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OAB

EXAME DE ORDEM

DIREITO
CIVIL
Capítulo 01
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você não
só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você
terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de
entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,

queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo

sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo


que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF
Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos
que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade

de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência


selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

1
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar

a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para

o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

Bons estudos 

2
SOBRE ESTA DISCIPLINA

Daremos início ao estudo da disciplina de Direito Civil. Como bem sabido, a FGV separa sete

questões para essa matéria na primeira fase da OAB. Ou seja, por ser matéria de altíssima
relevância, o seu estudo é primordial.

Dessa forma, este material busca fornecer ao aluno um conhecimento amplo e suficiente,

conforme os temas costumam ser cobrados, então, ao final dos capítulos, serão colacionadas
questões para treinamento, sempre priorizando aos concursos da área.

Vale acrescentar, por fim, que, como se constatará ao longo dos capítulos, os Examinadores do

Exame de Ordem, vem cobrando a disciplina de modo abrangente. Deste modo, em que pese
alguns temas sejam mais recorrentes, nenhum capítulo deste material deve ser negligenciado.

Veja abaixo como se dá a distribuição macro da recorrência dessa disciplina:

3
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA

Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos objetivamente
mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda diferença.
Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com base nas

últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina!

Sucessão
testamentária e
disposições de última
vontade Pessoa natural e
Sucessão legítima 13% Direitos da
13% personalidade
13%

Teoria do Contrato
13%

Contratos em espécie
Regimes de Bens e 13%
outros Direitos
Patrimoniais nas
relações familiares
13% Direitos Reais
25%

Pessoa natural e Direitos da personalidade


Teoria do Contrato
Contratos em espécie
Direitos Reais
Regimes de Bens e outros Direitos Patrimoniais nas relações familiares
Sucessão legítima
Sucessão testamentária e disposições de última vontade

4
TEMAS RECORRÊNCIA
Direitos Reais 

Pessoa Natural e Direitos da Personalidade 

Teoria do Contrato 

Contratos em Espécie 

Convenção Americana sobre Direitos Humanos 

Regimes de bens e outros Direitos Patrimoniais nas relações



familiares
Sucessão Legítima 

Sucessão Testamentária e disposições de última vontade 

5
Assim, os assuntos de Direito Civil estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 (você está aqui!) – Direito Civil e Constituição.



LINDB. Pessoa natural e Direitos da personalidade. Pessoa jurídica.
Capítulo 2 – Bens. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos. Prescrição e

Decadência
Capítulo 3 – Teoria Geral das Obrigações. Atos Unilaterais 
Capítulo 4 –Teoria do Contrato. Contratos em espécie. 
Capítulo 5 – Teoria da Responsabilidade civil. 
Capítulo 6 – Posse. Direitos Reais 
Capítulo 7 – Casamento, União Estável e Monoparentalidade.
Dissolução do Casamento e da União Estável. Parentesco. Poder

Familiar. Regimes de Bens e outros Direitos Patrimoniais nas relações
familiares. Alimentos.
Capítulo 8 – Sucessão legítima. Sucessão testamentária e disposições

de última vontade.

6
SOBRE ESTE CAPÍTULO

A parte Geral do Código Civil é um assunto que é de média relevância no Exame de Ordem,

tendo sido cobrado 4 vezes nos últimos 3 anos. Assim, não devemos deixar esse conteúdo
para lá, não é mesmo?

Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta

é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei,
acompanhada de alguma doutrina à sua escolha.

E o mais importante, responda questões! A resolução de questões é a chave para a aprovação!

Vamos juntos!

7
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ......................................................................................................................................... 11

Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 11

1. Direito Civil e Constituição ........................................................................................................... 11

1.1 Princípios basilares do Código Civil de 2002 ........................................................................................ 12

1.2 A Evolução do Direito Civil ............................................................................................................................ 13

2. Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro................................................................. 15

2.1 Vigência das normas ........................................................................................................................................ 15

2.2 Princípio da Continuidade das Normas ................................................................................................... 15

2.3 Repristinação ........................................................................................................................................................ 16

2.4 Revogação ............................................................................................................................................................. 16

2.5 Princípio da Obrigatoriedade das Normas ............................................................................................. 16

2.6 Técnicas de Integração da Lei ...................................................................................................................... 16

2.7 Princípio da Irretroatividade da Lei ............................................................................................................ 17

2.8 Aplicação da Norma no Espaço .................................................................................................................. 18

3. Pessoa Natural e Direitos da Personalidade............................................................................. 20

3.1 Início da Personalidade da Pessoa Natural e Domicílio da Pessoa Natural ............................ 20

3.1.1 Momento aquisitivo da personalidade ...................................................................................................... 20

3.2 Domicílio ................................................................................................................................................................ 22

3.3 Capacidade ........................................................................................................................................................... 23

3.4 Incapacidade ........................................................................................................................................................ 26

3.4.1 Incapacidade Absoluta ...................................................................................................................................... 26

3.4.2 Incapacidade Relativa ........................................................................................................................................ 27

3.4.3 Cessação da Incapacidade ............................................................................................................................... 28

8
3.4.4 Extinção de Personalidade da Pessoa Natural........................................................................................ 32

3.5 Direitos da Personalidade .............................................................................................................................. 36

3.5.1 Características dos Direitos da Personalidade ........................................................................................ 36

3.5.2 Tutela dos Direitos da Personalidade ......................................................................................................... 37

3.5.3 Atos de Disposição Corporal.......................................................................................................................... 39

