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DIREITO MEDIEVAL

(IDADE MÉDIA: 476 d.C. – 1.453)


QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E ALTA IDADE MÉDIA

 A queda do Império romano do ocidente é um longo processo que se inicia


no século IV a.C. e dura mais de um século.
 Fatores que levaram à queda do Império do ocidente:
 - fronteiras muito amplas,
 - corrupção administrativa e militar,
 - perda do “patriotismo” romano,
 - difusão do cristianismo particularmente no exército,
 - invasões bárbaras.
VOLUNTARISMO

 O processo de fragilização e queda do império romano do ocidente é sentido e de certa forma


teorizado por Santo Agostinho, desde o final do século IV d.C. No contexto de fragilização do
império, Santo Agostinho desenvolve sua teoria sobre a Cidade de Deus e o Voluntarismo jurídico.
 Santo Agostinho (354-430 d.C.): Foi responsável por reforçar o conceito de 'pecado original' e
desenvolver o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus, distinta da cidade material dos
homens.
 Voluntarismo: o direito é produto de uma vontade – a vontade divina – cujo conteúdo é em
princípio arbitrário.
 No que tange às leis, Santo Agostinho as dividia em:
 Lei eterna: Direito natural. Em um primeiro momento, o homem não possui acesso à essa lei, por
ser cometedor do pecado original. Entretanto, o homem pode ter acesso ao direito natural através
da fé (usando do livre-arbítrio para olhar para si próprio). A lei eterna, para Agostinho, visa a paz
eterna
 Lei humana: Leis criadas pelos homens para viver em sociedade. Santo Agostinho dizia que era
preciso que a fé orientasse a lei dos homens, de modo que essas leis se tornem minimamente
justas. Esse tipo de lei, para o autor, visava a paz social.
SISTEMA JURÍDICO DOS BÁRBAROS

 Os reinos bárbaros desenvolvem características e legislações


próprias, embora sejam fortemente influenciados pelo direito e
pelos costumes presentes na população (direito e costumes de
origem romana).
 Os diferentes sistemas jurídicos que surgem nos reinos bárbaros
são baseado principalmente nos costumes, no direito romano e na
filosofia de Santo Agostinho (IV d.C.): Cidade de Deus.
REINOS BÁRBAROS

 Com a queda do Império Romano, no reino de Nápoles, São Bento lançou os


fundamentos da ordem Beneditina: “Orar e Trabalhar”.
 Os missionários beneditinos foram ao encontro dos bárbaros para convertê-
los e civiliza-los. (conversão de Clóvis, bárbaro rei dos francos)
 Os beneditinos instruíram as crianças na história sacra e profana; ensinaram
os bárbaros a construir casas de pedra e não viver mais em choças e a
abandonar as práticas cruéis nas quais decidiam as questões jurídicas por
meio de um combate entre autor e réu.
 Os monges ensinaram ainda, a respeitar direito acima da força.
DIREITO GERMÂNICO

Da invasão dos bárbaros ao Império Romano.


- Princípio da pessoalidade (ou personalidade) das leis:
- a) fomentava a coexistência entre tribos diferentes (vândalos, francos etc.) e,
até mesmo, entre romanos e germânicos;
- b) oposição: Igreja Católica que em detrimento do princípio da pessoalidade
preferia pregar o princípio da universalidade das leis;
- c) nos dias de hoje, está em voga o princípio da territorialidade que consiste
na soberania do território.
DIREITO CONSUETUDINÁRIO DOS GERMÂNICOS E FALTA DO
DIREITO ESCRITO:
 a) os povos germânicos não tinham escrita – muitas vezes os romanos que redigiam as leis como no
caso da Lei Sálica;
 b) o seu direito era fundamentado na oralidade;
 c) era, em geral, uma consolidação de costumes.
 - Os Francos e a Lei Sálica:
 1) origem: datada do governo de Clovis I pelo povo franco-sálio;
 2) escrito, em latim bárbaro no século V;
 3) multas que tinham que ser pagas por ofensas e delitos;
 4) terras somente sendo herdadas aos homens, excluindo as mulheres da sucessão à terra dos seus
antepassados.
 5) Ordálio
RELAÇÃO DO IUS CIVILE COM O DIREITO BRASILEIRO

O Corpus Iuris Civilis é um conjunto de obras realizadas sob ordem do Imperador Justiniano do
Império Romano do Oriente entre 527 e 565 d.C.
Digesto (D. 50.17.80; 33): “não é toda a lei antiga que deixa de prevalecer, mas somente aquilo
que se mostra incompatível com a lei nova.”
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei nº 4.657/42) - Art. 2o Não se
destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
[...] § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.
 Digesto, 27, 10, 5: só deverão ser vendidos os bens do executado que se mostrarem suficientes
para a satisfação dos seus débitos.
 CPC - Art. 831. A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos bastem para o pagamento do
principal atualizado, dos juros, das custas e dos honorários advocatícios. (Princípio da
satisfatividade)
RELAÇÃO DO IUS CIVILE COM O DIREITO BRASILEIRO
Digesto: “ninguém pode ser citado dentro de sua própria casa, porque esta é o mais seguro
refúgio e asilo de cada um: e aquele que nela penetra, para citar, estará violando-a” (D. 2, 4, 18,
ad. leg. XII, Tab.).

