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XXXII

EXAME

PROCESSO

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


PENAL
ATUALIZADO COM: INCLUI:
• Lei nº 13.769/2018 (Prisão Domiciliar) • Quadros de ATENÇÃO
APOSTILA
INTEGRADA • Lei nº 13.721/2018 (Prioridade no • Tabelas Comparativas
COM O APP! Exame de Corpo de Delito)
• Esquemas Didáticos
• Lei nº 13.718/2018 (Ação Penal nos
Crimes contra a Dignidade Sexual). • Referências a temas cobrados
em provas anteriores

OABNAMEDIDA.COM.BR
SUMÁRIO
1.  PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL
2.  LEI PROCESSUAL PENAL
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

2.1.  EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO


2.2.  LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

3.  JUIZ DAS GARANTIAS


4.  INQUÉRITO POLICIAL
4.1.  PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
4.2.  VALOR PROBANTE DO INQUÉRITO POLICIAL
4.3.  INSTAURAÇÃO E DILIGÊNCIAS NO INQUÉRITO POLICIAL

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4.4.  INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO
4.5.  PRAZOS PARA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL
4.6.  ARQUIVAMENTO E DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

5.  ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


6.  AÇÃO PENAL
6.1.  AÇÃO PENAL PÚBLICA
6.2.  AÇÃO PENAL PRIVADA
6.3.  DENÚNCIA E QUEIXA

7.  AÇÃO CIVIL EX DELITO


8.  COMPETÊNCIA
8.1.  COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA
8.2.  COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LOCAL
8.3.  COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
8.4.  COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA
8.5.  CONEXÃO E CONTINÊNCIA
8.6.  PREVENÇÃO

9.  QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES


9.1.  QUESTÕES PREJUDICIAIS
9.2.  EXCEÇÕES
9.3.  ESPÉCIES DE INCIDENTES
9.3.1  RESTITUIÇÃO DA COISA APREENDIDA
9.3.2  MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
9.3.3  INCIDENTE DE FALSIDADE
9.3.4  INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

10.  PROVA
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Alteração Legislativa Atenção Exemplo
10.1.  TEORIA GERAL
10.2.  PROVAS EM ESPÉCIE
10.2.1  EXAME DE CORPO DE DELITO
10.2.2  INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
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10.2.3  CONFISSÃO
10.2.4  PROVA TESTEMUNHAL
10.2.5  RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS
10.2.6  ACAREAÇÃO
10.2.7  DOCUMENTOS
10.2.8  INDÍCIOS
10.2.9  BUSCA E APREENSÃO

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10.3.  PROVA ILÍCITA
10.4.  CADEIA DE CUSTÓDIA

11.  PRISÃO E OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES


11.1.  PRISÃO EM FLAGRANTE
11.2.  PRISÃO PREVENTIVA
11.3.  PRISÃO TEMPORÁRIA
11.4.  REVOGAÇÃO E RELAXAMENTO DA PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA

12.  CITAÇÃO E INTIMAÇÃO


12.1.  CITAÇÃO
12.2.  INTIMAÇÃO

13.  SENTENÇA
14.  PROCEDIMENTO COMUM
14.1.  PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
14.2.  PROCEDIMENTO SUMÁRIO
14.3.  PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

15.  TRIBUNAL DO JÚRI


16.  OUTROS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
16.1.  LEI DE DROGAS
16.2.  LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO
16.3.  CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
16.4.  ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
16.5.  LEI DE LICITAÇÃO E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

17.  RECURSOS
17.1.  PRINCÍPIOS RECURSAIS
17.2.  PRESSUPOSTOS RECURSAIS
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17.3.  EFEITOS RECURSAIS

18.  RECURSOS EM ESPÉCIE


18.1.  RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
18.2.  APELAÇÃO
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18.3.  EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE


18.4.  EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
18.5.  AGRAVO EM EXECUÇÃO
18.6.  CARTA TESTEMUNHÁVEL

19.  AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO


19.1.  HABEAS CORPUS
19.2.  REVISÃO CRIMINAL

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20.  NULIDADES NO PROCESSO PENAL

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1.  PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL PARA A PROVA DA OAB


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Abaixo listamos os princípios do processo penal que são mais importantes para a prova da
OAB/FGV:

• Princípio do Juiz Natural

O princípio do juiz natural encontra assento na Constituição Federal de 1988, que prevê, em
seu art. 5, LIII, que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.

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O princípio sob análise possui dois aspectos importantes:

1) Proíbe juízo ou Tribunal de Exceção, considerado aquele criado após a ocorrência do fato,
para o julgamento de determinada(s) pessoa(s), sem prévia autorização constitucional (art.
5, XXXVII, da CF/88).

2) Assegura que apenas o Magistrado constitucionalmente competente poderá analisar o


processo. Desse modo, um juiz estadual não poderá julgar um crime da competência da
Justiça federal, e vice-versa.

• Princípio “in dubio pro reo” (favor rei)

Com base no princípio in dubio pro reo, havendo a possibilidade de duas interpretações
antagônicas no processo, deve prevalecer aquela que seja favorável ao réu, já que o direito à
liberdade do indivíduo deve preponderar sobre o direito de punir do Estado.
Como decorrência do princípio do in dubio pro reo, destacamos as seguintes regras:

• Não havendo provas suficientes, o réu será absolvido (art. 386, VI, do CPP);

• A revisão criminal existe apenas a favor do réu (art. 621 do CPP);

• É proibida a reformatio in pejus (art. 617 do CPP);

• Existem recursos exclusivos para o réu: protesto por novo júri, embargos infringentes
de nulidade, etc.

• Princípio da Verdade Real

Diferentemente do princípio da verdade formal, em que a verdade é obtida pela análise das
provas e manifestações obtidas no processo, o princípio da verdade real, ou material, pressupõe
uma postura mais ativa do magistrado, exigindo-se a busca pela verdade dos fatos, e não apenas
daquilo constante no processo.
A título de exemplo, o art. 156 do CPP dispõe que o juiz poderá de ofício determinar, no curso
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da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre
ponto relevante. Trata-se, portanto, de medida que vai ao encontro da verdade real, uma vez
que coloca à disposição do magistrado a possibilidade de realizar diligências adicionais a fim de
alcançar a verdade dos fatos, indo além daquilo já constante nos autos.
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Digno de nota que a busca pela verdade real no processo penal se justifica pelo interesse
público envolvido, de modo que a restrição à liberdade de qualquer indivíduo deve estar pautada
na comprovação fática da ilicitude, e não apenas em presunções.
Outro exemplo importante e bastante atual da incidência do princípio da verdade real
no processo penal é o artigo 4º, § 16, da Lei n. 12.850/2013, que trata das famosas delações
premiadas, estabelecendo que nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento
apenas nas declarações de agente colaborador.

• Princípio da Presunção de Inocência

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Conforme previsto no art. 5º, LVII, da CF/88, ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória.

• Princípio da Identidade Física do Juiz

De acordo com o princípio da identidade física do juiz, exige-se que a sentença seja proferida
pelo magistrado que presidiu a instrução probatória.

Há, entretanto, situações em que o princípio é excepcionado, como no caso de férias,


aposentadoria ou promoção do juiz que instruiu o processo TEMA COBRADO NO VI EXAME DA
OAB/FGV.

• Princípio da não autoincriminação

O réu tem o direito a não se incriminar, ou seja, faculta-se a possibilidade de o réu não fazer
qualquer declaração contra si mesmo, oral ou documentalmente, bem como de não se submeter
a exame ou perícia que possa produzir prova contrária à sua defesa, sem que isso importe em
confissão dos fatos. TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV

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2.  APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL


OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

2.1.  LEI PROCESSUAL NO TEMPO

No aspecto processual, vigora o princípio tempus regit actum (o tempo rege o ato), ou seja, as
normas processuais penais possuem aplicação imediata, sem efeito retroativo.
Nesse sentido, o art. 2º do CPP dispõe que “a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior” TEMA COBRADO NOS EXAMES XIX

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E XXII DA OAB/FGV.
Assim, diferentemente do direito material penal, em que a lei retroage para beneficiar o réu, na
esfera processual, a lei é aplicada imediatamente, ainda que seja desfavorável ao réu.

DIREITO PENAL DIREITO PROCESSUAL PENAL

A norma penal retroage se for mais benéfica A norma processual penal possui aplicação
ao réu, ou seja, a norma poderá ser aplicada às imediata, independentemente se gravosa ou
infrações cometidas antes de sua vigência. não ao réu.

Entretanto, consideram-se exceções à aplicação imediata da norma processual as denominas


normas heterotópicas e as normas híbridas.

Normas Heterotópicas: consideradas aquelas que estão no código de processo penal, mas
possuem conteúdo de direito material. Assim, apesar de previstas no diploma processual penal,
por possuírem conteúdo material, as normas heterotópicas poderão retroagir para beneficiar o
réu, como no caso das normas processuais relacionadas ao direito ao silêncio.

Normas Mistas: norma mista ou híbrida é aquela que possui aspecto processual e material.

A Lei n. 9.099/95 modificou a espécie de ação penal para os crimes de lesão corporal leve e
culposa, que passaram a ser de ação penal pública condicionada à representação. A alteração,
além de repercutir na seara processual, repercutiu também na esfera do direito material, já que
passou a existir mais uma causa de extinção de punibilidade, qual seja, a decadência. Sendo assim,
por se tratar de norma híbrida (matéria penal e processual), a eficácia no tempo da norma deverá
obedecer ao regramento do art. 5º, XL, da CF/88 e do art. 2º, parágrafo único, do CP, retroagindo
porque mais benéfica EXEMPLO COBRADO NO VI EXAME DA OAB/FGV.

2.2.  LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO

No aspecto processual penal vigora o princípio da territorialidade, de modo que as normas


processuais penais são aplicadas apenas aos fatos ocorridos no território brasileiro.
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Em um processo em que se apura a prática dos delitos de supressão de tributo e evasão de
divisas, um Juiz Federal determina a expedição de carta rogatória para os Estados Unidos, a
fim de que seja interrogado o réu Mário. Nesse caso, o interrogatório de Mário nos EUA deverá
obedecer as regras previstas na legislação norte-americana EXEMPLO COBRADO NO XI
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EXAME DA OAB/FGV

Assim, diferentemente do que ocorre no direito material, em que se permite a extraterritorialidade


das normas penais (art. 7 do CP), as normas processuais são aplicadas apenas aos fatos ocorridos
no Brasil.

DIREITO PENAL PROCESSO PENAL

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Admite a extraterritorialidade Vigora apenas o princípio da territorialidade

Ressalta-se, entretanto, que o art. 1º do CPP excepciona a aplicação das normas do código de
processo penal nos seguintes casos:

I - Tratados, Convenções e regras de direito internacional;

II - As prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de


Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (as prerrogativas por função
possuem regramento próprio na Constituição Federal e em leis específicas);

III - Os processos da competência da Justiça Militar (aplica-se o Código Penal Militar);

IV - Os processos da competência do tribunal especial;

V - Os processos por crimes de imprensa.

Com relação ao inciso V, este perdeu qualquer sentido, uma vez que o STF entendeu que a Lei
n. 5250/67 (Lei de Imprensa) é inconstitucional (ADPF 130)

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3.  JUIZ DAS GARANTIAS


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A Lei nº 13.964/19 incluiu os artigos 3º-A e seguintes no CPP, prevendo a figura do “juiz das
garantias”.

‘Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase
de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.’

‘Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação
criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada

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à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente:

I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art.
5º da Constituição Federal;

II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão,


observado o disposto no art. 310 deste Código;

III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja
conduzido à sua presença, a qualquer tempo;

IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal;

V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar,


observado o disposto no § 1º deste artigo;

VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las


ou revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência
pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial pertinente;

VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas


urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência
pública e oral;

VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista


das razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste
artigo;

IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento


razoável para sua instauração ou prosseguimento;

X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o


andamento da investigação;

XI - decidir sobre os requerimentos de:

a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e


telemática ou de outras formas de comunicação;

b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico;

c) busca e apreensão domiciliar;


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d) acesso a informações sigilosas;

e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do


investigado;

XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia;


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XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental;

XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste
Código;

XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao


investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas
produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne, estritamente, às
diligências em andamento;

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XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da
perícia;

XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de


colaboração premiada, quando formalizados durante a investigação;

XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo.

§ 1º (VETADO).

§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação


da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração
do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for
concluída, a prisão será imediatamente relaxada.’

Houve, portanto, uma mudança substancial no processo penal, estabelecendo-se a atuação


de um juiz na fase de investigação e de outro juiz na fase processual propriamente dita. Desse
modo, passou-se a prever a figura do juiz das garantias, que vai atuar exclusivamente na fase de
investigação, decidindo, por exemplo, sobre interceptação telefônica, prisão temporária/preventiva,
audiência de custódia, legalidade do flagrante, etc., ficando esse juiz das garantias impossibilitado
de participar na fase processual.

O juiz das garantias fica, portanto, responsável pelo controle da legalidade da investigação
criminal, competindo-lhe decidir sobre todas as matérias elencadas no novo art. 3º-B do CPP

‘Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto
as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na
forma do art. 399 deste Código.

§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da


instrução e julgamento.

§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução
e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a
necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias.

§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão


acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e
não serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e julgamento,
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ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de
provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em
apartado.

§ 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do


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juízo das garantias.’

O juiz das garantias não atua nos crimes de menor potencial ofensivo. Além disso, nos demais
crimes, deverá atuar apenas na fase de investigação, o que compreende o período entre a notitia
criminis (prisão em flagrante ou portaria de instauração da investigação pelo delegado de polícia)
até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime.

Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e
julgamento, que irá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo
de 10 (dez) dias, não ficando vinculado às decisões proferidas pelo juiz das garantias.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


‘Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas
competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo.

Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão
um sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo.’

‘Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização
judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a
serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal.’

‘Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o
tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com
órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena
de responsabilidade civil, administrativa e penal.

Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 180


(cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e a
identidade do preso serão, de modo padronizado e respeitada a programação normativa
aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, assegurados a efetividade da
persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida à prisão.’”

O Ministro Luiz Fux, no dia 22 de janeiro de 2019, revendo decisão proferida anteriormente pelo
Ministro Dias Toffoli, determinou a suspensão da implementação do juiz das garantias e das regras
correlatas, sem prazo determinado, até que haja decisão do plenário do STF, sob fundamento de
que a implementação do juiz das garantias afetaria a organização do Poder Judiciário, motivo pelo
qual deveria ter sido regulamentada por lei de iniciativa do Poder Judiciário, além do que a lei foi
aprovada sem a previsão do impacto orçamentário necessário para a reorganização do processo
penal, que passaria a contar com a presença de dois juízes (juiz das garantias e juiz da instrução
e julgamento).

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4.  INQUÉRITO POLICIAL


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4.1.  PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Inquérito policial é procedimento administrativo de investigação, instaurado pela autoridade


policial (Delegado de Polícia), por meio do qual são realizados atos investigatórios para apurar a
autoria e a materialidade de infrações penais, com o objetivo de fornecer elementos suficientes
para a propositura da ação penal.

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O conceito de infração penal abrange tanto contravenção penal quanto os crimes.
Entretanto, para as infrações de menor potencial ofensivo, não caberá instauração de
inquérito policial, mas sim a lavratura de termo circunstanciado, conforme art. 69 da Lei
n. 9.099/95. TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV.

As investigações de infrações penais, portanto, são normalmente realizadas pelo Delegado de


Polícia, por meio de inquérito policial.

No entanto, há situações excepcionadas por lei em que não cabe ao Delegado de Polícia
promover as investigações, a saber:

• Crime militar: a investigação cabe à própria polícia militar, por meio inquérito policial
militar;

• Crime praticado por membro do poder judiciário: a investigação cabe a um desembargador


do órgão especial ou do pleno do tribunal a que estiver vinculado o juiz (art. 33, parágrafo
único, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional);

• Crime praticado por membro do Ministério Público: a investigação deve ser conduzida pelo
respectivo Procurador geral de Justiça, quando o autor do delito for promotor de justiça,
ou pelo membro do MP designado pelo PGR, se a infração for cometida por membro do
Ministério Público da União (art. 41, parágrafo único, da Lei n. 8625/93 e art. 18, parágrafo
único, da LC n.75/93).

Vejamos abaixo as principais características do Inquérito policial:

Escrito: todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito,
conforme art. 9 do CPP.

Dispensável: ainda que se trate de crime de ação penal pública incondicionada, o inquérito
policial é dispensável quando o Ministério Público dispõe de elementos informativos idôneos para
embasar a denúncia. Em outras palavras, o inquérito policial não é obrigatório para a propositura
da ação penal.
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Oficiosidade: tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, o delegado de polícia
deve instaurar o inquérito policial de ofício, ou seja, independentemente de requerimento;

Indisponibilidade: a autoridade policial não pode dispor do Inquérito Policial, já que o seu
arquivamento depende de pedido feito pelo Ministério Público à autoridade judicial, conforme art.
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17 do CPP.

Inquisitivo: o inquérito policial é procedimento inquisitivo, não havendo contraditório e


ampla defesa, já que a atividade de investigação se concentra na figura do delegado de polícia,
que determina, de forma discricionária, a oportunidade e a conveniência das diligências a serem
realizadas, conforme disposto no art. 14 do CPP:

Art. 14 do CPP. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer


qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Quando se tratar de diligência requisitada pelo juiz ou membro do Ministério Público, não
haverá discricionariedade por parte do Delegado de Polícia, uma vez que ele deverá atender
a requisição (art. 13, II, do CPP). Outro ponto interessante sobre a inquisitoriedade é que o art.
107 do CPP estabelece que “não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do
inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal”.

Importante destacar, no entanto, que houve a inserção do art. 14-A no CPP, exigindo-se
a participação de defensor nas investigações criminais que envolvam membros de segurança
pública ou das forças armadas que estejam sendo acusado de prática de conduta com caráter
letal, na forma tentada ou consumada.

De acordo com o novo artigo, havendo investigação criminal por uso de força letal, consumada
ou tentada, mesmo em hipótese de excludente de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade,
estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito) o investigado deverá ser citado
da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48
(quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação.

Sigiloso: de acordo com o caput do art. 20 do CPP, cabe à autoridade policial assegurar no
inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Além disso,
o seu parágrafo único estabelece que nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados,
a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de
inquérito contra os requerentes.

O sigilo não é oponível ao advogado, já que a Lei n. 13.245/2016 deu nova redação ao inciso
XIV do art. 7º do EAOAB, estabelecendo que é direito do advogado examinar, em qualquer
instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante
e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital.

Além disso, a Súmula Vinculante n. 14 do STF estabelece que “é direito do defensor, no


interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa” TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.
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4.2.  VALOR PROBANTE DO INQUÉRITO POLICIAL

Levando-se em consideração que o inquérito policial possui natureza inquisitória, as provas


colhidas durante sua instrução possuem caráter relativo, devendo ser confirmadas em juízo, já que
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foram produzidas sem a observância do contraditório, da ampla defesa e sem a presença do juiz.

Entretanto, como exceção à regra geral, as provas cautelares não repetíveis e antecipadas
(uma perícia realizada na cena do crime, por exemplo), não precisam ser repetidas em juízo,
conforme disposto no art. 155 do CPP.

Art. 155 do CPP. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


4.3.  INSTAURAÇÃO E DILIGÊNCIAS NO INQUÉRITO POLICIAL

A instauração do inquérito policial ocorre a partir do momento em que a autoridade policial


toma conhecimento de fato que caracteriza infração penal (notitia criminis), mas varia de acordo
com a espécie de ação penal prevista para o crime praticado. Vejamos:

Crime que se processa mediante ação penal pública incondicionada (APPI): o inquérito pode
ser instaurado de ofício pelo Delegado de Polícia, a partir de requisição do Ministério Púbico, de
Requerimento do ofendido ou seu representante legal, em razão de auto de prisão em flagrante,
ou ainda por meio de comunicação feita por qualquer um do povo (delatio criminis), conforme 5°,
§3°, do CPP.

Crime que se processa mediante ação penal pública condicionada (APPC): o inquérito
somente poderá ser instaurado por meio de representação do ofendido ou representante legal ou
de requisição do ministro da justiça, conforme art. 5°, §4°, do CPP.

Crime que se processa mediante ação penal privada (APPrivada): o inquérito somente poderá
ser instaurado se houver requerimento do ofendido ou seu representante legal, conforme art. 5°,
§5°, do CPP. Art.

No caso de indeferimento de instauração de Inquérito Policial, o interessado poderá recorrer


para o Chefe de Polícia, conforme previsto no §2° do 5°do CPP.

A autoridade policial possui ampla liberdade na condução das investigações, podendo adotar
uma série de diligências para verificar a autoridade e materialidade do ato delituoso, principalmente
aquelas elencadas no art. 6° do CPP, a saber:

Art. 6º do CPP - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade
policial deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação


das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
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criminais;

III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;

IV - ouvir o ofendido;
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V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do
Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas
que Ihe tenham ouvido a leitura;

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer
outras perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e

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fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e


social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime
e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter.

X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem


alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos
filhos, indicado pela pessoa presa.

Ainda no campo de instrução do inquérito policial, o Delegado de Polícia, para verificar


a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, poderá proceder à
reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública,
conforme art. 7 º do CPP TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV.

É importante consignar ainda que a autoridade policial age com poder discricionário na
determinação das diligências a serem realizadas, salvo a prova pericial de exame de corpo de
delito, que é obrigatória e não facultativa.

4.4.  INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO

O art. 21 do CPP prevê a possibilidade de o indiciado ficar incomunicável:

Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos


e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da
investigação o exigir.

Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada
por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão
do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso
III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (atual art. 7, III, do EAOAB).

É importante consignar a existência de corrente doutrinária que defende a não recepção do


art. 21 do CPP, uma vez que, se o art. 136, §3º, IV, da CF/88 veda a incomunicabilidade do preso no
estado de defesa, que é considerada uma situação excepcional, com maior razão, não se poderia
admitir a incomunicabilidade do indiciado. 15
No entanto, para a prova da OAB/FGV, mesmo que se considere a possiblidade de
incomunicabilidade do indiciado, por se tratar de medida bastante rigorosa, deve-se atentar para
as seguintes regras:

• A incomunicabilidade depende decisão judicial, a pedido do Delegado de Polícia ou


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do Ministério Público (não pode ser decretada de ofício pela autoridade policial).

• Não pode exceder o prazo de 3 dias.

• Não se aplica ao Juiz, ao Ministério Público e ao advogado.

O art. 7, III, do EAOAB, assegura expressamente ao advogado o direito de sempre se comunicar


com o seu cliente, mesmo quando ele seja considerado incomunicável.

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4.5.  PRAZOS PARA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

Os prazos para conclusão do inquérito policial podem variar de acordo com a situação do
investigado (se preso ou solto), com a Justiça Competente para julgar o crime e com o tipo de
crime praticado, conforme abaixo resumido.

Justiça Estadual – O inquérito policial deve ser concluído no prazo de 10 dias, se o investigado estiver
preso, sendo vedada a prorrogação, ou 30 dias, se o investigado estiver solto, permitindo-se prorrogação.

Justiça Federal - O inquérito policial deve ser concluído no prazo de 15 dias, prorrogáveis por
mais 15 dias, se o investigado estiver preso, ou 30 dias, se estiver solto, permitindo-se a prorrogação.

Crimes previstos na Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas) - O inquérito policial deve ser concluído
no prazo de 30 dias, se o investigado estiver preso, ou 90 dias, se estiver solto, admitindo-se em
ambas as hipóteses uma única prorrogação (art. 51 da Lei n. 11.343/2006).

Crimes contra a economia popular - O inquérito policial deve ser concluído no prazo de 10
dias, estando o investigado preso ou solto (art. 10°, §1°, da Lei n. 1.521/51)

4.6.  ARQUIVAMENTO E DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

A autoridade policial, ainda que convencida da inexistência do crime, não poderá mandar
arquivar os autos do inquérito já instaurado (art. 17 do CPP), devendo encaminhá-lo ao Ministério
Público TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

Munido das informações juntadas no inquérito policial, o membro do Ministério Público poderá
adotar uma das seguintes medidas:

a) Requerer a devolução do inquérito policial, requisitando novas diligências imprescindíveis


ao delegado de polícia, se entender que não há elementos suficientes para a propositura da
ação penal. Neste caso, o delegado tem o dever de cumprir a requisição do membro do
Ministério Público.

b) Oferecer a denúncia, quando o inquérito policial contiver elementos suficientes para


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caracterizar a autoria e materialidade do crime.

c) Deveria requerer, de acordo com a redação original do art. 28 do CPP (antes do pacote
anticrime), o arquivamento do inquérito policial ao juiz nas seguintes hipóteses: atipicidade,
extinção da punibilidade, excludentes de ilicitude e de culpabilidade, ou ausência de provas
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TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV.

O membro do Ministério Público, antes do pacote anticrime, requeria o arquivamento ao juiz.

Concordando com os fundamentos apresentados pelo Ministério Público, o juiz determinava o


arquivamento do inquérito policial, que não poderia ser desarquivado, salvo em situações excepcionais,
como na hipótese de o arquivamento ter sido baseado na ausência de provas (justa causa) e posteriormente

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surgirem novas provas contra o indiciado TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV.

• Se o fundamento para o arquivamento do Inquérito Policial fosse a ausência de provas,


a decisão judicial não transitava materialmente em julgado, de modo que seria possível o
desarquivamento do inquérito policial para a apuração de novas provas, conforme art. 18 do
CPP e Súmula n. 524 do STF. TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV.

• Se o arquivamento do inquérito policial estivesse pautado na atipicidade do fato, na extinção da


punibilidade ou ausência culpabilidade, a decisão faria coisa julgada material e formal, sendo vedado
o desarquivamento do inquérito policial TEMA COBRADO NO XXI EXAME DA OAB/FGV

• Já no que diz respeito ao arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude,


havia divergência jurisprudencial a respeito do tema, sendo que, em decisão de 2017, o STF
(HC 87395/PR), divergindo do atual posicionamento do STJ, entendeu que era possível a
reabertura do inquérito policial arquivado com fundamento em excludente de ilicitude.

A decisão que determinava o arquivamento do inquérito policial era irrecorrível, salvo quando
se tratava de crime contra a economia popular (Lei n. 1.521/51) ou das contravenções penais
previstas nos artigos 58 e 60 do Decreto –Lei n. 6.259/44.

Por outro lado, se o juiz não concordasse com o pedido de arquivamento feito pelo Ministério
Público, o magistrado faria remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral,
e este ofereceria a denúncia, designaria outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou
insistiria no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender (art. 28 do
CPP).

Ocorre que a Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) alterou substancialmente o art. 28 do CPP,
determinando que o pedido de arquivamento do inquérito civil ou da peça de informação não deve
mais ser encaminhado ao juiz de direito, mas sim ao órgão de revisão do próprio Ministério Público.

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Vejamos a nova redação do art. 28 do CPP, alterada pela Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime):
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Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos


informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao
investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão
ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)

§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do


inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação,
submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme
dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e
Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela
chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

A Lei 13.964/19, portanto, mudou totalmente o art. 28 do CPP. Agora, se o Ministério Público
entender que é caso de arquivamento do inquérito policial ou peça informativa, deverá comunicar à
vítima, ao investigado e à autoridade policial, encaminhando os autos para a instância de revisão
ministerial (Procurador Geral de Justiça, no MPE, ou Câmara de Coordenação e Revisão, no MPF)
para fins de homologação, na forma da lei.

Além disso, de acordo § 1º do art. 28, se a vítima, ou seu representante legal, não concordar
com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da
comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme
dispuser a respectiva lei orgânica.

Já o novo § 2º dispões que “nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da
União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada
pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial”. (Procurador Geral do Município,
Procurador do Estado e Advogado Geral da União, que designarão membros para desempenhar
essa atribuição).

MUITO IMPORTANTE: o Ministro Luiz Fux determinou a suspensão da aplicação do novo


art. 28 do CPP por prazo indeterminado, porque também entendeu que haveria um impacto na
estrutura do MP em relação aos órgãos de revisão, o que exigira também dotação orçamentária.
Sendo assim, até que haja nova decisão do STF, deve-se continuar aplicando a regra original do
art. 28 do CPP, anteriormente explicada.

18
5

5.  ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


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Considera-se acordo de não persecução penal o negócio jurídico firmado pelo Ministério
Públicio com o investigado, para que não haja o oferecimento da denúncia, desde que seja admitida
a prática da infração penal e que o investigado cumpra as condições fixadas no acordo.

Com a Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime), o acordo de não persecução penal passou a ter
expressa previsão no art. 28-A do CPP.

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De acordo com o novo artigo, são requisitos para o acordo de não persecução penal:

a) Não deve ser caso de arquivamento (MP entende que é caso de denúncia)

b) Confissão formal e circunstancialmente (o investigado precisa trazer


elementos que convençam o MP a respeito da prática do crime)

c) Infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior
a 4 anos.

Por outro lado, o § 2º do art. 28 do CPP prevê hipóteses em que o acordo de não persecução
penal não pode ser aplicado:

I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais


Criminais, nos termos da lei;

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios


que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais pretéritas;

III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento
da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão
condicional do processo; e

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou


praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor
do agressor.

Caso seja possível o seu oferecimento, o acordo de não persecução deverá prever as seguintes
condições, ajustadas cumulativa e alternativamente:

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de


fazê-lo;

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II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público
como instrumentos, produto ou proveito do crime;

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período


correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois
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terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do


Código Penal;

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código


Penal, a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da
execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos
iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério

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Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

Além disso, de acordo com o § 3º, o acordo de não persecução penal será formalizado por
escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.

Já o § 4º dispõe que, para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada
audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na
presença do seu defensor, e sua legalidade.

Notem, portanto, que a presença do advogado é indispensável na celebração do acordo, bem


como na audiência judicial realizada para sua homologação. Essa informação provalmente será
explorada nas próximas provas da OAB!

De acordo com o § 12, a celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não
constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do §
2º deste artigo. Desse modo, o acordo não implica em reincidência, mas deve constar em registro
para fins de observância do prazo de 5 anos, tempo necessário para concessão de um novo acordo
de não persecução penal.

Por fim, registra-se que, se o membro do Ministério Público não concordar com o acordo de
não persecução penal, embora presentes os requisitos para tanto, permite-se o encaminhamento
para o órgão de revisão do MP, com a aplicação das mesmas regras do art. 28 do CPP, que, por
enquanto, está com aplicação suspensa por decisão do STF.

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6.  AÇÃO PENAL


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Para que haja punição de qualquer indivíduo na esfera penal, exige-se que o acusado tenha o
direito ao contraditório e à ampla defesa, assegurado em devido processo legal, que será instaurado
mediante a propositura da ação penal.

No Brasil, a ação penal é classificada de acordo com o seu titular, ou seja, conforme aquele que
possui legitimidade para propô-la, podendo ser de inciativa público ou privada.

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6.1.  AÇÃO PENAL PÚBLICA

Considerada a regra geral no nosso ordenamento jurídico, a Ação penal pública é aquela
promovida exclusivamente pelo Ministério Público, sendo regida pelos seguintes princípios:

Princípio da obrigatoriedade (legalidade): em razão do interesse público, havendo indícios


da materialidade e autoria do crime, o Ministério Público é obrigado a propor a ação penal. Como
exceção a esse princípio, o art. 76 da Lei n. 9.099/95 prevê, para os crimes de menor potencial
ofensivo, o instituto da transação penal, que permite ao membro do Ministério Púbico, antes de
oferecida a denúncia, garantir ao suposto infrator a oportunidade de lhe ser aplicada de imediato
pena não privativa de liberdade, sem que esse seja considerado culpado.

Princípio da Oficialidade: cabe a um órgão oficial (Ministério Público) promover, privativamente,


a ação penal pública. A exceção a esse princípio é a ação privada subsidiária da pública, em que se
permite que um particular promova a ação penal quando o Ministério Público deixar de fazê-lo no
prazo legal. A ação penal pública é subdivida em incondicionada e condicionada.

Princípio da Indisponibilidade: o Ministério Púbico não pode desistir da ação após oferecida
a denúncia (art. 42 do CPP), nem desistir do recurso por ele interposto, conforme art. 576 do CPP
TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV.

Exceção ao princípio da indisponibilidade é a suspensão condicional do processo, previsto no


art. 89 da Lei n. 9.099/95, mediante o qual, nas infrações com pena mínima em abstrato até 1
(um) ano, permite-se a suspensão do processo por 2 (dois) a 4 (anos), sendo que, cumpridas as
exigências impostas durante a suspensão, haverá extinção da punibilidade.

Princípio da Indivisibilidade: havendo indícios de autoria ou participação, a ação penal deve ser
proposta em face de todos os envolvidos no crime (autores e partícipes), não podendo o Ministério
Público deixar de denunciar nenhum dos envolvidos propositalmente.

Princípio da Intransmissibilidade (ou Intranscendência): a ação penal deve ser proposta em face
daqueles que cometeram o crime, não podendo atingir terceiros não envolvidos no fato delituoso, já
que a responsabilidade penal é pessoal e não pode ser transmitida a terceiro. Com efeito, da mesma
forma que a pena não pode passar da pessoa do condenado (art. 5, XLV, da CF/88), a ação penal
também não pode ser transmitida para terceiro que não estava envolvido no crime.

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• AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA

O oferecimento da denúncia fica a critério unicamente do Ministério Público, não dependendo


da manifestação de vontade de terceiro.
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Como regra geral, para identificar se o crime é de ação penal pública incondicionada, o texto
legal não faz qualquer referência sobre a necessidade de representação, ou seja, permanece em
silêncio sobre o tema.

São exemplos de crimes que se procedem mediante ação penal pública incondicionada:
homicídio (art. 121 do CP), infanticídio (art. 123 do CP), furto (art. 155 do CP), estelionato (art. art.
171 do CP) e lesão corporal grave/gravíssima TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV.

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LESÃO CORPORAL GRAVE LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA

Considera-se lesão corporal grave se Será lesão gravíssima quando resulta: I -


resulta: I - Incapacidade para as ocupações Incapacidade permanente para o trabalho;
habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de II - enfermidade incurável; III - perda ou
vida; III - debilidade permanente de membro, inutilização do membro, sentido ou função,
sentido ou função; IV - aceleração de parto. IV - deformidade permanente; V - aborto:

O art. 88 da Lei n. 9.099/95 prevê que os crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa
são crimes de ação penal pública condicionada, isto é, dependem de representação. No entanto,
em se tratando de violência praticada contra a mulher no âmbito doméstico, esses crimes serão
de ação penal pública incondicionada, uma vez que o art. 41 da Lei Maria da Penha dispõe que
“aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente
da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995”. Assim, qualquer
lesão corporal praticada em face da mulher no âmbito doméstico será processada mediante
ação penal pública incondicionada TEMA COBRADO NOS EXAMES XIII E XXIII DA OAB/FGV.

A Lei n. 13.718/18 alterou o art. 225 do CP, dispondo que todos os crimes contra a dignidade
sexual passaram a ser de ação pública incondicionada

• AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

O oferecimento da denúncia depende da manifestação da vontade alheia, que pode ser a


representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, sendo que a subordinação da
ação penal ao interesse do ofendido ocorre principalmente como forma de se proteger a intimidade
do ofendido ou de sua família.

Para identificar se o crime será processado mediante ação penal pública condicionada, o texto
legal utiliza a expressão “somente se procede mediante representação”, como no caso do crime
de ameaça (art. 147 do CP) e de furto de coisa comum (art. 156 do CP), ou “mediante requisição
do Ministro da Justiça”, quando se tratar, por exemplo, de crime contra a honra do Presidente da
República (art. 145, parágrafo único, do CP).
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A representação, portanto, é a manifestação de vontade do ofendido, ou de seu representante
legal, demonstrando sua anuência para que o infrator seja penalmente responsabilizado.
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A principal diferença entre a representação da vítima e a requisição do Ministro da Justiça é que


esta não se sujeita ao prazo decadencial de 6 meses, conforme será visto adiante.

A representação deve ser formulada pela própria vítima e dirigida à autoridade policial ou
membro do Ministério Público, salvo quando se tratar de menor de 18 (dezoito) anos, mentalmente
enfermo, ou retardado mental, quando a representação deverá ser formulada pelo seu representante
legal (art. 24 do CPP).

Não havendo representante legal, ou se os interesses desse colidirem com o da vítima, o juiz

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nomeará curador especial, que decidirá sobre a necessidade e conveniência da representação (art.
33 do CPP).

Já no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito
de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 24, § 1º, do CPP),
tratando-se de rol taxativo e devendo-se observar a ordem de preferência.

Ainda sobre a representação é importante destacar as seguintes regras:

Prazo: o prazo pra a representação é de 6 meses, a partir do momento em que a vítima tem
conhecimento da autoria do fato (art. 38 do CPP). Trata-se de prazo decadencial que, uma vez
esgotado, acarretará a extinção da punibilidade (art. 107, IV, do CP).

A requisição do Ministro da Justiça não se sujeita ao prazo decadencial de 6 meses.

Retratação: a vítima pode se arrepender, ou seja, se retratar até o oferecimento da denúncia,


conforme art. 25 do CPP TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV. Prevalece ainda que é
possível a retratação da retratação.

6.2.  AÇÃO PENAL PRIVADA

Na ação penal privada apenas o particular possui legitimidade para propor a ação penal,
mediante queixa-crime.

Enquanto a petição inicial na ação penal pública é a denúncia, na ação penal privada a petição
recebe o nome de queixa-crime.

O legislador reservou a iniciativa na ação penal privada apenas ao particular porque, em


algumas situações, as consequências de uma ação penal podem ser piores para a vítima do que
propriamente a infração penal sofrida, como no caso dos crimes contra a honra subjetiva (injúria,
23
por exemplo), em que a instauração do processo penal pode dar uma repercussão ainda maior as
ofensas sofridas, cabendo à vítima avaliar se vale a pena ou não oferecer a queixa crime.

Para identificar se o crime é processado mediante ação penal privada, o legislador se vale
normalmente da expressão “somente se procede mediante queixa”.
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Vejamos abaixo os princípios aplicáveis à ação penal privada:

Princípio da oportunidade ou conveniência: cabe ao ofendido avaliar se pretende ou não


propor a ação penal privada, podendo renunciar ao direito de queixa ou simplesmente permanecer
inerte pelo prazo decadencial de 6 (seis) meses, sendo que, em ambos os casos, haverá extinção
da punibilidade do fato TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.

Princípio da Disponibilidade: o ofendido pode desistir da ação penal proposta, mediante perdão,
que depende da aceitação do querelado, ou ainda por meio da perempção, quando o querelante

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deixa de dar seguimento à ação penal nos casos previstos no art. 60 do CPP.

• A renúncia pode ser expressa ou tácita (arts. 50 e 57 do CP)

• A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá
(art. 49 do CPP) e o perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia,
efeito em relação ao que o recusar. TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV

• A perempção acarreta a perda do direito de prosseguir na ação penal privada, com a extinção da
punibilidade do réu nos seguintes casos: I – quando o querelante deixar de promover o andamento do
processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade,
não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer
das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do CPP, III - quando o querelante
deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente,
ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais TEMA COBRADO NOS
EXAMES XIII E XX DA OAB/FGV; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir
sem deixar sucessor.

• Na ação penal privada subsidiária da pública não se aplica o disposto no art. 60 do CCP (perempção),
uma vez que o Ministério Público irá reassumir a titularidade a ação.

Princípio da Indivisibilidade: a ação penal privada deve ser proposta em face de todos os
envolvidos no crime (autores e partícipes), não podendo o ofendido escolher contra quem irá
propor a ação. Além disso, após o oferecimento da queixa-crime, não pode o querelante desistir
da ação em relação a apenas um dos réus TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.

Princípio da Intransmissibilidade (ou Intranscendência): a ação penal privada não pode atingir
terceiros não envolvidos no fato delituoso, já que a responsabilidade penal é pessoal.

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A Ação Penal Privada subdivide-se nas seguintes espécies:

• Ação penal privada propriamente dita:


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É a ação penal privada típica, que pode ser promovida pelo ofendido ou por seu representante
legal, e que se admite a transferência da titularidade da ação para o cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão, em caso de morte ou ausência do ofendido.

• Ação penal privada personalíssima:

Apenas o ofendido pode promover a ação penal, não se admitindo a sucessão processual, nem
mesmo a possibilidade de o representante da vítima oferecer a queixa-crime. Assim, em caso de
morte do ofendido, haverá obrigatoriamente a extinção do processo. O único crime de ação penal
privada personalíssima é o previsto no art. 236 do CP:

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Art. 236 do CP - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente,
ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena — detenção, de
seis meses a dois anos.

• Ação penal privada subsidiária da pública:

Nos crimes de ação penal pública, havendo inércia por parte do Ministério Público para
oferecimento da denúncia no prazo legal, o ofendido poderá ingressar com a ação penal.

Apenas no caso de inércia do Ministério Público é que se permite a ação penal privada
subsidiária da Pública. Se o Promotor de Justiça deixar de oferecer a denúncia porque
requereu o arquivamento do inquérito policial, a ação penal privada subsidiária da pública não
será cabível TEMA COBRADO NOS EXAMES VI E XVII DA OAB/FGV;

Destaca-se ainda que, de acordo com o art. 29 do CPP, proposta a ação penal subsidiária da
pública, o Ministério Público poderá aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo
tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

6.3.  DENÚNCIA E QUEIXA

A denúncia e a queixa devem observar os requisitos previstos no art. 41 do CPP, sob pena de
serem consideradas ineptas e, como consequência, rejeitadas pelo juiz.

Art. 41 do CPP. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas
as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

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Se a denúncia ou queixa trouxerem a classificação equivocada do crime, isso não é motivo
para a rejeição da peça inaugural, uma vez que, no processo penal, o acusado se defende dos
fatos a ele imputados. Além disso, conforme será estudado em capítulo próprio, se houver
classificação equivocada do crime, permite-se a mutatio libelli e a emendatio libelli.
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No caso da queixa-crime, há ainda um requisito específico previsto no art. 44 do CPP, que exige
que o advogado tenha procuração com poderes especiais, devendo conter o nome do querelante
e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que
devem ser previamente requeridas no juízo criminal TEMA COBRADO NO XXVII EXAME DA OAB/FGV

Destaca-se ainda que, como regra geral, a denúncia deve ser oferecida pelo Ministério Público,
estando o réu preso, no prazo de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público
recebeu os autos do inquérito policial, a peça de informação ou a representação, e no prazo de 15

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dias, se o réu estiver solto ou afiançado (art. 46 do CPP).

Registra-se que na Lei de Drogas o prazo para oferecimento da denúncia sempre será de 10
dias, (estando o réu preso ou solto), e na Lei de Abuso de Autoridade o prazo será de 48h (estando
o réu preso ou solto).

Caso a denúncia não seja oferecida no prazo legal, o réu preso poderá impetrar habeas corpus
(art. 648, II, do CPP) e a vítima poderá ingressar com a ação penal privada subsidiária da pública
(art. 29 do CPP).