3.5.4 Tratamento Médico de Risco ......................................................................................................................... 40

3.5.5 Direito ao Nome .................................................................................................................................................. 41

3.5.6 Divulgação de Escritos, Transmissão da Palavra e Utilização da Imagem ................................. 43

3.5.7 Direito à Privacidade .......................................................................................................................................... 44

4. Pessoa jurídica ................................................................................................................................. 46

4.1 Conceito de Pessoa Jurídica e Domicílio da Pessoa Jurídica.......................................................... 46

4.2 Classificação das Pessoas Jurídicas ............................................................................................................ 47

4.2.1 Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno........................................................................................... 47

4.2.2 Pessoas jurídicas de Direito Público Externo........................................................................................... 47

4.2.3 Pessoas Jurídicas de Direito Privado ........................................................................................................... 48

4.3 Criação (início) da Pessoa Jurídica.............................................................................................................. 49

4.4 Entes despersonalizados ................................................................................................................................. 49

4.5 Administração da Pessoa Jurídica ............................................................................................................... 49

4.6 Desconsideração da Personalidade jurídica ........................................................................................... 50

4.6.1 Hipóteses para a Desconsideração .............................................................................................................. 50

4.6.2 Modalidades de desconsideração da personalidade jurídica .......................................................... 55

4.7 Dissolução da Pessoa Jurídica ...................................................................................................................... 56

4.8 Associações ........................................................................................................................................................... 57

4.8.1 Conceito................................................................................................................................................................... 57

4.8.2 Características........................................................................................................................................................ 58
9
4.8.3 Constituição ........................................................................................................................................................... 58

4.8.4 Exclusão dos associados ................................................................................................................................... 59

4.9 Fundações ............................................................................................................................................................. 59

4.9.1 Conceito e Finalidades ...................................................................................................................................... 59

4.9.2 Procedimentos para a Criação de uma Fundação ................................................................................ 60

4.9.3 Fiscalização ............................................................................................................................................................. 61

4.9.4 Requisitos para alteração do estatuto ....................................................................................................... 61

4.9.5 Término das fundações..................................................................................................................................... 62

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 63

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 71

GABARITO ............................................................................................................................................... 77

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 78

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 79

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 81

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 83

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 89

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 93

10
DIREITO CIVIL

Capítulo 1

1. Direito Civil e Constituição

O fenômeno denominado “Constitucionalização do Direito Civil” é a interpretação, estudo ou

análise do Código Civil com base na Constituição Federal.

O Código civil de 1916 era bastante conservador, sobretudo nas regras sobre a família,

pois havia em seu conteúdo certa rejeição quanto aos aspectos sociais, abordava-se
principalmente sobre as relações privadas. Além disso, seus preceitos foram escritos com excesso
de abstração.

Com as mudanças nas relações sociais, na cultura, nos costumes, convivências e


experiências dos cidadãos em sociedade no decorrer dos anos, surgiu a Carta Magna de 1988.
A mesma definiu princípios relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código

Civil e ao império da vontade, como a Função Social da Propriedade, os Limites da Atividade


Econômica, a Organização da Família, passando a integrar, assim, uma nova ordem pública

constitucional.

A Constituição de 1988 representou a afirmação da cidadania como elemento essencial


à sociedade brasileira. Os princípios da Dignidade da Pessoa Humana e da Igualdade

influenciaram o Direito Civil, resultando na dedução da importância de se possuir um Código


que estivesse de acordo com a sociedade vigente, que regulasse as relações jurídicas entre as

pessoas (naturais ou jurídicas) buscasse uma situação de equilíbrio de condições, disciplinasse

11
os negócios jurídicos, a família, obrigações e contratos, a propriedade e demais direitos reais,

cumprindo, portanto, sua função a luz dos princípios constitucionais.

Dessa forma, com o intuito de acompanhar as mudanças sociais e a influência dos


princípios constitucionais, foram realizadas adaptações para que o texto do Código Civil pudesse

ser compatibilizado com o texto constitucional, sem, contudo, alterar a substância normativa de
antes, surgindo o Código Civil de 2002.

Isto posto, podemos conceituar a “Constitucionalização do Direito Civil” como o estudo

geral e a interpretação do Código Civil com base nos princípios, fundamentos e normas

presentes na Constituição Federal. Um exemplo é a observação do Princípio da Dignidade da


Pessoa Humana, presente na Constituição Brasileira de 1988 e interpretado nas normas que se

referem à concessão de alimentos, dispostas no Código Civil.

1.1 Princípios basilares do Código Civil de 2002

O Código Civil de 2002 foi criado com o objetivo de superar o modelo trazido pelo

Código de 1916, baseado na “Era dos Direitos” e que buscava um direito que pudesse
solucionar cada situação jurídica possível, com preocupação de viés individualista.

