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História do Direito Português

Período do direito português


de inspiração romano-canónica

Época das Ordenações


Época das Ordenações

Ordenações Afonsinas
(Disponíveis em http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/)

 Elaboração (cfr. proémio do Livro I)


 Os pedidos insistentes, formulados em Cortes, no sentido de ser
elaborada uma coletânea do direito vigente que evitasse as
incertezas derivadas da grande dispersão e confusão das normas,
com graves prejuízos para a vida jurídica e a administração da
justiça.
 Razão da necessidade dessa compilação: havia um grande número
de leis e de preceitos de outras fontes e era muito difícil
determinar o direito aplicável na resolução dos casos concretos.
Época das Ordenações

 D. João I encarregou João Mendes, corregedor da Corte,


de preparar a obra pretendida.
 Falecidos ambos, D. Duarte (1433-1438), confiou a
continuação dos trabalhos preparatórios ao Doutor Rui
Fernandes, outro importante jurista, que pertencia ao
conselho do rei.
 Após a morte de D. Duarte, o Infante D. Pedro, regente
na menoridade de D. Afonso V (e grande impulsionador
da obra), insistiu com o compilador no sentido de ultimar
a tarefa, o que viria a acontecer em 28 de Julho de 1446.
Época das Ordenações

 O projecto foi seguidamente submetido a uma


comissão composta pelo mesmo Rui Fernandes e
por outros três juristas, o Doutor Lopo Vasques,
corregedor da cidade de Lisboa, Luís Martins e
Fernão Rodrigues, do desembargo do rei e, após
algumas pequenas alterações, procedeu-se à sua
publicação com o título de Ordenações, em nome
de D. Afonso V, pelos fins de 1446, ou já em 1447,
(em qualquer caso, ainda antes de D. Pedro
abandonar a regência).
Época das Ordenações

 Início da vigência
 É difícil determinar da data da entrada em vigor das
Ordenações Afonsinas
 Por um lado, não havia ainda regras sobre a forma de
dar publicidade aos diplomas legais e sobre a sua
entrada em vigor;
 Por outro lado, ainda não tinha sido introduzida a
imprensa em Portugal, pelo a realização das cópias
manuscritas (que eram muito caras) necessárias à sua
difusão pelo território era muito demorada.
Época das Ordenações

 A sua divulgação generalizada (se chegou a ser


realizada…) não deve ter ocorrido antes de 1450.
 Fontes utilizadas na sua elaboração
 Fontes anteriores de direito português (atendendo a
que se pretendia sistematizar e actualizar o direito em
vigor)
 Leis gerais;
 Resoluções régias;
 Concórdias, concordatas e bulas pontifícias; [Continua]
Época das Ordenações

 Inquirições;
 Costumes gerais e locais;
 Estilos da Corte e dos tribunais superiores (ou seja,
jurisprudência, praxes ou costumes aí formados).
 Outras fontes (antes utilizadas a título subsidiário):
 Normas extraídas das Siete Partidas;
 Preceitos de direito romano e de direito canónico,
designados, respetivamente, por leis imperiais ou direito
imperial e por santos cânones ou decretal, empregando-
se igualmente a expressão direito comum.
Época das Ordenações

 Técnica legislativa
 Empregou-se geralmente, o chamado estilo
compilatório, ou seja, transcreviam-se na íntegra as
fontes anteriores, declarando-se depois os termos em
que esses preceitos eram confirmados, alterados ou (até)
afastados.
 Todavia, utilizou-se em quase todo o livro I o estilo
decretório, que consiste na formulação directa das
normas sem referência a eventuais fontes precedentes,
talvez por ser, em larga medida, matéria disciplinada pela
primeira vez (ou autoria de João Mendes).
Época das Ordenações

Estilo compilatório (exemplo)


Livro IV, Título XXXVIII – Da Ley da Avoengua
«EL REY Dom Affonso o Quarto de grande memoria em seu tempo fez humma Ley
em esta forma, que se segue.
1 (…)
(…)
14 E vista por Nós a dita Ley, Mandamos que se guarde como em ella he conteúdo,
porque fomos certamente enformado, que assy foi sempre em estes Regnos
guardada, e usada. (…)».

