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O direito canónico e a sua importância

O direito canónico teve um significado muito importante no sistema jurídico português,


e que se prolonga até aos tempos modernos bem como em relação, de forma geral aos
restantes países que tinham base cristã.
Entende-se por Direito canónico o conjunto de normas jurídicas que disciplinam as
matérias de competência da igreja católica. Destaca-se aqui a designação de direito
eclesiástico.
Quanto as fontes do direito canónico é considerando a origem ou o modo de formação
das normas. Deverá fazer-se uma distinção entre as fontes de direito divino e as fontes
de direito humano. As primeiras referem-se a sagrada escritura e a tradição. adicionou
se às fontes referidas o costume que já pertenciam ao direito humano.
Como período de direito canónico temos o que ocorre desde o seu Nascimento até
meados do século XII. Numa primeira fase característica das fontes de direito divino
segue-se o desenvolvimento do costume assim como das outras fontes de direito
humano.
Com o desenvolvimento do direito canónico era necessário o seu estudo.
Antes do final do século XI/XII não existia uma ciência do Direito canónico sistemática
e aprofundada que se demarcasse da teologia e do direito romano. No século XII
verificamos uma grande inovação na área do Direito canónico.
O direito canónico era um direito supra estatal, concebido inicialmente para
ordenar a vida eclesiástica, cedo superou o seu âmbito inicial. O direito romano, embora
não adotado como código por si, foi adotado como modelo a seguir, e aceite como
fonte para o direito internacional. Feito este esclarecimento iniciemos o estudo da
ordem canónica, ordenamento jurídico por excelência da época em questão.
As fontes do direito canónico: O direito canónico teve várias fontes na sua elaboração:
A sagrada escritura, ou seja, a Bíblia, dividido em duas fontes individuais: O antigo
testamento, onde se encontram preceitos cerimoniais, entendido como os formalismos
das cerimónias religiosas; preceitos judiciais, nomeadamente através da discrição dos
costumes judaicos; e finalmente preceitos morais.
O novo testamento, donde se faz o decalque do direito divino, aquele revelado
diretamente por deus; do direito divino-apostólico, que consiste no desenvolvimento por
parte dos apóstolos do direito divino; e do direito apostólico, que consiste nas normas
criadas pelos apóstolos no espírito do sistema do direito divino.
A tradição, constituída por um saber translatício (perpetua-se através das
gerações), e que é aceite como verdade pela igreja. Tem três modalidades, a intensiva,
explícita nas sagradas escrituras; a declarativa, implícita nas escrituras, e a constitutiva,
que não vem nas sagradas escrituras.
O costume, que para o direito canónico deveria ser aceite pela razão, deter uma
certa antiguidade, ter racionalidade, e reunir a consensualidade.
Outra fonte do direito canónico é, evidentemente, a legislação elaborada pela igreja,
nomeadamente os cânones compilados como decretais.
A doutrina é o fruto do trabalho interpretativo dos juristas. Estes estendiam que o
seu âmbito de estudo não recaia só sobre o “corpus juris civilis” como também sobre o
“corpus juris canonici”, procurando, por vezes, fazer uma síntese entre os dois,
formando o chamado “utrumque juris”, direito que surge da união do sagrado e do
profano, de importância extrema para os estudos legais atuais
Para concluir a matéria de fontes do direito canónico resta referir as concórdias e as
concordatas, que foram pactos ou acordos entre o monarca de um reino e o clero. A
distinção entre eles deve-se fundamentalmente ao facto de as concórdias terem uma
natureza local, sendo estabelecidas entre o rei e clero nacional, enquanto que as
concordatas teriam uma natureza internacional, sendo estabelecidas entre o rei e a Cúria
Romana. O direito canónico foi aplicado em território nacional, sendo estabelecido a
sua importância nacional na cúria de Coimbra (1211), quando se integrou o direito
canónico no direito nacional, atribuindo a este a supremacia em termos de aplicação nos
tribunais nacionais. Importante será referir que já antes disto o direito canónico era
aplicado com força obrigatória geral, simplesmente a partir desta data fica estabelecido
de vez o seu estatuto.
O direito canónico foi aplicado nos tribunais nacionais, não só nos eclesiásticos,
onde era o único direito existente, como também nos tribunais civis ou seculares. Nos
primeiros, determinava-se quem é que estava sujeito aos tribunais eclesiásticos por dois
critérios, o primeiro era a matéria, ou seja, a questão em disputa; e o segundo era a
pessoa, ou seja, os membros do clero só poderiam ser julgados em tribunais
eclesiásticos. Nos tribunais civis foi utilizado inicialmente como direito preferencial,
passando depois apenas ser aplicável em casos de pecado.

O direito comum

É conhecida a expressão direito comum, várias vezes utilizada. Direito comum (ius
commune) é o sistema normativo de fundo romano que se consolidou com os
comentadores e constituiu a base da experiência jurídica europeia até finais do século
XVIII.
Refere-se ainda o direito comum romano-canónico ou a direito comuns (iura comunia),
o que dá relevo a este segundo elemento (ius canonicum).
Ao direito comum confrontava-se os ordenamentos jurídicos particulares, os direitos
próprios. Têm relevo os direitos locais ou dos Estados, compostos por normas
consuetudinárias e legislativas.
Durante os seculos XII e XIII o direito comum sobrepôs-se às fontes com ele
concorrentes. Existem também referencias ao direito comum com o significado de
direito português, isto quer dizer, o direito que devia aplicar-se de preferência a
qualquer outro, exprimindo a ideia de que o direito romanístico só vigorava como
direito subsidiário no nosso país.

Ordenações

A ordem jurídica portuguesa encontrava-se nas Ordenações do Reino, das quais faziam
parte as Ordenações Afonsinas, as Ordenações Manuelinas, e por último, as Ordenações
Filipinas. Com as Ordenações tinha-se em vista sustentar os aspetos legais da vida dos
portugueses. O direito, pela sua vertente social, foi decisivo no esforço da construção de
uma organização civil. As Ordenações fornecem sem dúvida elementos para a
compreensão do período da sociedade.
Etimologicamente: Verbo ordenar, por em ordem. O quê? O que estava disperso. Já
havia nesta época muitas leis que estavam dispersas. O objetivo de uma grande
compilação é para evitar que se perdessem.

ORDENAÇÕES AFONSINAS

No início do século XV, sente-se a necessidade de uma compilação que reúna as várias
fontes de direito. O rei legisla abundantemente, e isso faz com que nem sempre se tenha
conhecimento da ordem vigente. As ordenações traduziram uma preocupação de
sistematização do direito.
Várias vezes as Cortes tinham pedido a D. João I a organização de uma coletânea em
que se coordenasse e atualizasse o direito vigente.
D. João I, naturalmente sensível ao problema, atendeu a esse pedido e encarregou João
Mendes, corregedor da Corte, de preparar a obra pretendida e fazer as primeiras
ordenações oficiais. Entretanto, ocorria a morte de D. João I e, pouco depois, a de João
Mendes. Por determinação de D. Duarte, a continuação dos trabalhos preparatórios foi
confiada ao Doutor Rui Fernandes, outro jurista de méritos firmados, que pertencia ao
conselho do rei. Porém, a obra ainda não estava concluída no fim do breve governo de
D. Duarte. Falecido este rei, o Infante D. Pedro, regente na menoridade de D. Afonso V,
incitou o compilador a aplicar-se à tarefa. Rui Fernandes viria a considerá-la concluída
em 28 de julho de 1446, na Villa da Arruda, (atual Arruda dos Vinhos), procedeu-se à
sua publicação com o título de ordenações, em nome de D. Afonso V.
Os compiladores reuniram nas Ordenações diversos textos, como textos originais, leis
anteriores, capítulos da corte, respostas a petições ou dúvidas, concórdias e concordatas,
bulas, disposições dos direitos romano e Canónico, costumes gerais e locais, estre
outros, as fontes que vigoravam na época foram reunidas nas ordenações Afonsinas
Quanto ao sistema de compilação existem dois estilos (cada compilador tinha o seu
estilo). O sistema de compilação (João Mendes) é a técnica legislativa (estilo atual).
Os livros II, III, IV e V apresentam um estilo compilatório, no qual se transcrevem as
fontes anteriores e declara-se se os preceitos nelas contidos são confirmados, alterados
ou mesmo negados.
As Ordenações Afonsinas, foram as primeiras ordenações, compilações oficiais da era
moderna. Foram promulgadas durante o reinado de D. Afono V tendo como objetivo
esclarecer a aplicação do direito canônico e romano em Portugal. Mantém-se a estrutura
básica de cinco livros, integrados por títulos e parágrafos. Conserva-se a distribuição
das matérias (as Ordenações Manuelinas ofereçam consideráveis diferenças de
conteúdo). Mas de algum modo, não houve uma transformação radical ou profunda do
direito português. Sob o ponto de vista formal, marca um progresso de técnica
legislativa, que se traduz no facto de os preceitos se apresentarem sistematicamente
redigidos em estilo decretório, como se de novas normas se tratassem.
As Ordenações Afonsinas estão então divididas em cinco livros, (seguindo a
organização dos Decretais de Gregório IX (de 1234 - coletânea de normas pontifícias),
divididos em títulos que por sua vez estão divididos em parágrafos. O Livro I trata dos
cargos públicos. O Livro II trata da matéria relativa à Igreja, dos direitos do rei, da
administração fiscal, privilégios da nobreza, jurisdição dos donatários e da legislação
especial de judeus e mouros. O Livro III trata do processo civil. O Livro IV trata do
direito civil (regras para contratos, testamentos, tutelas, distribuição e aforamento de
terras). E o Livro V trata do direito penal. Cada livro tem uma breve síntese do seu
conteúdo sendo o do livro I o mais extenso uma vez que é nele que se revela a história
da compilação.
É no livro II, que encontramos uma importante lei, que diz por que ordem é que as
fontes que se conheciam se sucederam. Diz o Rei nesta lei que há fontes primárias
(fontes que devem ser aplicadas em primeiro lugar) e fontes secundárias (fontes que só
se aplicam se as fontes primárias não oferecerem solução).
Nas ordenações afonsinas as fontes primárias são três: Lei, que é a fonte do Rei; estilo
da corte, que também acabava por ser do Rei e o costume. Não falta de solução para o
caso, nestas fontes e por esta ordem, é que se recorria às fontes secundárias, que eram:
O direito canónico, direito romano, glosa de Acúrcio, opinião de Bártolo, resolução
régia. Estabeleceram um caracter imperativo da hierarquia das fontes, ou seja, as fontes
do direito nacional seriam as que os tribunais teriam que aplicar, as leis do reino, os
estilos da corte, os costumes e depois tínhamos as fontes mediatas ou as fontes
subsidiárias. Na ausência de direito português então seria possível recorrer ao direito
subsidiário. Há diferenças entre as ordenações em particular das afonsinas para as
manuelinas no que diz respeito à hierarquia das fontes do direito subsidiário.
As Ordenações Afonsinas têm a seguinte hierarquia: Em primeiro lugar, na falta de
direito nacional recorria-se a direito romano e a direito canónico, e aqui pode-se desde
já questionar, qual deles é que tinha maior campo de aplicação, se o direito romano ou o
canónico.
O critério é o seguinte: Distinguiam-se matérias de natureza temporal e matérias de
natureza espiritual e ainda havia o critério do pecado. Em matéria de natureza temporal
aplicava-se o direito romano (salvo, se a solução oferecida pelo direito romano
conduzisse a pecado), esse caso então recorria-se a direito canónico:
O direito canónico aplicava-se nas matérias espirituais e aí com caracter exclusivo,
desde que tivesse solução. Aplicava-se nas matérias temporais quando a solução do
direito romano conduzisse a pecado e ainda nas matérias temporais em que o direito
romano nada dissesse, o que significa que nesta relação entre o direito romano e o
direito canónico, como primeiras fontes subsidiárias de direito nas ordenações afonsinas
há uma clara prevalência de canónico.
O que é um exemplo de pecado? Por exemplo: A usucapião (uma forma de aquisição do
direito de propriedade sobre um bem móvel ou imóvel por se ter utilizado esse bem num
determinado lapso de tempo de forma contínua como se fosse o verdadeiro proprietário)
de má fé ou a chamada prescrição aquisitiva de má fé (como também comtemplada no
nosso código civil), era considerado pecado. Então se o possuidor estava de má fé, esta
era uma solução considerada de pecado e recorria-se a direito canónico. O direito
canónico não permitia a usucapião de má fé. Tudo aquilo que violasse a moral cristã são
exemplos de má fé. Na ausência de direito romano ou canónico para a resolução de
problema, recorria-se de seguida à Glosa de Acúrcio e de seguida à Opinião de Bártolo,
prevalecendo a Glosa de Acúrcio sob a Opinião de Bártolo e a Opinião de Bártolo
prevalecia sob qualquer outra opinião que houvesse da Escola dos Comentadores. Estas
eram as fontes de direito subsidiário, em situação de igualdade, de paridade hierárquica
mas o direito canónico com um campo de aplicação superior, (pelo menos em teoria),
seguida da Glossa de Acúrcio de Opinião de Bártolo. Em último lugar recorria-se ao rei.
Havia uma grande desvalorização do papel do juiz, este tinha sempre que ter uma fonte
de direito, não se apelava a uma atividade criadora do magistrado. Se não tivesse
nenhuma fonte, imediata ou mediata de direito então consultava o rei e este daria a sua
opinião e valeria para casos futuros análogos. De igual modo se recorria ao rei numa
situação muito particular, que era quando o caso concreto, não envolvendo matéria do
pecado, nem matéria que pudesse aplicar-se o direito canónico, não sendo disciplinada
pelo direito romano e havia divergência entre a solução do direito canónico e a solução
oferecida pela Glosa de Acúrcio ou a Opinião de Bártolo, neste caso especifico também
se recorria ao rei. E é esta a hierarquia das fontes subsidiarias nas ordenações afonsinas.
Quais os seus méritos e os seus pontos fracos?
Três méritos são apontados: É a primeira compilação oficial de Portugal; sem estas
ordenações muitas leis que lá se encontram não seriam hoje descritas e revela a
independência do nosso direito, o reconhecimento da superioridade do direito
português. Quanto aos pontos fracos: Uma relativa falta de unidade. Tem de haver um
sistema, uma coerência, aqui há falta, choque entre princípios do direito português e do
direito Romano; leis por vezes atribuídas a um rei que no fundo são de outro. Erro na
autoria de uma determinada lei e por fim as Ordenações Afonsinas tiveram uma duração
de 60 anos. A realidade social muda e as leis podem ser alteradas, existe uma dinâmica.
Mesmo com seus defeitos, estas ordenações assumem uma posição destacada na
história do direito português e simbolizam o final da evolução legislativa que ocorria
desde o reinado de Afonso III. Afirmaram e consolidaram a autonomia do sistema
jurídico nacional no conjunto peninsular, representam o suporte da evolução
subsequente do direito português, servindo ainda de base para as ordenações seguintes,
as Ordenações Manuelinas e Filipinas, que se limitaram a atualizar este código.
Contudo, a sua aplicação não foi constante no Reino e esta Ordenações vigoraram muito
pouco tempo (foram aprovadas no século XV), até as suas sucessoras, as Ordenações
Manuelinas. Sendo que em 1505 já se havia tratado da sua reforma.

