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HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

Prof. Me. Isaías Lobão

Sumário
História da Igreja ............................................................................................. 5

Início da História do Cristianismo Antigo .......................................................................... 5

Os Pais Apostólicos ............................................................................................................. 6

Clemente de Roma (c. 30-100): ......................................................................................................... 7

Inácio: ................................................................................................................................................ 7

Policarpo (c. 70-155): ......................................................................................................................... 7

Papias (c. 60-c.130): .......................................................................................................................... 7

Epístola de Barnabé (c. 130): ............................................................................................................. 7

O Pastor, de Hermas (c. 150):............................................................................................................ 8

II Epístola de Clemente aos coríntios (c. 150):................................................................................... 8

Didaquê ou O Ensino dos Doze Apóstolos (2° séc.): ......................................................................... 8

Epístola a Diogneto (c. 200): .............................................................................................................. 8

Desafios Enfrentados .......................................................................................................... 8

Desafios internos: .............................................................................................................................. 8

Desafios externos: ........................................................................................................................... 10

A Defesa da Fé ................................................................................................................... 11

Conclusão ........................................................................................................................... 12

A IGREJA IMPERIAL (313-590) .......................................................................................... 13

1. A Grande Transição ..................................................................................................................... 13

2. A Controvérsia Ariana (4° século) ................................................................................................ 13

3. As Controvérsias Cristológicas (5° século) .................................................................................. 14

4. Invasões Germânicas e Missões ................................................................................................. 15

5. Quatro Grandes Vultos ................................................................................................................ 16

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6. A Vida Cristã ................................................................................................................................ 16

7. Organização Eclesiástica ............................................................................................................. 17

Implicações Práticas ......................................................................................................... 18

A Formação do Cânon Bíblico .......................................................................................... 18

O Fim Do Império Romano Ocidental e o Concílio de Cons-Tantinopla Ii ................... 19

O Ataque Sincretista: O Movimento Gnóstico............................................ 21

Os Ritos Gnósticos ............................................................................................................ 23

A Resposta da Igreja Cristã .............................................................................................. 24

O avanço do Islã ................................................................................................................. 26

Os Estados Pontifícios ...................................................................................................... 26

O Concílio de Nicéia II ....................................................................................................... 27

O Sacro Império Romano .................................................................................................. 27

O início do cisma da cristandade ..................................................................................... 28

A Idade das Trevas e o domínio das meretrizes ............................................................. 28

A concretização do cisma da cristandade ...................................................................... 30

O islamismo e a invasão árabe ......................................................................................... 30

São Gregório VII (Hildebrando, o reformador)................................................................. 32

A I Cruzada ......................................................................................................................... 32

A II Cruzada ........................................................................................................................ 33

Pedro Lombardo e os Sete Sacramentos e Pedro Valdo e os Valdenses .................... 33

A III Cruzada ....................................................................................................................... 33

Inocêncio III (a IV Cruzada, a “Cruzada das Crianças”, a V Cruzada e a Cruzada


contra os Albigenses) .................................................................................................................... 34

As VII e VIII Cruzadas ....................................................................................................................... 34

Bonifácio VIII e Clemente V – o Papado do Terror .......................................................... 35

Aula Inquisição .............................................................................................. 36

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Como eram feitos os processos da Inquisição ............................................................... 36

O Manual dos Inquisidores ............................................................................................... 37

Caça as Bruxas .................................................................................................................. 38

O Papel dos Governantes no Processo de Inquisição ................................................... 38

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História da Igreja
O termo "história" vem do grego historía, que significa pesquisa, informação ou narração e já
nos tempos antigos era usado para indicar a resenha ou narração dos fatos humanos. Hoje, o termo
tem dois aspectos básicos: (1) os próprios fatos, isoladamente ou em conjunto e (2) o conhecimento
dos fatos, ou a ciência que disciplina esse conhecimento. Para este segundo aspecto, usa-se com
frequência o termo "historiografia."

As fontes mais comuns da história da igreja são documentais, que podem ser de dois tipos:
primárias e secundárias. Fontes primárias são documentos produzidos pelos próprios personagens e
movimentos da história. Por exemplo, a Didaquê, o Credo Niceno e as Noventa e Cinco Teses de
Lutero. Fontes secundárias são análises posteriores dos estudiosos, como os livros de história da
igreja mencionados na bibliografia que está no final desta aula. As fontes primárias não precisam ser
antigas; às vezes são bastante recentes, como a declaração conjunta de católicos e luteranos sobre
a justificação pela fé, publicada em 1999.

O conhecimento da história auxilia os cristãos e as igrejas a terem maior consciência de sua


identidade e da sua missão no mundo. Seja como fonte de inspiração ou de advertência, o conheci-
mento da caminhada da igreja na terra permite que os cristãos definam melhor as suas prioridades e
estejam alerta contra erros e tentações já enfrentados no passado.

Início da História do Cristianismo Antigo


A década de 60 foi especialmente importante para a igreja primitiva. Nessa década, morreram
os últimos dos apóstolos originais de Cristo, à exceção de João. Segundo a tradição praticamente
unânime da igreja antiga foi nessa época que morreram martirizados os dois apóstolos mais destaca-
dos, Pedro e Paulo. Essas mortes teriam ocorrido no contexto da perseguição promovida por Nero,
na cidade de Roma.

Outro evento de grande magnitude foi o declínio do cristianismo judaico em virtude do cerco
e eventual destruição de Jerusalém. Quando o cerco começou, no ano 66, os cristãos hebreus fugiram
da cidade e foram para Pela, no outro lado do rio Jordão. Ali, com o passar dos anos, esses judeus-
cristãos, separados do restante da igreja, desenvolveram características peculiares, vindo mais tarde
a desaparecer nas brumas do tempo. Conhecidos como "ebionitas", eles articularam uma posição
teológica acerca de Cristo conhecida como adocionismo. Jesus teria sido um mero homem que foi
adotado por Deus como filho por ocasião do seu batismo. Essa posição seria mais tarde defendida
por outras pessoas no cristianismo antigo.

A destruição de Jerusalém contribuiu decisivamente para a emancipação definitiva da igreja


em relação ao judaísmo. Nas primeiras décadas, muitas pessoas ainda podiam pensar que os cristãos

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eram um grupo ou seita dentro do judaísmo. Essa identificação às vezes ajudava e às vezes prejudi-
cava os cristãos. Após a revolta dos judeus e a consequente punição dos romanos, ficou cada vez
mais claro que o judaísmo e o cristianismo eram religiões bastante distintas.

No final do primeiro século, o cristianismo havia se difundido amplamente em muitas regiões


do Oriente Médio e da Europa e estava se preparando para a sua grande conquista poucos séculos
depois: o Império Romano. As igrejas ainda se reuniam em residências particulares e salões públicos;
só mais tarde seriam construídos os primeiros templos. Havia dois tipos de líderes: aqueles que pos-
suíam certos dons, como os profetas e mestres, e líderes mais formais, eleitos pelas comunidades,
como os presbíteros ou bispos (Atos 20.17,28; Tito 1.5,7) e os diáconos.

Havia dois tipos de cultos aos domingos: um culto matutino centrado na pregação da Palavra
e um culto vespertino com ênfase sacramental. Em conexão com o mesmo, os cristãos realizavam
uma ceia comunitária denominada "agape" (=festa do amor), na qual era celebrada a Ceia do Senhor.
No final do século o agape caiu em desuso e a Santa Ceia passou a ser celebrada no culto matutino.
Os primeiros cristãos causaram grande impacto na sociedade greco-romana em virtude de seu amor
mútuo, coragem e elevados padrões éticos. Eles separavam-se firmemente das práticas pagãs (ido-
latria, imoralidade), mas ao mesmo tempo insistiam em ter uma participação construtiva na sociedade,
esforçando-se por cumprir os seus deveres cívicos e ser bons cidadãos.

Os Pais Apostólicos
O final do primeiro século e o início do segundo marcam também o início da era dos pais da
igreja. Trata-se dos antigos autores cristãos que com seus escritos instruíram as igrejas, articularam
a doutrina cristã e combateram desvios teológicos do seu tempo. Eles podem ser entendidos como
os campeões ortodoxos da igreja e os expositores da sua fé. O estudo dos pais da igreja geralmente
é designado por dois termos correlatos: patrística e patrologia. A patrística refere-se ao estudo do
pensamento dos pais, da sua teologia, e a patrologia é o estudo histórico dos próprios personagens
e da sua obra.

O conjunto dos primeiros escritos cristãos posteriores ao Novo Testamento é conhecido pelo
nome de “pais apostólicos”. Eles são designados de “apostólicos” porque surgiram pouco depois dos
apóstolos e revelam uma certa conexão com eles. É importante observar que a expressão “pais apos-
tólicos” não designa somente indivíduos, mas também documentos anônimos. O período aproximado
em que foram produzidos vai de 95 a 150 DC.

Os pais apostólicos não contêm nenhuma teologia elaborada. São antes declarações simples
e piedosas das verdades fundamentais da fé, ditadas principalmente por um interesse pastoral.

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A maior parte dos pais apostólicos é constituída de literatura epistolar, ou seja, cartas. Dois
deles correspondem a outros gêneros, um à literatura apocalíptica e outro à literatura catequética. A
relação completa é a seguinte:

Clemente de Roma (c. 30-100):

Um dos bispos da igreja de Roma, escreveu em nome da sua igreja à igreja co-irmã de Corinto,
exortando os crentes a serem submissos aos seus presbíteros. Essa epístola, conhecida como I Cle-
mente, foi escrita por volta do ano 95.

Inácio:

O bispo de Antioquia da Síria, foi condenado à morte por volta do ano 110 e levado a Roma
para ser executado. Durante a viagem, escreveu cartas às igrejas de Eféso, Magnésia, Trales, Roma,
Filadélfia, Esmirna e a seu colega Policarpo. Preocupações dominantes: o martírio iminente do autor,
a unidade da igreja e os movimentos heréticos e cismáticos.

Policarpo (c. 70-155):

Bispo de Esmirna, escreveu uma carta aos filipenses por volta de 110, contendo exortações
práticas. Policarpo foi martirizado no reinado do imperador Antonino Pio.

Papias (c. 60-c.130):

Bispo de Hierápolis, na Frígia, escreveu “Interpretações dos Ditos do Senhor”, sobre a vida e
as palavras de Cristo. Essa obra só é conhecida através de trechos preservados por Irineu de Lião e
Eusébio de Cesaréia.

Epístola de Barnabé (c. 130):

Escrita por um cristão anônimo de Alexandria, afirma a suficiência de Cristo em relação à lei
de Moisés; utiliza amplamente tipologia e alegoria.

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O Pastor, de Hermas (c. 150):

Baseado no Apocalipse, tem um objetivo moral e prático, dando ênfase ao arrependimento e


a uma vida de santidade.

II Epístola de Clemente aos coríntios (c. 150):

Não foi escrita por Clemente, nem é uma carta, e sim um sermão ou homilia do segundo sé-
culo.

Didaquê ou O Ensino dos Doze Apóstolos (2° séc.):

É um manual de instrução para a igreja, abordando ensinos éticos, normas litúrgicas, os ofici-
ais da igreja e questões disciplinares. É muito útil para o estudo da igreja sub-apostólica.

Epístola a Diogneto (c. 200):

Foi escrita por um autor anônimo a um destinatário desconhecido (tutor de Marco Aurélio?).
Tem caráter apologético (=defesa racional do cristianismo) e às vezes é incluída entre os pais apolo-
gistas (ver adiante).

Os alunos que desejarem ler na íntegra, em português, esses importantes escritos, poderão
encontrá-los na Coleção Patrística (São Paulo: Paulus Editora), vols. 1 e 2.

Desafios Enfrentados
Como já foi apontado, a igreja desde cedo se defrontou com formidáveis desafios, tanto dentro
de suas fileiras quanto fora das mesmas.

Desafios internos:

Os principais desafios internos do segundo e terceiro séculos foram algumas interpretações


da fé cristã consideradas heterodoxas pelo grupo majoritário. As principais foram as seguintes:

1. Docetismo:

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Era o entendimento de que Jesus Cristo não havia de fato assumido uma natureza
humana, corpórea. Antes, ele tinha apenas uma aparência de humanidade (daí, do-
cetismo, do grego dokéo = parecer), sendo uma espécie de fantasma ou aparição.
Essa posição já é condenada nas epístolas joaninas (ver 1 João 4.2; 2 João 7). As
cartas de Inácio de Antioquia contêm muitas condenações do docetismo.

