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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE RONDÔNIA

CENTRO DE ENSINO
CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS

DISCIPLINA
DIREITO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR

CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS PMRO/2020

“Nossa missão é formar com fundamentos na ética, técnica e legalidade.” 1


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE RONDÔNIA
CENTRO DE ENSINO
CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS

TUTOR /CONTEUDISTA:

CEL PM RE 06161-4 JOSÉ CARLOS DA SILVA JÚNIOR

PORTO VELHO-RO
2020

“Nossa missão é formar com fundamentos na ética, técnica e legalidade.” 2


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Direito Administrativo Disciplinar Militar


a. Objetivos da disciplina

Ampliar conhecimentos para compreender a aplicação e alcance da legislação


disciplinar da PMRO.
Desenvolver e exercitar habilidades para aplicar adequadamente as normas
disciplinares da PMRO, em consonância com os princípios constitucionais e leis
infraconstitucionais;
Desenvolver e exercitar habilidades para utilizar os instrumentos de apuração
disciplinar no âmbito da Polícia Militar e o rito processual de cada um destes.

b. Unidades didáticas e carga horária

N
UNIDADE DIDÁTICA
º.
A Corregedoria da PMRO
0 - Objetivos;
1 - Organização e atribuições;
- Diretriz Geral de Correição nº 001/99 – Apresentação.
0 - Sindicância Regular e Verbal: Objetivo; Finalidade; casos de sindicância;
2 prazos.
Conselho de Disciplina (CD – Decreto-Lei nº34, de 7 de dezembro de 1982) e
0
Conselho de Justificação (CJ – Decreto-Lei nº 35, de 7 de dezembro de 1982):
3
- Objetivo; Finalidade; Aplicabilidade; Condições; Prazos.
Processo Administrativo Disciplinar (PAD):
0
- Objetivo; Finalidade; Aplicabilidade; Condições; Procedimentos Básicos;
4
Prazos, julgamentos.
Processo Administrativo de Danos ao Erário (PADE) – Decreto nº 11.515, de 28
0 de fevereiro de 2005:
5 - Objetivo; Finalidade;
- Comentários Gerais.
Regulamento Disciplinar da Policia Militar (Decreto nº 13255, de 12 de novembro
de 2007):
- Conceito, Aplicação, Finalidade, Princípios Gerais da Hierarquia e Disciplina;
- Transgressões, Natureza das Transgressões; da Parte Disciplinar; Da Apuração
0
(PADS); Da Solução; Do Julgamento; Das Punições Disciplinares (Objetivo,
6
Gradação, Conceituação e Execução); Da Competência para Aplicação; Da
Relevação, Da Atenuação e Do Agravamento; Do Comportamento Militar; Dos
Recursos, Do Cancelamento de Punição e das Recompensas; Dos Prazos.
- Prisão em flagrante de natureza disciplinar.
Processo Disciplinar de Ensino (PDE):
- Finalidade; Competência; Rito processual.

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0 Exercícios práticos – Elaboração:


7 - PADS; - SINDICANCIA;
Carga Horária Total – 40

SUMÁRIO

1. GENERALIDADES SOBRE A DISCIPLINA 5


1.1DIREITO MILITAR 5
1.2 O DIREITO DISCIPLINAR MILITAR 5
1.3 O DEVER MILITAR DE OBEDIÊNCIA 5
1.4 HIERARQUIA E DISCIPLINA 5
2. OS REGULAMENTOS DISCIPLINARES E CONSTITUIÇÃO FEDERAL 6
3. LIMITES DO ATO DISCIPLINAR MILITAR 7
3.1 O MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR 9
3.2 PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE DO ATO DISCIPLINAR 10
4. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO DISCIPLINAR MILITAR 10
4.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 11
4.2 PRINCÍPIO DA ATIPICIDADE (ou TIPICIDADE MITIGADA) 11
4.3 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA 12
4.4 INAFASTABILIDADE DA APRECIAÇÃO DO JUDICIÁRIO 13
4.5 PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA NO DADM 14
4.6 PRINCÍPIO DO NON BIS IN IDEM 14
4.7 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL 15
4.8 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES 17
4.9 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL 17
4.10 PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL 18
4.11 PRINCÍPIO DA VERDADE FORMAL E VERDADE MATERIAL 18
5. A CORREGEDORIA GERAL DA PMRO (CORREGEPOM) 19
6. A DIRETRIZ GERAL DE CORREIÇÃO Nº 01/99 20
7. SINDICÂNCIA 21
7.1 CONCEITO 21
7.2 CLASSIFICAÇÃO 21
7.2.1 Sindicância Regular 22

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7.2.2 Sindicância Verbal 22


7.3 PRAZOS 22
7.4 CONTEÚDO DE UMA SINDICÂNCIA 22
7.4.1 Capa, contendo: 22
7.4.2 Documentos 22
7.4.3 Relatório 22
7.5 PADRONIZAÇÃO DA SINDICÂNCIA 23
8. PROCESSOS DEMISSÓRIOS 23
8.1 CONSELHO DE DISCIPLINA (Decreto-Lei nº 34, de 07 Dez 82) 23
8.2 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO (Decreto-Lei nº 35, de 07 Dez 82) 25
8.3 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (PAD) 26
9. PROCESSO ADMINISTRATIVO POR DANOS AO ERÁRIO (PADE) 27
10. REGULAMENTO DISCIPLINAR DA POLÍCIA MILITAR (R-9-PM) 28
10.1 ROL DE TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES: 30
10.2 NATUREZA DAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES (ART. 14, I, II E III): 30
10.3 PARTE DISCIPLINAR 30
10.4 PROCESSO APURATÓRIO DISCIPLINAR SUMÁRIO (PADS) 31
10.5 DAS PUNIÇÕES DISCIPLINARES 32
10.6 DA PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DISCIPLINAR E DA REINCIDÊNCIA 34
10.7 DO COMPORTAMENTO MILITAR 37
10.8 RECURSOS 38
10.9 DO CANCELAMENTO DE PUNIÇÃO 40
10.10 DAS RECOMPENSAS 41
10.11 DOS PRAZOS 41
11. DOS PROCESSOS DISCIPLINARES RELACIONADOS AO ENSINO 42
11.1 PROCESSO DISCIPLINAR DE ENSINO (PDE): 43
11.2 PROCESSO DISCIPLINAR DE ENSINO SUMARÍSSIMO (PDES) 43

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1. GENERALIDADES SOBRE A DISCIPLINA

1.1 DIREITO MILITAR

Encampa todo o conjunto legislativo que está ligado, de uma forma ou outra, ao
sistema que envolve tanto as FFAA como as suas forças auxiliares: as polícias militares e
os corpos de bombeiros militares dos estados e do DF. A amplitude deste ramo do Direito
vai muito além, portanto, do Direito Penal Militar substantivo e adjetivo, alcançando, por
exemplo, o âmbito constitucional e o âmbito disciplinar.

1.2 O DIREITO DISCIPLINAR MILITAR

Também conhecido por Direito Administrativo Disciplinar Militar, trata-se de ramo do


Direito constitucionalmente previsto no arcabouço jurídico da nação, notadamente com a
edição da EC 45/2004 quando alterou a redação do § 4º do Art. 125 da CF/88 para atribuir
à Justiça Militar competência para julgar as ações judiciais contra atos disciplinares
militares.
O ato disciplinar é o ato administrativo (nota de punição) pelo qual se aplica a
punição disciplinar. Essa é a regra, inobstante se possa imaginar exceções, como a não
admissão de um recurso, por exemplo.
A doutrina aponta que o Direito Penal Militar protege os bens institucionais militares
de infrações graves, enquanto o DADM cuida das infrações menos intensas, que vulneram
apenas deveres para com o serviço, sem abalar as estruturas das corporações militares.

1.3 O DEVER MILITAR DE OBEDIÊNCIA

A obediência hierárquica geral decorre do dever de obediência do agente público.


Na administração pública militar, a obediência hierárquica encontra fundamento na CF (Art.
42, no específico caso das instituições estaduais), que prevê a disciplina como viga de
sustentação da estrutura das corporações, e na legislação infraconstitucional (RDPM,
Estatuto, Decreto-Lei 667).

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1.4 HIERARQUIA E DISCIPLINA

A hierarquia e a disciplina são princípios constitucionalizados para as FFAA e forças


auxiliares (CF, Art. 142 e 42), cuja importância fica patente na redação do caput do Art. 5º
do Regulamento Disciplinar da Polícia Militar - RDPM (“A hierarquia e a disciplina são a
base institucional da Polícia Militar, crescendo a autoridade e a responsabilidade com a
elevação do grau hierárquico”).
Os conceitos destes termos estão expressos no Art. 5º do RDPM, nos parágrafos 1º
e 2º, onde constam que: “Hierarquia é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes,
dentro da estrutura da Polícia Militar, por postos e graduações ”(Art. 5º, § 1º), e “Disciplina
é a rigorosa observância e o acatamento integral da legislação que fundamenta o
organismo policial militar e coordena seu funcionamento regular e harmônico, traduzidos
pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes”
(RDPM, Art. 5º, § 2º).
Em razão do poder de mando, em assuntos de serviço, que deriva da ascendência
hierárquica, o superior tem completa disponibilidade sobre os atos praticados pelo
subordinado. Além de ordenar, o superior tem a faculdade de fiscalizar, revisar e avocar
atos e decisões do subordinado, desde que o faça dentro dos limites da legalidade, da
moralidade e da eficiência.
A disciplina, por seu turno, verifica-se em duas frentes básicas: acatamento às
ordens superiores e observância à legislação vigente. É preciso muito cuidado com a
amplitude dos preceitos ético-profissionais arrolados no Art. 29 do Estatuto dos Policiais
Militares.

2. OS REGULAMENTOS DISCIPLINARES E SUA CONFORMIDADE COM A


CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Ainda que de forma indireta, os regulamentos disciplinares militares encontram


previsão constitucional, calcada no Art. 5º, inc. LXI:

Ninguém será preso, senão em flagrante delito ou por ordem escrita e


fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

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Ao referir-se à transgressão militar, o dispositivo constitucional está admitindo a


existência de um regulamento disciplinar, já que são exatamente os regulamentos que
contêm o rol das transgressões disciplinares dos militares.
A celeuma se desenrola em torno da seguinte questão: os regulamentos
disciplinares, à luz do disposto na CF, não deveriam ser aprovados por lei ordinária? A CF,
afinal, cita “prisão por transgressão militar definida em lei”. A questão é da maior
importância.
Quanto aos crimes propriamente militares referidos no inciso LXI do Art. 5º da CF,
tem-se que a própria constituição resolve o problema, ao definir que não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (Art. 5º, inc. XXXIX, princípio
da legalidade estrita). Para a previsão dos crimes, não há dúvida, é indispensável a lei
formal.
Em Rondônia, já houve ajuizamento de ação judicial atacando a constitucionalidade
do RDPM, por não ter a legitimidade da Casa Legislativa estadual. Na oportunidade, o
autor foi derrotado em todas as instâncias, até mesmo no STJ. A PGE sustentou que a CF
exigia a existência de lei ordinária a prever a prisão disciplinar, e isso de fato existia em
RO, pois o Estatuto, que o RDPM apenas minudenciava, gozava de status de lei formal. Eis
a letra do Decreto-Lei nº 09-A/1982:

Art. 42. A violação das obrigações, dos deveres ou dos


princípios da ética policiais-militares, constituirá crime, contravenção
ou transgressão disciplinar, conforme dispuserem a legislação ou
regulamentação específicas.

Art. 47. O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar


especificará e classificará as transgressões, estabelecendo as normas
relativas à amplitude e aplicação das penas disciplinares, a
classificação do comportamento policial-militar, e a interposição de
recursos contra as penas disciplinares.