Estilo decretório (exemplo)


Livro I, Título II – Do Chanceller Moor
«O Chanceller Moor he o segundo Officio de Nossa Casa, daquelles, que teem officio
de puridade, (…)».
Época das Ordenações

 Sistematização e conteúdo
 As Ordenações Afonsinas estão divididas em cinco livros;
estes estão subdividos em títulos, com rubricas indicativas do
seu conteúdo; e os títulos estão quase sempre divididos em
parágrafos.
 Todos os livros são precedidos de um proémio, que no
primeiro é mais extenso:
 O livro I contém 72 títulos e ocupa-se dos regimentos dos
diversos cargos públicos, tanto régios como municipais,
compreendendo o governo, a justiça, a fazenda e o exército;
[Continua]
Época das Ordenações

 O livro II é composto por 123 títulos, nos quais se disciplinam


matérias muito diversas – relações do «Estado» com a Igreja e
privilégios da Igreja e dos eclesiásticos, direitos reais (isto é, do
Rei) e sua cobrança, prerrogativas da nobreza e jurisdição dos
donatários régios, assim como a legislação especial para os
Judeus (títulos LXVI-XCVIII) e para os Mouros (títulos XCIX-CXXI)
[Princípio da personalidade do direito]; contém, pois, pr
ovidências de natureza política ou constitucional;
 O livro III, com 128 títulos, trata do processo civil, disciplinando
tanto o processo declarativo (com a sua tramitação) como o
processo executivo, e dedica particular atenção aos recursos,
que são regulados nos títulos LXXI a LXXXVI.
Época das Ordenações

 O livro IV, com 112 títulos, ocupa-se do direito civil


substantivo, designadamente de temas de direito das
obrigações, direito das coisas, direito da família e direito
das sucessões, embora sem grande ordem sistemática e
com a inclusão de alguns temas estranhos ao seu
conteúdo básico [por ex., no Título LXVI, a lei de D. João I,
de 1460 que determinou a substituição da datação pela
Era de César pelo «Ano do Nacimento de Nosso Senhor
Jesu Christo» (passou a ser 1422; no Título XXIV, sobre a
assinatura das cartas enviadas pelos concelhos, que devia
ser efectuada nas respectivas Câmaras]. [Continua]
Época das Ordenações
 O livro V contém 121 títulos sobre direito criminal e
processo criminal [«Legislação inconsequente, injusta e
cruel», como ainda era qualificada por MELLO FREIRE a
propósito do Livro V das Ordenações Filipinas – com
punição de factos puramente religiosos, com penas
cruéis, infamantes, indeterminadas e
desproporcionadas aos delitos, e caracterizada pela
desigualdade das penas consoante a condição social do
delinquente e/ou da vítima (a «famosa e escandalosa
diferença», ainda segundo MELLO FREIRE).
Época das Ordenações

 Importância da obra
 As Ordenações Afonsinas assumem uma posição destacada na
história do direito português, porquanto:
 Constituem a síntese do percurso que desde a fundação da
nacionalidade ou, mais aceleradamente, a partir de Afonso III,
afirmou e consolidou a autonomia do sistema jurídico nacional
no conjunto peninsular;
 Além disso, representam o ponto de partida da evolução
posterior do direito português – as Ordenações Manuelinas e as
Ordenações Filipinas, no essencial, limitaram-se a actualizar o
conteúdo das Ordenações Afonsinas e a «modernizar» o seu
estilo e a sua linguagem. [Continua]
Época das Ordenações

 Tendo em conta a época da sua elaboração, constituem


uma compilação de nível assinalável.
 Como veremos, reforçam a independência do direito
próprio ou pátrio (o direito português) em face do direito
comum, pois tanto o direito romano como o direito
canónico passam a constituir direito subsidiário por
determinação da vontade do monarca (Livro II, Tít. IX).
 Graças à utilização generalizada do estilo compilatório, são
muito valiosas para os estudos histórico-jurídicos, porque
permitem traçar a evolução do nosso direito desde o séc.
XIII.
Época das Ordenações

 Edição
 As Ordenações Afonsinas não chegaram a ser
impressas durante a sua vigência.
 Só nos fins do século XVIII (em 1792) a Universidade
de Coimbra promoveu a sua edição impressa (na
Colecção da Legislação Antiga e Moderna do Reino
de Portugal), feita com base em diversos
manuscritos, para servir de base ao estudo da
história do direito pátrio (introduzido pelos Estatutos
Novos da Universidade (de 1772).
Época das Ordenações

 Ordenações Manuelinas
(Disponíveis em http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/manuelinas/)

 Elaboração
 O início da reforma das Ordenações Afonsinas logo em 1505, poucos
decénios após a sua aprovação e a sua entrada em vigor (+- 1550) – curta
vigência das Ordenações Afonsinas (atendendo à morosidade da sua
elaboração).
 Naquele ano, D. Manuel encarregou três conceituados juristas da época,
Rui Boto (chanceler-mor), o licenciado Rui da Grã e João Cotrim
(corregedor dos feitos cíveis da Corte) de procederem à actualização das
Ordenações Afonsinas, alterando, suprimindo e acrescentando o que
entendessem necessário.
Época das Ordenações