2. Gnosticismo:
Foi uma filosofia religiosa de natureza altamente especulativa que surgiu no primeiro
século, mas tornou-se uma grande ameaça para o cristianismo majoritário a partir de
meados do século II (c. 130-160). Partindo de uma concepção dualista acerca do
mundo (espírito x matéria), propôs uma reinterpretação radical da fé cristã, negando
doutrinas como a criação, a encarnação e a ressurreição. A salvação vinha através do
conhecimento (gnosis) acerca da verdadeira origem e destino da alma. Esse conhe-
cimento mais profundo era transmitido somente aos iniciados. Havia várias modalida-
des de gnosticismo (sírio, egípcio, judaizante).

3. Marcionismo:
Márcion foi um cristão do Ponto, na Ásia Menor, que chegou a Roma por volta do ano
144. Partilhando da cosmovisão gnóstica, ele propôs uma descontinuidade radical
entre a velha e a nova dispensação (o cristianismo não tinha nada em comum com o
judaísmo, sendo uma religião inteiramente nova). Assim sendo, ele rejeitou por com-
pleto o Velho Testamento e o seu Deus, Jeová, tido como uma divindade inferior, o
criador da matéria. Em contraste com Jeová (um ser justiceiro e vingativo), o Deus
verdadeiro, o Pai de Jesus Cristo, é um Deus plenamente amoroso e perdoador, que
não condena ninguém. Portanto, no fim todos irão se salvar. Márcion foi o primeiro
indivíduo na história da igreja a elaborar uma lista de escritos cristãos normativos. O
seu cânon continha apenas o evangelho de Lucas e as cartas de Paulo às igrejas (sem
as pastorais), tendo excluídas as suas referências ao Velho Testamento. O cânon mar-
cionita forçou a igreja a elaborar a sua própria lista de livro autorizados, ou seja, o
Novo Testamento.

4. Montanismo:
Esse antigo movimento de natureza entusiástica ou carismática, autodenominado
“nova profecia”, surgiu na Frígia, Ásia Menor, na década de 170. Foi iniciado por um
cristão chamado Montano, que era acompanhado de duas profetizas, Priscila e Maxi-
mila. Montano considerava-se o instrumento especial do Paracleto (o Espírito Santo) e
anunciou o iminente fim do mundo e a descida da Nova Jerusalém em sua região, a

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Frígia. O montanismo foi um protesto contra o crescente mundanismo da igreja e, de-


vido a seus rigorosos padrões morais, atraiu a simpatia do grande intelectual cristão
Tertuliano, sobre o qual falaremos adiante.

5. Monarquianismo:
No segundo século houve intensa reflexão sobre a teologia do Logos (Cristo como o
Verbo) e suas implicações. Vários pensadores cristãos, na ânsia de defender a con-
vicção básica do monoteísmo ou a unidade do Ser Divino (daí, “monarquia”, isto é,
governo de um só), acabaram por negar a divindade ou a personalidade distinta do
Filho e do Espírito Santo. Houve duas manifestações básicas:

a) Monarquianismo Dinâmico: Afirmava que Jesus era um homem comum que foi
adotado por Deus na ocasião do seu batismo, sendo revestido do poder divino
(daí, “dinâmico”, de dynamis = poder). Essa posição, abraçada pelos ebionitas e
por Paulo de Samósata, também é chamada de adocionismo.

b) Monarquianismo Modalista: Afirmava que Pai, Filho e Espírito Santo são três mo-
dos ou manifestações sucessivas (não simultâneas) do único Deus. Também é
conhecido como sabelianismo, por causa de um de seus defensores (Sabélio).
Uma variante dessa posição é o patripassianismo, a noção de que o próprio Pai
sofreu na cruz (defendida por Práxeas e Noeto).

Desafios externos:

No segundo e terceiro séculos, além dos questionamentos internos, o jovem movimento cristão
enfrentou formidáveis ameaças externas.

Em primeiro lugar, houve o recrudescimento das perseguições por parte do Império Romano.
A bem da verdade é preciso observar que, com algumas exceções, essas perseguições não foram
contínuas nem generalizadas. As causas iam desde as habituais alegações de incesto (por causa da
ênfase no amor fraternal), canibalismo (por causa da Ceia do Senhor) e ateísmo (pela negação dos
deuses), até acusações mais especificamente políticas de subversão, falta de patriotismo e desleal-
dade ao império, principalmente em virtude da recusa dos cristãos em participar do culto imperial.

Duas perseguições intensas, mas localizadas, ocorreram nos reinados de Marco Aurélio e
Sétimo Severo. A primeira atingiu as igrejas de Lião e Viena, na Gália, no ano 177; a segunda abateu-
se sobre o Egito e Cartago nos anos 202-206. Alguns mártires famosos foram Justino, Potino, Blandina,
Perpétua e Felicidade. Muito mais grave foi a perseguição geral movida pelo imperador Décio em
250-251. Decidido a impor em todas as regiões o culto imperial, Décio exigiu que todos tivessem um

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certificado de sacrifício (libellus). Muitos cristãos foram martirizados e outros conseguiram sobreviver
aos maus tratos (os confessores). Muitos outros negaram a fé: alguns simplesmente ofereceram o
sacrifício e ficaram conhecidos como sacrificati; outros, os libellatici, compraram certificados falsos.
Passada a perseguição, muitos desses relapsos procuraram reingressar na igreja, gerando um sério
problema pastoral para os bispos.

Em dois longos períodos de paz no terceiro século (206-250 e 260-303), a igreja experimentou
um crescimento sem precedentes. Finalmente, no início do quarto século, ocorreu a última e a maior
de todas as perseguições, sob os imperadores Diocleciano e Galério (303-311). Foram publicados
editos ordenando em toda parte a destruição das igrejas e de cópias das Escrituras. Os cristãos que
entregaram essas cópias ficaram conhecidos como traditores (= traidores). Dessa época data o cisma
donatista, no norte da África. Os cismáticos, dentre os quais um certo Donato, alegaram que uma
determinada consagração episcopal foi inválida porque um dos bispos consagrantes teria sido um
traditor. O cisma donatista durou mais de um século, criando uma igreja paralela à igreja católica.

Outro desafio externo enfrentado pela igreja na era anterior a Constantino foram os ataques
de ilustres intelectuais pagãos como Luciano de Samosata, Galeno e Celso na segunda metade do
século II, e Porfírio, no terceiro século. Numa época em que o cristianismo crescia a olhos vistos e
incomodava seriamente o paganismo, esses homens cultos escreveram obras influentes em que os
cristãos eram acusados de serem ignorantes, supersticiosos e inimigos da cultura e do conhecimento.

A Defesa da Fé
Rapidamente surgiram no seio da igreja respostas de pensadores cristãos a esses desafios.
Os defensores intelectuais do cristianismo no segundo e terceiro séculos ficaram conhecidos como
os apologistas e os polemistas.

Os apologistas (de apologia = discurso de defesa) surgiram um pouco depois dos pais apos-
tólicos, já estudados nesta aula. Quase todos viveram na segunda metade do segundo século. Suas
características gerais são as seguintes: eram convertidos do paganismo ou do judaísmo, enfrentaram
ataques externos, usaram principalmente o Antigo Testamento, defenderam ou explicaram o cristia-
nismo e utilizaram formas literárias apologéticas ou dialógicas. Dirigiram os seus escritos às autorida-
des, bem como a judeus e a intelectuais pagãos, defendendo os cristãos das muitas acusações que
lhes eram feitas.

Os apologistas foram os seguintes: Quadrato, Aristides, Justino Mártir, Taciano, Atenágoras


de Atenas, Teófilo de Antioquia, Melito de Sardes e Hegésipo. O mais destacado deles foi Justino
Mártir (100-165), um filósofo cristão que viveu em Roma e escreveu duas apologias e o Diálogo com
Trifão, o Judeu. Taciano, seu discípulo, escreveu uma harmonia dos evangelhos, o Diatessaron, e um

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Discurso aos Gregos. Atenágoras escreveu a belíssima Súplica pelos Cristãos e Teófilo produziu a
longa apologia A Autólico. Algumas dessas obras podem ser encontradas na já mencionada Coleção
Patrística, vols. 2 e 3.

Os polemistas: outro grupo de defensores da fé foram os chamados polemistas, que viveram


no final do segundo século e primeira metade do terceiro. Em geral, tiveram maior estatura intelectual
que os apologistas e foram mais agressivos do que eles em seus escritos (daí “polemistas”, do grego
pólemos = guerra). Alguns deles dirigiram-se contra intelectuais pagãos; mais comumente, porém,
voltaram-se contra falsos ensinos dentro da igreja. Esses pais da igreja viveram em três regiões dis-
tintas do Império Romano: Gália, Cartago (norte da África) e Egito. Os mais importantes foram Irineu
de Lião, Tertualiano, Cipriano, Clemente de Alexandria e Orígenes. Outros menos conhecidos foram
Hipólito, Júlio Africano e Gregório Taumaturgo.

Irineu (c.135-c.200) foi bispo de Lião, no sul da Gália (atual França), e escreveu em grego uma
monumental obra contra os gnósticos, intitulada Contra as Heresias. Quase na mesma época viveu
em Cartago, uma colônia romana no norte da África, Tertuliano (c.160-c.220), o primeiro escritor cris-
tão a utilizar o latim e por isso chamado de “pai da teologia latina”. Entre suas obras polêmicas, des-
tacam-se Prescrição aos Hereges, Contra Márcion e Contra Práxeas, na qual antecipou a doutrina da
trindade. No final da sua vida, aderiu ao movimento montanista.

Outro importante escritor de Cartago foi o bispo Cipriano (c.200-258), que ressaltou a impor-
tância do episcopado e morreu como mártir. Em Alexandria, no Egito, foi fundada uma famosa escola
catequética que teve como seus grandes líderes Clemente de Alexandria (c.150-c.215) e o extraordi-
nário Orígenes (c.185-c.254), o mais influente pensador cristão do seu tempo e autor da obra Dos
Primeiros Princípios, a primeira teologia sistemática, e de uma obra polêmica, Contra Celso, além de
muitíssimos outros livros.

Conclusão
Esse foi um período heroico da igreja antiga, em que os cristãos procuravam viver a vida cristã
e testemunhar acerca da sua fé em meio a circunstâncias frequentemente adversas. Sua coragem e
coerência no meio das perseguições e perplexidades do seu tempo nos inspiram e motivam a “viver
de modo digno do evangelho” e a “lutar juntos pela fé evangélica” (Filipenses 1.27) nos dias atuais.

O esforço tanto dos grandes intelectuais cristãos quanto dos crentes comuns dos primeiros
séculos, no sentido de comunicar as suas convicções aos seus contemporâneos e dar uma contribui-
ção construtiva à sua sociedade, nos desperta para as grandes oportunidades e responsabilidades
que temos em nossa geração.

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A IGREJA IMPERIAL (313-590)

1. A Grande Transição

No ano 313, ocorreu um evento extraordinário que mudou drasticamente os rumos da história
da igreja. Esse evento foi o decidido apoio do imperador Constantino ao cristianismo. Constantino
havia começado a governar em 308, mas só em 312 ele conseguiu vencer o seu rival Maxêncio, na
batalha da Ponte Mílvia, perto de Roma, tornando-se o único imperador da parte ocidental do império.
Pouco antes da batalha ele tivera o famoso sonho em que viu as duas primeiras letras do nome de
Cristo em grego (RC = chi-rho) e as palavras “Com este sinal vencerás”. No ano seguinte, ele e Licínio,
o dirigente da seção oriental do império, se encontraram e promulgaram um decreto que ficou conhe-
cido como Edito de Milão. Esse famoso decreto legalizou o cristianismo, fez cessar as perseguições
e deu ampla liberdade religiosa a todas as pessoas.

Constantino passou a fazer generosas concessões à igreja e seus líderes, em termos de doa-
ção de propriedades, isenção de tributos e outros privilégios. Um importante cronista dessa época foi
Eusébio de Cesaréia, que escreveu História Eclesiástica (300-325), a primeira história da igreja. Em
troca dos benefícios concedidos à igreja, Constantino sentiu-se no direito de intervir em questões
eclesiásticas, como no caso da controvérsia ariana, que veremos a seguir. Começou assim o com-
plexo e por vezes tumultuado relacionamento entre a igreja e o estado que dura, de uma forma ou de
outra, até os nossos dias.

