Você está na página 1de 59

E-BOOK Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 2

APRESENTAÇÃO PESSOAL

Renan Araújo é Defensor Público Federal no Rio de


Janeiro desde 2010 e Mestre em Direito Penal pela Faculdade
de Direito da UERJ (2015). Ex-Servidor da Justiça Eleitoral
(2008 a 2010). Professor de Direito Penal e Processual Penal no
Estratégia Concursos desde 2011.

Estratégia Concursos @estrategiaconcursos

@estrategia.concursos Estrategia Concursos


E-BOOK

SUMÁRIO

1.0 PRINCÍPIO DO DIREITO PENAL 9


1 .1 CONCEITO 9
PONTOS IMPORTANTES: 10
1 . 2 OUTROS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 10
PONTOS IMPORTANTES: 10

2.0 LEI PENAL NO TEMPO 11


2.0.1 COMPETÊNCIA PARA A APLICAÇÃO DA LEI NOVA MAIS BENÉFICA 11

3.0 LEI PENAL NO ESPAÇO 11

4.0 FATO TÍPIDO 13


4 .1 CONCEITO DE CRIME 13
4 . 2 FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS 13

5.0 CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO 13


5.1 CRIME DOLOSO 13
5 . 2 CRIME CUPOSO 14
5.2.1 MODALIDADES DE CULPA 14

6.0 CRIME CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSÍVEL 15

7.0 ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE) 15


7.1 CAUSAS GENÉRICAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE ESTADO DE NECESSIDADE 15
7. 2 LEGÍTIMA DEFESA 16
TÓPICOS IMPORTANTES: 16
7. 3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 17
7. 4 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 17

8.0 CULPABILIDADE 17
TEORIAS 17
8 .1 CAUSAS DE INIMPUTABILIDADE PENAL (EXCLUSÃO DA IMPUTABILIDADE) 18

9.0 ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO 19

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 3


E-BOOK

10.0 ERRO ACIDENTAL 20

11.0 CONCURSO DE PESSOAS 21


11.1 MODALIDADES 21
TÓPICOS IMPORTANTES: 22
1 1 . 2 PARTICIPAÇÃO 22
1 1 . 3 COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS 22
1 1 . 4 COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA 23

12.0 CONCURSO DE CRIMES 23


1 2 .1 CONCURSO MATERIAL 23
1 2 . 2 CONCURSO FORMAL 23
1 2 . 3 CRIME CONTINUADO 24
12.3.1 CONEXÃO ENTRE AS CONDUTAS DELITIVAS 24
12.3.2 ESPÉCIES E SISTEMAS DE APLICAÇÃO DA PENA 24

13.0 HOMICÍDIO 26
1 3 .1 MAJORANTES NO HOMICÍDIO 26
1 3 . 2 TÓPICOS IMPORTANTES 27

14.0 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO OU À AUTOMUTILAÇÃO 27


1 4 .1 RESULTADOS POSSÍVEIS: 28
1 4 . 2 MAJORANTES 28

15.0 INFANTICÍDIO 28

16.0 ABORTO 29
1 6 .1 TRÊS MODALIDADES 29
1 6 . 2 ABORTO PROVOCADO PELA PRÓPRIA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO (ART. 124)
29
1 6 . 3 ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 125) 29
1 6 . 4 ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 126) 30
16.4.1 MAJORANTES NO ABORTO PROVOCADO 30
1 6 . 5 ABORTO PERMITIDO 30

17.0 LESÕES CORPORAIS 30

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 4


E-BOOK

1 7.1 MAJORANTES NO CRIME DE LESÃO CORPORAL 31


1 7. 2 TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE O CRIME DE LESÃO CORPORAL 32

18.0 CRIMES CONTRA A HONRA 32


1 8 .1 CALÚNIA 32
1 8 . 2 DIFAMAÇÃO 33
1 8 . 3 INJÚRIA 33
1 8 . 4 TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE OS CRIMES CONTRA A HONRA 33
1 8 . 5 AÇÃO PENAL 34

19.0 FURTO 34
1 9.1 TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE O CRIME DE FURTO 36

20.0 ROUBO 36

21.0 EXTORSÃO 38
21.1 EXTORSÃO QUALIFICADA PELO RESULTADO 38
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO 38
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO QUALIFICADA PELO RESULTADO 39

22.0 DANO 39

23.0 APROPRIAÇÃO INDÉBITA 39


23 .1 APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA 40
23 . 2 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 40

24.0 ESTELIONATO 40
24 .1 ESTELIONATO ENVOLVENDO ATIVOS VIRTUAIS (ART. 171-A DO CP) 41
24.1.1 TÓPICOS IMPORTANTES 41
24 . 2 ESTELIONATO “PREVIDENCIÁRIO” 41

25.0 RECEPTAÇÃO 42

26.0 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE OS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 43


26 .1 CAUSA PESSOAL DE ISENÇÃO DE PENA (ESCUSA ABSOLUTÓRIA) 43
26 . 2 AÇÃO PENAL 43

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 5


E-BOOK

27.0 CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL 43


27.1 ESTUPRO 43
2 7. 2 VIOLÊNCIA SEXUAL MEDIANTE FRAUDE 44
2 7. 3 IMPORTUNAÇÃO SEXUAL 44
2 7. 4 ASSÉDIO SEXUAL 45

28.0 CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL 45


28 .1 ESTUPRO DE VULNERÁVEL 45
28 . 2 CORRUPÇÃO DE MENORES 45
28 . 3 SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE 46
28 . 4 FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VUL-
NERÁVEL 46
28 . 5 DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA
DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA 46
2 8 .6 DISPOSIÇÕES GERAIS APLICÁVEIS AOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL E AOS
CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL 47
28 .7 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PARA OS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (TODOS)
47

29.0 MOEDA FALSA 47


29.1 PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA 48

30.0 FALSIDADE DOCUMENTAL 48


3 0.1 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO 48
3 0. 2 FALSO X ESTELIONATO 48
3 0. 3 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR 48
3 0. 4 FALSIDADE IDEOLÓGICA 49
3 0. 5 FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO 49
3 0.6 USO DE DOCUMENTO FALSO 49

31.0 OUTRAS FALSIDADES 49


31.1 FALSA IDENTIDADE 49

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 6


E-BOOK

32.0 CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


EM GERAL 50
32 .1 CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS 50
32 . 2 PECULATO 50
32 . 3 CONCUSSÃO X CORRUPÇÃO PASSIVA 51
CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA X PREVARICAÇÃO 51
32 . 3 FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO 51
32 . 4 ADVOCACIA ADMINISTRATIVA 52
32 . 5 DISPOSIÇÕES GERAIS 52

33.0 CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL


52
33 .1 RESISTÊNCIA 52
33 . 2 DESOBEDIÊNCIA 53
33 . 3 DESACATO 53
33 . 4 TRÁFICO DE INFLUÊNCIA 54
33 . 5 CORRUPÇÃO ATIVA 54
33 .6 CONTRABANDO 54
33 .7 DESCAMINHO 55
33 . 8 SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 55
33 . 9 PERDÃO JUDICIAL 56

34.0 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA 56


3 4 .1 DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA 56
3 4 . 2 COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO 56
3 4 . 3 AUTOACUSAÇÃO FALSA DE CRIME 56
3 4 . 4 FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA 57
3 4 . 5 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES 57
3 4 .6 FAVORECIMENTO PESSOAL E FAVORECIMENTO REAL 58
QUADRO ESQUEMÁTICO 59

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 7


E-BOOK

1.0 PRINCÍPIO DO DIREITO PENAL

1 .1 CONCEITO

Normas que, extraídas da Constituição Federal, servem como contra os sucessores.


base interpretativa para todas as outras normas de Direito Penal do Limitação das penas (ou humanidade) – Determinadas
sistema jurídico brasileiro. Possuem força normativa, devendo ser espécies de sanção penal são vedadas. São elas:
respeitados, sob pena de inconstitucionalidade da norma que os • Pena de morte. EXCEÇÃO: no caso de guerra declarada
contrariar. Em resumo: (crimes militares).
• Pena de caráter perpétuo.
Legalidade – Uma conduta não pode ser considerada criminosa
• Pena de trabalhos forçados.
se, antes de sua prática (anterioridade), não havia lei formal (reserva
• Pena de banimento.
legal) nesse sentido. Pontos importantes:
• Penas cruéis.
• O princípio da legalidade divide-se em “reserva legal”
OBS.: trata-se de cláusula pétrea.
(necessidade de Lei formal) e “anterioridade” (necessidade de que
Presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade)
a Lei seja anterior ao fato criminoso).
• Normas penais em branco não violam tal princípio. – Ninguém pode ser considerado culpado se ainda não há sentença
• Lei penal não pode retroagir, sob pena de violação à penal condenatória transitada em julgado.
anterioridade. EXCEÇÃO: poderá retroagir para beneficiar o réu. • Uma regra probatória (regra de julgamento) – Desse princípio,
• Somente Lei formal pode criar condutas criminosas e cominar decorre que o ônus (obrigação) da prova cabe ao acusador (MP ou
penas. OBS.: Medida Provisória pode descriminalizar condutas e ofendido, conforme o caso).
tratar de temas favoráveis ao réu (há divergências, mas isso é o • Uma regra de tratamento – Desse princípio decorre, ainda,
que prevalece no STF). que o réu deve ser, a todo momento, tratado como inocente.
Individualização da pena – Ocorre em três esferas:
• Legislativa – Cominação de punições proporcionais à Dimensão interna – O agente deve ser tratado, dentro do
gravidade dos crimes, com o estabelecimento de penas mínimas processo, como inocente.
e máximas.
Dimensão externa – O agente deve ser tratado como inocente
• Judicial – Análise, pelo magistrado, das circunstâncias do
FORA do processo, ou seja, o fato de estar sendo processado não
crime, dos antecedentes do réu etc.
• Administrativa – Ocorre na fase de execução penal, pode gerar reflexos negativos na vida do réu.
oportunidade na qual serão analisadas questões como progressão OBS.: o STF, que havia relativizado o princípio (autorizando
de regime, livramento condicional e outras. a execução provisória de pena a partir de condenação em segunda
Intranscendência da pena – Ninguém pode ser processado instância), voltou ao seu entendimento clássico, estabelecendo que
e punido por fato criminoso praticado por outra pessoa. Isso não a presunção de inocência vai até o trânsito em julgado (e só a partir
impede que os sucessores do condenado falecido sejam obrigados daí se admite execução da pena criminal).
a reparar os danos civis causados pelo fato. Desse princípio, decorre que o ônus da prova cabe ao acusador.
OBS.: a multa não é “obrigação de reparar o dano”, pois não se O réu é, desde o começo, inocente, até que o acusador prove sua
destina à vítima. A multa é espécie de PENA e não pode ser executada culpa.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 8


E-BOOK

PONTOS IMPORTANTES:
• A existência de prisões provisórias (prisões decretadas no curso do processo) não ofende a presunção de inocência.
• Processos criminais em curso e inquéritos policiais em face do acusado NÃO podem ser considerados maus antecedentes (nem
circunstâncias judiciais desfavoráveis) – Súmula 444 do STJ.
• Não se exige sentença transitada em julgado (pelo novo crime) para que o condenado sofra regressão de regime (pela prática de novo
crime).
• Não se exige sentença transitada em julgado (pelo novo crime) para que haja revogação da suspensão condicional do processo.

1 . 2 OUTROS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Princípio da alteridade – O fato deve causar lesão a um bem ou à defesa de interesses cuja proteção, pelo Direito Penal, seja
jurídico de terceiro. Desse princípio, decorre que o DIREITO PENAL absolutamente indispensável à coexistência harmônica e pacífica da
NÃO PUNE A AUTOLESÃO. sociedade.
Princípio da ofensividade – Não basta que o fato seja Princípio do ne bis in idem – Ninguém pode ser punido
formalmente típico. É necessário que esse fato ofenda, de maneira duplamente pelo mesmo fato. Ninguém poderá sequer ser processado
grave, o bem jurídico pretensamente protegido pela norma penal. duas vezes pelo mesmo fato. Não se pode, ainda, utilizar o mesmo
Princípio da Adequação Social – Uma conduta, ainda quando fato, condição ou circunstância duas vezes (como qualificadora e
tipificada em Lei como crime, quando não afrontar o sentimento como agravante, por ex.).
social de Justiça, não seria crime (em sentido material). Princípio da proporcionalidade – As penas devem ser
Princípio da Fragmentariedade do Direito Penal – Nem todos aplicadas de maneira proporcional à gravidade do fato. Além disso, as
os fatos considerados ilícitos pelo Direito devem ser considerados penas devem ser cominadas de forma a dar ao infrator uma sanção
como infração penal, mas somente aqueles que atentem contra bens proporcional ao fato abstratamente previsto.
jurídicos EXTREMAMENTE RELEVANTES. Princípio da confiança – Todos possuem o direito de atuar
Princípio da Subsidiariedade do Direito Penal – O Direito acreditando que as demais pessoas irão agir de acordo com as
Penal não deve ser usado a todo momento, mas apenas como normas que disciplinam a vida em sociedade. Ninguém pode ser
uma ferramenta subsidiária, quando os demais ramos do Direito se punido por agir com essa expectativa.
mostrarem insuficientes. Princípio da insignificância (ou da bagatela) – As condutas que
Princípio da Intervenção mínima (ou Ultima Ratio) – não ofendam significativamente os bens jurídico-penais tutelados
Decorre do caráter fragmentário e subsidiário do Direito Penal. A não podem ser consideradas criminosas (em sentido material). A
criminalização de condutas só deve ocorrer quando se caracterizar aplicação de tal princípio afasta a tipicidade MATERIAL da conduta.
como meio absolutamente necessário à proteção de bens jurídicos

PONTOS IMPORTANTES:
• Descaminho – Cabe aplicação do princípio da insignificância. PATAMAR: R$ 20.000,00.
• Reincidência – Há divergência jurisprudencial. STF: apenas a reincidência específica é capaz de afastar a aplicação do princípio da
insignificância (há decisões em sentido contrário).
• Contrabando – Em regra, não se aplica o princípio da insignificância, salvo se se tratar de:
• Pequena quantidade de medicamento para uso próprio
• Contrabando de cigarros quando a quantidade apreendida não ultrapassar 1.000 (mil) maços (STJ – Tema repetitivo 1143)

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 9


E-BOOK

• Crimes com violência ou grave ameaça à pessoa – Inaplicável o princípio da insignificância.


• Crimes ou contravenções praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas – Inaplicável o princípio da insignificância
(súmula 589 do STJ).
• Moeda falsa – Inaplicável o princípio da insignificância.

2.0 LEI PENAL NO TEMPO

REGRA – Princípio da atividade: lei é aplicada aos fatos lei nova revogue um determinado artigo que previa um tipo penal,
praticados durante sua vigência. a conduta pode continuar sendo considerada crime (não há abolitio
EXCEÇÃO: extra-atividade da Lei penal benéfica. Duas formas: criminis):
• RETROATIVIDADE da Lei penal benéfica – Lei nova mais • Quando a Lei nova simultaneamente insere esse fato dentro
benéfica retroage, de forma que será aplicada aos fatos criminosos de outro tipo penal.
praticados antes de sua entrada em vigor. • Quando, mesmo revogado o tipo penal, a conduta está
• ULTRA-ATIVIDADE da Lei penal benéfica – Lei mais benéfica, prevista como crime em outro tipo penal.
quando revogada, continua a reger os fatos praticados durante sua OBS.: faz cessar a pena e os efeitos penais da condenação.
vigência. Lei posterior que traz benefícios e prejuízos ao réu –
Abolitio criminis – Lei nova passa a não mais considerar a Prevalece o entendimento de que não é possível combinar as duas
conduta como criminosa (descriminalização da conduta). Leis. Deve ser aplicada a Lei que, no todo, seja mais benéfica (teoria
Continuidade típico-normativa – Em alguns casos, embora a da ponderação unitária).

2.0.1 COMPETÊNCIA PARA A APLICAÇÃO DA LEI NOVA MAIS BENÉFICA

• Processo ainda em curso – Compete ao Juízo que está excepcional, ela não mais produzirá efeitos.
conduzindo o processo.
• Processo já transitado em julgado – Compete ao Juízo da Tempo do crime – Considera-se praticado o delito no momento
execução penal (enunciado nº 611 da súmula do STF).
conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o momento do
Leis excepcionais e temporárias – Continuam a reger os fatos
resultado (adoção da teoria da ATIVIDADE ou da AÇÃO).
praticados durante sua vigência, mesmo após expirado o prazo de
Crimes continuados e permanentes – Consideram-se
vigência ou mesmo após o fim das circunstâncias que determinaram
como sendo praticados enquanto não cessa a continuidade ou
a edição da lei.
permanência. Consequência: se, nesse período (em que o crime está
sendo praticado), sobrevier lei nova, mais grave, ela será aplicada
OBS.: se houver superveniência de lei abolitiva expressamente
(súmula 711 do STF).
revogando a criminalização prevista na lei temporária ou

3.0 LEI PENAL NO ESPAÇO


REGRA – Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido no território nacional, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional (ex.: Convenção de Viena sobre imunidades diplomáticas). Trata-se do princípio da territorialidade mitigada ou temperada.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 10


E-BOOK

Território nacional – Espaço em que o Estado exerce sua no Brasil


soberania política. O território brasileiro compreende: OBS.: essas hipóteses dispensam outras condições, bastando
• Toda a extensão terrestre situada até os limites fronteiriços que tenha sido o crime cometido nessas circunstâncias.
do nosso país, bem como rios, lagos e mares interiores (além das OBS.2: será aplicada a lei brasileira ainda que o agente já tenha
ilhas vinculadas ao Brasil), além do subsolo;
sido condenado ou absolvido no exterior.
• O mar territorial (faixa de 12 milhas marítimas
OBS.3: a pena já eventualmente cumprida no estrangeiro será
medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental
levada em consideração (“A pena cumprida no estrangeiro atenua a
e insular);
• O espaço aéreo (foi adotada a teoria da absoluta pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela
soberania sobre a coluna atmosférica do país subjacente). é computada, quando idênticas”, art. 8º do CP).

Território nacional por extensão EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA – Aplica-se aos


• Os navios e aeronaves públicos ou a serviço do Governo crimes:
Brasileiro, onde quer que se encontrem. • Que, por tratado ou convenção, o Brasil obrigou-se a reprimir
• Os navios e aeronaves particulares, de bandeira brasileira, • Praticados por brasileiro
que se encontrem em alto-mar ou no espaço aéreo, a ele • Praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
correspondente. mercantes ou de propriedade privada, quando em território
estrangeiro e aí não sejam julgados
EXTRATERRITORIALIDADE – Aplicação da lei penal brasileira a
um crime praticado fora do território nacional. Condições:
• Entrar o agente no território nacional
• Ser o fato punível também no país em que foi praticado
Extraterritorialidade INCONDICIONADA – Aplica-se aos
• Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira
crimes cometidos:
autoriza a extradição
• Contra a vida ou a liberdade do Presidente da República
• Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí
• Contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
cumprido a pena
Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública,
• Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por
sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais
pelo Poder Público
favorável
• Contra a administração pública, por quem está a seu serviço
EXTRATERRITORIALIDADE HIPERCONDICIONADA – ÚNICA
• De genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado

HIPÓTESE: crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil.