Sendo assim, no sentido da constitucionalização do Direito Civil, com a influência direta


dos princípios expressos na CF/88, o Código de 2002 se baseou em três pilares básicos

(diretrizes):

 Eticidade: que tem como corolário o princípio da boa-fé objetiva, estabelece que as
relações jurídicas devem ser pautadas pela ética e pela lealdade. As partes devem

atuar de boa-fé em todas as fases da relação, desde a negociação até a fase de


execução. São 3 as funções desta diretriz: função de interpretação (art. 113, do CC)1,

1
Art. 113 do CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”.
12
função de controle (art. 187, do CC)2, função de integração/prestação (art. 422,

do CC)3.
 Sociabilidade: superação do modelo individualista nas relações, de modo que todas

elas devem ser voltadas aos pilares do convívio comum, prevalecendo os valores
coletivos aos individuais e respeitando-se os direitos fundamentais dos seres

humanos.
 Operabilidade: é a simplificação do Direito Civil. Todas as situações devem possuir

uma solução e as normas devem ser viáveis, de fácil operabilidade, como as cláusulas
abertas, que possibilitam uma ampliação do conteúdo da norma, a fim de serem
aplicadas aos casos apresentados. O direito, pois, não é mais a norma fechada,

aplicada exatamente ao caso descrito pela lei, mas disciplina de interpretação, que
concede ao aplicador da lei o poder de interpretar a norma mais adequada à situação

concreta, mantendo-se a completude do sistema.

1.2 A Evolução do Direito Civil

 Code de France de 1804: Revolução Francesa, divisão entre Direito Público e Privado,
onde estava um, não poderia estar o outro. O Código Civil da Alemanha o BGB, em

1896. Ambos individualistas e patrimonilistas (propriedade privada e pacta sunt


servanda). São as influências do Código Civil de 1916.
 Direito Civil – Constitucional: Constitucionalização do Direito Civil. Não há mais
aquela separação rígida entre o público e o privado. O Direito Civil passou por uma
releitura, à luz dos princípios constitucionais, valores fundamentais, como a dignidade

da pessoa humanda, a igualdade material (substancial), a solidariedade social, ou seja,


trata-se de uma releitura axiológica. É o que chamamos de filtragem constitucional.

 Constitucionalização do Direito Civil x Publicização do Direito Civil: a


constitucionalização é o que falamos acima, isto é, a compreensão de qualquer

2
Art. 187 do CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
3
Art. 422 do CC: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé”.

13
instituto do Direito Civil à luz da Constituição (eficácia irradiante). Já a Publicização

do Direito Civil, também chamada de Dirigismo Contratual, que é a presença do


Poder Público na relação privada, quando há algum desequilíbrio entre as partes,

como é o caso do Direito do Trabalho e das relações de consumo, para garantir a


isonomia na relação.

14
2. Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro

A Lei n.º 12.376/2010 (LINDB) é uma regra de superdireito ou sobredireito, ou seja,


contém normas que definem a aplicação de outras normas.

A LINDB4 preocupa-se com a própria norma jurídica, sendo essa o seu o objeto de
estudo. Assim, dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de forma

diferente na legislação específica.

É, ainda, o Estatuto do Direito Internacional Privado (conjunto de normas internas de um

país, instituídas especialmente para definir se a determinado caso se aplicará a lei local ou a lei
de um Estado estrangeiro).

Aqui vamos abordar os principais dispositivos cobrados em provas sobre a LINDB.

2.1 Vigência das normas

A lei passa a vigorar no território brasileiro, quando não possui vacatio legis determinada,
no prazo de 45 dias após a sua publicação.

Nos Estados estrangeiros, passa a vigorar após três meses depois de oficialmente

publicada, quando admitida.

Se após a publicação de uma lei, antes de esta entrar em vigor, acontecer uma nova

publicação, para correção, o prazo começará a correr a partir desta publicação.

Se a lei já estiver em vigor, a correção será considerada como LEI NOVA.

2.2 Princípio da Continuidade das Normas

A lei posterior revoga a anterior, quando expressamente o declare, quando seja com

ela incompatível, ou quando regule inteiramente a matéria que tratava a lei anterior.

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2.3 Repristinação

Fenômeno legislativo, pelo qual há a entrada novamente em vigor de uma norma


efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. De acordo com a LINDB, tal

efeito apenas é permitido se expressamente declarado. Não há a incidência automática de


repristinação.

Difere-se de Efeito Repristinatório, decorrente do controle de constitucionalidade das


leis, permitido pelo ordenamento brasileiro.

2.4 Revogação

A lei será revogada por outra, valendo, no direito brasileiro, o princípio da continuidade,

salvo no caso de leis temporárias, pois já são criadas para vigorarem em certo período de
tempo.

 Ab-rogação: revogação total (absoluta) da lei.


 Derrogação: revogação parcial da lei.

2.5 Princípio da Obrigatoriedade das Normas

Ninguém pode se escusar com cumprimento da lei alegando o seu desconhecimento,

mas esta é uma presunção relativa. A regra é a vedação à alegação do Erro de Direito, mais
comum no âmbito do Direito Penal.

No entanto, no Direito Civil, o art. 1561, do CC/2002, previu o casamento putativo. Outro

exemplo é o art. 139, III, do CC/2002, que prevê o erro de direito como um vício de vontade.

2.6 Técnicas de Integração da Lei

São técnicas de integração da lei a Analogia, costumes e princípios gerais do direito.

 Integração significa colmatação, sendo esta uma ordem hierárquica, preferencial.

16
 Analogia: colmatação de uma situação não prevista em lei, através de outra já

prevista.

 Analogia legis: é a comparação entre uma situação não tratada em lei com
outra tratada em lei específica.
 Analogia juris: é a comparação entre uma situação não prevista em lei, com o
sistema jurídico como um todo.
 Costumes: secundum legem (com previsão na lei, por isso não é integração), contra

legem, praeter legem (este é o mecanismo de integração da norma).


 Princípios gerais: não lesar a ninguém, dar a cada um o que é seu, viver

honestamente.

Equidade: Apenas nos casos previstos em lei.