§ 1º A pena disciplinar de detenção, ou prisão, não poderá


ultrapassar o período de 10 (dez) dias.

3. LIMITES DO ATO DISCIPLINAR MILITAR

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Os atos disciplinares militares inserem-se no conceito amplo dos atos


administrativos e, sendo assim, devem estar dotados dos mesmos requisitos que os
informam.
O ato administrativo disciplinar é a manifestação unilateral de vontade da
Administração Pública Militar que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato impor
uma sanção disciplinar ao servidor militar em face do cometimento de uma infração
disciplinar preestabelecida, e ao fim de um processo apuratório em que se lhe faculte a
ampla defesa e o contraditório.
Assim, o ato administrativo disciplinar deve revelar a existência de cinco requisitos à
sua formação: competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
A competência administrativa é o poder atribuído a determinadas autoridades em
razão dos cargos que ocupam. O RDPM cuida da competência disciplinar no art. 50, in
verbis:

Art. 50. A competência para aplicar as punições disciplinares é


conferida ao cargo e não ao grau hierárquico.

§ 1º São competentes para aplicar punição disciplinar, nesta


ordem:

I – o Governador do Estado, a todos aqueles que estiverem


sujeitos a este Regulamento, até demissão ex-offício;

II –revogado ;

III – o Comandante Geral, a todos os que estiverem sujeitos a


este Regulamento, excetuando-se os que estiverem sob a
subordinação direta do Governador do Estado e do Secretário de
Segurança do Estado, até licenciamento ou exclusão a bem da
disciplina;

IV – o Subcomandante da Polícia Militar, a todos os que


estiverem sujeitos a este Regulamento, excetuando-se os que
estiverem sob subordinação direta do Governador do Estado, do
Secretário de Segurança do Estado, do Comandante Geral e do
Secretário Chefe da Casa Militar, até 10 (dez) dias de prisão;
V – o Corregedor Geral, aos que estiverem sujeitos a este
regulamento, excetuando-se os subordinados diretamente ao
Governador do Estado, Secretário de Segurança do Estado,
Comandante e Subcomandante da Polícia Militar, o Secretário Chefe
da Casa Militar e demais ocupantes de cargos privativos de coronel

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PM, até 10 (dez) dias de prisão;

VI – o Chefe do Estado-Maior Geral, Comandantes Regionais


de Policiamento, diretores e demais ocupantes de cargos privativos
de Coronel PM, aos que lhes são subordinados, até 10 (dez) dias de
prisão;

VII – o Secretário Chefe da Casa Militar, aos que estiverem sob


sua chefia, até 10 (dez) dias de prisão;

VIII – Ajudante Geral, Comandante e Subcomandante de


Unidades, Chefe de Seção do Estado-Maior Geral, Serviços e
Assessorias, aos que estiverem sob seu comando, chefia ou direção,
até 8 (oito) dias de prisão;

IX – Comandante de subunidades, incorporadas ou


destacadas, aos que servirem sob seu comando, até 10 (dez) dias de
detenção; e

X – Comandantes de pelotões destacados, aos seus


comandados, até 6 (seis) dias de detenção.

§ 2º A aplicação de punições disciplinares a policiais militares


da inatividade é de competência exclusiva das autoridades
mencionadas nos incisos I, II, III e IV do § 1º deste artigo.

A finalidade do ato disciplinar militar é o objetivo de interesse público a atingir. Na


verdade, as finalidades do ato disciplinar devem ser duas: a reeducação do punido e a
preservação da disciplina. Em última análise, a manutenção e o fortalecimento da
disciplina.
A forma é o revestimento pelo qual se exterioriza o ato disciplinar. O ato disciplinar
será sempre formal, consoante se depreende do texto do regulamento:

Art. 55. A aplicação da punição consistirá de uma nota


publicada em Boletim da Polícia Militar ou da respectiva OPM, ou do
extrato de uma sentença administrativa, publicada no Diário Oficial do
Estado, que conterão a descrição da transgressão e o enquadramento
do transgressor.

§ 1º A descrição da transgressão deverá conter, em termos


precisos e sintéticos, os fatos e as circunstâncias que o envolveram,
não devendo ser emitidos comentários depreciativos, ofensivos ou
pessoais.

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§ 2º O enquadramento é a tipificação da transgressão nos


termos deste regulamento, devendo ser mencionado ainda o seguinte:

I – no caso das transgressões a que se refere o inciso II do Art.


13, tanto quanto possível, a referência aos artigos, parágrafos,
incisos, alíneas e itens das leis, regulamentos, normas ou ordens que
foram contrariados ou contra os quais tenha havido omissão;

II – as alíneas, incisos e artigos das circunstâncias atenuantes


ou agravantes ou causas de justificação;

III – a classificação da transgressão;

IV – a punição imposta;

V – as condições para o cumprimento da punição, se for o


caso;

VI – a classificação do comportamento.

O motivo é a situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a prática do


ato administrativo disciplinar.
Quando o motivo disser respeito à instauração de um processo disciplinar, será a
violação, em tese, pelo militar, de dispositivo legal ou regulamentar.
Quando for atinente à aplicação de uma punição disciplinar, seu motivo será a
transgressão confirmadade preceito disciplinar, regulamentar ou legal, a despeito de
também poder configurar crime militar, conforme o caso.
O objeto trata da natureza do próprio ato: uma punição disciplinar, uma absolvição,
uma instauração de PADS etc.

3.1 O MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR

O mérito do ato administrativo disciplinar consubstancia-se na valoração dos motivos


e na escolha do objeto do ato, feitas pela Administração, quando autorizada a decidir sobre
a oportunidade, conveniência e justiça do ato a realizar. O mérito é próprio do ato
discricionário, como é a maioria dos atos disciplinares.
O mérito dos atos discricionários, que confere ao administrador a valoração dos
motivos e a escolha do ato disciplinar, é inatacável pelo Poder Judiciário. Os critérios do

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administrador são apenas do administrador, a quem cabe conhecer as peculiaridades da


vida castrense. Ao judiciário cabe o exame da legalidade do ato e sua conformidade com
as diretrizes constitucionais.

3.2 PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE DO ATO DISCIPLINAR

A aplicação da sanção administrativa não enseja a prática de arbitrariedades e de


excessos. Excelentes instrumentos de controle do administrador são os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, ambos de matriz constitucional.
É possível entender razoabilidade pela conjugação da necessidade (de
providências em face da falta praticada) e da adequação (entre os meios e os fins
utilizados na apuração). Por sua vez, a proporcionalidade deve ser entendida segundo a
maior ou menor intensidade e extensão da pena aplicada.
No RDPM, os mencionados princípios estão expressamente consignados, entre
outros.

Art. 4º Na aplicação deste regulamento a autoridade disciplinar


obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica e da supremacia do interesse público.

4. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO DISCIPLINAR MILITAR

No Brasil, tanto o processo judicial como o processo administrativo disciplinar militar


são regidos pela lei, porém existem princípios que orientam tal aplicação, servindo de norte
para a própria atividade legislativa e também para auxiliar na solução das lacunas
existentes no ordenamento jurídico.
Os “princípios de uma ciência são proposições básicas, fundamentais, típicas que
condicionam todas as estruturações subseqüentes. Princípios, neste sentido, são os
alicerces da ciência”. (CRETELLA JÚNIOR apud COSTA, 2006, p. 26, grifou-se).
Os princípios administrativos têm raiz constitucional e são expressos ou implícitos. A
CF, em seu artigo 37, caput, faz menção expressa a alguns princípios que norteiam a
atividade da administração pública direta ou indireta, aí incluída, obviamente, a
administração militar São eles a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade

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e a eficiência.
Os princípios constitucionais caracterizam-se, segundo Rocha (1994 apud
BACELLAR FILHO, p. 147), pela: a) generalidade (não pontuam com especificidade e
minudências hipóteses concretas de relações jurídicas); b) primariedade (deles decorrem
outros princípios que são subprincípios em relação aos anteriores e que se podem conter,
expressa ou implicitamente, no sistema constitucional); e a c) dimensão axiológica (em
decorrência do conteúdo ético de que são dotados).
A seguir serão aborados vários princípios aplicáveis ao Direito Administrativo
Disciplinar Militar.

4.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Previsto no caput do Art. 37, significa que a Administração só poderá fazer o que a
lei autoriza, a contrario sensu do particular, que poderá fazer, além de tudo que a lei
permite, o que ela não proibir também. Já no início da Carta Magna, no Art. 5º, inc. II, o
princípio está enunciado: ninguém está obrigado a fazer ou não fazer alguma coisa senão
em virtude de lei.

4.2 PRINCÍPIO DA ATIPICIDADE (ou TIPICIDADE MITIGADA)

No Direito Penal vige o princípio da Tipicidade, com base expressa no inciso XXXIX
do Art. 5º da CF/88 (não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal). Todavia, tal hipótese não se aplica ao Direito Administrativo e nem ao
Administrativo Disciplinar (Militar). Assim, vige no Direito Disciplinar o princípio da
Atipicidade, em que pese posicionamentos contrários.
Entretanto, é bom que se diga que, a toda evidência, seria inadequado considerar a
inexistência, em absoluto, de tipicidade. Na verdade, o que se observa é um abrandamento
do tipo administrativo (tipicidade mitigada).
Com efeito, no âmbito da PMRO, o nosso RDPM prestigia o abrandamento do tipo
administrativo ao estabelecer expressamente o rol de transgressões disciplinares nos
artigos 15, 16 e 17. Contudo, um pouco antes destes dispositivos, o mesmo regulamento
reforça a tese da atipicidade ao dispor sobre as transgressões disciplinares em seu artigo
13, incisos I e II, donde se inrere, em seu inciso II, a cláusula de reserva discricionária

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da autoridade disciplinar. Senão vejamos:

Art. 13. São transgressões disciplinares:

I – todas as ações ou omissões contrárias à disciplina policial militar,


especificadas nos artigos 15, 16 e 17 deste Regulamento; e

II – todas as ações ou omissões contrárias à legislação vigente, desde


que violem a ética ou o dever policial militar.

Pelo exposto, infere-se que o inciso I demonstra inequívoca evolução no que pertine
à tipicidade e respectiva classificação e intensidade das faltas disciplinares, saindo do total
arbítrio da autoridade disciplinar. Entretanto, o inciso II reserva parcela deste arbítrio,
deixando claro o poder que a autoridade disciplinar ainda possui em face da atipicidade
administrativa.