Na segunda metade do século IV, o imperador Juliano (361-63), cognominado “o apóstata”


por ter abandonado a fé cristã, fez a última tentativa de restaurar o paganismo. Duas décadas depois,
o imperador Teodósio I (379-95), um espanhol, tornou o cristianismo “católico” a religião oficial do
Império Romano (ano 380). No século seguinte, o Império Romano ocidental (latino) entrou em declínio
acentuado. No ano 476, o general germânico Odoacro destronou Rômulo Augústulo, o último impera-
dor do ocidente. No oriente grego, o império continuou a existir por muitos séculos, tendo sua capital
em Constantinopla ou Bizâncio e sendo conhecido como Império Bizantino. Um notável líder desse
império foi Justiniano (527-565).

2. A Controvérsia Ariana (4° século)

Por volta do ano 318, Ário, um presbítero de Alexandria (Egito), começou a ensinar que Cristo,
o Filho de Deus, foi criado pelo Pai antes da existência do mundo, sendo portanto inferior ao Pai, mas
superior aos seres humanos. Esse ensino gerou uma enorme controvérsia em toda a igreja. Constan-
tino, temendo pela estabilidade política do império, convocou um concílio de bispos para resolver
essa e outras questões. O Concílio de Nicéia, na Ásia Menor, reuniu-se em 325, sendo presidido pelo

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próprio imperador. Depois de muitas discussões, o concílio aprovou um credo, o Credo de Nicéia,
que afirmou a divindade de Jesus Cristo e condenou as posições arianas. Uma palavra importante e
controvertida dessa declaração foi homoousios, isto é, “consubstancial”. Cristo partilha da mesma
substância que o Pai. Estava assim definida a doutrina da trindade, ou seja: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo são três “pessoas” que compartilham da mesma “substância” ou essência divina, sendo, por-
tanto, um só Deus.

Mais tarde, sempre por razões políticas, Constantino e seus filhos apoiaram a posição conde-
nada, o arianismo, gerando grandes problemas para a igreja, até que, como vimos acima, o imperador
Teodósio oficializou o cristianismo trinitário, niceno. No ano seguinte, Teodósio convocou o Concílio
de Constantinopla (381), que reafirmou plenamente as decisões do Concílio de Nicéia. Esse concílio
aprovou um novo credo que expandiu as declarações de Nicéia e afirmou explicitamente a divindade
do Espírito Santo (Credo Niceno-Contantinopolitano). Na grande luta em defesa das decisões de Ni-
céia, destacaram-se quatro importantes pais da igreja oriental: Atanásio (328-373), bispo de Alexan-
dria, que escreveu as obras Sobre a Encarnação do Verbo e Discursos Contra os Arianos (e foi exilado
cinco vezes por causa de suas posições), e três bispos e teólogos da Ásia Menor, conhecidos como
os três capadócios: Basílio de Cesaréia (†379), Gregório de Nazianzo (†c.389) e Gregório de Nissa
(†c.394).

3. As Controvérsias Cristológicas (5° século)

No século V foi discutido um novo problema teológico: como se relacionam as duas naturezas
de Cristo, a divina e a humana. Havia duas posições divergentes. Uma delas era representada pela
Escola de Alexandria, surgida no terceiro século. Os alexandrinos eram adeptos do método alegórico
de interpretação das Escrituras, procurando ver no texto significados ocultos, místicos. No que diz
respeito a Cristo, entendiam que o Verbo uniu-se à carne, sendo uma pessoa plenamente integrada.
Acentuavam, pois, a divindade de Cristo, em detrimento da sua humanidade. Desse raciocínio, resul-
taram duas posições que foram condenadas pela igreja. Apolinário de Laodicéia afirmava que Jesus
era uma combinação de alma divina (ou Logos = Verbo) e corpo humano. Eutiques, um monge de
Constantinopla, afirmou que as duas naturezas fundiram-se em uma só, a divina (daí o nome dessa
posição: monofisismo = uma só natureza).

Do outro lado estava a Escola de Antioquia, surgida no século IV. Essa escola dava mais
ênfase ao sentido literal da Escritura, evitando a interpretação alegórica. Afirmava que Cristo tinha
uma plena natureza divina e uma plena natureza humana. O problema estava na tendência de dividir
em duas a pessoa de Cristo. A posição clássica foi defendida por Nestório, patriarca de Constantino-
pla (428-431). Ele afirmava com tanta ênfase a distinção das duas naturezas que dava a impressão
de ensinar que havia duas pessoas em Cristo (divina e humana). Por isso, enquanto os alexandrinos

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afirmavam que Maria era theotokos = “portadora de Deus”, Nestório dizia que ela era somente chris-
totokos = “portadora ou mãe de Cristo”.

Nestório encontrou um adversário extremamente agressivo na pessoa de Cirilo, patriarca de


Alexandria (412-444). Para tentar resolver a disputa, foi convocado o Concílio de Éfeso (431). As po-
sições eram tão antagônicas que os dois grupos tiveram de reunir-se separadamente e excomunga-
ram um ao outro. Finalmente, o imperador Teodósio II interveio, tomou o partido de Cirilo e baniu
Nestório. Vinte anos depois, o imperador Marciano convocou o importante Concílio de Calcedônia
(451) para resolver a questão de uma vez por todas. A célebre Definição de Calcedônia afirmou a
plena divindade e a plena humanidade de Cristo, duas naturezas em uma só pessoa divino-humana.
Contribuiu para essa decisão um documento enviado pelo bispo de Roma, Leão I (440-461), conhe-
cido como o Tomo de Leão. Adotando uma posição intermediária entre Alexandria e Antioquia, o
Concílio de Calcedônia condenou formalmente as três posições mencionadas acima: apolinarianismo,
eutiquianismo e nestorianismo.

4. Invasões Germânicas e Missões

No século IV, vários povos que habitavam a Europa oriental começaram a invadir o Império
Romano ocidental. Em 378, os visigodos derrotaram e mataram o imperador Valêncio. Poucas déca-
das depois, sob o comando de Alarico, saquearam a própria cidade de Roma (410). Também invadi-
ram a Gália e o sul da Espanha. Os famigerados vândalos invadiram a Gália, a Espanha e o norte da
África, e saquearam Roma em 455. Outros invasores foram os hunos, vindos das estepes da Ásia
central e comandados pelo célebre Átila, “o flagelo de Deus”. Também foram importantes as ações
dos anglos e saxões, que invadiram a Britânia (Inglaterra) no ano 449. Esses e outros povos eventu-
almente deram origem às modernas nações européias.

Alguns desses povos já haviam sido cristianizados quando invadiram o Império Romano. Foi
o caso dos godos do baixo Danúbio ou visigodos, que foram evangelizados por Ulfilas (c. 311-383),
cuja mãe era daquele povo. Ulfilas traduziu as Escrituras para a língua gótica e, sendo um adepto do
arianismo, transmitiu essa concepção da fé aos visigodos. Na França central, um dos primeiros mis-
sionários foi

Martinho de Tours (†397) e a Irlanda foi evangelizada por Patrício (c.415-c.493), a partir de
460 (início do cristianismo celta). A primeira nação germânica a abraçar o cristianismo católico, ou
seja, trinitário, foram os francos, mediante a conversão do rei Clóvis em 496. Sua esposa, Clotilde, já
era uma cristã. Até 590, a maior parte das tribos germânicas havia deixado o arianismo em favor do
catolicismo. Na Escócia, foi muito atuante o irlandês Columba (c.521-597), que, acompanhado de
monges celtas, fundou um influente centro missionário na pequena ilha de Iona (557). Esse centro
enviou missionários à Escócia, Inglaterra, França, Alemanha e Suíça.

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5. Quatro Grandes Vultos

Os séculos IV e V são chamados a “idade de ouro” dos pais da igreja. No final do século IV e
início do V viveram quatro líderes e escritores cristãos especialmente importantes. Dois deles foram
notáveis pregadores, um no ocidente latino e o outro no oriente grego. O primeiro foi Ambrósio, bispo
de Milão (374-397), no norte da Itália, que ficou conhecido pela maneira corajosa como enfrentou o
imperador Teodósio por causa de um massacre ocorrido em Tessalônica. O outro foi o não menos
ousado João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla (397-407), o maior pregador da igreja antiga e
por isso mesmo apelidado de Crisóstomo, ou seja, “boca de ouro”. Por causa de sua pregação pro-
fética, foi banido pela imperatriz Eudóxia e morreu no exílio.

Os outros dois vultos eminentes do período foram Jerônimo e Agostinho. Jerônimo (331-420)
foi o maior erudito da igreja ocidental antiga. Depois de muitos estudos, no oriente, tornou-se secre-
tário do papa Dâmaso, que o incentivou a fazer uma nova tradução da Bíblia para o latim. Passou os
últimos trinta e cinco anos de sua vida num mosteiro em Belém, onde escreveu seus comentários
bíblicos e concluiu a tradução da Vulgata Latina, a Bíblia oficial da Igreja Católica. Agostinho (354-
430) converteu-se em Milão em 386, influenciado pela pregação de Ambrósio, e tornou-se bispo de
Hipona, no norte da África, em 395. É considerado o maior dos pais da igreja e muito influenciou os
reformadores protestantes. Das 94 obras que escreveu, as mais conhecidas são as Confissões e A
Cidade de Deus, esta última já referida na aula de introdução. Agostinho lutou fortemente contra os
cismáticos donatistas e contra Pelágio, um monge inglês que afirmava que o homem nasce essenci-
almente bom e é capaz de fazer o bem sem o auxílio de Deus. Agostinho, ao contrário, afirmou que o
ser humano está morto no pecado e, portanto, a salvação provém inteiramente da graça de Deus,
sendo concedida apenas aos eleitos.

6. A Vida Cristã

No período antigo surgiu uma instituição que haveria de tornar-se imensamente importante na
história posterior da igreja: o monasticismo. Desde os primeiros séculos, muitas pessoas sentiram a
necessidade de viver uma vida de renúncia e total consagração a Deus, inspiradas por passagens
do Novo Testamento como a história do moço rico (Mateus 19.21; ver também Lucas 14.33). Os pri-
meiros monges surgiram no terceiro século e viviam sós nos desertos. Os mais conhecidos desses
antigos “eremitas” (de éremos = deserto) ou anacoretas (de anachorein = afastar-se) foram Antônio
ou Antão, no Egito (†356), e Simeão Estilita, na Síria (†459). Este último foi chamado de estilita porque
viveu trinta anos em cima de uma coluna (em grego, stylos).

Ao mesmo tempo, surgiu uma nova modalidade, o monasticismo comunitário, que veio a tor-
nar-se predominante tanto no oriente como no ocidente. Esses monges eram chamados de cenobitas

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(de koinós bíos = vida comum). O primeiro cenóbio foi fundado por Pacômio (†346), no Egito. Dois
grandes líderes monásticos foram, no oriente, Basílio de Cesaréia, e no ocidente, Bento de Núrsia
(c.480-c.550). Este último escreveu a famosa regra beneditina, que por séculos orientou a vida dos
mosteiros. A regra disciplinava a vida diária dos monges em torno de três atividades: devoção, estudo
e trabalho. Muitos dos personagens que já vimos foram monges, submetendo-se aos três votos clás-
sicos de pobreza, castidade e obediência.

No período que estamos estudando, o culto cristão tornou-se fortemente estruturado, com li-
turgias e orações formais. Deu-se grande ênfase à música, com coros, cânticos e antífonas. No século
IV, foi composto o Te Deum (= A ti, ó Deus), um dos hinos litúrgicos mais conhecidos. O culto tornou-
se solene e impressionante e também a arquitetura religiosa, com o surgimento das majestosas basí-
licas. Intensificou-se o culto aos santos, os antigos mártires da igreja, bem como a Maria, especial-
mente após as controvérsias cristológicas, que deram ênfase a Maria como theotokos, a portadora ou
mãe de Deus. Também popularizaram-se as peregrinações a lugares considerados santos e a vene-
ração de relíquias.

7. Organização Eclesiástica

Esse período testemunhou o crescente fortalecimento dos bispos e dos concílios em que se
reuniam. Os bispos das capitais provinciais passaram a ser chamados de metropolitanos (arcebis-
pos). Os bispos das igrejas mais importantes e antigas – Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia
e Jerusalém – receberam o título de patriarcas. Outra característica marcante do período foi a afirma-
ção da supremacia dos bispos de Roma. Isso resultou de um longo processo em que esses bispos
foram fazendo reivindicações cada vez mais ousadas sobre sua autoridade.