Interpretação da norma: Fins sociais e exigências do bem comum

2.7 Princípio da Irretroatividade da Lei

A lei em vigor possui efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico perfeito, o direito

adquirido e a coisa julgada.

 Ato jurídico perfeito: já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se

efetuou o ato.
 Direito adquirido: consideram-se adquiridos os direitos que o titular, ou alguém por
ele, possa exercer imediatamente.

 Coisa julgada: decisão judicial de que já não caiba recurso.

17
Regra de Direito Intertemporal (art. 2.035, do CC):

 Existência e validade de um negócio jurídico: lei em vigor à época da celebração.

 Eficácia: norma atual.

2.8 Aplicação da Norma no Espaço

Territorialidade é a regra geral, mas é mitigada, pois, em alguns casos, admite-se a

aplicação da legislação estrangeira, ou a legislação brasileira em país estrangeiro.

Estatuto Pessoal: Lei do domicílio da pessoa (não é onde nasceu). Cuida da


personalidade, nome, capacidade e direito de família.

 Casamento: quando os nubentes tiverem domicílios diversos, as normas sobre impedimentos

matrimoniais e regime de bens, observarão a lei do primeiro domicílio conjugal.


 As obrigações se qualificam e regem pela lei do país em que são constituídas.

 É competente a autoridade judiciária brasileira, quando o réu for domiciliado no Brasil ou

aqui tiver que ser cumprida a obrigação.

Situações específicas:

 Bens imóveis: lei do lugar onde estiverem situados.

 Bens móveis e penhor: lei do domicílio do titular.

18
 Contratos: o lugar do contrato é o de residência do proponente.

 Lei sucessória mais favorável: no caso de falecimento de estrangeiro que deixa


herdeiro brasileiro, aplica-se a lei sucessória mais favorável ao herdeiro brasileiro.

A Lei 13.655/2018 veio para adicionar alguns dispositivos legais à redação original da LINDB,
trazendo normas sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito

público.

A Lei nº 13.655/20185 incluiu na LINDB os arts. 20 a 30 prevendo regras sobre segurança


jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público. Vale ressaltar que o art. 25 foi

vetado.

A interpretação dos arts. 20 a 30, portanto, deve ser a de que eles se aplicam para temas

de direito público, mais especificamente para matérias de Direito Administrativo, Financeiro,


Orçamentário e Tributário.

Tais regras não se aplicam, portanto, para temas de direito privado. Apesar disso,

importante ficar atento à tal alteração para fins de prova, para não ser pego de surpresa! ;)

5
NOVIDADE LEGISLATIVA: DECRETO Nº 9.830, DE 10 DE JUNHO DE 2019 - Regulamenta o disposto nos art. 20 ao
art. 30 do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, que institui a Lei de Introdução às normas do Direito
brasileiro: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9830.htm
19
3. Pessoa Natural e Direitos da Personalidade

A personalidade é um atributo universal, consiste na aptidão de ser titular de direitos


e deveres. Para o Ministro Carlos Ayres Brito “Personalidade é a qualidade de ser pessoa”, ou

nas palavras de Orlando Gomes “é o pressuposto dos demais direitos”. Sendo assim, toda

pessoa (homem, mulher, idoso, criança, etc.) tem personalidade.

Portanto, trata-se de atributo conferido ao ser humano, pelo que se garante a qualidade
de sujeito de direitos, de onde provêm todos os direitos e obrigações a que se submete o

indivíduo. Essa é a perspectiva clássica sobre a personalidade.

Contudo, com o CC de 2002, houve uma releitura da personalidade, devido a essa


constitucionalização do Direito Civil e da despatrimonialização deste, ou ainda o que se chama
de repersonificação do Direito Civil. Neste sentido, a personalidade jurídica passou a ser

considerada uma proteção fundamental, através dos direitos da personalidade, que são
irrenunciáveis, inalienáveis e intransmissíveis.

Além disso, são: genéricos, extrapatrimoniais, absolutos, indisponíveis irrenunciáveis,


imprescritíveis, necessários, essenciais e preeminentes.

Nesse sentido, dispõe o artigo 1º do Código Civil: “Art. 1º. Toda pessoa é capaz de
direitos e deveres na ordem civil.”

3.1 Início da Personalidade da Pessoa Natural e Domicílio da


Pessoa Natural

3.1.1 Momento aquisitivo da personalidade

Existem várias teorias que versam sobre o início da personalidade, dentre as quais a

natalista e a conceptualista.

20
A natalista diz que a personalidade se inicia no momento do nascimento com vida,

portanto o nascituro possui mera expectativa de direito. Já a Conceptualista afirma que a


personalidade se inicia desde a concepção, ou seja, o nascituro já seria sujeito de direitos.

Entretanto a teoria adotada pelo Código Civil é a Natalista, ou seja, a personalidade

começa do nascimento com vida, conforme preceitua o artigo 2º do Código Civil.

Existe, ainda, uma terceira corrente que é a Teoria Condicional, que defende que o

nascituro tem determinados direitos, sujeitos a uma condição suspensiva: o nascimento com
vida.

O nascituro teria apenas uma personalidade formal, o que lhe permitiria gozar de direitos

personalíssimos, enquanto os direitos patrimoniais só seriam adquiridos com o nascimento com


vida. Assim, a diferença quanto à teoria natalista, é que esta nega qualquer direito ao nascituro,

caso não haja nascimento com vida, sendo que a condicional garante os direitos, mas desde
que haja o nascimento com vida.