PRAZO PARA A DENÚNCIA PRAZO PARA A QUEIXA CRIME

• Justiça comum (art. 46 do CPP): 5 dias (réu • Ação Penal Privada – 6 meses do
preso) e 15 dias (réu solto) conhecimento da autoria do crime.

• Lei de Drogas (art. 54): 10 dias, réu preso ou solto. • Ação Penal Privada Personalíssima – 6
meses contados do trânsito em julgado da
sentença que reconheceu o impedimento
• Lei de Abuso de Autoridade (art. 13 da Lei n. do casamento (art. 236 do CP)
4.898/65): 48 h, réu preso ou solto.

• Ação Penal Privada Subsidiária da


Os prazos para oferecimento da denúncia são Pública – 6 meses contados da perda
impróprios, ou seja, ainda que não cumpridos do prazo de oferecimento da denúncia
permitem que o Ministério Público ofereça pelo Ministério Público. Se o ofendido
posteriormente a denúncia, desde que respeitado o permanecer inerte nesse prazo, o MP
prazo prescricional. No entanto, o não oferecimento poderá ainda oferecer denúncia, desde o
na denúncia no prazo legal permitirá ao réu preso crime não esteja prescrito.
impetrar habeas corpus e ao ofendido ingressar
com ação penal subsidiária da pública.
Os prazos acima são decadenciais e, se
não observados, acarretam a extinção da
punibilidade.

26
7

7.  AÇÃO CIVIL EX DELITO


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São comuns os crimes que acarretam repercussões na esfera civil, porque causam danos,
morais ou materiais, para a vítima.

A título de exemplo, a pessoa que teve seu carro propositalmente apedrejado por terceiro
sofreu crime de dano (art. 163 do CP), mas além da ação penal privada na esfera penal, poderá
pleitear, na esfera civil, a reparação dos danos materiais em razão da deterioração do seu veículo.

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Justamente nesses casos em que o crime possui repercussão na esfera civil é que se destaca
a ação civil ex delito, ajuizada pela vítima do crime para obter reparação dos danos sofridos em
razão da infração penal.

Prevendo essa possibilidade de a vítima ingressar com a ação na esfera civil para ter os danos
advindos do crime ressarcidos, o art. 387, IV, do CPP determina que o juiz, ao proferir sentença
condenatória, deverá fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.

Assim, como a sentença condenatória penal, após o seu trânsito em julgado, faz coisa julgada
material na esfera civil, a vítima do crime, seu representante legal ou seus herdeiros, poderão executar
diretamente o valor fixado na sentença penal na esfera civil (art. 63 do CPP), sem a necessidade de
se rediscutir os fatos que caracterizaram o crime TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV

Na hipótese da vítima do crime ter ajuizado ação de reparação de danos antes do trânsito em
julgado da decisão penal, o processo civil poderá ficar suspenso, por até um ano, até que a decisão
penal transite em julgado (art. 313, V, “a” e § 4º do CPC/2015).

Desse modo, apesar da independência entre as esferas civil e criminal, há situações que a
decisão penal fará coisa julgada no processo civil, vendando-se a rediscussão dos fatos:

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SENTENÇA CRIMINAL QUE FAZ SENTENÇA CRIMINAL QUE NÃO
COISA JULGADA NA ESFERA CIVIL FAZ COISA JULGADA NA ESFERA
CIVIL
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• Sentença condenatória (art. 63, caput, do • Sentença absolutória que não


CPP) – a vítima será indenizada na esfera civil. reconhecer categoricamente a inexistência
material do fato (ausência de provas).
• Sentença absolutória que reconhece a
inexistência do fato (art. 66 do CPP) – a vítima • De acordo como art. 67 do CPP, não impedirão
não será indenizada na esfera civil. igualmente a propositura da ação civil:

• Sentença penal absolutória que reconhecer I - o despacho de arquivamento do


ter sido o ato praticado em estado de inquérito ou das peças de informação;

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necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento de dever legal ou no exercício II - a decisão que julgar extinta a
regular de direito (art. 65 do CPP) – a vítima punibilidade;
não será indenizada na esfera civil.

III - a sentença absolutória que decidir


que o fato imputado não constitui crime.

Nesses casos, a vítima irá discutir o seu


direito à indenização na esfera civil, sem
interferência da decisão penal.

28
8

8. COMPETÊNCIA
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Considera-se competência a “medida da jurisdição”, ou seja, a parcela do poder de decidir


concedido a cada órgão do Poder Judiciário.

No processo penal, o art. 69 do CPP estabelece diversos critérios para a determinação da


Competência. Entretanto, para fins didáticos, podemos classificá-la em três grandes grupos: a)
competência em razão da matéria, b) competência em razão do lugar e c) competência em razão
da pessoa.

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8.1.  COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA

A competência em razão da matéria é definida em razão da natureza da infração penal, sendo


regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri
(art. 74, caput, do CPP).

• COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Compete ao Tribunal do Júri julgar os crimes dolosos contra a vida (art. 5, XXXVIII, da CF/88),
consumados ou tentados, ou a ele conexos, como na hipótese de o agente ter cometido estupro e
depois homicídio da vítima, caso em que os dois crimes serão julgados pelo Tribunal do Júri.

O Tribunal do Júri não tem competência para julgar crime de latrocínio, conforme Súmula n.
603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não
do tribunal do júri”.

• COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

A competência da Justiça Federal é extraída dos incisos IV, V, V-A, VII, IX, X e XI do art. 109 da
CF/88. Vejamos:

Crimes políticos (inciso IV, primeira parte): Entende-se por crime político aquele que lesa ou
expõe a perigo a estrutura institucional, a soberania ou o regime político de um país, ou atenta
contra a pessoa dos Chefes dos Poderes da União, conforme art. 1º da Lei n. 7.170/83 (Lei de
Segurança Nacional).

Um crime contra a vida do Presidente da República, por razões políticas, é considerado crime político.

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Crimes contra bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas (inciso IV, segunda parte): assim, crimes e infrações cometidas contra
interesse de empresa Pública (Caixa Econômica Federal, por exemplo) são de competência da
Justiça Federal, mas quando praticados contra Sociedade de Economia Mista (Banco do Brasil,
por exemplo) são de competência da Justiça Estadual . Além disso, importante ressaltar que as
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contravenções penais serão julgadas pela Justiça Estadual mesmo que ofenderem interesses da
União, conforme Súmula n. 38 do STJ TEMA COBRADO NOS EXAMES XVI, XXVIII E XXIX DA
OAB/FGV

Súmula n. 38 do STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição


de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades.

A Justiça Federal não terá competência para julgar contravenção penal, mesmo que se trate de

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contravenção conexa a crime federal.

Abaixo destacamos algumas Súmulas que reputamos importantes para a Prova da OAB.

• Súmula 42 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que
é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

• Súmula n. 62 do STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada.

• Súmula 107 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato
praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando
não ocorrente lesão à autarquia federal.

• Súmula 140 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena
figure como autor ou vítima (Atenção: Se o crime for praticado contra uma coletividade de indígena, a
competência poderá ser da Justiça Federal).

• Súmula 147 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.

• Súmula 151 do STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando
ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens
TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV .

• Súmula 200 do STJ: O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado
de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou
TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV.

Crimes previstos em tratado ou convenção internacional (inciso V): são de competência da Justiça
Federal os crimes que iniciaram sua a execução no País e o resultado ocorrer ou tiver que ocorrer no
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estrangeiro, e vice-versa, desde que o crime esteja previsto em tratado ou convenção internacional.

Causas relativas à grave violação de Direitos Humanos (inciso V-A e § 5º): nas hipóteses de
grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
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quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase
do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

Crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira (inciso VI): em relação aos crimes contra organização
do trabalho, deve haver violação genérica a vários trabalhadores para que a competência seja da
Justiça Federal. Quando o crime envolver apenas um trabalhador, a competência será da Justiça
Estadual. Importante ressaltar ainda que o STF firmou entendimento de que o crime de redução
a condição análoga a de escravo (art. 149 do CP), apesar de não estar no título dos crimes contra
organização do trabalho do Código Penal, é de competência da Justiça Federal.

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Os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento
provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (inciso VII):
Se o ato de constrangimento ilegal for praticado por autoridade federal, o habeas corpus deve ser
julgado na Justiça Federal.

Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça


Militar (inciso IX): se o crime for cometido em pequena embarcação, entende-se que a competência
é da Justiça Estadual, tendo em vista que o inciso IX se valeu da palavra “navio”, que se trata de
embarcação de grande porte.

Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro (inciso X);

Crimes envolvendo direitos dos índios: para que o crime seja da Competência da Justiça
Federal, deve ser praticado contra direitos indígenas, como na hipótese de crime praticado na
disputa de terras ou que possa comprometer a cultura do índios (exemplo: crime praticado contra
uma coletividade de índios, em razão de preconceito ou para tentar dominar território). Assim,
se o crime não envolver direitos do índio (terra, cultura, preconceito, etc.), a competência será da
Justiça Comum (art. 142 do STJ).

• COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

A justiça Estadual possui competência residual, isto é, será competente para apreciar todos os crimes
que não foram expressamente colocados como de competência da Justiça Federal, Militar ou Eleitoral.

É importante registrar ainda que, se houver conexão entre crimes da justiça Federal e Estadual,
será competente para o julgamento da Justiça Federal (Súmula n. 122 do STJ).

• COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Inicialmente deve-se verificar a natureza da infração penal: tratando-se de contravenção


penal, a competência será do JECRIM Estadual (art. 109, IV, da CF/88); tratando-se de crime, a
competência poderá ser do JECRIM estadual ou federal, dependendo se o fato típico estiver ou não
previsto em uma das hipóteses do art. 109 da CF/88.

Após analisada a competência em razão da natureza da infração, a competência territorial


31
será determinada pelo local onde tiver sido consumado o delito, conforme art.70 da Lei nº
9.9099/95 TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV

8.2.  COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LOCAL


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Dentre os vários órgãos da primeira instância, a competência se estabelece, via de regra, pelo
lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
último ato de execução, conforme previsto no art. 70, caput, do CPP.

Assim, o primeiro critério a ser levado em consideração para se saber qual órgão do Poder
Judiciário que terá competência para julgar determinada infração penal é o local da consumação
(resultado) do delito ou, no caso de tentativa, do último ato de execução TEMA COBRADO NO
XVIII EXAME DA OAB/FGV

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Vejamos abaixo as principais exceções à regra geral:

• Infrações penais de menor potencial ofensivo

De acordo com o art. 63 da Lei n. 9.099/95, a competência do Juizado Especial Criminal será
determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal, ou seja, local da conduta (ação ou
omissão) e não do resultado, como previsto no Código de Processo Penal.

• Crime à distância

Caso a infração penal tenha sido praticada no Brasil e consumada no Exterior, ou vice-versa,
haverá o denominado crime à distância, devendo-se aplicar a teoria da ubiquidade, de modo que
a competência poderá ser fixada com base no lugar em que ocorreu a ação, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado, com base nos seguintes critérios:

• Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a


competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o
último ato de execução (§ 1º do art. 70 do CPP).

• Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será
competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou
devia produzir seu resultado (§ 2º do art. 70 do CPP).

• Infração que se consuma na divisa de duas ou mais jurisdições

Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a
jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção, conforme § 3º do art. 70 do CPP.

• Crime Permanente

No caso de crime permanente1, praticado em território de duas ou mais jurisdições, a


competência firmar-se-á pela prevenção, conforme art. 71 do CPP.
1 Crime permanente: Aquele em que a consumação se prolonga no tempo, como no caso do crime de sequestro
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Lugar da Infração desconhecido

Conforme previsto no art. 72 do CPP, não sendo conhecido o lugar da infração, a competência
regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.

• Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.


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• Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente
o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato.

• Ação Penal de Iniciativa Privada

Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da
residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração, conforme previsto expressamente
no art. 73 do CPP.

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8.3.  COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (EM RAZÃO DA PESSOA)

COMPETÊNCIA DO
COMPETÊNCIA DO STF COMPETÊNCIA DO STJ TJ/TRF/TRE

PODER EXECUTIVO: Presidente PODER EXECUTIVO: PODER EXECUTIVO:


da República, Vice-Presidente Governadores do Estado e Prefeitos (TRF se o crime
da República e Advogado-Geral do Distrito Federal TEMA for de competência da
de União. COBRADO NO III EXAME DA OAB/ Justiça Federal e TJ se o
crime for de competência
FGV.
da Justiça Estadual).
PODER JUDICIÁRIO: Membros TEMA COBRADO NOS VI
do Tribunais Superiores (STF, E VII EXAME DA OAB/FGV.
PODER JUDICIÁRIO: Membros
STJ, TST, TSE e STM).
dos TJs, TRFs, TRTs, TREs.

PODER JUDICIÁRIO: Juízes


PODER LEGISLATIVO: Membros do de Direito, Juízes Federais,
PODER LEGISLATIVO: NÃO HÁ
Congresso Nacional (Câmara dos Juízes do Trabalho e Juízes
Deputados e do Senado Federal); Militares.
Outros: Membros do Ministério
Público da União que atuam em
Outros: Procurador Geral da PODER LEGISLATIVO:
segunda Instância e Membros
República, Ministros de Estado, Deputados Estaduais
dos Tribunais de Contas dos
Comandante das Forças e Vereadores, desde
Estados e Distrito Federal.
Armadas, Membros do Tribunal que haja previsão na
de Contas da União, Chefes de respectiva Constituição
Missão Diplomática de caráter Estadual (TRF se o crime
permanente e Presidente do for de competência da
Banco Central. Justiça Federal e TJ se o
crime for de competência
da Justiça Estadual).

Outros: Membros do
Ministério Público
Estadual (TJ) e do
Ministério Público da
União (TRF) que atuam
em primeira instância.

33
Vejamos agora algumas regras importantes sobre competência por prerrogativa de função:
• A competência por prerrogativa de função perdura enquanto o agente estiver
no respectivo cargo ou função. Se houver perda do cargo, término do mandato ou
aposentadoria, os autos deverão ser remetidos ao Juízo que teria competência para
julgar o agente sem prerrogativa de função.
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• A competência por prerrogativa de função estabelecida na Constituição Federal


prevalece sobre a competência do Tribunal do Júri. Entretanto, a competência
do Tribunal do Júri prevalece sobre a competência por prerrogativa de função
estabelecida na Constituição Estadual (Súmula Vinculante 45 do STF).

Vereador que tem prerrogativa de função fixada pelo Constituição de seu Estado e pratica crime
de homicídio doloso. Nesse caso, será julgado pelo Tribunal do Júri, porque a competência do
Júri é estabelecida na Constituição Federal, que prevalece sobre a competência fixada pela

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Constituição Estadual.

• Se um crime é praticado por pessoa que detém prerrogativa de função em coautoria


com pessoa sem prerrogativa de função, ambos serão julgados pelo Tribunal com
competência para julgar o crime do agente que tem prerrogativa por função.

Promotor de Justiça que comete crime de furto em coautoria com um amigo, que não tem
prerrogativa de função. Ambos serão julgados pelo Tribunal de Justiça.

Súmula 704 - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal
a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função
de um dos denunciados.

EXCEÇÃO: a única exceção é se o crime praticado for crime doloso contra vida, hipótese em que
o agente sem prerrogativa de função será Julgado pelo Tribunal do Júri.

Promotor de Justiça que comete crime homicídio doloso em coautoria com um amigo, que não
tem prerrogativa de função. O Promotor de Justiça será julgado pelo Tribunal de Justiça e seu
amigo pelo Tribunal do Júri.

8.4.  COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA

A competência absoluta é aquela que atende ao interesse público e não admite modificação,
ainda que exista acordo entre as partes.

As regras de competência em razão da matéria e em razão da pessoa são absolutas, gerando


nulidade do processo, caso não observadas.

Já na competência relativa, como no caso da competência territorial, da prevenção, da conexão


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e continência, a violação causa nulidade relativa, sendo que, não havendo alegação oportuna e
prova do prejuízo, pode haver modificação da competência.

8.5.  CONEXÃO E CONTINÊNCIA


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Conexão e continência são elos entre infrações ou vários agentes que impõem ou recomendam,
por economia processual e para evitar decisões conflitantes, a reunião de processos.

As hipóteses de conexão estão previstas no art. 76 do CPP e são classificadas em:

Conexão Intersubjetiva: quando duas ou mais forem praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
várias pessoas, umas contra as outras.

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Conexão material ou lógica: quando uma infração é praticada para ocultar outra (exemplo:
homicídio e ocultação de cadáver) ou para conseguir impunidade ou vantagem de outra (exemplo:
dois agentes praticam roubo e depois um mata o outro para ficar com todo o produto). As infrações,
portanto, são praticadas pelo mesmo agente.

Conexão instrumental ou probatória: também haverá conexão quando a prova de uma infração
influir na prova de outra (exemplo: furto e receptação) TEMA COBRADO NO XXVI EXAME DA OAB/FGV

As hipóteses de continência, por sua vez, estão previstas no art. 77 do CPP e podem ser
classificadas em:

Continência Subjetiva: quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração.
Assim, diferentemente da conexão, na continência há uma única infração penal.

Continência Objetiva: quando houver concurso formal (art. 70, do CP), erro na execução, ou
aberratio ictus (art. 73 do CP), e resultado diverso do pretendido (art. 74 do CPP).

Nos casos de conexão e continência, outro tema importante para a prova da OAB diz respeito
qual será o foro competente para a reunião dos processos. Para a solução desses casos, o art. 78
do CPP prevê as seguintes regras:

No concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá


a competência do júri;

No concurso de jurisdições da mesma categoria: a) preponderará a do lugar da infração, à qual


for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número
de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade, c) firmar-se-á a competência pela
prevenção, nos outros casos;

No concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;

No concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

35
• O art. 79 do CPP estabelece as situações em que não haverá reunião dos processos, a
saber: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar e II - no concurso entre a
jurisdição comum e a do juízo de menores.
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• O art. 80, por sua vez, dispõe que será facultativa a separação dos processos quando as
infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou,
quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória,
ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

• Perpetuação da competência

Art. 81 do CPP. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência,


ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir

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sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na
sua competência, continuará competente em relação aos demais processos.

Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência,


o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira
que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente.

Nos casos de reunião de processos em razão da conexão ou da continência, mesmo que o juiz
ou tribunal absolva ou julgue extinta a punibilidade do réu em relação ao crime de sua competência
própria, deverá analisar o outro crime, do qual não tinha competência originária.

Heron, promotor de justiça no Paraná, comete crime de furto em coautoria com Gean, seu amigo,
que não possui prerrogativa de função. Os crimes serão julgados pelo Tribunal de Justiça do
Paraná e, na hipótese de o Promotor ser absolvido, o Tribunal continua competente para julgar
Gean. Isso acontece porque o Tribunal já realizou a instrução probatória, de modo que a separação
dos processos não seria razoável, além do que ofenderia o princípio da identidade física do juiz.

Por outro lado, o parágrafo único do art. 81 do CPP deixa claro que não haverá prorrogação
da competência nos casos de impronúncia ou desclassificação em relação ao crime doloso contra
a vida, no procedimento do júri, devendo o juiz remeter os autos ao juízo comum para julgamento
dos crimes conexos. Isso acontece porque as decisões de impronúncia e desclassificação são
sumárias, não sendo razoável que o Tribunal do Júri analise os crimes conexos do qual ele não
teria competência.

Andrei é denunciado pelo Ministério Público pela prática de homicídio e pelo crime de furto. Em
razão da conexão, ambos são processados pelo Tribunal do Júri. Entretanto, o juiz presidente
do Tribunal do Júri desclassifica o crime de homicídio por entender que se trate de lesão
corporal seguida de morte. Neste caso, o processo deve ser remetido para a Justiça comum,
que analisará os dois crimes.

36
8.6.   PREVENÇÃO

De acordo com o art. 83 do CPP, verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que,
concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles
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tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda
que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3o, 71, 72, § 2o, e 78, II, c).

Conforme estudado anteriormente, os principais casos em que a competência será fixada por
prevenção são:

• Infração que se consuma na divisa de duas ou mais jurisdições

Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a

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jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção, conforme § 3º do art. 70 do CPP.

• Crime Permanente

No caso de crime permanente, praticado em território de duas ou mais jurisdições, a


competência firmar-se-á pela prevenção, conforme art. 71 do CPP.

• Lugar da Infração desconhecido

Conforme previsto no art. 72 do CPP, não sendo conhecido o lugar da infração, a competência
regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu e, se o réu tiver mais de uma residência, a
competência firmar-se-á pela prevenção.

37
9

9.  QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES


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9.1.  QUESTÕES PREJUDICIAIS

Entende-se por questão prejudicial um determinado ponto controvertido que deve ser analisado
antes do juiz proferir a decisão no processo penal.

As questões prejudiciais podem ser classificadas em obrigatórias e facultativas:

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a) obrigatória: é aquela que diz respeito ao estado civil das pessoas. Nesse caso, como
o juízo penal é incompetente para apreciar controvérsia referente ao estado de pessoas,
haverá obrigatoriamente a suspensão do processo penal até que o juízo cível aprecie a
questão prejudicial (art. 92, CPP).

Nestor é denunciado pelo crime de Bigamia e, no curso no processo penal, alega que o seu
casamento anterior era nulo. Nesse caso, o processo penal deve ficar suspenso até que a
questão sobre a nulidade do casamento seja apreciada pelo juízo cível TEMA COBRADO
NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

b) facultativa: a questão prejudicial trata de matéria civil, mas não diz respeito ao estado civil
das pessoas. O juiz penal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse
sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das
testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente (art. 93 do CPP).