 Discute-se a data em que a obra ficou completa. Conhecem-se


exemplares impressos dos livros I e II das Ordenações de 1512 e 1513,
respetivamente, mas apenas chegou até nós uma única edição integral
dos cinco livros feita em 1514.
 Considerou-se o projeto legislativo insatisfatório, talvez por ser
demasiado preso à coletânea afonsina, e os trabalhos prosseguiram. Só
em 1521, ano da morte do rei, se verificou a edição definitiva das
Ordenações Manuelinas. É este último texto, mais elaborado, que
representa a versão definitiva das Ordenações Manuelinas. A fim de
evitar confusões possíveis, impôs-se na Carta Régia de 15 de Março de
1521 que, dentro de três meses, os possuidores de exemplares da
impressão anterior os destruíssem, sob pena de multa e degredo. A isso
se deve hoje a grande raridade da obra. No mesmo praxo de três meses,
deveriam os concelhos adquirir as novas Ordenações.
Época das Ordenações

 Razões que terão determinado D. Manuel a ordenar essa


actualização:
 Introdução da imprensa em Portugal (Lisboa, Porto,
Braga, Leiria, Chaves e Faro) em finais do séc. XV (talvez a
partir de 1487) – não fazia sentido imprimir uma
colectânea já desactualizada, sobretudo devido à
legislação promulgada desde 1446/1447;
 O desejo de D. Manuel (que conferia grande importância
ao direito e à realização da justiça) em ver o seu nome a
uma reforma legislativa de grande alcance.
Época das Ordenações

 Ignora-se a data da conclusão da obra – apenas se conhece uma edição


completa (dos 5 livros) de 1514; mas foram impressos, pelo menos,
exemplares dos livros I e II das Ordenações em 1512 e 1513,
respectivamente.
 Por motivos que se desconhecem (talvez por ser demasiado preso à
colectânea afonsina), o projecto legislativo foi considerado insatisfatório e
os trabalhos prosseguiram, vindo a proceder-se à edição definitiva das
Ordenações Manuelinas somente em 1521, ano da morte do rei (em cuja
elaboração terão participado outros juristas).
 A fim de evitar possíveis confusões, impôs-se, na Carta Régia de 15 de
Março de 1521, que os possuidores de exemplares da impressão anterior
os destruíssem no prazo de três meses, sob pena de multa e degredo (daí a
raridade da edição de 1514), devendo os concelhos adquirir as novas
Ordenações no aludido prazo.
Época das Ordenações

 Sistematização e conteúdo
Foi mantida a divisão em 5 livros, que vinha das Ordenações Afonsinas, assim como a sua
subdivisão em títulos e a destes em parágrafos.
Também foi conservada a distribuição das matérias por esses livros, embora as Ordenações
Manuelinas apresentem algumas diferenças significativas de conteúdo em relação Ordenações
Afonsinas (que, no entanto, não representaram uma alteração radical ou, sequer, substancial
do direito português), por exemplo:
Foram suprimidos os preceitos aplicáveis a Judeus e a Mouros – que, entretanto, tinham sido
forçados a converterem-se ao catolicismo ou tinham sido expulsos do País (por Lei de 5 de
Dezembro de 1496) – e os que, entretanto, tinham sido autonomizados nos Regimentos e
Ordenações da Fazenda (de 1516) [esses regimentos eram três: o Regimento dos Vedores da
Fazenda, o Regimento dos Contadores das Comarcas e o Regimento para os Almoxarifes e
Recebedores];
Verificou-se a inclusão nas Ordenações Manuelinas da disciplina da interpretação vinculativa
da lei, através dos assentos da Casa da Suplicação;
Registaram-se algumas alterações na disciplina do direito subsidiário (como veremos), apesar
de se ter mantido o seu enquadramento no livro II.
Época das Ordenações

 Estilo utilizado na sua redacção – Utiliza-se


sistematicamente o estilo decretório ou
legislativo (como se fosse a primeira disciplina
de cada uma das matérias versadas),
reduzindo-se significativamente a extensão
dos títulos, ainda que retirando-lhe interesse
quanto à reconstituição do direito proveniente
de reinados anteriores.
Época das Ordenações