4.3 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

De aplicação inconteste não só no âmbito penal, mas também no âmbito


administrativo, o princípio, previsto no Art. 5º, LV da CF, significa que a Administração deve
observar o rito processual, cientificar o acusado do processo, oportunizando-lhe contestar a
acusação, produzir as provas necessárias, acompanhar a instrução e utilizar os recursos
cabíveis.
Ainda assim, no âmbito administrativo, o acusado exercitará a ampla defesa e o
contraditório de acordo com o que a lei ou regulamentos referentes a cada processo
estabelecerem. Assim, por exemplo, a ampla defesa na apuração de uma falta disciplinar
simples será exercida dentro de um prazo exíguo (Art. 25. Recebido o memorando
disciplinar, o acusado terá 2 (dois) dias para apresentar a defesa prévia).
Na contramão do direito de defesa está o abuso do direito de defesa.
Incorre na irregularidade quem pratica ato sem interesse legítimo; quem não busca a
defesa, mas o ataque gratuito a outrem; quem tenta induzir a autoridade a erro, pela
manipulação irresponsável de fatos ou de normas; quem insiste na produção de provas
inviáveis, inexistentes ou desnecessárias.
Para compensar eventuais abusos do direito de defesa, o RDPM traz importante
dispositivo direcionado ao prazo da instrução processual. O § 5º do Art. 58 do RDPMO

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dispõe que “Afastamentos imperativos do acusado em processo disciplinar, ainda que


decorrentes de ordens médicas, quando superiores a 15 dias contínuos acarretarão a
suspensão do curso do prazo prescricional”.
Enquanto o princípio do contraditório induz a enfrentar razões apontadas por outrem
contra o acusado, rebatendo-os, procurando derrubar a verdade da acusação, mediante o
princípio da ampla defesa sustentam-se a verdade do acusado, as razões do acusado.
Salienta-se que a ampla defesa no processo administrativo disciplinar militar, não
deve apenas ser entendida como uma peça escrita, que tem sua existência exigida pelo
aspecto formal, mas deve compreender ainda a oitiva de testemunhas, juntada de
documentos e outras diligências requeridas pelo acusado, que possa trazer o
conhecimento da verdade real.
Segundo Alves (1999, p. 4), a ampla defesa é exercida mediante três outros direitos
que lhe são inerentes: a) direito de informação; b) direito de manifestação; e c) direito de
ter as razões consideradas.
Para Arduin (2006, p. 179), com base no princípio da ampla defesa e do
contraditório, aos acusados, no âmbito do direito disciplinar, dentre outras possibilidades, é
licito:
a) não ser obrigado a produzir prova contra si mesmo (não existe dever de
confissão);
b) se fazer presente em todos os atos processuais, inclusive sessão colegiada de
julgamento;
c) requisitar a produção de provas admitidas pelo direito;
d) requisitar acareações e inquirições, podendo reperguntar às testemunhas,
ofendido e acusador;
e) contestar e impugnar atos processuais, e contraditar testemunhas;
f) argüir suspeição e impedimento de pessoa ou órgão julgador;
g) formular e contraditar quesito nas solicitações de exames e perícias;
h) vistas de laudos periciais, podendo contestá-los e requerer novos exames e
perícias;
i) reconhecimento de coisa, objeto e pessoa;
j) requisitar cópias de processo ou de autos;
k) recorrer de toda decisão;

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l) obter vista de autos para produzir sua defesa;


m) ter conhecimento formal da acusação, quem a produziu, quais as provas e
testemunhas;

4.4 INAFASTABILIDADE DA APRECIAÇÃO DO JUDICIÁRIO

O Art. 5º, XXXV, da CF/88 reza que “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Por seu turno, a EC nº 45/2004 reservou à Justiça
Militar Estadual a competência para o julgamento das ações judiciais contra atos
disciplinares militares.
Todas as demais questões de ordem administrativa, que não forem disciplinares,
continuam de competência da Justiça Comum, devendo ser anotado ainda que o exercício
desta nova competência da JM é realizado singularmente pelo Juiz de Direito, e não pelos
Conselhos.
Não há mais necessidade de exaurimento das vias administrativas para que o
servidor possa pleitear seus direitos em Juízo. Essa possibilidade era prevista na CF
anterior, de 1967.
É possível que o Judiciário examine o ato administrativo quanto à razoabilidade,
proporcionalidade e legalidade.

4.5 PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA NO DADM

A presunção da inocência no âmbito do regime administrativo disciplinar presume-se


até certo ponto. Há circunstâncias que podem inverter essa presunção, criando para os
acusados uma necessidade de provar determinados fatos ou situações.
Ainda sobre o tema, a CF/88 assevera que “ninguém será considerado culpado até
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Ocorre que, além do conteúdo em
tela ser de cunho estritamente penal (não tendo aplicação direta no direito administrativo),
não se pode olvidar que mesmo no processo penal a jurisprudência admite medidas
coercitivas no curso do processo, sem que isso ofenda o alegado princípio da presunção
de inocência (súmula 9/STJ).
Um exemplo de ônus da prova ao encargo do réu, em processo penal militar, é o
caso do acusado de deserção que alega estado de necessidade (estaria cuidando da mãe,

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doente) para justificar sua ausência. O MP terá que provar somente que o militar ausentou-
se, do lugar onde deveria permanecer, por mais de 8 dias. Ao réu caberá provar o estado
de necessidade, e não o MP provar que o estado de necessidade não existia.
Raciocínio semelhante há de ser usado na apuração de falta administrativa.
Segundo nosso RDPM, sempre que o acusado em processo disciplinar alegar a ocorrência
de causa de justificação (Art. 37), atenuante (Art. 38) ou qualquer outra circunstância que
lhe aprouvenha, caber-lhe-á a produção probatória.

4.6 PRINCÍPIO DO NON BIS IN IDEM

Tal princípio tem aplicação indiscutível no processo penal, não restando dúvida
quanto à impossibilidade de uma pessoa ser punida duas vezes por uma mesma infração
penal.
A questão se torna controvertida quando se pretende analisar o princípio citado à luz
de um fato suscetível de enquadrar-se, ao mesmo tempo, tanto na órbita penal como na
disciplinar.
Consoante preconizam outros estatutos policiais militares, e também o equivalente
diploma legal regulador da situação dos militares do Exército, no concurso de crime militar
e de transgressão disciplinar será aplicada somente a pena relativa ao crime militar.
Nesse mesmo sentido dispunha o antigo regulamento disciplinar da PMRO. A
doutrina justifica este comando legal arguindo que existe uma identidade entre o crime
militar e a transgressão disciplinar, configurando-se ambos violações ao dever militar,
diferindo entre eles apenas a intensidade da ofensa, mais acentuada no crime militar.
Quer dizer, no concurso de crime e transgressão disciplinar, quando forem de
mesma natureza, esta era absorvida por aquele.
Contudo, o RDPM/RO é mais severo. Estabelece, no §1º do Art. 12, que:

§ 1º Quando a ação ou omissão praticada constituir-se, ao


mesmo tempo, infração penal e disciplinar, prevalecerá o princípio da
relativa independência das instâncias, que se orientará da maneira
seguinte:

Os incisos seguintes detalham o dispositivo:

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I – quando a existência do fato ou quem seja seu autor


acharem-se definidos por sentença judicial transitada em julgado, será
incabível a discussão do mérito na esfera administrativa, sujeitando-
se o policial militar à sanção disciplinar, sem prejuízo dos dispositivos
que regem sua aplicação;

II – quando estiverem presentes no processo administrativo


disciplinar as provas do cometimento de transgressão disciplinar, a
autoridade disciplinar estará desobrigada de aguardar o trânsito em
julgado da decisão judicial;

III – quando a absolvição criminal negar a existência do fato ou


da sua autoria ou, ainda, isentar o seu autor do crime por meio de
uma das excludentes, a responsabilidade administrativa do servidor
será afastada, se não houver falta residual a punir.

§ 2º Quando a ação ou omissão praticada constituir-se


apenas infração penal, e esta não contrariar os princípios da ética ou
do dever policial militar, só será admissível a imposição de sanção
quando houver falta residual capitulada como transgressão.

Em resumo, sempre que um militar do estado de Rondônia for processado por crime,
comum ou militar, poderá também sofrer condenação administrativa, em face de sua
responsabilidade funcional, ainda que não seja a responsabilidade residual, entendida
esta como aquela não abordada na sentença judicial.

4.7 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

O princípio do devido processo legal pode ser considerado como a principal matriz
de todos os demais princípios processuais constitucionais, sendo previsto no artigo 5º da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: “LIV – ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
A doutrina e a jurisprudência, como fontes do direito, no decorrer do tempo,
modificaram e ampliaram o sentido do “devido processo” concedendo a ele uma
interpretação mais extensiva, que limita o poder público e garante de forma ampla os
direitos fundamentais do cidadão. (OLIVEIRA, 2004).
No direito administrativo pode-se observar a incidência do Substantive Due Process
no princípio da legalidade, que impõe a limitação do poder governamental, no exercício do
seu poder de polícia, pela vinculação da Administração ao poder de agir somente no

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sentido positivo da lei. (OLIVEIRA, 2004).


Conceituada por Nery Júnior (1997, p. 36) como “a possibilidade efetiva de a parte
ter acesso à justiça, deduzindo pretensão e defendendo-se do modo mais amplo possível”,
a cláusula Procedual Due Process of Law não permite qualquer decisão que envolva a
liberdade ou a propriedade dos indivíduos, que não provenha de um processo regido por
regras claras, permissivas do exercício do sagrado direito à defesa.
A cláusula Due Process of Law foi desdobrada em vários outros direitos previstos no
próprio artigo 5º da CRFB/88, tais como, ampla defesa, contraditório, legalidade, igualdade
entre acusação e defesa. Com o intuito de garantir sua correta interpretação, a cláusula do
devido processo legal “norteia e conforma a atividade estatal, quer seja ela legislativa,
executiva ou jurisdicional”. (CASTRO, 1989 apud OLIVEIRA, 2004, p. 26).
Há em virtude do princípio do devido processo legal, uma fixação de imposições
mínimas quanto ao modo de atuar da administração pública dentro do preceito
constitucional de Estado de Direito, onde há necessariamente a submissão de toda a
atividade pública a uma rede ou malha legal. Neste sentido, Silva (1990 apud OLIVEIRA,
2004, p. 26), afirma que:

O devido processo legal é princípio matriz de todos os demais princípios processuais


constitucionais. Tanto a aplicação das garantias do contraditório, da
ampla defesa e do juiz natural (aspecto processual do princípio) como
a conformidade das leis, que, além de não serem contraditórias,
devem contribuir para que tais garantias possam ser aplicadas
(aspecto substancial do princípio, no campo do direito material), têm
sido fundamentadas mediante o princípio do devido processo legal.

Por fim, destaca-se que, em sentido contrário ao entendimento do Superior Tribunal


de Justiça, esposado nos termos da Súmula N° 343, aprovada em 12 de setembro de
2007, na qual determina que “é obrigatória a presença de advogado em todas as fases do
processo administrativo disciplinar”, está vigente e plenamente aplicável o entendimento
sedimentado na Súmula Vinculante Nº 05, editada pela Suprema Corte, segundo a qual “a
falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição". Ademais, em Sessão Plenária realizada em novembro de 2016, o pleno do
STF rejeitou, por 6 votos a 5, proposta de cancelamento da mencionada súmula, ratificando
a sua aplicação.

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4.8 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES

Apesar da discricionariedade possuída pelo administrador público, ele além de


respeitar os limites estabelecidos pela lei, também deve obedecer, no uso do seu poder
disciplinar, ao princípio da motivação das decisões.
O princípio da motivação determina que a autoridade administrativa deve
apresentar as razões que a levaram a tomar uma decisão. A motivação é uma exigência do
Estado de Direito, ao qual é inerente, entre outros direitos dos administrados, o direito a
uma decisão fundada, motivada, com explicitação dos motivos. (TAVARNARO, 2003).
Além disso, Meirelles (2006, p. 101), afirma que:

A motivação é ainda obrigatória para assegurar a garantia da ampla defesa e do


contraditório prevista no art. 5°, LV, da CF de 1988. Assim, sempre
que for indispensável para o exercício da ampla defesa e do
contraditório, a motivação será constitucionalmente obrigatória.

4.9 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

O princípio da economia processual pode ser traduzido como a “obtenção do


máximo de resultado na atuação do direito com o mínimo de atividades processuais. Se o
processo funciona como instrumento, não se pode exigir um dispêndio exagerado, devendo
haver a devida proporção entre seus fins e meios”. (FIGUEIRA JÚNIOR; LOPES, 1999
apud ASSIS, 2005, p. 53).
O princípio da economia processual é tido como um princípio que busca atender o
princípio da eficiência, pois visa minimizar o formalismo exagerado que torna o processo
administrativo disciplinar militar muito extenso sem uma finalidade.
O processo, inevitavelmente, constitui uma desagradável experiência ao ofendido,
ao ofensor e ao próprio Estado. Por isso, eliminar ou simplificar todos os atos que possam
ser eliminados ou simplificados na sua forma constitui um benefício incomensurável.
(BATISTA, 2000 apud ASSIS, 2005, p. 53).
No processo penal, a título de ilustração, o princípio da economia processual aduz
que “não se anulam atos imperfeitos quando não prejudicarem a acusação ou a defesa e
quando não influírem na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.”.