Os principais fatores que contribuíram para o surgimento do papado foram: a insistência no


primado de Pedro (Mateus 16.17-19), que teria sido o primeiro bispo de Roma, e a alegação de que
essa autoridade foi transmitida aos seus sucessores; o suposto martírio de Pedro e Paulo em Roma;
a importância da cidade e da igreja de Roma; as declarações de governantes em apoio às pretensões
papais; a rápida aceitação dessa autoridade no ocidente, devido à falta de concorrentes; o declínio
do Império do ocidente, tornando a igreja a instituição mais importante da sociedade; a habilidade de
muitos bispos de Roma como teólogos, administradores e promotores da obra missionária. O fato é
que no século V houve a aceitação geral do primado de Pedro, sendo Leão I (440-461) considerado
o primeiro papa no sentido pleno da palavra. Essas reivindicações encontraram forte resistência no
oriente, sendo um dos fatores da futura separação entre as igrejas oriental (ortodoxa) e ocidental
(católica).

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Implicações Práticas
Embora o texto da aula não fale muito sobre o assunto, uma das características da igreja antiga
foi o profundo interesse pelas Escrituras. Pais da igreja como Irineu, Orígenes, Jerônimo e Agostinho
dedicaram as suas vidas ao estudo reverente da Palavra de Deus. Teodoro de Mopsuéstia (c.350-
428), da Escola de Antioquia, é considerado o maior exegeta da igreja antiga. João Crisóstomo des-
tacou-se pelas suas pregações profundamente bíblicas, expositivas. E outros ainda, como vimos, de-
dicaram-se à tarefa de traduzir as Escrituras. Que o seu exemplo nos estimule a valorizar a Palavra e
interpretá-la de modo equilibrado.

Ao estudar este período, podemos ficar perplexos diante do surgimento de crenças e práticas
que não nos parecem corretas. Ficamos nos perguntando porque Deus permitiu que as coisas tomas-
sem certos rumos. A história da igreja é importante porque mostra os acertos e os erros da igreja em
sua caminhada no mundo. Nós também cometemos erros e temos as nossas próprias divergências
teológicas. Precisamos pelo menos entender como certas coisas aconteceram, mesmo que não con-
cordemos com elas. Por outro lado, seria um erro nos concentrar nos desvios e esquecer as coisas
positivas. Os reformadores protestantes do século XVI souberam valorizar as contribuições positivas
da igreja antiga.

A Formação do Cânon Bíblico


O livro de Apocalipse deve ter sido escrito no final do século I d.C., e desde cedo já fora tido
como um livro sagrado, escrito por João, mas inspirado por Deus. No final do século I, quase todos
os 27 livros do Novo Testamento também já tinham sido aceitos pelas igrejas locais como sendo ins-
pirados por Deus, dignos de serem sagrados e canonizados ao lado dos livros do Antigo Testamento.
Foi também no fim do século I, em 90 d.C., que um concílio de rabinos reunido em Jâmnia ratificou os
livros da Bíblia Hebraica, tidos como sagrados desde 400 a.C.

Para os cristãos do século I, não havia dúvidas de que todos os livros e epístolas escritos
pelos apóstolos eram sagrados e tinham a mesma autoridade que a Lei de Moisés, o livro dos profetas
e os demais escritos bíblicos. É verdade que alguns livros e epístolas não foram escritos por apóstolos,
como é o caso dos Evangelhos de Marcos e de Lucas, do livro de Atos, e das epístolas de Tiago e
Judas. Contudo, tais livros foram endossados pelos apóstolos como sendo inspirados por Deus. Em I
Timóteo 5:18, Paulo citou como Sagrada Escritura a passagem de Lucas 10:17. Pedro também en-
dossou as cartas de Paulo1, deixando claro que desde cedo os cristãos primitivos reconheciam a
autoridade bíblica dos escritos da geração apostólica. Assim que uma carta escrita ou recomendada

1
II Pedro 3:15 e 16.

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por um apóstolo chegava a uma igreja local, era copiada e distribuída às demais igrejas.2 Dessa
forma, cada igreja local foi reunindo uma coleção de escritos sagrados que, aos poucos, foi formando
o cânon do Novo Testamento. As igrejas também já possuíam cópias dos livros da Bíblia Hebraica,
na tradução grega da Septuaginta, às quais foram adicionando os livros apostólicos, para, no final do
século I, encerrar todo o cânon bíblico com o livro de Apocalipse, o último escrito da geração apos-
tólica.

O Fim Do Império Romano Ocidental e o Concílio de Cons-


Tantinopla Ii
Simplício (468 a 483) era o papa quando o Império Romano Ocidental se extinguiu, em 476,
sob o domínio do rei bárbaro Odoacro. Este fato deixou os papas livres da autoridade civil unificada
dos imperadores, oferecendo-lhes a oportunidade de formar alianças políticas vantajosas entre os
novos reinozinhos bárbaros em que o Ocidente ficou dividido. Gradualmente, o Pontífice veio a se
tornar uma figura dominante no Ocidente; não obstante, alguns papas preferiram abster-se desses
privilégios, como o Papa Gelásio I (492 a 496), que insistiu em viver na pobreza, contrariando os
costumes dos papas anteriores, e exigindo de seus presbíteros o mesmo. O próximo papa, Anastácio
II (496 a 498), foi acusado de heresia, pois tentou reabilitar o patriarca de Constantinopla, Acácio (472
a 488), que havia sido excomungado por ser monofisista; Anastácio II foi retratado no inferno por
Dante Alighieri em sua obra, ‘A Divina Comédia’. A primeira construção do Palácio do Vaticano foi
atribuída a Símaco (498 a 514); e o Papa João I (523 a 526) foi o primeiro papa a visitar Constantinopla
e, também, a coroar um Imperador do Oriente, Justiniano (527 a 565). Foi preso pelo rei ostrogodo
Teodorico, morrendo no cárcere. Félix IV (526 a 530) foi nomeado por Teodorico, em seu lugar, mas
manteve-se tão fiel à Igreja que acabou sendo repudiado e desterrado. Ao morrer, Félix IV nomeou o
gótico Bonifácio II (530 a 532) como seu sucessor, mas o colegiado dos presbíteros não aceitou a
nomeação porque Bonifácio era um bárbaro, e elegeu o antipapa Dióscoro, que morreu menos de um
mês depois. Em 533, o Presbítero Mercúrio foi eleito papa. Por ter o nome de uma divindade pagã,
tornou-se o primeiro pontífice a mudar de nome, chamando-se João II (533 a 535). Agapito I (535 a
536) enfrentou problemas com Justiniano, por não aceitar a ordenação de presbíteros monofisistas.
Acabou sendo envenenado por Teodora, esposa de Justiniano. Seu sucessor, Silvério (536 a 537) era
filho do Papa Hormisdas, e também teve problemas com a questão monofisista de Teodora, tendo de
enfrentar os exércitos bizantinos de Justiniano em Roma. Acabou sendo obrigado a renunciar e foi
banido para a ilha de Ponza. Em 553, no Concílio de Constantinopla II, convocado para acabar com
a questão dos monofisistas, o Papa Virgílio (537 a 555) opôs-se à heresia monofisista eutiquiana,
mesmo tendo tido parte na trama de Teodora que expulsou o seu antecessor. Ainda neste concílio, o
papa foi reconhecido pelos bispos ocidentais como o primaz da cristandade, provocando a indigna-

2
I Tessalonicenses 5:27; e Colossenses 4:16.

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ção do patriarca de Constantinopla, Eutiquio (553 a 565). Por essa razão, Justiniano impôs a Pragma-
tica sansion, que limitava a autoridade papal sobre a fé. Seu sucessor também foi seu aliado na trama
contra Silvério, Pelágio I (556 a 561), que chegou ao pontificado graças à influência de Justiniano,
uma vez que a Itália estava como província do Império Bizantino.

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O Ataque Sincretista: O Movimento Gnóstico

Uma das mais poderosas forças com as quais o cristianismo se defrontou foi o gnosticismo.
Este era um grupo amorfo de seitas e escolas de pensamento, da qual recebemos informações atra-
vés de Irineu, Orígenes, Clemente de Alexandria e Tertuliano.

Já na época apostólica, na Ásia Menor e na Antioquia, mestres heréticos receberam seu im-
pulso inicial do judaísmo. Os Pais da Igreja concordaram que o gnosticismo foi iniciado com Simão,
o Mago (At.8). Eles especulavam acerca de anjos e espíritos, e se caracterizavam por um falso dua-
lismo, que consequentemente ou era asceta ou libertino. Além disto, espiritualizavam a ressurreição
e faziam da esperança da Igreja objeto de depreciação (ver Col. 2.18ss; I Tim. 1.3-7; 4.1-3; 6.3ss; II
Tim. 2.14-18; Tt. 1.10-16; II Pe. 2.1-4; Jd. 4,16; Ap. 2.6,15,20ss). Eles faziam distinção entre um Jesus
humano e um Cristo, que seria um espírito superior que descera sobre Ele quando de Seu batismo, e
O teria deixado antes da crucificação.

Esta seria a heresia de Cerinto, mencionada por Irineu, e combatida por João (ver Jo.1.14;
20.31; I Jo.2.22; 4.2,15; 5.1,5-6; II Jo.7). Segundo Hägglund, quando falamos de gnosticismo, em
geral pensamos no sistema que se desenvolveu no período cristão, na “heresia de Cerinto” que os
Pais da Igreja combateram com tanto empenho. Mas o gnosticismo já existia quando o cristianismo
surgiu. Era um fenômeno religioso um tanto vago, uma doutrina especulativa de salvação com contri-
buições de várias tradições religiosas diferentes.

Subsequentemente, o gnosticismo apareceu na Síria e em solo judaico, particularmente na


Samaria, e lá assumiu coloração judaica. Foi esta forma de gnosticismo existente por volta do início
da era cristã, e que os apóstolos encontraram em Simão, o Mago, que andava pela Samaria.3

Seus principais líderes foram Saturnino, que tinha influência oriental, e que apareceu na Síria,
no início do século II; Basílides trabalhou no Egito por volta do ano 125, e seu gnosticismo tinha a
natureza mais filosófica e de forte influência grega; e Valentino, que pregou em Roma de 135 a 160,
com forte influência grega em seu sistema. Esta é a apresentação clássica do gnosticismo.4 Eles
unanimemente exaltavam o conhecimento, gnosis, à fé.

Como movimento sincretista, o gnosticismo se caracterizava por professar uma revelação di-
vina e não apenas uma especulação filosófica religiosa. Tratava-se, também, de uma combinação de
todas as revelações religiosas de sua época, buscando ser uma religião universal. A alma era salva
não apenas pelo conhecimento de uma suposta verdade, mas também pelo aprendizado de várias

3
HAGGLUND,B. História da teologia, p. 27-28.
4
HAGGLUND,B. op. cit., p. 28.

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fórmulas mágicas, pelas quais a alma poderia ter acesso a várias partes do mundo superior. A ver-
dade também era apresentada em forma de mistérios, buscando, por meio de uma interpretação
própria das ideias cristãs, responder às questões religiosas do século II. Para isto apelavam para uma
exegese alegórica do Antigo e do Novo Testamentos e dos escritos e tradições secretas dos novos
mestres gnósticos.

Continua sendo debatido se os gnósticos eram cristãos em qualquer sentido do termo. Se-
gundo Seeberg afirma, o gnosticismo era pagão, e não cristão gentílico. Ele propunha dar solução
que se originaram no pensamento religioso do mundo pagão, e meramente dava às suas discussões
um colorido um tanto cristão. Aparentemente dava grande valor a Jesus Cristo, tornando-O um ponto
decisivo na história humana, um mestre de verdade absoluto. Harnack chama isso de ‘helenização
aguda do cristianismo’. O professor Walther é mais correto ao dizer que o gnosticismo é o ‘... furto de
alguns trapos cristãos para cobrir a nudez do paganismo’. Isto corresponde à descrição de Seeberg,
quando se refere ao gnosticismo como ‘uma etnicização do cristianismo’.5

Suas características principais, sem entrar nos detalhes de vários outros sistemas correlatos,
seriam:

1) O mundo do espírito e da matéria se opõem dualisticamente entre si.

2) O mundo presente surgiu por uma emanação do espírito-mundo, um éon mais baixo
como resultado de uma queda.

3) O criador deste mundo não foi o Deus supremo, mas um ser subordinado, o Demiurgo,
o Deus dos judeus.

4) Permanece no mundo da matéria um pouco do mundo do espírito, e a libertação da-


quele é o objeto do processo de salvação. Os homens são classificados em espiritu-
ais, psíquicos e carnais. Esta mesma classificação pode ser usada para caracterizar
o cristianismo, o judaísmo e o paganismo, respectivamente. Apenas os pneumáticos
poderiam ser salvos.