ORDENAÇÕES MANUELINAS

As Ordenações Afonsinas vigoraram muito pouco tempo (foram aprovadas no século


XV). Logo em 1505 já se tratou da sua reforma. No reinado de D. Manuel I (1469-
1521), surge uma nova ordem, as sucessoras Ordenações Manuelinas que irão substituir
as Afonsinas. As ordenações Afonsinas estavam desatualizadas, a nova obra foi
promovida então por D. Manuel I, conhecida pelo nome Ordenações Manuelinas.
Três juristas foram encarregados por D.Manuel (Rui Boto, Rui da Grã e João Cotrim)
de procederem à atualização das Ordenações do Reino. Os motivos para a atualização
das Ordenações foram dois: Um deles é a descoberta da imprensa, antes não havia
imprensa o que significava que fazer a mão não era fácil. Com a descoberta da imprensa
as coisas modificam-se. O facto de existir, na época, a imprensa, impôs-se a necessidade
de levar as Ordenações a todo o País, que convinha que estivessem devidamente revistas
e atualizadas; outro motivo foi a vontade do rei Dom Manuel I. Pelo simples facto de D.
Manuel querer ligar o seu nome a uma reforma legislativa de notabilidade. Tudo leva a
crer que ele quisesse vir ligado o seu nome às Ordenações Manuelinas.
Só em 1521, ano da morte do Rei, é que se verificou a edição definitiva das Ordenações
Manuelinas. Em1514 a obra ficou completa. O rei não gostou e mandou destruir todos
os exemplares. 1521 é a data destas Ordenações. Os compiladores utilizaram um estilo,
que tinha sido estilo de João Mendes. A sistematização mantém-se.
Nas ordenações manuelinas, D. Manuel, um monarca particularmente importante na
historia de Portugal, com renome internacional, impulsionador dos descobrimentos, em
matéria de direito subsidiário, em primeiro lugar quanto ao direito romano e canónico
deixou de se usar o critério das matérias temporais e espirituais, ou seja, na ausência de
fonte de direito imediata, aplicava-se me primeiro lugar o direito romano, salvo se a
solução do direito romano conduzisse a pecado. O único critério agora que pode levar à
não aplicação de direito romano é se a sua solução conduzir a pecado a pecado, por
outras palavras, não havendo distinção entre matérias de natureza temporal e de
natureza espiritual significa que, somente se a solução do direito romano conduzisse a
pecado e o direito romano nada dissesse ou referisse é que se recorria a direito canónico.
Sem dúvida que aqui temos uma prevalência do direito romano (pelo menos no que toca
à teoria) sob o direito canónico. Esta é uma grande mudança das Ordenações Afonsinas
para as Ordenações Manuelinas. Segunda grande mudança prende-se com a Glosa de
Acúrcio e Opinião de Bártolo, que se estabelece que nenhuma das duas podem ser
contrarias a opinião comum dos doutores, (pela primeira vez é feita aqui a referencia à
Opinão Comum dos Doutores. Mas a Opinião Comum dos Doutores não era uma fonte
autónoma de direito subsidiário, funcionava apenas digamos como que um filtro da
Glosa de Acúrcio e o Comentário de Bártolo. Ou seja, se o direito canónico e o direito
romano nada referissem, passava-se a Glosa de Acúrcio mas desde que a solução
proporcionada pela Glosa de Acúrcio não contrariasse a Opinião Comum dos Doutores,
se contrariasse não se aplicava então passava-se ao Comentário de Bártolo desde que
este não contrariasse a Opinião Comum dos Doutores, parece ser este o sentido e não
como uma fonte autónoma de direito subsidiário.

Fontes subsidiárias são fontes mediatas do direito (um existir recorre-se ao direito
mediato, Subsidiário, Direito Romano, Direito canónico, glosa da acurcio, A opinião
comum dos doutores) e não imediatas (Lei, o costume, o estilo da corte).
Comparação entre as ordenações Afonsinas e Manuelinas

Há matérias que aparecem nas ordenações Afonsinas e que não aparecem nas
ordenações manuelinas (legislação entre mortos e judeus).
Afastado o direito de avoenga (Preferência de um familiar) nas ordenações manuelinas.
Matéria nova nas ordenações manuelinas, faculdade a fazer assentos (assentar é
registar). Se uma lei fosse suscetível de interpretações diferentes, temos duas soluções
diferentes. Instabilidade e insegurança. Interpretação autêntica. Fez uma lei que
havendo dúvidas eram resolvidas na casa da suplicação. Registada num livro na casa da
suplicação. Assentos que nada mais são que em que a interpretação autêntica do rei.

Alterações introduzidas pelas Ordenações Manuelinas e pelas Ordenações


Filipinas

Os preceitos afonsinos sobre o direito subsidiário passaram fundamentalmente às


Ordenações Manuelinas (livro II, título. 5) e destas às Ordenações Filipinas (livro III,
tít. 64) e sofreram ampla remodelação. A única mudança entre as Ordenações
Manuelinas e as Ordenações Filipinas foi a mudança da lista de fontes para um livro
diferente, respeitante ao direito processual. As diferenças foram:
1. Quanto à aplicação dos textos de direito romano e de direito canónico, deixa-se
de referir a distinção entre os problemas jurídicos temporais e espirituais.
Apenas se consagra o critério do pecado.
2. A respeito da Glosa de Acúrsio e da Opinião de Bártolo, estabelece-se o requisito
de a “comum opinião dos doutores” não contrair essas fontes. Antes de utilizar
a Glosa de Acúrsio e a Opinião de Bártolo, tinha-se de utilizar a opinião comum.
Portanto, a ordem das fontes a utilizar para resolver a questão das lacunas é:
1ª Direito Romano e o Direito Canónico; 2ª Opinião Comum dos Doutores; 3ª Glosa de
Acúrsio e a Opinião de Bártolo; 4ª Resolução do Monarca

Coleção das Leis Extravagantes de D. Duarte Nunes de Leão

O movimento legislativo não para em virtude das necessidades da vida. Iniciativa do


cardeal Dom Henrique, mandou fazer uma nova compilação que não revogava as
ordenações manuelinas, mas destinavam-se a vigorar a seu lado, a Coleção das Leis
Extravagantes de D. Duarte (jurista, linguista e historiador português, de origem
judaica, nasceu em Évora, provavelmente em 1530), tendo desempenhando o cargo de
desembargador na Casa da Suplicação.
Que motivos? A circunstância das Ordenações Manuelinas estarem desatualizadas, por
outro lado temos uma figura nova que importaria fazer uma nova compilação. Tiveram
um carácter oficial, vinculativo, aplicadas nos nossos tribunais. Com que estilo, com
que técnica legislativa? Uma obra que não fosse volumosa (foi a preocupação), estilo
sintético, compilação de resumos. Atualmente sem ela não teríamos conhecimento de
muitas leis, e revela-se numa fonte de história importante. A data desta nova compilação
é de 1569.
Com as Ordenações Manuelinas, começaram a aparecer vários diplomas avulsos. Estes
para além de revogarem, alterarem e esclarecerem muitos dos seus preceitos, mas
também ordenavam sobre matérias inovadoras. Acrescia assim abundantes
interpretações vinculativas dos assentos da Casa da Suplicação. E assim sendo tornou-se
urgente a elaboração de uma coletânea que constituísse um complemento sistematizado
das Ordenações, permitindo a certeza e a segurança do direito. Foi o Cardeal D.
Henrique (regente de D. Sebastião), que encarregou Duarte Nunes do Lião de a
organizar um resumo do direito extravagante, ou, por outras palavras, o direito que
vigorava fora das Ordenações Manuelinas. A coletânea é composta de seis partes, que
disciplinam: os ofícios e os oficiais régios; as jurisdições e os privilégios; as causas
sobre os trâmites dos processos nos tribunais; os delitos; a fazenda real; e outras
matérias diversas. Cada uma das partes compreende vários títulos, cujos preceitos se
designam leis. Existem duas edições: uma de 1569 e a outra, no século XVII, por parte
da Universidade de Coimbra, com intenção de estudo histórico.

Ordenações Afonsinas, Manuelinas, Filipinas e as Leis de Dom Duarte são compilações


do direito vigente (é uma consolidação do direito vigente).