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(CAPEZ, 2007, p. 25).

4.10 PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL

O princípio da celeridade processual pode ser entendido como uma “orientação de


que as demandas precisam ser rápidas na solução dos conflitos, simples no seu tramitar,
informais nos seus atos e o menos onerosas possível aos litigantes para o bom
desenvolvimento das atividades processuais”. (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999 apud ASSIS,
2005, p. 54).
O princípio da celeridade está expresso na Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 no seu art. 5°, inciso LXXVIII, o qual prevê: “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação.”.

4.11 PRINCÍPIO DA VERDADE FORMAL E VERDADE MATERIAL

O princípio da verdade formal, próprio do processo civil, é aquele no qual o julgador


“depende, na instrução da causa, da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações
em que fundamentará sua decisão (iudex secundum allegata et probata partium iudicare
debet)”. (CAPEZ, 2007, p. 22).
O princípio da verdade material, próprio do processo penal, orienta que o julgador
não deve curvar-se diante da verdade formal, quando:

[...] não disponha de meios para assegurar a verdade real, como no caso da absolvição por
insuficiência de provas (CPP, art. 386, VI). É dever do magistrado
superar a desidiosa iniciativa das partes na colheita do material
probatório, esgotando todas as possibilidades para alcançar a
verdade real dos fatos, como fundamento da sentença. Por óbvio, é
inegável que mesmo nos sistemas em que vigora a livre investigação
das provas, a verdade alcançada será sempre formal, porquanto “o
que não está nos autos, não está no mundo”. (CAPEZ, 2007, p. 22-
23).

A verdade material ou real pode ser definida como “aquela que foi buscada,
encontrada, apresentada e levada a efeito e que se aflora do conjunto probatório inserto
nos autos do procedimento disciplinar, neste se baseando a autoridade disciplinar

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competente para o julgamento e decisão [...]”. (COSTA, 2006, p. 47).


No processo administrativo o julgador deve sempre buscar a verdade, ainda que,
para isso, tenha que se valer de outros elementos além daqueles trazidos aos autos pelos
interessados.
A autoridade administrativa competente não fica obrigada a restringir seu exame ao
que foi alegado, trazido ou provado pelas partes, podendo e devendo buscar todos os
elementos que possam influir no seu convencimento. (TAVARNARO, 2003).
Pode-se dizer, então, baseado na doutrina, “que o processo administrativo
disciplinar fundamenta-se na busca da verdade real, deve significar, sem eufemismos, que
a Administração não se contente com a verdade formal, aprofundando-se na pesquisa do
ocorrido”. (MELLO, 2005 apud COSTA, 2006, p. 48).

5. A CORREGEDORIA GERAL DA PMRO (CORREGEPOM)


Consoante disposto no Art. 17 do Regulamento Geral da Polícia Militar do Estado
de Rondônia (R/1), aprovado pelo Decreto nº 12722, de 13.03.2007, a Corregedoria Geral
da Polícia Militar (CORREGEPOM) é responsável pela fiscalização, orientação e
dinamização das atividades relacionadas ao exercício do poder disciplinar no âmbito da
Polícia Militar do Estado de Rondônia, competindo-lhe:

Art. 17. .................................................................................

I - assessorar o Comandante Geral na elaboração do Programa


de Comando e da Política Disciplinar da Corporação;

II - coordenar, supervisionar, controlar e executar a correição


das atividades relacionadas ao exercício dos poderes disciplinar e
hierárquico e de polícia judiciária militar na Corporação;

III - controlar a instauração e o andamento dos Inquéritos


Policiais Militares, Sindicâncias Disciplinares, Processos
Administrativos Disciplinares e Conselhos de Justificação e de
Disciplina;

IV - orientar e assessorar os comandos nos diversos níveis a


fim de promover a uniformização de procedimentos;

V - elaborar Diretrizes e normas referentes as atividades de

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justiça e disciplina;
VI - administrar o Sistema da Corregedoria;

VII - instaurar, nos casos em que a natureza do fato e suas


circunstâncias exigirem, de ofício ou por determinação, Inquéritos
Policiais Militares e Sindicâncias;

VIII - receber e formalizar as denúncias e/ou notícia crime


contra integrantes da Corporação, adotando as providências cabíveis
a cada caso;

IX - assessorar os órgãos da Corporação em relação aos feitos


de polícia judiciária militar e procedimentos administrativos
disciplinares;

X - realizar o serviço de inteligência para a produção de


conhecimentos de interesse da situação disciplinar e judicial dos
integrantes da Corporação;

XI - elaborar, mediante levantamentos estatísticos, estudos


sobre a situação disciplinar e judicial dos integrantes da Corporação,
para implementar ações visando minimizar a incidência de violações
às leis; e

XII - elaborar o Relatório das Atividades Anuais relativo ao


exercício dos poderes disciplinar e de polícia judiciária militar na
Corporação.

A CORREGEPOM tem a seguinte estrutura orgânica:

Seção Administrativa: compete-lhe o protocolo, a escrituração de documentos e a


execução das atividades administrativas ligadas diretamente à Corregedoria Geral;

Cartório: compete-lhe o registro, distribuição, controle e arquivo dos feitos


apuratórios, bem como da documentação relacionada à justiça e disciplina;

Departamento de Correição: compete-lhe a análise das soluções dos inquéritos,


sindicâncias, processos administrativos e recursos disciplinares dirigidos ao Comandante
Geral;

Departamento de Apuratórios: compete-lhe o recebimento de denúncias e seu


processamento, a lavratura de autos de prisão em flagrante delito e, excepcionalmente, a
execução de inquéritos policiais militares e sindicâncias;

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Departamento de Pesquisa e Estatística: compete-lhe o estudo, a pesquisa, o


planejamento, a compilação de dados estatísticos e a formulação de propostas visando o
aperfeiçoamento das atividades de Corregedoria da Polícia Militar;

Departamento de Processo Administrativo: compete-lhe a execução com


exclusividade dos processos administrativos disciplinares demissionários na Capital e,
excepcionalmente, no Interior do Estado.

6. A DIRETRIZ GERAL DE CORREIÇÃO Nº 01/99

A Diretriz Geral de Correição nº 001 foi expedida pelo Comandante Geral da PMRO,
em 25 de agosto de 1999, tendo por finalidade padronizar, no âmbito da Polícia Militar, os
procedimentos administrativos decorrentes do exercício do poder disciplinar e os atos de
polícia judiciária militar, observados, neste caso, os dispositivos legais.

Padroniza, dentre outros, procedimentos com inquéritos policiais militares,


sindicâncias e processos administrativos disciplinares, homologação ou avocação de feitos,
procedimentos com apresentação de policiais militares, prisão em flagrante delito militar,
remessa de mapas e relatórios etc.

Todos os Oficiais da Corporação têm o dever de conhecer a Diretriz Geral de


Correição nº 01/99, sendo de responsabilidade dos comandantes de OPM a sua
divulgação, tornando-a leitura obrigatória (letra “a” das prescrições diversas).

7. SINDICÂNCIA
Fonte de consulta: Manual de IPM (M-1-PM).

7.1 CONCEITO
Conceito: Se o conceito de IPM, de acordo com o Art 9º do CPPM, é a apuração
sumária de fato que, nos termos legais, configure crime militar, o conceito de sindicância
não pode ser outro senão a apuração sumaríssima de fato em que não se configuram,
ainda, os indícios da existência de crime militar, nem tampouco estão esclarecidas as
circunstâncias que indiquem, em tese, a ocorrência de alteração disciplinar.

A sindicância deve, portanto, ser um processo elaborado de maneira rápida – nem


por isso descuidada -, para apurar fatos de natureza administrativa, como nos casos de

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transgressão disciplinar, por exemplo.

Entretanto, se durante o curso da sindicância o seu encarregado colher indícios de


crime, deverá interrompê-la imediatamente, informando à autoridade delegante para a
instauração de IPM.

Vezes ocorre em que o sindicante se demora na remessa dos autos, quando já


concluiu haver indícios suficientes da existência de crime militar, o que poderá acarretar
prejuízos durante a fase de inquérito, pois o tempo apaga as provas.

7.2 CLASSIFICAÇÃO

7.2.1 Sindicância Regular


Instaurada mediante portaria da autoridade, será utilizada nos casos em que esta
necessitar de maiores dados sobre o fato e dispõe de um pouco mais de tempo para
aguardar o resultado da investigação, e o seu encarregado poderá ser oficial, subtenente
ou sargento. [Resolução nº 176, DE 05.05.2011 – Altera dispositivos do Manual de IPM (M-
1-PM)]

7.2.2 Sindicância Verbal


instaurada a partir de uma determinação verbal da autoridade, será comumente
utilizada nos casos em que esta necessitar de respostas rápidas acerca do evento, e
poderá ser realizada por oficial, subtenente ou sargento, sendo sua solução apresentada
em forma de relatório ou parte.

7.3 PRAZOS
- o prazo para a conclusão da sindicância regular será de até trinta (30) dias,
prorrogáveis por vinte (20) dias [Resolução nº 0129/SS LEG/PM-1, DE 28.04.2000 – Altera
dispositivos do Manual de IPM (M-1-PM)]. Por sua vez, a sindicância verbal, por ser ainda
mais célere e menos formal, terá seu prazo reduzido para dias em função da simplicidade
dos fatos e celeridade desejada para a investigação/solução.

7.4 CONTEÚDO DE UMA SINDICÂNCIA

7.4.1 Capa, contendo:


a) Cabeçalho, com o nome da OPM;

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b) Número da sindicância, para controle da OPM;


c)Nome do encarregado;
d) Nome do(s) sindicado(s) ou descrição sumária do fato que está sendo apurado;
e) Termo de Abertura, constando a referência ao documento que determinou a
instauração do feito, local e data do início dostrabalhos.

7.4.2 Documentos
Serão os depoimentos, exames, avaliações, escalas de serviço etc., os quais
serão juntados aos autos de sindicância através de despacho do sindicante.

7.4.3 Relatório
Deverá conter o relato sucinto de como ocorreu o fato e o parecer quanto à
existência ou não de transgressão disciplinar, indicando a norma violada e, se possível,
as penalidades às quais estará sujeito o transgressor. Caso haja indícios de crime militar,
sugerir a instauração de IPM (alínea “f” do Art. 10 do CPPM).

7.5 PADRONIZAÇÃO DA SINDICÂNCIA

A sindicância regular será feita em duas vias, sendo a primeira remetida para a
autoridade que mandou instaurá-la, e a segunda, mantida com o próprio sindicante.

Caso a primeira via tenha de ser encaminhada ao escalão superior, será


requisitada a via do sindicante para permanecer arquivada na OPM.

As folhas, a partir da capa, serão numeradas na parte inferior da folha, ao centro,


para permitir que possam ser renumeradas no caso de instauração de IPM.

A Portaria da autoridade delegante será sempre a folha 02, já que não há


portaria do encarregado.

8. PROCESSOS DEMISSÓRIOS

8.1 CONSELHO DE DISCIPLINA (Decreto-Lei nº 34, de 07 Dez 82)


O Conselho de Disciplina (CD) é um processo administrativo especial, que tem por
finalidade julgar da incapacidade do Aspirante-a-Oficial PM e demais praças da Polícia

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Militar do Estado de Rondônia, com estabilidade assegurada,para permanecerem na


ativa, criando-lhes, ao mesmo tempo, condições para se defenderem (art. 1º).