5) A história do mundo é concebida em termos cíclicos, tendo a alma humana sido lan-
çada para dentro destes ciclos. O homem caiu do mundo da luz e era conservado
cativo no mundo material. Demônios de várias classes moram na alma do homem,
resultando daí uma guerra sem tréguas entre um espírito bom prisioneiro de um corpo
mau.

5
BERKHOF, L. História das doutrinas cristãs, p. 45.

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6) A redenção se origina no mundo dos espíritos. Cristo e o Espírito Santo se originaram


num dos éons mais elevados. A tarefa de Cristo é restaurar ao Pleroma (o mundo dos
espíritos) o éon caído e, ao mesmo tempo, livrar as almas dos homens de seu cativeiro
ao mundo material, e trazê-las de volta ao mundo do espírito. Os psíquicos cristãos
ordinários da igreja podem ser salvos por fé e obras, mas os carnais se perdem todos.

7) Há várias formas de descrever a pessoa de Cristo. Uma delas afirma que Jesus Cristo
era um éon celestial que habitou um corpo, praticou o domínio do mesmo e chegou a
ser uma natureza com seu corpo. Valentino e sua escola ensinavam que Ele era um
éon que assumiu um corpo formado por substância psíquica: por ser isto impossível,
Ele não sofreu de verdade, só seu corpo psíquico. Uma outra variação diria que o
homem Jesus, que levava a imagem de Deus, por uma dispensação misteriosa nas-
ceu da virgem Maria, e em seu batismo, foi eleito por Deus, recebendo o éon Cristo,
também chamado “Homem” ou “Filho do Homem”. Esta era a posição de Saturnino e
Basílides. Cristo seria, então, apenas um fantasma, e as últimas duas escolas dividiam
nitidamente o Jesus histórico e o Cristo celestial.

8) Cristo traz ao mundo conhecimento, por meio do qual os elementos espirituais se for-
taleciam e podiam libertar-se da matéria. Com determinadas fórmulas sagradas (ritos
simbólicos, cerimônias místicas e ensinamentos de fórmulas mágicas) os espíritos
eram ajudados a elevar-se deste mundo para outro, superior.

9) A moralidade que acompanhava estas concepções de redenção assumiam uma du-


pla forma. Ora um legalismo ascético, ora uma carnalidade libertina, convencida de
que nada prejudicaria os espirituais. A Igreja era motivo de ridicularização e crítica,
por sua ênfase na santificação e por causa dos martírios.

10) O retorno da matéria ao Pleroma era o fim. A ressurreição dos mortos, e toda a esca-
tologia cristã era colocada de lado.6

Os Ritos Gnósticos
Seus principais ritos, praticados em congregações gnósticas fundadas em oposição à Igreja
ou em associações secretas no meio dela, foram:

1) Matrimônio espiritual, onde o redimido era conduzido a uma câmara nupcial.

6
HAGGLUND, B. op. cit., pp. 29-32. Ver BERKHOF, L. op. cit., pp. 45-47.

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2) Oferta de gratidão como sinal de reconhecimento. (3) Marca na orelha direita.

3) Tríplice batismo com água, fogo e espírito.

4) Unção com óleo.

5) O “mistério do perdão de pecados”, como meio de se chegar a ser inteiramente per-


feito e completo em todos os mistérios.

6) O rito obsceno (o sangue menstrual e o sêmen masculino).

7) Quadros ou imagens.

8) Encantamentos e frases mágicas.

9) Hinos.

10) Magia.

11) Profecia.

12) Milagres, como a transformação de vinho em sangue. Estas fórmulas têm um paralelo
exato com os mistérios pagãos da época, e sua importância prática pode ser vista nas
obras gnósticas originais preservadas em Nag Hammandi (100 Km ao norte de Luxor),
no Egito, descobertas em 1945.

Desta forma, o gnosticismo se tornou um movimento popular. Este sistema era tido como forma
de conseguir proteção contra o poder dos demônios e da morte e como meio de ter acesso ao mundo
porvir.

A Resposta da Igreja Cristã


Veremos, adiante, como a Igreja enfrentou esta heresia. Irineu, por exemplo, recorreu às fontes
antigas e apostólicas, afirmando contato direto com elas, contra as reivindicações gnósticas da auto-
ridade de suas tradições secretas. Após de afirmar que os gnósticos ensinavam uma teoria “que nem
os profetas pregaram, nem o Senhor ensinou, nem os apóstolos transmitiram”, pela qual eles se arro-
gavam “ter conhecimentos melhores e mais abundantes do que os outros”, acabavam procurando
“acrescentar às suas palavras outras dignas de fé, como as palavras do Senhor ou os oráculos dos
profetas ou as palavras dos apóstolos, para que as suas fantasias não se apresentem sem funda-

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mento”. Eles descuidavam a ordem e o texto das Escrituras, distorcendo todo o ensinamento apostó-
lico a respeito do Senhor Jesus. Após mencionar a famosa analogia do mosaico de um rei que é
transformando num mosaico de raposa, “e depois dissesse e confirmasse que aquela era a autêntica
imagem do rei feita pelo hábil artista”, os gnósticos costuram “fábulas de velhinhas e tomando daqui
e tomando dali palavras, sentenças e parábolas, procuram adaptar as palavras de Deus às suas
fábulas.” Mas, quem possui a indefectível Regra da verdade aprendida no batismo, reconhecerá os
nomes, as expressões, as parábolas que são das Escrituras, mas não a teoria blasfema deles. Reco-
nhecerá as pedras do mosaico, mas na figura da raposa não verá a imagem do rei. Recolocando
cada uma das palavras no seu lugar, ajustadas ao corpo da verdade, desvendará e mostrará a incon-
sistência das suas fantasias.7

O gnosticismo, em última instância, pretendia transformar o cristianismo numa especulação


mitológica. Ao subverter todas as principais declarações de fé cristãs, o gnosticismo ou rejeitava ou
reinterpretava o conteúdo básico cristão. Segundo Hägglund, os gnósticos combatiam a crença cristã
na criação divina: o criador, afirmavam, não era o Deus supremo, e a própria criação era considerada
vil e má. O segundo artigo do credo era rejeitado ou reinterpretado pelos gnósticos com base em sua
cristologia docética, que negava a existência terrena de Jesus Cristo. O gnosticismo também repudi-
ava o conteúdo do terceiro artigo do credo. O Espírito Santo era introduzido em sua mitologia como
essência espiritual que emergira de um dos eons. Também negavam a ressurreição do corpo, funda-
mentados na idéia de que tudo o que é físico ou material é mau e não espiritual.8

Os princípios básicos de Basílides foram divulgados em forma mais poética e popular por
Valentiano, o mais influente dos mestres gnósticos. Houve também um gnosticismo judaizante, e Irineu
via uma relação entre Cerinto e os ebionitas.9 Através de um sistema sincretista, o gnosticismo se
misturou com o cristianismo, tornando-se inimigo formidável da Igreja Cristã Primitiva, mas mesmo
tendo arrastado alguns consigo, a grande maioria dos crentes não foi enganada por suas especula-
ções e rituais

7
Livro I.8,1; 9,4, pp. 52-53, 61.
8
HAGGLUND, B. op. cit., pp. 31-32.
9
As diversas posições gnósticas foram sumariadas por Irineu, no Livro I.24,1-5; 26,1-2, pp. 101-104, 107-108.

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O avanço do Islã
Com o avanço do Islã, a partir de 635, a cristandade sofreu um grande impacto. Os muçulma-
nos arrasaram três dos cinco patriarcados: a Igreja de Antioquia, a Igreja de Jerusalém e a Igreja
Copta10, de Alexandria; ameaçando, também, o Patriarcado de Constantinopla, e afetando o de Roma.
No final do Século VII, a Igreja se encontrava em posição defensiva por toda parte, e no século se-
guinte, a situação piorou. Em vez de ter uma Igreja unida, as disputas entre Roma e Constantinopla
pelo controle da cristandade comprometeram a integridade da Igreja frente à invasão islâmica pelo
Oriente e à invasão dos bárbaros pagãos, pelo Ocidente. Como resultado, em muitas regiões do Oci-
dente, na Gália e na Espanha, as igrejas tornaram-se quase independentes. Enquanto que no Oriente,
um fervoroso movimento missionário surgiu na Igreja Copta, tentando confrontar a invasão islâmica.
Esse movimento acabou introduzindo o ascetismo e os monastérios na cristandade, fazendo a Igreja
Copta chegar à Etiópia e aos reinos núbios. Na mesma época, surge a confissão auricular, nas igrejas
orientais.

Os Estados Pontifícios
Demoraram quase onze meses para que o Imperador Bizantino Constantino IV (668 a 685)
confirmasse a eleição do Papa Bento II (684 a 685). Por essa mesma razão, Bento II lutou e conseguiu
do imperador um decreto que abolia o privilégio do imperador bizantino de confirmar a escolha do
papa. No século VIII, o Papa Gregório II (715 a 731) combateu os iconoclastas, que condenavam o
culto a imagens, expulsando-os de Roma. Em resposta, o Imperador Bizantino Leão III (717 a 741),
que era iconoclasta, proclamou o Édito de Constantinopla, proibindo o culto a imagens. O Papa Gre-
gório III (731 a 741), por sua vez, convocou um sínodo em Roma, posicionando-se contrário ao impe-
rador e aos iconoclastas. Temendo uma represália de Leão III, e ainda sob a ameaça de uma invasão
bárbara por parte dos lombardos, Gregório III invocou a ajuda de Carlos Martelo, rei dos francos (que
havia livrado a Europa dos muçulmanos); porém, não obteve resposta alguma de Carlos Martelo. Seu
sucessor, o Papa Zacarias (741 a 752), fez uma aliança com Pepino, filho de Carlos Martelo, coroando-
o, Pepino III, rei dos francos11. Mais tarde, no papado de Estevão II (752 a 757), Pepino III, em gratidão
à Igreja de Roma, conduziu seu exército à Itália, que estava sob a dominação dos lombardos, ven-
cendo-os e oferecendo ao papa, em 754, as terras italianas conquistadas. Esta foi a origem dos Es-
tados Pontifícios, que deram ao papa um poder temporal, tornando-o um rei terreno. O centro da Itália
ficou sob o domínio da Igreja de Roma por quase 1100 anos, até a unificação da Itália, em 1870.

10
Igreja Copta ou Igreja Egípcia: o termo Copta deriva da palavra grega Aygüptos, que designa o Egito e é a origem
do nome deste país entre os ocidentais. Já Aygüptos vem do babilônico Hetkuptos, que, por sua vez, vem da
expressão do idioma do Antigo Egito: Het-Ka-Ptah, que significa: “A Terra do Corpo Sutil de Ptah”, sendo Ptah um
dos principais deuses egípcios, o deus-sol de Mênfis.
11
Francos: povo germânico que ocupava o oeste da atual Alemanha e o norte da atual França.

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Existiram dois Estevão II, o primeiro morreu antes de ser consagrado, e o segundo, que o sucedeu,
foi o que recebeu de Pepino III as terras dos Estados Pontifícios. O segundo Estevão II foi sucedido
por Paulo I (757 a 767), que era seu irmão mais novo. Estevão III (768 a 772) somente foi consagrado
depois que depôs e prendeu dois antipapas; um deles, inclusive, leigo. Convocou, então, um sínodo
para decretar que nenhum leigo possa mais se tornar papa.

O Concílio de Nicéia II
Em 787, ocorreu o Concílio de Nicéia II, no papado de Adriano I (772 a 795), que sancionou o
culto às imagens e a adoração das relíquias dos santos, solucionando a questão dos iconoclastas.
Infelizmente, o resultado desse concílio foi uma nova derrota para o cristianismo legítimo, inspirado
na Bíblia, onde tantas vezes Deus condena a adoração de imagens.12

O Sacro Império Romano


Em gratidão pela aquisição dos Estados Pontifícios, o Papa Leão III (795 a 816) coroa, na noite
de Natal do ano 800, o filho de Pepino III, Carlos Magno (742 a 814), Imperador Romano do Sacro
Império Romano, com nova capital em Aix-la-Chapelle, na Alemanha Ocidental. E então, com o res-
surgimento do Império Ocidental, Roma adquiriu oficialmente sua independência de Constantinopla.
O Sacro Império Romano foi mais nominal do que efetivo, com imperadores intitulados ‘césares’ que
dividiam o poder com os papas. Aos imperadores cabia o domínio civil e aos papas, o poder espiritual.
Mas nem sempre essa divisão foi harmônica; muitas lutas amargas entre papas e imperadores acon-
teceram pelo controle do Império. Contudo, o Sacro Império Romano durou cerca de 1000 anos, até
ser liquidado por Napoleão em 1806.