 Edições
 Enquanto estiveram em vigor, as Ordenações Manuelinas foram
objecto de várias edições: a primeira ficou concluída em 11 de
Março de 1521;
 Após a sua substituição pelas Ordenações Filipinas, em 1603, as
Ordenações Manuelinas ainda conheceram a edição universitária
de 1797, destinada a facilitar a investigação histórica (na qual se
inclui, por esse motivo, uma tabela de correspondência entre os
preceitos dessas Ordenações, os das Ordenações Manuelinas de
1514, os das Ordenações Afonsinas e os de leis extravagantes
sobre as matérias nelas disciplinadas, com indicação do lugar de
consulta).
Época das Ordenações

 Coleção das Leis Extravagantes de Duarte Nunes do Lião


 A necessidade de elaboração
 O aumento significativo do número de leis promulgadas após as
Ordenações Manuelinas (em virtude da aceleração da dinâmica
legislativa, característica da época), de que resultou a rápida
desactualização das Ordenações – em virtude de terem passado a
vigorar a par delas muitos diplomas legais avulsos (não recolhidos
em qualquer compilação);
 Muitos desses diplomas legais avulsos («legislação extravagante»)
revogavam, alteravam ou esclareciam disposições das Ordenações
Manuelinas, enquanto outros disciplinavam matérias não reguladas
naquela colectânea; [Continua]
Época das Ordenações

 A essa legislação avulsa juntavam-se ainda múltiplos


assentos da Casa da Suplicação, que constituíam
interpretações vinculativas da lei;
 A certeza e a segurança jurídicas reclamavam a
elaboração de uma colectânea que reunisse e
sistematizasse todo esse material jurídico posterior
às Ordenações Manuelinas.
 A iniciativa da sua elaboração pertenceu ao Cardeal
D. Henrique, regente na menoridade de D. Sebastião.
Época das Ordenações

 A elaboração dessa colectânea de legislação


extravagante, que vigorava fora das Ordenações
Manuelinas, coube a Duarte Nunes do Lião, que
exercia as funções de procurador da Casa da
Suplicação (tribunal superior do Reino, como
veremos), com experiência nesse domínio, uma vez
que já tinha organizado uma colectânea privada
dessa legislação, para uso no referido tribunal.
 A isso se deve a designação que lhe foi dada, apesar
de ter sido aprovada oficialmente.
Época das Ordenações
 A compilação que obteve força vinculativa (por Alvará de
14 de Fevereiro de 1569) é constituída por resumos ou
excertos da essência dos diversos preceitos avulsos, que
se pretendiam fidedignos (para que a sua utilização fosse
mais cómoda, por menos volumosa).
 O Alvará de 14 de Fevereiro de 1569 atribuiu, porém, a
essa síntese a mesma autoridade das disposições
originais («como se de verbo a verbo fossem escritas»);
se surgissem dúvidas na sua interpretação deveriam ser
consultados os originais.
Época das Ordenações

 Composição e sistematização da Colecção das Leis Extravagantes de Duarte


Nunes do Lião
 A coletânea compõe-se de seis partes;
 A sucessão das matérias nelas disciplinadas é a seguinte:
 Ofícios e oficiais régios;
 Jurisdições e privilégios;
 Causas (incluindo-se excertos de uma lei de D. João III sobre os trâmites dos
processos nos tribunais);
 Delitos;
 Fazenda real;
 Matérias diversas.
 Cada uma das partes compreende vários títulos, cujos preceitos se designam leis,
ainda que extraídos de fontes de natureza diferente; e as leis mais extensas
encontram-se subdivididas em parágrafos. 
Época das Ordenações

 Edições
 A edição de 1569 constitui a única realizada
durante a vigência da Colecção das Leis
Extravagantes de Duarte Nunes do Lião;
 Mas teve outra no séc. XVIII (em 1796), da
iniciativa da Universidade de Coimbra, com
finalidade histórica.
Época das Ordenações

 Ordenações Filipinas
(Disponíveis em http://
www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm)

 Razões da necessidade de umas novas Ordenações


 A Coleção das Leis Extravagantes tinha natureza intercalar, não
tendo revogado as Ordenações Manuelinas;
 A actividade legislativa continuou a ser intensa;
 As Ordenações Manuelinas tinham-se limitado a actualizar as
Ordenações Afonsinas, sem operarem uma reforma legislativa
substancial, cada vez mais urgente.
Época das Ordenações

 A elaboração de novas Ordenações não constituiu, pois, uma forma de


os Filipes imporem o direito castelhano, que (como veremos) teve um
papel reduzido nas novas Ordenações, mas uma imperiosa necessidade.