Também pode ser submetido ao CD o Asp Of PM e demais praças da Corporação,


da reserva remunerada ou reformados, presumivelmente incapazes de permanecerem na
situação de inatividade em que se encontram (parágrafo único).

As praças supracitadas serão submetidas a Conselho de Disciplina, ex-offício, nas


seguintes hipóteses:

Art.2º. ..........................................................................................
.........
I - acusada oficialmente ou por qualquer meio lícito de
comunicação social e neste caso comprovado em IPM ou Sindicância,
de ter:
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo;
b) tido conduta irregular; ou
c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor policial
militar ou o decoro da classe;
II - afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Policiais
Militares, por se tornar incompatível com o mesmo ou demonstrar
incapacidade no exercício de funções policiais militares a ela
inerentes, salvo se o afastamento for em decorrência de fatos que
motivem sua submissão a processo;
III - condenada por crime de natureza dolosa, não previsto na
legislação especial concernente à segurança nacional, em tribunal
civil ou militar, à pena restritiva de liberdade individual até 02 (dois)
anos, tão logo transite em julgado a sentença; (Obs.: na verdade, a
decisão de submeter a Praça ao processo demissório independe
do quantum da pena imposta na esfera criminal. Se a pena for
superior a 02 (dois) anos e não houver a decretação da perda da
graduação da Praça, como efeito da condenação, a
administração PM pode muito bem, e com muito mais razão,
instaurar o CD, se assim julgar oportuno e conveniente);
IV - pertencente a partido político ou associação suspensos ou
dissolvidos por força de disposição legal ou decisão judicial, ou que
exerça atividades prejudiciais ou perigosas à segurança nacional.
Parágrafo único: É considerada pertencente a partido ou
associação a Praça da Polícia Militar que, ostensiva ou
clandestinamente:
a) estiver inscrita como seu membro;

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b) prestar serviços ou angariar valores em seu benefício;


c) realizar propaganda de suas doutrinas; ou
d) colaborar, por qualquer forma, mas sempre de modo
inequívoco ou doloso, em suas atividades.

O Decreto-Lei nº 34/82 reza que o acusado será afastado do exercício de suas


funções, mas, na verdade, o afastamento refere-se à atividade ensejadora da transgressão.

A competência para a instauração do Conselho de Disciplina é do Comandante


Geral e a instrução processual recairá para uma Comissão de 03 (três) Oficiais PM da
ativa, que deverá ser presidida no mínimo por um Oficial Intermediário (Capitão).

A defesa efetiva do acusado deverá ser feita por advogado por ele constituído ou, na
falta deste, por Oficial nomeado pelo Presidente do Conselho, da escolha do acusado se
este se manifestar nesse sentido.

A Comissão Processante terá o prazo de 30 (trinta) dias para conclusão dos


trabalhos, prorrogáveis por 20 (vinte) dias, por motivos excepcionais, a critério do
Comandante Geral.

Apesar de a norma mencionar que o prazo começa a contar da data de nomeação


do CD, na prática o prazo começa a correr a partir da autuação dos documentos recebidos
pelo colegiado processante, que pode ou não coincidir com a data de nomeação.

Depois de realizadas as diligências necessárias ao esclarecimento dos fatos (fase


da instrução), a Comissão elaborará relatório circunstanciado e decidirá se o acusado é ou
não culpado da acusação que lhe foi feita, sugerindo, ainda, a medida disciplinar a ser
aplicada, se for o caso. A decisão será tomada por maioria de votos dos membros da
Comissão e, havendo voto vencido, é facultada a justificação por escrito.

Recebidos os autos do Conselho de Disciplina o Comandante Geral, acolhendo ou


não o relatório da Comissão Processante e, neste último caso, justificando os motivos,
decidirá por meio de Sentença Administrativa, podendo, dentre as possibilidades
delineadas no art. 13 do Decreto-Lei nº 34/82, determinar a exclusão a bem da disciplina
do acusado das fileiras da Corporação.

Da decisão do Comandante Geral poderá ser interposto recurso, no prazo de 10

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(dez) dias, cabendo ao Governador do Estado, em última instância, julgar os recursos que
forem interpostos nos processos oriundos dos Conselhos de Disciplina.

8.2 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO (Decreto-Lei nº 35, de 07 Dez 82)


O Conselho de Justificação (CJ) tem por finalidade julgar, por meio de processo
especial, da incapacidade do Oficial da Polícia Militar de Rondônia, para permanecer na
ativa ou na situação de inatividade em que se encontra, criando-lhes, ao mesmo tempo,
condições para se justificar.

As várias hipóteses de submissão ao CJ estão relacionadas nos incisos I a V do


artigo 2º do Decreto-Lei estadual nº 35/82, sendo a instauração (nomeação) de
competência do Governador do Estado, quando a parte acusatória partir do Comandante
Geral, ou do Comandante Geral nos demais casos.

O Conselho de Justificação é composto de 03 (três) Oficiais da ativa, de posto


superior ao do justificante, e o membro mais antigo do CJ será no mínimo um Oficial
Superior da ativa.

Quando o justificante for Oficial do último posto, os membros do CJ serão nomeados


dentre os Oficiais daquele posto, da ativa, ou da inatividade, mais antigos que o justificante,
e quando o justificante for Oficial da reserva ou reformado, um dos membros do CJ pode
ser da reserva, respeitadas as exigências anteriormente elencadas.

Os prazos para conclusão do CJ são os mesmos do CD e a deliberação do


Conselho é tomada por maioria dos votos de seus membros. Elaborado o relatório
circunstanciado, a Comissão processante encerrará os trabalhos e remeterá o processo à
autoridade que o nomeou.

O Conselho de Justificação pode se tornar híbrido, quando a autoridade nomeante,


dentre as várias hipóteses de solução do processo administrativo (arquivamento; aplicação
de pena disciplinar; efetivação da reserva remunerada; remessa ao auditor competente)
encaminha o CJ ao Tribunal competente, nas hipóteses previstas para tal.

Na primeira fase, denatureza essencialmente administrativa¸ a Comissão


processante avalia se o Oficial tem ou não condições de permanecer na ativa, ou sendo da
reserva remunerada ou reformado, se é incapaz de permanecer na situação de inatividade

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em que se encontra. Na segunda fase, de natureza essencialmente judicial (a posição


predominante das Cortes superiores é no sentido de que o CJ tem natureza administrativa
e não judicial) o Tribunal competente (Tribunal de Justiça no caso de Rondônia) irá decidir
sobre a perda do posto e da patente ou sobre a reforma compulsória. O Oficial somente
perderá o posto e a patente se for declarado indigno do oficialato ou com ele incompatível.

8.3 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (PAD)

A partir da vigência do Decreto Nº 13255, de 12 de novembro de 2007, o Processo


Administrativo Disciplinar, aplicável às praças sem estabilidade assegurada, passou a ser
disciplinado pelo Regulamento Disciplinar da PMRO (R-9-PM).

Assim como o CD e o CJ, o PAD tem por finalidade reunir os elementos necessários
para a efetivação ou não do licenciamento não voluntário do policial militar, sem
estabilidade assegurada, cuja situação disciplinar ou transgressão praticada assim o exija.

As hipóteses de submissão da Praça não estável ao PAD são aquelas elencadas


nos incisos I, II e III do artigo 47 do RDPM:

Art.
47. ..................................................................................................
I – for a transgressão praticada de natureza grave, atentatória
ao decoro da classe policial militar, às instituições ou ao Estado;
II – tendo ingressado no comportamento insuficiente, continuar
praticando atos atentatórios à ética policial militar, sem demonstrar
tendências à melhoria de comportamento;
III – tiver sido condenado em sentença penal transitada em
julgado, por crime de qualquer natureza e qualquer que seja a pena,
desde que o fato seja considerado, em princípio, uma grave violação
da ética policial militar.

Desde a entrada em vigor do R-9-PM o rito processual a ser seguido no PAD é


aquele previsto no Decreto-Lei nº 34, de 07.12.82 (Conselho de Disciplina).

9. PROCESSO ADMINISTRATIVO POR DANOS AO ERÁRIO (PADE)


O Decreto nº 11.515, de 28 de fevereiro de 2005, regulamentou a lei que instituiu na

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Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia o Processo Administrativo por


Danos ao Erário, estabelecendo o rito dos procedimentos a serem adotados.

A finalidade do PADE é reunir os elementos necessários para a imputação ou não


de responsabilidades pecuniárias aos militares do Estado que danificarem o erário,
assegurando-se, ao militar, os preceitos constitucionais da ampla defesa e do contraditório.

O PADE será aplicado quando o IPM ou Sindicância apontar indícios de que o militar
cometeu danos ao erário, por ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do
cargo ou função.

São competentes para instaurar o PADE os Comandantes Gerais (PM e CBM), os


Corregedores Gerais e Coordenadores Regionais (PM e CBM), e o Chefe de Gabinete
Militar da Governadoria, autoridades estas que também são competentes para nomear as
comissões permanentes, compostas por 03 (três) Oficiais da Unidade a que pertencer o
Militar Estadual acusado. Havendo insuficiência de Oficiais da Unidade do acusado, a
autoridade responsável pela instauração do PADE completará a comissão com Oficiais de
outras Unidades que estejam sob sua subordinação. Ademais, a Coordenadoria
Administrativa será o órgão competente para instauração do PADE nas Unidades PM e
CBM que não forem subordinadas aos CRP’s.

O PADE se desenvolverá de acordo com as disposições do Decreto-Lei nº 34/82,


que dispõe sobre o Conselho de Disciplina da PMRO.

Se for comprovado em IPM ou Sindicância que o Militar Estadual causou danos, e,


nesta fase, mediante proposta, o mesmo manifestar vontade de ressarcir aos cofres
públicos os danos causados ao erário, torna-se desnecessária a instauração de PADE.

Importante frisar que se tratando de danos causado a terceiros e havendo culpa do


Militar Estadual, este responde perante a Fazenda Pública em ação regressiva, podendo
ainda ser responsabilizado penalmente.

10. REGULAMENTO DISCIPLINAR DA POLÍCIA MILITAR (R-9-PM)


O próximo passo é a abordagem ao instrumento básico de estudo do tema em nosso
meio, o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar (RDPM), aprovado pelo Decreto nº

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13.255, de 12 de novembro de 2007, que trouxe muitas e importantes inovações nas


questões pertinentes a justiça e a disciplina na PMRO.

Consoante dispõe o Art. 1º o RDPM “é um conjunto de normas que regula o


exercício dos poderes hierárquico e disciplinar, a apuração de transgressões disciplinares,
a aplicação de punição, a concessão de benefícios e a apreciação de recursos”.

As disposições estabelecidas no RDPM são aplicáveis aos policiais militares da


ativa, aos da reserva remunerada, e, naquilo que couber, aos admitidos temporariamente
para freqüentar curso de formação. O PM em curso ou estágio também está sujeito aos
regulamentos, normas e prescrições das OPM em que esteja matriculado.

Deve-se atentar, ainda, que os inativos somente serão alcançados pelo RDPM se
cometerem transgressões graves ou quando a norma lhe for benéfica.