Condições:
Mesmas condições da extraterritorialidade condicionada
+
Não ter sido pedida ou ter sido negada a extradição Haver requisição do MJ

Lugar do crime – Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a conduta (ação ou omissão), bem como onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado (adoção da teoria da UBIQUIDADE ou MISTA).

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 11


E-BOOK

4.0 FATO TÍPIDO

4 .1 CONCEITO DE CRIME

O Crime pode ser entendido sob três aspectos:material, formal significativa (mediante lesão ou exposição a perigo), um bem
(legal) e analítico: jurídico relevante de terceira pessoa.
• Formal (legal) – Crime é a conduta prevista em Lei como • Analítico – Adoção da teoria tripartida. Crime é composto por
crime. No Brasil, mais especificamente, é toda infração penal a que fato típico, ilicitude e culpabilidade (posição da Doutrina mais que
a lei comina pena de reclusão ou detenção majoritária).
• Material – Crime é a conduta que afeta, de maneira

4 . 2 FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS

O fato típico também divide-se em elementos, são eles: adequada, na hipótese de superveniência de causa relativamente
• Conduta humana (alguns entendem possível a conduta de independente que produz, por si só, o resultado. OBS.: a teoria da
pessoa jurídica) – Adoção da teoria FINALISTA: conduta humana é a imputação objetiva não foi expressamente adotada pelo CP, mas
ação ou omissão voluntária dirigida a uma determinada finalidade. há decisões jurisprudenciais aplicando a Teoria.
• Resultado naturalístico – É a modificação do mundo real • Tipicidade – É a adequação da conduta do agente à conduta
provocada pela conduta do agente. Apenas nos crimes materiais descrita pela norma penal incriminadora (tipicidade formal).
se exige um resultado naturalístico. Nos crimes formais e de mera A tipicidade material é o desdobramento do conceito material
conduta, não há essa exigência. Além do resultado naturalístico de crime: só haverá tipicidade material quando houver lesão
(que nem sempre estará presente), há também o resultado jurídico (ou exposição a perigo) significativa a bem jurídico relevante de
(ou normativo), que é a lesão ao bem jurídico tutelado pela norma terceiro (afasta-se a tipicidade material, por exemplo, quando se
penal. Esse resultado sempre estará presente. reconhece o princípio da insignificância). OBS.: Adequação típica
• Nexo de causalidade – Nexo entre a conduta do agente mediata: nem sempre a conduta praticada pelo agente se amolda
e o resultado. Adoção, pelo CP, da teoria da equivalência dos perfeitamente ao tipo penal (adequação imediata). Às vezes,
antecedentes (considera-se causa do crime toda conduta sem é necessário que se proceda à conjugação de outro dispositivo
a qual o resultado não teria ocorrido). Utilização do elemento da Lei Penal para se chegar à conclusão de que um fato é típico
subjetivo (dolo ou culpa) como filtro, para evitar a “regressão (adequação mediata). ex.: homicídio tentado (art. 121 + art. 14, II
infinita”. Adoção, subsidiariamente, da teoria da causalidade do CP).

5.0 CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO

5.1 CRIME DOLOSO

Dolo direto de primeiro grau – composto pela consciência de que a conduta pode lesar um bem jurídico + a vontade de violar (pela lesão
ou exposição a perigo) esse bem jurídico.
Dolo direto de segundo grau – também chamado de “dolo de consequências necessárias”. O agente não quer o resultado, mas sabe que
o resultado é um efeito colateral NECESSÁRIO e pratica a conduta assim mesmo, sabendo que o resultado (não querido) ocorrerá fatalmente.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 12


E-BOOK

Dolo eventual – consiste na consciência de que a conduta conduta descrita no tipo penal, sem nenhuma outra finalidade.
pode gerar um resultado criminoso + a assunção desse risco, mesmo • Dolo específico, ou especial fim de agir – Em contraposição
diante da probabilidade de algo dar errado. Trata-se de hipótese na ao dolo genérico, nesse caso, o agente não quer somente praticar
a conduta típica, mas o faz por alguma razão especial, com alguma
qual o agente não tem vontade de produzir o resultado criminoso,
finalidade específica.
mas, analisando as circunstâncias, sabe que esse resultado pode
• Dolo geral, por erro sucessivo ou aberratio causae – Ocorre
ocorrer e não se importa, age da mesma maneira. OBS.: diferença
quando o agente, acreditando ter alcançado seu objetivo, pratica
em relação ao dolo direto de segundo grau: aqui o resultado não nova conduta, com finalidade diversa, mas, depois, constata-se
querido é POSSÍVEL OU PROVÁVEL; no dolo direto de segundo grau, que esta última foi a que efetivamente causou o resultado. Trata-
o resultado não querido é CERTO (consequência necessária). se de erro na relação de causalidade, pois, embora o agente tenha
O dolo pode ser, ainda: conseguido alcançar a finalidade proposta, somente o alcançou
• Dolo genérico – É, basicamente, a vontade de praticar a através de outro meio, que não tinha direcionado para isso.

5 . 2 CRIME CUPOSO

No crime culposo, a conduta do agente é destinada a um O crime culposo é composto de:


determinado fim (que pode ser lícito ou não), mas, pela violação a • Uma conduta voluntária
um dever de cuidado, o agente acaba por lesar um bem jurídico de • A violação a um dever objetivo de cuidado
• Um resultado naturalístico involuntário – O resultado
terceiro, cometendo crime culposo. Pode se dar por:
produzido não foi querido pelo agente (salvo na culpa imprópria).
• Negligência – O agente deixa de tomar todas as cautelas
• Nexo causal
necessárias para que sua conduta não venha a lesar o bem jurídico
• Tipicidade – Adoção da excepcionalidade do crime culposo.
de terceiro.
Só haverá punição a título de culpa se houver expressa previsão
• Imprudência – É o caso do afoito, daquele que pratica atos
legal nesse sentido.
temerários, que não se coadunam com a prudência que se deve ter
• Previsibilidade objetiva – O resultado ocorrido deve ser
na vida em sociedade.
• Imperícia – Decorre do desconhecimento de uma regra previsível mediante um esforço intelectual razoável. É chamada
técnica profissional para a prática da conduta. previsibilidade do “homem médio”.

5.2.1 MODALIDADES DE CULPA


• Culpa consciente e inconsciente – Na culpa consciente, o causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade. A culpa, portanto,
agente prevê o resultado como possível, mas acredita que este não está na execução da conduta, mas no momento de escolher
não irá ocorrer (previsibilidade SUBJETIVA). Na culpa inconsciente, praticar a conduta. Trata-se de uma conduta dolosa praticada em
o agente não prevê que o resultado possa ocorrer (há apenas situação de erro evitável, de forma que o agente será punido na
previsibilidade OBJETIVA, não subjetiva). forma culposa, por questões de política criminal.
• Culpa própria e culpa imprópria – A culpa própria é aquela
na qual o agente NÃO QUER O RESULTADO criminoso. É a culpa
OBS.: crime preterdoloso (ou preterintencional): o crime
propriamente dita. Pode ser consciente, quando o agente prevê
o resultado como possível, ou inconsciente, quando não há essa preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar
previsão. Na culpa imprópria, o agente quer o resultado, mas, por determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, não
erro inescusável, acredita que o está fazendo amparado por uma com dolo, mas por culpa.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 13


E-BOOK

6.0 CRIME CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSÍVEL

Crime consumado – ocorre quando todos os elementos da mesmo podendo fazê-lo. FÓRMULA DE FRANK: (1) Na tentativa – O
definição legal da conduta criminosa estão presentes. agente quer, mas não pode prosseguir; (2) Na desistência voluntária
Crime tentado – há crime tentado quando o resultado não – O agente pode, mas não quer prosseguir. Se o resultado não
ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. Adoção da ocorrer, o agente não responde pela tentativa, mas apenas pelos atos
teoria objetiva da punibilidade da tentativa: como regra, o agente efetivamente praticados.
responde pela pena do crime consumado, diminuída de um a dois Arrependimento eficaz – Aqui, o agente já praticou todos os
terços. EXCEÇÃO: (1) crimes em que a mera tentativa de alcançar o atos executórios que queria e podia, mas após isso, arrepende-se
resultado já consuma o delito. Ex: art. 352 do CP (Evasão mediante do ato e adota medidas que acabam por impedir a consumação do
violência contra a pessoa); (2) outras exceções legais. resultado. Se o resultado não ocorrer, o agente não responde pela
Crime impossível (tentativa inidônea ou crime oco) – tentativa, mas apenas pelos atos efetivamente praticados.
o resultado não ocorre por ser absolutamente impossível sua Arrependimento posterior – Não exclui o crime, pois este já
ocorrência, em razão: (1) da absoluta impropriedade do objeto; ou se consumou. Ocorre quando o agente repara o dano provocado ou
(2) da absoluta ineficácia do meio. Adoção da teoria objetiva da restitui a coisa. Consequência: diminuição de pena, de um a dois
punibilidade da tentativa inidônea: a conduta do agente não terços. Só cabe:
é punível. • Nos crimes em que não há violência ou grave ameaça à
pessoa;
Desistência voluntária – Na desistência voluntária, o agente, • Se a reparação do dano ou restituição da coisa é anterior ao
por ato voluntário, desiste de dar sequência aos atos executórios, recebimento da denúncia ou queixa.

7.0 ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE)

É a condição de contrariedade da conduta perante o Direito. Em regra, toda conduta típica é ilícita. Não o será, porém, se houver uma
causa de exclusão da ilicitude. São elas:
• Genéricas – São aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime. Estão previstas na parte geral do Código Penal, em seu art. 23;
• Específicas – São aquelas que são próprias de determinados crimes, não se aplicando a outros.

7.1 CAUSAS GENÉRICAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE ESTADO DE NECESSIDADE

Conceito – “Considera-se em estado de necessidade quem foi ele mesmo quem deu causa, não poderá sacrificar o direito de
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua um terceiro a pretexto de salvar o seu).
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, • Perigo atual – O perigo deve estar ocorrendo. A lei não
permite o estado de necessidade diante de um perigo futuro, ainda
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”.
que iminente.
Se bem sacrificado era de valor maior do que o bem protegido
• A situação de perigo deve estar expondo à lesão um bem
– Não há justificação. A conduta é ilícita. O agente, contudo, tem a
jurídico do próprio agente ou de um terceiro.
pena diminuída de um a dois terços. • O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o resultado.
Requisitos • Bem jurídico sacrificado deve ser de valor igual ou inferior
• Não ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja, se ao bem protegido – Se o bem sacrificado era de valor maior do que

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 14


E-BOOK

o bem protegido, não há justificação. A conduta é ilícita. O agente, sacrifica bem jurídico de um terceiro que não provocou a situação
contudo, tem a pena diminuída de um a dois terços. de perigo.
• Atitude necessária – O agente deve agir nos estritos limites • Defensivo – Quando o agente sacrifica um bem jurídico de
do necessário. Caso se exceda, responderá pelo excesso (culposo quem ocasionou a situação de perigo.
ou doloso). • Real – Quando a situação de perigo efetivamente existe.
Espécies: • Putativo – Quando a situação de perigo não existe de fato,
• Agressivo – Quando, para salvar seu bem jurídico, o agente apenas na imaginação do agente.

7. 2 LEGÍTIMA DEFESA

Conceito – “Entende-se em legítima defesa quem, usando OBS.: na legítima defesa, diferentemente do que ocorre no
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, estado de necessidade, o agredido (que age em legítima defesa) não
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. é obrigado a fugir do agressor, ainda que possa, ou seja, não se exige
que o agente opte pela saída mais cômoda (commodus discessus).
Requisitos:
• Agressão Injusta – Assim, se a agressão é justa, não há Espécies de legítima defesa:
legítima defesa. • Agressiva – Quando o agente pratica um fato previsto como
• Atual ou iminente – A agressão deve estar acontecendo ou infração penal.
prestes a acontecer. • Defensiva – O agente limita-se a se defender, não atacando
• Contra direito próprio ou alheio – A agressão injusta pode nenhum bem jurídico do agressor.
estar acontecendo ou prestes a acontecer contra direito do próprio • Própria – Quando o agente defende seu próprio bem jurídico.
agente ou de um terceiro. • De terceiro – Quando defende bem jurídico pertencente a
• Reação proporcional – O agente deve repelir a agressão outra pessoa.
injusta, valendo-se dos meios necessários, mas sem se exceder. • Real – Quando a agressão, ou a iminência dela, acontece, de
Caso se exceda, responderá pelo excesso (culposo ou doloso). fato, no mundo real.
• Conhecimento da situação justificante – O agente deve • Putativa – Quando o agente pensa que está sendo agredido
saber que está agindo em legítima defesa, ou seja, deve conhecer ou que essa agressão irá ocorrer, mas, na verdade, trata-se de fruto
a situação justificante e agir com intenção de defesa (animus da sua imaginação.
defendendi).

TÓPICOS IMPORTANTES:
• Não cabe legítima defesa real em face de legítima defesa real.
• Cabe legítima defesa real em face de legítima defesa putativa.
• Cabe legítima defesa sucessiva.
• Sempre caberá legítima defesa em face de conduta que esteja acobertada apenas por causa de exclusão da culpabilidade.
• NUNCA haverá possibilidade de legítima defesa real em face de qualquer causa de exclusão da ilicitude real.
OBS.: a Lei 13.964/19 (pacote “anticrime”) incluiu a previsão expressa (art. 25, § único, do CP) no sentido de que se considera, também,
em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão à vítima mantida refém durante a prática de crimes.
Obviamente, só haverá legítima defesa se preenchidos os requisitos para toda e qualquer legítima defesa (agressão injusta, reação proporcional
etc.).

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 15


E-BOOK

7. 3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Conceito – Ocorre quando o agente pratica fato típico, mas o faz em cumprimento a um dever previsto em lei.
Observações importantes:
• Se um terceiro colabora com aquele que age no estrito cumprimento do dever legal, a ele também se estende essa causa de exclusão
da ilicitude (há comunicabilidade).
• O particular também pode agir no estrito cumprimento do dever legal.

7. 4 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

Conceito – Ocorre quando o agente pratica fato típico, mas o faz no exercício de um direito seu. Dessa forma, quem age no legítimo
exercício de um direito seu, não poderá estar cometendo crime, pois a ordem jurídica deve ser harmônica. ex.: lutador de vale-tudo que agride
o oponente.
Excesso punível – Da mesma forma que nas demais hipóteses, o agente responderá pelo excesso (culposo ou doloso). O excesso, aqui, irá
se verificar sempre que o agente ultrapassar os limites do direito que possui (não estará mais no exercício REGULAR de direito).

8.0 CULPABILIDADE

CONCEITO – Juízo de reprovabilidade acerca da conduta do agente, considerando-se suas circunstâncias pessoais.

TEORIAS

TEORIAS ACERCA DA CULPABILIDADE

PSICOLÓGICA Imputabilidade (pressuposto) + dolo ou culpa

PSICOLÓGICO- Imputabilidade + exigibilidade de conduta diversa + culpa + dolo natural (consciência e vontade) +
NORMATIVA dolo normativo (consciência da ilicitude)

Imputabilidade + exigibilidade de conduta diversa + dolo normativo (POTENCIAL consciência da


EXTREMADA
ilicitude)1

Mesmos elementos da teoria extremada + divergência quanto ao


tratamento das descriminantes putativas decorrentes de erro sobre
LIMITADA ADOTADA PELO CP
pressupostos fáticos (entende que devem ser tratadas como erro de tipo,
não como erro de proibição).

1 O dolo natural (a mera vontade e consciência de praticar a conduta definida como crime) migra, portanto, para o fato típico como elemento integrante da conduta.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 16


E-BOOK

ELEMENTOS: POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE, EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA E IMPUTABILIDADE PENAL


POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE – Possibilidade de o agente, de acordo com suas características, conhecer o caráter ilícito do fato.
Quando o agente atua acreditando que sua conduta não é penalmente ilícita, comete erro de proibição.
EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA – Não basta que o agente seja imputável e que tenha potencial conhecimento da ilicitude do fato,
é necessário, ainda, que o agente pudesse agir de outro modo. Não havendo tal elemento, afastada está a culpabilidade. Exemplos:
• Coação MORAL irresistível – Ocorre quando uma pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob a ameaça de lhe fazer algum
mal grave. Obs.: a coação FÍSICA irresistível NÃO EXCLUI A CULPABILIDADE. A coação FÍSICA irresistível EXCLUI O FATO TÍPICO por ausência
de voluntariedade no movimento corporal (logo, ausência de conduta penalmente relevante).
• Obediência hierárquica – É o ato cometido por alguém em cumprimento a uma ordem não manifestamente ilegal proferida por um
superior hierárquico. Obs.: prevalece que só se aplica aos funcionários públicos.

IMPUTABILIDADE – Capacidade mental de entender o caráter ilícito da conduta e de comportar-se conforme o Direito.
Critérios para aferição da imputabilidade:

CRITÉRIOS PARA AFERIÇÃO DA IMPUTABILIDADE

Basta a existência de uma característica biológica (doença mental ou determinada idade)


BIOLÓGICO para que o agente seja inimputável.
OBS.: adotado pelo CP em relação à inimputabilidade por menoridade penal.

Só se pode aferir a imputabilidade (ou não) na análise do caso


PSICOLÓGICO
concreto (se o agente tinha discernimento).

Conjuga a presença de um elemento biológico (doença mental ou idade) com a necessidade


de se avaliar se o agente, no caso concreto, tinha discernimento.
BIOPSICOLÓGICO
OBS.: adotado pelo CP em relação à inimputabilidade por doença mental e embriaguez
decorrente de caso fortuito ou força maior.

OBS.: em qualquer caso, a inimputabilidade é aferida no momento do fato criminoso.

8 .1 CAUSAS DE INIMPUTABILIDADE PENAL (EXCLUSÃO DA IMPUTABILIDADE)

Menoridade penal – São inimputáveis os menores de 18 anos caráter ilícito do fato OU inteiramente incapaz de determinar-se
(critério biológico) conforme esse entendimento (critério psicológico)
Doença mental e desenvolvimento mental incompleto ou Obs.: se, em decorrência da doença, o agente tinha
retardado – Requisitos: discernimento PARCIAL (semi-imputabilidade), NÃO É ISENTO DE
• Que o agente possua a doença (critério biológico) PENA (não afasta a imputabilidade). Nesse caso, há redução de pena
• Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o (um a dois terços).