Perceba que a lei resguardou os direitos do nascituro (do feto, embrião que está dentro

do ventre da mãe e que ainda vai nascer). Ele não é pessoa, entretanto embora não tenha
personalidade jurídica material, o mesmo possui expectativa do direito da personalidade (que

estão em via de formação, que ainda não se aperfeiçoaram, que só irão se formar após o
nascimento com vida), ou o que se chama de personalidade jurídica formal. Portanto, o nascituro

tem direito de receber alimentos gravídicos, doação, herança.

Lembrando que para o direito civil nascer com vida é respirar. Ou seja, se ficar
comprovado que a criança respirou, nem que seja por um curto lapso temporal, houve

personalidade.

Natimorto é o feto que nasceu, mas não respirou. Logo ele nunca possuiu personalidade.

21
Enunciado n.º 1 da I Jornada de Direito Civil: “A proteção que o Código defere ao nascituro

alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem

e sepultura”.

Situações específicas sobre o nascituro:

 O nascituro tem direito à imagem;


 A morte culposa do nascituro (atropelamento da mãe) gera o direito à
indenização para os pais;
 No que tange a direitos existenciais, o nascituro já goza deles, mas as relações
patrimoniais ficam condicionadas;
 Os embriões de laboratório não têm direitos da personalidade, mas têm direito à
herança6.
 Nascituro – alimentos gravídicos.

3.2 Domicílio

O domicílio é o local onde a pessoa estabelece a sua residência (elemento objetivo:

lugar onde a pessoa é habitualmente encontrada) com ânimo definitivo (elemento subjetivo: é
a intenção de permanência, de se estabelecer em um determinado local).

Domicílio é diferente de Residência, pois a última é o local de permanência da pessoa, onde

ela se encontra. Por exemplo, se uma pessoa viajar para o Rio de Janeiro e lá permanecer

durante o final de semana, nesse período o Rio de Janeiro será a sua residência.

6
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
22
3.3 Capacidade

A Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) trouxe uma inegável evolução
para a promoção da dignidade humana em diversos aspectos. Com relação à capacidade,

promoveu expressiva alteração ao conferir plena capacidade aos sujeitos com deficiência, para
que exerçam todos os atos da vida civil. Assim, apenas são considerados absolutamente
incapazes os menores de 16 anos, conforme previsão do artigo 3º. Com relação aos

relativamente incapazes, o artigo 4º manteve as seguintes hipóteses:

 Maiores de 16 e menores de 18 anos;


 Ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
 Aqueles que, por causa transitória ou permanente não puderem exprimir sua
vontade;
 Pródigos

Atenção ao dispõe o Estatuto da Pessoa com Deficiência, em seu art. 6º:

Art. 6º. A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I – casar-se e constituir união estável;
II – exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV – conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V – exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando,
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

A capacidade subdivide-se em: capacidade de direito (capacidade de gozo), que é a


capacidade jurídica que qualquer pessoa tem, de forma genérica; capacidade de fato
(capacidade de exercício), que é a capacidade de exercer, pessoalmente, os atos da vida civil.

23
CAPACIDADE DE DIREITO + CAPACIDADE DE FATO = CAPACIDADE PLENA.

Os entes despersonalizados não têm direitos da personalidade, porque não têm

personalidade, mas gozam de capacidade jurídica, que é a possibilidade de defender seus direitos
em juízo.

CURATELA X TOMADA DE DECISÃO APOIADA:

Art. 84, do Estatuto da PCD: A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao
exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a
lei.
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão
apoiada.
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
menor tempo possível.
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao
Juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.

Art. 1.783-A , do CC/02: A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa
com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha
vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão
sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para
que possa exercer sua capacidade.

24
§ 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os
apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido
e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito
ã vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.
§ 2o O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada,
com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste
artigo.
§ 3o Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz,
assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá
pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
§ 4o A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem
restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.
§ 5o Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que
os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função
em relação ao apoiado.
§ 6o Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz,
ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
§ 7o Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as
obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia
ao Ministério Público ou ao juiz.
§ 8o Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa
apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.
§ 9o A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em
processo de tomada de decisão apoiada.
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de
tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado ã manifestação do
juiz sobre a matéria.
§ 11. Aplicam-se ã tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes
à prestação de contas na curatela.”

A incapacidade só pode ser de fato, pois toda pessoa tem capacidade de direito.

25
3.4 Incapacidade

A incapacidade consiste na restrição legal para determinados atos da vida civil. Todas
as incapacidades estão previstas em lei, sendo assim a capacidade da pessoa natural é a regra,

enquanto que a incapacidade é exceção.

A incapacidade pode ser absoluta (artigo 3º do CC) ou relativa (artigo 4º do CC).

O Relativamente Incapaz é Assistido (Bizu: RIA), já o Absolutamente Incapaz é Representado

(Bizu: AIR - o contrário de RIA).

3.4.1 Incapacidade Absoluta

Ocorre quando uma pessoa fica totalmente proibida de exercer por si só o direito, ou

seja, a pessoa natural tem direitos, mas não possui a capacidade de fato ou de exercício, porque
sozinha não poderá praticar atos da vida civil, ela precisará para tanto estar representada.

A incapacidade absoluta está prevista no artigo 3º do CC: “Art. 3º. São absolutamente

incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) ”.

Assim, com a nova redação do artigo 3º só serão considerados absolutamente incapazes

(ou seja, possuem ausência “total” de discernimento), perante a lei, os menores de 16 anos.