Ordenações Filipinas

Portugal perdeu a sua independência. Novas ordenações que acabassem com as


Manuelinas e as Leis Extravagantes, temos as Ordenações Filipinas. Que motivos?
Depois de 1579 o movimento legislativo não parou, as leis depois de 1579 ficavam de
fora, havia que compilar essas novas leis, junta-las às leis posteriores. Depois havia os
Assentos da Casa da Suplicação, importava inserir-las aqui e finalmente a habilidade
política do rei.
A Coleção das Leis Extravagantes não foi mais do que de simples obra intercalar.
Impunha-se agora uma reforma profunda das Ordenações Manuelinas. O rei revê o
desejo de modernizar o corpo legislativo e demonstrar completo respeito pelas
instituições portuguesas. Os trabalhos de preparação da compilação filipina foram
iniciados entre 1583 e 1585 e contavam com a colaboração de Jorge de Cabedo, Afonso
Vaz Tenreiro e Duarte Nunes do Lião. As novas Ordenações ficaram concluídas em
1595 e receberam aprovação por Lei de 5 de junho desse mesmo ano, mas não
produziram logo efeitos. Foi só no reinado de Filipe II, que iniciou a sua vigência,
sendo as Ordenações que mais tempo vigoraram em Portugal. As ordenações Filipinas,
estas não alteraram nada na hierarquia das fontes subsidiárias de direito que vinha das
ordenações manuelinas. Continuaram a utilizar o sistema de cinco livros, subdivididos
em títulos e parágrafos. Cinco livros, a sistematização anterior igual, decretais do papa
Gregório. Não houve diferenças substanciais quanto ao conteúdo dos vários livros.
Tratou-se antes de uma pura revisão atualizadora das Ordenações Manuelinas. Apenas
se realizou a reunião das prescrições manuelinas e dos muitos preceitos subsequentes
que se mantinham em vigor. Com algumas alterações.
A principal motivação terá sido política. Estiveram em vigor até 1867. Compilação com
vigência secular. Alterações são poucas, objetivo de respeitar o direito português.
O rei mandou fazer as ordenações Filipinas para mostrar aos portugueses que sendo
estrangeiro respeitava o direito português, uma maneira exprimir simpatia. Ele não quis
inovar, não inseriu direito espanhol, teve uma função não inovadora.
Normas que permitem responder esta pergunta “Quem é português?” Temos o critério
do sangue e o critério do território. É a português quem fosse filho de portugueses e
habitasse em Portugal. Nas Ordenações Filipinas aplicam-se os dois critérios, com
predomínio da territorialidade.
Uma das grandes alterações é a matéria do direito subsidiário. Apenas esta matéria do
direito subsidiário deixou de estar consagrada no livro II das ordenações que diz
respeito aos direitos das diversas classes sociais (direitos do rei, da igreja, etc), e passou
a estar no livro III sobre o processo.
Esta mudança revela uma perspetiva diferente do problema do preenchimento das
lacunas (no que diz respeito a matéria de direito subsidiário). O que significa que pela
primeira vez temos uma qualificação diferente do problema do direito subsidiário, já
não estamos sobre uma problemática inserida no livro II que dizia respeito ao conflito
entre a igreja e o estado e encara-se a problemática do direito subsidiário, como uma
técnica para integrar lacunas e por isso vai para o livro III, é um problema técnico-
jurídico, não é um problema politico. Esta é alteração das ordenações filipinas.
Podemos ver nestas Ordenações um conjunto de preceitos sobre o direito de
nacionalidade. Declaradas revogadas todas as normas legais não incluídas na
compilação, apenas com nota das transcritas em livro conservado na Casa da
Suplicação, das Ordenações da Fazenda e dos Artigos das Sisas.
As Ordenações Filipinas sobreviveram à Revolução de 1640.
Os compiladores destas Ordenações, chamados filipinos, tiveram o cuidado de rever e
coordenar o direito vigente, reduzindo-se ao mínimo as inovações. O que fizeram foi
uma simples atualização das Ordenações Manuelinas. Só que o trabalho não foi
realizado apenas acrescentando o novo ao antigo. Quiseram respeitar tanto o direito
antigo mas acabou-se por não se perceber o que era antigo e o que era novo.
O que resultou em normas revogadas ou em desuso, faltas de clareza e contradições.
Na prática havia uma grande confusão. Uma coisa era o que as ordenações diziam outra
era o que os tribunais faziam. A pratica era muto diferente.
A ausência de originalidade e os outros defeitos recebem pelos fins do século XVIII o
nome de “filipismos”. As ordenações Filipinas 1603 entraram em vigor. Existem várias
edições. Em 1603 e outras a 1773 e 1789 a 1865.
Foram as ordenações que tiveram mais vigência. Entre 1603 (início) e 1667 (fim),
decorreram 264 anos, muito tempo que vigoraram estas Ordenações. Trata-se de uma
obra extraordinária. Uma obra vigente 264 anos é porque se trata de uma obra de
mérito, e isto apaga todos os defeitos, sobre o nome de filipismos (Conjunto de
defeitos), falta de originalidade, falta de clareza, falta de cuidado, contradição entre
princípios jurídicos. São defeitos, mas não apaga um grande mérito destas ordenações
em Portugal. E a partir daqui? Aa ordenações Filipinas foram lentamente caindo em
desatualização.
Aos diplomas que as Ordenações Filipinas não revogaram ou que continuaram a aplicar-
se, outros se juntaram. A coletânea filipina alterou-se ou complementou-se por um
grupo, importante e extenso de diplomas legais avulsos, a Legislação Extravagante.
Aqui utiliza-se o conceito de lei num sentido muito mais amplo do que aquele que lhe
corresponde no direito moderno. Qualificava-se como lei, toda e qualquer manifestação
da vontade soberana destinada a introduzir alterações na ordem jurídica estabelecida.
Esta legislação extravagante destinava-se à manutenção da ordem pública, à
administração da justiça e à cobrança dos impostos.
Espécies de diplomas – Continuava-se a centralizar-se no monarca a criação do direito.
A sua vontade legislativa manifestava-se de formas diversas. E, portanto, temos vários
tipos de diplomas:

Cartas de Lei e os Alvarás - apresentavam o traço comum de passar pela


cartas de Lei e os Alvarás – apresentavam o traço comum de passar pela
chancelaria régia, embora existissem diferenças formais e de duração. Quanto
ao formulário, as cartas de lei começavam pelo nome próprio do monarca, ao
pass que os alvarás continham a simples expressão “Eu ElRei”; e criou-se a
prática de, na assinatura, aparecer apenas “ElRei” ou “Rei”. Quanto à duração:
deviam promulgar-se em carta de lei as disposições destinadas a vigorar mais do
que um ano e através de alvará as que tivessem vigência inferior.
Decretos – não principiavam pelo nome do monarca e, normalmente, se dirigiam
Decretos – não principiavam pelo nome do monarca, se dirigiam a um ministro ou
tribunal, terminavam com uma expressão endereçada ao
destinatário.
artas Régias – eram verdadeiras cartas, mas a sua escrita variada conforme
Cartas Régias – eram verdadeiras cartas, mas a sua escrita variada conforme a
classe social que o destinatário pertencia. Acabavam sempre com a palavra “Rei”
Resoluções – são os diplomas em que o monarca respondia às consultas que os
tribunais lhe apresentavam, normalmente acompanhadas dos pareceres dos juízes
respectivos. Tornavam-se leis gerais.
Provisões - são os diplomas que os tribunais expediam em nome e por determinação do
monarca. Cabiam no conceito amplo lei
Portarias e os Avisos - Tratava-se de aguardem as pedidas pelos secretários de Estado,
em nome do monarca. Distinguiam-se pelo facto das portarias serem diplomas de
aplicação geral, ao passo que os avisos se destinavam a um tribunal, a O magistrado, a
uma corporação ou até um simples particular.
“Rei”

Notas (santos justo)


Cartas de lei (superior a um ano) e alvarás (vigência inferior a um ano) - diplomas
solenes. Decreto-lei do rei dirigida a um tribunal o ministro (Leis menos importantes).
Cartas régias – epístolas que o rei dirige a determinadas pessoas.
Resoluções – respostas que o rei dá
Provisões – diplomas os pedidos pelo tribunal em nome do rei.
Portarias e avisos – ordem despedidas por secretários de Estado em nome do rei.
Qual a vacacio legis? Nas leis que vigoravam em todo o país a vacacio legis eram de
três meses e em relação a Corte oito meses.

Fontes de direito português e subsidiário

Fontes imediatas e mediatas. São leis previstas nas nossas ordenações, a lei, o estilo da
Corte e o costume.
A lei, diploma com alguma solenidade que manifesta a vontade do rei.
Estilo da corte, jurisprudência constante e uniforme dos tribunais superiores. Carácter
vinculativo no presente e no futuro. Para que fosse fonte do direito em Portugal teria
que ter três requisitos: duração de três anos; constante a partir da segunda decisão destes
tribunais, não contra lei.
O costume era na altura aquilo que é hoje. Elemento material e espiritual. Isto já vem
desde 1248, esta noção do costume é uma nação científica. O costume traduza vontade
tácita do rei. Se ele não afasta (o rei) o vincula, manifestação da sua vontade. Três as
espécies de costumes. O costume só tinha carácter vinculativo a partir da segunda
sentença do Tribunal, 2º Deve ter racionalidade, quanto ao tempo, o costume além da lei
deve ter uma duração mínima de 10 anos e contra lei de 40 anos. Se não houver lei,
hostil da Corte e costumes estamos perante uma lacuna um problema com a reclama
uma solução. A integração de lacunas integrava-se recorrendo a um outro direito, o
direito subsidiário.
O nosso direito era muito lacunoso por isso recorria-se com muita frequência ao direito
subsidiário.
Ordenações Afonsinas, como aplicar o direito subsidiário? Antes das ordenações
Afonsinas, os nossos tribunais eram livres de aplicar o direito romano, canónico e
castelhano. A partir daqui os nossos tribunais estão determinados a seguir as ordens
afonsinas.
Primeiro lugar deve recorrer ao direito romano para procurar a resposta à lacuna,
quando contrariam o direito canónico, aplica-se este, se a solução violar a ética cristã.
Glosa de Acúrcio, dá corre saí isto sendo lacunosa mandam recorrer a escola de Bártolo.
Se falhar as ordenações Afonsinas mandam recorrer ao rei para integrar essa lacuna
como rei devia resolver o problema no caso de contradições.
Ordenações manuelinas, como integravam as lacunas? Alterações, desapareceu a
distinção entre matéria espiritual ou temporal. Mandam recorrer ao direito romano
(Solução igual a das ordenações Afonsinas), segundo lugar ao Direito canónico (solução
também igual). Sendo lacunoso o direito canónico, a glosa de Acúrcio, e se também for
à opinião de Bártolo, mas se for em contrário a opinião dos doutores (que é de afastar a
glosa da curso e opinião de barco), deve ser resolvido pelo rei. A opinião dos doutores é
a via para o rei, importante. Opinião dos doutores não é direito subsidiário, o que deve
ser é recorrer ao rei.
Será que os tribunais portugueses obedeceram o direito subsidiário? Três desvios,
primeiro os tribunais resolvermos lacunas através de soluções dos doutores (fizeram um
direito subsidiário, que não era), segundo direito castelhano, os nossos tribunais por
vezes aplicar o direito, terceiro os nossos tribunais aplicar o direito romano e canónico
pondo de parte do direito português. Mostraram que a prática nem sempre seguiu as
nossas ordenações.

Direito subsidiário É algo diverso daquilo que hoje se entende. O direito português
tinha muitas lacunas. Todas as fontes de direito não eram suficientes para integrar as
lacunas. Este sistema de lacunas que é +1 sistema de fontes de direito significa um
papel pouco relevante por parte do juiz. Aqui havia uma necessidade do juiz ter outra
fonte de direito, e em última instância perguntava ao rei , Este mecanismo só termina no
século XIX. Este sistema de integração de lacunas são verdadeiras fontes E isto também
era uma justificação de que o direito português não era autónomo. Só no século XIX? É
que se vai dizer que os códigos são perfeitos (positivismo), completos perfeitos.
Assume-se que o direito português não é autónomo e assume-se que o juiz tem um
papel pouco relevante. Não estamos perante um problema de lacunas propriamente dito”
É também um problema político (de relevância extrema) relevância do Estado sobre a
igreja.

Fontes de direito subsidiário:


Direito Romano (conforme a boa razão)
Leis de nações cristãs e polidas
A opinião comum dos doutores era um filtro (da glosa da opinião de Bártolo), para a
maioria não era uma fonte autónoma.
Opinião comum dos doutores não era uma fonte autónoma e quando afasta a gulosa é
opinião de Bártolo naturalmente caiu opinião comum dos doutores porquê altímetro
Direito Subsidiário

Devido ao facto de as Ordenaçõe Afonsinas estarem incompletas e a respeito pelas


Ordenações Manuelinas e das Ordenações Afonsinas, levantou-se o problema da
integração das lacunas de lei, ou seja, do direito a aplicar subsidiariamente.
Problema do Direito Subsidiário

Entende-se por direito subsidiário um sistema de normas jurídicas chamado a colmatar


as lacunas de outro sistema. Tratar-se-á de direito subsidiário geral ou especial, quando
se preencham as lacunas de uma ordem jurídica na sua totalidade, ou tão-só de um ramo
do direito ou simples instituição. O problema do direito subsidiário está ligado de um
modo particular ao das lacunas e mesmo ao das fontes do direito. Vincula-se a uma
compreensão específica e a um certo estádio histórico e metodológico da evolução de
tais questões. Este problema está dependente de dois pressupostos: 1) ausência de um
ordenamento jurídico ara responder à questão; 2) e a possibilidade de remeter o
julgador para quaisquer ordenamentos jurídicos disponíveis para a resolução da
lacuna.

Fontes de direito subsidiário segundo as Ordenações Afonsinas

Apenas com as Ordenações Afonsinas se estabeleceu um quadro sistemático das fontes


de direito, que eram: as leis do Reino, os Estilos da Corte (a Casa da Suplicação e a
Casa do Cível), e os costumes antigamente usados. O legislador afonsino tem como
fontes para resolver a questão das lacunas (que se encontram no livro II, tít. 9), na
ordem seguinte:
1. Direito Romano e Direito Canónico – na falta de direito nacional (na lei, no estilo
da Corte ou no costume), caberia utilizar, em primeiro o lugar, o direito romano
e o direito canónico (só nos casos que a aplicação do direito romano levasse ao
pecado). O direito canónico prevalecia sobre o direito romano, nas questões de
ordem espiritual e temporal.
2. Glosa de Acúrsio e Opinião de Bártolo – se não encontrasse solução no direito
romano ou no canónico, devia atender-se à Glosa de Acúrsio (todo o conjunto
de resumos sobre o Corpus Iuris Civilis) e, em caso, negativo, teria de se recorrer
à Opinião de Bártolo (opinião do jurista).
Resolução do Monarca – sempre que não se conseguisse disciplina para o caso
omissivo (as lacunas), impunha-se a consulta do Rei.
Legislação manuelina – Assentos e reforma dos forais

Assentos

É um registo da casa da suplicação. Contém interpretações autênticas das leis. A lógica


dos assentos acabou-se, situação caótica. E foi a lei da boa razão que determinou que os
assentos só fossem válidos pela casa da suplicação. E assim se afastou caos graças a lei
de 1969 (lei da boa razão).

