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modernidade
INTRODUÇÃO
Dentre as diferentes fases históricas da humanidade, aquela que talvez mais
dúvidas suscite é o período medieval. Falar em medievo remete-nos sempre a um período
de obscuridade, sendo tratado como “idade de trevas”. Não obstante, a era medieval pode
ser considerada imprescindível para compreendermos o significado da formação do
direito moderno, do Estado moderno, e de toda a organização social e política, a que
chamaremos modernidade, bem como seus desmembramentos posteriores na
contemporaneidade.
Todo esse período que passaremos a analisar é fruto da crise do Império Romano,
de um processo de perda de efetividade, que culminará com as conhecidas invasões
bárbaras. Os primórdios dos ordenamentos jurídicos europeus organizam-se sobre as
bases das sociedades romano-germânicas da alta Idade Média (WIEACKER, 1967).
A Idade Média é constituída por dois grandes períodos: a alta idade média, que se
estende dos séculos V a IX§, é marcada pelos direito romano e germânico, bem como
pela formação e desenvolvimento do direito canônico; e a baixa, dos séculos IX a XV,
pelo direito feudal e pelo renascimento do direito romano nas universidades. Podemos,
pois, vislumbrar esse momento histórico embasado na vigência de quatro grandes
ordenamentos jurídicos: um direito de povos germânicos; o direito oriundo da
organização eclesiástica, chamado de direito canônico; o direito feudal; e um processo de
sobrevivência e renascimento do direito romano.
Tendo em conta essa pequena introdução, organizaremos este texto em seis itens:
a organização jurídica dos povos germânicos; o direito canônico e as formações jurídicas
eclesiásticas; o direito feudal; o renascimento do direito romano e a formação das
universidades e da cultura do ensino jurídico; os significados do medievo para a
construção da modernidade; e, por fim, as conexões e genealogias da idade média na
formação do direito penal moderno.
REFERÊNCIAS
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito: geral e Brasil. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas, Rio de Janeiro: Nau, 1999.
__________. Ditos e escritos IV. Estratégia, poder-saber. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2003.
__________. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões, 14ª ed.. Petrópolis: Vozes,
1996.
__________. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2003.
KRITSCH, Raquel. Rumo ao Estado moderno: as raízes medievais de alguns de seus
elementosformadores. In: Revista de Sociologia e Política, n. 23. Curitiba: UFPR, nov.,
2004. Disponível em:www.periodicoscapes.gov.br. Acesso: 23/08/2015.
NOTAS
[1] As migrações germânicas provocaram, nas províncias do Ocidente, encontros de
civilizações originais, frequentemente bem complexas. Desses choques nasceu nossa
civilização medieval, civilização de síntese, onde é difícil distinguir as tradições romanas
e as múltiplas contribuições bárbaras. Desde mais de um século, os historiadores, segundo
as técnicas de pesquisa, os progressos das ciências auxiliares ou mesmo as teses e
correntes de opinião, deram maior ênfase a um outro mundo (Heers, 1991, p. 25).
[2]O direito canônico é o direito da comunidade religiosa dos cristãos, mais especialmente
o direito da Igreja católica. O termo cânon é empregado nos primeiros séculos da Igreja
para designar as decisões dos concílios (Gilissen, 2003, p. 133).
[3]Esta nova sociedade é a sociedade do Diabo. Daí a considerável voga que teve a partir
do século XII na literatura clerical o tema das “filhas do Diabo”, casadas com os vários
estados da sociedade. Por exemplo, numa filha de guarda de um manuscrito florentino do
século XIII podemos ler o seguinte: O diabo tem IX filhas, que casou: a simonia com os
clérigos seculares; a hipocrisia com os monges; a rapina com os cavaleiros; a profanação
com os camponeses; a simulação com os guardas; a fraude com os mercadores; a usura
com os burgueses; a pompa mundana com as matronas; e a luxúria, que ele não quis casar
e que a todos oferece como amante comum (LE GOFF, 1984, p. 18)
GOMES, Julia Araújo; PONTES, Sarah Moraes et al. Direito medieval: heranças jurídico-políticas para a construção
da modernidade. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 23, n. 5318, 22 jan. 2018. Disponível
em: https://jus.com.br/artigos/62006.