O RDPM atribui à transgressão disciplinar o seguinte conceito: “Transgressão


disciplinar é qualquer ação ou omissão contrária a ética ou ao dever policial militar,
cominando-se as respectivas sanções previstas neste regulamento”. (Art. 12, caput)

Os preceitos éticos e os deveres a serem observados por todos os integrantes da


Polícia Militar são aqueles dispostos nos artigos 29 e 32, respectivamente, do Estatuto dos
Policiais Militares do Estado de Rondônia (Decreto-Lei nº 09-A/82); verbis:

Art. 29. O sentimento do dever, o pundonor policial militar e o


decoro da classe impõe a cada um dos integrantes da Polícia Militar
conduta moral e profissional irrepreensíveis, com observância dos
seguintes preceitos da ética:
I – amar a verdade e a responsabilidade como fundamentos da
dignidade pessoal;
II – exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções
que lhe couberem em decorrência do cargo;
III – respeitar a dignidade da pessoa humana;
IV – cumprir e fazer cumprir as leis, regulamentos, as instruções
e as ordens das autoridades competentes;
V – ser justo e imparcial nos julgamentos dos atos e na
apreciação do mérito dos subordinados;
VI – zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico, e,
também, pelo dos subordinados, tendo em vista o cumprimento da
missão comum;

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VII – empregar todas as suas energias em benefício do serviço;


VIII – praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente,
o espírito de cooperação;
IX – ser discreto em suas atitudes e maneiras, e em sua
linguagem escrita e falada;

X – abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria


relativa à segurança Nacional, seja de caráter sigiloso ou não;
XI – acatar as autoridades constituídas;
XII – cumprir seus deveres de cidadão;
XIII – proceder de maneira ilibada na vida pública e particular;
XIV – observar as normas de boa educação;
XV – garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-
se como chefe de família modelar;
XVI – conduzir-se, mesmo fora do serviço, ou na inatividade, de
modo que não sejam prejudicados os princípios da disciplina, do
respeito e do decoro policial-militar;
XVII – abster-se de fazer uso do posto, ou graduação, para obter
facilidades pessoais de qualquer natureza, ou para encaminhar
negócios particulares ou de terceiros;
XVIII – abster-se o policial-militar, na inatividade, do uso das
designações hierárquicas quando:
a) em atividade político-partidária;
b) em atividades comerciais;
c) em atividades industriais;
d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito
de assuntos políticos ou policiais-militares, excetuando-se os de
natureza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado;
e) no exercício de funções de natureza não policial-militar,
mesmo oficiais;
XIX – zelar pelo bom nome da Polícia Militar e de cada um dos
seus integrantes, obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos da
ética policial-militar.
Art. 32. São deveres dos Policiais-Militares:
I – a dedicação integral ao serviço policial-militar e a fidelidade à
instituição a que pertencer;
II – o culto aos símbolos nacionais;
III – a probidade e lealdade em todas as circunstâncias;
IV – a disciplina e o respeito à hierarquia;

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V – o rigoroso cumprimento das obrigações e ordens;


VI – a obrigação de tratar subordinado, dignamente e com
urbanidade;
V – manter domicílio no local onde for designado a prestar o
serviço Policial Militar.

10.1 ROL DE TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES:

O rol de transgressões dos artigos 15, 16 e 17 deve ser estudado pelos alunos em
casa e as dúvidas resolvidas em sala de aula.

O inciso II é normalmente combinado com o artigo 29 e/ou artigo 32 do Estatuto PM.

10.2 NATUREZA DAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES (ART. 14, I, II E III):


A natureza da transgressão disciplinar, segundo o grau de intensidade, pode ser
leve (L), média (Média) e grave (G).

Nos casos previstos no inciso II do art. 13, a autoridade disciplinar usará da analogia
para classificar a transgressão, e buscará entre as previstas no RDPM uma que com ela
guarde semelhança em grau de intensidade (parágrafo único do Art. 14).

No tocante à natureza das transgressões o novel RDPM inovou significativamente,


pois após prescrever que as transgressões disciplinares são classificadas de acordo com a
gravidade em leves (L), médias (M) e graves (G), elencou ao todo 100 (cem) hipóteses de
condutas contrárias à disciplina, classificadas respectivamente em seus artigos 15, 16 e 17
com sendo leves (17), médias (44) e graves (39), inexistindo, portanto, discricionariedade
classificatória da autoridade disciplinar.

10.3 PARTE DISCIPLINAR

Parte disciplinar é o documento pelo qual todo policial militar que tiver
conhecimento de um fato contrário à disciplina faz a denúncia à autoridade disciplinar
competente, descrevendo de forma impessoal, clara, precisa e concisa, os dados
suficientes das pessoas e coisas envolvidas, o local, a data, a hora e as circunstâncias da
ocorrência.

O RDPM, em seus incisos I a IV do artigo 20 indica à autoridade disciplinar a quem

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foi dirigida a parte disciplinar qual a decisão que deverá ser adotada, que dependerá,
obviamente, de uma análise criteriosa das informações contidas no documento (gravidade
do fato, autoria e circunstâncias etc.).

A parte disciplinar é obrigatória para que seja dado início ao PADS, quando a
autoridade disciplinar não tomar conhecimento do fato por outro meio lícito. Nesse
momento, dada à importância do tema, e considerando que o RDPM é o instrumento
básico de disciplina nas corporações militares, impõe-se, o manuseio do Decreto, com a
apresentação de seus pontos novéis e mais relevantes.

10.4 PROCESSO APURATÓRIO DISCIPLINAR SUMÁRIO (PADS)


Diploma legal: Regulamento Disciplinar da PMRO (R-9-PM).

Finalidade: garantir aos acusados em processo administrativo disciplinar, o


exercício dos direitos constitucionais da ampla defesa e do contraditório (Art. 5º, LV, CF).

Aplicação prática: será instaurado sempre que a autoria e as circunstâncias do fato


irregular forem conhecidas e não for aplicável, em tese, pena demissória.

Competência para acusação: autoridades disciplinares relacionadas no § 1º do art.


50 do RDPM (Art. 24, § 1º).

Prazo para conclusão: sanando a omissão do RDPM no que se refere ao prazo


para conclusão do PADS, a Diretriz Administrativa Nº 007/CORREGEPOM-2012
estebeleceu o seguinte:

Art. 1º. Fica estabelecido em 30 dias corridos o prazo máximo


para conclusão dos Processos Apuratórios Disciplinares Sumários,
salvo prazo diverso estabelecido expressamente pelas autoridades
disciplinares.

Desenvolvimento do processo:

A acusação será feita através de memorando disciplinar e o prazo para que o


acusado apresente a defesa prévia é de 2 (dois) dias. A defesa poderá arrolar no máximo
3 (três) testemunhas.

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Em sendo necessária a instrução do processo, a autoridade disciplinar poderá


delegar, mediante simples despacho, essa incumbência a oficial ou a sargento, neste
último caso, desde que possua curso de aperfeiçoamento.

Se o acusado tratar apenas de questão de mérito e as diligências forem


dispensáveis, ou se houver confissão que não contrarie a lógica dos fatos, a autoridade
disciplinar poderá proceder ao imediato julgamento, que deverá ser sempre motivado.

Depois de instruído o PADS o encarregado abrirá vistas dos autos ao acusado e


concederá prazo de 3 (três) dias para as alegações finais.

Esgotado o prazo das alegações finais, com ou sem manifestação do acusado, a


autoridade procederá ao julgamento do PADS, desde que não haja elementos indicando a
existência de grave violação da ética, caso em que os autos deverão ser encaminhados ao
Corregedor Geral sem julgamento, sob pena de restar impossibilitada eventual instauração
de processo demissório, isso em virtude do princípio non bis in idem, que na prática
significa não ser possível segunda punição pelo mesmo fato (STF, Súmula 19).

A decisão da autoridade disciplinar deverá ser fundamentada no julgamento, que


também conterá a descrição do fato e suas circunstâncias, o dispositivo infringido e a
punição imposta, quando for o caso. O julgador deverá considerar, ainda, os fatores
elencados no art. 36 do RDPM, a exemplo da personalidade do transgressor e seus
antecedentes disciplinares, além das circunstâncias atenuantes e agravantes aplicáveis à
espécie (artigos 38 e 39).

10.5 DAS PUNIÇÕES DISCIPLINARES

Objetivo: A preservação da disciplina e o benefício educativo do punido e da


coletividade a que pertence (Art. 40).

Gradação, conceituação e execução:

a) Repreensão – é a censura enérgica ao transgressor, feita por escrito e publicada


em boletim ou aditamento;

b) Detenção – consiste no cerceamento da liberdade do punido, sem que tenha de


ficar, no entanto, confinado em compartimento fechado;

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c) Prisão – consiste no confinamento em alojamento de pares ou outro local


adequado, conforme dispuser a autoridade disciplinar;

d) Licenciamento a bem da disciplina – consiste na exclusão do serviço ativo da


Praça sem estabilidade;

]e) Exclusão a bem da disciplna – consiste na exclusão do serviço ativo aplicada ao


Aspirante-a-Oficial e à Praça com estabilidade assegurada;

f) Demissão “ex-officio” – consiste na exclusão do Oficial PM do serviço ativo,


conforme prescrito na legislação peculiar.

Também poderão ser aplicadas, independente ou cumulativamente com as punições


disciplinares, além de outras estabelecidas em leis e regulamentos, as medidas
administrativas de: a) cancelamento de matrícula ou inscrição, e o conseqüente
desligamento do curso, estágio ou exame que estiver realizando; b) destituição de cargo,
função ou comissão; e c) movimentação da unidade onde serve. (Art. 41, §1º, RDPM).

O preso e o detido cumprirão suas punições sem prejuízo do serviço, porém, se


conveniente à disciplina, a autoridade poderá restringir a atividade do punido aos serviços
internos. Qualquer restrição deverá constar da nota de punição.

Não ficarão presos nas mesmas dependências os policiais militares de círculos


hierárquicos diferentes, bem como os presos disciplinares devem permanecer separados
dos de justiça.

Excepcionalmente a autoridade disciplinar poderá permitir o cumprimento da prisão


ou detenção na residência do punido, de onde não poderá se ausentar sem autorização,
sob pena de tal permissão ser revogada, independentemente da sanção disciplina que a
atitude poderá acarretar.

A alimentação do preso e/ou do detido ficará a cargo da Corporação Policial Militar


(mudança introduzida em 2011).

Ainda referente à prisão disciplinar, o RDPM prevê (Art. 46) a possibilidade da prisão
em flagrante de natureza disciplinar em caso de necessidade de restabelecimento da
ordem administrativa e preservação da disciplina, quando estes estiverem ameaçados.

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O recolhimento do policial militar à prisão, antes do devido processo legal, poderá


ocorrer pelo prazo de 72 (setenta e duas) horas. Em caso de necessidade de manter o
transgressor preso, a autoridade disciplinar deverá fundamentar as razões da sua decisão
e publicá-las, sendo que em qualquer caso deverá ser imediatamente instaurado o
procedimento apuratório cabível.

A prisão cautelar do militar transgressor, apesar de suscitar controvérsia, não afronta


a ordem constitucional, considerando que o Art. 5º, LXI excepciona a exigência do estado
de flagrância e da ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente nos
casos de transgressão disciplinar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

Ademais, a medida decorre do poder disciplinar que é comum às instituições militares,


e do dever de ofício que as autoridades militares que presenciam ou tomam conhecimento
de infração disciplinar de natureza grave têm de intervir prontamente e de forma enérgica.

Quanto às penas demissórias de licenciamento a bem da disciplina, exclusão a bem


da disciplina e demissão ex-officio, estas decorrem dos processos administrativos
disciplinares (PAD, CD e CJ), já abordados em tópicos anteriores.

Limites e competências para aplicação: Artigos 50 a 54.

A competência já foi abordada no tópico alusivo aos requisitos do ato administrativo


disciplinar.

Ainda assim, cumpre alertar que o art. 53 estabelece que “No caso de ocorrência
disciplinar envolvendo policiais militares de mais de uma OPM, caberá a apuração à
Corregedoria ou ao órgão que tiver ascendência funcional sobre os comandantes das
unidades”.