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 17


E-BOOK

Embriaguez – Requisitos:
• Que o agente esteja completamente embriagado (critério biológico)
• Que se trate de embriaguez decorrente de caso fortuito ou força maior
• Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato OU inteiramente incapaz de determinar-se conforme este
entendimento (critério psicológico)
Obs.: no caso de embriaguez acidental parcial, não há isenção de pena. Nesse caso, há redução de pena (um terço a dois terços).

Esquema:

MENORIDADE Menores de 18 anos Inimputáveis


E PENAL

Sem discernimento algum Inimputável


DOENÇA
MENTAL
CAUSAS DE Redução de pena
Discernimento parcial
INIMPUTABILIDADE (um a dois terços)

Redução de pena Redução de pena


(um a dois terços) (um a dois terços)

EMBRIAGUEZ
Sem discernimento algum Inimputável
Redução de pena
(um a dois terços)
Redução de pena
Discernimento parcial
(um a dois terços)

9.0 ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO

ERRO DE TIPO ESSENCIAL – O agente pratica um fato


considerado típico, mas o faz por ter incidido em erro sobre algum ERRO DE PROIBIÇÃO – Quando o agente age acreditando que
de seus elementos. É a representação errônea da realidade. O erro sua conduta não é ilícita, comete ERRO DE PROIBIÇÃO (art. 21 do CP).
de tipo pode ser: O erro de proibição pode ser:
• Escusável – Quando o agente não poderia conhecer, de fato, • Escusável – Qualquer pessoa, nas mesmas condições,
a presença do elemento do tipo. Qualquer pessoa, nas mesmas cometeria o mesmo erro. Afasta a culpabilidade (agente fica
condições, cometeria o mesmo erro. isento de pena).
• Inescusável – Ocorre quando o agente incorre em erro sobre • Inescusável – O erro não é tão perdoável, pois era possível,
elemento essencial do tipo, mas poderia, mediante um esforço mediante algum esforço, entender que se tratava de conduta
mental razoável, não ter agido dessa forma. penalmente ilícita. Não afasta a culpabilidade. Há diminuição de
OBS.: Erro de tipo permissivo – O erro de “tipo permissivo” é pena de um sexto a um terço.
o erro sobre os pressupostos objetivos de uma causa de justificação OBS.: Erro de proibição indireto – ocorre quando o agente
(excludente de ilicitude). atua acreditando que existe uma causa de justificação que o ampare.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 18


E-BOOK

Diferença entre erro de proibição indireto e erro de tipo permissivo: • Erro de proibição indireto – O agente atua acreditando que
• Erro de tipo permissivo – O agente atua acreditando que, existe, EM ABSTRATO, alguma descriminante (causa de justificação)
no caso concreto, estão presentes os requisitos fáticos que que autorize sua conduta. Trata-se de erro sobre a existência e/ou
caracterizam a causa de justificação e, portanto, sua conduta seria limites de uma causa de justificação em abstrato. Erro, portanto,
justa. sobre o ordenamento jurídico (erro normativo).

10.0 ERRO ACIDENTAL


ERRO DE TIPO ACIDENTAL – O erro de tipo acidental nada pessoa).
mais é que um erro na execução do fato criminoso ou um desvio no • Erro sobre a execução com unidade simples (aberratio
nexo causal da conduta com o resultado. Pode ser: ictus de resultado único ou em sentido estrito) – O agente atinge
somente a pessoa diversa daquela visada.
Erro sobre a pessoa (error in persona) – Aqui, o agente pratica
• Erro sobre a execução com unidade complexa (aberratio
o ato contra pessoa diversa da pessoa visada por confundi-la com a
ictus de resultado duplo ou em sentido amplo) – O agente atinge
pessoa que deveria ser o alvo do delito. Não existe falha na execução,
a vítima não visada, mas atinge também a vítima originalmente
mas na identificação do alvo da conduta (ex.: agente quer matar pretendida. Nesse caso, responde pelos dois crimes, em CONCURSO
determinada pessoa e, ao ver alguém de costas, imagina ser seu alvo FORMAL.
e atira, mas depois descobre que se tratava de uma outra pessoa,
com ela parecida). CONSEQUÊNCIA – O agente responde como se Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido
tivesse praticado o crime CONTRA A PESSOA VISADA (teoria da (aberratio delicti ou aberratio criminis) – Aqui, o agente pretendia
equivalência). cometer um crime, mas, por acidente ou erro na execução, acaba
cometendo outro. Há uma relação de pessoa x coisa (ou coisa x
Erro sobre o nexo causal – O agente alcança o resultado pessoa). Pode ser de duas espécies:
efetivamente pretendido, mas em razão de um nexo causal diferente • Com unidade simples – O agente atinge apenas o resultado
daquele que o agente planejou. Pode ser de duas espécies: NÃO PRETENDIDO. O agente responde apenas por um delito, da
• Erro sobre o nexo causal em sentido estrito – Com um só ato, seguinte forma:
provoca o resultado pretendido (mas com nexo causal diferente). • Pessoa visada, coisa atingida – Responde pelo
• Dolo geral ou aberratio causae – Também chamado de dolo em relação à pessoa (tentativa de homicídio ou lesões
DOLO GERAL OU SUCESSIVO. Ocorre quando o agente, acreditando corporais).
já ter ocorrido o resultado pretendido, pratica outro ato, mas, • Coisa visada, pessoa atingida – Responde apenas
ao final, verifica que este último foi o que provocou o resultado. pelo resultado ocorrido em relação à pessoa.
CONSEQUÊNCIA: responde por apenas um crime (há posições em • Com unidade complexa – O agente atinge tanto o alvo (coisa
contrário), pelo crime originalmente previsto (TEORIA UNITÁRIA ou pessoa) quanto a coisa (ou pessoa) não pretendida. Responderá
ou princípio unitário). Responde, ainda, de acordo com o nexo por AMBOS OS CRIMES, em CONCURSO FORMAL.
causal efetivamente ocorrido.
Erro sobre o objeto (error in objecto) – Aqui, o agente incide
Erro na execução (aberratio ictus) – Aqui, o agente atinge em erro sobre a COISA visada, sobre o objeto material do delito.
pessoa diversa daquela que fora visada, não por confundi-la, e sim Prevalece que não há qualquer relevância para fins de afastamento
por erro ou acidente no uso dos meios de execução. Pode ser de do dolo ou da culpa, bem como não se afasta a culpabilidade.
duas espécies (ex.: atira na vítima e erro alvo, atingindo terceira CONSEQUÊNCIA: a doutrina majoritária (há divergência) sustenta

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 19


E-BOOK

que o agente deve responder pela conduta efetivamente praticada (independentemente da coisa visada).

ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO – No erro determinado (ou provocado) por terceiro, o agente erra porque alguém o induz a isso. Só
responde pelo delito aquele que provoca o erro (modalidade de autoria mediata).

11.0 CONCURSO DE PESSOAS

Conceito – Colaboração de dois ou mais agentes para a prática crime de rixa)


de uma infração penal.
Teoria adotada pelo CP – Teoria monista temperada (ou Requisitos
mitigada): todos aqueles que participam da conduta delituosa • Pluralidade de agentes – É necessário que tenhamos mais de
respondem pelo mesmo crime, mas cada um na medida de sua uma pessoa a colaborar para o ato criminoso.
• Relevância causal da colaboração – A participação do
culpabilidade. Há exceções à teoria monista (ex.: aborto praticado
agente deve ser relevante para a produção do resultado, de forma
por terceiro, com consentimento da gestante. A gestante responde
que a colaboração que em nada contribui para o resultado é um
pelo crime do art. 126 e o terceiro pelo crime do art. 124).
indiferente penal.
Espécies: • Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo) – É necessário que a
• EVENTUAL – O tipo penal não exige que o fato seja praticado colaboração dos agentes tenha sido ajustada entre eles ou, pelo
por mais de uma pessoa. menos, tenha havido adesão de um à conduta do outro. Trata-se
• NECESSÁRIO – O tipo penal exige que a conduta seja do princípio da convergência.
praticada por mais de uma pessoa. Divide-se em: a) condutas • Unidade de crime (ou contravenção) para todos os agentes
paralelas (crimes de conduta unilateral): aqui, os agentes praticam (identidade de infração penal) – As condutas dos agentes, portanto,
condutas dirigidas à obtenção da mesma finalidade criminosa devem constituir algo juridicamente unitário.
(associação criminosa, art. 288 do CPP); b) condutas convergentes • Existência de fato punível – Trata-se do princípio da
(crimes de conduta bilateral ou de encontro): nessa modalidade, os exterioridade. Assim, é necessário que o fato praticado pelos
agentes praticam condutas que se encontram e produzem, juntas, agentes seja punível, o que, de um modo geral, exige pelo menos
o resultado pretendido (ex.: bigamia); c) condutas contrapostas: que esse fato represente uma tentativa de crime ou crime tentado.
nesse caso, os agentes praticam condutas uns contra os outros (ex.:

11.1 MODALIDADES
Coautoria – Adoção do conceito restritivo de autor (teoria restritiva), por meio da teoria objetivo-formal: autor é aquele que pratica a
conduta descrita no núcleo do tipo penal. Todos os demais são partícipes.
OBS.: Autoria mediata: situação na qual alguém (autor mediato) se vale de outra pessoa como instrumento (autor imediato) para a prática
de um delito. Pode ocorrer quando:
• O autor imediato age sem dolo (erro provocado por terceiro)
• O autor imediato age sem culpabilidade (ex.: coação moral irresistível)

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 20


E-BOOK

TÓPICOS IMPORTANTES:

• Pode haver autoria mediata nos crimes próprios – Desde • Domínio da vontade – O agente não realiza a conduta
que o autor MEDIATO reúna as condições especiais exigidas pelo diretamente, mas é o "senhor do crime", controlando a vontade
tipo penal. do executor, que é um mero instrumento do delito (hipótese de
• Não há possibilidade de autoria mediata nos crimes de mão autoria mediata).
própria – Impossibilidade de se executar o delito por interposta • Domínio funcional do fato – O agente desempenha uma
pessoa função essencial e indispensável ao sucesso da empreitada
• AUTORIA POR DETERMINAÇÃO – Pune-se aquele que, criminosa, que é dividida entre os comparsas, cabendo, a cada um,
embora não sendo autor nem partícipe, exerce, sobre a conduta, uma parcela significativa, essencial e imprescindível.
domínio EQUIPARADO à figura da autoria. Tópicos importantes
• Não se admite coautoria nos crimes de mão própria.
Teoria do domínio do fato – Deve ser aplicada para as hipóteses • Doutrina ligeiramente majoritária entende ser cabível
de autoria mediata. Para essa teoria, o autor seria aquele que tem coautoria em crimes culposos.
• Não existe coautoria entre autor mediato e autor imediato.
poder de decisão sobre a empreitada criminosa. Pode ocorrer por:
• Há possibilidade de coautoria entre dois autores mediatos.
• Domínio da ação – O agente realiza diretamente a conduta
prevista no tipo penal.

1 1 . 2 PARTICIPAÇÃO

Espécies da acessoriedade limitada, exigindo-se que o fato seja típico e ilícito


• Moral – O agente não ajuda materialmente na prática do para que o partícipe responda pelo crime.
crime, mas instiga ou induz alguém a praticar o crime.
• Material – A participação material é aquela na qual o partícipe Participação de menor importância – Redução de pena de 1/6
presta auxílio ao autor, seja fornecendo objeto para a prática do a 1/3
crime, seja fornecendo auxílio para a fuga etc. Participação inócua – Não é punível
Participação em crime culposo – Controvertido. O STJ
Punibilidade do partícipe – Adoção da teoria da acessoriedade: entende que não cabe participação em crime culposo. Doutrina
como a conduta do partícipe é considerada acessória em relação à divide-se: parte entende que cabe participação culposa em crime
conduta do autor (que é principal), o partícipe deve responder pela culposo, outra parte entende que não cabe participação nenhuma
conduta principal (na medida de sua culpabilidade). (nem culposa nem dolosa) em crime culposo. UNANIMIDADE: não
OBS.: a Doutrina majoritária defende que foi adotada a teoria cabe participação dolosa em crime culposo.

1 1 . 3 COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS


• As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam (salvo quando elementares do crime).
• As circunstâncias de caráter real, ou objetivas, comunicam-se.
• As elementares sempre se comunicam, sejam objetivas ou subjetivas.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 21


E-BOOK

1 1 . 4 COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA

Também chamada de “participação em crime menos grave” furto). Pedro, porém, vai até o local armado, rende os moradores e
ou “desvio subjetivo de conduta”, ocorre quando ambos os agentes subtrai os bens, praticando um roubo (crime mais grave). José não
decidem praticar determinado crime, mas, durante a execução, um quis participar de um roubo, de forma que responderá apenas por
deles decide praticar outro crime, mais grave. CONSEQUÊNCIA: o furto (que é o crime MENOS grave do qual aceitou participar).
agente que quis participar do crime menos grave responde pelo A pena, contudo, poderá ser aumentada até a metade, caso
crime menos grave (que quis praticar). ex.: José empresta o carro a tenha sido previsível a ocorrência do resultado mais grave.
Pedro para que este cometa um furto (José aceitou participar de um

12.0 CONCURSO DE CRIMES

O concurso de crimes pode ser de três espécies: concurso • Sistema da exasperação – Aplica-se ao agente somente a
formal, concurso material e crime continuado. pena da infração penal mais grave, acrescida de determinado
Há, também, três sistemas de aplicação da pena: percentual.
• Sistema do cúmulo material – É aplicada a pena • Sistema da absorção – Aplica-se somente a pena da infração
correspondente ao somatório das penas relativas a cada um dos penal mais grave, dentre todas as praticadas, sem que haja qualquer
crimes cometidos isoladamente. aumento.

1 2 .1 CONCURSO MATERIAL

Conceito – Aqui, o agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais resultados.
Espécies:
• Homogêneo – Quando todos os crimes praticados são idênticos
• Heterogêneo – Quando os crimes praticados são diferentes
Sistema de aplicação da pena
Aplica-se o sistema do CÚMULO MATERIAL.

1 2 . 2 CONCURSO FORMAL

Conceito – Aqui, o agente pratica uma só conduta e produz realizar ambos, ou seja, não há desígnios autônomos (intenção de,
dois ou mais resultados. com uma única conduta, praticar dolosamente mais de um crime).
Espécies: • Imperfeito (impróprio) – Aqui, o agente vale-se de uma única
• Homogêneo – Quando todos os crimes praticados são conduta para, dolosamente, produzir mais de um crime.
idênticos Sistema de aplicação da pena
• Heterogêneo – Quando os crimes praticados são diferentes REGRA – Sistema da exasperação: pena do crime mais grave,
• Perfeito (próprio) – Aqui, o agente pratica uma única conduta aumentada (exasperada) de 1/6 até a metade
e acaba por produzir dois resultados, embora não pretendesse Como definir a quantidade de aumento? De acordo com a

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 22


E-BOOK

quantidade de crimes praticados


EXCEÇÕES
• Concurso formal impróprio (imperfeito) – Nesse caso, aplica-se o sistema do cúmulo material
• Cúmulo material benéfico – Ocorre quando o sistema da exasperação se mostra prejudicial ao réu

1 2 . 3 CRIME CONTINUADO

Conceito – Hipótese na qual o agente pratica diversas condutas, praticando dois ou mais crimes, que, por determinadas condições, são
considerados, pela lei (por uma ficção jurídica), como crime único.
OBS.: em relação à prescrição, não há ficção jurídica, de maneira que as condutas serão consideradas autonomamente (a prescrição
incidirá sobre cada crime individualmente).
Requisitos:
• Pluralidade de condutas
• Pluralidade de crimes da mesma espécie
• Condições semelhantes de tempo, lugar, modo de execução e outras semelhanças

O que seriam crimes da mesma espécie? A corrente que prevalece, inclusive no STJ, é a de que crimes da mesma espécie são aqueles
tipificados pelo mesmo dispositivo legal, na forma simples, privilegiada ou qualificada, consumados ou tentados. Além disso, devem tutelar
o mesmo bem jurídico.

12.3.1 CONEXÃO ENTRE AS CONDUTAS DELITIVAS


• Conexão temporal – Exige que os crimes tenham sido • Conexão modal – Os crimes devem ter sido praticados da
cometidos na mesma época. JURISPRUDÊNCIA: como regra, os mesma maneira, com o mesmo modus operandi, seja pelo modo
crimes não podem ter sido cometidos em um lapso temporal de execução, pela utilização de comparsas etc.
superior a 30 dias. • Conexão ocasional – Não possui previsão expressa na Lei,
• Conexão espacial – Os crimes devem ser cometidos no mesmo mas parte da Doutrina entende-a como a necessidade de que os
local. JURISPRUDÊNCIA: os crimes devem ter sido cometidos na primeiros crimes tenham proporcionado uma ocasião que gerou a
mesma cidade ou, no máximo, na mesma região metropolitana. prática dos crimes subsequentes.

12.3.2 ESPÉCIES E SISTEMAS DE APLICAÇÃO DA PENA


Em todos os casos de crime continuado, aplica-se o sistema da exasperação da seguinte forma:
• Crime continuado simples – Todos os crimes possuem a mesma pena. Nesse caso, aplica-se a pena de apenas um deles (ou a maior
delas, se diversas), acrescida de 1/6 a 2/3
• Crime continuado específico – Ocorre nos crimes dolosos cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo as vítimas
diferentes. O Juiz poderá aplicar a pena de um deles (ou a mais grave, se diversas), aumentada até o triplo.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 23


E-BOOK

OBS.: aqui também se aplica a regra do “cúmulo material benéfico”, ou seja, se o sistema da exasperação se mostrar mais gravoso, deverá
ser aplicado o sistema do cúmulo material.

CONCURSO DE CRIMES

CONCURSO Pluralidade de CÚMULO MATERIAL


MATERIAL condutas e de crimes (somatório das penas)

OBS.: aplica-se o sistema do


CONCURSO Sistema da
Unidade de conduta e pluralidade cúmulo material benéfico
FORMAL EXASPERAÇÃO, de
de crimes se a exasperação for mais
PRÓPRIO 1/6 até a metade
prejudicial ao acusado.