Os monarcas, assim como tinham o direito de legislar, possuía direito de interpretar as


suas leis. Faziam-no em Relação dos tribunais superiores – a Casa da
Suplicação e a Casa do Cível. No Livro de Posses da Casa do Cível, como anota João
Pedro Ribeiro, acham-se 12 assentos assinados pelo rei e no Livrinho da Casa
da Suplicação, aparecem assentos tomados na presença do Regente do Reino o Infante
D.Pedro, bem como de D. Afonso e monarcas posteriores. As dúvidas de interpretação
da lei foram remetidas para o monarca, nos termos previstos nas Ordenações Afonsinas.
Num dos assentos de D. Afonso V constante do Livrinho da Casa da Suplicação, diz-se
expressamente, que foi tomado com o parecer dos membros das duas Casas. Foi D.
Manuel, todavia, quem pela lei de 10 de Dezembro de 1518 delegou na Casa o poder de
resolver por assento e com autoridade legal os casos duvidosos. De acordo com essa lei,
porém, o valor dos assentos é restrito ao processo em que a dúvida se suscita; não é
arvorada a decisão em regra para outras causas. Os assentos com valor legal genérico
resultam da ampliação do disposto no alvará de 10 de Dezembro de 1518 feita pelas
Ordenações Manuelinas.
Com a extinção da Casa do Cível e a criação substitutiva de 1 Relação do Porto, as
dúvidas passaram também a ser da competência desta. E o estabelecimento de Relações
Ultramarinas (2 no Brasil e 1 no Oriente) deu origem a que estas se arrogassem, por
igual, a faculdade de produzir assentos.
Dos assentos das Relações subalternas (Porto e Ultramar) cabia, no domínio da Lei
da Boa Razão, recurso para a Casa da Suplicação. No caso dos Assentos da Suplicação
ficava sempre aberto o recurso para o monarca.
O papeldos assentos, de acordo com a célebre lei pombalina, era meramente
interpretativo e, por isso, não constituíam via adequada para a resolução dos casos
omissos, que devam ser levados ao conhecimento do soberano, para este os integrar.
Conforme os assentos tivessem por objecto a decisão particular de dúvida em certa
causa, sem dele se originar regra autêntica para outras causas, ou, pelo contrário, os seu
efeitos passassem a ser genéricos, assim se chamavam Assentos de Autos ou Assentos
Legais. Havia ainda assentos respeitantes à própria disciplina da Casa de que emanavam
que se denominavam Assentos Económicos. Apenas os assentos legais eram
considerados leis.
Estilos da corte

Nas Ordenações Afonsinas como depois nas Ordenações Manuelinas e nas Filipinas
menciona-se, entre as fontes do direito, o estilo da Corte.
O conceito de estilo não era unívoco, sendo certo todavia, que se tratava de 1
costume de origem judiciária, isto é, aparecido em tribunal. Não estavam os autores de
acordo não só quanto á sua génese em concreto – costume derivado da prática de 1 ou
mais de 1 juiz?- como quanto à matéria – para alguns, o estilo respeitava ao direito
adjectivo ou como se dizia à ordem do processo (modo de ver perfilhado já por
Bártolo); para outros, ao contrário, os estilo poderia concernir igualmente ao fundo da
causa. O estilo (que se formava nos tribunais de última instância ou superiores) devia,
como as demais fontes de direito, obedecer a certos requisitos. Nomeadamente, não
devia, tal como qualquer acto judicial, contrariar a lei; devia ser prescrito, ou seja,
existir à mais de 10 anos; e ainda ser plural, quer dizer que não bastava 1 acto judicial
para se ter um estilo, antes se impunha a multiplicidade de actos. Depois do Assento de
20 deDezembro de 1757, julgou-se que o estilo devia ser também conforme à Boa
Razão.
De acordo com as Ordenações, os estilos da Corte legitimamente estabelecidos
constituíam lei e se deviam observar como tal (desde que aprovados por Assento).
Por força de 1 diploma de 7 de Junho de 1605 só eram tidos por estilos os que
fossem estabelecidos e aprovados por Assento da Mesa Grande. Embora considerado
como lei e valesse como lei, carecia o estilo de ser provado, o que se fazia por atestação
dos Desembargadores ou Advogados. Os estilos foram compilados por João Martins da
Costa, mas em relação aos nãoconfirmados por Assento não se lhes devia conferir maior
autoridade que a qualquer praxista, na opinião de Corrêa-Telles.

Reforma dos Forais

Relações entre moradores e entidade ortorgante desses forais.


Pagamento. Chegámos ao rei do Manuel e se os forais eram ortogrados por várias
identidades, tinham conteúdos diferentes. Por isso imponha-se acabar com estas
diferenças. Assistimos nesta época ao fortalecimento do poder do rei encontra partida a
localidades é que foram concedidas enfraqueciam.
Os produtos eram usados, medidas que deixaram de existir. Sistema obsoleto, forma de
forais impunha-se. Finalmente haviam forais falsificados. O espírito de falsificação dia,
necessário fazer então uma forma de forais e do Manuel I fez essa reforma. Depois
dessa forma temos três tipos de forais: antes do reinado Dom Manuel, velhos; pelo
próprio Dom Manuel, novos ou manuelinos; posteriores, forais novíssimos.
Efeito produza está a forma? Os florais tornaram-se em meros registos de tributos, listas
daquilo que deveria ser pago.
Interpretação da Lei através dos assentos

O problema da interpretação da lei no sentido universalmente vinculativo para futuro foi


disciplinado por um diploma da segunda década do século XVI. Determinou-se que,
surgindo dúvidas aos desembargadores da Casa da Suplicação sobre o entendimento de
algum preceito, tais dúvidas deveriam ser levadas ao regedor do mesmo tribunal. Este
convocaria os desembargadores que entendesse e fixava a interpretação que se
considerasse mais adequada. O regedor da Casa da Suplicação poderia submeter a
dúvida a resolução do monarca, se subsistissem dificuldades interpretativas. As
definidas ficavam registadas no Livro dos Assentos e tinham força imperativa para
futuros casos idênticos. Os assentos como jurisprudência obrigatória.
A Casa da Suplicação era o tribunal superior do Reino, que acompanhava a Corte, mas
que acabaria por se fixar em Lisboa. Também em Lisboa funcionava a Casa do Cível,
que constituía uma segunda instância, competente para conhecer dos recursos das
causas cíveis (civis e económicas) de todo o País, ressalvadas as sentenças proferidas no
local onde se encontrasse a Corte. Com o objetivo de descentralizar os tribunais, Filipe
I, em 1582, deslocou a Casa do Cível para o Porto, transformando-a na Relação do
Porto, que funcionava como tribunal de segunda e última instância. A Relação do Porto
ficou com grande autonomia em face das comarcas do Norte, pelo que os
desembargadores da Relação do Porto se arrogaram (atribuíram para si próprios) o
direito de proferir também assentos normativos, daí que resultou confusões e
contradições interpretativas. Com a influência do que ocorrerá na Relação do
Porto, também as Relações do Ultramar fizeram o mesmo, todas elas passaram a tirar
assentos interpretativos. Com isto, foi necessário por fim a este abuso, com a Lei da Boa
Razão, de 18 de agosto de 1769, que estabeleceu que só os assentos da Casa da
Suplicação teriam eficácia interpretativa.

Estilos da Corte. O costume

Estilos da Corte – As Ordenações indicam, como fontes do direito nacional, ao lado da


lei, os estilos da Corte e o costume. Entre nós, o conceito de estilo adquiriu o sentido
generalizado de jurisprudência uniforme e constante dos tribunais superiores. De
acordo com a posição dominante, os requisitos seriam: 1) que não se apresentasse
contrário à lei; 2) que tivesse prescrito, que possuísse uma antiguidade de 10 anos ou
mais; 3) que fosse introduzido através de dois atos conformes de tribunal superior.

Costume – O costume constitui a fonte predominante do sistema jurídico dos começos


da nacionalidade, mas que principiou a ceder essa posição à lei desde meados do
século XIII. O direito novo passa a criar-se por via legislativa. O costume mantinha a
eficácia, nas Ordenações, de fonte de direito, tanto se fosse conforme à lei ou se a
contrariasse. As Ordenações Afonsinas limitam-se a consagrar a vigência do costume
do Reino antigamente usado. Mas já as Ordenações Manuelinas estabelecem alguma
especificação: salienta-se a validade dos costumes locais no mesmo plano dos costumes
gerais e restringe-se a observância do costume como fonte imediata, aos casos que a
doutrina romanística e canonística admitisse a sua vigência.

Noção de direito comum-direito romano canónico-fontes do direito português até às


ordenações Afonsinas, manuelinas e Filipinas, temática sempre abordada

RENASCENÇA

Nos séculos XI/XVI, a Renascença estabelece passagem da idade média para a Idade
Moderna. Renascença significa renascer, alguma coisa que já nasceu e se afastou.
Renascimento, movimento cultural daquilo que se tinha perdido, a cultura greco-
romana. No século XV e XVI recupera essa cultura clássica, movimento intenso e
profundo chamado a Renascença. Recuperação da cultura clássica. 1453 o início da
Renascença. Conquista de Constantinopla, os romanos fugiram para Itália. Com a
destruição da sua cultura fugiram para Florença e Veneza. Com grandes reflexos, muito
profundo, movimento cultural que transformou a sociedade e o homem passa a ser ativo
e interessado, que tem um papel decisivo, que tenho poder de eleger os seus
governantes. Elemento de grande movimentação. O homem volta a ser a medida todas
as coisas. Homem novo desligado da figura do homem medieval, que valoriza a cultura,
as artes, literatura. É um movimento heterogéneo, No campo político dá-se a
consolidação dos estados com a fixação das fronteiras e afirmação do Espírito
nacionalista. Juridicamente Renascença ou com essa liberdade interpretação (communio
opinio docturum) pretendendo-se a substituição do método escolástico pelo método
histórico-crítico implica afastamento da idade média com o surgimento da idade
moderna. Causas: a tomada de Constantinopla provocou a imigração para Itália.
Descoberta da imprensa, com ela o aumento de livros é tão grande que as pessoas
passaram a ler. Aumento do saber, esta difusão do livro é uma ambição cultural, passa o
homem a ser mais culto. Terceira causa, os descobrimentos, a descoberta de novas terras
provocou um abalo na região (sai empobrecida). Abre a porta ao laicismo, sociedade
laica, Comércio, especiarias, Indústria e este comércio era riqueza e bem-estar, diminui
a criminalidade. Aumento da segurança depois ano muita fome e menos criminalidade.
As pessoas reúnem-se e desculpem, propõe revoluções, podem se deslocar a noite.
Acréscimo de bem-estar. A decadência da escola dos comentadores porque pelo uso e
abuso da opinião comum dos doutores (isto é, a e Opinião Comum dos Doutores).
Método dos comentadores, escolástico, leitura de um texto, de um caso prático, caso
concreto, momento da questionação. Depois procurava os autores, perante as
discordâncias dava opinião sobre aquele tema. Referia as várias opiniões dos doutores e
concluir com sua opinião (método de profundidade enorme, os alunos saíam preparados,
mas se nos perguntarem sobre comodato (por exemplo), já não sabiam, Esse era o
grande defeito. O estudo das interpolações foi iniciado na Renascença através da ação
dos glosadores e pós-glosadores
A escola e entre em decadência e vem a escola humanista culta, escola francesa.
Que efeitos produziu a Renascença? Movimento muito heterogéneo e rico que produziu
efeitos em várias áreas. Político, consolidação do estado moderno; económico, a
Renascença produziu nove sistema económico, capitalismo; arte, Miguel Ângelo,
Leonardo da Vinci, pintores e esculturas extraordinárias, edifícios. A arte manuelina,
combater opinião comum dos doutores a nascença temos a partir de agora a liberdade de
pensar, de interpretar a lei, e esta liberdade choca. Em relação ao direito romano a
Renascença produziu uma orientação racionalista e romanista. A racionalista defende a
substituição do direito romano pelo estudo direito natural porque a fonte do direito é
ratio, na sua versão mais radical, ou o estudo do direito humano filtrado pela razão na
sua versão moderada, não será dizer que só se deve estudar Direito Romano com
interesse prático atual (considerar-se-á uma primeira versão do uso modernus
pandectarum. Duas posições, posição radical e moderado.
Posição racionalista – racionalismo radical irracionalismo moderado. Quem entenda
que se deve continuar a estudar o direito romano. O direito romano ultrapassado deve
ser posto de lado. Orientação século XVII/ século XVIII, uso moderno das pandectas,
raízes no racionalismo moderado.
Posição romanista – constituída pelos pensadores que defendem o direito romano.
Humanismo historicista defendeu que se deve estudado direito romano clássico. O
direito clássico é o direito que vai de encontro aos ideais da Renascença. Há quem
entenda que a velha escola dos comentadores deve continuar, orientação seguida na
escola Bártolista – escola culta.

A Escola Culta

Criada em Itália por Aliciato, a nova escola depressa passou para a França, escola culta,
dos jurisconsultos humanistas. Estudar o direito romano clássico é o objetivo desta
escola. Dedicando-se ao estudo do direito romano clássico através do método histórico-
crítico.
Escola culta, do jurisconsultos cultos ou mos gallicus. Esta escola era constituída por
juristas de mérito como Cujácio e Donellus.
Abriu novos horizontes a romanistica com a preocupação com as interpolações e com a
sua pesquisa ficou fora do estudo do Direito Romano no período dos glosadores e dos
comentadores e veio a ser estudado a partir da escola culta ou elegante no séc. XIV. A
preocupação histórica desta escola, contrastando com o pragmatismo das escolas
anteriores, decisivo para surpreendentes descobertas asobre do método de compilação
de Justiniano.
Procura das interpolações (Envolve conhecimentos profundos e grande erudição).
Aurores Cujácio, escola cujaciana. Méritos: a França país apagado no direito, subiu para
a ribalta por causa desta escola, a ciência jurídica, E levou a França é um país apetecido.
Código de napoleão, 1804. Mérito inapagável. Em Portugal não teve grande sucesso.
Forma inculta em Portugal (não havia conhecimento eurudito). Figuras representativas
Maquiavél e Jean Boundin.
Literatura jurídica-conciliação entre a escola italiana e francesa. Nomes-Manuel da
Costa, Aires Pinhel e Heitor Rodrigues.
Ensino universitário em Portugal andou numa roda viva e o rei Dom João III fixou-a em
Coimbra (1537?). Universidade Portuguesa fundada no século XIII-faculdade de leis e
faculdade de Canones.
Método escolástico, o método da escola dos comentadores, método seguido na
universidade portuguesa. Liberdade na interpretação e o choque opinião comum dos
doutores.