Uma questão prejudicial referente à posse que aparece no curso do processo penal que trata
do crime de apropriação indébita.

É importante registar que a suspensão do processo criminal em razão da existência de


questão prejudicial incidente suspende o prazo prescricional (art. 116, I, CP), permitindo-se ao juiz
a produção das provas consideradas urgentes, como no caso da oitiva de testemunha em estado
grave de saúde.

9.2. EXCEÇÕES

As exceções são incidentes processuais que podem extinguir o processo, prolongar o seu curso
ou resolver questão relevante, mas não possuem relação direta com o mérito e, por isso, são
chamadas também de defesa indireta do mérito.

As exceções estão previstas no art. 95 do CPP e podem assumir uma das seguintes espécies:
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I - suspeição; II - incompetência de juízo; III - litispendência; IV - ilegitimidade de parte; V - coisa
julgada.

Conforme previsto no art. 111 do CPP, as exceções serão processadas em autos apartados e
não suspenderão, em regra, o andamento da ação penal.
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Exceção de suspeição: a arguição de suspeição precederá a qualquer outra, salvo quando


fundada em motivo superveniente (art. 96 do CPP). Diz respeito a situações externas ao processo
que comprometem a imparcialidade do juiz, conforme hipóteses taxativamente previstas no art.
254 do CPP:

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer
das partes:

I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;

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II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por
fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive,
sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer
das partes;

IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;

V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

As partes poderão também arguir de suspeitos os peritos, os intérpretes e os serventuários


ou funcionários de justiça (art. 105), mas não é possível, conforme estudado anteriormente, a
alegação de suspeição do Delegado de Polícia na condução do inquérito policial, conforme art.
107 do CPP: “Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas
deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal”.

Exceção de incompetência: utilizada para arguir incompetência relativa (em razão do lugar)
ou absoluta (em razão da matéria ou prerrogativa por função). Em se tratando de incompetência
relativa deve ser alegada na primeira oportunidade que a parte tem para manifestar-se nos autos,
sob pena de prorrogação da competência. Tratando-se de incompetência absoluta, a questão pode
tratada a qualquer tempo, já que não há preclusão.

Exceção de Litispendência: a litispendência ocorre quando o mesmo fato é objeto de mais de


um processo em andamento, podendo ser arguida a qualquer momento, já que não se permite a
existência de mais de um processo em andamento contra o mesmo réu pelo mesmo fato TEMA
COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV

Exceção de ilegitimidade de parte: a ilegitimidade de parte ocorre principalmente quando o


autor da ação penal não possui legitimidade para ingressar com a ação, como no caso do promotor
de justiça que oferece denúncia em crime de ação penal privada.
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Exceção de coisa julgada: a coisa julgada ocorre quando houver processo penal já transitado
em julgado tratando dos mesmos fatos contra o mesmo réu, hipóteses em que o processo em
andamento deve ser extinto.

9.3.  ESPÉCIES DE INCIDENTES


OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

9.3.1.  RESTITUIÇÃO DA COISA APREENDIDA

O Incidente da restituição da coisa apreendida tem lugar para o interessado reaver objeto
apreendido no curso da investigação ou do processo penal.

Como regra geral, antes do trânsito em jugado, a restituição é cabível apenas quando se tratar
de objeto lícito que não interessa mais ao processo (art. 118 do CPP).

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O réu preso em flagrante que teve objetos pessoais apreendidos no momento da prisão
(carteira, óculos, celular, etc). Se esses objetos não forem relevantes para o processo, o réu
poderá solicitar a sua restituição.

Tratando-se de objeto ilícito, não será permitida a restituição, mesmo depois de transitar em
julgado a sentença final, salvo se pertencer ao lesado ou a terceiro de boa-fé.

Um carro roubado não pode ser restituído ao réu do processo penal, mas poderá ser devolvido
ao terceiro de boa-fé, proprietário do veículo, que fora vítima do crime.

A restituição, quando cabível e quando não houver dúvida sobre o direito do reclamante, poderá
ser ordenada pela autoridade policial ou pelo juiz, mediante termo nos autos (art. 120, caput, do CPP).

Se houver dúvida acerca do direito do reclamante, apenas o juiz poderá decidir sobre a restituição.
Nesse caso de dúvida, o incidente será autuado em apartado, assinando-se ao requerente o prazo
de 5 (cinco) dias para a prova e, após ouvido o ministério Púbico, o juiz irá decidir.

Entretanto, se permanecer a dúvida quem seja o verdadeiro dono, não superada no incidente, o
juiz remeterá as partes para o juízo cível, ordenando o depósito das coisas (art. 120, § 4º, do CPP).
TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV

Se as coisas apreendidas não forem objeto de pedido de restituição, decorrido o prazo de 90


dias após transitar em julgado a sentença condenatória, o juiz decretará, se for caso, a perda,
em favor da União, das coisas apreendidas e ordenará que sejam vendidas em leilão público.

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9.3.2.  MEDIDAS ASSECURATÓRIAS

As medidas assecuratórias são providências cautelares que objetivam assegurar o


ressarcimento pecuniário do ofendido, pagamento de despesas processuais ou penas pecuniárias
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ao Estado, evitando o enriquecimento ilícito por parte do criminoso.

As medidas assecuratórias são divididas em: sequestro, hipoteca legal, e arresto.

Sequestro TEMA COBRADO NOS EXAMES X E XXVII DA OAB/FGV: significa a constrição


dos bens adquiridos pelo agente através de proveitos econômicos obtidos com a infração penal.
É cabível quando houver indícios veementes da proveniência ilícita dos bens, mesmo que estes
já tenham sido transferidos a terceiros (artigos 125 e 126 do CPP). O sequestro se refere, como
regra geral, a bens imóveis, mas poderá recair também sobre bens móveis obtidos por meio ilícito
em que não seja cabível busca e apreensão (art. 132 do CPP). O juiz, de ofício, a requerimento

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


do Ministério Público ou do ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, poderá
ordenar o sequestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou
queixa (art. 127 do CPP). Deve ser autuado em apartado e quando realizado, o juiz deve ordenar a
sua inscrição no registro de imóveis. O sequestro se reveste de medida de interesse público, uma
vez que objetiva minimizar os ganhos auferidos pelo criminoso com a prática delituosa.

O art. 131 do CPP prevê as hipóteses em que haverá o levantamento do sequestro, a saber:

I - se a ação penal não for intentada no prazo de sessenta dias, contado da data em que ficar
concluída a diligência; TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV

II - se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, prestar caução que assegure a
aplicação do disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do Código Penal;

III - se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença transitada em julgado.

Arresto: diferentemente do sequestro que recai necessariamente sobre bens adquiridos com
os proventos da infração, o arresto incide sobre o patrimônio lícito do agente, isto é, aquilo que
não é produto de crime. O arresto recai sobre bens móveis suscetíveis de penhora e possui caráter
residual, já que ocorre apenas quando o agente da prática criminosa não possui bens imóveis
ou os possui com valor insuficiente (art. 137 do CPP). É cabível ainda arresto de bens imóveis,
como medida preparatória para uma posterior hipoteca legal. Reveste-se de interesse de natureza
privada, uma vez que o valor restituído será destinado à vítima e apenas o excedente ao poder
público.

Hipoteca Legal: Destinada a assegurar prioritariamente a reparação do dano causado, recai


sobre bens imóveis de origem lícita do réu ou indiciado, exigindo-se certeza da infração e indícios
suficientes da autoria (art. 134 do CPP). É concretizada por meio da inscrição no registro público
do bem da intransferibilidade, a fim de proteger eventuais interessados de boa-fé.

9.3.3.  INCIDENTE DE FALSIDADE

Se houver suspeita acerca da veracidade de documento constantes nos autos, poderá ser
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arguida por escrito a falsidade do documento sendo que, se a arguição for feita por advogado, este
deverá possuir poderes especiais para tanto (art. 146 do CPP). TEMA COBRADO NO XXIX EXAME
DA OAB/FGV
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

O juiz poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade do documento, conforme previsto


expressamente no art. 147 do CPP.

Digno de nota ainda que, qualquer que seja a decisão sobre a falsidade do documento, ela não
fará coisa julgada em prejuízo de ulterior processo penal ou civil (art. 148 do CPP).

Se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, o juiz mandará desentranhar o


documento e remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao Ministério Público (art. 145, IV,

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do CPP). TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV

9.3.4.  INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

Para que o agente que praticou uma infração penal seja penalmente responsabilizado é
necessário a presença dos seguintes elementos: fato típico, antijurídico e culpável.

O incidente de insanidade mental está relacionado diretamente com a culpabilidade, já que


objetiva analisar se o agente, no momento da prática delituosa, tinha capacidade de entender a
ilicitude do fato e agir de acordo com este entendimento, ou seja, se era imputável ou inimputável.

A análise da culpabilidade é de extrema importância, uma vez que, se considerado inimputável


no momento da prática do crime, o agente não poderá ser alvo de aplicação da pena e sim de
medida de segurança.

Desse modo, quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de
ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal, que poderá ser ordenado
ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente.

Caso já iniciada a ação penal, o processo ficará suspenso até que se resolva o incidente de
insanidade metal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento,
devendo o juiz nomear curador ao acusado. O incidente é processado em autos apartados.

Concluindo-se que o acusado era inimputável no momento da prática da infração penal, o


processo continuará com a presença do curador e, se condenado, o réu será submetido à medida
de segurança (art. 151 do CPP).

Entretanto, caso a inimputabilidade seja posterior à prática do crime, o processo deverá ser suspenso
até que o acusado se restabeleça, sendo que, se for posteriormente condenado, será submetido à
aplicação da pena normalmente (art. 152 do CPP). TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV

42
10

10. PROVA
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10.1.  TEORIA GERAL

Entende-se por prova todo meio idôneo capaz de demonstrar a ocorrência de determinado
fato ao juiz, contribuindo para o seu convencimento.

Conforme previsto no art. 155 do CPP, o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente

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nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.

Assim, as provas serão submetidas ao contraditório e valoradas conforme o livre convencimento


do magistrado, devendo este apontar de forma fundamentada os elementos probatórios que
levaram à sua convicção (sistema do livre convencimento motivado do juiz).

Como as provas devem ser submetidas ao contraditório, o juiz não pode fundamentar sua
decisão unicamente nos elementos colhidos no inquérito policial, uma vez que este possui
natureza inquisitória. As provas do inquérito policial devem ser repetidas em juízo, salvo aquelas
de natureza cautelar e que, pela sua essência não podem ser repetidas (ex: interceptação
telefônica, perícia no local do crime, oitiva de testemunha que já faleceu, etc).

Digno de nota ainda que o ônus da prova no processo penal incumbe à parte que fizer à
alegação. Entretanto, o art. 156 do CPP permite ao juiz desenvolver atividade provatória de ofício,
inclusive antes do início da ação penal.

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas


consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e
proporcionalidade da medida;

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de


diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Deve-se ressaltar que grande parte da doutrina sustenta a inconstitucionalidade do inciso II do


art. 156 do CPP, uma vez que não se poderia admitir a atuação do magistrado de ofício na fase de
investigação (figura do juiz inquisidor).

10.2.  PROVAS EM ESPÉCIE

10.2.1.  EXAME DE CORPO DE DELITO


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Considera-se corpo de delito o exame obrigatório realizado para apurar os vestígios físicos
deixados pela prática da de uma infração penal, capazes de indicar a sua materialidade.

O art. 158 do CPP estabelece que, quando a infração deixar vestígios, o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, será obrigatório, não podendo ser suprimido pela a confissão do acusado
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV.

No caso de homicídio doloso, como o crime deixa vestígios (cadáver, arma, impressões
digitais, etc.), é obrigatória a realização do exame de corpo de delito, mesmo que o suspeito
confesse a prática do crime.

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Destaca-se que a Lei nº 13.721/2018 acrescentou um parágrafo único ao art. 158 do CPP,
estabelecendo que será dada prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar
de crime que envolva: I - violência doméstica e familiar contra mulher; II - violência contra criança,
adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

O exame de corpo de delito pode ser direto, quando realizado diretamente sobre os vestígios
da ação delituosa, ou indireto, que ocorre quando, por não existir mais os vestígios, há colheita de
prova testemunhal afirmando ter presenciado o crime ou os seus vestígios, ou ainda pela análise
de documentos periféricos (prontuário médico, fichas de internação, etc.).

Sobre o exame de corpo de delito indireto, o art. 167 do CPP dispõe que, não sendo possível
o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá
suprir-lhe a falta. A título de exemplo, no caso de um homicídio em que o agente do delito desaparece
com o corpo e não deixa vestígios, é possível, para evitar impunidade, que a produção da prova
seja feita com base em depoimentos de testemunhas que viram os vestígios do crime (exemplo:
testemunha que viu o agente carbonizar o corpo da vítima).

A não realização do exame de corpo de delito, direto ou indireto, implicará nulidade absoluta.

Importante registrar ainda que o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados
por perito oficial, portador de diploma de curso superior. Entretanto, na falta de perito oficial, o
exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a
natureza do exame, devendo os peritos não oficiais prestarem o compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo (art. 159 do CPP)

10.2.2.  INTERROGATÓRIO DO ACUSADO

O réu no processo penal possui direito à ampla defesa, que engloba a defesa técnica e a sua autodefesa.

A autodefesa, por sua vez, é exercida principalmente pelo interrogatório, que é o momento
processual em que o réu poderá apresentar sua versão sobre os fatos.
44
Assim, o interrogatório possui natureza híbrida, podendo ser considerado tanto um meio de
defesa como um meio de prova.

Um dos dispositivos mais importantes sobre o interrogatório é o art. 186 do CPP, que garante
ao acusado o direito de permanecer calado durante o interrogatório (direito ao silêncio), o que não
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caracteriza confissão e não lhe trará qualquer prejuízo para a defesa.

Art. 186 do CPP. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da


acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu
direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas.

Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado
em prejuízo da defesa.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Desse modo, ao mesmo tempo que a realização do interrogatório é para garantir o direito de
autodefesa do acusado, sob pena de nulidade do processo, o acusado poderá permanecer em
silêncio em relação aos fatos que lhe foram imputados, já que vigora a máxima de que ninguém é
obrigado a produzir prova contra si mesmo.

Além disso, poderá o acusado simplesmente deixar de comparecer ao interrogatório, já que,


se lhe é assegurado o direito ao silêncio, a sua ausência também não poderá lhe trazer prejuízo.

O interrogatório deve ser realizado na presença do juiz, garantindo-se ao acusado a presença


de seu defensor, constituído ou nomeado (art. 185, caput, do CPP).

Em relação ao réu preso, o interrogatório será realizado, em sala própria, no estabelecimento


em que estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do
Ministério Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato (§ 1º
do art. 185 do CPP).

A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por sistema
de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como também
pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil (§ 6º do art. 185 do CPP).

Excepcionalmente, juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,


poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária
para atender a uma das finalidades previstas no § 2º do art. 185 do CPP: TEMA COBRADO NO
XXII EXAMES VII E XVIII DA OAB/FGV.

I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre
organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;

II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade
para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;

III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja
possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 do CPP;

IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. 45


Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema
tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento. Além
disso, em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista
prévia e reservada com o seu defensor e, se realizado por videoconferência, fica também
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garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que
esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.

O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos.
Na primeira parte, o acusado não pode mentir sobre seus dados, sob pena de caracterizar o crime
do art. 307 do CP (falsa identidade), conforme inclusive sedimentado na Súmula n. 522 do STJ:

“Súmula n. 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade


policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa”.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Já em relação à segunda parte (fatos referentes à infração penal), entende-se que a mentira
do réu não caracteriza crime, porque se refere ao direito de autodefesa (ninguém é obrigado
a produzir prova contra si mesmo). No entanto, caso o réu impute o fato criminoso a terceiro
inocente, praticará o crime previsto no art. 339 do CP (denunciação caluniosa).

Por fim, é importante consignar que a qualquer tempo o juiz poderá proceder a novo
interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes.

10.2.3. CONFISSÃO

A confissão representa o ato do acusado admitir que praticou os fatos que lhe são atribuídos e
que lhe são desfavoráveis, possuindo caráter relativo, já que deve ser analisada pelo juiz de acordo
com as demais provas do processo.

Além disso, a confissão é divisível e retratável. Divisível porque o juiz poderá desmembrá-la,
considerando como verdadeira apenas uma parte dos fatos confessados, e retratável porque o
acusado pode se arrepender e voltar atrás em relação ao que confessou (art. 200 do CPP).

O silêncio do acusado não importa confissão. Além disso, mesmo que o acusado confesse a prática
do crime, a realização do exame de corpo de delito será obrigatória se o crime deixar vestígios.

10.2.4.  PROVA TESTEMUNHAL

Qualquer pessoa pode ser ouvida como testemunha no processo penal. O depoimento é
obrigatoriamente oral e a testemunha, após assumir compromisso de dizer a verdade, não poderá
mentir, sob pena de caracterizar o crime de falso testemunho.

De acordo com o art. 208 do CPP, os doentes e deficientes mentais, os menores de 14 (quatorze)
anos e as pessoas citadas no art. 206 do CPP não prestam compromisso de dizer a verdade.
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Existem, entretanto, algumas pessoas, que por possuírem relação de proximidade com o
investigado (ascendente, descendente, o afim em linha reta, companheiro ou cônjuge, ainda que
separado judicialmente, irmão e filho), poderão se recusar a depor, salvo quando não for possível,
por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias (art. 206 do
CPP). Nesse caso, ou seja, se o depoimento for imprescindível, essas pessoas não irão prestar o
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

compromisso de dizer a verdade (art. 208 do CPP), sendo ouvidas como informantes. TEMA
COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV

Além disso, o art. 207 do CPP dispõe que são proibidas de depor (impedidas) as pessoas que, em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela
parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV

PESSOAS QUE PODEM SE PESSOAS PROIBIDAS


RECUSAR A DEPOR DE DEPOR

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Ascendente, descendente, afim em linha reta, As pessoas que, em razão de função, ministério,
companheiro ou cônjuge, ainda que separado ofício ou profissão, devam guardar segredo.
judicialmente, irmão e filho do acusado.

Exceção: poderão ser ouvidas como testemunhas


Exceção: serão ouvidas como informantes se, após serem desobrigadas a guardar o sigilo pela
quando não for possível, por outro modo, parte interessada, quiserem depor.
obter-se ou integrar-se a prova do fato e de
suas circunstâncias.

As testemunhas devem ser arroladas na denúncia ou queixa, e o seu número varia de acordo
com o tipo de procedimento, conforme quadro esquematizado.

NÚMERO MÁXIMO DE
PROCEDIMENTO TESTEMUNHAS

Comum ordinário 8 testemunhas

Comum sumário 5 testemunhas

Sumaríssimo 3 testemunhas

Procedimento do Júri 1ª fase: 8 testemunhas, 2ª fase: 5 testemunhas

Além das testemunhas indicadas pelas partes, o juiz poderá, quando julgar necessário, ouvir
outras testemunhas (art. 209 do CPP), que serão consideradas testemunhas do juízo e não serão
computadas no limite máximo.

Caso haja necessidade da oitiva de testemunha que não resida na Comarca, deverá o juiz
expedir carta precatória (dentro do Brasil) ou rogatória (se a testemunha residir no exterior).

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No que concerne à carta precatória, é importante consignar que sua expedição não suspende a
instrução criminal e apenas o juiz deprecante (que expediu a carta) deverá intimar as partes. Não
há, portanto, nenhuma obrigação por parte do juízo deprecado de informar as partes sobre a data
da oitiva da testemunha deprecada, conforme entendimento sedimentado na Súmula n. 273 do STJ:
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

Súmula n. 273 do STJ: Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se


desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado

10.2.5.  RECONHECIMENTO DE PESSOA OU COISA

O reconhecimento de pessoa ou coisa é o meio de prova pelo qual alguém, na presença de


autoridade, identifica formalmente e deixa como certa a identidade do agente do crime ou a
qualidade de uma coisa.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Por se tratar de meio de prova totalmente falível, já que a vítima ou testemunha podem se
enganar em relação à pessoa ou coisa a ser identificada, o código de processo penal estabeleceu
um procedimento para a validade do reconhecimento, conforme art. 226 do CPP:

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa,


proceder-se-á pela seguinte forma:

I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa


que deva ser reconhecida;

Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de


outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o
reconhecimento a apontá-la;

III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por
efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que
deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;

IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade,


pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

Parágrafo único. O disposto no inciso III deste artigo não terá aplicação na fase da
instrução criminal ou em plenário de julgamento.

10.2.6. ACAREAÇÃO

Acareação é o meio de prova, admitido tanto na fase do inquérito quanto do processo penal,
pelo qual se coloca, frente a frente, pessoas que prestaram declarações divergentes, com o
objetivo de se esclarecer a verdade e eliminar as contradições, podendo ser determinada de ofício
ou por provocação TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV.

De acordo com o art. 229 do CPP, a acareação será admitida entre acusados, entre acusado
e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as
pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias

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relevantes. Os acareados serão reperguntados, para que expliquem os pontos de divergências,
reduzindo-se a termo o ato de acareação.

10.2.7. DOCUMENTOS
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De acordo com o art. 232 do CPP, consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos
ou papéis, públicos ou particulares, sendo que, à fotografia do documento devidamente autenticada,
se dará o mesmo valor do original.

Evidentemente que o conceito de documento trazido pelo CPP é insuficiente, já que o documento,
na verdade, abrange todo objeto capaz de provar a existência de fatos, por meio de símbolos, fotos,
sinais gráficos, etc., e não apenas os escritos.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


No processo penal, salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos
em qualquer fase do processo (art. 231 do CPP).