CONCURSO Unidade de conduta e pluralidade


CÚMULO MATERIAL
FORMAL de crimes – HÁ DESÍGNIOS
(somatório das penas)
IMPRÓPRIO AUTÔNOMOS

Sistema da
Pluralidade de crimes da mesma
EXASPERAÇÃO:
CRIME espécie (e que protejam o mesmo
Pena de um deles (ou a
CONTINUADO bem jurídico
maior, se diversas)
SIMPLES Conexão entre os delitos
+ acréscimo de 1/6 a
Penas são as mesmas
2/3

Pluralidade de crimes da mesma


espécie (e que protejam o mesmo
bem jurídico OBS.: aplica-se o sistema do
CRIME Sistema da
Conexão entre os delitos cúmulo material benéfico
CONTINUADO EXASPERAÇÃO, de
Crimes necessariamente dolosos, se a exasperação for mais
ESPECÍFICO 1/6 até o triplo
praticados contra vítimas prejudicial ao acusado.
diferentes, mediante violência ou
grave ameaça à pessoa

Crime continuado e conflito de leis penais no tempo – Se, durante a execução do crime continuado, sobrevir lei nova, mais gravosa ao réu,
esta última será aplicada, pois considera-se que o crime continuado está sendo praticado enquanto não cessar a continuidade delitiva (súmula
711 do STF).
Crime continuado e prescrição – Por haver mera ficção jurídica apenas para fins de aplicação da pena, a prescrição é calculada em relação
a cada crime isoladamente.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 24


E-BOOK

13.0 HOMICÍDIO

Bem jurídico tutelado – A vida humana extrauterina. homicídio é praticado:


Elemento subjetivo – Dolo (homicídio doloso) ou culpa • Mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro
(homicídio culposo). motivo torpe
• Por motivo fútil
Tentativa – Admissível, EXCETO no homicídio culposo.
• Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
Sujeito ativo – Trata-se de crime comum, podendo ser
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
praticado por qualquer pessoa.
comum
Ação penal – Pública incondicionada. • À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
Perdão judicial – Só é previsto para o homicídio culposo, de recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido
forma que o Juiz poderá deixar de aplicar a pena se as consequências • Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a vantagem de outro crime
sanção penal se torne desnecessária. • Contra a mulher, por razões da condição de sexo feminino
(feminicídio)
• Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
Privilégio – Sendo doloso o homicídio, a pena será reduzida
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
de um sexto a terço se o crime for praticado:
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou
• Por motivo de relevante valor moral ou social
em decorrência dela ou contra seu cônjuge, companheiro ou
• Sob o domínio de violenta emoção e, logo em seguida, a
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição
injusta provocação da vítima
(“homicídio funcional”)
• Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido
Qualificadoras no homicídio – Pena deixa de ser de 06 a 20 • Contra menor de 14 (quatorze) anos
anos de reclusão e passará a ser de 12 a 30 anos de reclusão se o

1 3.1 MAJORANTES NO HOMICÍDIO

• Homicídio doloso condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;


• Aumento de 1/3 (um terço) – Se o crime é • Na presença física ou virtual de descendente ou de
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de ascendente da vítima;
60 (sessenta) anos. • Em descumprimento das medidas protetivas de
• Aumento 1/3 (um terço) até a metade – Se o crime urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da
for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.
de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. • Homicídio culposo
• Majorantes específicas do feminicídio – Aumento de 1/3 • Aumento de 1/3 (um terço) – Se o crime resulta de
(um terço) até a metade se o crime for praticado: inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
• Durante a gestação ou nos 3 (três) meses ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
posteriores ao parto; não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
• Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com para evitar prisão em flagrante.
deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 25


E-BOOK

1 3. 2 TÓPICOS IMPORTANTES

• Homicídio como crime hediondo – Somente o homicídio mulher.


simples, quando praticado em atividade típica de grupo de • Homicídio com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
extermínio, e o homicídio qualificado (em qualquer caso). proibido – Trata-se, hoje, de homicídio qualificado (art. 121, §2º,
• Homicídio qualificado-privilegiado NÃO é considerado VIII do CP).
hediondo (o privilégio, por ser de natureza subjetiva, prepondera • Homicídio contra pessoa menor de 14 anos – Trata-se, hoje,
sobre a qualificadora para fins de afastar a hediondez). de homicídio qualificado (art. 121, §2º, IX do CP). Nesse caso,
• Homicídio qualificado pela paga ou promessa de haverá aumento de pena de:
recompensa – A torpeza decorrente do homicídio mercenário • 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa
estende-se automaticamente ao mandante? Há decisões em dois com deficiência ou com doença que implique o
sentidos: a) Não é elementar, logo, sendo circunstância pessoal, aumento de sua vulnerabilidade.
não se comunica automaticamente ao mandante; b) Trata-se de • 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto
elementar do tipo qualificado, aplicando-se também ao mandante. ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
Há, portanto, divergência jurisprudencial. curador, preceptor ou empregador da vítima ou, por
• Motivo fútil = ausência de motivo? A Doutrina diverge, mas qualquer outro título, tiver autoridade sobre ela.
prevalece que sim. O STJ entende que NÃO. Feminicídio – Só ocorre • E se houver mais de uma circunstância qualificadora (meio
quando o agente pratica o homicídio contra mulher nas seguintes cruel motivo torpe, por exemplo)? Uma delas qualifica o crime
circunstâncias (“razões de sexo feminino”): e a outra (ou outras) é considerada como agravante genérica (se
• Contexto de violência doméstica e familiar; ou houver previsão) ou circunstância judicial desfavorável (art. 59 do
• Menosprezo ou discriminação à condição de CP) caso não seja prevista como agravante.

14.0 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO OU À AUTOMUTI-


LAÇÃO

O crime pode ser praticado de 03 formas: auxiliar a vítima a se suicidar ou se automutilar, ainda que a vítima
• Induzimento – O agente faz nascer na vítima a ideia de se não se mate ou não venha a se automutilar, sendo crime formal,
matar ou se automutilar portanto. Eventual ocorrência de resultado danoso à vítima (lesão
• Instigação – O agente reforça a ideia já existente na cabeça
grave, gravíssima ou morte) servirá como qualificadora.
da vítima
OBS.: antes da alteração promovida pela Lei 13.968/19, o
• Auxílio – O agente presta algum tipo de auxílio material à
crime só se consumava com a ocorrência de morte ou pelo menos
vítima (empresta uma arma de fogo, por exemplo)
lesão grave à vítima, sendo fato atípico caso tais resultados não
CUIDADO! O induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou
ocorressem. Isso acabou!
à automutilação deve ter como vítima pessoa certa e determinada
Sujeito ativo – pode ser qualquer pessoa (crime comum).
(ou pessoas certas e determinadas). O mero induzimento genérico,
Sujeito passivo – Somente a PESSOA QUE POSSUA ALGUM
abstrato, sem alvo definido, não configura crime (ex.: criar um
DISCERNIMENTO pode ser sujeito passivo do crime, eis que, se a
website e enaltecer aqueles que praticam suicídio, conclamando os
vítima não tiver qualquer discernimento, estaremos diante de um
jovens em geral a ceifarem a própria vida).
homicídio ou lesão corporal, tendo o agente valido-se da ausência de
Elemento subjetivo – Dolo.
autocontrole da vítima para induzi-la a se matar ou se automutilar.
Consumação – Ocorre com o mero ato de induzir, instigar ou

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 26


E-BOOK

1 4 .1 RESULTADOS POSSÍVEIS:

• Agente induz, instiga ou auxilia a vítima a se suicidar ou se automutilar, e ocorre morte – O agente responde pelo crime do
automutilar, mas não ocorre morte nem lesão grave, pelo menos art. 122 em sua forma qualificada (§2º), com pena de reclusão de 2
– O agente responde pelo crime do art. 122 em sua forma simples, (dois) a 6 (seis) anos.
consumada. • Agente induz, instiga ou auxilia a vítima (menor de 14
• Agente induz, instiga ou auxilia a vítima a se suicidar ou anos ou, por qualquer causa, sem capacidade de resistência) a
se automutilar, e ocorre lesão grave ou gravíssima – O agente se suicidar ou se automutilar, e ocorre morte ou lesão corporal
responde pelo crime do art. 122 em sua forma qualificada (§1º), gravíssima – Agente responde por homicídio (em caso de morte)
com pena de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. ou lesão corporal gravíssima.
• Agente induz, instiga ou auxilia a vítima a se suicidar ou se

1 4 . 2 MAJORANTES

• Pena duplicada
• Se praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; ou
• Se a vítima é menor ou tem diminuída a capacidade de resistência
• Pena aumentada ATÉ O DOBRO
• Se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.
• Pena aumentada até METADE
• Se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual.

15.0 INFANTICÍDIO

CONDUTA – A mãe, sob influência do estado puerperal, mata nessas condições, a matar a criança.
o próprio filho, durante ou logo após o parto. OBS.: o crime só é admitido na forma dolosa. E se a mãe,
SUJEITOS – O sujeito ativo, aqui, somente pode ser a mãe da durante o estado puerperal, culposamente mata o próprio filho?
vítima e, ainda, desde que esteja sob influência do estado puerperal Nesse caso, temos simplesmente um homicídio culposo.
(crime próprio). O sujeito passivo é o ser humano, recém-nascido, OBS.: e se a mãe, por equívoco, acaba por matar filho
logo após o parto ou durante ele. de outra pessoa (confunde com seu próprio filho)? Nesse caso,
OBS.: embora seja crime próprio, é plenamente admissível responde normalmente por infanticídio, como se tivesse praticado
o concurso de agentes, de forma que todos os comparsas (além o delito efetivamente contra seu filho, por se tratar de erro sobre a
da mãe, claro) também responderão por infanticídio (desde que pessoa (nos termos do art. 20, §3º do CP).
conheçam a condição de mãe da vítima) – ex.: pai que ajuda a mãe,

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 27


E-BOOK

16.0 ABORTO

1 6 .1 TRÊS MODALIDADES

• Aborto provocado pela própria gestante ou com seu consentimento (art. 124)
• Aborto provocado por terceiro SEM o consentimento da gestante (art. 125)
• Aborto provocado por terceiro COM o consentimento da gestante (art. 126)

1 6 . 2 ABORTO PROVOCADO PELA PRÓPRIA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO (ART. 124)

SUJEITOS – O sujeito ativo só pode ser a mãe (gestante). O sujeito passivo é o produto da concepção (embrião ou feto).
CONDUTA – Pode ser praticado de duas formas distintas:
• Gestante pratica o aborto em si própria
• Gestante permite que outra pessoa pratique o aborto nela

OBS.: o crime só é punido na forma dolosa. Se o aborto é culposo, a gestante não comete crime (ex.: gestante pratica esportes radicais,
vindo a se acidentar e causar a morte do filho).
O crime consuma-se com a interrupção da gestação com destruição do produto da concepção (morte do nascituro). A tentativa é
plenamente possível.

1 6 . 3 ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 125)

CONDUTA – O terceiro pratica o aborto na gestante sem que for prestado por quem não possua condições de prestá-lo (menor
esta concorde com a conduta. de 14 anos ou alienada mental2) ou se o consentimento é obtido
SUJEITOS – Não é necessário que se trate de um médico, mediante fraude, grave ameaça ou violência por parte do agente
podendo ser praticado por qualquer pessoa (crime comum). O (infrator).
sujeito passivo, aqui, como em todos os outros delitos de aborto, é OBS.: se o agente pretende matar a mãe, sabendo que está
o produto da concepção (embrião ou feto). Entretanto, nesse crime grávida, e ambos os resultados ocorrem, responderá por ambos os
específico, também será vítima (sujeito passivo) a gestante. crimes (homicídio e aborto) em concurso.
OBS.: também ocorrerá esse crime quando o consentimento

2 Essa expressão é usada pelo próprio Código Penal:


Art. 126 (...) Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude,
grave ameaça ou violência

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 28


E-BOOK

1 6 . 4 ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 126)

CONDUTA – Aqui, embora o aborto seja praticado por terceiro, por este delito.
há o consentimento da gestante. Trata-se da figura do camarada que SUJEITOS – O sujeito ativo aqui pode ser qualquer pessoa, com
praticou o aborto na gestante, com a concordância ou a pedido desta. exceção da própria gestante! O sujeito passivo é apenas o produto
A gestante responde pelo crime do art. 124 e o terceiro responde da concepção (nascituro).

16.4.1 MAJORANTES NO ABORTO PROVOCADO


• Se a gestante sofre lesão corporal grave, as penas são aumentadas de 1/3;
• Se sobrevém a morte da gestante, as penas são duplicadas.
OBS.: é importante destacar que, em ambos os casos, o resultado agravador (lesão grave ou morte) decorre de culpa do agente. Se o
agente tem dolo de lesionar e dolo de provocar o aborto, responde pelos dois crimes, o mesmo ocorrendo em relação à morte: se há dolo de
matar a mãe e dolo de provocar aborto, responde por aborto e por homicídio.
OBS.: se o agente tem intenção de provocar lesão na mãe e acaba, por culpa, provocando aborto, responderá pelo crime de lesão corporal
gravíssima (art. 129, §2º, V do CP).

1 6 .5 ABORTO PERMITIDO

O aborto praticado por médico não é crime quando:


• For a única forma de salvar a VIDA da gestante; ou
• Quando a gestação for decorrente de estupro (e houver prévia autorização da gestante ou de seu representante legal)

OBS.: atualmente, o STF entende que o aborto de fetos anencéfalos (ou anencefálicos, ou seja, sem cérebro ou com má-formação cerebral)
não é crime, estando criada, jurisprudencialmente, mais uma exceção. Ver: ADPF 54 / DF (STF).

17.0 LESÕES CORPORAIS

Bem jurídico – A saúde e a integridade corporal da pessoa. • Qualificada por ser praticada contra a mulher, por
Sujeitos – A lesão corporal é um crime que pode ser praticado razões da condição do sexo feminino (§13)
por qualquer sujeito ativo, também podendo ser qualquer pessoa • Privilegiada (§§ 4° e 5°) – Por motivo de relevante
valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
o sujeito passivo. Em alguns casos, no entanto, somente pode ser
logo em seguida à injusta provocação da vítima – Redução de
sujeito passivo a mulher grávida (art. 129, §§1°, IV e 2°, V).
pena de um sexto a um terço.
Espécies – A lesão corporal pode ser classificada como:
• Lesão corporal culposa (§ 6°)
• Lesão corporal dolosa
• Simples (caput)
Privilégio – Sendo dolosa a lesão corporal, a pena será reduzida
• Qualificada pelo resultado (§§ 1°, 2° e 3°) –
Ocorrência de lesão grave ou morte de um sexto a terço se o crime for praticado:
• Qualificada pela violência doméstica (§ 9°) • Por motivo de relevante valor moral ou social

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 29


E-BOOK

• Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima

Lesão corporal qualificada pelo resultado

LESÕES CORPORAIS GRAVES

RESULTADO PENA

LESÕES GRAVES (Doutrina)


Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias
Perigo de vida PENA – 01 a 05 anos de reclusão
Debilidade permanente de membro, sentido ou função
Aceleração de parto

LESÕES GRAVÍSSIMAS (Doutrina)


Incapacidade permanente para o trabalho
Enfermidade incurável
PENA – 02 a 08 anos de reclusão
Perda ou inutilização do membro, sentido ou função
Deformidade permanente
Aborto

MORTE (culposa) PENA – 04 a 12 anos de reclusão

1 7.1 MAJORANTES NO CRIME DE LESÃO CORPORAL

• Lesão corporal dolosa condição.


• Aumento de 1/3 (um terço) – Se o crime é • Aumento de 1/3 (um terço) – Em se tratando
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de lesão corporal grave, gravíssima ou seguida de morte
de 60 (sessenta) anos OU se o crime for praticado por milícia praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido,
ou por grupo de extermínio. ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas,
• Aumento de um a dois terços – Se a lesão for de coabitação ou de hospitalidade (ao invés de se aplicar a
praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 qualificadora do §9º, aplica-se a qualificadora relativa ao
e 144 da Constituição Federal (agente de segurança pública resultado + a majorante de um terço).
e das Forças Armadas), integrantes do sistema prisional e da • Aumento de 1/3 (um terço) – Em se tratando de
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função lesão corporal no contexto das relações domésticas contra
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro pessoa portadora de deficiência.
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 30


E-BOOK

• Lesão corporal culposa


• Aumento de 1/3 (um terço) – Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.

1 7. 2 TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE O CRIME DE LESÃO CORPORAL

Lesão corporal culposa tem sempre a mesma pena (detenção forma que o Juiz poderá deixar de aplicar a pena se as consequências
de dois meses a 01 ano) – Não há agravação pelo resultado! As da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
gradações (grave, gravíssima etc.) só se aplicam à lesão corporal sanção penal se torne desnecessária.
dolosa. Possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade
Ação penal – A ação penal é pública incondicionada, EXCETO por multa – O juiz, não sendo graves as lesões, pode substituir a pena
no caso de lesões corporais leves e culposas. Nesse caso, será de detenção pela de multa se:
condicionada à representação. • O agente comete o crime impelido por motivo de relevante
OBS.: em se tratando de lesões corporais praticadas em valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo
em seguida à injusta provocação da vítima
contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher, a ação
• As lesões são recíprocas
penal será sempre pública incondicionada (súmula 542 do STJ).
Perdão judicial – Só é previsto para a lesão corporal culposa, de

18.0 CRIMES CONTRA A HONRA

Bem jurídico tutelado – Honra objetiva (calúnia e difamação) e honra subjetiva (injúria).

1 8 .1 CALÚNIA

Conceito – Imputação falsa, a alguma pessoa, de fato definido efetivamente atingida.


como crime Execução – Pode ser realizada mediante gestos,
insinuações (calúnia reflexa) Exceção da verdade – Admite-se, EXCETO:
Sujeito ativo – Qualquer pessoa (crime comum). • No caso de crime de ação penal privada se não houve ainda
Sujeito passivo – Qualquer pessoa. É punível a calúnia contra sentença irrecorrível
• No caso de a calúnia se dirigir ao Presidente da República ou
os mortos (os familiares serão os sujeitos passivos). Inimputável pode
chefe de governo estrangeiro
ser caluniado.
• No caso de crime de ação penal pública, CASO O CALUNIADO
Consumação – O crime consuma-se com a divulgação da
JÁ TENHA SIDO ABSOLVIDO POR SENTENÇA PENAL TRANSITADA
calúnia a um terceiro. Crime formal, não se exige que a honra seja EM JULGADO

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 31


E-BOOK

1 8 . 2 DIFAMAÇÃO

Conceito – Imputação, a alguma pessoa, de fato ofensivo à sua contra os mortos. Consumação – O crime consuma-se quando um
reputação (ainda que a imputação seja verdadeira). terceiro toma conhecimento da difamação.
Execução – Pode ser realizada mediante gestos e insinuações. Exceção da verdade – Só é admitida se a vítima é funcionário
Sujeito ativo – Qualquer pessoa (crime comum). público e a difamação se refere ao exercício das funções.
Sujeito passivo – Qualquer pessoa. Não se pune a difamação

1 8 . 3 INJÚRIA

Conceito – Ofensa dirigida a alguma pessoa (violação à honra • O ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a
subjetiva). Aqui, não se trata de um FATO, mas da emissão de um injúria
conceito depreciativo sobre o ofendido (ex.: chamar de piranha, • Há retorsão imediata que consista em outra injúria

fedorento, safado etc.), de maneira a fazer com que a vítima se sinta Injúria real – Há contato físico (ex.: tapa no rosto, de forma

mal, ofendida em sua dignidade ou decoro. ultrajante, com intenção de ofender).