26
Será nulo qualquer ato praticado pelo absolutamente incapaz que não estiver devidamente

representado.

3.4.2 Incapacidade Relativa

Já os relativamente incapazes necessitam de assistência para poderem exercer os atos


da vida civil. Entretanto, existem alguns atos que estas pessoas podem praticar sozinhas, por
isso se entende que as mesmas possuem discernimento reduzido.

São relativamente incapazes, conforme prevê o artigo 4º do CC:

I. Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II. Os ébrios habituais e os viciados em tóxico;


III. Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

IV. Os pródigos.

O pródigo é aquele que desordenadamente gasta, acaba com seu patrimônio, ficando na
miséria. Ele só é relativamente incapaz quando houver sentença que o reconheça como

pródigo. Sendo assim, com a sua interdição, ele será privado exclusivamente, dos atos que
possam comprometer seu patrimônio, não podendo, sem a assistência de seu curador (artigo

1.767, V do CC), alienar, emprestar, dar quitação, transigir, hipotecar, agir em juízo e praticar,

em geral, atos que não sejam de mera administração (artigo 1.782 do CC).

27
O parágrafo único do artigo 4º trata dos índios. A capacidade dos indígenas será

regulada por legislação especial. Ou seja, o índio tem seus direitos regulados pela FUNAI (artigo

109 da CF).

Pode ser anulável o ato praticado pelo relativamente incapaz que não esteja devidamente

assistido.

A velhice não é causa de incapacidade, o senil é capaz. A demência é que pode gerar

incapacidade.

O surdo-mudo também é capaz, portanto ele pode fazer testamento, praticar atos da
vida civil. Se ele não compreender nada é que pode ser considerado incapaz e não o simples

fato de ser surdo-mudo.

O ausente também é capaz apesar de presumidamente morto.

3.4.3 Cessação da Incapacidade

As situações que ensejam o término da incapacidade absoluta encontram-se dispostas


no artigo 5º do CC.

A regra é que a menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos, quando a pessoa
fica habilitada a prática de todos os atos da vida civil.

Porém existem outras formas de cessação da incapacidade absoluta (Emancipação):

 Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento

público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido


o tutor, se o menor tiver 16 (dezesseis) anos completos;

 Pelo casamento;
28
 Pelo exercício de emprego público efetivo; 7

 Pela colação de grau em curso de ensino superior;


 Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,

desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha
economia própria.

Vejamos detalhadamente as duas primeiras:

3.4.3.1 Voluntária/judicial

Concedida por ambos os pais, ou de um deles, na falta do outro, desde que o menor

tenha 16 anos ou mais. Poderá ser autorizada por escritura pública8, que independe de
homologação judicial. Também poderá ser concedida pelo juiz, quando houver discordância

dos pais acerca da autorização do ato, que é irrevogável. Assim, o magistrado analisará, no
caso concreto, qual é o maior benefício ao infante.

Quando o menor estiver sob tutela, a emancipação apenas poderá ser concedida por
autorização judicial. Na emancipação judicial, há um procedimento de jurisdição voluntária.

Enunciado nº 397/CJF: Art. 5º. A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz

está sujeita a desconstituição por vício de vontade.

A emancipação pelos pais não isenta da responsabilidade no caso de eventual

responsabilidade civil por ilícito do filho emancipado.

7
Vide questão 04
8
Vide Questão 01
29
Contudo, o menor de 18 anos, ainda que emancipado, não pode ser responsabilizado

penalmente, não se antecipa a sua imputabilidade penal. No entanto, o menor emancipado


pode ser preso por dívida de alimentos.

3.4.3.2 Casamento

A idade núbil é de 16 anos, conforme artigo 1.517, do Código Civil, salvo no caso de

gravidez, hipótese excepcional em que o menor poderá casar antes de atingir a idade núbil

HOUVE ALTERAÇÃO LEGISLATIVA!


Mantivemos para fins de conhecimento em questões que exijam conhecimento sobre a aplicação

da lei no tempo.

A Lei nº 1.318/2018 alterou o CC/02 neste ponto. De modo que, atualmente, não existe

mais possibilidade de casamento entre menor de 16 anos. Vamos analisar com calma: A
redação anterior do art. 1.520 do CC era a seguinte:

Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou
a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em
caso de gravidez.

Veja que, pela literalidade da lei, havia duas hipóteses excepcionais em que seria

permitido o casamento de pessoa menor de 16 anos:

 “Para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal”; ou

 “Em caso de gravidez”.


Contudo, prevalece o entendimento de que, desde a Lei nº 11.106/2005, a despeito da
literalidade do art. 1.520 do CC, somente havia uma hipótese na qual era permitido o casamento

30
de pessoa menor de 16 anos (abaixo da idade núbil): em caso de gravidez. Eis o novo dispositivo

legal:

Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a
idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
1.318/2018)
Fica superado, portanto, o enunciado 329 da Jornada de Direito Civil.

Assim OABeiro, é importante fixar:

IDADE NÚBIL: 16 anos


Existe exceção? Existe alguma hipótese na qual se possa casar antes dos 16 anos de
idade?
Antes da Lei 13.811/2019: SIM Atualmente: NÃO
Excepcionalmente, era permitido o A Lei nº 13.811/2019 alterou o art. 1.520 do
casamento da pessoa que ainda não havia CC e agora não é mais possível, em nenhuma
alcançado a idade núbil (ou seja, o menor de hipótese, o casamento de pessoa menor de
16 anos) em caso de gravidez. 16 anos.