SEGUNDA ESCOLÁSTICA

Segunda escolástica recupera o pensamento da primeira escolástica, século XVI.


Quais os seus contributos jurídicos e políticos?
É uma escola que se opõe à escola do Jusnaturalismo racionalista. Também conhecida
como neoescolástica, como escola peninsular do direito natural, como escola espanhola
do direito natural. Esta é uma escola que olha para trás, olha para a idade média, é uma
continuação do pensamento escolástico no plano da filosofia política, no plano do
direito das gentes.
A especulação filosófica sobre o Direito e o Estado tornou-se disciplina autónoma,
(fins do século XVIII). Tradicionalmente, tinha lugar em conjunto com a filosofia geral,
a teologia e o direito canónico.
O ciclo decorrente do Renascimento ao Iluminismo apresenta-se como uma típica fase
de transição em matéria de filosofia do Direito e do Estado. Vê-se o progresso das ideias
humanistas. Assim foi com o jusracionalismo da Escola do Direito Natural, que
predominou na Holanda, Inglaterra e Alemanha.
Em Portugal a Segunda Escolástica teve uma influência marcante na cultura dos séculos
XVI e XVII. Correspondeu à necessidade de repensar a compreensão cristã do homem e
da convivência humana. A especulação teológico-jurídica da Segunda Escolástica
proporcionou abertura aos novos problemas e soluções.
Esta corrente caraterizou-se pela sua posição Ao ensino feito em escolas deu-se a
escolástica (fé e razão). Problema nuclear fundamental, que está longe de ser resolvido
pacificamente (fé e razão). Interessa olhar para o direito natural e para o modo de como
os homens pensaram o direito natural. Temos orientações diferentes. Orientação tomista
(São Tomás de Aquino) que se caracteriza pela fase que nos diz que deus criou o mundo
e assim o governa com uma lei a que ele mesmo se submete; a fase que nos diz que a
parte da lei eterna que se ocupa das relações humanas é o direito natural e a fase que
revela que os homens descobrem os preceitos do direito natural na natureza humana.
A orientação seguida pelos franciscanos (Santo Agostinho) está contra esta doutrina
intelectualista pois recusam-se que deus se submeta à lei eterna, pois como seu cirador
também é livre de não lhe obedecer.
Aristóteles considerado o pai do direito natural “Deus criou mundo”. São Tomás de
Aquino: Três tendências: Perpetuação da espécie, proibição do homicídio,
impedimentos matrimoniais; tendência para a sociabilidade, direito natural E o direito
positivo. Direito natural, direito acima do direito positivo, direito dos homens. Duas
funções: proibitória, sugestiva. O direito natural ora proíbe, ora sugere, funções que
desempenha por estar acima do direito positivo. Leis naturais primárias e secundárias.
Orientação tomista. Outra grande orientação escolástica-orientação.

Aristóteles (pai do direito natural) influência aristotélica. Deus criou o mundo São
Tomás de Aquino reputado autor igreja. Natureza diversificada, primeiro momento
Deus criou mundo, criado o mundo havia que disciplinar a vida desses seres. Deus criou
a lei eterna, lei estável, lei criada pela razão de Deus, Deus é o primeiro a obedecer a lei
eterna. Criador e súbdito dessa lei. Lei natural ou direito natural. É uma parte da lei.
Legislador É Deus, que criou através da razão, não através de vontade. Criado o direito
natural pela razão divina para que os homens possam obedecer. É necessário conhecer
as normas. Como se dá a conhecer o direito natural? Descobrimos olhando a natureza
humana. Três tendências: tendência para a perpetuidade da espécie, sociabilidade, os
homens na sua vida se aproximarem de Deus.
Quais as funções que o direito natural desempenha? O direito dos homens, direito
positivo e o direito natural, criado por Deus. O direito natural estando acima proíbe,
função para proibitória e sugestiva. Duas espécies de leis. Leis primárias e leis
secundárias. Primárias são as leis universais, a todos os homens, não muda, são
imutáveis (ex. direito à vida), universais, aplicam-se a todos. A secundárias são leis de
importância menor, leis variáveis. Posição voluntarista, para esta corrente Deus criou o
mundo e fez uma lei chamada Lei eterna para regular a vida do mundo, só que agora a
lei foi criada pela “lei divina”. A lei natural é uma parte da lei eterna. O voluntarismo
conduz a negação do direito natural. No século XIII discussão vida entre os tomistas e
voluntarista. Recusa do direito natural como base teológica. Período barroco, Espanha e
Portugal. segunda escolástica vive num ambiente de crise gerado na “renascença”.
Olha-se para trás para a idade média e para a frente, olhar para um homem novo, crítico,
independente, ativo, empenhado em saber, que vai ser o homem da idade moderna. Isto
marca um ambiente de crise, ambiente da segunda escolástica.
Como autores temos: Francisco de Molina, Francisco Soares, Serafim de Freitas.
Problema que foi objeto de estudo, a relação entre o direito e a moral a um espaço
comum mas também um espaço diferente. A um grupo de normas que são
simultaneamente morais e jurídicas e outro grupo não.
De referir o direito das gentes, direito internacional público, sendo considerado o pai do
direito internacional público um espanhol de nome Francisco de Vitória, um teólogo
espanhol neo-escolástico, conhecido pelas suas contribuições para a teoria da Guerra
Justa e como um dos criadores do moderno direito internacional. Estamos perante o
problema da distinção entre a guerra justa e injusta.
Sobre a questão de qualquer povo poder navegar nos mares ou não, temos duas
doutrinas: a do mar é Mare clausum ("mar fechado") termo legal usado no direito
internacional, ou Mare Liberum (Em oposição ao Mare Clausum), surgem nações
europeias a reclamar o domínio dos mares.
Outro problema de teoria política é o problema da legitimidade da soberania. Famosa
doutrina da soberania popular inicial e alienável. Teoria desenvolvida pelo espanhol
Francisco Soares. Quem tem o poder é Deus. Deus dá esse poder à comunidade, ao
povo, e daí vem o nome soberania popular, terceiro momento é como a comunidade não
se pode governar a si própria, concerne ao rei. A comunidade faz um pacto com o rei,
mas o rei obriga-se a governar o povo ao interesse do próprio povo. Outro tema
estudado foi ética económica, a usura do preço justo, outro tema do direito natural, vem
da escolástica. Estamos no século XIII passamos ao século XVI e a solução não está
dada. A crise continua, não se harmoniza, a dispersão continua, só que durante estes
anos, toda esta discussão enfraqueceu os seus autores, e no meio deste cansaço surge
uma pergunta: será que o direito natural existia se Deus não existisse? Põe em causa
Deus. Enfraquece a orientação teológica da linha tomista e voluntarista. Laicizou-se o
direito natural e daqui para futuro temos a base humana.

Direito natural

O problema do direito natural atravessa as várias fases da escolástica, destacando-se a


fase alta século XIII e outra denominada de decadente século XIV/XVII.
A preocupação central da escolástica foi a de conciliar a razão e a fé continuo
É uma escola que continua a colocar deus no centro do universo, uma compreensão
cristã do pensamento medieval e que defende ainda um direito natural de origem
metafisica-religiosa. Esta escola peninsular de direito natural continua a ter esta
conceção teocêntrica, que Deus está no centro e não o homem, de um direito natural que
provem de deus sem não se chegar a acordo se provinha da razão de deus ou da vontade
de Deus, essa é uma discussão medieval que esta escola continuou e não chegou a
conclusão nenhuma. Santo Agostinho (séc. IV), defendia que a vontade natural provinha
da vontade de Deus. Já para São Tomás de Aquino (Séc. III), corrente intelectualista
dizia que o direito natural provinha da razão de deus e portanto Deus tinha que estar
subordinado à sua própria razão, as suas próprias regras, aqui o direito natural já teria
algum conteúdo. Discutiu-se nesta escola se o direito natural provinha da razão ou da
vontade de Deus. Não chegaram nunca a consenso, chegaram à conclusão que o direito
natural provinha da razão humana mas isto já nos finais do séc. XVII quando isso já se
defendia na escola racionalista desde o séc. XVI. Temos uma compreensão metafisica-
religiosa do direito natural.

Filosofia política
Um dos outros aspetos é no plano da teoria do estado, esta escola vem defender que a
soberania provem de deus, mas é concedido por Deus ao povo e o povo atribui esse
poder ao monarca através de um contrato social e o monarca tem de cumprir esse
contrato, se não cumprir, o povo pode destituir o monarca. Esse foi o fundamento da
revolução de 1 de dezembro de 1640, da restauração da independência de Portugal.

Direito internacional público


Uma outra temática que esta escola desenvolve é a do Direito internacional público.
Temos aqui uma longa e profunda discussão entre os defensores desta escola e os da
escola racionalista, em particular, em algumas matérias com Hugo Grócio.
Os problemas do direito internacional público eram os problemas que os
descobrimentos colocavam. O problema que a ocupação das terras descobertas, a quem
pertenciam essas terras, da condição jurídica das pessoas que lá viviam, mas o grande
problema era a circulação dos mares, porque foram os portugueses e os espanhóis os
primeiros a estabeleceram as grandes rotas marítimas e eles reclamavam o monopólio
sobre essas rotas, que tinha descoberto essas rotas enquanto que os holandeses
representado por Hugo Grócio, fundador da escola racionalista do direito natural, vem
defender a liberdade de circulação dos mares e é a tese que vem a ficar e a parte mais
significativa. A tese do mar livre ou da livre circulação do mar ficou ate hoje.

Época do Jusnaturalismo, de um direito natural que provem da razão humana

Escolas de pensamento jurídico

Século XV/XVI, época da renascença, do humanismo, numa época em que terminada a


Idade média temos uma conceção antropocêntrica do mundo, temos o homem no centro
do universo e não Deus, não uma conceção teocêntrica. O homem agora é um homem
que é dotado de razão, é um homem que tenta compreender o mundo a partir de si
próprio, que acredita em si, na sua capacidade de dominar e transformar a natureza, todo
ele é um ser natural, em que se vão separar os domínios da fé dos domínios da razão,
isto não é assim por toda a europa, do lado de cá ainda se continuava ate o século XVII
sob influência medieval, mas estamos numa época de renascença, do regresso ao
clássico, aos textos romanos, à escola do humanismo jurídico, escola que nasceu e Itália
e se desenvolve em França, esta escola do humanismo jurídico vai restaurar os textos
clássicos. Estamos perante três séculos onde se acreditava que quase todo o direito
romano estava na compilação do imperador justiniano e o que se vai fazer agora a partir
do seculo XV/XVI é estudar outros textos, porque se se descobriu qua há muito mais
direito romano do que o corpus ius civilis, dai essa restauração dos textos clássicos, esta
restauração, este regresso ao classicismo greco-romano acontece na arte, na cultura, na
filosofia, etc. Salta-se por cima da Idade Média e regressa-se à época classicista. Esta
escola do humanismo jurídico tem muitos nomes: Escola dos humanistas cultos, dos
jurisconsultos humanistas, escola histórico-critica, escola Cujaciana, escola dos juristas
cultos (porque é uma escola culta). Agora defende-se a liberdade de interpretação dos
textos, mas isso implica um jurisconsulto culto e esta é uma escola dos jurisconsultos
cultos, histórico-critica, faz uma análise critica dos textos, em particular dos textos de
direito romano e vai à procura dos textos clássicos. Esta escola surge num quadro de
relevo interessante, é uma época em que se começa a acreditar que se pode chegar à
verdade através da razão, mas ainda vai demorar um pouco, temos de chegar ao século
XVIII para esse racionalismo ser tão vincado e evidente. Havia uma ignorância sobre a
elaboração do direito romano e essa escola do humanismo jurídico é uma escola que
procura investigar o direito romano, investigação erudita do direito romano, com busca
de outras fontes e por outro lado com uma escola que defende a liberdade da
interpretação da lei. Esta autonomia significa que se quer romper com o principio da
autoridade, com o seguir a opinião dos outros, defende-se que o jurista deve ser live na
interpretação da lei, deve desenvolver a sua própria opinião e não apenas seguir a
opinião dos outros, só que isto é muito difícil, é uma escola que defende essa liberdade
critica, só que para isso é preciso ser culto, muito conhecedor, por isso foi uma escola
que teve dificuldade em se impor, laias tinha uma forma escrita muito elaborada, muto
elegante, rigorosa e por isso foi uma escola que não se conseguiu impor no seu tempo,
estava a frente do seu tempo.