Foi também no papado de Leão III, em 803, que o Concílio Latino de Maguncia criou a festa
da Assunção da Virgem; oficializando o dogma de que Maria não morreu, mas, igual a Jesus, subiu,
imaculada, aos céus. Em 818, no papado de Estevão IV (816 a 817), Pascácio Radberto incentiva, em
seus escritos, a realização da missa como repetição do sacrifício de Cristo, e enuncia a doutrina da
transubstanciação, que admite a transformação real do pão e do vinho, na eucaristia, no corpo e no
sangue de Jesus, respectivamente. O Papa Pascoal I (817 a 824) ampliou ainda mais os seus domí-
nios territoriais, recebendo do Imperador Ludovico II (825 a 875) a Córsega e a Sardenha. Seu suces-
sor, o Papa Eugênio II (824 a 827), suspendeu temporariamente os bispos e padres ao descobrir que

12
Êxodo 20:4 e 5, 34:17; Levítico 19:4; Deuteronômio 4:15 a 19; II Reis 18:4.

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muitos ignoravam verdades básicas do cristianismo, reabilitando-os quando fossem devidamente ins-
truídos em seminários criados por ele. Ele também formou uma comissão para rever os cânones e as
leis pontifícias, da qual nasceu a atual Cúria Romana.

O início do cisma da cristandade


Nicolau I (858 a 867) esforçou-se para impor sua condição de Pontífice Máximo da Igreja
Cristã, interferindo nos negócios da Igreja Oriental. Envolvido em diversas discussões com o patriarca
de Constantinopla, Fócio (858 a 867), acabou por excomungá-lo. Fócio, por sua vez, também o exco-
mungou. E então, no Concílio de Constantinopla IV, em 869, no papado de Adriano II (867 a 872), a
situação tornou-se intolerável a ponto de ocorrer o cisma da cristandade. Sobre o domínio das igrejas
ocidentais, ficou a Igreja Católica Apostólica Romana; sobre o domínio das igrejas orientais, a Igreja
de Constantinopla, agora chamada Igreja Católica Ortodoxa Grega. No entanto, o cisma consumou-
se mesmo somente em 1054, no final do papado de Leão IX (1049 a 1054).

A Idade das Trevas e o domínio das meretrizes


Foi com o Papa Nicolau I (858 a 867) que começou o período negro do papado, onde suborno,
assassinato, imoralidade e corrupção mancharam a cristandade, transformando o final da Alta Idade
Média num mundo perdido entre joguetes políticos e escândalos morais. Em 891, foi eleito o Papa
Formoso (891 a 896), que já havia sido excomungado anteriormente pelo Papa João VIII (872 a 882),
por ter coroado como rei da Itália a Arnulfo (887 a 899), mais tarde, imperador da Alemanha. Quando
o Papa Estevão VI (896 a 897) foi eleito pelos opositores de Formoso, após um processo injusto,
exumou o cadáver de Formoso e o atirou no rio Tibre. Em 897, os papas Romano e Teodoro II foram
envenenados por terem sido favoráveis ao Papa Formoso. Em 903, outro papa foi assassinado no
mesmo ano de sua eleição, Leão V, que, depois de morto, teve o corpo incinerado e jogado no rio
Tibre.

Com Sérgio III (904 a 911), começou o domínio das meretrizes, a “Idade das Trevas”. Sérgio
III tinha uma amante, Marózia. Ela, sua irmã, e sua mãe, Teodora, puseram no trono papal os seus
amantes e os seus filhos bastardos, transformando o palácio pontifício num bordel. Anastácio III (911
a 913), Lando (913 a 914) e João X (914 a 928) foram todos postos no papado por Teodora. Marózia
matou João X e elevou ao pontificado os seguintes papas: Leão VI (928 a 929), Estevão VII (929 a
931) e João XI (931 a 935), que era seu filho ilegítimo. Outro filho de Marózia continuou a ordenar a
nomeação dos quatro papas seguintes: Leão VII (936 a 939), Estevão VIII (939 a 942), Marino II (942
a 946) e Agapito II (946 a 955); Marino II e Agapito II foram exemplo de bons papas nesse período
negro do cristianismo, tentando inutilmente livrar a Igreja Católica Romana da imoralidade. João XII

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(955 a 964), neto de Marózia, foi condenado por todos os tipos de crimes possíveis: roubo, assassi-
nato, violação de virgens, e adultério, quando acabou sendo morto por um marido traído. Foi ele quem
coroou o alemão Oto I, o Grande (936 a 973), como Imperador do, agora denominado, Sacro Império
Romano-Germânico.

No entanto, Oto I acabou depondo João XII, por causa de sua imoralidade, e colocando um
leigo em seu lugar: Leão VIII (963 a 965). Mesmo assim, Bento V (964 a 966) foi eleito em Roma
quando João XII apareceu assassinado. O Imperador Oto I somente reconheceu Bento V depois da
morte de Leão VIII; e, ainda assim, por pressão dos francos e romanos. Bento V ainda vivia quando
João XIII (965 a 972), sobrinho de Marózia, foi elevado ao papado com a ajuda de Oto I. Bento VII
(974 a 983) tentou reformar a igreja, condenando a simonia na escolha do papa; porém, depois de
sua morte, a corrupção voltou a reger a cristandade; João XIV (983 a 984) foi assassinado pelo seu
sucessor, o antipapa Bonifácio VII (984 a 985). João XV (985 a 996) foi o primeiro papa a canonizar
um santo, São Ulderico. Gregório V (996 a 999) foi o primeiro papa alemão; em seu papado, enfrentou
o antipapa João XVI, nomeado pelo imperador alemão Crescêncio.

O Papa Silvestre II (999 a 1003) foi um acadêmico inteligentíssimo, a quem se atribui a inven-
ção do relógio de pêndulo e a introdução dos algarismos arábicos no mundo ocidental; tentou, mais
uma vez sem sucesso, reformar a Igreja Romana; contudo, o paganismo continuava a se infiltrar cada
vez mais, distorcendo a doutrina cristã, como podemos notar quando o Papa João XVII (1003) aprovou
a ‘festa das almas dos fiéis defuntos’ ou ‘dia de finados’, criada por Odilon, em 993, como cristianiza-
ção do ano novo celta; data em que, segundo os sacerdotes celtas, os druidas, os espíritos dos mortos
podiam voltar ao mundo dos vivos13. João XVIII (1004 a 1009) tentou purificar a Igreja da imoralidade
do seu clero, e conseguiu, temporariamente, unir a Igreja Católica Romana com a Igreja Ortodoxa
Grega. Sérgio IV (1009 a 1012) também tentou livrar a Igreja da imoralidade e da corrupção; mesmo
assim, seus sucessores, Bento VIII (1012 a 1024) e seu irmão, João XIX (1024 a 1033), compraram o
cargo de papa, sendo este último um leigo que recebeu num só dia todas as ordens do clero.

Foi na época de João XIX que Guido d’Arezzo inventou as sete notas musicais da escala
harmônica, cujos nomes foram tirados das primeiras sílabas de um canto a João Batista. Bento IX
(1033 a 1044) era uma criança de 12 anos quando se tornou papa, através de uma negociata de sua
família. Foi expulso de Roma, acusado de diversos crimes. No ano seguinte, 1045, reinaram três pa-
pas simultaneamente: Silvestre III, Bento IX (eleito pela segunda vez) e Gregório VI (que depôs Bento
IX). Em 1046, o Imperador Henrique III (1039 a 1056) convocou um sínodo em Roma e destituiu os
três papas vigentes, designando Clemente II (1046 a 1047), porque não havia outro clérigo livre da
corrupção e da fornicação. Quando Clemente II morreu, Bento IX retornou pela terceira vez ao trono
pontifício, permanecendo oito meses, quando abdicou, por conselho de São Bartolomeu, e, arrepen-
dido, entregou-se à vida monástica.

13
Hoje, conhecemos essa festividade como Halloween, nos países de língua inglesa.

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A concretização do cisma da cristandade


A situação insustentável da cristandade chegou a tal ponto que obrigou o partido reformista,
sob a liderança de Hildebrando, um dos clérigos mais honrados e dignos daquela época, a tomar o
controle do pontificado, inaugurando a Idade Áurea do Papado. Hildebrando indica e supervisiona os
cinco pontífices que se seguiram a Dâmaso II (1048), nomeado pelo Imperador Henrique III depois
da abdicação de Bento IX. O primeiro deles, São Leão IX (1049 a 1054), iniciou o processo de reforma
da Igreja, combatendo a simonia, a imoralidade espalhada pelo clero e a interferência do imperador
alemão na escolha do papa. São Leão IX também enfrentou a definição quanto à questão entre Roma
e Constantinopla. Em 25 de março de 1043, Miguel Celulário (1043 a 1058) foi eleito patriarca de
Constantinopla. O Patriarca Miguel I foi muito duro com relação a Roma, chegando mesmo a fechar
várias igrejas latinas em Constantinopla.

Diante deste fato, São Leão IX enviou uma carta a Miguel I e outra ao imperador bizantino,
Constantino IX (1042 a 1055), através de uma comissão dirigida pelo Cardeal Humberto de Mouen-
mutier, bispo de Silva Cândida; pelo Cardeal Frederico de Lorraine, que se tornaria o futuro Papa
Estevão IX (1057 a 1058); e pelo Cardeal Pedro, bispo de Amalfi. Ambas as cartas buscavam a reunião
da cristandade, mas falhavam ao acusar o Patriarca Miguel I de usar o título de “Patriarca Ecumênico”
sobre todos os patriarcados, quando, durante séculos, os papas também se colocaram nessa posi-
ção.

O Patriarca Miguel I, ao saber da morte do Papa São Leão IX, em 19 de abril de 1054, desa-
creditou a autoria papal das cartas. Como a comissão latina não conseguiu convencer o patriarca do
contrário, o Cardeal Humberto, usando sua própria autoridade, já que o papa estava morto, depositou
uma bula de excomunhão no altar-mor da Igreja de Santa Sofia, em Constantinopla. Embora fosse um
defensor das reformas na Igreja Romana, o Cardeal Humberto também defendia a supremacia do
papa sobre a cristandade. Quando soube que o cardeal o havia excomungado, Miguel I reuniu seu
sínodo e também excomungou os latinos. Esses fatos acabaram por concretizar o cisma na Igreja
Cristã, dividindo-a entre Roma e Constantinopla.

O islamismo e a invasão árabe


Na época de Alexandre II, os muçulmanos já haviam conquistado a Península Ibérica há mais
de três séculos, repartindo suas possessões em principados ou Taifas (do árabe, tawa’if). Alexandre
II, então, em 1062, concede o perdão dos pecados a quem combater os muçulmanos, dando início à
Cruzada dos cavaleiros borgonheses à Península Ibérica. O islamismo teve seu início oficialmente em
16 de julho de 622, quando Maomé foi obrigado a sair de Meca, exilando-se em Medina, a “cidade
do Profeta”; é a Hégira, ponto de partida do calendário muçulmano. Mas o início da expansão islâmica

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se deu mesmo em 1º de janeiro de 630, quando Maomé derrotou as forças de Meca, retornando à
sua cidade natal. Quando Maomé morreu, em Medina, em 632, Abu Bakr, ao ser aclamado o primeiro
califa (sucessor de Maomé), começou a formação do primeiro estado nacional árabe, subjugando as
tribos árabes rebeldes. Em 634, o Califa Omar, o primeiro a usar o título de Amir al-Mu'minin (Príncipe
dos Fiéis), transforma o estado nacional árabe num império internacional militar, originando o Islã (a
palavra Islã significa “submissão”, enquanto que muçulmano se traduz como “aquele que se submete
à vontade de Deus”).