 Elaboração, aprovação e início da vigência


 Os trabalhos preparatórios da compilação filipina foram iniciados entre
1583 e 1585 e as novas Ordenações ficaram concluídas em 1595, tendo
sido aprovadas por Lei de 5 de Junho desse mesmo ano (ainda no tempo
de Filipe I).
 Essa lei não chegou a produzir efeito e só no reinado de Filipe II, através
da Lei de 11 de Janeiro de 1603, iniciaram a sua vigência – a mais
duradoura que um monumento legislativo conseguiu em Portugal (e
mais ainda no Brasil).
Época das Ordenações

 Sistematização e conteúdo
 Tal como as Ordenações que as antecederam, as Ordenações Filipinas estão
divididas em cinco livros, subdivididos em títulos e parágrafos.
 O conteúdo de cada um dos livros não apresenta diferenças fundamentais em
relação às Ordenações Manuelinas, uma vez que se procurou realizar apenas a
revisão e actualização destas últimas;
 A existência de normas de inspiração castelhana (como algumas provenientes das
Leis de Toro – Valladolid, 1505) – do tempo de Joana I, «A Louca» (filha dos Reis
Católicos, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela e mãe do imperador Carlos
V e da rainha consorte D. Catarina, que casou com o nosso Rei D. João III) –, sobre
o direito de primogenitura, não retira carácter tipicamente português às
Ordenações Filipinas;
 Em geral, apenas se procedeu à reunião num único corpo legislativo das
disposições das Ordenações Manuelinas e dos muitos diplomas legais avulsos
posteriores que se mantinham (aquelas e estes) em vigor.
Época das Ordenações

 Principais alterações em relação às Ordenações Manuelinas


 Quanto ao direito subsidiário, apesar de não se ter procedido a
alterações da disciplina material do preenchimento das lacunas
da lei consagrada pelas Ordenações Manuelinas, a matéria foi
deslocada do livro II (onde se encontrava desde as Ordenações
Afonsinas) para o livro III, relativo ao processo, o que revela
uma perspectivação diferente do problema do preenchimento
das lacunas – agora apenas um problema de determinação do
direito aplicável aos casos omissos com que os julgadores se
viam confrontados nos processos, e não (como anteriormente)
um problema de conflito entre o direito do Reino e o da Igreja.
Época das Ordenações

 Algumas importantes diferenças de conteúdo, relativamente às Ordenações


Manuelinas
 Foram as Ordenações Filipinas que incluíram pela primeira vez um conjunto de
preceitos sobre o direito da nacionalidade (Livro II, Título LV):
 De acordo com as normas aí estabelecidas, os naturais do Reino não se
determinam mediante a aplicação de um só dos critérios a que tradicionalmente
se recorre – o princípio do sangue (ius sanguinis) e o princípio do território (ius
soli) –, mas através da conjugação de ambos, embora com predomínio do
segundo.
 O diploma de aprovação das Ordenações Filipinas declarou revogadas todas as
normas legais não incluídas na compilação, apenas com ressalva das transcritas
em livro conservado na Casa da Suplicação, das Ordenações da Fazenda e dos
Artigos das Sisas.
 Na prática, porém, muitos preceitos formalmente revogados continuaram a ter
aplicação.
Época das Ordenações

 Confirmação por D. João IV (após a restauração da


independência, em 1 de Dezembro de 1640)
 Ainda em 1640, D. João IV sancionou genericamente
toda a legislação promulgada durante o governo
castelhano;
 E por Lei de 29 de Janeiro de 1643 procedeu à
expressa confirmação e revalidação das Ordenações
(embora manifestando o seu propósito de ordenar a
sua reforma, como era desejado pelas Cortes, o que
acabou por não acontecer).  
Época das Ordenações

 Defeitos apontados às Ordenações Filipinas (os «filipismos»)


 Os compiladores filipinos tiveram sobretudo a preocupação de rever
e coordenar o direito vigente, reduzindo-se ao mínimo as inovações.
 Intentou-se uma simples actualização das Ordenações Manuelinas,
mas o trabalho não foi realizado mediante uma reformulação
adequada dos vários preceitos, mas apenas aditando o novo ao
antigo.
 Daí subsistirem normas revogadas ou caídas em desuso, verificarem-
se frequentes faltas de clareza e, até, contradições resultantes da
inclusão de disposições opostas a outras que não se eliminaram.
 A ausência de originalidade e os restantes defeitos mencionados
receberam pelos fins do século XVIII a designação de «filipismos».
Época das Ordenações

 Edições
 As Ordenações Filipinas tiveram múltiplas
edições, o que bem se compreende, dada a sua
longa vigência.
 A primeira data de 1603 (Lisboa).
 Outras: a de S. Vicente de Fora (1747); as da
Universidade de Coimbra (de 1789 a 1865); a
efectuada no Brasil em 1870 (da iniciativa de
Cândido Mendes de Almeida).

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