Com relação às correspondências, o CPP estabelece que as cartas particulares, interceptadas


ou obtidas por meios criminosos, não serão admitidas em juízo (art. 233, caput, do CPP).

Além disso, as cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa
de seu direito, ainda que não haja consentimento do signatário (art. 233, parágrafo único, do CPP).

10.2.8. INDÍCIOS

Conforme previsto no art. 239 do CPP, considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que,
tendo relação com o fato, autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.

Assim, por meio dos indícios, parte-se de um fato conhecido para se chegar à comprovação da
existência daquilo que se pretende provar.

O Indício é considerado meio de prova e, dependendo da sua força e aliado a outras circunstâncias
do processo, pode levar à condenação do réu.

10.2.9.  BUSCA E APREENSÃO

A busca e a apreensão, prevista no art. 240 e seguintes do CPP, é considerada um meio cautelar
de obtenção de prova para evitar o desaparecimento de pessoa ou coisa, sendo classificada em
domiciliar ou pessoal.

• Busca Domiciliar

A Busca e apreensão domiciliar ocorrerá quando houver fundada suspeita da existência de


provas importantes para a elucidação de um crime e, representando uma exceção à inviolabilidade
do domicílio, devendo ocorrer durante o dia e por determinação judicial (mandado judicial),
conforme previsto no art. 5º, XI, da CF/88 TEMA COBRADO NOS EXAMES XXI E XXVIII DA OAB/FGV.

49
Art. 5º, XI da CF/88: a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

Para a prova da OAB, é muito importante recordar que a realização de busca e apreensão em
escritório de advocacia depende da presença de indícios de autoria e materialidade de crime por
parte do advogado; decretação motivada de quebra da inviolabilidade por autoridade judiciária;
expedição de mandado de busca e apreensão específico e pormenorizado a ser cumprido na
presença de representante da OAB, no termos do artigo 7º, § 6º, do EAOAB.

O Delegado de Polícia também precisa estar munido de mandado judicial para realizar busca
domiciliar, de modo que o art. 241 do CPP, ao dispor em sentido contrário, não foi recepcionado
pela Constituição Federal de 1988.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


• Busca Pessoal

A busca pessoal é realizada diretamente no corpo, vestimentas e objetos pessoais em posse da


pessoa investigada e será admitida mediante mandado judicial.

Entretanto, excepcionando a regra geral, o art. 244 do CPP dispensa o mandado judicial no caso
de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida
ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no
curso de busca domiciliar.

A busca e apreensão de objetos em veículo automotor é considerada espécie de «busca


pessoal», de modo que não haverá necessidade de autorização judicial quando a apreensão
estiver baseada em fundada suspeita de que no interior do veículo há vestígios de crime.

10.3.  PROVA ILÍCITA

De acordo com o previsto no art. 5º, LVI, da CF/88 são inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos.

O art. 157 do CPP, por sua vez, dispõe que são inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais
ou legais materiais, como por exemplo, confissão obtida por meio de tortura (art. 5º, III, CF/88),
grampo telefônico sem autorização judicial (art. 5º, XII da CF), obtenção de documento mediante
violação de domicílio (art. 5º, XI da CF/88), etc.

Assim sendo, as provas ilícitas são aquelas que violam preceitos constitucionais ou legais, o
que não se confunde com as provas ilegítimas, que são aquelas produzidas com violação a normas
de direito processual.

50
PROVA ILÍCITA PROVA ILEGÍTIMA
Violação à norma de caráter material Violação à norma de direito processual.
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

É importante destacar que há algumas situações controversas que são importantes para a
prova da OAB:

Gravação Clandestina: trata-se da gravação ambiental ou telefônica feita por um dos


interlocutores da conversa. O Supremo tribunal Federal vem admitindo esse tipo de gravação, não
sendo, portanto, considerada prova ilícita.

Interceptação Telefônica: é a gravação da comunicação feita por um terceiro, sem o


conhecimento dos interlocutores (grampo telefônico), dependendo de autorização judicial. A prova
obtida por meio de interceptação telefônica sem autorização judicial é considerada ilícita (art. 5º,

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


XII, da CF/88).

O art. 2° da Lei n. 9.296/96 estabelece as hipóteses em que a interceptação telefônica não será
admitida, vejamos:

Art. 2°: Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas


quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;

II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; TEMA COBRADO
NO XXVIII EXAME DA OAB/FGV

III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com


pena de detenção TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV

Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a


situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos
investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

Filmagem em locais públicos: as filmagens em locais públicos que demonstram a prática de


crime são consideradas provas lícitas.

Importante destacar ainda que o § 1º do art. 157 do CPP também considera como inadmissíveis
as provas derivadas das ilícitas (teoria dos frutos da árvore envenenada), salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser
obtidas por uma fonte independente das primeiras (teoria da prova inevitável).

O Delegado de Polícia realiza interceptação telefônica sem autorização judicial e descobre


o local onde o suspeito armazena mercadoria roubada para posterior revenda. Com essa
informação, o Delegado representou pela busca e apreensão a ser realizada na residência
suspeita, sendo tal diligência autorizada pelo Juízo competente. A realização da busca e
apreensão não é admissível, pois derivou de uma interceptação telefônica ilícita, aplicando-
se a teoria dos frutos da árvore envenenada, não existindo justa causa para o ajuizamento da
51
ação penal EXEMPLO COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.
Por fim, muito importante lembrar que a Lei n, 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou o §
5º do art. 157 do CPP, nos seguintes termos:

Art. 157
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

(...)

§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá


proferir a sentença ou acórdão.” (NR)

Com a alteração, o juiz que conhecer do conteúdo de determinada prova declarada inadmissível
não poderá proferir a sentença ou acórdão no processo.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Desse modo, se juiz determinar, por exemplo, o desentranhamento de prova considerada
ilícita, não poderá julgar o mesmo processo, devendo ser nomeado outro juiz para fazê-lo.

MUIITO IMPORTANTE: De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, o juiz que teve
contato com a prova ilícita pode determinar o seu desentranhamento, mas isso não significa
que ele ficaria impossibilitado de decidir o processo. Por esse motivo, ou seja, por contrariar
o entendimento acerca do contato com a prova ilícita e por considerar o novo dispositivo vago,
houve a suspensão por prazo indeterminado da eficácia do § 5º do art. 157 pelo Ministro Dias
Toffoli, posteriormente confirmada por decisão do Ministro Luiz Fux.

10.4. CADEIA DE CUSTÓDIA

A Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou os artigos 158-A e 158-B ao CPP para tratar
da denominada cadeia de custódia.

De acordo com o caput do art. 158-A, considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos
os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio
coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.

Trata-se, portanto, de uma cadeia cronológica documentada da investigação penal para fins
provatórios, instituindo uma série de procedimentos para colheita e guarda das provas, o que
compreende, segundo o art. 158-B, também acrescido pela Lei 13.964/19, o reconhecimento,
isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte, recebimento, processamento,
armazenamento e descarte dos vestígios.

Recomendadamos a leitura desses dois dispositivos para a prova da OAB, uma vez que, por se
tratar de tema recente, poderá ser cobrado nos próximos exames.

52
11

11.  PRISÃO E OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES


OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

As prisões cautelares são medidas excepcionais, porque restringem a liberdade do acusado


antes do trânsito em julgado da decisão penal condenatória, podendo ser concedidas apenas se
estiverem presentes os requisitos do fumus commissi delicti e periculum libertatis.

Após a reforma do Código de Processo Penal, existem 3 (três) espécies de prisões cautelares:
a) prisão em flagrante, b) prisão preventiva e c) prisão temporária.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


A Lei n. 12.403/11 passou a prever a possibilidade da prisão domiciliar, em substituição
preventiva, muito em voga atualmente em razão da operação lava jato.

A Lei n. 13.434/17 - Acrescentou o parágrafo único ao art. 292 do CPP, para vedar o uso de
algemas em mulheres grávidas durante o parto e em mulheres durante a fase de puerpério
imediato.

Sobre o tema do uso da força para a realização da prisão, importante também lembrar o contido
na Súmula Vinculante n. 11 do STF: “Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de
fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou
de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se
refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”.

11.1.  PRISÃO EM FLAGRANTE

A prisão em flagrante ocorre quando o agente é preso em situação de flagrante delito, o que
pode ocorrer nas seguintes situações:

Flagrante Próprio (art. 302, I e II do CPP): o agente está praticando a infração penal ou acabou
de praticá-la (exemplo: criminoso preso no momento em que estava esfaqueando a vítima, ou logo
após esfaqueá-la).

Flagrante Impróprio ou quase flagrante (art. 302, III, do CPP): o agente é perseguido, logo
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser
autor da infração (exemplo: agente que é perseguido e preso pela polícia, que foi acionada pela
vítima após ter tido o seu carro roubado. Registra-se que, para o flagrante impróprio ser válido, é
necessário que a perseguição seja ininterrupta). TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

Flagrante presumido ou ficto (art. 302, III, do CPP): o agente é encontrado, logo depois, com
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração (exemplo:
53
criminoso preso em flagrante em blitz policial, que verificou que o carro acabara de ser roubado).

Nas infrações permanentes, como no caso do crime de sequestro, entende-se o agente em


flagrante delito enquanto não cessar a permanência (art. 302 do CPP).
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Qualquer um do povo pode efetuar a prisão, mas as autoridades policiais e seus agentes tem
o dever de fazê-lo, conforme art. 301 do CPP. Além disso, a prisão em flagrante é a única espécie
de prisão cautelar que não precisa de mandado judicial.

Para a prova da OAB é importante que o aluno tenha conhecimento de outros tipos de flagrantes
bastante citados pela doutrina e jurisprudência:

Flagrante preparado ou provocado: ocorre quando alguém provoca ou induz o sujeito à prática

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


do delito e toma as medidas idôneas para que não haja consumação da infração. Trata-se de
flagrante inválido, já que o agente é induzido à prática do crime e o agente provocador já se vale
dos meios necessários para evitar a consumação do delito, conforme Súmula n. 145 do STF: “não
há crime quando a preparação do flagrante torne impossível sua consumação”.

Flagrante retardado: ocorre quando a autoridade policial, por informações legítimas, limita-
se a aguardar o momento da prática do delito para realizar a prisão. Como não há qualquer
induzimento para que o agente pratique o crime, o flagrante é considerado válido.

Flagrante forjado: o agente é vítima de uma encenação, como no caso de policial ou terceiro
que planta provas (drogas) no carro do suposto agente. Trata-se de flagrante ilícito e criminoso.

Flagrante protelado, prorrogado ou retardado: A polícia retarda o flagrante, aguardando o


momento mais oportuno para reunir provas, como no caso envolvendo crimes de tráfico de drogas
(art. 53, II, da Lei n. 11343/06) e organização criminosa (art. 2º, II, Lei n. 9034/95). Trata-se de
flagrante com previsão legal e, portanto, válido.

Capturado o agente infrator, deverá ocorrer a formalização da prisão em flagrante, conforme


o seguinte procedimento: o preso é apresentado à autoridade policial, que ouvirá o condutor e
colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do
preso. Em seguida, a autoridade policial procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem
e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas
respectivas assinaturas, e, ao final, lavrando o auto de prisão em flagrante.

A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse
caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a
apresentação do preso à autoridade (§ 2º do art. 304 do CPP).

Nos casos de infrações penais de menor potencial ofensivo, o parágrafo único do art. 69 da
Lei n. 9.099/95 dispõe que: “ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima”.

54
De acordo com o § 4º do art. 304 do CPP, incluído pela Lei nº 13.257, de 2016, da lavratura do
auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
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A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao


juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada e, em até
24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto
de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para
a Defensoria Pública.

No mesmo prazo de 24h, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada
pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Como o acusado não pode ficar preso por prazo indeterminado, ao receber o auto de prisão
em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente, de acordo com o art. 310 do CPP, tomar uma das
seguintes condutas: I - relaxar a prisão ilegal; II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
quando presentes os requisitos constantes do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; III conceder liberdade provisória, com ou
sem fiança.

JUIZ RECEBE AUTO DE PRISÃO


EM FLAGRANTE

LIBERDADE
CONVERSÃO EM PRISÃO
RELAXAMENTO DA PRISÃO PROVISÓRIA, COM OU
PREVENTIVA
SEM FIANÇA

11.2.  PRISÃO PREVENTIVA

Nos termos do art. 311 do CPP, alterado pela Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime), em qualquer
fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz,
a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
autoridade policial. TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.

Portanto, com a alteração promovida pela Lei n. 13.964/19, não é mais possível a decretação
da prisão preventiva de ofício pelo juiz.

São pressupostos da prisão preventiva:


55
• Fumus commissi delicti: prova da existência do crime e indícios de sua autoria

• Periculum libertatis: representa o perigo que a liberdade do acusado pode gerar


para o andamento das investigações ou do processo penal e, no caso da prisão
preventiva, está pautado ainda como forma de garantir a ordem pública ou a ordem
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

econômica, ou em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por


força de outras medidas cautelares.

Desse modo, a prisão preventiva deve ser devidamente fundamentada e pautada em mandado
de prisão, sendo cabível nas seguintes hipóteses (art. 313 do CPP):

• Crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4


(quatro) anos;

• Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,

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ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Código Penal2;

• O crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,


adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência;

• Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não
fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar
a manutenção da medida.

Não se permite prisão preventiva em caso de crime culposo, salvo na hipótese de dúvida sobre
a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la
(art. 313, § 1º, do CPP), de contravenção penal, bem como se presente alguma das hipóteses de
exclusão de ilicitude, como legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito e
estrito cumprimento do dever legal. TEMA COBRADO NO XXVII EXAME DA OAB/FGV

Deve-se ressaltar que a Lei n. 13.964/19 (pacote anticirme) acrescentou o § 2ºao art. 313 do
CPP, deixando expresso o posicionamento da jurisprudência majoritária, de que não será admitida
a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena
ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de
denúncia.

Além disso, a Lei n. 13.964/19 (pacote anticirme) acrescentou dois parágrafos ao art. 315
do CPP, para deixar claro o que se considera decisão motivada para fins de decretação de prisão
preventiva. Vejamos:

“Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre
motivada e fundamentada.

§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o

2 Art. 64 do CP - Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do
cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco)
anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;
56
juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a aplicação da medida adotada.

§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,


sentença ou acórdão, que:
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I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar


sua relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua


incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,


infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

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V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos”;

O pacote anticrime modificou também a redação do art. 316 do CPP, dispondo que a revogação
da prisão preventiva poderá ser feita de ofício pelo juiz, além do que acrescentou o parágrafo
único ao artigo 316 pra dispor que, decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da
decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

Ainda sobre prisão preventiva, outro tema importante é a possibilidade de sua conversão em
prisão domiciliar, o que vem sendo muito comum na operação Lava Jato e, portanto, com grande
possibilidade da matéria ser cobrada na prova da OAB/FGV.

Transcrevemos abaixo os dois artigos do CPP sobre a prisão domiciliar, cuja leitura é imprescindível:

Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua


residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:

I - maior de 80 (oitenta) anos;

II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;

III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade
ou com deficiência;

IV - gestante;

V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;

VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos
de idade incompletos.

Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos
estabelecidos neste artigo.

57
Os incisos IV, V e VI do art. 318 foram acrescentados pela Lei nº 13.257/2016, ampliando as
hipóteses de concessão de prisão domiciliar e, por ser matéria recente, o seu conhecimento é
muito importante para a prova da OAB/FGV.
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Importante registrar que a Lei nº 13.769/2018 acrescentou o art. 318-A ao CPP, passando a
dispor que a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças (até 12 anos) ou pessoas com deficiência será obrigatoriamente substituída por prisão
domiciliar, desde que: I – o crime não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça a
pessoa e II – o crime não tenha sido cometido contra seu filho ou dependente.

Além disso, a Lei nº 13.769/2018 acrescentou o art. 318-B ao CPP, passando a dispor

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expressamente que a substituição da prisão preventiva pela domiciliar poderá ser efetuada
sem prejuízo da aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP
(medidas cautelares diversas da prisão, estudadas posteriormente).

11.3.  PRISÃO TEMPORÁRIA

Trata-se de espécie de prisão provisória prevista pela Lei n. 7.960/89, que pode ser decretada
apenas no curso da fase de investigação criminal, e tem como principal objetivo permitir que se
finalizem as investigações nos crimes previstos no inciso III do art. 1º da Lei nº 7.960/89

A prisão temporária pode ser requerida pala autoridade policial ou pelo Ministério Público, mas
não pode ser decretada de ofício pelo juiz.

Vejamos abaixo o teor do art. 1º da Lei nº 7.960/89, que trata das hipóteses de prisão temporária:
Art. 1° Caberá prisão temporária:
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários
ao esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput,
e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
58
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado
pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de
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suas formas típicas;


n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (Incluído pela Lei nº 13.260, de 2016)

Muito importante destacar que prevalece o entendimento de que a prisão temporária somente
poderá ser concedida se houver conjugação do inciso I ou II com qualquer dos crimes previstos no
inciso III, ou seja, a leitura do artigo supratranscrito não pode ser feita de forma isolada, de modo

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que a prisão temporária pressupõe a existência de crime previsto no inciso III.

A prisão temporária terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema
e comprovada necessidade (art. 1º da Lei nº 7.960/89) TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV.

Entretanto, em se tratando de crime hediondo ou equiparado o prazo da prisão temporária será


de 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias. TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.

Após o decurso do prazo da prisão temporária, o preso deve ser imediatamente solto
TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

11.4.  REVOGAÇÃO E RELAXAMENTO DA PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA

Revogação da prisão: a revogação da prisão ocorre quando ficar constatado que não mais
subsistem os motivos que fundamentaram sua decretação, sendo possível nos casos de prisão
preventiva e temporária.

Relaxamento da prisão TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV: cabível nos casos em
que ocorrer prisão ilegal, em qualquer modalidade (flagrante, preventiva e temporária), inclusive
em se tratando de crime hediondo, conforme súmula n. 697 do STF: “A proibição de liberdade
provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por
excesso de prazo”.

Liberdade provisória: a liberdade provisória é instituto processual que substitui a prisão em


flagrante (art. 5º, LXVI, CF/88 e art. 310, III, do CPP), sendo concedida quando, analisando-se o auto
de prisão em flagrante, ficar demonstrado que não se trata de caso de relaxamento de prisão, nem
existem os pressupostos para a concessão de prisão preventiva.

RELAXAMENTO DA PRISÃO LIBERDADE PROVISÓRIA

Prisão ilegal Prisão legal

Cabível em qualquer espécie de prisão cautelar Cabível apenas no caso de prisão em flagrante

59
O acusado terá liberdade ampla Acusado fica sujeito ao cumprimento de
certas condições
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A liberdade provisória pode ser concedida sem fiança ou com fiança:

Liberdade provisória sem fiança: a liberdade provisória sem pagamento de fiança será
concedida se estiver presente qualquer uma das causas de exclusão de ilicitude do art. 23 do CP
(em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito).

Liberdade provisória com pagamento de fiança: nesse caso, para ter sua liberdade provisória,
o acusado deverá depositar determinada quantia em dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos,
títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar.
A fiança poderá ser concedida pela Delegado de Polícia, nos casos em que a pena máxima privativa

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de liberdade não seja superior a 4 anos, ou pelo Juiz de Direito, nas demais hipóteses.

Os artigos 322 e 323 do CPP preveem os casos em que não se permitirá a liberdade provisória
nem com pagamento de fiança:

• Nos crimes de racismo

• Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos
definidos como crimes hediondos;

• Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional
e o Estado Democrático;

• Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido,
sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do CPP;

• Em caso de prisão civil ou militar;

• Quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312).

Destaca-se ainda que a liberdade provisória (com ou sem fiança) poderá ser condicionada ao
cumprimento das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:


I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais
para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por cir
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relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado
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ou acusado tenha residência e trabalho fixos;


VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica
ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável
(art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; TEMA COBRADO NO XXIII
EXAME DA OAB/FGV.
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do

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processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada
à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.

61
12

12.  CITAÇÃO E INTIMAÇÃO


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12.1. CITAÇÃO

A Citação é ato processual por meio do qual o réu é cientificado acerca da existência da ação
penal, para realizar a sua defesa em juízo. Trata-se de ato imprescindível, sendo que sua não
realização gera a nulidade absoluta do processo.

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Existem duas modalidades distintas de citação: a) a real, que constitui a regra no processo
penal, podendo ser dividida em 5 espécies (citação por mandado, por carta precatória, por carta
rogatória, por carta de ordem e por requisição), e b) a ficta, realizada por meio de edital ou com
hora certa, e cabível apenas quando não for possível efetivar-se a citação pessoal.

A diferença entre as modalidades de citação é que na citação real há ciência efetiva do acusado
quanto à existência da ação penal, enquanto na citação ficta a ciência é presumida.

• CITAÇÃO REAL

Citação por mandado (art. 351 do CPP): utilizada para citar o réu que se encontra em lugar
certo e sabido dentro do território no qual o juiz exerce a sua jurisdição.

Citação por carta precatória (art. 353 do CPP): é utilizada para citar o réu que está em lugar
certo e sabido, mas fora dos limites territoriais em que o juiz processante exerce sua jurisdição.

Citação por carta rogatória (art. 368 do CPP): utilizada para citar o réu que se encontra em legações
estrangeiras (consulados ou embaixadas) ou em local certo e sabido fora do território nacional.

Citação por carta de ordem: é utilizada para citar o réu que tem prerrogativa de foro e reside
em local diverso do Tribunal. Nestes casos, o tribunal determina que o juiz de primeiro grau
proceda à citação do réu, que reside em sua comarca.