Execução – Pode ser realizada mediante gestos, insinuações, Injúria qualificada – Utilização de elementos referentes à

palavras diretamente ofensivas, escritos etc. religião, à condição de pessoa idosa ou à portadora de deficiência

Sujeito ativo – Qualquer pessoa (crime comum). (art. 140, §3º, do CP).

Sujeito passivo – Qualquer pessoa. OBS.: A injúria racial (com elementos de raça, cor, etnia ou

Consumação – O crime consuma-se quando a VÍTIMA toma procedência nacional) passou a estar tipificada na Lei antirracismo

conhecimento da injúria. (art. 2º-A da Lei 7.716/89), com pena mais severa (reclusão de

Exceção da verdade – Nunca é admitida. 02 a 05 anos e multa), sendo, atualmente, crime inafiançável e

Perdão judicial – Cabível quando: imprescritível, dada sua equiparação ao racismo.

1 8 . 4 TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE OS CRIMES CONTRA A HONRA

• Se o crime for cometido contra o Presidente da República (salvo se inequívoca intenção de injuriar), ou se realizada pelo
ou chefe de governo estrangeiro, contra funcionário público (no funcionário público na avaliação e emissão de conceito acerca de
exercício da função), na presença de várias pessoas ou por meio informação que preste no exercício da função. Entretanto, quem
que facilite a divulgação ou, ainda, contra criança, adolescente, dá publicidade à primeira e terceira hipótese, responde pelo crime.
pessoa maior de 60 anos ou pessoa com deficiência (exceto na • Retratação – Cabível na calúnia e na difamação (não na
hipótese de injúria racial), a pena do agente é aumentada em 1/3. injúria!). Deve ser realizada até a sentença.
• Se o crime for cometido mediante paga ou promessa de • ATENÇÃO! Em relação à retratação, a Lei 13.188/15 incluiu
recompensa, a pena é aplicada em DOBRO. o parágrafo único no art. 143 do CP, estabelecendo que, nos casos
• Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer em que tenha sido praticada a calúnia ou a difamação pelos meios
modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, de comunicação, a retratação deverá se dar, se assim desejar o
aplica-se em triplo a pena (vigência a partir de 30.05.2021) ofendido, pelos mesmos meios em que foi praticada a ofensa.
• A injúria ou difamação não é punível se realizada em juízo,
18 .5 AÇÃO PENAL
pela parte ou seu procurador (com a finalidade de defender seu
direito), se decorre de mera crítica literária, artística ou científica

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 32


E-BOOK

AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA

REGRA Privada

INJÚRIA REAL com violência real Pública (condicionada ou incondicionada, a depender das lesões)

Crime cometido contra o Presidente da república


Pública condicionada à requisição do MJ
ou Chefe de Governo estrangeiro

Legitimidade concorrente (súmula 714 do STF) entre:


Crime cometido contra funcionário público em
MP (mediante ação penal pública condicionada à representação)
razão das funções
Ofendido (mediante queixa)

Injúria qualificada Pública condicionada à representação

Injúria com elementos de raça, cor, etnia ou


Pública incondicionada
procedência nacional (Lei 7.716/89)

19.0 FURTO
Bem jurídico – Tutela-se não só a propriedade, mas qualquer furto).
forma de dominação sobre a coisa (propriedade, posse e detenção
legítimas). OBS.: a existência de sistema de vigilância ou monitoramento
Coisa alheia móvel – O conceito de “móvel” aqui é “tudo eletrônico caracteriza crime impossível? Não. O STF e o STJ
aquilo que pode ser movido de um lugar para outro sem perda de possuem entendimento pacífico no sentido de que, nesse caso, há
suas características ou funcionalidades”. OBS.: cadáver pode ser possibilidade de consumação do furto, logo não há que se falar em
objeto de furto, desde que pertença a alguém. OBS.2: equipara-se crime impossível. O STJ, inclusive, editou o enunciado de súmula nº
à coisa móvel a ENERGIA ELÉTRICA ou qualquer outra energia que 567 nesse sentido.
possua valor econômico.
Elemento subjetivo – Dolo, com a intenção de se apoderar Repouso noturno – Se o crime for praticado durante o repouso
da coisa (animus rem sibi habendi). Não se pune na forma culposa. noturno, a pena é aumentada em 1/3. Disposições importantes sobre
OBS.: furto de uso não é crime (subtrair só para usar a coisa, já com o repouso noturno:
a intenção de devolver). • Compreende o período em que a população se recolhe para
Consumação – Teoria da amotio: furto consuma-se quando o descansar, devendo o julgador atentar-se às características do caso
concreto.
agente tem a posse sobre a coisa, ainda que por um breve espaço
• Aplica-se ainda que se trate de casa desabitada ou
de tempo e ainda que não tenha a “posse mansa e pacífica” sobre
estabelecimento comercial.
a coisa (Súmula 582 do STJ, prevista para o roubo, mas aplicável ao

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 33


E-BOOK

• São irrelevantes os fatos das vítimas estarem ou não batedor de carteira, que furta com extrema destreza, sem ser
dormindo no momento do crime ou o local de sua ocorrência, em percebido). Se a vítima percebe a ação, o agente responde por
estabelecimento comercial, via pública, residência desabitada ou tentativa de furto simples, não por tentativa de furto qualificado,
em veículos, bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à pois o agente não agiu com destreza alguma.
noite e em situação de repouso. • Chave falsa – O conceito de “chave falsa” abrange: a) A cópia
• Não se aplica ao furto qualificado (posição atual do STJ, Tema da chave verdadeira, mas obtida sem autorização do dono; b) Uma
1087 dos recursos repetitivos. Há divergência no STF).. chave diversa da verdadeira, mas alterada com a finalidade de abrir
a fechadura; c) Qualquer objeto capaz de abrir uma fechadura
Furto privilegiado – O Juiz pode substituir a pena de reclusão sem provocar sua destruição (pode ser um grampo de cabelo, por
exemplo).
pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena
• Concurso de pessoas – Nessa hipótese, o crime será
de multa, desde que:
qualificado se praticado por duas ou mais pessoas em concurso de
• O réu seja primário
agentes. Em caso de associação criminosa – Todos respondem pelo
• Seja de pequeno valor a coisa furtada
furto qualificado pelo concurso de pessoas + associação criminosa
É possível a aplicação do privilégio ao furto qualificado? Sim,
em concurso MATERIAL (STJ).
desde que (súmula 511 do STJ): • Furto de veículo automotor (§ 5°) que venha A SER
• Estejam presentes os requisitos que autorizam o TRANSPORTADO PARA OUTRO ESTADO OU PARA O EXTERIOR – Se
reconhecimento do privilégio o veículo não chegar a ser levado para outro estado ou país, embora
• A qualificadora seja de ordem objetiva essa tenha sido a intenção, não há furto qualificado tentado, mas
furto simples consumado, pois a subtração consumou-se (pena é
Furto qualificado – Existem várias hipóteses que qualificam o diversa das demais formas qualificadas: 03 a 08 anos).
furto. São elas: • Furto de semovente domesticável de produção – Forma
• Destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa qualificada de furto.
– Aquela conduta do agente que destrói ou rompe um obstáculo • Se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que
colocado de forma a impedir o furto. Se a violência for exercida cause perigo comum (Incluída pela Lei 13.154/18) – Pena: 04 a 10
contra o próprio bem furtado, não há a qualificadora. anos de reclusão e multa.
• Abuso de confiança, fraude, escalada ou destreza – No abuso • Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios
de confiança, o agente aproveita-se da confiança nele depositada, que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
de forma que o proprietário não exerce vigilância sobre o bem por montagem ou emprego (Incluída pela Lei 13.154/18) – Pena: 04 a
confiar no infrator. Na fraude, o infrator emprega algum artifício 10 anos de reclusão e multa.
para enganar o agente e furtá-lo. Na escalada, o agente realiza • Se o furto mediante fraude é cometido por meio de
um esforço fora do comum para superar uma barreira física (ex.: dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
saltar um muro ALTO). A superação da barreira pode se dar de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança
qualquer forma, não apenas pelo alto (ex.: escavação de um túnel ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
subterrâneo), desde que não ocorra a destruição da barreira (nesse fraudulento análogo (Inclusão da Lei 14.155/2021 – com vigência
caso, teríamos a qualificadora do rompimento de obstáculo). Na a partir de 28.05.2021). A pena, nesse caso, será de reclusão, de 4
destreza, o agente vale-se de alguma habilidade peculiar (ex.: (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 34


E-BOOK

1 9.1 TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE O CRIME DE FURTO

• “É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de achada, prevista no art. 169, § único, do CP; b) Furto de coisas
agentes, a majorante do roubo” (Súmula 442 do STJ) abandonadas e que nunca tiveram dono (res derelicta e res nullius,
• Furto de folha de cheque em branco – Há divergência respectivamente) – Incabível, pois o agente, ao se apossar da coisa,
doutrinária e jurisprudencial a respeito. Entretanto, prevalece no torna-se seu dono, já que a coisa não pertence a ninguém.
STJ o entendimento de que a mera subtração da folha de cheque, • Subtração de sinal de TV a cabo – Posição hoje pacificada
em branco, não caracteriza furto, por possuir valor insignificante. tanto no STF quanto no STJ, no sentido de que não configura crime
• Furto de coisas perdidas, abandonadas e que nunca tiveram de furto, pois o sinal de TV por assinatura não pode ser equiparado
dono – a) Furto de coisas perdidas (res desperdicta) – Incabível, a energia, já que isso configuraria analogia desfavorável ao réu.
pois o agente, nesse caso, pratica o crime de apropriação de coisa

20.0 ROUBO

Roubo próprio – O agente pratica a violência, grave ameaça ou lesões corporais que causar, se for o caso).
violência imprópria PARA subtrair a coisa. Consumação – Quando o agente passa a ter o poder sobre a
Roubo impróprio – O agente pratica a violência ou grave coisa (ainda que por um breve período de tempo e ainda que não
ameaça LOGO DEPOIS de subtrair a coisa, como forma de assegurar seja posse mansa e pacífica – teoria da amotio), após ter praticado
a detenção da coisa ou a impunidade do crime. a violência ou grave ameaça. OBS.: no roubo impróprio, o crime
Roubo com violência imprópria – O agente, sem violência ou consuma-se quando o agente, após subtrair a coisa, emprega a
grave ameaça, reduz a vítima à condição de impossibilidade de defesa violência ou grave ameaça. OBS.: a inexistência de valores em poder
(ex.: coloca uma droga em sua bebida). Trata-se de modalidade de da vítima não configura crime impossível (mera impropriedade
roubo próprio (praticado com violência imprópria). RELATIVA do objeto).
Roubo de uso é crime? Controvertido, mas prevalece que Tentativa – Cabível em todas as formas (Doutrina minoritária,
o agente responde pelo roubo. Doutrina minoritária sustenta que contudo, sustenta que não cabe no roubo impróprio).
responde apenas por constrangimento ilegal (mais a pena relativa às

Majorantes do §2º do art. 157 do CP – A pena do crime de roubo será aumentada de um terço até a metade em determinadas situações:

• Se há o concurso de duas ou mais pessoas. OBS.: se houver associação criminosa – Todos respondem por roubo majorado e
por associação criminosa
• Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância
• Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior
• Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
• No caso de a subtração ser de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.
• Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca (incluída pelo PACOTE ANTICRIME – Lei 13.964/19)

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 35


E-BOOK

Majorantes do §2º-A do art. 157 do CP (incluído pela Lei 13.654/18) – Aumento de pena de 2/3:

Emprego de arma de fogo


• Exige-se o uso efetivo da arma (utilização ou porte ostensivo)
• Perícia – Não é indispensável, pois é possível que a prova do fato se dê por outros meios
• Uso de arma de fogo de brinquedo, arma desmuniciada ou inapta a disparar não autoriza a aplicação da majorante (nesse
caso, cabe à defesa comprovar a ausência de potencial lesivo da arma).
Roubo com destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.

Majorante do §2º-B do art. 157 do CP (INCLUÍDO PELO PACOTE ANTICRIME – Lei 13.964/19) – Pena aplicada em DOBRO:

• Emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido RESUMIDAMENTE:


• Emprego de arma branca – Majora de 1/3 à metade (somente para quem praticou depois da vigência da Lei 13.964/19);
• Emprego de arma de fogo de uso permitido – Majora em 2/3 (para quem praticou depois da Lei 13.654/18) ou majora em 1/3
à metade (para quem praticou antes da Lei 13.654/18);
• Emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido – Pena em DOBRO (para quem praticou depois da vigência da Lei
13.964/19); majora em 2/3 (para quem praticou depois da Lei 13.654/18 e antes da Lei 13.964/19); majora em 1/3 à metade
(para quem praticou antes da Lei 13.654/18).

Roubo qualificado pelo resultado OBS.: e se o agente atira para acertar a vítima, mas acaba
Lesão corporal grave – Pena de 07 a 18 anos de reclusão e atingindo o comparsa? Temos erro na execução (aberratio ictus) e
multa. o agente responde como se tivesse atingido a vítima. Logo, temos
Morte (latrocínio) – Pena de 20 a 30 anos de reclusão e multa. latrocínio.
Tópicos importantes sobre o latrocínio
• Consumação – Em resumo, o entendimento acerca da
• Caracterização – Ocorrerá sempre que o agente, VISANDO À
consumação do latrocínio é o seguinte:
SUBTRAÇÃO DA COISA, praticar a conduta (empregando violência)
• SUBTRAÇÃO CONSUMADA + MORTE CONSUMADA
e ocorrer (dolosa ou culposamente) a morte de alguém. Caso
= Latrocínio consumado
o agente deseje a morte da pessoa e, somente após realizar a
• SUBTRAÇÃO TENTADA + MORTE TENTADA =
conduta homicida, resolva furtar seus bens, estaremos diante de
Latrocínio tentado
um HOMICÍDIO em concurso com FURTO.
• SUBTRAÇÃO TENTADA + MORTE CONSUMADA =
OBS.: e se o agente mata o próprio comparsa (para ficar
Latrocínio consumado (súmula 610 do STF)
com todo o dinheiro, por exemplo)? Nesse caso, temos roubo em
• SUBTRAÇÃO CONSUMADA + MORTE TENTADA =
concurso material com homicídio, não latrocínio. Latrocínio tentado (STJ)

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 36


E-BOOK

21.0 EXTORSÃO

Caracterização – O constrangimento (violência ou grave Constrangimento ilegal (art. 146 do CP).


ameaça) é mero “meio” para a obtenção da vantagem indevida. O Consumação e tentativa – A tentativa é plenamente admissível.
verbo é “constranger”, que é sinônimo de forçar, obrigar alguém a O crime consuma-se com o mero constrangimento (emprego da
fazer o que não deseja. Não se confunde com o delito de roubo, pois, violência ou grave ameaça), sendo irrelevante o eventual recebimento
naquele, o agente vale-se da violência ou grave ameaça para subtrair da vantagem. Trata-se de crime FORMAL (súmula 96 do STJ).
o bem da vítima. Neste, o agente vale-se desses meios para fazer com
Causas de aumento de pena (majorantes)
que a vítima entregue a coisa, ou seja, deve haver a colaboração da
A pena será aumentada de um terço até a metade se o crime
vítima, sem a qual a vantagem não poderia ser obtida.
for:
Elemento subjetivo – Exige-se o dolo de obter vantagem
• Cometido por duas ou mais pessoas
indevida. Não se pune na forma culposa. Casos especiais:
• Mediante emprego de arma – Qualquer arma (ainda que não
• Vantagem devida – Teremos crime de exercício arbitrário das
se trate de objeto fabricado com tal finalidade). Arma de brinquedo
próprias razões (art. 345 do CP).
não majora o delito.
• Vantagem sexual – Teremos estupro.
• Vantagem meramente moral, sem valor econômico –

21 .1 EXTORSÃO QUALIFICADA PELO RESULTADO

Aplicam-se as mesmas regras previstas para o roubo qualificado cárcere privado.


pelo resultado (morte ou lesão corporal grave). Extorsão indireta – ocorre quando um credor EXIGE ou
Sequestro-relâmpago (art. 158, §3º do CP) RECEBE, do devedor, documento que possa dar causa à instauração
A pena é mais elevada (seis a doze anos). O crime também de procedimento criminal contra a vítima (devedor) ou contra
será considerado qualificado (com penas mais severas) no caso de terceiro. Deve haver, ainda:
ocorrência de lesões graves ou morte. • Abuso de situação de necessidade (fragilidade) da vítima
Caracterização – Segundo esse dispositivo, é necessário: • Intenção de garantir, futuramente, o pagamento da dívida
• Que o crime seja cometido mediante a restrição da liberdade (por meio da ameaça)
da vítima Consumação e tentativa na extorsão indireta – O crime
• Que essa circunstância seja necessária para a obtenção da consuma-se com a mera realização da exigência (nesse caso, crime
vantagem econômica – Se for desnecessária, o agente responde formal) ou com o efetivo recebimento (nesse caso, material) do
por extorsão simples em concurso material com sequestro ou documento. A tentativa é possível.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO

Caracterização – O verbo é sequestrar, ou seja, impedir, por seja, o dolo específico consistente na intenção de obter a vantagem).
qualquer meio, que a pessoa exerça seu direito de ir e vir. O CRIME Qualquer vantagem pode ser exigida? A Doutrina entende
OCORRERÁ AINDA QUE A VÍTIMA NÃO SEJA TRANSFERIDA PARA que a vantagem deve ser PATRIMONIAL e INDEVIDA, pois, se for
OUTRO LOCAL. DEVIDA, teremos o crime de exercício arbitrário das próprias razões.
Aqui, a privação da liberdade ocorre como meio para se obter Quem é o sujeito passivo do delito? Quem é sequestrado ou a
um RESGATE, que é um pagamento pela liberdade de alguém (ou pessoa a quem se exige o resgate? Ambos.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 37


E-BOOK

OBS.: pessoa jurídica pode ser sujeito passivo na qualidade de vítima da lesão patrimonial (ex.: sequestra-se o sócio para exigir, da PJ, o
pagamento do resgate).
Qualificadoras – A pena será de DOZE A VINTE ANOS SE: O sequestro dura mais de 24 horas
• Se o sequestrado é menor de 18 anos ou maior de 60 anos
• Se o crime for cometido por quadrilha ou bando – Os agentes respondem tanto pela extorsão mediante sequestro qualificada quanto
pela associação criminosa (art. 288 do CP)

EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO QUALIFICADA PELO RESULTADO


Lesão corporal grave – Pena de 16 a 24 anos de reclusão sequestro.
Morte – Pena de 24 a 30 anos de reclusão Delação premiada – Abatimento na pena (causa especial de
OBS.: a maioria da Doutrina entende que o resultado (lesão redução de pena) daquele que delata os demais cúmplices (redução
grave ou morte) qualifica o crime QUALQUER QUE SEJA A PESSOA de 1/3 a 2/3). É indispensável que, dessa delação, decorra uma
QUE SOFRA A LESÃO, ainda que não seja o próprio sequestrado, mas facilitação na libertação do sequestrado.
desde que ocorra no contexto fático do delito de extorsão mediante

22.0 DANO

Caracterização – O tipo objetivo (conduta) pode ser tanto a é fungível (substituível, como o dinheiro, por exemplo) e o agente
destruição (danificação total), a inutilização (danificação, ainda que deteriora apenas a sua cota-parte, não há crime, por analogia ao
parcial, mas que torna o bem inútil) ou deterioração (danificação furto de coisa comum (posição do STF).
parcial do bem) da coisa. Elemento subjetivo – Dolo. Não se pune na forma culposa.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer OBS.: o crime de “pichação” é definido como CRIME CONTRA
pessoa, tendo como sujeito passivo o proprietário ou possuidor do O MEIO AMBIENTE (ambiente urbano), nos termos do art. 65 da Lei
bem danificado. O condômino pode ser sujeito ativo, mas, se a coisa 9.605/98.