CORRENTES DO PENSAMENTO JURÍDICO MODERNO

Escola do direito natural racionalista

O direito natural (ou Jusnaturalismo) consiste numa teoria que estabelece


o direito no bom senso, na racionalidade, na equidade. O direito natural tem como
intento avaliar as opções humanas com o propósito de agir de modo razoável e bom,
alcançado através da fundamentação de determinados princípios do direito natural que
são considerados bens humanos evidentes em si mesmos.
Os jusracionalistas diferenciavam-se dos autores da segunda escolástica. Estes,
preocuparam-se essencialmente com a enunciação de simples princípios gerais.
A época do Jusnaturalismo é uma época que é marcada pela razão, um homem que
acredita na razão, na sua razão, um homem que acha que esta no centro do mundo, uma
conceção antropológica, já não Deus, estamos longe das conceções teocêntricas e é por
acreditar na sua razão e que a sua razão é capaz de alcançar a verdade, a segurança, a
certeza, que vamos ter as reformas todas: A lei da boa razão, do ensino universitário, ou
seja na ciência jurídica e no ensino, alem de outra reformas. Uma época de otimismo, de
desenvolvimento económico, uma época do mercantilismo, do intervencionismo do
estado na economia, com as grandes companhias pombalinas.
O homem que agora é natural, pertence ao mundo natural e acha que é capaz de mudar a
natureza, época das ciências naturais, da matemática, etc. É a crença de que tudo se
consegue compreender através das ciências. Haverá aqui a fundação da academia real
das ciências de lisboa, o que demonstra o interesse. Agora finalmente se vai tentar
romper com o pensamento metafisico-religioso.
A escola racionalista do direito natural é contemporânea da Segunda Escolástica é uma
escola que vem dizer que o direito natural provem da razão humana.
Hugo Grócio, (Jurista de naturalidade holandesa, 1583, que se destacou-se no âmbito do
Direito Internacional) foi vulgarmente considerado o fundador do Jusnaturalismo
moderno, influenciado pela Segunda Escolástica, representou a transição das conceções
teológicas e filosóficas para o posterior Jusnaturalismo racionalista.
Chega-se ao direito natural racionalista, resultado ou exigência, em última análise, da
razão humana. Parte-se do princípio que tal como as leis universais do mundo físico,
também as normas que disciplinam as relações entre os homens e comuns a todos eles
são inerentes à sua própria natureza e livremente encontradas pela razão, sem
necessidade a referencias teológicas. O direito natural racionalista teve uma importante
influência direta sobre a ciência jurídica positiva.
O direito natural construído pela segunda escolástica tinha como fundamento Deus.
Usando um argumento: Ainda que assim fosse, o direito natural seria o mesmo, mesmo
que Deus não existisse. Foi Hugo Grócio quem usou ainda o argumento para uma
conceção de direito natural que já não se baseia em Deus. A ordem jurídica superior que
dá validade do direito positivo
Deixa de ter fundamento divino e passa a ser a razão do homem.
Hobbes, Locke, Pugendorf, Thomasius e Wolg (autores que desenvolveram a obra de
Grócio) desenvolviam o direito natural baseado na razão humana. Pois assim como as
leis universais do mundo físico também as normas sociais são inerentes à natureza do
homem e livremente encontradas pela sua razão.
Evidenciou-se que durante os séculos XVI e XVII, a Europa conheceu duas linhas
de pensamento, que se afirmaram, não só nas áreas da filosofia jurídica e política,
mas também a respeito do direito internacional público. Uma delas desenvolveu-
através da Segunda Escolástica, e corresponde à chamada Escola Espanhola de Direito
Natural; a outra na Holanda, Inglaterra e Alemanha, designando-se como Escola do
Direito Natural ou ainda Escola Racionalista do Direito Natural.
Hugo Grócio que foi claramente influenciado pela Segunda Escolástica, representou
como que uma ponte de passagem das conceções teológicas e filosóficas para o
subsequente Jusnaturalismo racionalista.
O sistema de direito natural seria construído por: Hobbes, Locke, Pufendorf, Thomasius
e Wolff. A compreensão do direito natural liberta-se de pressupostos metafísico-
religiosos. Chega-se ao direito natural racionalista que é resultado ou exigência da razão
humana. Considera-se então, que tal como as leis universais do mundo físico, também
as normas que disciplinam as relações entre os homens são comuns a todos eles, são
constantes à sua própria natureza e livremente encontradas pela razão, sem necessidade
de princípios teológicos.
O direito natural é criado pelos homens. Estamos perante uma escola laica porque
dispensa Deus, que é substituído pela razão humana. Laicizou-se o direito natural. O
ponto de partida é a segunda escolástica. A que fator se deve o aparecimento desta
escola? Vários, uma guerra religiosa, o racionalismo.
Para Hobbes, (1588-1679) político e filósofo inglês, famoso por sua obra "Leviatã",
pela defesa do absolutismo e da teórico da soberania absoluta, autor da celebre
expressão “o homem é o lobo do homem” é para corrigirem a natureza e impedirem as
relações de força entre os homens que os homens instituíram o direito. Não é a natureza,
mas a razão que institui o direito precisamente para corrigir a natureza. Assim torna-se
possível reclamar-se do direito natural para combater os excessos do direito positivo.
Locke (1632), inglês conhecido como o "pai do liberalismo", o “Tratado do governo” é
uma obra que vem marcar o pensamento continental europeu posterior em particular de
Rousseau). Thomasius (1655-1728) foi um dos mais importantes representantes do
jusnaturalismo racionalista, a moral é um conjunto de regras que regula a esfera íntima
dos seres humanos, sendo aplicável apenas no nível da consciência. O Direito, por sua
vez, é um conjunto de regras que apenas regula a esfera externa dos comportamentos
humanos. O direito confundiu-se com a moral. Se alguém manifestasse uma ideia
diferente o estado punir. Havia que separar a moral do direito para evitar que Estado
evadisse a liberdade de pensar. O critério da perspetiva é elaborado por este autor.
Outro grande jurisconsulto desta escola alemã (sistematização, movimento codificador),
Saumuel Pufendorf (1632-Berlim), um dos expoentes da corrente jusnaturalista, revela
uma relação explícita entre Hobbes e a lei natural tradicional. De Hobbes, ele retém a
doutrina individualista do contrato social quanto ao direito de governar, rejeitando a sua
doutrina da soberania, em proveito de um código laico da lei natural. Para Pufendorf, na
origem todos os homens viviam num “estado de natureza” em que eram livres, iguais e
sem governo. Por conseguinte, todo governo provem de um contrato social, como havia
referido Hobbes. Para Grócio a tendência é a sociabilidade.
Ao contrário da proposta empirista e voluntarista de Thomasius, Wolff (1679 Silésia)
não só regressa a Pufendorf e a Grócio, como à teoria moral das boas e más ações, e à
conceção medieval de humana civilitas, defendendo que esta sociedade é uma societas
universalis omnium hominum, devendo ser tratada como uma societas necessaria.
Para Jean Jaques Rousseau (Genebra, 1712), um dos maiores pensadores europeus do
séc. XVIII, o homem é simplesmente “bondoso”. São suas as expressões: “Não existe
perversidade no coração humano”, “O homem nasce livre e está em toda a parte
acorrentado”, ou seja, o homem possui uma natureza boa que é corrompida pelo
processo civilizador.
Este direito natural nasce e morre no século XVIII/XIX. Esta escola racionalista de
direito natural, no seu fim arruinou-se a si própria, é uma escola que vem dizer que o
direito natural, o direito positivo encontrava o seu fundamento de validade, o seu
critério de obrigatoriedade num direito natural, mas um direito natural proveniente da
razão humana e já não num direito natural proveniente de Deus.
Hugo Grócio, que é o fundador também do direito internacional público moderno, um
direito internacional que estabelece as relações entre estados e que de alguma forma
viesse disciplinar e humanizar a guerra. O drama deste autor é que Hugo Grócio
percebeu que pela primeira vez os estados não tinham ninguém acima de si. Marquês de
Pombal não admitia o poder da igreja sobre o estado de forma alguma. Hugo Grócio
percebeu que esta supremacia da igreja sobre o estado, facilmente podiam entrar em
guerra uns com os outros e não havia nada que disciplinasse as relações entre os
estados. Ele percebeu este problema, o Estado é agora soberano, isso significa que não
tenha ninguém acima de si, que não tenha ninguém que regule as relações entre estados
e dai ele ter criado um direito internacional público, para humanizar a guerra, para
permitir uma tolerância nas relações entre estados. Hugo Grócio esteve à frente do seu
tempo. Mas também foi ele o fundador do direito natural racionalista, proveniente da
razão humana, assente num conjunto de princípios dotados de validade eterna e
universal, mas um direito natural que provem da razão humana conforme já referido, já
afastado de todos os pressupostos metafisico-religiosos, enquanto que ate aqui o direito
natural provinha ou da vontade de deus (Santo Agostinho), ou da razão de deus (São
Tomás de Aquino). A fonte do direito para esta escola é a razão humana, não é Deus,
trata-se, portanto de uma corrente laica, não teológica, afastando qualquer pressuposto
metafisico-religioso.
Este direito natural é um conjunto de princípios que deviam ser livremente encontrados
pela razão humana, razão critica (e que será o critério de validade do direito positivado).
O direito positivo é o direito válido se estiver de acordo com este direito natural, só que
o problema é que com esta crença na razão vai-se dizer que é razão a fonte de todo o
direito positivo. Também os códigos do início do século XIX são códigos criados pela
razão. Napoleão será o grande representante, o código de 1804, (Código Napoleónico)
foi o código civil francês outorgado por Napoleão Bonaparte e que entrou em vigor 21
de março de 1804, o primeiro código civil, são expressão da razão, de uma razão que é
capaz de prever tudo.
Os códigos eram então prefeitos, estava tudo lá, não havia lacunas, isso é uma crença na
razão. É a razão humana que substituí Deus na tarefa criativa e cria as normas jurídicas
a partir da natureza humana, num livro de normas, um sistema perfeito, completo e
fechado. Mas, será que nós temos um sistema perfeito completo e fechado? O homem
não é um ser perfeito e as lacunas são inafastáveis. O sistema é lacunoso e sendo
lacunoso é um sistema aberto.
Como todo o direito escrito, positivado provem da razão, ora se se vai dizer que a
função do direito natural racionalista é critério de validade do direito positivo então não
haverá contradição entre o direito positivado e o direito natural porque a razão não vai
ser contraditória consigo própria! Não vai haver divergências pois os dois, pois provêm
da razão humana. Quando um provinha de Deus e o outro provinha do homem então
podia haver divergências, mas agora não, pois ambos provêm da razão. No início do
seculo XIX o que se vai dizer é que afinal há apenas o direito positivo, não há direito
natural e assim terminou o direito natural que só regressa com o fim da II Guerra
Mundial e a rutura com o Positivismo jurídico, considerado o grande responsável por
dar legitimidade pelas atrocidades do regime nazista.
Para concluir, esta escola racionalista de direito natural opõe-se à segunda escolástica,
defende o direito natural proveniente da razão humana. Já é uma escola do século
XVI/XVII alem fronteira, que chega agora cá, à península Ibérica.

Usus modernus pandectarum

A corrente do Usus modernus das Pandectas, relacionada com o jusracionalismo. Uma


escola que surge na Alemanha, que se desenvolve noutros países e traduz uma nova
metodologia do estudo e aplicação do direito romano conhecida por usus mordenus
pandectarum. Significa, dentro da linha evolutiva do direito alemão, um ciclo de
passagem da Escola dos Comentadores para a Escola Histórica.
Esta é outra corrente que vai influenciar as reformas pombalinas e a lei da boa razão
diretamente. Fundada por Samuel Stryk (o nome da escola vem de uma obra sua
chamada usos modernos das pandectas). Uma nova metodologia do estudo e aplicação
do direito romano, ligada ao jusracionalismo, conhecida por usus modernus
pandectarum.
Estamos a falar do direito romano, seculo XVIII/XIX. Pandectas ou Digesto. Estamos a
falar de uma escola que estuda o direito romano, das pandectas. Estuda o direito romano
e em particular aquele direito romano que ainda é vivo que ainda se pode aplicar à
sociedade do sec XVIII, distinguindo o direito romano morto, aquele que já não fazia
sentido aplicar-se. Esta escola esta intimamente relacionada com a escola racionalista de
direito natural, é o direito romano filtrado pela razão. Este usos modernus é a vertente
pratica da orientação teorética da escola racionalista do direito natural. É uma escola
que se dedicou muito à importância da atividade legislativa, cada vez mais a lei vai ter
um papel central, porque vai ser usada pelo monarca como um instrumento de poder.
Pode dizer-se (de modo geral), que o usus modernus traduz o reflexo da introdução das
ideias jusracionalistas na área do direito. Influência que se faz sentir em dois planos,
correspondentes a outras fases, dignas de distinção nesta época. Durante a primeira, as
ideias jusracionalistas só se refletiram indiretamente na vida jurídica. Assim, levaram à
ampliação do campo da atividade legislativa, em concordância ao intervencionismo que
marcou o despotismo esclarecido. Isto revelou esforços de adaptação do direito romano,
sem que tivessem havido contudo, qualquer alteração no estilo de exposição e no
método exegético-analítico (herdados dos Comentadores). Eram juristas ausentes de
preocupações teóricas. Comum a ambas as fases, está o fato de encararem o direito
romano com os olhos na realidade. Os juristas procuravam distinguir, no sistema do
corpus iuris civilis, o que se conservava direito vivo do que se tornara direito em
desuso. Era necessário separar as normas suscetíveis de uso moderno, ou
seja, aquelas que fossem adaptadas às exigências do tempo, das que correspondiam a
circunstâncias romanas peculiares. Só aquelas seriam aplicáveis.
A segunda fase, gozou do refinamento teórico da referência ao direito natural
racionalista. Também se considerava o próprio direito pátrio, que integrava o
ordenamento vigente ao lado dessas normas suscetíveis de prática atualizada. A atenção
dada ao direito nacional e à respetiva história, abrangendo o seu ensino universitário, foi
uma das maiores consequências do uso moderno.
Esta escola influenciou atividade legislativa tendo como sua finalidade prática que se
estudem o direito romano e os direitos nacionais, sendo que devem distinguir-se o
direito atual (ou vivo) do direito caduco (Roma), interessando apenas o direito atual. O
antecedente esta escola situa-se na corrente racionalista moderada.