Citação por requisição: é utilizada para citar o réu que é militar. Neste caso o juiz expede
ofício requisitório ao chefe do serviço respectivo (comandante) junto ao qual o militar exerce suas
funções a fim de que seja citado.

A citação será feita pessoalmente, inclusive em relação réu preso, conforme art. 360 do CPP.

• CITAÇÃO FICTA

Citação com hora certa: criada pela Lei n. 11.719/08, que modificou a redação do art. 362 do
CPP, ocorre quando o réu se oculta para não ser citado TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/
FGV. Nesse caso, o oficial de justiça deve comparecer no endereço constante no mandado por 2
62
vezes (NCPC, aplicação subsidiária) e, não localizando o réu e havendo suspeita que ele esteja se
ocultando, o oficial intima qualquer pessoa da família, ou na sua falta qualquer vizinho, de que no
dia imediato, na hora que designar, voltará para efetuar a citação. No dia e hora marcados, o oficial
comparece e, se o réu não estiver presente, procurará se informar das razões da sua ausência,
dando por realizada a citação. As ocorrências serão informadas na certidão e o oficial deixará a
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contrafé com a pessoa da família ou vizinho, declarando-lhe o nome e, se o réu citado com hora
certa não atender ao chamado, o juiz nomeará defensor dativo e dará prosseguimento ao processo
(art. 362, parágrafo único, do CPP).

Citação por edital: utilizada quando as demais espécies de citação restaram infrutíferas,
permanecendo o réu em local incerto e não sabido. O prazo para a citação por edital será de 15
dias e, se o acusado citado por edital não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva.

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Súmula 351 do STF: “É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da Federação
em que o juiz exerce a sua jurisdição” TEMA COBRADO NO XXI EXAME DA OAB/FGV.

A ausência de citação não é sanada com o decurso do tempo e gera nulidade absoluta. No
entanto, a ausência de citação pode ser convalidada no caso do art. 570 do CPP: “A falta ou
a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado
compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-
la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a
irregularidade poderá prejudicar direito da parte.

12.2. INTIMAÇÃO

Diferentemente da citação, que é direcionada ao réu para que este possa se defender, a
intimação é a comunicação de atos processuais, como por exemplo, a juntada de laudo pericial ou
a realização de uma audiência, podendo ser direcionada a qualquer pessoa.

Importante destacar ainda que a intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será
pessoal (§ 4º do art. 370 do CPP).

12.3.  CONTAGEM DE PRAZO

As regras de contagem de prazo no processo penal são diferentes das do processo civil,
conforme abaixo sintetizado.

Regras para a contagem do prazo no processo penal:

• O termo inicial para a contagem do prazo (dies a quo) é o dia da intimação e não o
dia da juntada aos autos do mandado ou carta precatória (Súmula n. 710 do STF).

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• Na contagem do prazo processual, não se computará no prazo o dia do começo,
incluindo-se, porém, o do vencimento (§ 1º do art. 798 do CPP).

• Quando a intimação ocorrer em 6ª feira ou dia não útil, o prazo recomeçará a fluir a
partir do 1º dia útil seguinte (Súmula n. 310 do STF).
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• Se o último dia do prazo cair em dia não útil, considerar-se-á prorrogado até o dia
útil imediato (art. 798, §3°, do CPP).

• Súmula 710 do STF: No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não
da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

• Súmula 310 do STF: Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com

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efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata,
salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.

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13. SENTENÇA
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No processo penal, as sentenças podem ser absolutórias ou condenatórias.

• Sentença Absolutória:

Considera-se sentença absolutória própria, a decisão que julga improcedente a pretensão


punitiva, com base em um dos incisos do art. 386 do CPP:

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Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

I - estar provada a inexistência do fato;

II - não haver prova da existência do fato;

III - não constituir o fato infração penal;

IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;

V - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;

VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20,
21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada
dúvida sobre sua existência;

VII – não existir prova suficiente para a condenação.

A sentença absolutória imprópria, por sua vez, é aquela que, apesar de reconhecer a existência
do fato típico e ilícito, isenta o réu de pena em razão de sua inimputabilidade mental (art. 26, caput
do CP), impondo medida de segurança.

Há ainda a sentença absolutória sumária, em que o réu é absolvido logo após a manifestação
da defesa no procedimento comum (art. 397 do CPP), ou ainda quando o acusado é absolvido na
primeira fase do procedimento do júri (art. 415 do CPP).

• Sentença Condenatória:

Sentença condenatória é a decisão que julga procedente, no todo ou em parte, a pretensão


punitiva deduzida na inicial, estabelecendo a quantidade da pena, o regime de cumprimento, sua
substituição, se cabível, e ainda fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (art. 387 do CPP).

Com base no princípio da correlação, a sentença condenatória deve se manter nos limites
fixados pelos fatos narrados na inicial.

Isso não impede, entretanto, que o juiz, analisando os fatos trazidos pela vestibular, altere a
capitulação jurídica do crime, o que é denominado de emendatio libelli e previsto no art. 383 do CPP.

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Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar
pena mais grave.

§ 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta


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de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.

§ 2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados


os autos.

Promotor de Justiça descreve os fatos na denúncia e os capitula como estelionato e o juiz


condena pelos mesmos fatos, mas pelo crime de furto mediante fraude.

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Permite-se ainda a denominada mutatio libelli quando houver necessidade de mudança da
peça acusatória em virtude de provas e circunstâncias existentes nos autos, conforme art. 384 do
CPP TEMA COBRADO NOS EXAMES XIII E XIV DA OAB/FGV.

Promotor oferece denúncia narrando que o réu subtraiu a carteira da vítima sem violência,
capitulando o crime como furto. No entanto, na instrução do processo, a vítima e as testemunhas
relatam a subtração ocorreu mediante violência. Nesse caso, o réu não pode ser condenado
diretamente pelo crime de roubo, pois não se defendeu do emprego de violência, de modo
que o Promotor de Justiça deverá aditar a denúncia, alterando os fatos, e o advogado do réu
terá prazo de 5 dias para se manifestar, podendo as partes arrolar três testemunhas para o
prosseguimento da instrução.

Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica
do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou
queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo
em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente

§ 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28


deste Código.
§ 2º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o
juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da
audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização
de debates e julgamento.
§ 3º Aplicam-se as disposições dos §§ 1º e 2º do art. 383 ao caput deste artigo.
§ 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo
de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
§ 5º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.

Muito importante registrar que, para assegurar a ampla defesa e o contraditório do réu, a
mutatio libelli é permitida apenas na primeira instância, conforme Súmula n. 453 do STF.

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Digno de nota ainda que, ao proferir a sentença condenatória, o juiz deve mencionar todas as
circunstâncias, cuja existência reconhecer, capazes de interferir na fixação da pena (agravantes,
atenuantes, etc), determinando o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
com base nos prejuízos sofridos pelo ofendido.
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O juiz decidirá também sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva
ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta.

De acordo com o art. 387, §2º do CPP, o tempo de prisão provisória, de prisão administrativa
ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do
regime inicial de pena privativa de liberdade TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.

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14

14.  PROCEDIMENTO COMUM


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O procedimento comum é dividido em procedimento ordinário, quando o crime tiver pena


máxima igual ou superior a 4 anos, procedimento sumário, quando o crime tiver pena máxima
superior a 2 anos e inferior a 4 anos, e procedimento sumaríssimo, aplicável às infrações penais
de menor potencial ofensivo, ou seja, às infrações cuja pena máxima seja inferior a 2 anos.

PROCEDIMENTO PROCEDIMENTO PROCEDIMENTO

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ORDINÁRIO SUMÁRIO SUMARÍSSIMO

Pena máxima igual ou Pena máxima superior a 2 Pena máxima inferior a


superior a 4 anos anos e inferior a 4 anos 2 anos

14.1.  PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

O procedimento comum ordinário é aplicável quando o crime tiver pena máxima igual ou
superior a 4 anos, podendo ser dividido nas seguintes etapas:

• Oferecimento da denúncia ou queixa: conforme previsto no art. 41 do CPP, a denúncia


ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias,
a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Destaca-se ainda
que no procedimento ordinário as partes podem arrolar até 8 testemunhas.

• Decisão do juiz quanto à admissibilidade da peça inicial:

a) o juiz pode rejeitar a denúncia ou queixa nos casos previstos no art. 395 do
CPP (I - manifestamente inepta, II- faltar pressuposto processual ou condição
para o exercício da ação penal; III - faltar justa causa para o exercício da ação
penal); TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV

b) não sendo caso de rejeição o juiz recebe a denúncia ou queixa, devendo


ordenar a citação do réu, a fim de que no prazo de 10 dias ofereça resposta
escrita. A decisão de recebimento da denúncia ou queixa interrompe a prescrição
(art. 117, I, CP).

• Citação: conforme estudado anteriormente, a citação pode ser real (mandado, carta
precatória, carta rogatória, carta de ordem e requisição) ou ficta (edital ou com hora certa).

No processo penal, o termo inicial para a contagem do prazo (dies a quo) é o dia da intimação
e não o dia da juntada aos autos do mandado ou carta precatória. Além disso, a contagem do
prazo é feita com a inclusão do dia do início e exclusão do dia do vencimento.
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• Resposta à acusação: ocorrendo a citação, o prazo para a apresentação da resposta
à acusação é de 10 dias. Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado,
citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-
lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.
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Nos procedimentos ordinário e sumário cabe à defesa, no momento da apresentação da


resposta à acusação (art. 396-A, do Código de Processo Penal), sob pena de preclusão, arrolar
as testemunhas que pretende sejam ouvidas na audiência una. Caso não o faça, só poderá
indicar testemunhas caso surjam, posteriormente, circunstâncias ou fatos apurados durante a
instrução processual que demonstrem a necessidade de produção de novas provas (art. 402 do
Código de Processo Penal).

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• Absolvição sumária: em algumas hipóteses, o acusado poderá ser absolvido
sumariamente, isto é, logo após a sua resposta à acusação, sem a necessidade de
instrução do processo. As hipóteses de absolvição sumária estão previstas no art. 397
do CPP, a saber:

a) Existência manifesta de excludente de ilicitude: legítima defesa, estado de


necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito
(art. 23 do CP). TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

b) Existência manifesta de excludente de culpabilidade, salvo inimputabilidade:


erro de proibição, coação moral irresistível e obediência hierárquica (artigos 21
e 22 do CP).

A inimputabilidade não é causa de absolvição sumária, uma vez que o agente será submetido
à medida de segurança.

c) Fato narrado evidentemente não constitui crime.

d) Extinta a punibilidade do agente: morte do agente, prescrição, decadência,


perdão judicial, etc. (art. 107 do CP).

• Audiência de Instrução e Julgamento: não se tratando de hipótese de absolvição


sumária, o juiz deve designar audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no
prazo máximo de 60 (sessenta) dias. Na audiência, serão realizados, nesta ordem, os
seguintes atos:

a) Tomada de declarações do ofendido

b) Inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa (8


testemunhas para cada parte).

c) Esclarecimentos dos peritos

d) Acareações
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e) Reconhecimento de pessoas e coisas

f) Interrogatório do acusado.
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O interrogatório do acusado, portanto, é o último ato a ser realizado na audiência de instrução,


o que é mais benéfico para a defesa.

• Diligências Complementares se necessárias: produzidas as provas, ao final da


audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado
poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos
apurados na instrução.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


• Alegações Finais: não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido,
serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela
acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir,
sentença (art. 403, caput, do CPP).

a) Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um


será individual (art. 403, § 1º).

b) Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão


concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de
manifestação da defesa (art. 403, § 2º).

As razões finais são, como regra geral, orais. No entanto, o juiz poderá, considerada a
complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias
sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, o juiz terá o prazo de 10 (dez)
dias para proferir a sentença (art. 403, § 3º). Além disso, se houver necessidade de diligência
complementar, as razões finais também serão em memoriais, apresentados 5 dias após a
realização da diligência.

• Sentença: a regra geral é que a sentença seja proferida na própria audiência.


Entretanto, havendo necessidade de diligência complementar ou se o juiz conceder as
partes a possibilidade de apresentação de memoriais, a sentença deve ser proferida
no prazo de 10 dias.

14.2.  PROCEDIMENTO SUMÁRIO

O procedimento sumário segue o mesmo trâmite do procedimento ordinário, com as seguintes adaptações:

• O prazo para a realização da audiência de instrução é de 30 dias, e não de 60 dias


como no procedimento ordinário.

• As partes podem arrolar até 5 testemunhas (no procedimento ordinário são 8 testemunhas).

• Não existe a previsão de pedido de diligências.


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• Não há previsão da possibilidade de alegações finais por memoriais.

A regra geral é que o procedimento sumário é aplicável aos casos em que a sanção máxima da
infração penal é inferior a 4 anos e superior ou igual a 2 anos. No entanto, ainda que se trate de
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infração penal de menor potencial ofensivo (pena máxima inferior a 2 anos), poderá ser adotado
o rito sumário se o acusado não for encontrado para a citação (Juizado Especial não admite
citação por edital), ou em razão da complexidade da causa (art. 66, parágrafo único e art. 77, §
2º, da Lei n. 9.099/95)

14.3.  PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

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O procedimento sumaríssimo é adotado para as infrações de menor potencial ofensivo,
aplicando-se as regras da Lei n. 9.099/95.

Conforme estudado anteriormente, em se tratando de infração de menor potencial ofensivo,


não haverá instauração de inquérito policial e sim de Termo Circunstanciado (registro sumário,
mais célere), que será encaminhado ao Juizado Especial (art. 69 da Lei n. 9.099/95).  

Como providência inicial, haverá designação de audiência preliminar, oportunidade em que


será ofertada a possibilidade de composição civil dos danos e transação penal.

• Composição Civil: tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal


pública condicionada à representação e havendo homologação da composição civil, o
acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação (art.
74 da Lei n. 9.099/95).

• Transação penal: não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente
ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será
reduzida a termo. No caso de representação, ou se tratando de crime de ação pena
pública incondicionada, o Ministério Público poderá propor transação penal com o
acusado, uma espécie de “acordo” em que o réu concorda em se declarar culpado, para
evitar o ajuizamento da ação penal, sendo-lhe aplicada de imediato pena não privativa
de liberdade (art. 72 e 76, Lei n. 9.099/95), como prestação de serviços à comunidade,
pagamento de determinado valor para instituição de caridade, entre outras. Acolhendo
a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena
restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada
apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

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• Não será admitida a transação penal se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado,
pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente
beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos
termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
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agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida
(§ 2º do art. 76 da Lei n. 9.099/95). TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.

• Súmula Vinculante 35 do STF: A homologação da transação penal prevista no artigo 76


da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se
a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução
penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial.

Não ocorrendo a transação penal, haverá o oferecimento da denúncia ou queixa que, de acordo

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com o art. 77 da Lei n. 9.099/95, deve ser apresentada oralmente na própria audiência preliminar,
sendo o acusado citado para comparecer à audiência de instrução e julgamento.

A citação no Juizado Especial deve ser pessoal. Assim, se o acusado não for encontrado para
ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para citação por edital (art. 66
da Lei n. 9.099/95).

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (art. 89 da Lei n. 9.099/95):

O Ministério Público poderá propor a denominada suspensão condicional do processo por 2 a 4


anos, nos casos em que a pena mínima cominada ao crime for igual ou inferior a 1 (um) ano, desde
que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro CRIME e que
estejam presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77
do Código Penal).

Se aceita a proposta, o juiz determinará a suspensão do processo, e o acusado terá extinta a


punibilidade se cumprir as condições impostas, dentre as quais: I - reparação do dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de frequentar determinados lugares; III - proibição de
ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; e IV - comparecimento pessoal e
obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

• A suspensão SERÁ REVOGADA se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por
outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.

• A suspensão PODERÁ SER REVOGADA se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo,
por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

OBS: se o acusado estiver sendo processado ou tiver sido condenado pela prática de contravenção
penal, isso não impede a concessão da suspensão do processo, já que o caput do art. 89 da Lei
n. 9.099/95 se refere apenas a crime. Após a suspensão do processo, se o acusado vier a ser
processado por contravenção penal, a suspensão do processo poderá ser revogada TEMA
COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

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Aberta a audiência de instrução e julgamento, será dada a palavra ao defensor para responder
à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa. Havendo recebimento, serão
ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se
presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença (art. 81 da Lei n.
9.099/95). TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV.
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Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz


limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.

Tratando-se de causa complexa que demande, por exemplo realização de perícia, o


processo será remetido para a Justiça Comum (art. 77, § 2º, da Lei n. 9.099/95).

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz, sendo
que da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, no prazo de 10
dias, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de
jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

Havendo contradição, obscuridade ou omissão na decisão são cabíveis ainda embargos de


declaração (por escrito ou oral) no prazo de 5 dias.

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15.  TRIBUNAL DO JÚRI


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Conforme previsto no art. 5º, XXXVIII, da CF/88, o Tribunal do Júri possui competência para
julgar os crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados, e os seus crimes conexos.

Tem-se, portanto, que a competência do Júri depende da existência de dois requisitos


cumulativos: 1) o crime deve ser doloso e 2) o crime deve ser contra a vida.

Os crimes contra a vida são: homicídio (art. 121 do CP), induzimento, instigação ou auxílio ao

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suicídio (art. 122 do CP), infanticídio (art. 123 do CP) e aborto (arts. 124/128 do CP).

Desse modo, a prática de qualquer um dos crimes acima citados na modalidade dolosa, bem
como os crimes que lhe são conexos, atrai a competência do Tribunal do Júri.

Latrocínio (roubo qualificado pela morte) não vai para o júri, pois não satisfaz o 2º requisito, já
que é considerado crime contra o patrimônio (Súmula nº 603 do STF).

É importante relembrar ainda que a competência por prerrogativa de função estabelecida na


Constituição Federal prevalece sobre a competência do Tribunal do Júri. Entretanto, a competência
do Tribunal do Júri prevalece sobre a competência por prerrogativa de função estabelecida na
Constituição Estadual (Súmula Vinculante 45 do STF).

• Deputado Federal que pratica crime de homicídio doloso será julgado pelo STF, já que a
competência por prerrogativa de função fixada na Constituição Federal prevalece sobre a
competência do Tribunal do Júri.

• Vereador que tem prerrogativa de função fixada pela Constituição de seu Estado e pratica
crime de homicídio doloso será julgado pelo Tribunal do Júri, porque a competência do
Júri é estabelecida na Constituição Federal, que prevalece sobre a competência fixada pela
Constituição Estadual.

O procedimento do Tribunal do Júri é considerado um procedimento especial bifásico, uma vez


que é dividido em duas grandes fases: 1) Sumário da Culpa (Juízo da Acusação) e 2) Julgamento
em Plenário (Juízo da Causa).

• Primeira Fase: Sumário da Culpa

Na primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri, o juiz decidirá apenas sobre a


admissibilidade da acusação. Vejamos abaixo os principais atos da primeira fase:
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- Oferecimento da denúncia ou queixa (neste último caso quando se tratar de ação penal
subsidiária da pública), permitindo-se arrolar até 8 testemunhas.

- Recebimento ou rejeição da denúncia ou queixa.


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- Recebida a denúncia ou queixa, haverá a citação do Réu para se defender em 10 dias.

- Resposta à acusação, permitindo-se à defesa arrolar até 8 testemunhas.

- Ministério Público ou o querelante tem o direito de se manifestar, em 5 dias, sobre a resposta


à acusação, se alegadas preliminares ou forem juntados documentos (art. 409 do CPP).

- Audiência de Instrução e Julgamento. as alegações finais serão orais (não há previsão sobre
a utilização de memoriais).

- Sentença oral na própria audiência, ou por escrito em 10 dias. São possíveis quatro tipos de decisões:

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1) Absolvição Sumária: conforme art. 415 do CPP, o juiz, fundamentadamente, absolverá
desde logo o acusado, quando: I – provada a inexistência do fato; II – provado não ser ele
autor ou partícipe do fato; III – o fato não constituir infração penal; IV – demonstrada causa
de isenção de pena ou de exclusão do crime. A decisão de absolvição sumária faz coisa
julgada material e o recurso cabível é Apelação (art. 416 do CPP).

De acordo com o parágrafo único do art. 415 do CPP, em se tratando de inimputabilidade, esta
não é causa de absolvição sumária, salvo se for a única tese da defesa. Assim, mesmo se o juiz
se convencer da inimputabilidade, deve pronunciar o réu, para que seja julgado em plenário,
salvo se a inimputabilidade for a única tese defensiva, hipótese em que o juiz poderá absolver
sumariamente o réu, aplicando-lhe medida de segurança.

2) Impronúncia: não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios


suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o
acusado (art. 414 do CPP). Trata-se de decisão interlocutória terminativa que faz apenas
coisa julgada formal, uma vez que, enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá
ser formulada nova denúncia ou queixa, se houver prova nova. Contra a decisão de
impronúncia cabe Apelação (art. 416 do CPP). (TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV).

3) Desclassificação: quando o juiz entender que não se trata de crime de competência


do Tribunal do Júri (latrocínio, por exemplo), devendo encaminhar o processo ao juízo
competente. Contra a decisão de desclassificação é cabível recurso em sentido estrito (art.
581, II, do CPP).

Se a decisão de desclassificação ocorrer em sessão planária (segunda fase do procedimento


do Tribunal do Júri), o julgamento do crime residual deverá ser feito pelo próprio presidente
do Tribunal do Júri, conforme 492, § 1º, do CPP TEMA COBRADO NO XXI EXAME DA OAB/FGV.