23.0 APROPRIAÇÃO INDÉBITA


Conduta – O agente tem a posse sobre o bem, mas RECUSA- com a coisa, mas sem relação de confiança entre dono e infrator,
SE A DEVOLVÊ-LO ou REPASSÁ-LO a quem de direito. Ou seja, aqui, o estaremos diante do crime de furto.
crime ocorre pela INVERSÃO DO ANIMUS DO AGENTE QUE, ANTES, Elemento subjetivo – O elemento exigido é o dolo, não se
ESTAVA DE BOA-FÉ e passa a estar de má-fé. punindo a forma culposa.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer Consumação – O crime consuma-se com a inversão da
pessoa. intenção do agente. Crime unissubsistente, sendo inviável a tentativa
OBS.: a posse que o infrator tem sobre a coisa deve ser (embora Doutrina minoritária entenda o contrário).
“DESVIGIADA”, ou seja, sem vigilância, decorrendo de confiança Causas de aumento de pena – Aumento de 1/3 se o agente
entre o dono da coisa e o infrator. Caso haja mero contato físico tiver recebido a coisa:

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 38


E-BOOK

• Em depósito necessário
• Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial
• Em razão de ofício, emprego ou profissão

23.1 APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

Caracterização – A conduta é apenas uma: “deixar de Consumação e tentativa – A Doutrina majoritária sustenta que
repassar”, ou seja, reter, mas não repassar ao órgão responsável, o crime é formal e se consuma no momento em que se exaure o prazo
os valores referentes às contribuições previdenciárias. Trata-se de para o repasse dos valores. STF e STJ – Trata-se de crime material,
norma penal em branco, pois deve haver a complementação com as sendo necessária a constituição definitiva do tributo (contribuição
normas previdenciárias, que estabelecem o prazo para repasse das previdenciária) para que possa ser considerado “consumado” o crime
contribuições retidas pelo responsável tributário. (aplicação da súmula vinculante nº 24). Não se admite tentativa
Elemento subjetivo – Dolo. Não se pune na forma culposa. (crime omissivo puro).
Não se exige o dolo específico (STF e STJ).

23. 2 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

O STF e o STJ entendem que o pagamento, a qualquer tempo Uma vez quitado o parcelamento, extingue-se a punibilidade.
(antes do trânsito em julgado), extingue a punibilidade. Princípio da insignificância – Prevalece o entendimento de ser
E se o réu adere ao parcelamento do débito? Nesse caso, fica inaplicável o princípio da insignificância aos crimes cometidos contra
SUSPENSA a punibilidade (e também o curso do prazo prescricional). a Previdência Social.

24.0 ESTELIONATO

Caracterização – O agente obtém vantagem indevida (crime • Seja de pequeno valor o prejuízo
material, portanto), para si ou para outrem, em prejuízo alheio, Fraude eletrônica – Se a fraude é cometida com a utilização de
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante qualquer meio informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro
fraudulento. Considerado crime de resultado duplo (o agente deve por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio
obter a vantagem e a vítima deve sofrer prejuízo). eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento
Vantagem – Deve ser patrimonial (doutrina majoritária). análogo (ex.: agente se faz passar por um contato da vítima no
Elemento subjetivo – Dolo. Não se pune a forma culposa. celular e envia mensagem pedindo dinheiro e a vítima empresta,
Exige-se, ainda, a finalidade especial de agir, consistente na intenção acreditando ser um amigo, mas tratava-se de um estelionatário).
de obter vantagem indevida em detrimento (prejuízo) de outrem. Nesse caso, temos uma qualificadora: pena de reclusão de 4 (quatro)
a 8 (oito) anos e multa.
Estelionato privilegiado – Aplicam-se as mesmas disposições
do furto privilegiado, ou seja, o Juiz pode substituir a pena de reclusão
pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena OBS.: aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se

de multa, desde que: o crime de fraude eletrônica é praticado mediante a utilização de


• O réu seja primário servidor mantido fora do território nacional.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 39


E-BOOK

24 .1 ESTELIONATO ENVOLVENDO ATIVOS VIRTUAIS (ART. 171-A DO CP)

Conduta – Organizar, gerir, ofertar ou distribuir carteiras Consumação – Esse delito irá se consumar com a prática de
ou intermediar operações que envolvam ativos virtuais, valores qualquer das condutas (organizar, gerir, ofertar ou distribuir carteiras
mobiliários ou quaisquer ativos financeiros com o fim de obter etc.). A tentativa é possível, em tese, mas de difícil caracterização,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém pois a prática de qualquer das condutas configura o delito, de
em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. maneira que o crime já estará consumado com o simples ato de, por
Pode ser caracterizada pelas seguintes condutas: exemplo, “ofertar” a carteira de ativos financeiros com o fim de obter
• Organizar; vantagem ilícita em prejuízo alheio, mediante fraude. Esse delito,
• Gerir; em razão da forma como redigido, configura um crime formal, pois
• Ofertar; ou
basta a prática da conduta com o fim de obter vantagem indevida em
• Distribuir carteiras; ou
prejuízo alheio, ainda que o agente não consiga alcançar a vantagem
• Intermediar operações que envolvam ativos virtuais, valores
ilícita pretendida.
mobiliários ou quaisquer ativos financeiros.
Sujeito ativo – Trata-se de crime comum, podendo ser
Elemento subjetivo – Dolo. Todavia, exige-se o dolo específico,
praticado por qualquer pessoa.
ou seja, o especial fim de agir, consistente na
intenção de “obter vantagem ilícita, em prejuízo alheio”.

24.1.1 TÓPICOS IMPORTANTES


• E se o agente fraudar concurso público? A conduta, que é necessário que o agente tenha, de antemão, a intenção de não
antes foi considerada atípica pelo STF, atualmente, encontra-se pagar, ou seja, o agente sabe que não possui fundos para adimplir a
tipificada no art. 311-A do CPP (crime de fraude em certames de obrigação contraída. Diferente da hipótese na qual o agente possui
interesse público), incluída pela Lei 12.550/11. fundos, mas, antes da data prevista para o desconto do cheque,
• E se o agente praticar o estelionato mediante a utilização tem que retirar o dinheiro por algum motivo e o cheque “bate sem
de documento falso? O STJ e o STF entendem que se trata de fundos”. Isso não é crime. A emissão de cheques sem fundos para
concurso FORMAL. Contudo, se a potencialidade lesiva do falso pagamento de dívidas de jogo NÃO CONFIGURA CRIME, pois essas
exaure-se no estelionato, o crime de estelionato absorve o falso, dívidas não são passíveis de cobrança judicial, nos termos do art.
que foi apenas um meio para a sua prática (Súmula 17 do STJ). 814 do CC.
• E se o agente obtém um cheque da vítima? O crime é tentado • OBS.: nesse caso (art. 171, §2º, VI do CP), se o agente
ou consumado? Enquanto o agente não obtiver o valor prescrito no repara o dano ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, obsta o
cheque, o crime ainda é tentado, apenas se consumando quando prosseguimento da ação penal (súmula 554 do STF).
o agente obtiver o valor constante no cheque (posição majoritária • Estelionato contra idoso ou vulnerável – A pena aumenta-se
da Doutrina). de 1/3 (um terço) ao dobro se o crime é cometido contra idoso ou
• Emissão de cheque sem fundos – Para que se configure crime, vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso.

24 . 2 ESTELIONATO “PREVIDENCIÁRIO”

O §3° prevê o chamado estelionato contra entidade de direito público, que é aquele cometido contra qualquer das instituições previstas
na norma penal citada. Trata-se de causa de aumento de pena (aumenta-se de um terço).

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 40


E-BOOK

Consumação – Tal delito consuma-se com a obtenção AÇÃO PENAL – O crime de estelionato passou a ser, como
da vantagem indevida. Nos casos de obtenção de benefício regra, crime de ação penal pública
previdenciário mediante fraude a consumação dependerá do sujeito CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO. Todavia, a ação penal
ativo do delito: pública será incondicionada se a vítima for:
• Momento consumativo para o próprio beneficiário dos • A Administração Pública (direta ou indireta)
valores indevidos – Trata-se de crime permanente, que se “renova” • Criança ou adolescente
a cada saque do benefício indevido. • Pessoa com deficiência mental
• Momento consumativo para terceira pessoa que participou • Maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz
do delito – Ocorre com o recebimento da vantagem indevida pela OBS.: no que tange à idade, para a aplicação da majorante,
primeira vez (já que o delito de estelionato é material, pois o tipo por se tratar de pessoa idosa, basta que a vítima tenha 60 anos ou
penal exige o efetivo recebimento da vantagem indevida), seja pelo
mais; para se tratar de ação penal pública incondicionada, a vítima
próprio ou por outra pessoa.
deve ter mais de 70 anos de idade.

25.0 RECEPTAÇÃO
Conceito – Considerada um crime “parasitário” (ou OBS.: a receptação será punível ainda que seja desconhecido
decorrente), pois depende da existência de um crime anterior ou isento de pena o autor do crime anterior. Entretanto, deve haver
(chamado de “crime pressuposto” ou “crime a quo”). prova da ocorrência do crime anterior, ainda que não se exija a
Condutas – A conduta (tipo objetivo) prevista no caput pode condenação de qualquer pessoa por ele.
ser dividida em duas partes:
• RECEPTAÇÃO PRÓPRIA (1° parte do caput do artigo) – Aqui, Consumação – Nas modalidades de adquirir e receber o crime
o agente sabe que a coisa é produto de crime e a adquire, recebe, é instantâneo, consumando-se com a aquisição ou recebimento
transporta, conduz ou oculta. Não é necessário ajuste, conluio
da coisa. Nas modalidades de transportar, conduzir e ocultar
entre o adquirente (receptador) e o vendedor (aquele que
temos crime permanente, que irá se consumar enquanto o agente
praticou o crime anterior).
permanecer transportando, conduzindo ou ocultando a coisa.
• RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA (2° parte do caput do artigo) –
Aqui, o agente não adquire o bem, mas, sabendo que é produto
de crime, influencia para que outra pessoa, que age de boa-fé, Receptação qualificada – A conduta deve ter sido praticada no
adquira o bem. exercício de atividade comercial, sendo, portanto, crime próprio. À
atividade comercial equipara-se a qualquer forma de comércio, ainda
OBS.: somente a coisa móvel poderá ser objeto material do que irregular ou clandestino (camelôs, por exemplo), nos termos do
delito (posição adotada pelo STF). §2°.
O elemento subjetivo exigido é o dolo, aliado ao dolo Elementos subjetivos na receptação qualificada – O elemento
específico, consistente na intenção de obter vantagem, ainda que subjetivo aqui é tanto o dolo direto quanto o dolo eventual.
para terceira pessoa.
A consumação, na receptação própria,dá-se com a efetiva Receptação culposa – Ocorre quando o agente age com
inclusão da coisa na esfera de posse do agente (crime material). imprudência, adquirindo um bem em circunstâncias anômalas, sem
Já a receptação imprópria é crime formal, bastando que o infrator atentar para o fato de que é bem provável que seja produto de crime.
influencie o terceiro a praticar a conduta, pouco importando se este
vem a praticá-la ou não.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 41


E-BOOK

Receptação de animal • Vender


O tipo penal (art. 180-A do CP) traz sete condutas típicas: Objeto da receptação – Semovente domesticável de produção,
• Adquirir ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto
• Receber de crime.
• Transportar
A prática de mais de uma conduta, no mesmo contexto
• Conduzir
criminoso, configura crime único (tipo misto alternativo)
• Ocultar
Elemento subjetivo – Dolo.
• Ter em depósito

26.0 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE OS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

2 6 .1 CAUSA PESSOAL DE ISENÇÃO DE PENA (ESCUSA ABSOLUTÓRIA)

É isento de pena quem comete qualquer dos crimes contra o patrimônio em prejuízo:
• Do cônjuge, na constância da sociedade conjugal
• De ascendente ou descendente. Contudo, isso NÃO se aplica:
• Se o crime é cometido com emprego de grave ameaça ou violência à pessoa
• Ao estranho que participa do crime
• Se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos

2 6 . 2 AÇÃO PENAL

REGRA – AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA quando ocorrerem as
EXCEÇÕES: hipóteses em que não se aplicam as escusas absolutórias, ou seja:
• AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO – • Se o crime é cometido com emprego de grave ameaça ou
Se o crime é cometido contra: violência à pessoa
• Cônjuge desquitado ou judicialmente separado • Ao estranho que participa do crime
• Irmão, legítimo ou ilegítimo • Se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
• Tio ou sobrinho, com quem o agente coabita superior a 60 (sessenta) anos
ATENÇÃO! Mesmo numa destas circunstâncias, o CRIME SERÁ

27.0 CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

27.1 ESTUPRO

Caracterização – Ocorre quando alguém, mediante violência • Ato libidinoso diverso da conjunção carnal
ou grave ameaça, constrange outra pessoa a ter conjunção carnal ou Antes da Lei 12.015/09, o ato libidinoso diverso da conjunção
a praticar ou permitir que com ela se pratique outro ato libidinoso. carnal estava inserido no tipo penal do art. 214 do CP (atentado
OBS.: o crime de estupro, atualmente, engloba duas situações: violento ao pudor), hoje revogado. Houve, portanto, continuidade
• Conjunção carnal típico-normativa.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 42


E-BOOK

E se o agente praticar mais de uma conduta (conjunção carnal e/ou ato libidinoso)? Depende:

• Mesmo contexto fático – Crime único, mas o Juiz deve considerar isso quando da fixação da pena
• Mais de um ato criminoso, mas praticados em circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução semelhantes (ex.: cinco
estupros de José contra Maria, em uma semana, no mesmo local e da mesma forma) – Deve ser reconhecida a continuidade
delitiva. Agente recebe a pena de somente um dos delitos, acrescida de 1/6 até o triplo (art. 71 e seu § único).
• Contextos absolutamente distintos – Não há crime único nem continuidade delitiva. Responde por todos os delitos em
concurso material.

Sujeitos – Crime bicomum. Tanto o sujeito ativo quanto o Formas qualificadas:


sujeito passivo podem ser qualquer pessoa (antes da Lei 12.015/09, • Se ocorre morte
somente a mulher poderia ser vítima de estupro e somente o homem • Se ocorre lesão corporal grave
• Se a vítima é menor de 18 anos e maior de 14 anos
poderia praticá-lo).

E se a vítima tem menos de 14 anos? Há estupro de vulnerável (art. 217-A do CP).

Consumação – Controvertido, mas prevalece que o delito se consuma com a prática do ato libidinoso diverso (nesse caso, ainda que não
haja contato físico direto = ex.: agente ordena que a vítima se masturbe) ou conjunção carnal.

2 7. 2 VIOLÊNCIA SEXUAL MEDIANTE FRAUDE

Caracterização – O meio utilizado não é a violência ou grave ameaça. Aqui, o agente utiliza-se de uma fraude, um ardil, um engodo.
Também é chamado, por alguns, de estelionato sexual.
OBS.: se a vítima, em razão da fraude ou do outro meio empregado, fica completamente privada do poder de manifestação de vontade,
não teremos esse delito, mas o delito de estupro de vulnerável.

2 7. 3 IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

Caracterização – Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato não constituir crime mais grave
ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de OBS.: a prática de ato libidinoso contra menor de 14 anos irá
terceiro (ex.: passar a mão nas nádegas de alguém, esfregar-se em configurar estupro de vulnerável, não sendo cabível a desclassificação
alguém sem seu consentimento etc.). para importunação sexual, independentemente da ligeireza ou da
Elemento subjetivo – Dolo superficialidade do contato (ex.: tocar rapidamente as partes íntimas
Tipo penal subsidiário – Só irá se configurar esse delito se o de uma criança de 10 anos).

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 43


E-BOOK

2 7. 4 ASSÉDIO SEXUAL

Caracterização – Conduta daquele que constrange alguém, • Deve haver uma relação de hierarquia laboral (seja pública
com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, ou privada) entre infrator e vítima – Controvertido, mas é o que
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico prevalece. OBS.: o STJ já reconheceu que é possível a configuração
de tal delito na relação entre professor e aluno, dada a ascendência
ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
de um sobre o outro.
• Consumação – Controvertido. Prevalece que se consuma
Tópicos relevantes
com o constrangimento, ainda que uma única vez. Minoria
• Crime próprio – Só pode ser praticado por aquele que ostente
entende que é crime habitual.
alguma das condições previstas no tipo penal.

28.0 CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

2 8 .1 ESTUPRO DE VULNERÁVEL

Caracterização – A conduta é a de ter conjunção carnal ou nasceu uma criança, sendo que a vítima e o acusado passaram a
praticar outro ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos. Não viver juntos e criar o filho (STJ, (AgRg no REsp n. 2.015.310/MG, Sexta
importa se a relação é consentida! Presume-se que a pessoa não tem Turma, julgado em 12/9/2023, DJe de 21/9/2023.)
maturidade para externar vontade válida quanto a esse tipo de ato. Forma equiparada – Nas mesmas penas, incorre quem pratica
OBS.: o STJ entende que a presunção é absoluta (não admite a conduta contra pessoa que:
prova em contrário). Todavia, o próprio STJ já decidiu, de forma • Não tem discernimento para a prática do ato – ex.: pessoa
MUITO excepcional, pelo acolhimento da chamada “exceção de portadora de enfermidade ou deficiência mental.
• Por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência –
Romeu e Julieta”, considerando não haver crime, pela ausência de
ex.: pessoa que está completamente embriagada.
relevância social do fato, numa situação em que a vítima tinha 12
anos e o infrator 19 anos, mas ambos eram namorados e da relação

2 8 . 2 CORRUPÇÃO DE MENORES

Consumação – É controvertida. Prevalece que o crime se a vítima a vestir uma fantasia sexual). Para outra parte da Doutrina,
consuma quando a vítima pratica o ato sexual a que foi induzida qualquer ato pode caracterizar o delito, de forma que aquele que
(independentemente de a pessoa se sentir “satisfeita” em sua induz pessoa menor de 14 anos a praticar sexo vaginal com terceira
lascívia). Crime material. pessoa, responde por esse delito, enquanto o terceiro que pratica
Sujeitos – Qualquer pessoa pode praticar o delito. Só o menor a relação responde por estupro de vulnerável, em exceção à teoria
de 14 anos pode ser sujeito passivo. monista do delito (cada um dos agentes responde por um crime
Atos de satisfação da lascívia – Para parte da Doutrina, apenas diferente).
os atos contemplativos podem caracterizar esse delito (ex.: induzir

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 44


E-BOOK

E se a vítima não tiver menos de 14 anos? O que ocorre? Depende:

• Se a vítima tem menos de 14 anos – Crime do art. 218 do CP.