O islamismo tornou-se uma fé nacional que conquistou todo o mundo árabe, antes entregue a
diversas crenças animistas, herdadas dos cananeus, persas, fenícios e babilônios. Maomé ensinou
que o islamismo se sustenta sobre cinco pilares; o primeiro é a profissão de fé: “Não há outro Deus
que não Allah, e Mohammad (Maomé) é seu profeta”. O segundo pilar é a oração ou Salat; como não
há autoridade hierárquica no Islã, as orações são dirigidas por pessoas escolhidas pela comunidade,
e que tenham conhecimento do Corão, pois as orações consistem em citações, em árabe, de versí-
culos do Corão, podendo as petições individuais serem feitas em idioma local. São cinco orações
diárias: à alvorada, ao meio-dia, no meio da tarde, ao ocaso, e à noite. O terceiro pilar é a ajuda ao
necessitado ou zakat. O quarto é o jejum anual durante o mês de Ramadan (o nono mês no calendário
muçulmano); quando os muçulmanos se abstêm de comida, bebida e relação sexual desde a alvo-
rada até o pôr-do-sol. O último pilar da fé islâmica é o Hajj, a peregrinação a Meca, empreendida por
todos aqueles que dispõem de condições físicas e financeiras. O Hajj anual é realizado no décimo
segundo mês, quando os peregrinos circundam, por sete vezes, a Caaba, uma construção em forma
de cubo onde está a pedra negra sagrada, um meteorito tido como de origem divina, adorado pelos
árabes como resquício da época em que eram politeístas e veneravam astros, plantas, animais e
outros elementos da natureza. O encerramento do Hajj é marcado por um festival, o Eid-Al-Adha, que
juntamente com o Eid-Al-Fith, que marca o final do Ramadan, são as principais festas do calendário
islâmico. E foi sob a legenda “La ilaha illa Allah”, “Não há outro Deus que não Allah”, que a dominação
islâmica começou.

Em 638, o Califa Omar conquista Jerusalém, a Palestina e a Síria, apoderando-se da Mesopo-


tâmia e do Egito nos quatro anos seguintes. No Egito, o Patriarca Ciro (630 a 643), de Alexandria,
consegue a liberdade de culto para os cristãos, assegurando a sobrevivência da Igreja Copta. Em
687, o Califa Omar inicia, no monte Moriah, o local sagrado do Templo de Jerusalém, a construção da
mesquita que levaria seu nome, também conhecida como o “Domo da Rocha”, provocando a indig-
nação dos judeus residentes na Palestina. Em 711, o Islã chega à Europa, invadindo a Península
Ibérica, ao derrotar Rodrigo, o último rei visigodo da Espanha. Nesse mesmo ano, a região do Indo é
conquistada pelos muçulmanos; e em 716 e 717, teve ocasião o cerco de Constantinopla. Mas em
732, na batalha de Poitiers, Carlos Martel detém a expansão árabe na Europa; muito embora, no sé-
culo seguinte, os árabes conquistassem Creta, a Sicília, a Itália e fizessem uma incursão em Roma,
em 846. Em 960, a conversão dos turcos ao Islã começou a ameaçar a sobrevivência do Império

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Bizantino; e em 1084, Antioquia caiu nas mãos dos turcos, tornando-se uma possessão muçulmana,
e ameaçando a Igreja Ortodoxa de Antioquia.

São Gregório VII (Hildebrando, o reformador)


Enquanto isso, na Europa, Hildebrando foi eleito pontífice, em 1073, assumindo o nome de
Papa Gregório VII (1073 a 1085). São Gregório VII lutou para impor as reformas que havia iniciado no
partido reformista. Para conter a fornicação, tão comum entre o clero, insistiu no celibato. Para conter
a simonia (venda de cargos), proibiu o imperador alemão Henrique IV de nomear os cargos eclesiás-
ticos. Henrique IV não ficou satisfeito e depôs São Gregório VII, nomeando o antipapa Clemente III.
São Gregório VII, por sua vez, depôs Henrique IV e o excomungou. O que se seguiu foi uma batalha
entre as forças imperiais e papais, que acabou por expulsar São Gregório VII de Roma.

A I Cruzada
Em 1088, em Roma ainda reinava o antipapa alemão Clemente III. Entrementes, reunido se-
cretamente em Veletri, o conclave elegeu o francês Urbano II (1088 a 1099). No início de 1095, o
Imperador Bizantino Aleixo I Comneno (1081 a 1118) enviou uma embaixada ao Papa Urbano II, soli-
citando ajuda contra os muçulmanos que haviam invadido a Terra Santa. E então, em 26 de novembro
de 1095, no Concílio de Clermont, Urbano II lançou seu apelo aos príncipes cristãos para que formas-
sem uma cruzada contra o Islã, resgatando a Terra Santa das mãos dos infiéis. Em abril do ano se-
guinte, uma cruzada composta por mendigos, gente do povo, e pequenos comerciantes, liderada por
Pedro, o eremita, e Gautier Sans Avoir, parte para a Palestina. No caminho, a multidão ensandecida
massacra os judeus residentes na Renânia; e em outubro, a cruzada popular é aniquilada na Anatólia
pelas tropas turcas e búlgaras do sultão de Nicéia, Kilij Arslan. Em 1096, parte uma outra cruzada
dirigida por barões e composta por tropas mais preparadas, conquistando Jerusalém em 15 de julho
de 1099, quando a população muçulmana, judia e cristã oriental, pertencente a outros grupos mino-
ritários, é violentamente massacrada. O Barão Godofredo de Bulhão é eleito rei do Reino Franco de
Jerusalém, tornando a Cidade Santa mais um dos vários reinos latinos que vão surgindo na Terra
Santa. Godofredo, porém, declina do título, aceitando apenas o de “Defensor do Santo Sepulcro”; no
entanto, quando Godofredo morre, seu irmão, Balduíno de Bolonha, é coroado em Belém como o
primeiro rei latino de Jerusalém, no Natal de 1100. Em 1119, nove cavaleiros latinos fundam a “Milícia
dos Pobres Cavaleiros de Cristo”, para preservar os lugares santos de Jerusalém e proteger os pere-
grinos cristãos; essa é a origem da futura “Ordem dos Cavaleiros Templários”.

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A II Cruzada
Em 1145, o Papa Eugênio III (1145 a 1153) organiza a Segunda Cruzada, dirigida pelo Impe-
rador Conrado III (1094 a 1152) e pelo rei da França, Luís VII. Mas em 1169, a sorte dos cruzados
começa a mudar quando Salah ed-Din, mais conhecido como Saladino, fundador da dinastia curda
dos Ayyubidas, é nomeado vizir do Egito, por Nur ed-Din, califa de Damasco. Em 1173, Saladino
suprime o califado do Cairo e adota o título de malik (‘rei’, em árabe) do Egito; apoderando-se, tam-
bém, da Síria, quando Nur ed-Din morre. Nos próximos anos, Saladino conquista muitas cidades do-
minadas pelos cruzados, tomando Jerusalém em 1187, quando o Santo Sepulcro foi fechado e as
mesquitas reabertas. Tudo indicava que o mundo cristão oriental estava perdido…

Pedro Lombardo e os Sete Sacramentos e Pedro Valdo e os


Valdenses
E no ocidente, a situação também não era cômoda; o Papa Alexandre III (1159 a 1181) entrou
em conflito com quatro antipapas, terminando expulso pelo povo de Roma. Em seu papado, Pedro
Lombardo enumerou os sete sacramentos, adicionando mais cinco ao batismo e à eucaristia (confir-
mação, penitência, matrimônio, ordenação e extrema-unção). Foi também em seu papado que Pedro
Valdo, um rico negociante de Lião, no sul da França, deu suas propriedades aos pobres e, em 1176,
saiu para pregar o Evangelho. Valdo rejeitou as orações pelos mortos, o purgatório e a missa; e des-
pertou o povo para a leitura da Bíblia, que ele considerava a única regra de fé. Seguindo seu exemplo,
muitos cristãos se dissociaram da Igreja Romana papal e formaram a seita dos “valdenses”; obrigando
o Papa Lúcio III (1181 a 1185) a convocar um sínodo pra combatê-los.

A III Cruzada
Em 1187, o Papa Gregório VIII (1187) solicitou uma nova cruzada para deter o avanço de
Saladino. A Terceira Cruzada foi organizada, no ano seguinte, pelo Imperador Frederico I Hohenstau-
fen (Barba-roxa) (1152 a 1190), pelo rei da França Filipe Augusto, e pelo rei da Inglaterra Ricardo
Coração de Leão; obtendo vitória sobre Saladino na Batalha de Jafa, em 1192. Jerusalém voltou a ser
um reino cruzado, governado por Henrique II de Champagne; e o Papa Celestino III (1191 a 1198)
aprovou a fundação da “Ordem dos Cavaleiros Teutônicos”, criada em 1190, para defender os pere-
grinos da Terra Santa.

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Inocêncio III (a IV Cruzada, a “Cruzada das Crianças”, a V Cru-


zada e a Cruzada contra os Albigenses)
Inocêncio III (1198 a 1216) foi o papa mais poderoso de todos, e um dos mais cruéis. Seus
exércitos devastaram Constantinopla, na Quarta Cruzada, que ele havia organizado, tratando os cris-
tãos orientais com uma crueldade desumana. Ele consentiu na deposição do Imperador Bizantino
Aleixo IV (1203 a 1204), que foi assassinado, confirmando Balduíno IX de Flandres como o Imperador
Balduíno I de Constantinopla, originando o Império Latino do Oriente. Em 1212, milhares de crianças
alemãs e francesas se juntaram a uma cruzada, motivadas pela crença popular, surgida na Europa,
de que somente os puros de mente e espírito poderiam reconquistar o Santo Sepulcro e os demais
sítios sagrados. Infelizmente, nenhuma delas conseguiu chegar à Terra Santa; muitas das crianças
francesas se afogaram durante uma tempestade e as restantes foram capturadas e vendidas como
escravas. Quanto às alemãs, sem dinheiro, tiveram que mendigar, na Itália, pra sobreviver. E em 1215,
Inocêncio III lançou um novo apelo à formação da Quinta Cruzada, na abertura do 4º Concílio de
Latrão. Inocêncio III declarou, pela primeira vez, a idéia da infalibilidade papal, e proibiu a leitura da
Bíblia aos leigos. Também mandou massacrar os albigenses, ou cártaros, uma comunidade que vivia
no sul da França, no norte da Espanha, e no norte da Itália, e que pregava contra a imoralidade do
clero, contra o culto aos santos e imagens, e estudava abertamente a Bíblia. Enraivecido, Inocêncio
III ordenou uma cruzada para aniquilar os albigenses, sem poupar sexo e idade; e em cem anos, eles
haviam desaparecido.

As VII e VIII Cruzadas

Em seu papado, Jerusalém caiu definitivamente nas mãos dos turcos, em 1244, depois de ter
estado alternadamente sob o domínio de muçulmanos e cruzados, o que motivou Inocêncio IV a pre-
parar a Sétima Cruzada, liderada por Luís IX, rei da França mongóis e dos mamelucos definhou mais
ainda os reinos latinos na Terra Santa; e, em 1261, o grego Aleixo Stragopulos reconquistou Constan-
tinopla, extinguindo o Império Latino Oriental. Em 1270, depois da derrocada da Sétima Cruzada, Luiz
IX decidiu organizar a Oitava Cruzada; mas a frota francesa na qual viajavam os cruzados nem chegou
a desembarcar na Síria, sendo destruída por uma tempestade. Foi então que o duque de Guyenne,
Eduardo Plantageneta, futuro rei da Inglaterra, continuou a Oitava Cruzada. Em Roma, o Papa Honório
IV (1285 a 1287), consciente da missão da Igreja, projetou um acordo com os muçulmanos e instituiu
o ensino do árabe na Universidade de Paris, a fim de evangelizar os árabes em sua própria língua.
Honório IV também tentou uma reaproximação com a Igreja Ortodoxa Grega, mas seu curto papado
não foi suficiente para que ele tivesse êxito em seus projetos. Sem o apoio do papa, a Oitava Cruzada
teve o mesmo destino da anterior; e, em 1291, caiu o último território latino no Oriente, Chipre.. Nessa
época, o avanço dos

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Bonifácio VIII e Clemente V – o Papado do Terror

O mundo cristão oriental havia sido perdido para os muçulmanos; e no Ocidente, as conspi-
rações e a corrupção eclesiástica ameaçavam destruir também a Igreja Romana. Quando o monge
beneditino Pietro Angelerio foi eleito como Papa Celestino V (1294), percebeu logo que não passava
de uma marionete nas mãos dos poderosos que de fato mandavam na Igreja Romana; frustrado por
não conseguir pôr em ordem a Igreja, renunciou. E então, o Cardeal Bento Gaetani foi eleito, em seu
lugar, como o Papa Bonifácio VIII (1294 a 1303); um cético na religião cristã, mas que acreditava em
magia e usava diversos amuletos. Proclamou a autoridade universal do papa, defendida por Inocêncio
III, declarando que fora da Igreja Romana não havia salvação, e que a salvação dependia da submis-
são do cristão ao papa. Por temer o seu antecessor, que ainda estava vivo, manteve Celestino V na
prisão até a morte deste, em 19 de maio de 1296. Bonifácio VIII acabou sendo preso também e morreu
na prisão; o objetivo real do seu papado foi, sem dúvida, o enriquecimento da família Gaetani. Dante
Alighieri, em sua obra, A Divina Comédia, o colocou, junto com Nicolau III e Clemente V, nas regiões
mais baixas do inferno!