Artigo 5º, XI da Constituição Federal: a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

O instituto da boa-fé já era previsto no direito romano, como assim já asseverava Gaio em
enunciado incluído no Digesto[12] e repetido no Codex. Assim, aquele que violava este preceito,
era punido com severidade caso exigisse quantia superior à devida, perdendo o credor de má-fé
tanto o excesso exigido como todo o crédito (C. 3, 10, 3).

CC: Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
ESCOLA DE BOLONHA

 Durante os séculos XI ao XV d.C., deu-se início ao seu estudo, tornando a escola de juristas de
Bolonha um laboratório da sabedoria.
 Surgiram dois movimentos jurídicos: os glosadores e os comentadores.
 Séculos XII d.C. – Escola dos Glosadores: buscavam conhecer e esclarecer o sentido original
dos textos de direito romano, das instituições jurídicas.
 Atividade dos glosadores: glosar, fazer anotações nos textos do Corpus Iuris buscando facilitar
ou esclarecer o conteúdo
 Séculos XIII –Escola dos Comentadores: aplicação, adequação do Direito Romano às
necessidades sociais medievais, considerando a filosofia cristã (São Tomás, século XIII d.C.
“cristianiza” Aristóteles e o Direito Romano ao “demonstrar” que estes, mesmo sendo pagãos
expressam a vontade divina).
 Direito
 Durante o período medieval o direito é colocado no centro da sociedade e do social. A falta
de um Estado unitário e de um príncipe que se ocupe em legislar em âmbito privado dá à
sociedade a liberdade de criação das próprias normas e evidencia o papel dos costumes,
principalmente em âmbito das relações privadas.
 Racionalismo
 A partir do século XII o voluntarismo vai sendo contraposto pelo racionalismo. Para o
racionalismo, o direito é acessível através da razão. Nesta linha, no século XIII, São Tomás de
Aquino propõe uma nova compreensão da teologia, muito mais livre legitimando o uso da
razão pelo homem. A partir da concepção de São Tomás de Aquino qualquer pessoa pode
fazer teologia, estudar sobre Deus, mesmo sem ter a inspiração divina.
DIREITO CANÔNICO

 Conceito: Conjunto de regras e de organizações jurídicas que a confissão religiosa cristã adotou no
desenrolar de sua formação para acompanhar a sua dimensão teológica e mística.
 Nesse sentido a Igreja é uma comunidade perfeita e autônoma, que possui um ordenamento jurídico e
como tal possui um direito, próprio e originário, de produzir normas.
 As normas da igreja adquirem a sua juridicidade não através de um poder civil, mas diretamente do
Cristo como divino legislador que busca a salvação das almas.
 O Direito canônico é instrumento do salus aeterna animarum, salvação eterna das almas.
 Constata-se assim a subordinação da dimensão jurídica àquela religiosa.
 O nome Direito canônico é fruto do substantivo cânone (do grego kànon/.a... regra), enquanto regra
adotada no seio da comunidade de fiéis, em contraposição a nomos, enquanto regra da comunidade
civil.
FONTES DO DIREITO CANÔNICO:

 a. Fonte primária: divindade legisladora


 -revelação (Deus se revelou nas sagradas escrituras) e
 -tradição (revelação de Deus por meio do ensinamento transmitido oralmente
pelos apóstolos e recebido e conservado pela Igreja).
 b. Fonte doutrinária: a atividade normativa dos Pontífices, dos concílios
ecumênicos e provinciais e dos Pais da igreja.
FONTES DO DIREITO CANÔNICO:

 A ordem jurídica canônica é, portanto, articulada em dois níveis distintos o de direito


divino e de direito humano:
 a. Direito divino (lei eterna), é um nível superior e que se distingue pela imutabilidade
absoluta, universal e perpetua. Um patrimônio intocável até mesmo para o papa.
Poucas regras essenciais como os mandamentos.
 b. Direito humano: é aquele que a lei divina não estabeleceu diretamente, mas que
foi identificado durante a história humana como instrumento para a salvação das
almas, que é mutável e adaptável, sendo portanto um nível inferior. Um enorme
complexo de regras acumuladas durante a vida histórica da Igreja, para facilitar a
salvação dos fiéis.
PRINCIPAIS LEGADOS PARA O PENSAMENTO JURÍDICO MODERNO -
AEQUITAS CANONICA

 aequitas canonica: elasticidade e versatilidade da regra canônica diante do caso concreto, consideração
racional da peculiaridade de cada caso (evita a aplicação rigorosa da norma e impõe a desigualdade formal).
 A Equidade Canônica transforma-se no “princípio” que contrapõe-se ao formalismo e restabelece uma ordem
substancial.
 A Equidade Canônica defende, portanto, o respeito à palavra dada, reivindicando a responsabilidade moral e
posteriormente jurídica do empenho assumido, em nome da boa-fé.
 Parte-se da concepção de tratar desigualmente os desiguais, não no sentido de marginalizar o pobre e
enaltecer o rico, mas no sentido de considerar a complexidade do caso concreto e os efeitos da aplicação da
norma.
 Os modernos vão pleitear (e conseguir) a substituição do princípio e instituto da equidade canônica pela
aplicação do princípio de isonomia (igualdade de todos perante a lei), tratando igualmente os desiguais.

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