Jurisprudência elegante

Assistimos no século XVII ao humanismo tardio com o surgimento da Escola dos


Jurisconsultos elegantes (Holanda), ainda que o uso moderno estivesse difundido. O
estudo do direito romano época clássica.
No século XVII, o centro da escola, desloca-se para a Holanda (entre outras razões,
deve-se às lutas religiosas em França). Assim surge a escola dos jurisconsultos
elegantes, apesar da difusão crescente do “usus modernus”.
É uma continuação da escola francesa conhecida pelo seu rigor e elegância na escrita,
nas suas fórmulas jurídicas rigorosas. Tem um método histórico-critico, sentido critico
em relação aos textos jurídicos e não apenas aceita-los como nos surgem aos olhos. Esta
escola tinha esse olhar critico, alem da liberdade de interpretação dos textos legais.
A designação de Jurisprudência elegante deve-se precisamente ao estilo literário e a
preocupação do rigor com que estudar no direito (justificação do nome). O seu nome
relaciona-se com a preocupação de rigor das formulações jurídicas e cuidados da escrita
dos seus seguidores, já na primeira metade do século XVIII, continuaram a estudar o
Direito Romano dentro do método histórico-crítico. Contudo, esta jurisprudência
elegante não deixou de assumir uma orientação prática, que confirmava as finalidades
do “usus modernus” com as tendências do humanismo jurídico.
O século XVI correspondeu à época dourada do humanismo jurídico francês, escola
critica, defensora da liberdade de interpretação dos textos, que invocava a razão para
interpretar os textos, colocar termo ao domínio do provável. Também o Marquês de
Pombal vai adotar medidas nessa matéria, afastando a opinião comum dos doutores. É o
fim do opinativo.
Esta experiência elegante é uma das correntes que se combina com o usos modernos
tendo esta uma vertente um pouco mais pratica do que teve o humanismo jurídico
francês.

ILUMINISMO

O Iluminismo (também chamado de século das Luzes), caracteriza-se por ter sido
movimento intelectual e cultural heterogéneo, que dominou o mundo das ideias na
Europa durante o século XVIII, caracterizado pela forte importância dada à ciência e
racionalidade crítica, e recusando todas as formas de dogmatismo, especialmente o das
linhas políticas e religiosas tradicionais. É um marco de profunda transformação do
pensamento jurídico que deixaram marcas até aos nossos dias.
Influenciou as reformas pombalinas. Do ponto de vista político, o Iluminismo
desenvolveu-se sob a égide das monarquias absolutas que configuraram o Despotismo
Esclarecido, com Luís XIV e Luís XV de França, Frederico II da Prússia, José II e
Leopoldo II da Áustria. Entre nós apenas, à segunda metade de setecentos, limita-se
praticamente aos reinados de D. José e de D. Maria I.
O Iluminismo foi um período em que situava o homem no centro de tudo. Assiste-se
neste período a uma hipertrofia da razão e do racionalismo. Assim aconteceu em relação
às áreas científico-naturais, domínios ético, social, económico, político e jurídico. Em
relação à filosofia política e jurídica, o Iluminismo estabeleceu novas posições
teoréticas. É uma conceção individualista-liberal que alicerça a sua compreensão do
Direito e do Estado. Na base colocam-se os direitos originários e naturais do individuo.
Existem causas para que tal tenha sucedido, passando a explicitar: Estamos perante uma
nova perspetiva, o homem deixa de ser apático, na Renascença temos um novo homem,
um homem que constrói o seu destino, esse homem é o centro do mundo, homem do
século XVI, da Renascença. Isto veio-se a fortificar no século XVIII com o iluminismo;
as lutas religiosas entre o século XVI e o século XVII. A religião quer paz. Negação da
própria religião. Laicismo; a revolução inglesa, regime liberal e parlamentar e por fim a
revolução francesa. Estas causas originam o advento do iluminismo-século XVIII, que
se desenvolve sobre a édige das monarquias absolutas, despotismo esclarecido (forma
de governo inspirada em princípios do Iluminismo europeu da segunda metade do
XVIII). O iluminismo refere-se a um movimento cultural intenso mas heterogéneo,
diversificado.
Notas de referência a este período pode-se referir as seguintes: Colocar o homem no
centro do mundo. Hipertrofia da razão, instrumento da procura da verdade; A
secularização, rompeu-se com o teológico, acesso à verdade; o naturalismo, o homem
deixa de pertencer a dois mundos. Ligado agora ao cientismo; o individualismo, valores
da liberdade. O iluminismo reflete-se na afirmação dos valores da liberdade; o
economicismo, considera-se que a riqueza é uma bênção de Deus. E daí a utopia típica
do iluminismo. Toda a mão económica é dirigida por uma mão invisível. O Estatismo,
para responder à pergunta: para que é um Estado? Contratualismo iluminista. Dois
pensadores de referência: Locke e Rousseau, ambos partem do estado natureza. Dois
valores: a liberdade e a propriedade, dando origem ao pacto social.
É curioso que o iluminismo se traduza numa exaltação da razão humana, (sob um ponto
de partida individualista), parte do homem da sua razão. O iluminismo conviveu com o
despotismo esclarecido de Luis XIV e Luis XV, que era um ablosutista puro, so ele era
iluminado, tinha as luzes da razão ou com filipe II da Prúsia e entre nós com Dom José
e dona Maria I. O iluminismo conviveu com estas orientações absolutistas até as suas
conceções teoréticas chegarem à prática, que chegaram com a revolução francesa.
O iluminismo esta na base da revolução francesa, nós ainda somos herdeiros deste
iluminismo francês. Pode-se dizer que não há um Iluminismo mas muitos, o nosso era
um iluminismo religioso, católico, moderado e não revolucionário, reformista. Este
iluminismo assenta na razão subjetiva e critica do homem.
De todo modo, coloca-se a questão de saber quais as fontes do direito para o
iluminismo? É a razão humana. A escola racionalista é ligada ao iluminismo. A razão
humana cria direito através da lei. Porque ela é geral e é abstrata. A lei dirige-se a todos
de uma forma igual. Esta ideia de igualdade é uma ideia muito cara ao iluminismo. Aqui
temos nitidamente um afastamento do costume. O iluminismo rejeita aquilo que é
provável porque com a razão têm-se acesso a verdade. Põe-se de parte a Glosa de
Acúrcio, a Opinião de Bártolo, a Opinião Comum dos Doutores. O iluminismo defende
estudo do direito pátrio, direito natural e consagra a corrente do uso moderno das
pandectas.
Direito penal, civil, trabalho, e parte instrumental (processual). Esta visão do
iluminismo chamou se humanitarismo, tendo como objetivo social o princípio da
garantia do bem-estar dos seres humanos. É a marca iluminista no campo dos direitos
penal e processual penal, sendo o representante desta corrente César de Beccaria (1737-
1794), autor da obra Dos delitos e das penas, sendo também um verdadeiro
representante do Iluminismo.
No Direito Penal, defendeu a substituição das penas corporais pela prisão. (Ex. entrar às
varas desapareceu esta figura). Ideia de proporcionalidade entre a gravidade do delito e
da pena, as penas devem ser ajudadas a gravidade. Quanto à pena de morte esta deve ser
proibida, Os homens constroem o Estado para a liberdade e não para que o Estado as
mate. Tramitação dos processos nos tribunais, substituição do processo inquisitório pelo
acusatório. Nenhum crime sem lei, tem de haver uma lei que considere criminoso.
Importa evitar o risco de ser condenado um inocente, isso nunca pode acontecer.
Princípio “In dubio pro reo” (na dúvida, a favor do réu). Então em relação às penas
corporais, retributiva (estamos a voltar a isto). Retira do direito penal todo o conteúdo
religioso, o valor fundamental é a liberdade. A pena rainha é a pena de prisão e não a
corporal. Agora temos uma visão otimista da pessoa humana.
Destacam-se as finalidades que podem ser prosseguidas com os fins imediatos das
penas: a ideia de retribuição; a ideia de prevenção: geral e especial. A prevenção
especial, patente na obra de Rousseau (que viveu durante a época do Iluminismo, na
segunda metade do século XVIIII), O Emílio de Rousseau, que se revela uma tentativa
de restaurar o homem natural.
As penas servem para fazer com que as pessoas em geral não cometam crimes
(prevenção geral). Ou, por outro lado, assumir que as penas servem para que a pessoa
condenada a uma pena por um crime e que a tenha de cumprir não retorne a comete-la
(prevenção especial). Três grandes alterações no conteúdo do direito penal, no tipo de
penas aplicadas.
Comtemplados o princípio da proporcionalidade e o princípio da necessidade da
intervenção penal: A liberdade deve assim ser restringida o mínimo possível e o direito
penal deve interferir o mínimo necessário.
Em jeito de conclusão e no âmbito do direito penal merecem relevo as correntes
humanitaristas derivadas do iluminismo pelos quatro aspetos: Conteúdo do direito
penal: O humanitarismo entendia que o direito penal devia desvincular-se de
pressupostos religiosos, devendo assumir uma função de tutela dos interesses
necessários à vida coletiva; fins das penas: Segundo o humanitarismo a pena não é um
castigo pelo facto passado, mas um meio de prevenção de futuros crimes. Essa
prevenção era geral ou podia ser especial; respeito pela dignidade humana: Tinha de
respeitar os limites da justiça e da dignidade humana com a proporcionalidade entre a
pena e o delito e a eliminação das penas corporais substituídas pela pena de prisão;
processo penal: Ao contrário do processo criminal anterior de estrutura inquisitória, o
humanitarismo dava preferência a um processo de estrutura acusatória.
REFORMAS POMBALINAS

Durante o reinado de Dom José I, um novo ministro inspirado por doutrinas de


tendência iluminista empreendeu diversas mudanças na administração portuguesa. Entre
1750 e 1777, Marquês de Pombal, estabeleceu uma série de reformas modernizantes
com o objetivo de melhorar a administração do Império português e aumentar as rendas
obtidas através da exploração colonial. Esse tipo de experiência condizia com uma
tendência vivida em várias monarquias europeias. 
A partir de 1750, a política e a administração portuguesa tiveram grandes mudanças.
Sob influência do Iluminismo, Pombal engloba-se no despotismo esclarecido e por isso
uma série de medidas e reformas acabaram por torná-lo numa figura controversa na
História portuguesa. As reformas de Pombal visavam modernizar a administração da
Coroa Portuguesa. Mesmo pretendendo trazer diversas melhorias para a Coroa, Pombal
não conseguiu manter-se no cargo após a morte de Dom José I, em 1777. Os seus
opositores acusaram-no de autoritarismo e de trair os interesses do governo português.
Tem influência iluminista. Reformas no campo do direito positivo, na ciência jurídica e
no campo do ensino do Direito. As reformas pombalinas percorrem estes três campos.
Que influências deixou iluminismo nas reformas pombalinas? A liberdade na
interpretação de lei, liberdade essa que não existia; A afirmação da lei; uma
desconfiança em relação ao costume.
Algumas dessas medidas trouxeram um progresso relevante e permaneceram,
(por ex. no âmbito das companhias comerciais. Mas outros diplomas
pombalinos foram sinal de um reformismo jurídico abstrato e sem ligação à
tradição jurídica portuguesa), por exemplo os diplomas que
alteraram profundamente o direito sucessório e cuja vigência foi suspensa após a
queda do Marquês de Pombal no reinado de D. Maria I, voltando a vigorar as
anteriores soluções das ordenações.
As reformas no âmbito da ciência do direito com a lei da Boa Razão:
Trata-se da lei de 18 de Agosto de 1769, conhecida no séc. XIX como
lei da Boa Razão em virtude dos insistentes apelos que fazia à Boa Razão, isto é, a
Recta Ratio do Jusnacionalismo.