Não foi sem razão que Dante pôs Clemente V (1305 a 1314) no inferno; Clemente V defendeu,
em 311, no Concílio de Viena, Bonifácio VIII da culpa pela morte de Celestino V. Foi ele também que
decretou a supressão da Ordem dos Templários, na sua bula Vox in excelso, atendendo ao pedido
do rei francês Filipe, o Belo, que enxergou na ordem um perigo potencial em seu plano de submeter
o pontificado romano ao seu próprio poder. Por ordem de Clemente V, os templários foram presos e
seus bens foram confiscados. Muitos de seus líderes, inclusive o grão-mestre da ordem, Jacques
DeMolay, foram queimados vivos nas fogueiras da Inquisição, sob a falsa acusação de sodomia, ido-
latria e feitiçaria.

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Aula Inquisição

A maioria dos estudiosos coloca o começo da Inquisição oficial com o papa Teodoro I (642-
649), que iniciou a prática de mergulhar sua pena dentro de vinho consagrado antes de assinar a
sentença de morte dos hereges. A Inquisição foi iniciada nesse período, e foi direcionada contra as
heresias dos filósofos herméticos, isto é, os praticantes de Magia Negra da Europa.

A Inquisição foi utilizada em 1183 na perseguição aos cátaros de Albi, no sul da França por
parte de delegados pontifícios, enviados pelo Papa.

Numa época em que o poder religioso se confundia com o poder real, o papa Gregório IX em
20 de Abril de 1233, editou duas bulas que marcam o reinício da Inquisição. Nos séculos seguintes,
ela julgou, absolveu ou condenou e entregou ao Estado (que aplicava a "pena capital", como era
comum na época) vários de seus inimigos propagadores de heresias. Convém lembrar que ser cristão
era entendido para lá de uma religião. Ser cristão era a maneira comum de ser e pensar. Um inimigo
do cristianismo era entendido como inimigo do pensar comum e da identidade nacional.

Em 1252, o Papa Inocêncio IV editou a bula "Ad extirpanda", a qual institucionalizou o Tribunal
da Inquisição e autorizava o uso da tortura. O poder secular era obrigado a contribuir com a atividade
do tribunal da igreja.

Como eram feitos os processos da Inquisição


Nos processos da inquisição a denúncia era prova de culpabilidade, cabendo ao acusado a
prova de sua inocência. O acusado era mantido incomunicável; ninguém, a não ser os agentes da
Inquisição, tinha permissão de falar com ele; nenhum parente podia visitá-lo. Geralmente ficava acor-
rentado. O acusado era o responsável pelo custeio de sua prisão. O julgamento era secreto e parti-
cular, e o acusado tinha de jurar nunca revelar qualquer fato a respeito dele no caso de ser solto.
Nenhuma testemunha era apresentada contra ele, nenhuma lhe era nomeada; os inquisidores afirma-
vam que tal procedimento era necessário para proteger seus informantes.

A tortura só era aplicada depois que uma maioria do tribunal a votava sob pretexto de que o
crime tornara-se provável, embora não certo, pelas provas. Muitas vezes a tortura era decretada e
adiada na esperança de que o medo levasse à confissão. A confissão podia dar direito a uma pena-
lidade mais leve e se fosse condenado à morte apesar de confesso, o sentenciado podia "beneficiar-
se" com a absolvição de um padre para salvá-lo do inferno. A tortura também podia ser aplicada para
que o acusado indicasse nomes de companheiros de heresia. As testemunhas que se contradiziam
podiam ser torturadas para descobrir qual delas estava dizendo a verdade. Não havia limites de idade
para a tortura, meninas de 13 anos e mulheres de 80 anos eram sujeitas à tortura.

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As penas impostas pela inquisição iam desde simples censuras (leves ou humilhantes), pas-
sando pela reclusão carcerária (temporária ou perpétua) e trabalhos forçados nas galeras, até a ex-
comunhão do preso para que fosse entregue às autoridades seculares e levado à fogueira. Castigos
esses normalmente acompanhados de flagelação do condenado e confiscação de seus bens em
favor da igreja. Podia haver privação de herança até da terceira geração de descendentes do conde-
nado. Obrigação de participar de cruzadas também foi pena durante o século XIII. Na prisão perpé-
tua, considerada um gesto de misericórdia, o condenado sobrevivia a pão e água e ficava incomuni-
cável. Nem o processo nem a pena suspendiam-se com a morte, pois a inquisição mandava "queimar
os restos mortais do herege e levar as cinzas ao vento", confiscando as propriedades dos herdeiros.
Havia também, muito comum na inquisição portuguesa e na espanhola, a execução em efígie, onde
era queimada a imagem do condenado, quando este fugia e não era encontrado. Livros também eram
levados à fogueira.

O Manual dos Inquisidores


O inquisidor Nicolau Eymerich, em 1376, escreveu o "Directorium Inquisitorum" (Manual dos
Inquisidores), onde encontramos conceitos, normas processuais a serem seguidas, termos e modelos
de sentenças a serem utilizadas pelos inquisidores:

Muitas das vítimas eram simplesmente queimadas na estaca. Normalmente, essas execuções
na fogueira eram realizadas em público, para que a população visse o que acontecia com aqueles
que enfrentavam Roma. Entretanto, na maioria das vezes, as pessoas que eram queimadas em pú-
blico, primeiro eram torturadas privadamente. Em toda a Europa, os reis e seus súditos sabiam que
os torturadores do papa eram absolutamente os melhores; eles podiam forçar "confissões" por meio
de técnicas de tortura hábeis e os reis sabiam que podiam contar com eles, caso seus homens não
pudessem extrair as confissões.

Os agentes da Inquisição entravam na cidade, armados com a bula papal que autorizava o
líder das forças papais que tinham entrado na cidade. O representante principal do Vaticano cami-
nhava até a praça central da cidade e, cercado por soldados fortemente armados, lia a declaração
papal. Uma vez que a declaração tinha sido lida, os soldados começavam a prender os "hereges" -
definidos como aqueles que discordam da Igreja de Roma. O dogma romano era o padrão, não a
Bíblia Sagrada.

O vazamento dos olhos geralmente era aplicado nas pessoas cultas porque seu meio de vida
e sua paixão na vida eram o estudo acadêmico. Depois que os olhos eram perfurados ou arrancados,
essas pessoas ficavam destituídas e não podiam influenciar mais ninguém com sua "heresia".

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Embora a maior parte das execuções fosse realizada publicamente, a tortura para obter "con-
fissões" era realizada em recintos secretos, normalmente em um calabouço em uma igreja, especifi-
camente projetado para a tortura.

Se uma mulher fosse acusada de bruxaria, ficava na iminência de sofrer uma tortura muito
especial por parte do clero sedento de sexo. Como você descobrirá ao ler o "Malleus Maleficarium",
o manual operacional da Inquisição, as mulheres eram especialmente visadas para perseguição como
prováveis bruxas. Esse termo em latim significa literalmente "Martelo Contra o Mal". A palavra malleus
significa martelo, enquanto malefic significa "produzir o mal ou o desastre" e maleficence significa mal,
dano, maldade".

Caça as Bruxas
Um dos mais hediondos de todos os instrumentos de tortura utilizados contra as mulheres na
Inquisição eram os "fura-bruxas". O "Malleus Maleficarium" declarava que as bruxas têm uma "marca
do Diabo" em algum lugar em seu corpo. Isso exigia que o sacerdote investigador fizesse ele mesmo
uma inspeção minuciosa no corpo nu da pobre mulher.

"Para aumentar o número de toques [perfurações], foi inventada a noção sutil de que a marca
do Diabo deixava um ponto insensível à dor, discernível apenas por um inspetor perito com uma ponta
afiada [uma dessas facas]. Assim, surgiu uma guilda de 'perfuradores de bruxas', que eram remune-
rados apenas quando descobriam uma bruxa, o que por sua vez levou à 'prova cabal' do sistema de
usar uma ponta retrátil auxiliar. O 'perfurador' oficial, tendo dolorosa e visivelmente retirado sangue
de vários pontos da vítima nua, penetrava o perfurador substituto [a faca] ao máximo, surpreendendo
a multidão, e assegurando seus honorários pela bruxa entregue para julgamento." [Thomkins, pg 391]
Em outras palavras, essa faca retrátil não penetrava na carne quando era pressionada com força, mas
retraía para dentro do cabo. No entanto, a multidão não sabia disso, e acreditaria que a razão por que
a mulher não gritava, e por que não jorrava sangue ao ser perfurada, era por que ela era uma bruxa.

O Papel dos Governantes no Processo de Inquisição


A Inquisição na Espanha atuou sob o controle dos reis da Espanha de 1478 até 1834. Esta
Inquisição foi o resultado da Reconquista da Espanha das mãos dos muçulmanos, e da política de
conversão de judeus e muçulmanos espanhóis ao catolicismo. A Inquisição foi um importante instru-
mento na política chamada limpeza de sangue contra os descendentes de judeus e de muçulmanos
convertidos.

No século XV a Espanha não era um estado unificado, mas sim uma confederação de monar-
quias, cada qual com seu administrador, como os Reinos de Aragão e Castela, governados por Fer-
nando e Isabel, respectivamente. No Reino de Aragão (na verdade, uma confederação de Aragão,
Ilhas Baleares, Catalunha e Valencia) havia uma Inquisição local desde a Idade Média, tal como em

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outros países da Europa, porém ainda não havia Inquisição no Reino de Castela e Leão. A maior parte
da Península Ibérica estava sob o governo dos mouros, e as regiões do sul, particularmente Granada,
estavam muito povoadas de muçulmanos. Até 1492, Granada ainda estava sob o controle mouro. As
cidades mais importantes, como Sevilha, Valladolid e Barcelona (capital do Reino de Aragão), tinham
grandes populações de judeus em guetos. Havia uma longa tradição de trabalhos de judeus no Reino
de Aragão. O pai de Fernando, João II de Aragão, indicou Abiathar Crescas, um judeu, como astrólogo
da corte. Muitos judeus ocupavam postos de importância, tanto religiosos como políticos.

a) O aragonês Fernando não pensava usar a religião como meio de controlar o seu povo,
mas sim desejava as religiões judia e muçulmana fora de seus domínios, e a inquisição
foi o meio que usou para atingi-lo. Muitos historiadores creem que a Inquisição foi o mé-
todo usado por Fernando para enfraquecer os seus opositores principais no reino. Possi-
velmente havia também uma motivação econômica: muitos financistas judeus forneceram
o dinheiro que Fernando usou para casar com a rainha de Castela, e vários desses débitos
seriam extintos se o financiador fosse condenado. O inquisidor instalado na Catedral de
Saragoça por Fernando foi assassinado por cristãos novos.
b) O papa não desejava a inquisição instalada na Espanha, porém Fernando insistiu. Ele
persuadiu a Rodrigo Borgia, então bispo de Valencia, a fazer lobby (exercer influência
através de um grupo de pressão) em Roma junto ao papa Sixto IV. Borgia teve êxito com
a instalação da Inquisição em Castela. Mais tarde, Borgia teve apoio espanhol ao seu
papado ao suceder Sixto IV, com o título de papa Alexandre VI.
c) Sixto IV era papa quando a Inquisição foi instalada em Sevilha no ano 1478. Ele foi contra,
devido aos abusos, porém foi forçado a concordar quando Fernando ameaçou negar
apoio militar à Santa Sé. Fernando obteve assim o que desejava: controlar sozinho a In-
quisição espanhola, mas com a bênção do papa.
d) Inquisição, como uma corte religiosa, era operada por autoridades da igreja. Porém se
uma pessoa fosse considerada herege, a punição era entregue às autoridades seculares,
pois "a igreja não derramava sangue".
e) A tortura frequentemente era usada como modo de penitência. As punições variavam: da
mais comum (quase 80% dos casos), que era a vergonha pública (obrigar o uso do sam-
benito, uma roupa de penitente, usar máscaras de metal com formas de burro, usar mor-
daças) até ser queimado em praça pública, quando o crime era mais grave. A morte pelo
garrote (estrangulamento) era usada para os arrependidos.

Essas punições eram feitas em cerimônias públicas, chamadas autos-de-fé, que aconteciam
uma vez por ano na maioria dos casos. Algumas pessoas acusavam outras por vingança, ou para
obter recompensas da Coroa. A própria Coroa Espanhola beneficiava-se, ao desapropriar os bens
dos conversos.

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