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4) Pronúncia: o juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da
materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação,
conforme art. 413 do CPP TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV. Trata-se de decisão
interlocutória não terminativa, uma vez que, com a pronúncia, iniciará a segunda fase do
procedimento do Júri. O juiz deve declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o
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acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena, o


que limitará as discussões em plenário, já que a acusação não poderá alegar qualificadoras
ou causas de aumento não previstas na pronúncia. Contra a decisão de pronúncia cabe
recurso em sentido estrito (art. 581, IV, do CPP). Por sua vez, caso o recurso em sentido
estrito tenha seu seguimento negado, caberá carta testemunhável TEMA COBRADO NO XXII
EXAME DA OAB/FGV.

ABSOLVIÇÃO
IMPRONÚNCIA DESCLASSIFICAÇÃO PRONÚNCIA
SUMÁRIA

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Quando provada a Quando não Quando se tratar de Quando o juiz
inexistência do fato; houver indícios crime que não é da se convencer da
provado não ser ele de autoria e competência do Júri materialidade do fato e
autor ou partícipe materialidade. da existência de indícios
do fato; o fato não suficientes de autoria
constituir infração ou de participação. Dará
penal; ou ainda início à segunda fase do
demonstrada causa procedimento do Júri.
de isenção de pena ou
de exclusão do crime.

Cabe Apelação Cabe Apelação Cabe RESE Cabe RESE

• Segunda Fase do Procedimento do Júri: Julgamento em Plenário

Se o acusado for pronunciado, será iniciada a segunda fase do procedimento do Tribunal do


Júri, que é o julgamento em plenário, que terá, resumidamente, as seguintes etapas:

- As partes são intimadas para que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas
que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), podendo juntar documentos e requerer
diligência (art. 422 do CPP).

- O juiz presidente deliberará sobre os requerimentos de provas a serem produzidas e: I –


ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse
ao julgamento da causa; II – fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em
pauta da reunião do Tribunal do Júri (art. 432 do CPP).

- O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado e por 25 (vinte e cinco) jurados que
serão sorteados dentre os alistados. O membro do MP não integra o tribunal do Júri.

- Na sessão de julgamento, para que os trabalhos sejam iniciados, devem comparecer ao menos
15 jurados, dentre os quais serão sorteados 7 jurados para compor o Conselho de Sentença.

- Serão realizados os debates em plenário.

- Instrução: prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando
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o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão,
sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas
arroladas pela acusação e, depois, pela defesa. As partes e os jurados poderão requerer acareações,
reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças
que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares,
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antecipadas ou não repetíveis. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente.

• O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, poderão


formular, diretamente, perguntas ao acusado, mas os jurados formularão perguntas por
intermédio do juiz presidente.

• Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no


plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das

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testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes.

- Debates Orais em Plenário: encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério


Público por 1h30min (uma hora e meia), que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência
de circunstância agravante TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV. Em seguida, iniciará a
fala da defesa, também por 1h30min (uma hora e meia). A acusação poderá replicar e a defesa
treplicar, ambas pelo tempo de 1h (uma hora), sendo admitida a reinquirição de testemunha já
ouvida em plenário. Se houver mais de um acusado, as falas iniciais, a réplica e a tréplica serão
acrescidas de 1h (uma hora). Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão
entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, de forma
a não exceder o tempo ora citado.

• Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação
ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado; II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta
de requerimento, em seu prejuízo (art. 478 do CPP).

• Durante o julgamento não será permitida a leitura de qualquer documento ou a exibição de objeto
que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-
se ciência à outra parte. Inclui-se nessa proibição jornais, vídeos, gravações, fotografias, laudos,
quadros, croqui, etc, conforme art. 479 do CPP TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

- Se os jurados estiverem em condição de julgar o processo, irão a uma sala secreta onde
responderão os quesitos elaborados pelo juiz presidente.

- Juiz presidente proferirá a sentença conforme decidido pelos jurados, fixando a pena em caso
de condenação.
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DESAFORAMENTO:

Na segunda fase do Tribunal do Júri, é possível o desaforamento, ou seja, o deslocamento da


competência territorial da sessão de julgamento para outra comarca da mesma região, nos casos
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previstos no art. 427 e 428 do CPP: interesse da ordem pública, houver dúvida sobre a imparcialidade
do júri, a segurança pessoal do acusado e excesso de serviço julgamento não puder ser realizado no
prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia.

O desaforamento pode feito por requerimento do Ministério Público, do assistente, do


querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, sendo o feito
julgado pelo Tribunal.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


É importante destacar também que a Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) alterou o disposto na
alínea “e” do inciso I e acrescentou os parágrafos 3º, 4º, 5º e 6 º ao art. 492 do CPP, que passou a
ter a seguinte redação:

Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:

I – no caso de condenação:

a) fixará a pena-base;

b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates;

c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas admitidas pelo júri;

d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;

e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se


presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena
igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das
penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento
de recursos que vierem a ser interpostos; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condenação;

II – no caso de absolvição:

a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso;

b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;

c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.

§ 1º Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular,


ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se,
quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal
de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de
setembro de 1995.

§ 2º Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será
julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto n

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§ 2º Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será
julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto
no § 1o deste artigo.

§ 3º O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das


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penas de que trata a alínea e do inciso I do caput deste artigo, se houver questão substancial
cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à
revisão da condenação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma pena


igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à apelação de que


trata o § 4º deste artigo, quando verificado cumulativamente que o recurso: (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

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I - não tem propósito meramente protelatório; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença,


novo julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.

§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito incidentemente na


apelação ou por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com
cópias da sentença condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade,
das contrarrazões e das demais peças necessárias à compreensão da controvérsia.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Com a alteração da alínea “e”, passou-se a admitir a possibilidade de execução provisória da


pena na hipótese de condenação no Tribunal do Júri quando a pena for igual ou superior a 15 anos.

No entanto, o novo § 3º do art. 492 dispõe que o presidente do Júri poderá, excepcionalmente,
deixar de autorizar a execução provisória das penas ora mencionada, se houver questão
substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente
levar à revisão da condenação.

Houve também o acréscimo do § 4º, dispondo que a apelação interposta contra decisão
condenatória do Tribunal do Júri no caso de pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão
não terá efeito suspensivo, isso porque já é possível a execução provisória.

Há, no entanto, a possibilidade de efeito suspensivo da apelação, excepcionalmente, nesse caso


quando o recurso: I - não tem propósito meramente protelatório; e II - levanta questão substancial e
que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena para
patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão (redação do § 5º, acrescido pela Lei 13.964/19).

Por fim, houve também o acréscimo do § 6º, dispondo que o pedido de concessão de efeito
suspensivo poderá ser feito incidentemente na apelação ou por meio de petição em separado
dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença condenatória, das razões da
apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das demais peças necessárias à
compreensão da controvérsia.

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16

16.  PROCEDIMENTOS ESPECIAIS


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Além do Tribunal do Júri, existem outros procedimentos especiais importantes para a prova da
OAB, conforme doravante analisado:

16.1.  LEI DE DROGAS (LEI N. 11.343/06)

Abaixo destacamos as principais características do procedimento previsto na Lei de Drogas,

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que o diferencia dos demais procedimentos.

• O inquérito policial nos crimes previstos na lei de drogas tem prazo diferenciado:
30 dias se o indiciado estiver preso e 90 dias se estiver solto, permitindo-se a
duplicação do prazo pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado
da autoridade de polícia judiciária.

• Na fase de investigação criminal poderão ser adotados os procedimentos


investigatórios da infiltração policial e do flagrante retardado, mediante decisão
judicial fundamentada, ouvido o Ministério Público.

• A denúncia deve ser oferecida no prazo único de 10 dias, independentemente se o


indiciado estiver preso ou solto (art. 54).

• Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa


prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias, podendo o acusado invocar todas as
razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que
pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas (art. 55).

Enquanto nos demais procedimentos a defesa é feita após o recebimento da denúncia, no


procedimento da Lei de Drogas a defesa é prévia, ou seja, antes do recebimento da denúncia.

• Recebida a denúncia no prazo de 5 dias, o juiz designará dia e hora para a audiência
de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do
Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.

• Na audiência de instrução e julgamento serão realizados, nesta ordem, os seguintes


atos: interrogatório do acusado, inquirição das testemunhas, sustentação oral,
sucessivamente, do representante do Ministério Público e do defensor do acusado
pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a
critério do juiz.

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Com a reforma do CPP de 2008, o interrogatório do réu passou a ser o último ato a ser
realizado na audiência de instrução e julgamento, o que prestigia o contraditório e ampla
defesa do acusado. Entretanto, a alteração do CPP não foi repetitiva na Lei n. 11.343/2006
(lei de drogas), que continuou prevendo o interrogatório como o primeiro ato da audiência
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

de instrução. Embora o tema seja polêmico, havendo corrente que sustenta que a atual
previsão do CPP teria que prevalecer sobre o disposto na Lei de Drogas, o candidato, para
a primeira fase da OAB, deve seguir a literalidade da lei, respondendo que o interrogatório
nos crimes de tráfico de drogas e correlatos é o primeiro ato na audiência de instrução e
julgamento TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

É muito importante destacar ainda que no caso do crime previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006
(consumo pessoal de drogas), não é possível a prisão em flagrante do usuário, devendo o infrator
ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso

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de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos
exames e perícias necessários (§ 2º do art. 48).

Além disso, como não há pena privativa de liberdade prevista para o crime do art. 28 da Lei
n. 11.343/2006, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, devendo ser submetida ao rito
sumaríssimo previsto na Lei n. 9.099/95, permitindo-se inclusive a aplicação da transação penal e
da suspensão condicional do processo.

Digno de nota também que, para os demais crimes previstos na Lei n. 13.343/2006, a prisão
em flagrante do acusado depende da elaboração de laudo de constatação, que representa a
confirmação, por meio de perícia, de que a substância encontrada com o infrator realmente é
considerada droga (art. 50).

Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a
regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas,
guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo.

Desse modo, o procedimento previsto na lei de drogas exige a elaboração de dois laudos: laudo
provisório (para validar a prisão em flagrante) e o laudo definitivo.

16.2.  LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO (LEI N. 9.613/98)

Os crimes de lavagem de dinheiro ofendem o sistema econômico e financeiro e são considerados


crimes parasitários, já que dependem de uma infração penal anterior para existirem.

A Lei n. 12.683/2012 trouxe uma alteração paradigmática ao procedimento previsto na Lei n.


9.613/98, uma vez que sepultou a divergência existente acerca da competência para apreciar os
referidos crimes, fixando que a Justiça federal será competente se o crime antecedente também
for de sua competência.

Nesse sentido, a nova redação do inciso III do art. 2º passou a dispor que:

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art. 2º

(...)

III - são da competência da Justiça Federal:


OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em


detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas;

b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.

Além disso, destacamos ainda duas outras peculiaridades da Lei n. 9.613/98 que entendemos
importantes para a prova da OAB/FGV:

• Embora a existência do crime de lavagem de dinheiro dependa de um crime anterior,

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não há necessidade de prova robusta da existência do crime antecedente, já que, mesmo
sendo desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração
penal antecedente, o crime de lavagem de dinheiro será punível (§ 1º do art. 2º).

• O art. 366 do CPP determina que o processo e a prescrição devem ser suspensos
quando o acusado citado por edital não comparecer e não constituir advogado. O
§ 1º do art. 2º da Lei n. 9.613/98, entretanto, dispõe que o art. 366 não é aplicável
aos crimes de lavagem de dinheiro, devendo o acusado que não comparecer nem
constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com
a nomeação de defensor dativo.

16.3.  CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

A principal peculiaridade do procedimento envolvendo crimes praticados por funcionários


públicos está prevista no art. 514 do CPP, segundo o qual, tratando-se de crime afiançável praticado
por funcionário público no exercício de suas funções, o juiz, antes do recebimento da denúncia ou
queixa, deve notificar o acusado para que este responda por escrito no prazo de 15 dias.

A notificação para a defesa antes do recebimento da denúncia ocorre apenas nos crimes
afiançáveis praticados no exercício da função.

16.4.  ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (Lei n. 12.850/2013)

Conforme previsto no § 1º do art. 1º da Lei n. 12.850/2013, considera-se organização criminosa


a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão
de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores
a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Os crimes praticados em razão de organização criminosa seguem o rito ordinário do CPP, com
as seguintes peculiaridades:
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• A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o qual não poderá
exceder a 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até
igual período, por decisão fundamentada, devidamente motivada pela complexidade
da causa ou por fato procrastinatório atribuível ao réu (art. 22, parágrafo único, da Lei
n. 12.850/2013).
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• Em qualquer fase da persecução penal, são permitidos, sem prejuízo de outros já


previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: a) colaboração premiada;
b) captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; c) ação
controlada; d) acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados
cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações
eleitorais ou comerciais; e) interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas,
nos termos da legislação específica; f) afastamento dos sigilos financeiro, bancário e
fiscal, nos termos da legislação específica; g) infiltração, por policiais, em atividade de
investigação; h) cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais

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e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da
instrução criminal (art. 3º da Lei n. 12.850/2013).

• Colaboração Premiada

A colaboração premiada, muita citada em razão da operação Lava Jato, pode ser considerada
um meio de obtenção de prova por meio da qual o coator ou partícipe de uma infração penal,
em troca de benefícios processuais, confessa seu envolvimento no delito e fornece informações
eficazes para potencializar as investigações, trazendo resultados importantes para combater as
organizações criminosas.

Em razão da sua importância, abaixo reproduzimos o teor do art. 4º da Lei n. 12.850/2013, que
trata da colaboração premiada:

Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir
em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de
direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação
e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos
seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das


infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais


praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

§ 1º Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do


colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato
criminoso e a eficácia da colaboração.

§ 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer


tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do
Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão
83
judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta
inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal).

§ 3º O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador,


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poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que
sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo
prescricional.

§ 4º Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer


denúncia se o colaborador:

I - não for o líder da organização criminosa;

II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


O MP poderá deixar de oferecer a denúncia apenas em face do colaborador que for o primeiro
a colaborar e desde que ele não seja o líder da organização criminosa.

§ 5º Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade
ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.

§ 6º O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização
do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e
o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o
Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.

§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo, acompanhado das


declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para
homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade,
podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.

§ 8º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos
legais, ou adequá-la ao caso concreto.

§ 9º Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo


seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia
responsável pelas investigações.

§ 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias


produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.

§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.

§ 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá
ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.

§ 13. Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios
ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive
audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações.

§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu


defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
84
§ 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o
colaborador deverá estar assistido por defensor.

§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas
declarações de agente colaborador.
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• AÇÃO CONTROLADA

A ação controlada, prevista no art. 8º da lei n. 12.850/2013, é exemplo de flagrante retardado


(também chamado de diferido, prorrogado ou projetado) e ocorre quando há o retardamento
da intervenção da autoridade policial ou administrativa para que a prisão seja realizada
posteriormente, no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

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É importante destacar que a ação controlada será previamente comunicada ao juiz competente
que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público TEMA
COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam
indicar a operação a ser efetuada. Além disso, até o encerramento da diligência, o acesso aos autos
será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito
das investigações.

O advogado somente poderá ter acesso aos elementos da ação controlada após a sua realização.

Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da intervenção


policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos países
que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de
fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime (art. 9º da lei n. 12.850/2013).

• INFILTRAÇÃO DE AGENTES

A infiltração, prevista no art. 10 e seguintes da lei n. 12.850/2013, significa a inserção proposital


e dissimulada de agente policial na organização criminosa com o fim de obter provas eficazes
para combatê-la.

A infiltração de agente depende de autorização judicial e exige os seguintes requisitos:

a) Representação do Delegado de Polícia ou requerimento do Ministério Público, com


demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando
possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração.

b) Indícios da existência da organização criminosa e demonstração de que a prova não pode


ser produzida por outros meios disponíveis.

O pedido da infiltração será sigilosamente distribuído e, quando deferida, será autorizada pelo prazo
de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade.
85
Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado quando
sua ação for necessária para a investigação e a obtenção de prova, já que a recusa à prática
de determinados atos pelo agente infiltrado pode revelar sua identidade, colocando em risco a
investigação e a sua vida. Entretanto, eventuais excessos praticados pelo agente infiltrado podem
ser punidos.
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Para garantir a segurança do agente infiltrado, o art. 14 lhe assegura os seguintes direitos:
I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada; II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no
que couber, o disposto no art. 9º da Lei n. 9.807/99, bem como usufruir das medidas de proteção
a testemunhas; III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações
pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão
judicial em contrário; IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos
meios de comunicação, sem sua prévia autorização por escrito.

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16.5.  LEI DE LICITAÇÃO E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Para os crimes previstos na Lei n. 8.666/93 (licitação e contratos administrativos) aplicam-se


subsidiariamente as regras do Código de Processo Penal e a Lei de Execução Penal.

Destacamos abaixo os pontos mais importante sobre o procedimento a ser seguido nos crimes
previstos na Lei n. 8.666/96:

• Todos os crimes definidos na Lei n. 8.666/93 são de ação penal pública incondicionada,
cabendo ao Ministério Público promovê-la. TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV

• Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, fornecendo-lhe,


por escrito, informações sobre o fato e sua autoria, bem como as circunstâncias em
que se deu a ocorrência.

• Será admitida ação penal privada subsidiária da pública, se esta não for ajuizada
no prazo legal, aplicando-se, no que couber, o disposto nos arts. 29 e 30 do Código de
Processo Penal.

• Recebida a denúncia, inicia-se a ação penal o réu é citado. Este tem, então, o
prazo de 10 (dez) dias para apresentação de defesa escrita, contado da data do seu
interrogatório, podendo juntar documentos, arrolar as testemunhas que tiver, em
número não superior a 5 (cinco), e indicar as demais provas que pretende produzir.

• Após serem ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa, bem como praticadas


as diligências instrutórias deferidas ou ordenadas pelo juiz, abre-se o prazo sucessivo
de 5 (cinco) dias para cada parte apresentar as alegações finais.

• Decorrido esse prazo, e conclusos os autos dentro de 24 (vinte e quatro) horas, tem
o juiz 10 (dez) dias para proferir a sentença. Da sentença cabe apelação, no prazo de
5 (cinco) dias.

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17

17. RECURSOS
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17.1.  PRINCÍPIOS RECURSAIS

PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE, UNICIDADE RECURSAL OU UNIRRECORRIBILIDADE:


permite que apenas um único recurso seja interposto para buscar a reforma/anulação da decisão.

PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE: parte da premissa de que o recurso depende de manifestação


impugnativa expressa da parte, ou seja, depende da vontade da parte. A exceção mais conhecida
a esse princípio é a possibilidade de recurso de ofício, como no caso da decisão em que o juiz

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concede a reabilitação, hipótese em que deverá encaminhar de ofício o processo para o Tribunal,
conforme art. 746 do CPP TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV

PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL: esse princípio admite que o recurso inadequado


seja recebido como adequado (recebido como outro recurso), desde que não haja má-fé por parte
do recorrente (art. 579 do CPP). Ressalta-se ainda que, se o juiz entender que se trata de caso de
fungibilidade recursal, deverá mandar seguir o rito referente ao recurso cabível.

Parte que interpôs RESE (recurso em sentido estrito) no lugar de Apelação. O juiz, com base no
princípio da fungibilidade, poderá receber o recurso (RESE), mas deverá seguir o rito da Apelação.

PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS: de acordo com o princípio da proibição


do reformato in pejus não é possível que a situação do recorrente seja piorada com o julgamento
do próprio recurso. Assim, se apenas o réu recorrer, sua situação não poderá ser agravada no
julgamento do seu recurso, inclusive no que diz respeito a eventual nulidade não reconhecida pelo
juízo de primeira instância, conforme previsto na Súmula n. 160 do STF:

Súmula n. 160 do STF: É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade
não arguida no recurso da acusação, ressalvado os casos de recurso de ofício. TEMA
COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV..

Conforme jurisprudência do STF, é proibida a reformatio in pejus indireta, que ocorre “quando a
sentença condenatória é anulada em recurso da defesa e o réu, submetido a novo julgamento,
vem a ser condenado a pena superior àquela anteriormente fixada” (HC 58.048-PR, DJ de
29.08.80). TEMA COBRADO NOS EXAMES II, III E XII DA OAB/FGV.

17.2.  PRESSUPOSTOS RECURSAIS

Os pressupostos recursais podem ser classificados em subjetivos (intrínsecos), quando relacionados


87
à pessoa do recorrente, e objetivos (extrínsecos), quando dizem respeito ao próprio recurso.

• PRESSUPOSTOS OBJETIVOS:

CABIMENTO: deve haver previsão legal para a interposição do recurso, permitindo-se apenas
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um recurso para o fim buscado pelo recorrente (singularidade).

ADEQUAÇÃO: não basta a previsão legal, devendo o recurso interposto ser o recurso adequado
para atacar a decisão.

REGULARIDADE FORMAL: o recurso interposto deve cumprir as formalidades expressamente


previstas em lei para a sua interposição.

TEMPESTIVIDADE: o recurso deve ser interposto no prazo estabelecido pela lei, devendo-
se recordar que o prazo para a interposição do recurso começa a fluir no dia da intimação das

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partes, sendo que, em relação à defesa, devem ser intimados tanto o réu quanto o seu defensor,
começando o prazo a partir da data da última intimação.

AUSÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DE RECORRER: os fatos


impeditivos surgem antes da interposição do recurso (renúncia), enquanto que os fatos extintivos
ocorrem após a interposição do recurso (desistência e deserção). TEMA COBRADO NO XI EXAME
DA OAB/FGV.

FATO IMPEDITIVO FATO EXTINTIVO

RENÚNCIA: ato pelo qual a parte expressamente DESISTÊNCIA: manifestação de vontade de não
manifesta o desejo de não recorrer. O Ministério continuar com o recurso interposto. Atenção: O
Público não pode renunciar, mas isso não significa Ministério Público não é obrigado a recorrer, mas
que ele seja obrigado a recorrer de qualquer não pode desistir do recurso interposto (art. 576
decisão. do CPP).