• Se a vítima tem mais de 14 e menos de 18 anos – Pratica o crime do art. 227, §1º do CP (mediação para satisfazer a lascívia
de outrem, na forma qualificada).
• Se a vítima tem 18 anos ou mais – Pratica o crime do art. 227 do CP (mediação para satisfazer a lascívia de outrem, na forma
simples).
• Se a vítima possui exatos 14 anos – Pratica o crime do art. 227 do CP (mediação para satisfazer a lascívia de outrem, na forma
simples).

E o terceiro que “satisfaz a lascívia”? Responde por qual delito?


• Se a vítima tem menos de 14 anos – Poderá praticar ESTUPRO DE VULNERÁVEL (art. 217-A do CP).
• Se a vítima tem mais de 14 anos – Não pratica crime algum.

2 8 . 3 SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE

Caracterização – Pode ser praticado de duas formas, sempre com a finalidade de satisfazer sua própria lascívia ou a de outrem:
• Praticando o ato na presença da vítima – Consuma-se quando a vítima contempla o ato.
• Induzindo a vítima a presenciar ato libidinoso – Consuma-se quando há o induzimento, ainda que a vítima não chegue a ver o ato
(controvertido).
Sujeitos – Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo só pode ser o menor de 14 anos.

2 8 . 4 FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VUL-


NERÁVEL

Configuração – Ocorre quando alguém:


• Submete, induz, facilita ou atrai à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos (ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato) – Consuma-se no momento em que a vítima passa a se
dedicar à prostituição, colocando-se à disposição dos clientes.
• Impede ou dificulta que a vítima abandone a exploração – Consuma-se no momento em que a vítima decide deixar a prostituição,
sendo impedida pelo agente (crime permanente).

28 . 5 DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA


DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA

Conduta – Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio (inclusive
por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática), fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena
de estupro ou de estupro de vulnerável OU que faça apologia ou induza a sua prática, OU, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 45


E-BOOK

ou pornografia.
Majorantes:
• Existência de relação íntima de afeto entre autor e vítima no presente ou no passado;
• Se há o específico fim (dolo específico) de vingança ou humilhação (vingança pornográfica ou porn revenge).

2 8 .6 DISPOSIÇÕES GERAIS APLICÁVEIS AOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL E AOS CRIMES
SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

Ação penal – AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título
Causas de aumento de pena previstas para os crimes contra a tiver autoridade sobre ela.
liberdade sexual e para os crimes sexuais contra vulnerável • No estupro, aumento de 1/3 a 2/3, em duas situações:
• Aumento de quarta parte (1/4) – Se o crime é cometido com • Estupro coletivo – mediante concurso de 2 (dois)
o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas. ou mais agentes
• Aumento de metade – Se o agente é ascendente, padrasto • Estupro corretivo – para controlar o
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, comportamento social ou sexual da vítima

2 8 .7 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PARA OS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (TODOS)

• No caso de resultar gravidez – Aumento de metade a 2/3


• Aumento de 1/3 a 2/3 na hipótese de o agente:
• Transmitir à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador; ou
• Se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência (inclusão da Lei 13.718/18).

29.0 MOEDA FALSA

Conduta – Falsificar papel moeda ou moeda metálica de Tópicos importantes


curso legal no Brasil ou no exterior. Pode ser praticado mediante: • Falsificação grosseira – Não há crime de moeda falsa, por não
• Fabricação – Cria-se a moeda falsa possuir potencialidade lesiva.
• Adulteração – Utiliza-se moeda verdadeira para transformar • Forma qualificada prevista no § 3° – Só admite como sujeitos
em outra, falsa. ativos aquelas pessoas ali enumeradas (crime próprio)
Consumação – No momento em que a moeda é fabricada ou • E se a moeda ainda não foi autorizada a circular? Incorre nas
mesmas penas da forma principal do delito.
alterada (não precisa chegar a entrar em circulação).
• Forma privilegiada – Ocorre quando o agente recebe a moeda
Forma equiparada (mesma pena) – Quem, por conta própria
falsa de boa-fé (sem saber que era falsa) e a restitui à circulação (já
ou alheia:
sabendo que é falsa) – IMPORTANTE!
• Importa ou exporta • Empresta • Insignificância – NÃO CABE aplicação do princípio da
• Adquire • Guarda insignificância.
• Vende • Introduz na circulação
• Troca moeda falsa
• Cede

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 46


E-BOOK

29.1 PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA

Conduta – Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou OBS.: trata-se de exceção à regra da impunibilidade dos atos
gratuito, possuir ou guardar: preparatórios (Lei já considera como crime uma conduta que seria
• Maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto ato preparatório para outro delito).
especialmente destinado à falsificação de moeda.

30.0 FALSIDADE DOCUMENTAL

3 0.1 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO

Conduta – Falsificar, no todo ou em parte, documento público. forma é pública (emanado de órgão público), mas o conteúdo é
Pode ocorrer mediante: de interesse privado (ex.: escritura pública de compra e venda de
• Fabricação de um documento público falso um imóvel pertencente a um particular. O conteúdo é de interesse
• Adulteração de um documento público verdadeiro particular, embora emanado de um órgão público).
Consumação – No momento em que o agente fabrica o
documento falso ou altera o documento verdadeiro. Equiparados a documento público
Conceito de documento público – A Doutrina divide em: • Emanado de entidade paraestatal
Documento público em sentido formal e material (substancial) • Título ao portador ou transmissível por endosso
– A forma é pública (emanado de órgão público, ou seja, por • Ações de sociedade comercial
funcionário público no exercício das funções, com o cumprimento • Livros mercantis
• Testamento particular
das formalidades legais) e o conteúdo também é público (atos
Causa de aumento de pena – Há aumento de pena (1/6):
proferidos pelo poder público, como decisões administrativas,
• Se o agente é funcionário público e desde que cometa o
sentenças judiciais etc.).
delito valendo-se do cargo
Documento público em sentido formal apenas – Aqui, a

3 0. 2 FALSO X ESTELIONATO

• Se o falso se exaure no estelionato – É absorvido pelo estelionato:


Súmula 17 do STJ
“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
• Se o falso não esgota sua potencialidade lesiva no estelionato – O agente responde por ambos os delitos.

3 0. 3 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR

Caracterização – A lógica é a mesma da falsificação de documento público, só que com documento particular.
Conceito de documento particular – Considera-se documento particular aquele que não pode ser considerado, sob qualquer aspecto,
como documento público.
Documento particular por equiparação – O CP equiparou a documento particular o cartão de crédito ou débito.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 47


E-BOOK

3 0. 4 FALSIDADE IDEOLÓGICA

Caracterização – Aqui, o agente não falsifica a estrutura reclusão de um a três anos e multa).
do documento. O documento é estruturalmente verdadeiro, mas Causa de aumento de pena – Há aumento de pena (1/6):
contém informações inverídicas. A falsificação ideológica ocorre • Se o agente é funcionário público e desde que cometa o
quando o agente (com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou delito se valendo do cargo; ou
• Se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante):
civil.
• Omite declaração que devia constar no documento (conduta
omissiva) Falsidade ideológica x Falsidade material (falsificação de
• Nele insere ou faz inserir declaração falsa ou diversa da que documento público ou particular) – A diferença básica entre a
devia ser escrita (conduta comissiva) falsidade material e a falsidade ideológica reside no fato de que,
Pena – A pena varia de acordo com o documento em que há na primeira, o documento é estruturalmente falso e, na segunda, a
falsidade ideológica (documento público – estrutura é verdadeira, mas o conteúdo (a ideia que o documento
reclusão de um a cinco anos e multa; documento particular – transmite) é falsa.

30. 5 FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO

Conduta – Dar o médico, no exercício da sua profissão, lucro = há previsão de pena de multa cumulada com a privativa de
atestado falso, atestando falsamente determinada condição de liberdade.
saúde de alguém. Consumação – Consuma-se no momento em que o médico
Crime próprio – Somente o médico poderá praticar o crime FORNECE o atestado falso. Se elaborar o atestado falso, mas se
(enfermeiro, dentista etc., não podem). arrepender e não entregar ao destinatário, não há crime.
Elemento subjetivo – Dolo. OBS.: se houver finalidade de

3 0.6 USO DE DOCUMENTO FALSO

Caracterização – Consiste em fazer uso dos documentos ATENÇÃO! E se quem usa o documento falso é a própria
produzidos nos crimes previstos nos arts. 297 a 302 do CP. pessoa que fabricou o documento falso? Nesse caso, temos
Pena – É a mesma prevista para a falsificação do documento. (basicamente) dois entendimentos:
OBS.: isso é chamado pela Doutrina tipo penal remetido, já 1. – O agente responde apenas pelo crime de “uso de documento
que se remete a outros tipos penais para compor, de forma plena, a falso”, pois a falsificação é “meio” para a utilização
2. – O agente responde apenas pela falsificação do documento,
conduta criminosa.
não pelo uso, pois é natural que toda pessoa que falsifica um
Consumação – No momento em que o agente leva o
documento pretenda utilizá-lo, posteriormente, de alguma forma
documento ao conhecimento de terceiros, pois aí se dá a lesão à
– Prevalece na Doutrina e na Jurisprudência.
credibilidade, à fé pública. NÃO SE ADMITE A TENTATIVA!

31.0 OUTRAS FALSIDADES

31.1 FALSA IDENTIDADE


Caracterização – Atribuir a si ou terceiro falsa identidade, que consiste, basicamente, em se fazer passar por outra pessoa.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 48


E-BOOK

OBS.: se o agente vale-se de um documento falso para se fazer passar por outra pessoa, nesse caso, teremos USO DE DOCUMENTO
FALSO.
Elemento subjetivo – Dolo. Exige-se especial finalidade de agir, consistente na intenção de obter alguma vantagem, para si ou para
outrem, ou causar prejuízo a alguém.
A prática da conduta (falsa identidade), perante a autoridade policial, para se esquivar de eventual cumprimento de prisão (por
mandados anteriores), configuraria exercício legítimo de “autodefesa”? Não, trata-se de conduta típica (falsa identidade) entendimento
sumulado do STJ (súmula 522).

32.0 CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINIS-


TRAÇÃO EM GERAL

32 .1 CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS

Funcionário público – Quem exerce cargo, emprego ou função Causa de aumento de pena – Aplicada àqueles que ocuparem
pública, ainda que transitoriamente ou sem remuneração. cargos em comissão ou função de direção ou assessoramento
Funcionário público por equiparação – Quem exerce cargo, de órgão da administração direta, sociedade de economia mista,
emprego ou função em entidade paraestatal e quem trabalha para empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (aumento
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a de 1/3).
execução de atividade típica da Administração Pública (ainda que OBS.: por falha legislativa, em relação à causa de aumento de
transitoriamente ou sem remuneração). pena, não se aplica aos funcionários de autarquias.

32 . 2 PECULATO

Conduta – “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, particular saiba que seu comparsa é funcionário público).
valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que
tem a posse em razão do cargo (peculato-apropriação), ou desviá-lo Peculato culposo – Quando o funcionário público concorre, de
(peculato-desvio), em proveito próprio ou alheio.” (art. 312 do CP). maneira CULPOSA, para o crime praticado por outra pessoa.
Peculato-furto – Aplica-se àquele que, mesmo “não tendo a OBS.: se o agente reparar o dano antes de proferida a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja sentença irrecorrível (ou seja, antes do trânsito em julgado), estará
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade extinta a punibilidade. Caso o agente repare o dano após o trânsito
que lhe proporciona a qualidade de funcionário.” (art. 312, §1º em julgado, a pena será reduzida pela metade. ISSO NÃO SE APLICA
do CP). ATENÇÃO! Diferença fundamental entre peculato furto e ÀS DEMAIS FORMAS DE PECULATO.
peculato (desvio ou apropriação) = No peculato-furto, o agente não Peculato mediante erro de outrem – Conduta daquele que
tem a posse da coisa. se apropria de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do
OBS.: Peculato de uso – Discutido na doutrina e jurisprudência, cargo, recebeu por erro de outrem. OBS.: o agente não pode ter
mas prevalece que é IMPUNÍVEL. criado (dolosamente) a situação de erro (nesse caso, responde por
Particular pode praticar peculato? Sim, desde que em estelionato).
concurso de pessoas com um funcionário público (e desde que o

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 49


E-BOOK

32 . 3 CONCUSSÃO X CORRUPÇÃO PASSIVA

Diferença fundamental – Embora os tipos penais possuam a OBS.: no crime de corrupção passiva, na modalidade de
redação um pouco diferente, a diferença FUNDAMENTAL reside no “receber vantagem indevida”, exige-se o efetivo recebimento da
fato de que: vantagem, pois, nesse caso, o recebimento não é o resultado que
• Na concussão – O agente EXIGE a vantagem indevida. o agente busca com sua conduta, mas a própria conduta criminosa.
• Na corrupção passiva – O agente SOLICITA (ou recebe ou OBS.: em todas as modalidades de corrupção passiva, não
aceita a promessa de vantagem) a vantagem indevida.
se exige que o funcionário público efetivamente pratique ou deixe
OBS.: na concussão, se o agente exige a vantagem sob a
de praticar o ato (com infração de dever funcional) em razão da
ameaça de praticar um mal grave à vítima, não relacionado às
vantagem ou promessa de vantagem recebida. Caso isso ocorra, a
atribuições do cargo, teremos EXTORSÃO, não concussão (ex.: policial
pena será aumentada em 1/3.
que exige dinheiro do motorista para não aplicar multa = concussão,
Corrupção passiva privilegiada – Modalidade menos grave
no entanto, um policial que exige dinheiro da vítima sob a ameaça de
de corrupção passiva. Hipótese do “favor”, aquela conduta do
matar o filho da vítima = extorsão).
funcionário que cede a pedidos de amigos, conhecidos ou mesmo de
CONSUMAÇÃO – Ambos os delitos consumam-se com a mera
estranhos, ou cede influência de alguém, para que faça ou deixe de
prática da conduta (exigir, solicitar, aceitar promessa de vantagem
fazer algo ao qual estava obrigado em razão da função, com infração
etc.), sendo DISPENSÁVEL o efetivo recebimento da vantagem
de dever funcional.
indevida para que haja a consumação do delito.

CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA X PREVARICAÇÃO


A diferença básica entre ambos reside no fato de que: • Só quem pode praticar o delito é o superior hierárquico (há
• Na corrupção passiva privilegiada – O agente cede À PEDIDO quem defenda que o colega, sem hierarquia, também pode, mas é
ou À INFLUÊNCIA de alguém. minoritário)
• Na prevaricação – O agente infringe o dever funcional • Por indulgência (sentimento de pena, misericórdia,
(praticando ou deixando de praticar ato) para satisfazer clemência)
SENTIMENTO OU INTERESSE PESSOAL. OBS.: cuidado!!! Se o agente deixa de responsabilizar o
subordinado:
E a condescendência criminosa? Semelhante à prevaricação, • Cedendo a pedido ou à influência de alguém – Pratica
mas HÁ DIFERENÇAS. Na condescendência criminosa, o agente (por corrupção passiva privilegiada.
indulgência) deixa de responsabilizar SUBORDINADO que praticou • Para satisfazer sentimento ou interesse pessoal (amizade
etc.) – Pratica prevaricação.
infração no exercício do cargo ou, caso não tenha competência, deixa
• Por ter recebido dinheiro em troca – Pratica corrupção
de levar o fato ao conhecimento da autoridade que o tenha. É um
passiva.
crime parecido com a prevaricação, mas tem o diferencial:

32 . 3 FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO

Conduta – Facilitar a prática de qualquer dos dois crimes (contrabando ou descaminho), seja por ação ou omissão. Só pode ser praticado
pelo funcionário que POSSUI A FUNÇÃO DE EVITAR O CONTRABANDO E O DESCAMINHO.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 50


E-BOOK

Mas e se o funcionário não tiver essa obrigação específica? do contrabando ou descaminho, ainda que estes não venham a
Responderá como partícipe do crime praticado pelo particular se consumar (ex.: funcionário da alfândega facilita o ingresso de
(contrabando ou descaminho), não pelo crime do art. 318 do CP. mercadorias proibidas por um viajante, mas outro servidor impede
Consumação – Consuma-se com o ato de facilitar a prática a efetiva importação dos produtos).

32 . 4 ADVOCACIA ADMINISTRATIVA

Conduta – Patrocinar interesse privado perante a administração pública. O agente:


• Deve se valer das facilidades que a sua condição de funcionário público lhe proporciona
• Praticar a conduta em prol de um terceiro (majoritário)
OBS.: o crime consuma-se ainda que o interesse patrocinado seja legítimo. Caso seja um interesse ilegítimo, teremos a forma qualificada
(pena mais grave).

Interesse legítimo – Crime de advocacia administrativa na forma simples


Interesse ilegítimo – Crime de advocacia administrativa na forma qualificada.

32 . 5 DISPOSIÇÕES GERAIS

• Todos os crimes são próprios – Devem ser praticados por culposa para o peculato (peculato culposo, art. 312, §2º do CP).
quem ostente a condição de funcionário público. Em alguns • Ação penal – Para todos, pública incondicionada.
casos, deve ser uma condição ainda mais específica (ex.: superior • Particular como sujeito do delito – É possível, em todos eles,
hierárquico no crime de condescendência criminosa). desde que se trate de concurso de pessoas e que o particular saiba
• Todos os crimes são dolosos – Só há previsão de forma que seu comparsa é funcionário público.

33.0 CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM


GERAL

Usurpação de função pública – O agente não possui qualquer vínculo com a administração pública ou, caso possua, suas funções são
absolutamente estranhas à função usurpada.
OBS.: é necessário que o agente pratique atos inerentes à função. Não basta que apenas se apresente a terceiros como funcionário
público.