Dessa forma, o casamento produz efeitos emancipatórios ao menor, mesmo depois do

divórcio. Se o casamento for declarado nulo, não prevalece a emancipação, pois esta também
será invalidada, ressalvando-se a hipótese de casamento putativo, em que o menor estava de

boa-fé.

3.4.3.3 Maioridade x Emancipação

A maioridade é a aquisição da capacidade plena, aos 18 anos. Um de seus efeitos é a


incidência do Código Penal e a interrupção da aplicação do Estatuto da Criança do Adolescente

(ECA), por exemplo.

31
Já a emancipação é a cessação da incapacidade de fato, ou seja, o sujeito continua

menor de idade, porém já pode praticar sozinho os atos da vida civil.

A emancipação não gera a maioridade, portanto, um jovem de 16 anos que foi emancipado

não pode, por exemplo, obter Carteira Nacional de Habilitação.

Depois que uma pessoa é emancipada ela não poderá voltar ao seu estado anterior de

incapacidade. A emancipação uma vez concedida é irrevogável, não volta atrás. É, também,
definitiva, a pessoa não pode desistir dela. Sendo assim, mesmo que haja viuvez, separação ou

divórcio, o emancipado não retorna à incapacidade.

Entretanto, se houver alguma falha na condição exigida por lei nos casos de

emancipação legal, estaremos diante de uma nulidade ou de uma anulabilidade (dependendo


do caso). Por exemplo: se no caso de emancipação pelo casamento (emancipação legal) verificar-

se, depois da cerimônia, que a autorização que a lei exige dos pais era falsa, haverá nulidade
do ato. O casamento não aconteceu para o direito, então, por consequência, a emancipação
também não.

3.4.4 Extinção de Personalidade da Pessoa Natural

O término da personalidade da pessoa natural ocorre com a morte, que deve ser
devidamente registrada em registro público. Porém, em alguns casos, é difícil precisar se a morte
de fato ocorreu, por exemplo, no caso de pessoas desaparecidas (ausentes).

32
Observe o que dispõe o artigo 6º do CC: “Art. 6º. A existência da pessoa natural termina

com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura

de sucessão definitiva”.

A morte pode ser:

 Real: quando existe um corpo, é declarada por médico ou duas testemunhas;

 Ficta ou presumida: quando não existe corpo.

Porém, será presumida a morte quando9:

 Aos ausentes, quando a lei autorizar a abertura da sucessão definitiva;


 For extremamente provável a morte, quando a pessoa estava em situação de perigo;
 No caso de desaparecido ou prisioneiro, se a pessoa não for encontrada até dois
anos, após o término da guerra.
A sentença que reconhecer a morte presumida deve declarar a data provável do

falecimento, para fins de direitos sucessórios.

No caso da morte ficta, pode ocorrer sem processo de ausência (art. 7º do CC) ou com

processo de ausência (arts. 22 a 39 do CC).

 Sem processo de ausência:10


o Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de
vida; Ex: por exemplo, uma pessoa viajava em um avião e este caiu em alto
mar, sem que se pudesse encontrar sobreviventes.

o Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for


encontrado até dois anos após o término da guerra.

9
art. 7º do CC – “Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: (I) - se for extremamente
provável a morte de quem estava em perigo de vida; (II) - se alguém, desaparecido em campanha ou feito
prisioneiro, não for encontrado até 2 Anos após o término da guerra
10
Vide questão 03
33
A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de

esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

 Com processo de ausência: Ocorre quando uma pessoa desaparece sem estar

em risco de vida.
A ausência será declarada quando alguém desaparecer sem deixar notícias, se não deixar

representante ou procurador para administrar seus bens. Deixando mandatário, também será
decretada a ausência se este não quiser ou não puder continuar exercendo as funções.

A declaração será feita judicialmente, ouvido o Ministério Público, ato em que o juiz

nomeará curador.

São três as fases sobre os bens do ausente.

1ª: curadoria do ausente

2ª: sucessão provisória

3ª: sucessão definitiva

A curadoria dos bens do ausente se inicia a partir de uma petição inicial de qualquer
interessado ou do MP, na situação acima explicada.

Serão publicados, durante 1 ano, editais a cada 2 meses.

Esse processo possui 3 Fases:

o 1ª FASE DE ARRECADAÇÃO E NOMEAÇÃO DE CURADOR: Configura-se


após decorrido 1 ano do desparecimento ou 3 anos, se o ausente tiver
deixado procurador representando-o.

34
o 2ª FASE DE DECLARAÇÃO DA SUCESSÃO PROVISÓRIA: abre-se

provisoriamente o inventário e o patrimônio arrecadado é dado aos


herdeiros com uma condição – que os herdeiros recebam o patrimônio

oferecendo uma garantia (essa fase dura 10 anos, a não ser que o ausente
tenha mais de 80 anos, nesse caso considera-se 5 anos).11

A sentença que autoriza a sucessão provisória só produz efeitos 180 dias após sua
publicação, mas, com o seu trânsito em julgado, abre-se o testamento e o inventário, como se

o ausente fosse falecido. Se, após 30 dias do trânsito em julgados, não aparecerem interessados
ou herdeiro, para requer a abertura do inventário, os bens do ausente serão considerados
herança jacente.

Garantia pignoratícia ou hipotecária: deverão prestar os herdeiros que não foram cônjuge,
ascendente ou descente do ausente, para se imitirem na posse dos bens.