Lei da boa razão

As conceções jurídicas de Marquês de Pombal estão patentes na Lei da Boa Razão de


18 de Agosto de 1769. Com uma marca profundamente inovadora no direito português,
sendo uma consagração da escola racionalista de direito natural e do usus modernus
Pandectarum, implementando em Portugal, conceções racionalistas e iluministas, José
Homem Correia Teles resolveu chamar-lhe lei da boa razão, porque “refugou as leis
romanas, que em boa razão não forem fundadas”. Porque esta lei faz tanta referência a
boa razão, ou seja, afastou o direito romano que não seja fundado na boa razão.
Esta lei ocupa-se nas fontes do direito.
Só no século XIX receberia o nome de Lei da Boa Razão, que nos seus preceitos se faz
insistentemente à "boa razão" - ou seja, à recta ratio jusnaturalista.
A Obra (modernizadora) de Pombal, que tinha uma filosofia contrária à tradição e que
tinha a crença na razão e na capacidade de as leis transformarem a sociedade tem como
exemplo maior, no que concerne à área jurídica, a Lei da Boa Razão, conhecida pela sua
data de 18 agosto 1969. Esta lei surgiu durante a vigência das Ordenações Filipinas
(1603) e foi elaborada no processo da reforma pombalina sendo o mais importante
documento dessa era.
Reformulou a teoria das fontes do direito, sendo um documento chave. O referido
diploma visou, não apenas irregularidades em matéria de assentos e quanto à utilização
do direito subsidiário, mas também a fixação normas precisas sobre a validade do
costume e os elementos a que o intérprete podia recorrer para o preenchimento das
lacunas. Destaca-se a mudança no sistema de fontes do direito português. Lei
importantíssima, que mudou as fontes do direito em Portugal. Passando a explicitar as
mudanças:
1ª Determinava que eventuais conflitos submetidos à apreciação dos tribunais deviam
ser julgados, antes de tudo, em conformidade com as leis, pelas leis pátrias e pelos
estilos da corte. A lei da boa razão determinou que o estilo da corte são fontes de
direito, quando aprovados pela casa da suplicação. Os estilos da corte só serão então e
todavia, aprovados por um assento da casa da suplicação, o que significa terem os
estilos da corte perdido autonomia que antes lhes fora reconhecida. Esta lei da boa razão
alterou as ordenações Filipinas.
2ª Só os assentos só estes são fonte de direito. Confere-se autoridade exclusiva aos
assentos da Casa da Suplicação, que era o tribunal supremo do Reino. Os outros
assentos (da relação), tinham ser confirmados pela Casa da Suplicação. Só os da casa da
suplicação eram vinculativos. Nesse sentido, declara-se que os assentos das Relações
apenas alcançariam valor normativo mediante confirmação daquele tribunal superior.
Dá-se assim, grande importância a casa da suplicação.
3ª Mudança com influência do racionalismo. Também se estatui expressamente sobre o
costume. Para que valesse como fonte de direito, deveria subordinar-se aos requisitos
seguintes: Tem de ser conforme à boa razão; não contrariar a lei e ter mais de cem anos
de existência. O direito consuetudinário, deste modo, só conservou validade Secundum
Legem e Praeter legem, nunca Contra Legem. O que significa que o direito
consuetudinário sofreu um corte substancial. Claramente, resulta que tem que estar em
concordância com a prevalência da lei. A lei caminha para o positivismo pela segurança
e certeza que oferece e esta é uma mudança significativa.
Para as lacunas, ou seja, para os casos não previstos, casos omissos, quando os assentos
e o costume nada dissessem, quer dizer, faltando direito pátrio, representado pelas
fontes imediatas, recorria-se então ao direito subsidiário (conforme a Boa Razão). Mas o
direito romano só era aplicável desde que se apresentasse conforme à Boa Razão que
correspondia à recta ratio jusnaturalista. Ser conforme à boa razão era corresponder aos
princípios do direito natural ou do direito das gentes.
Caso fosse matéria que trouxesse pecado, recorria-se ao direito canónico, caso contrário
seria julgado pelas leis imperiais (direito romano). Na falta de qualquer solução deveria
o caso ser remetido ao rei, cuja decisão valeria a partir de então para os casos análogos.
O direito subsidiário que tinha então que ser conforme à razão. A expressão “boa
razão”, assumia agora um sentido novo. As normas de direito romano apenas se
aplicariam quando, caso a caso, se mostrassem em concordância com a boa razão.
Em síntese, esta Lei estabelece-se que o rei e a razão serão as fontes do direito.
Regulamenta-se o uso dos assentos (elevando-os à categoria de leis enquanto fonte
normativa), penaliza-se os advogados (que se valem de interpretações enganosas);
reforçam-se as leis do Reino (perante o direito romano); proíbe-se o direito canónico
(nos tribunais civis) e também o uso das glosas medievais (de Acúrcio e de Bartólo);
alteram-se os requisitos de validade do costume (restritivos), e refere-se que este tinha
de ter pelo menos cem anos. Conhecem-se ainda os mecanismos para o preenchimento
de lacunas; conferindo-se a máxima competência à casa da suplicação de lisboa, em
detrimento das relações do porto, Baia, Rio de Janeiro e Índia e define-se o que a Boa
Razão como sendo aquela que consiste nos princípios que contém verdades essenciais,
intrínsecas e inalteráveis.

Em 1772, os estatutos da universidade estabeleceram um conjunto de regras


destinadas a avaliar (no ensino e na atividade dos tribunais) a boa razão dos textos
romanos. É o intérprete quem tem o critério prático de verificar qual o uso moderno que
dos preceitos romanos em causa faziam os jurisconsultos das nações europeias
modernas. Daí que o direito romano que fosse aplicável subsidiariamente, por força da
lei da boa razão, se reconduzisse ao que fosse aceite nas obras dos autores da escola do
usus modernus pandectarum, que, assim adquiriam valor normativo indireto como
fontes supletivas.
Se a lacuna dissesse respeito a matérias políticas, económicas, mercantis ou marítimas,
determinava-se o recurso direto às Leis das Nações Cristãs Iluminadas e Polidas, de
notar que, não basta serem polidas têm de ser também cristãs.
Aqui o direito romano é afastado, está ultrapassado pelo tempo. Podemos entender isto
como um pequeno golpe no direito romano. O direito canónico deixa de ser fonte do
direito subsidiário, só nos tribunais eclesiásticos e não civis. A aplicação do direito
canónico é relegada para os tribunais eclesiásticos. Aquele deixou de contar-se entre as
fontes subsidiárias. A partir daqui de Marquês de Pombal o que se vai discutir é
competência dos tribunais eclesiásticos. Claramente que vemos que o Estado agora está
acima da igreja e isso reflete-se também no direito subsidiário.
Também se proibiu que as glosas de Acúrsio e as opiniões de Bártolo fossem alegadas e
aplicadas. Estas são afastadas bem como opinião comum dos doutores. Para justificar
isto, o legislador invoca as imperfeições jurídicas, (falta de conhecimentos históricos e
linguísticos dos referidos autores, bem como à sua ignorância das normas fundamentais
de direito natural e divino). Chegamos a este ponto de questionamento: Se podemos ter
certeza, segurança, porque ficar pela dúvida? É afastado porque é contrária a recta
ratio (reta razão aplicada ao agir). Estas duas escolas (Acúrcio e Bártolo) estão em
manifesta contradição a toda esta mentalidade iluminista irracionalista do século XVIII
e são afastadas como fonte do direito subsidiário.

Estatutos pombalinos da Universidade

Novos Estatutos da Universidade

A reforma pombalina dos estudos universitários reflete a influência das


correntes de ensino europeias dos séculos XVII e XVIII.
Em 1770, foi nomeada uma comissão com o nome de Junta de Providência Literária,
encarregada de enunciar o parecer sobre as causas da decadência e declínio do ensino
universitário, entre nós, e sobre o critério adequado à sua reforma. Essa comissão
apresentou um relatório com o título de Compendio Histórico da Universidade de
Coimbra, onde faz uma crítica implacável da organização existente, reafirmando-se em
grande medida a solicitação já anteriormente contida na obra de Luís António Verney,
que nasceu em Lisboa no ano de 1713. E foi o grande pensador português do
Iluminismo do Século XVIII, divulgador das ideias do jusnaturalismo racionalista e
do usus modernus.
A esta Junta de Providência Literária se deve a subsequente elaboração dos novos
Estatutos da Universidade, também chamados Estatutos Pombalinos (aprovados por
Carta de Lei de 28 de agosto de 1772).
A recriação de uma nova mentalidade no plano jurídico realizou-se, a partir da data de
1772, então com os com os Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra. Este
notável documento revela-se um processo evolutivo, desencadeado em 1770 pela Junta
de Providência Literária, que havia recebido o encargo de examinar as causas do
declínio da Universidade, de modo a apontar as soluções para lhes por fim. Os
resultados alcançados pela referida comissão vieram à luz no Compêndio Histórico do
Estado da Universidade.
O Compendio Histórico tinha registado como graves defeitos dos nossos estudos
jurídicos o seguinte: A preferência absoluta dada ao ensino do direito romano e do
direito canónico, ignorando-se praticamente o direito pátrio; o abuso que se fazia do
método bartolista; o respeito pela Opinião Comum dos Doutores; o desprezo pelo
direito natural e pela história do direito. Estes Estatutos Novos elegem uma série de
relevantes disposições. O confronto entre o quadro de disciplinas adotado e o que
integrava o ensino tradicional revela diferenças flagrantes. Verifica-se a inserção de
matérias novas: além da cadeira de direito natural, onde se fundiam, segundo os
próprios Estatutos, não só o direito natural em sentido estrito, mas ainda o direito
público internacional e o direito das gentes, estabelece-se o ensino da história do direito
e das instituições de direito pátrio. O núcleo central dos cursos de Leis e de Canones
continuou a ser constituído pelo Corpus Iuris Civilis (sobretudo o Digesto) e pelo
Corpus Iuris Canonici, posto que se encarassem estes textos de pontos de vista diversos
dos anteriores. Determinou-se a utilização do método de ensino sintético-
demonstrativo-compendiário.
Determinava-se fornecer aos estudantes um estudo geral de cada disciplina, através de
definições e da sistematização das matérias, seguindo uma linha complexa; passava-se
de uma das proposições ou conclusões às outras só depois do esclarecimento
científico das precedente bem como sua dedução; tudo isto acompanhado de
manuais adequados, sujeitos a aprovação oficial.
Desenhou-se o programa das várias cadeiras e solicitou-se aos professores a escola de
jurisprudência considerada preferível. No que concerne aos direitos romano e canónico,
o tradicional método escolástico/bartolista foi substituído pelas regulações histórico-
críticas ou cujacianas. Também se consagrou os princípios do uso moderno, devido à
Lei da Boa Razão.
Os Estatutos Pombalinos construíram um modelo de aluno aplicado e disciplinado que
era sujeito a um regime de frequência das aulas e a prestação de provas de
aproveitamento. Contavam-se somente cinco horas de lições por dia (três de manhã e
duas à tarde). Os estudantes eram obrigados à frequência das aulas e assim surgia uma
outra reforma: o estabelecimento de um regime de avaliação contínua dos alunos
(através de exercícios literários).
Estatutos cujo principal coordenador foi o desembargador João Pereira Ramos
d'Azeredo Coutinho. A obra foi publicada no contexto da profunda reforma da
Universidade e dos estudos em Portugal no tempo do governo de Pombal. Os Estatutos
Pombalinos foram uma autêntica modernização do ensino e mantiveram-se sem
modificações essenciais até 1836.

Alterações Legislativas

O chamado “Novo Código”. Tentativa de reforma das Ordenações


O projeto de alteração das ordenações filipinas ficou conhecido como “Novo Código”.
Foi no tempo de D. Maria I que se criou uma junta de ministros por decreto (1778) que
deveriam proceder à reforma geral do direito vigente. Deveriam averiguar as normas
contidas nas ordenações, assim como a legislação extravagante que conviria
suprimir porque estavam antiquadas ou parcialmente revogadas. Procurava-se uma
sistematização básica das ordenações. Surgem divergências quanto aos planos
orientadores dos trabalhos preparatórios, observando-se uma grande preocupação
sistemática. Criam-se pequenas partes gerais, com várias divisões oportunas,
procurando uma abordagem progressiva das soluções adotadas. Só depois se
desenvolveria estruturadamente a matéria. O respeito pelas ordenações já patenteava nas
restantes orientações genéricas que passaram a vincular os membros da junta. Tinham
de conservar o estilo e os termos das ordenações, mantendo a sua divisão interna,
apesar de se poderem criar novos títulos, desde que adequadamente.
Procurava-se a simples atualização das Ordenações, tendo um sentido diverso das
reformas que se verificavam nas codificações modernas europeias.
Ao nível do direito privado e de processo, esteve-se em vias de elaboração de um
autêntico código, apesar de serem diversas as matérias abrangidas. Não chegou a
referida comissão a propostas de vulto. Mello Freire reformulou o livro II e V, surgindo
projetos de Códigos de Direito Público – gera forte polémica entre Ribeiro dos Santos e
Mello Freire, graças ás suas
tendências, respetivamente, liberais e absolutistas, impedindo que este código vingasse -
e Código Criminal – Nem sequer chegou a ser discutido, apesar de representar um
progresso no sentido do iluminismo e humanitarismo. Fracassou a tentativa de
reforma das antiquadas Ordenações., pelas circunstâncias desadequadas de transição ou
compromisso.

(matérias que saiem sempre) – Jusnaturalismo, reformas pombalinas (lei da boa razão
1769, estatutos da universidade 1772)

Escola jusracionalista
Experiencia elegante
Usus modernus das pandectas
Iluminismo e humanitarismo

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