33.1 RESISTÊNCIA

Conduta – Opor-se à execução de ato LEGAL de funcionário público (violência contra coisa não caracteriza o delito), mediante violência ou

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 51


E-BOOK

ameaça contra o próprio servidor ou contra quem o esteja auxiliando. à execução do ato legal, sem violência ou ameaça (ex.: deitar-se no
Caso praticado mediante violência, aplica-se também a pena relativa chão para atrapalhar a passagem, recusar-se a abrir a porta etc.) não
à violência (ex.: o agente agride funcionário público com socos, para configura crime de resistência, podendo configurar, a depender das
evitar uma ação de fiscalização, causando lesão corporal grave no circunstâncias, crime de desobediência.
servidor. Deverá o infrator responder por resistência + lesão corporal • E se o particular resistir à prisão em flagrante executada
grave). por um particular (atitude permitida pelo art. 301 do CPP)?
Nesse caso, não pratica o crime em questão, pois o particular
Qualificadora – Se o ato, em razão da resistência, não se
não é considerado funcionário público, não podendo ser realizada
realiza, teremos a figura qualificada do delito.
analogia in malam partem.
Oposição meramente passiva – A oposição meramente passiva

33 . 2 DESOBEDIÊNCIA

Conduta – O agente deixa de fazer algo que lhe fora 195 do CTB.
determinado ou faz algo cuja abstenção lhe fora imposta mediante 2ª Situação – Não atendimento à ordem legal de parada,
ordem legal de funcionário público competente. emanada por agentes públicos em contexto de policiamento
• A tentativa só será admitida nas hipóteses de desobediência ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes – Há crime de
mediante atitude comissiva (ação). desobediência (art. 330 do CP).
O não atendimento à ordem de parada dada por agentes Princípio da especialidade – Diversas Leis Especiais preveem
públicos no trânsito (ex.: “Blitz”) configura o crime de desobediência? tipos penais que criminalizam condutas específicas de desobediência.
Depende: Nesses casos, aplica-se a legislação especial, aplicando-se este artigo
1ª Situação – Não atendimento à ordem de parada dada pela do CP apenas quando não houver lei específica tipificando a conduta
autoridade de trânsito ou por seus agentes (ou mesmo por policiais (ex.: descumprimento de medida protetiva de urgência fixada no
ou outros agentes públicos no exercício de atividades relacionadas contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher não
ao trânsito) – Nesse caso, NÃO há crime de desobediência, pois há configura crime de desobediência, mas sim um crime específico,
previsão de punição administrativa especificamente prevista no art. previsto no art. 24-A da Lei 11.340/06).

33 . 3 DESACATO

Conduta – Ocorre quando um particular desacata (falta de (praticado mediante um único ato). Outra parcela entende cabível a
respeito, humilhação, com gestos ou palavras, vias de fato etc.) tentativa, embora de difícil caracterização.
funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Exige- E se o ofendido já não é mais funcionário público (demitido,
se que o ato seja praticado na presença do funcionário público. exonerado etc.)? Nesse caso, o crime não se caracteriza, ainda
ATENÇÃO!! Não se exige que o funcionário esteja na repartição que praticado em razão da função anteriormente exercida pelo
ou no horário de trabalho, mas sim que o desacato ocorra em razão funcionário.
da função exercida pelo servidor. OBS.: o STJ já firmou entendimento no sentido de que a
Tentativa – Há divergência. Parte entende incabível pois, criminalização do desacato NÃO AFRONTA a liberdade de expressão
exigindo-se que o funcionário público esteja presente no momento do e pensamento, não violando o Pacto de San José da Costa Rica. Ou
desacato, é inviável a tentativa, por se tratar de crime unissubsistente seja, é LÍCITA a criminalização do desacato no Brasil.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 52


E-BOOK

33 . 4 TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Conduta – Conduta daquele que pretende obter vantagem em aquele que paga por ela são considerados corruptores ativos (art.
face de um particular, sob o argumento de que poderá influenciar na 333 do CP).
prática de determinado ato por um servidor público. É uma espécie Consumação – Quando o agente solicita, cobra ou exige a
de “estelionato”, pois o agente promete usar uma influência que não vantagem do terceiro. Assim, a obtenção da vantagem é mero
possui. exaurimento, sendo dispensável para a consumação do crime. Na
E o particular que “contrata os serviços”? Doutrina entende modalidade de “obter vantagem indevida”, a obtenção da vantagem
que não é sujeito ativo, mas sujeito passivo do delito (vítima), pois, é necessária.
embora sua conduta seja imoral, não é penalmente relevante, tendo Causa de aumento de pena – Quando o agente alega ou
sido ele também lesado pela conduta do agente, que o enganou insinua que parte da vantagem se destina ao funcionário público.
(considerado corruptor putativo). Aumento de pena de metade.
OBS.: se a influência do agente for REAL, tanto ele quanto

33.5 CORRUPÇÃO ATIVA

Conduta – Esse crime pode ser cometido de duas formas indevida e o particular a fornece (paga uma quantia, por exemplo),
diferentes (é, portanto, crime de ação múltipla): o particular NÃO comete o crime de corrupção ativa, eis que o tipo
oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário somente prevê os verbos de OFERECER e PROMETER vantagem
público. indevida, que pressupõem que o particular tome a iniciativa de
Elemento subjetivo – DOLO. Exige-se, ainda, a finalidade buscar corromper o servidor.
especial de agir consistente no objetivo de fazer com que, mediante Causa de aumento de pena – Se, em razão da vantagem
a vantagem oferecida ou prometida, o funcionário público venha a oferecida ou prometida, o funcionário público age da maneira que
praticar, omitir ou retardar ato de ofício. não deveria, infringindo seu dever funcional, a pena é aumentada
ATENÇÃO! Se o funcionário público solicita a vantagem de um terço.

33.6 CONTRABANDO

Conduta – Importar ou exportar mercadoria proibida. Ou insignificância ao contrabando (STF e STJ). Obs.: Vem sendo aplicada
seja, a importação ou exportação da mercadoria, por si só, é vedada. a insignificância caso se trate de:
Caráter residual – Se a importação ou exportação de • Pequena quantidade de medicamento para uso próprio
determinada mercadoria específica configurar algum outro tipo penal • Contrabando de cigarros quando a quantidade apreendida
não ultrapassar 1.000 (mil) maços (STJ – Tema repetitivo 1143)
mais específico, este será aplicado em detrimento do contrabando.
Tópicos importantes
Com a Lei 13.008/14, a pena do delito de contrabando foi
Consumação – O contrabando consuma-se quando a
AUMENTADA para 02 a 05 anos de reclusão. Essa alteração na
mercadoria ilícita ultrapassa a barreira alfandegária, sendo liberada
quantidade da pena produz consequências negativas para o réu (e,
pelas autoridades.
portanto, sabemos que NÃO IRÁ RETROAGIR):
Insignificância – NÃO CABE APLICAÇÃO do princípio da
• Não cabe mais suspensão condicional do processo

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 53


E-BOOK

(a pena mínima ultrapassa um ano) por exemplo, que muita gente traz da Holanda).
• Passa a admitir prisão preventiva (antes, só cabia • Reinsere no território nacional mercadoria brasileira
em hipóteses excepcionais) destinada à exportação – Essa figura tem por finalidade punir
• O prazo prescricional passa de 08 para 12 anos aqueles que trazem de volta ao país determinados produtos que
(art. 109, III do CP) são aqui fabricados e depois exportados e não podem ser aqui
Causa de aumento de pena – A pena é aplicada em dobro se o comercializados, especialmente por questões tributárias.
crime é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. • Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer
forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de
Figuras equiparadas – Quem:
atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei
• Pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando
brasileira
• Importa ou exporta clandestinamente mercadoria que
• Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no
dependa de registro, análise ou autorização de órgão público
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida
competente – ex.: importação de determinados produtos
pela lei brasileira.
alimentícios sem autorização da Vigilância Sanitária (alguns queijos,

33.7 DESCAMINHO

Conduta – Ocorre quando o agente ilude, no todo ou em parte, Extinção da punibilidade pelo pagamento? Prevalece o
o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, saída ou entendimento de que, sendo o descaminho um crime formal, o
consumo da mercadoria. Trata-se de uma burla ao sistema tributário. pagamento dos tributos devidos não gera extinção da punibilidade
Consumação – Com a liberação na alfândega, sem o pagamento (STJ, AgRg no REsp n. 1.810.491/SP, relator Ministro Nefi Cordeiro,
dos impostos devidos. Trata-se de crime FORMAL. Sexta Turma, julgado em 27/10/2020, REPDJe de 12/11/2020, DJe de
Insignificância – CABÍVEL! STF e STJ possuem entendimento 03/11/2020.)
no sentido de que o patamar para consideração da insignificância é • Causa de aumento de pena – A pena é aplicada em dobro se
de R$ 20.000,00. o crime é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

33 . 8 SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Conduta – É a de suprimir ou reduzir contribuição social seja, está prestando declaração falsa.
previdenciária ou qualquer de seus acessórios e pode ser praticada Consumação – Crime é material, ou seja, é necessária a efetiva
nas três modalidades diferentes previstas nos incisos I, II e III do art. ocorrência da obtenção da vantagem relativa à redução ou supressão
337-A do CP. da contribuição social devida.
Normas penais em branco – As condutas incriminadas são Extinção da punibilidade – Duas hipóteses:
normas penais em branco, pois precisam de complementação, • Sem o pagamento – Se antes do início da ação do fisco o
já que a lei não diz quais são os documentos que devem conter as agente retrata-se e presta as informações corretas.
• Com pagamento integral do tributo (inclusive acessórios) –
informações, prazos etc.
O pagamento poderá ocorrer mesmo depois de iniciada a ação do
Crime comissivo ou omissivo? Controvertido. A Doutrina
fisco, mas antes do recebimento da denúncia. OBS.: o STF entende
majoritária entende tratar-se de crime omissivo. Entretanto, alguns
que o pagamento integral do débito, ANTES DO TRÂNSITO EM
doutrinadores entendem que se trata de crime comissivo, pois, JULGADO (mesmo após o julgamento), extingue a punibilidade,
quando o agente deixa de lançar o tributo correto, está lançando um com base no art. 69 da Lei 11.941/09
errado; quando omite receitas e lucros, está declarando outros, ou

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 54


E-BOOK

33.9 PERDÃO JUDICIAL

São três os requisitos para o perdão judicial ou aplicação apenas da pena de multa:
• Ter o agente bons antecedentes
• Ser primário
• O valor das contribuições não ser superior ao valor estabelecido pela Previdência Social como o mínimo ao ajuizamento de execuções
fiscais

34.0 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

3 4 .1 DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Caracterização – Quando alguém dá causa à instauração etc.). Caso contrário, teremos crime tentado.
de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, Elemento subjetivo – Dolo. Não há forma culposa.
de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de Causa de aumento de pena – A pena é aumentada de 1/6 se o
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra agente vale-se de anonimato ou nome falso.
alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato de Se o agente dá causa à instauração de um desses procedimentos
improbidade de que o sabe inocente. contra alguém, mas imputando contravenção penal a essa pessoa
Consumação – Crime material. É necessário que o inocente, responde pelo crime? Sim, mas a pena é diminuída pela
procedimento seja instaurado (IP, processo judicial, inquérito civil metade.

34 . 2 COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO

Caracterização – Quando alguém provoca a ação da agir (intenção de ver a autoridade tomar alguma providência).
autoridade, comunicando crime ou contravenção que o agente SABE • Denunciação caluniosa x Comunicação falsa de crime ou
QUE NÃO OCORREU. contravenção – A diferença básica entre ambas reside no fato de
que, no primeiro caso, o agente quer prejudicar a vítima (imputa a
Consumação – Crime material. Consuma-se quando
uma pessoa um fato que sabe que ela não praticou). No segundo
a autoridade, em razão da comunicação falsa (de crime ou
caso, o agente não imputa o fato a alguém, mas comunica falsamente
contravenção, tanto faz), pratica algum ato, não sendo necessária a
a ocorrência de uma infração penal (crime ou contravenção) que
instauração do Inquérito. sabe que não ocorreu.
Elemento subjetivo – Dolo. Exige-se a finalidade especial de

34 . 3 AUTOACUSAÇÃO FALSA DE CRIME

Caracterização – Quando alguém imputa a si próprio, perante a autoridade, crime que não cometeu (seja porque o crime não ocorreu o
crime, seja porque a pessoa não participou do crime).
OBS.: o sujeito ativo aqui pode ser qualquer (crime comum). Contudo, não pratica o crime quem assume sozinho a prática de um crime

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 55


E-BOOK

do qual participou com outras pessoas (ex.: José e Maria praticaram Se o motivo for nobre (ex.: evitar a punição de um filho),
um roubo. José, apaixonado por Maria, assume sozinho a prática do ainda assim o agente responde pelo crime? Sim!
delito). Consumação – No momento em que A AUTORIDADE TOMA
OBS.: aqui o objeto NÃO PODE SER CONTRAVENÇÃO CONHECIMENTO DA AUTOACUSAÇÃO FALSA, pouco importando se
PENAL (Caso o agente impute a si próprio, falsamente, a prática de toma qualquer providência.
contravenção penal, não haverá esse crime)!

34 . 4 FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA

Caracterização – A conduta é a daquele que, atuando como sim, mesmo a testemunha não compromissada, se mentir em Juízo,
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo irá praticar o crime de falso testemunho.
judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
• Faz afirmação falsa; Elemento subjetivo – Dolo. Não se pune a forma culposa
• Nega a verdade; ou (ex.: testemunha faz afirmação falsa, mas sem intenção, porque se
• Cala a verdade
confundiu. Nesse caso, não há crime).
Consumação – No momento em que o agente faz a declaração
Sujeito ativo – Somente pode ser a testemunha o perito, o
ou perícia falsa, pouco importando se dessa afirmação falsa sobrevém
contador, o tradutor ou o intérprete. Assim, o crime é PRÓPRIO.
algum resultado.
OBS.: trata-se, ainda, de crime de mão própria, ou seja, só
Causas de aumento de pena – Aumenta-se a pena de 1/6 a
pode ser praticado pessoalmente pela própria pessoa que possui a
1/3 se:
qualidade (não pode ser praticado por interposta pessoa). • Crime cometido mediante suborno.
Cabe concurso de pessoas? Prevalece o seguinte • Praticado com vistas (dolo específico) a obter prova que
entendimento: deva produzir efeitos em processo civil em que seja parte a
No crime de falso testemunho, só cabe participação (alguém administração direta ou indireta.
induz, instiga ou auxilia testemunha a não falar a verdade). • Praticado com vistas a obter prova que deva produzir efeitos
em processo criminal.
No crime de falsa perícia, cabe tanto a coautoria quanto a
Extinção da punibilidade – Será extinta a punibilidade se
participação (ex.: perícia feita por dois peritos que, em conluio,
houver a retratação antes da sentença (sentença recorrível). A
decidem elaborar laudo falso).
retratação deve ocorrer no próprio processo em que ocorreu o crime
Testemunha sem compromisso de dizer a verdade
de falso testemunho.
(informante) comete o crime? Prevalece o entendimento de que

34 . 5 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES

Caracterização – É a conduta daquele que faz justiça com as próprias mãos, com a finalidade de satisfazer pretensão legítima.
Mas e se o agente atua em legítima defesa? Nesse caso, estamos diante de uma hipótese de autotutela (“justiça pelas próprias mãos”)
permitida por lei, logo, o agente não pratica crime.
OBS.: é fundamental que a pretensão “legítima” do sujeito ativo, que fundamenta a conduta, seja possível de ser obtida junto ao Poder
Judiciário, caso contrário, teremos outro crime, e não este.

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 56


E-BOOK

Elemento subjetivo – Dolo, não havendo forma culposa. Se Consumação – Com a prática dos atos que buscaram fazer
o agente pratica o ato sem saber que sua pretensão possui algum justiça com as próprias mãos. Não é que o agente tenha conseguido
amparo legal, não comete esse crime, podendo cometer, por efetivamente satisfazê-la por meio da conduta arbitrária. Trata-se,
exemplo, constrangimento ilegal ou cárcere privado (no caso do portanto, de crime formal.
nosso exemplo).

Ação penal – Em regra, pública, mas será privada se não houver violência. Assim:
COM VIOLÊNCIA = PÚBLICA
SEM VIOLÊNCIA = PRIVADA

34 .6 FAVORECIMENTO PESSOAL E FAVORECIMENTO REAL

Caracterização – São condutas parecidas, mas que não se • Favorecimento real – Aqui, o agente não ajuda ninguém
confundem: a fugir. O agente ajuda alguém a tornar seguro o proveito do
• Favorecimento pessoal – Quando o agente ajuda (que crime (uma espécie de “ajuda para guardar a coisa”). OBS.: se o
praticou crime) alguém a “fugir” da ação da autoridade. Se o crime agente que presta o auxílio também participou do crime, não há
(praticado por quem recebe o auxílio) não é punido com reclusão, favorecimento real (responde apenas pelo crime praticado). E se
a pena é mais branda (forma privilegiada). OBS.: se o agente que o agente adquire o proveito do crime? Nesse caso, responde por
presta o auxílio também participou do crime, não há favorecimento receptação.
pessoal (responde apenas pelo crime praticado).

Macete:
Favorecimento PESSOAL = PESSOA
Favorecimento REAL = Res (do latim = COISA)

Consumação – No favorecimento pessoal, o favorecimento de tornar seguro o proveito do crime).


deve ser CONCRETO, ou seja, o auxílio prestado deve ter sido eficaz • Não é necessário que o favorecedor saiba exatamente que
para a subtração do infrator às autoridades. No favorecimento real, crime acabara de cometer o favorecido, desde que saiba ou possa
imaginar que ele acaba de cometer um crime.
não se exige que a ajuda seja eficaz. Mesmo se o proveito do crime é
• Causa pessoal de isenção de pena (escusa absolutória)
encontrado pela polícia (por exemplo), estará consumado o delito de
– Só se aplica ao favorecimento pessoal. Será isento de pena o
favorecimento real. Trata-se de crime formal.
agente que praticar o favorecimento pessoal sendo ascendente,
Elemento subjetivo – DOLO. Não se pune a forma culposa. No descendente, irmão ou cônjuge do favorecido.
favorecimento real, exige-se a finalidade especial de agir (intenção

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 57


E-BOOK

QUADRO ESQUEMÁTICO

SIM Responde só pelo


crime anterior
AJUDOU O O AJUDADOR
INFRATOR A FUGIR PARTICIPOU DO
CRIME ANTERIOR? NÃO
Favorecimento pessoal

Agente é ascendente,
descendente, irmão ou Isento da Pena
FAVORECIMENTO cônjuge do auxiliado

SIM Responde só pelo


crime anterior
AJUDOU A TORNAR O AJUDADOR
SIM Responde por
SEGURO O PROVEITO PARTICIPOU DO
receptação
DO CRIME CRIME ANTERIOR? NÃO Ficou com o proveito
do crime para si?
NÃO, só ajudou Favorecimento
a guardar real

GOSTOU do nosso material gratuito? SIGA-NOS nas redes sociais!

Bons estudos!
Prof. Renan Araujo

Estratégia Concursos | Direito Penal - Área Policiamento 58

Você também pode gostar