Não podemos esquecer que a renúncia do DESERÇÃO: aplica-se apenas aos casos
réu ao direito de recorrer, manifestada sem de ação penal privada, quando não houver o
a anuência de seu defensor, não impede o pagamento do preparo (art. 802, § 2º, do CPP).
reconhecimento do recurso por este interposto
(Súmula n. 705 do STF). Assim, se o réu
renunciar ao direito de recorrer, permite-se que
o seu defensor interponha o recurso, caso não
concorde com a renúncia TEMA COBRADO
NO XVII EXAME DA OAB/FGV.

• PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS

LEGITIMIDADE: legitimados são aqueles que têm o direito de recorrer. Possuem legitimidade
para recorrer, pela acusação, o querelante e o Ministério Público e, pela defesa, o acusado e o
seu defensor. Importante destacar ainda que, na ação penal pública, a legitimidade recursal do
ofendido, na condição de assistente de acusação, é subsidiária, ou seja, poderá recorrer apenas se
o Ministério Público não o fizer.

INTERESSE: admite-se o recurso apenas da parte que tiver interesse na reforma ou modificação

88
da decisão (art. 577 do CPP).

17.3.  EFEITOS RECURSAIS


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EFEITO DEVOLUTIVO: trata-se de efeito presente em todos os recursos, segundo o qual o


recurso devolve ao órgão jurisdicional superior toda a matéria impugnada. Destaca-se que apenas
a matéria impugnada está amparada pelo efeito devolutivo, conforme previsto na Súmula n. 713 do
STF, referente à apelação no Tribunal do Júri, mas aplicável aos demais recursos:

Súmula n. 713 do STF: O efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito
aos fundamentos da sua interposição.

EFEITO SUSPENSIVO: impede a produção dos efeitos da decisão impugnada do recurso até
o trânsito em julgado. No processo penal os recursos não possuem, como regra geral, efeito

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suspensivo, salvo quando expressamente previsto em lei, como no caso da apelação contra
sentença condenatória (art. 597 do CPP).

O réu é condenado em primeira instância pela prática do crime de furto a pena privativa de
liberdade. A apelação contra a decisão condenatória terá efeito suspensivo, na medida em que o
réu não poderá ser recolhido à prisão antes da confirmação da decisão nas instâncias superiores.

EFEITO REGRESSIVO (ITERATIVO OU DIFERIDO): trata-se do juízo de retratação, ou seja, da


possibilidade do próprio órgão julgador rever sua decisão, como no caso do recurso em sentido
estrito, do agravo em execução e da carta testemunhável.

EFEITO EXTENSIVO: trata-se de efeito comum a todos os recursos e previsto no art. 580 do
CPP, segundo o qual, no caso de concurso de agentes, a decisão do recurso interposto por um dos
réus, se fundado em motivos que não sejam em caráter exclusivamente pessoal (prescrição em
razão da idade, por exemplo), aproveitará aos outros.

Heron, Gean e Eduardo são condenados pela prática do crime de furto em concurso de
agentes, tendo apenas Heron recorrido da decisão. No tribunal, o recurso de Heron foi provido,
reconhecendo-se que se tratava de fato atípico (furto de uso). Neste caso, a decisão prolatada
em razão do recurso de Heron beneficiará os demais agentes, já que a atipicidade não é causa
exclusivamente pessoal.

89
18

18.  RECURSOS EM ESPÉCIE


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18.1.  RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (RESE)

O recurso em sentido estrito é utilizado, como regra geral, para impugnar decisões
interlocutórias. Como peculiaridade, o RESE possui efeito regressivo (iterativo), permitindo que o
juiz se retrate da decisão antes de encaminhar o processo para a instância superior.

As principais hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito estão previstas no art. 581

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do CPP. Entretanto, muitos de seus incisos foram revogados, de modo que reproduziremos abaixo
apenas aqueles que permanecem em vigor:

I - Da decisão que não receber a denúncia ou a queixa: essa regra é excepcionada no caso
do juizado especial criminal, onde, rejeitada a denúncia ou a queixa, o recurso cabível é a
apelação.

Contra a decisão que recebe a denúncia ou a queixa não cabe recurso específico, permitindo-se
apenas o uso do habeas corpus TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

II - Que concluir pela incompetência do juízo: quando o juiz, de ofício, se declara incompetente
para a apreciação do processo, caberá a interposição de recurso em sentido estrito.

III - Que julgar procedente as exceções, salvo a de suspeição: o RESE não é cabível na
hipótese de procedência da exceção de suspeição, uma vez que o tribunal não teria como
obrigar o juiz atuar em um processo que se considera suspeito, ainda que ausentes os
motivos de suspeição.

IV - Da decisão que pronunciar o réu: no caso de impronúncia o recurso cabível é a apelação.

V - Que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea fiança, indeferir requerimento
de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em
flagrante.

VII - Que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor: a decisão em sentido contrário,
que não quebra a fiança ou não julga perdido o valor, não cabe recurso específico, mas a
acusação, em preliminar de apelação, poderá sustentar a medida.

VIII - Que decretar a prescrição, ou por outro modo, julgar extinta a punibilidade.

IX - Que indeferir o requerimento de reconhecimento da prescrição ou de outra causa


extintiva da punibilidade: se o pedido ocorrer durante a fase de execução, o recurso cabível
será o agravo e não o RESE.

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X - Que conceder ou negar a ordem de Habeas Corpus TEMA COBRADO NO XXIII EXAME
DA OAB/FGV: além do RESE, para decisão que concede o Habeas Corpus é previsto o recurso
de ofício (art. 574, I do CPP).

Art.  574.  Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que


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deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz:

I - da sentença que conceder habeas corpus;

XIII - Que anular o processo da instrução criminal no todo ou em parte

XIV - Que incluir jurado da lista geral ou desta o excluir: trata-se de RESE considerado
especial, porque não ataca decisão proferida no processo e sim decisão administrativa
(elaboração da lista geral de jurados), possuindo ainda prazo de interposição diferente, que
é de 20 dias a contar da publicação da lista definitiva.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


XV - Que denegar a apelação ou a julgar deserta: como regra geral, contra a decisão que
rejeita recurso, o recurso oponível é a carta testemunhável. Entretanto, no caso da decisão que
rejeita a apelação, o recurso cabível é o RESE TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.

XVI - Que ordenar a suspensão do processo em virtude prejudicial: Já para a decisão


contrária, ou seja, a que não suspende o curso do processo, como prevê o art. 93, § 2º, não
cabe recurso.

XVIII - Que decidir o incidente de falsidade: a decisão proferida no incidente de falsidade


documental, procedente ou improcedente, comporta RESE. Já a decisão que indefere o
pedido de instauração de incidente é irrecorrível.

XIX - que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução penal, previsto no
art. 28-A - A lei n. 13.964/19 acrescentou o inciso XXV ao art. 581, passando a prever que
cabe RESE da decisão que negar a homologação do acordo de nãopersecução penal.
• PRAZO
O prazo de interposição do RESE é de 5 dias, salvo em relação à decisão que inclui ou exclui
jurado da lista geral (inciso XIV), em que o prazo será de 20 dias (art. 586, parágrafo único, do CPP).

A sua interposição admite duas formas (petição ou termo nos autos) e, recebido o recurso, o
recorrente e recorrido são intimados para apresentar, respetivamente, as razões e contrarrazões
no prazo de 2 dias (art. 588 do CPP). TEMA COBRADO NO XXIX EXAME DA OAB/FGV

Apresentadas as razões e contrarrazões, o juiz terá 2 dias para o juízo de retratação. Caso não
se retrate, o processo será encaminhado ao Tribunal para julgamento.

• EFEITOS

O RESE possui, além dos efeitos devolutivo e extensivo (comum a todos os recursos), efeito
regressivo ou iterativo (juízo de retratação) e efeito suspensivo nos casos previstos no art. 584 do CPP.

Como o RESE não tem em regra efeito suspensivo, a cautelar é o remédio adequado para
conferir-lhe esse efeito, se for o caso.

Súmula 604 do STJ: “Mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a
recurso criminal interposto pelo Ministério Público”
91
18.2. APELAÇÃO

De acordo com o previsto no art. 593 do CPP, caberá apelação, no prazo de 5 (cinco) dias, nas
seguintes hipóteses:
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

I - Das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular:


as decisões definitivas de condenação ou absolvição, incluindo as decisões de absolvição
sumária, são atacáveis por Apelação TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.

II - Das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos
em que não se permite RESE: a regra, portanto, é ser esse tipo de decisão combatida pelo RESE,
por isso se diz que a apelação, com fundamento no art. 593, II, assume caráter subsidiário.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


O recurso contra a decisão de pronúncia é o RESE e contra a decisão de impronúncia é a Apelação.

III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia, b) for a
sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver erro ou
injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; d) for a decisão dos jurados
manifestamente contrária à prova dos autos TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV.

• PRAZO

A apelação pode ser interposta por petição ou termo nos autos no prazo de 5 dias, perante o
juízo que proferiu a decisão.

De acordo com o art. 392 do CPP, a intimação da sentença será feita “mediante edital, se o réu,
não tendo constituído defensor, não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça”
(inciso VII). O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta pena privativa de liberdade
por tempo igual ou superior a 1 ano, e de 60 dias, nos outros casos (§ 1º). Importante destacar
que o prazo para apelação correrá após o término do fixado no edital (§ 2º) TEMA COBRADO
NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

Não há juízo de retratação na Apelação, mas, se o juiz denegar o seu recebimento por não
preencher os requisitos de admissibilidade, caberá a interposição de RESE no prazo de 5 dias.

Recebida a apelação, o apelante e o apelado serão intimados para apresentar, respectivamente,


razões e contrarrazões no prazo de 8 dias.

Tratando-se de infração de menor potencial ofensivo (Lei n. 9.099/95), a apelação deverá


ser interposta no prazo de 10 dias, devendo ser apresentada a petição de interposição
conjuntamente com as razões recursais. As contrarrazões também terão prazo de 10 dias.
TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

92
• EFEITOS

A apelação possui, além dos efeitos devolutivo e extensivo (comum a todos os recursos),
efeito suspensivo quando se tratar de decisão condenatória. Tratando-se de decisão absolutória,
a Apelação não terá efeito suspensivo, devendo o réu ser colocado imediatamente em liberdade,
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conforme previsto no art. 596 do CPP. Como exceção, a apelação interposta contra decisão
condenatória do Tribunal do Júri no caso de pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão
não terá efeito suspensivo, isso porque já é possível a execução provisória (alteração promovida
pelo pacote anticrime - Lei n. 13.967/2019)

Importante destacara ainda que, de acordo com o art. 598 do CPP, nos crimes de competência
do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério
Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que
não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


suspensivo. TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

18.3.  EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE

Os embargos infringentes e de nulidade são recursos previstos no art. 609 do CPP, exclusivos
da defesa, e oponíveis contra decisões não unânimes dos Tribunais, desfavoráveis ao réu.
TEMA COBRADO NOS EXAMES XXIV E XXVIII DA OAB/FGV.

Quando a matéria veiculada no recurso for questão de mérito, são cabíveis embargos
infringentes TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV, ao passo que, tratando o recurso de
matéria processual, caberão embargos de nulidade.

Os embargos infringentes e de nulidade são restritos à matéria objeto da divergência. Assim,


a título de exemplo, se o acórdão é unânime em relação à manutenção da condenação, mas não
o é quanto à pena aplicada, com voto vencido pela sua diminuição, os embargos serão possíveis
apenas em relação à pena.

O prazo para a interposição e juntada das razões de ambos os recursos será de 10 dias.

EMBARGOS INFRINGENTES EMBARGOS DE NULIDADE

Decisões não unânimes dos Tribunais Decisões não unânimes dos Tribunais
desfavoráveis ao réu. desfavoráveis ao réu.

Matéria de mérito Matéria processual

18.4.  EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Trata-se de recurso cabível contra decisão de primeira (art. 382 do CPP) ou de segunda instância
93
(art. 619 do CPP), para combater ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão da decisão.

O prazo para oposição e apresentação das razões dos embargos de declaração é 2 dias, salvo
no caso das infrações de menor potencial ofensivo (rito sumaríssimo da Lei n. 9.099/95), em que
o prazo é de 5 dias.
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18.5.  AGRAVO EM EXECUÇÃO

O agravo em execução é o recurso cabível para atacar as decisões proferidas pelo Juiz da
Execução Penal, conforme previsto no art. 197 da LEP TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/
FGV.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Decisões sobre livramento condicional e progressão de regime são atacáveis por agravo em execução.

Como a Lei de Execução Penal é silente a respeito, aplicam-se ao agravo em execução as principais
regras procedimentais do recurso em sentido estrito, incluindo o prazo de 5 dias para a interposição
(súmula n. 700 do STF) e a possibilidade do juízo de retratação (efeito iterativo do recurso).

Importante destacar ainda que o agravo em execução não possui efeito suspensivo.

18.6.  CARTA TESTEMUNHÁVEL

A carta testemunhável, prevista no art. 639 do CPP, é o recurso cabível contra a decisão que rejeita
outro recurso, desde que a lei não preveja recurso específico, possuindo, portanto, caráter subsidiário.

Contra decisão que rejeita apelação caberá RESE e contra a decisão que rejeita recurso
extraordinário ou especial caberá agravo de instrumento.

O prazo para a interposição da carta testemunhável é 48 horas e ela não possui efeito
suspensivo.

94
19

19.  AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO


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19.1.  HABEAS CORPUS

O habeas corpus é o remédio constitucional, de ajuizamento gratuito, que objetiva cessar ou


impedir ofensa à liberdade de locomoção, em razão de ilegalidade ou abuso de poder.

Qualquer do povo pode ingressar com habeas corpus, em benefício próprio ou alheio, sendo o
único remédio constitucional que dispensa a presença de advogado.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


De acordo com o art. 648 do CPP, as principais hipóteses do uso do habeas corpus são:

I - quando não houver justa causa: quando inexistir um motivo legitimador para a continuidade
da persecução penal, é possível a concessão de habeas corpus para trancar o inquérito
policial ou a ação penal. A justa causa é formada por tipicidade (tipicidade em abstrato,
ou seja, se existe um tipo penal que justifique a persecução penal), inexistência de causa
extintiva de punibilidade (exemplo: prescrição) e a viabilidade probatória da persecução
penal (elementos de prova que justifiquem o início de uma investigação).

II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei: havendo excesso
de prisão, é cabível habeas corpus, inclusive de caráter liminar.

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo: ordem de prisão
decretada pelo Delegado de Polícia ou Promotor de Polícia, já que apenas o juiz pode expedir
ordem de prisão (o delegado de polícia e o promotor de justiça podem determinar apenas a
prisão em flagrante).

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação: quando houver alteração
do suporte fático que justificou a restrição da liberdade de locomoção do indivíduo, ou seja,
quando não existir mais o motivo que justificou a coação.

V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza:
quando alguém for impedido de prestar fiança, mesmo a lei autorizando a sua concessão.

Ressalta-se ainda que a jurisprudência e a doutrina vêm admitindo ainda o uso de habeas
corpus quando ilegalmente denegada medida cautelar para substituir a prisão.

VI - quando o processo for manifestamente nulo: quando houver nulidade flagrante, o


habeas corpus pode ser impetrado para obstar o prosseguimento do processo.

VII - quando extinta a punibilidade: quando houver qualquer uma das hipóteses previstas no
art. 107 do CPP (prescrição, decadência, abolitio criminis, perdão do ofendido, etc).

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Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa ou relativo a processo
em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada (Súmula n. 693 do
STF), já que não haverá restrição à liberdade do acusado.
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O habeas corpus não é recurso, de modo que não pode ser impetrado contra qualquer
indeferimento de liminar, salvo situações de manifesta ilegalidade.

19.1.  REVISÃO CRIMINAL

A revisão criminal é uma modalidade de ação autônoma impugnativa que visa desconstituir uma
sentença penal condenatória já transitada em julgado. Assemelha-se à ação rescisória do processo
civil, no entanto, a revisão criminal não está sujeita a prazo prescricional, podendo ser requerida a

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qualquer tempo, inclusive após a morte do réu TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

Sentença absolutória não pode ser objeto de revisão criminal, uma vez que não se admite
revisão criminal pro societate.

A revisão criminal poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado
ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, sendo cabível nas
hipóteses previstas no art. 621 do CPP:

I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à


evidência dos autos;

II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos


comprovadamente falsos;

III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou


de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena TEMA COBRADO
NOS EXAMES XIV E XXIX DA OAB/FGV.

Digno de nota ainda que a competência para julgar a revisão criminal é originária do Tribunal,
de modo que, da decisão que julga a revisão criminal não cabe apelação TEMA COBRADO NO
XI EXAME DA OAB/FGV.

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20.  NULIDADES NO PROCESSO PENAL


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Considera-se nulidade o desatendimento a exigência formal relevante no processo, podendo


ser relativa ou absoluta.

• Nulidade Relativa

É a violação a norma processual que visa atender o interesse das partes, exigindo-se a alegação
pela própria parte prejudicada no momento oportuno, sob pena de preclusão.

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Ressalta-se ainda que a nulidade relativa apenas será reconhecida se a parte interessada
comprovar o prejuízo.

• Nulidade Absoluta

Representa a violação a norma processual relevante, que objetiva atender predominantemente o


interesse público, não havendo necessidade, portanto, de demonstração do prejuízo, já que este é presumido.

A nulidade absoluta pode ser reconhecida a qualquer tempo, inclusive de ofício pelo juiz, e
ocorre principalmente no caso de violação a garantias constitucionais (contraditório e ampla
defesa, por exemplo) TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.

NULIDADE RELATIVA NULIDADE ABSOLUTA

Interesse das partes Interesse Público

Alegação no momento oportuno, sob pena Reconhecida a qualquer tempo


de preclusão

Prejuízo presumido
Necessidade de comprovação do prejuízo

Abaixo transcrevemos os principais princípios relativos às nulidades no processo penal:

• Princípio do prejuízo

Art. 563 do CPP: Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo
para a acusação ou para a defesa.

Não há nulidade sem prejuízo, o qual é presumido na nulidade absoluta, e deve ser demonstrado
na relativa.

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A exemplificar a necessidade de demonstração do prejuízo em relação à nulidade relativa,
transcreve-se o contido na Súmula n. 523 do STF: “No processo penal, a falta da defesa constitui
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.

Assim, a falta de defesa, por ofender os direitos fundamentais ao contraditório e ampla defesa,
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é considerada nulidade absoluta (prejuízo presumido), enquanto que a deficiência da defesa é


considerada nulidade relativa, devendo a parte prejudicada demonstrar o prejuízo sofrido.

• Princípio da instrumentalidade das formas

Art. 566 do CPP. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver
influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.

Não se declara a invalidade de ato que não interfere na apuração da verdade ou na decisão da
causa, ou seja, se o ato eivado de vício atingiu sua finalidade, não deve ser anulado.

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Assim, a título de exemplo, se o réu foi citado indevidamente (por edital, em vez de pessoalmente,
por exemplo), mas apresentou resposta e os demais atos processuais foram devidamente
realizados, não há que se falar em nulidade, já que, mesmo feita de forma equivocada, a citação
cumpriu sua nulidade.

• Princípio do interesse

Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que
tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.

As partes não podem alegar nulidades a que deram causa, ou cujo reconhecimento só interesse
à parte contrária.

• Princípio da Convalidação

Se a parte não suscitar a nulidade relativa na primeira oportunidade que tiver para falar em
audiência ou nos autos, haverá a convalidação do ato, ou seja, o ato anteriormente nulo passa à
condição de ato válido (trata-se, portanto, de princípio aplicável apenas às nulidades relativas).

• Princípio da Causalidade

Pelo princípio da causalidade os atos que são dependentes ou consequência do ato considerado nulo
também serão anulados. A título de exemplo, se a denúncia é considerada nula, o interrogatório realizado
posteriormente também será eivado de nulidade TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

Vejamos, por fim, as principais súmulas sobre nulidades que podem cair na prova da OAB/FGV:

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Súmula 155 do STF - É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da
expedição de precatória para inquirição de testemunha.

Súmula 156 do STF - É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de quesito obrigatório.
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Súmula 160 do STF - É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não
arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

Súmula 206 do STF - É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de jurado que
funcionou em julgamento anterior do mesmo processo.

Súmula 351 do STF - É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação
em que o juiz exerce a sua jurisdição.

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Súmula 366 do STF - Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora
não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.

Súmula 431 do STF - É nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda instância, sem prévia
intimação, ou publicação da pauta, salvo em habeas corpus.

Súmula 523 do STF - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Súmula 564 do STF - A ausência de fundamentação do despacho de recebimento de denúncia


por crime falimentar enseja nulidade processual, salvo se já houver sentença condenatória.

Súmula 706 do STF - É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência


penal por prevenção.

Súmula 707 do STF - Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de
defensor dativo TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV.

Súmula 708 do STF - É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da
renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.

Súmula 712 do STF - É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da


competência do júri sem audiência da defesa.

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BIBLIOGRAFIA
• CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

• DEZEM, Guilherme Madeira. Curso de processo penal. 3ª ed. São Paulo: RT, 2017
OAB NA MEDIDA | PROCESSO PENAL

• LIMA. Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 6ª ed. São Paulo: Juspodivm, 2017

• LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015

• NUCCI, Guilherme de Souza: Código de Processo Penal Comentado. São Paulo:


Revista dos Tribunais, 2006.

• PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 21ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.

• RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 20ª ed. São Paulo: Atlas, 2012

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