educação e disciplina por Deus, pelas quais a p e s­ trism o até o teocentrism o. Se os am igos tentaram em vão q u eb rar a atitude de
soa é preservada da destruição (5,17-18). Essa explicação do sofrim ento recorre a Jó, os discursos de Deus conseguem , de form a indireta, libertar Jó de sua n e ­
experiências da educação. Assim com o um pai p or am or im põe rigorosa discipli­ gativa de consentim ento, ao trazer à sua presença o m istério da Criação como
na a seus filhos (Pr 3,11-12; 13,24; 23,12-14), assim o infortúnio tam bém é um sinal m etáfora de seu próprio sofrimento. Suas perguntas e queixas não são resp o n ­
do am or e da preocupação divinas pelo ser hum ano. Esse ponto de vista é defen­
didas por terceiros im passíveis, m as saciadas pelo Deus que m isteriosam ente
dido sobretudo nos discursos de Elihu: o ser hum ano é "repreendido pela dor, no
está presente na Criação e lhe dá respostas (42,5).
leito" (33,19), "para retirar sua existência da cova" (33,30).
d - O infortúnio é um a prova para o fiel. Essa opinião que já havia sido desenvol­
vida na m oldura narrativa tam bém é defendida pelos am igos de Jó (36,21). O so­ 5. Relevância
frim ento é o teste de aprovação do fiel. No sofrim ento m ostra-se se sua fé e sua
justiça são autênticas. 1 - Pelo livro de Jó se questiona toda a teologia que não é m ais capaz de
adm itir a dor, as questões abertas, e a queixa e acusação dirigidas a Deus, por
Visto que no epílogo Javé condena a "fala sobre Deus" dos três am igos sentir am eaçada, po r meio delas, sua doutrina sobre Deus. O livro de Jó cons­
(42,7s), o autor de Jó parece rejeitar as explicações do sofrim ento fornecidas titui um pleito em favor do ser hum ano que sofre, dirigido contra um a teolo­
pelos amigos. Assim, para descobrir a teologia do poeta de Jó, som os rem eti­ gia excessivam ente afirmativa. Sob esse aspecto é um a advertência especial
dos aos discursos de Deus. para que a teologia cristã considere que a redenção ainda não chegou à con­
clusão. Para os cristãos a pergunta de Jó continua tão atual quanto antigam ente
4 - É significativo que os discursos de Deus (38,2^10,2; 40,6-41,26) não abor­ (diferente pensa F. Hesse, ZBK 20).
dam de m aneira algum a a teologia dos três amigos. Em especial passa-se si­
lenciosam ente por cima da desconfiança dos amigos, inicialmente só sugerida, 2 - Na crítica à atitude dos três amigos, o livro contém um a instrução implí­
m as depois dita às claras, de que a pecam inosidade de Jó seria a causa do seu cita para serm os solidários com os que sofrem. Não se trata de com preender
sofrim ento. N esse fato deve ser vista um a rejeição m uito im pressionante, em o sofrim ento, e sim de ser aprovado nele.
term os estilísticos, da teologia dos amigos. Suas opiniões não são considera­
das dignas de com entários nos discursos de Javé. Em 42,7-10, enfim, a teolo­ 3 - No entanto, no livro tam bém se articula a esperança de que Javé é um
gia dos am igos é expressam ente condenada. Deus que não deixa o sofredor para sem pre na desgraça. A restauração de Jó,
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m uitas vezes caricaturada com o "happy end", constitui um a expressão da es­ idem, "Von seinem Thronsitz schaut er nieder auf alle B ew ohner der Erde" (Ps 33,14).
p erança de que Javé em última instância se revelará com o um Deus que quer R edaktionsgeschichte und K om positionskritik der P salm engruppe 25-34, in: FS O.
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Theologie der Psalmen. FS H. Groß (SBB 13), Stuttgart, 2a ed. 1987; W. L. Holladay, The ren tes g ên ero s (form as principais: lam entação, súplica, louvor, gratidão), o ri­
Psalms through Three Thousand Years. Prayerbook o f a Cloud ofW im esses, M inneapolis g en s e épocas. Esses 150 salm os não perfazem os únicos salm os da Bíblia. Tam­
1993; F. L. Hossfeld/E. Zenger, "Selig, w er auf die A rm en achtet" (Ps 41,2). B eobach­ b ém em o u tro s livros ocorrem salm os, g eralm ente num a localização e stru tu ­
tu n g e n zur G ottesvolk-Theologie des e rsten D avidpsalters: JBTh 7, 1992, pp. 21-50; ralm ente d estacad a (p. ex„ o cântico de vitória no m ar dos Juncos: Ex 15,1-18;
idem , "W er d a rf hinaufziehen zum B erg JH W H s?" Zur R edaktionsgeschichte und o cântico de M oisés: D t 32; o cântico de D eborá: Jz 5; o "m agnificat" de Haná:
Theologie d e r P salm en g ru p p e 15-24, in: FS N. Lohfink, F reib u rg 1993, pp. 166-182; IS m 2,1-11; o cântico de despedida de David: 2Sm 23,1-7; o hino de gratidão dos

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