Relevação: consiste na suspensão do cumprimento da punição imposta, podendo ser


concedida nos casos especificados nos incisos Ia III do artigo 66 do RDPM.

Atenuação: o regulamento aduz que “consiste na reclassificação da punição para


uma menos grave ou na diminuição do período de cumprimento” (Art. 67). Contudo, pela
interpretação sistêmica do próprio regulamento, a classificação é ato vinculado, pelo que a
reclassificação não pode ser exercida.

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Agravamento: o regulamento aduz que “consiste na reclassificação da punição para


uma mais grave ou no aumento do período de cumprimento” (Art. 68). Contudo, pela
interpretação sistêmica do próprio regulamento, a classificação é ato vinculado, pelo que a
reclassificação não pode ser exercida.

10.6 DA PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DISCIPLINAR E DA REINCIDÊNCIA

O Regulamento Disciplinar da PMRO aborda a questão da reincidência no tópico


alusivio às circunstâncias agravantes, no inciso II do Artt. 39, e, de maneira mais
esclarecedora, nos incisos de I a III do parágrafo único deste mesmo artigo, onde
efetivamente orienta a sua aplicação, conforme transcrição abaixo:

Art.
39. ......................................................................................................
(...)
Parágrafo único. Para efeito de reincidência não se considera a
transgressão anterior, se entre a data do término do cumprimento da
punição e a transgressão posterior tiver decorrido período de tempo
superior a:
I – 1 (um) ano nas transgressões de natureza leve;
II – 2 (dois) anos nas transgressões de natureza média; e
III – 4 (quatro) anos nas transgressões de natureza grave

Sobre o tema, não ficaram suficientemente esclarecidas questões relativas à


maneira pela qual se deve aplicar, no caso concreto, a norma em comento. Isso porque as
transgressões possuem naturezas distintas e períodos de reincidência distintos.
Assim, sendo punido por transgressão leve e vindo a ser novamente punido por
transgressão praticada após o cumprimento dessa punição e dentro do período de prova,
haverá diferença quanto à natureza desta nova transgressão? Seria coerente que não. Ou
seja, qualquer nova transgressão geraria a reincidência.
De maneira inversa, sendo punido por transgressão grave (ou Média) e vindo a ser
novamente punido por transgressão praticada após o cumprimento dessa punição e dentro
do período de prova, haverá diferença quanto à natureza desta nova transgressão? Seria

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coerente que sim. Ou seja, somente punição de mesma natureza ou de natureza maior
deveria gerar a reincidência.
Tais interpretações decorrem da condição do punido, que, no primeiro caso, parte de
uma situação mais amena e atinge uma situação igual ou pior do que a primeira, pelo que
seria justo considera-lo reincidente. E, no segundo caso, partiria de uma situação mais
gravosa e atingiria uma situação mais amena, pelo que seria razoável não considera-lo
reincidente.
Ocorre que, a bem da verdade, não há, até a presente data, posicionamento sobre o
assunto, pelo que não se pode considerar pacificada a questão.
Já quanto à prescrição da ação disciplinar, o RDPM dispõe sobre o assunto nos §§
2º ao 5º do Art. 58, cujo teor aduz:

Art.
58. ......................................................................................................
(...)
§ 2º A ação disciplinar prescreverá:
I – em 5 (cinco) anos, quanto às infrações de natureza grave;
II – em 2 (dois) anos, quanto às transgressões de natureza
média; e
III – em 1 (um) ano, quanto às transgressões de natureza leve.
§ 3º A abertura de sindicância ou a instauração de processo
disciplinar interrompe a prescrição.
§ 4º Quando o fato for investigado também judicialmente ou em
sede de inquérito policial e, a juízo da autoridade disciplinar, for
conveniente aguardar o desfecho da investigação, a instauração de
processo disciplinar suspende o curso do prazo prescricional.
§ 5º Afastamentos imperativos do acusado em processo
disciplinar, ainda que decorrentes de ordens médicas, quando
superiores a 15 dias contínuos acarretarão a suspensão do curso do
prazo prescricional.

Em termos de doutrina, Martins (1996, p. 91), argumenta que a “prescrição


administrativa disciplinar militar é a perda do poder-dever de punir do Estado pelo não
exercício da pretensão punitiva ou da pretensão executória durante certo tempo”.

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Por sua vez, Costa (2006, p. 112) defende que “A prescrição é uma forma de
extinção da punibilidade quanto a uma transgressão disciplinar cometida em razão da
inação da administração no exercício do jus corrigendo”, ou seja, há um grande lapso
temporal que torna a punição sem sentido, principalmente porque esta visa restabelecer a
normalidade da instituição militar imediatamente após o cometimento de uma transgressão
disciplinar.
Ao se ater ao termo inicial da contagem do prazo prescricional da ação disciplinar,
Martins (1996, p. 94) entende que a prescrição, por simetria à regra do direito penal militar,
começa a contar do momento da consumação da transgressão disciplinar e não do dia em
que a administração militar tomar conhecimento do fato.
Todavia, a considerar a previsão normativa do Art. 2º do RDPM, não se faz
necessário recorrer à previsão normativa do direito penal militar, haja vista que no âmbito
da legislação castrense de natureza disciplinar tanto o DL Nº 034/82 (trata de Conselho de
Disciplina) quanto o DL Nº 035/82 (trata do Conselho de Justificação) asseveram que o
prazo prescricional corre, em regra, a contar da data da prática do fato. Senão vejamos os
dispositivos suso mencionados:

RDPM:
Art. 2º Para efeito deste regulamento adotar-se-ão, a princípio,
as conceituações previstas no Estatuto; não havendo, todavia,
previsão, recorrer-se-á às demais leis peculiares, regulamentos e
instruções, nesta ordem.

DL Nº 034 (Conselho de Disciplina):


Art. 18. Prescrevem em 6 (seis) anos, contados da data em que
forem praticados, os casos previstos neste Decreto-Lei.

DL Nº 035 (Conselho de Justificação):


Art. 19. Prescrevem em 6 (seis) anos, contados da data em que
foram praticados, os casos previstos neste Decreto-Lei.

Configurada a hipótese legal de aplicação subsidiária da legislação dos processos


demissionários para o fim de se apontar a maneira pela qual inicia a contagem do prazo

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prescricional da ação disciplinar, resta então fazer alguns apontamentos sobre interrupção
e suspensão deste prazo.
O §3º do Art 58 do RDPM trata da interrupção ao passo que a suspensão
está prevista nos §§ 4º e 5º deste mesmo artigo, ressaltando-se que a interrupção faz zerar
o prazo e abrir nova contagem e a suspensão para a contagem durante o período
assinaldo ao final do que retomará a contagem de onde tiver parado.
Não fosse isso o bastante, ainda há que se falar da dupla possibilidade de se ver
interroper o prazo prescricional, com a ressalva de que a prescrição, no âmbito disciplinar
militar, deve ser concebida como instituto capaz de promover a paz e a tranquilidade no
seio da tropa, evitando que se permita a perpetuação das incertezas jurídico-
administrativas disciplinares, razão pela qual seria desejável que tal instituto somente
possa se operar uma única vez, qualquer que seja a hipótese motivadora.
Ainda assim, registre-se, por oportuno que é, que este não é um posicionamento
sedimentado e muito meno tido como orientação a ser seguida, talvez até porque, segundo
se sabe, não houve qualquer incidência desta possibilidade em face das situações
disciplinares da Corporação.

10.7 DO COMPORTAMENTO MILITAR

Quanto ao comportamento disciplinar militar, os dispositivos do RDPM que tratam do


tema, são:

Art. 69. O comportamento disciplinar refere-se à conduta


ética, civil e profissional da praça, de conformidade com que
estabelece este regulamento.
Parágrafo único. A classificação e mudança do comportamento
disciplinar são de competência das autoridades referidas no § 1º do
Art. 50, obedecido ao disposto neste título.
Art. 70. O policial militar será classificado em um dos
seguintes comportamentos:
I – excepcional – quando possuir mais de 40 pontos positivos;
II – ótimo – quando possuir entre 30 e 40 pontos positivos; e
III – bom – quando possuir entre 10 e 29 pontos positivos;
IV – insuficiente – quando possuir menos de 10 pontos positivos.
§ 1º Ao ser incluído na Corporação, o policial militar possuirá 20
(vinte) pontos positivos e será classificado automaticamente no

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comportamento bom.
§ 2º Ingressará automaticamente no comportamento disciplinar
insuficiente, e passará a contar 9 (nove) pontos positivos, salvo se já
houver ingressado por outro motivo, o policial militar que, estando no
comportamento bom, qualquer que seja a sua pontuação, cometer
duas transgressões graves em menos de 1 (um) ano.
§ 3º Estando no comportamento ótimo, incorrendo na situação
do parágrafo anterior, ingressará no comportamento bom e passará a
contar 20 (vinte pontos).
§ 4º Estando o policial militar no comportamento excepcional,
regridirá para o ótimo, e contará 30 (trinta) pontos no ato de
publicação da terceira transgressão grave.
§ 5º Para efeito deste Título, são estabelecidas as seguintes
equivalências entre as punições:
I – duas transgressões leves equiparam-se a uma média; e
II – duas transgressões médias equiparam-se a uma grave.

Art. 71. A mudança de comportamento é progressiva ou


regressiva e será feita automaticamente, somando-se ou subtraindo-
se pontos na ficha individual do policial militar, de acordo com os
seguintes critérios:
I – para cada ano contínuo de efetivo serviço sem punição, serão
somados 2 (dois) pontos;
II – para cada prisão disciplinar serão subtraídos 4 (quatro)
pontos;
III – para cada detenção disciplinar serão subtraídos 2 (dois)
pontos; e
IV – para cada repreensão será subtraído 1 (um) ponto.
Parágrafo único. O tempo em que o policial militar estiver
afastado para gozo de licença para tratar de interesse particular ou
em função de natureza civil não será computado para os fins do inciso
I deste artigo.
Art. 72. A mudança de comportamento disciplinar será
assinalada no enquadramento, ou far-se-á por meio de nota para
boletim.

10.8 RECURSOS

Recurso administrativo disciplinar é o direito concedido ao policial militar de requerer o


reexame do julgamento da autoridade que aplicou a punição (Art. 73).

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São recursos administrativos disciplinares o pedido de reconsideração de ato, a


queixa e a representação.

Antes de tudo é importante frisar que o Art. 78 do R-9-PM assevera que “O recurso
disciplinar é individual e não poderá tratar de assuntos estranhos ao fato que o tenha
motivado, nem versar sobre matéria capciosa, impertinente ou fútil”.

O pedido de reconsideração de ato deve ser interposto no prazo de 10 (dez) dias


perante a autoridade que aplicou a punição, sob pena de preclusão.

Em se sentindo prejudicado com o julgamento de seu pedido de reconsideração de


ato, o policial militar poderá, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentar a queixa ao Corregedor
Geral da PMRO, juntando ao recurso, obrigatoriamente, cópia do documento pelo qual
informou à autoridade de quem vai se queixar do objeto de seu recurso. Outrossim, a sua
apresentação (da queixa) somente poderá ser feita depois de publicado o julgamento do
pedido de reconsideração de ato.

Outrossim, cabe registrar que a queixa deve ser dirigida ao Subcomandante Geral
quando o ato a ser recorrido for do Corregedor Geral; e que do ato do Governador do
Estado, do Comandante Geral ou do Secretário Chefe da Casa Militar não será cabível
queixa.

Ainda sobre a queixa, é oportuno registrar a disciplina inserta no Art. 2º da Diretriz


Administrativa Nº 007/CORREGEPOM-2012, cujo teor aduz:

Art. 2º. A peça recursal da queixa deverá ser instruída, sob pena
de não conhecimento, com cópia da intimação da sentença a ser
recorrida, de onde conste a data em que o policial sancionado tomou
conhecimento do julgamento, cópia da comunicação à autoridade
querelada sobre a impetração da queixa e cópia dos autos do PADS
ensejador da punição.

Já o recurso de representação independe da iniciativa do militar que se julgue


prejudicado, mas sim de autoridade disciplinar indiretamente atingida pelo ato reputado
ilegal ou injusto de autoridade superior, que atinja subordinado hierárquico ou serviço sob
seu comando ou sua responsabilidade.

O referido recurso não é habitualmente utilizado. Desconhecemos, inclusive, qualquer

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caso prático de representação no âmbito da PMRO.

O recurso que contrariar o prescrito no RDPM não será conhecido pela autoridade,
que mandará arquivá-lo (Art. 80).

Os efeitos jurídicos da punição disciplinar – registro na ficha individual do punido p.


ex. – e o efetivo cumprimento da reprimenda somente deverão ocorrer depois do trânsito
em julgado, no âmbito administrativo, da sentença punitiva.

Ocorre o trânsito em julgado quando todas as possibilidades de recursos


administrativos disciplinares foram esgotadas, ou pela inércia do transgressor em
protocolar o pedido em tempo hábil (no prazo) ou porque a decisão da autoridade
disciplinar não admite mais contestação na seara administrativa.

10.9 DO CANCELAMENTO DE PUNIÇÃO


Assim dispõe o RDPM sobre o assunto:

Art. 81. O cancelamento de punições será concedido a


requerimento do policial militar, satisfeitas as seguintes condições:
I – possuir mais de 29 pontos positivos;
II – ter o requerente completado, sem perder pontos, se praça,
ou sem sofrer punição, se oficial:
a) 6 (seis) anos consecutivos de efetivo serviço, quando a
punição a cancelar for de prisão;
b) 4 (quatro) anos consecutivos de efetivo serviço, quando a
punição a cancelar for de detenção;
c) 2 (dois) anos consecutivos de efetivo serviço, quando a
punição a cancelar for repreensão.
(,,,)
Art. 82. A solução de requerimento de cancelamento de
punições é de competência do Corregedor Geral da Polícia Militar,
exceto para os oficiais do posto de coronel PM, cuja competência é
exclusiva do Comandante Geral e do Governador do Estado.
Art. 83. Todas as anotações em folhas de alterações, e as
registradas no campo MOTIVOS da Ficha Individual, que tenham
relação com as punições canceladas devem ser tingidas, de maneira
que não seja possível a sua leitura.
§ 1º No verso da Ficha Individual, ao lado do histórico onde foi

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tingido o registro da punição, serão tomadas as seguintes


providências:
I – manter, nos itens DATA, BI, TIPO, DIAS e TÉRMINO as
anotações referentes às punições canceladas; inserir, logo abaixo
destes, o número e a data do boletim que publicou o cancelamento, e
acrescentar a expressão “punição cancelada”; e
II – rubricar, o responsável pelas anotações, a Ficha Individual.
§ 2º Em todas as vias das folhas de alterações registrar-se-ão,
na margem direita, o número e a data do boletim que publicou o
cancelamento.
Art. 84. A contagem do prazo estipulado para
cancelamento de punições começa a partir da data de publicação do
ato.

O cancelamento das punições não muda o comportamento disciplinar do policial


militar. (§1º do Art. 81 do RDPM)

As punições relativas às transgressões de caráter puramente escolar serão


automaticamente canceladas por ocasião do término do curso, e não produzirão efeito
sobre o comportamento disciplinar do policial militar. (§2º do Art. 81 do RDPM)

10.10 DAS RECOMPENSAS

O RDPM trata das recompensas a partir do art. 85; verbis:

Art. 85. As recompensas constituem reconhecimento dos bons


serviços prestados pelos policiais militares.
Parágrafo único. São recompensas policiais militares, além de
outras previstas em leis ou regulamentos:
I – honra ao mérito;
II – condecorações por serviços prestados;
III – elogios;
IV – dispensas do serviço.
(,,,)
Art. 88. A dispensa como recompensa é o afastamento
total do serviço, em caráter temporário, concedida pelas autoridades
referidas no § 1º do Art. 50, de acordo com a seguinte gradação:
I – o Governador do Estado, o Secretário de Segurança, o
Comandante Geral e o Secretário Chefe da Casa Militar, até 20 (vinte)

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dias;
II – os ocupantes dos demais cargos privativos de coronel PM,
até 15 (quinze) dias;
III – Ajudante geral, Comandantes e Subcomandantes de
Unidades, Chefe de Seção do EMG, Serviço e Assessorias, até 8
(oito) dias;
IV – as demais autoridades, até 5 (cinco) dias.
§ 1º A dispensa do serviço como recompensa será concedida em dias
consecutivos, uma vez por ano civil e será gozada de uma só vez,
vedada a acumulação com férias e licença especial.
§ 2º A dispensa do serviço como recompensa para ser gozada
fora da sede, fica subordinada às mesmas regras de concessão de
férias.
§ 3º A concessão da dispensa do serviço como recompensa,
deverá ser motivada pela autoridade que a conceder, e não poderá
ser concedida, a um só tempo, por duas autoridades.
Art. 89. Quando a autoridade que conceder a recompensa
não dispuser de boletim, a publicação será feita, mediante solicitação
escrita, no da autoridade a que estiver subordinada.
Art. 90. São competentes para anular, restringir ou ampliar
as recompensas concedidas por si ou por seus subordinados, as
autoridades referidas no § 1º do Art. 51 deste regulamento.

10.11 DOS PRAZOS

O próprio RDPM esclarece eventuais dúvidas que possam surgir acerca da contagem
dos prazos, evitando-se assim interpretações equivocadas e aplicação inadequada da
norma:

Art. 91. Os prazos previstos neste regulamento somente


começam a correr a partir do primeiro dia útil após a ciência do
interessado.
§ 1º Computar-se-ão os prazos excluindo o dia do começo e
incluindo o do vencimento.
§ 2º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se o
vencimento cair em feriado, dia em que não haja expediente
administrativo ou dia em que este seja encerrado antes do horário
habitual.
Art. 92. Os interessados tomarão ciência das decisões por
intermédio de intimações.

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Parágrafo único. A contagem do prazo para a apresentação do


recurso será suspensa se o policial militar estiver executando serviço
ou ordem que dificulte ou torne impossível apresentá-lo em tempo
hábil, e reiniciada logo após cessarem esses motivos.

11. DOS PROCESSOS DISCIPLINARES RELACIONADOS AO ENSINO

Os processos disciplinares no âmbito do ensino, aplicáveis aos alunos dos cursos de


ingresso na carreira policial militar são o Processo Disciplinar de Ensino (PDE) e o
Processo Disciplinar de Ensino Sumaríssimo (PDES), conforme disposto o artigo 127
da Diretriz Geral de Ensino (D-6-PM).

Embora o texto acima faça referência tão somente aos alunos dos cursos de
ingresso na carreira policial militar, o fato é que os processos são aplicáveis também aos
alunos de cursos que implicam em promoção imediata. Este é o entendimento que se extrai
dos dispositivos regulamentares insertos na Diretriz Geral de Ensino, conforme abaixo:

Art. 68 – A avaliação de adaptabilidade consistirá na


avaliação das observações registradas sobre as atitudes, positivas ou
negativas, que destacam os alunos dos cursos de ingresso na carreira
policial militar (Formação de Oficiais e Policiais Militares e Adaptação
de Oficiais) e que resulte em promoção imediata (Habilitação de
Oficiais, Formação de Sargentos e Cabos), e definirá a conveniência
ou não da sua permanência na atividade de ensino.
Parágrafo único. O aluno considerado INAPTO ao término
do processo de avaliação de adaptabilidade e mediante o devido
Processo Disciplinar de Ensino, poderá ser desligado da atividade de
ensino.

Com efeito, a solução dada ao Processo Disciplinar de Ensino não deixa dúvidas
sobre a extensão de sua aplicação. Senão vejamos:

Art. 77 – A solução do Processo Disciplinar de Ensino,


caracterizando a inadaptabilidade funcional, poderá gerar os
seguintes encaminhamentos:
I – desligamento da atividade de ensino; e
II – desligamento do curso e permanência na graduação que
já possuía, para a praça militar.

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Feitas estas considerações iniciais, vejamos então cada um dos processos


disciplinares relacionados ao ensino.

11.1 PROCESSO DISCIPLINAR DE ENSINO (PDE):

Destina-se a apurar as condições de adaptabilidade dos alunos à atividade de


ensino e/ ou à carreira policial militar, segundo os critérios estabelecidos na DGE,
garantindo ao acusado o exercício do contraditório e ampla defesa.

As autoridades competentes para instaurar Processo Disciplinar de Ensino e


formular a acusação o Diretor de Ensino e o Comandante do Estabelecimento de Ensino.

O rito processual será o mesmo previsto no Regulamento Disciplinar da Polícia


Militar do Estado de Rondônia para o Processo Apuratório Disciplinar Sumário.

Ao final da instrução, e findo o prazo para apresentação das alegações finais, com
ou sem a manifestação do acusado, a comissão apresentará circunstanciado parecer,
opinando pelo desligamento do aluno da atividade de ensino, ou pela absolvição

A autoridade disciplinar que instaurou o processo solucionará o caso, concordando


com o parecer da comissão ou discordando dele.

Caso a solução do processo recomende o desligamento do aluno acusado, os autos


serão remetidos ao Comandante Geral, para homologação.

Da decisão da autoridade que solucionou o processo, bem como da homologação


do Comandante Geral não caberá recurso.

11.2 PROCESSO DISCIPLINAR DE ENSINO SUMARÍSSIMO (PDES)

Destina-se a apurar as transgressões de caráter escolar, previstas no respectivo


Manual do Aluno de cada atividade de ensino, possibilitando ao aluno acusado o exercício
do contraditório e da ampla defesa.

Art.136 – As autoridades competentes para instauração e


julgamento do PDES são: o Diretor de Ensino ou Comandantes dos

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Estabelecimentos de Ensino, o Diretor de Ensino Adjunto ou


Subcomandantes dos Estabelecimentos de Ensino, o Chefe da
Divisão de Formação, Aperfeiçoamento e Especialização ou Chefe da
Divisão Operacional dos Estabelecimentos de Ensino, o Coordenador
de Curso e os Comandantes de Companhia de Alunos. Neste último
caso, a competência poderá ser delegada aos Comandantes de
Pelotão de Alunos.

O PDES terá como princípios a objetividade, celeridade e simplicidade.

O processo inicia com o memorando disciplinar, que poderá originar-se de fato


observado negativo, registrado por escrito ou não, no qual a autoridade descreverá o fato e
o dispositivo violado.

No prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento do


memorando disciplinar, o acusado apresentará sua defesa por escrito.

Logo após, a autoridade disciplinar passará à produção de provas, se necessárias,


aplicando, no caso de considerar procedente a acusação, a medida de caráter educativo
prevista no Manual do Aluno (art. 140). Do julgamento não caberá recurso.

A aplicação de medida de caráter educativo decorrente de fato observado negativo


registrado em ficha própria não exclui os efeitos do registro para fins de apreciação pela
Comissão de Avaliação de Adaptabilidade.

As sanções de caráter escolar serão desconsideradas, para quaisquer fins, tão logo
encerrem-se os cursos, com a aprovação do aluno.

OBSERVAÇÕES: O conteúdo desta Apostila compreende os seguintes


ANEXOS: a) RDPM; b) DL 034/82 e c) DL 035/82 (cujo conteúdo integral deve ser
abordado e poderá ser cobrado nas avaliações).

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