O cônjuge, ascendente ou descente sucessor provisório do ausente fará seus os frutos e

rendimentos dos bens que lhe cabe. Os demais sucessores deverão capitalizar metade desses
frutos e rendimentos, de acordo com o MP e prestando contas anuais ao juiz.

o 3ª FASE DE ABERTURA DA SUCESSÃO DEFINITIVA (art. 6º do CC, última

parte): a partir desse momento decreta-se a morte do ausente.


Será declarada após o lapso de 10 anos da abertura da sucessão provisória ou se
comprovado que o ausente tem oitenta anos e que suas últimas notícias datam mais de cinco

anos.

Com o trânsito em julgado da sentença da abertura da sucessão definitiva, declara-se a


morte presumida.

3.4.4.1 Comoriência

É a presunção de morte simultânea (falecimento em conjunto) quando não é possível

aferir quem morreu primeiro. Nesse caso, se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma

11
Vide Questão 02
35
ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-

se-ão simultaneamente mortos.

Assim, a comoriência ocorre quando há a morte de duas ou mais pessoas, na mesma


ocasião e por força do mesmo evento, sendo elas reciprocamente herdeiras umas das

outras.

Só há interesse na comoriência se forem da mesma família, para fins de sucessão.

A morte tem que ocorrer no mesmo lugar?

Não. Apenas na mesma ocasião, não precisa nem que seja do mesmo modo. A comoriência é

compatível com a morte presumida, sem a decretação de ausência. Presunção relativa!

3.5 Direitos da Personalidade

Os Direitos fundamentais estão para a Constituição Federal assim como os Direitos da

Personalidade estão para o Direito Privado (Código Civil). Eles possuem conotação
extrapatrimonial, são direitos que integram a condição essencial da pessoa, como pressupostos

de sua existência e dignidade. Ex: direito à vida, à imagem, ao nome, à honra.

3.5.1 Características dos Direitos da Personalidade

Em regra, os Direitos da personalidade são intransmissíveis (não podem ser transmitidos

a terceiros) e irrenunciáveis (o titular deles não pode abrir mão, não pode renunciar), não
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. É o que preceitua o artigo 11 do CC.

Além disso, são genéricos, extrapatrimoniais, absolutos, inalienáveis, indisponíveis,

imprescritíveis, intransmissíveis, necessários, essenciais e preeminentes.

36
Exceção: doação de órgãos, transexual que muda de sexo, são situações excepcionais

autorizadas por lei.

3.5.2 Tutela dos Direitos da Personalidade

 Preventiva por tutela específica: visa prevenir a ocorrência de dano à personalidade.

Quando a proteção destes direitos não é apenas patrimonial despatrimonialização dos


direitos da personalidade, do dano moral).

A tutela específica pode ser: inibitória, com a aplicação de uma pena de multa no caso
de descumprimento da tutela específica; sub-rogatória, quando o juiz manda fazer uma coisa
específica; remoção do ilícito, quando se determina a retirada de alguma publicação pejorativa

em site, por exemplo. A tutela específica pode ser aplicada de ofício pelo juiz.

 Repressiva: busca interromper a lesão e conceder uma indenização pelos prejuízos

causados.

Para o STJ, basta a violação a um direito da personalidade, para que se configure o dano
moral, ou seja, caracterização objetiva, prova in re ipsa.

Observe o que afirma o artigo 12 do CC: “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça,

ou a lesão, a direito de personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras


sanções previstas em lei.”

Súmula 37, do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano moral e dano material oriundos
do mesmo fato.

Súmula 387, do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
37
 Dano moral contratual: o STJ vem afirmando que, apesar de a violação de um
contrato, por si só, não gerar dano moral, ela pode refletir uma violação da dignidade
de uma das partes, como no caso do Plano de Saúde que nega cobertura.
 Dano moral coletivo: é a violação dos direitos da personalidade de um grupo
massificado, sendo prescindível a demonstração de dor, sofrimento ou angústia, para
restar caracterizado este tipo de dano. Ex.: violação de direito ambiental, de direito
do consumidor.
 Danos sociais: são violações à tranquilidade e ao nível de vida da sociedade, através

de comportamentos exemplares negativos ou condutas socialmente reprováveis,


causando o rebaixamento de seu patrimônio moral, da segurança e da qualidade de

vida. Ex.: pedestre que joga lixo no chão.


 Dano Ricochete, Oblíquo ou Indireto: A tutela dos direitos da personalidade

envolvendo pessoa morta cabe aos familiares do morto (cônjuge, parentes em linha
reta ou colateral até o quarto grau). Portanto, o parágrafo único do art. 12 permite

que essas pessoas possam ingressar com medida judicial representando o morto.

O artigo 20 do CC trata do direito de palavra, imagem e escritos, e seu parágrafo único

estabelece que apenas os cônjuges, ascendentes e descendentes podem requer o dano


ricochete.

Sendo assim, observe quem pode requerer o dano contra morto:

38
• cônjuge
• ascendentes
• descendentes
P.U, ART. 12 • colaterais

• cônjuge
• ascendentes
P.U, ART. 20 • descendentes

3.5.3 Atos de Disposição Corporal

O Código Civil protege o corpo vivo (art. 13 do CC) e o corpo morto (art. 14 do CC).

O art. 13 do CC estabelece que salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato
de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física,
ou contrariar os bons costumes.

Além disso, o parágrafo único do art. 13 do CC admite a disposição do próprio corpo


para fins de transplante de órgãos, desde que ocorra na forma estabelecida em lei especial.

Esse transplante, de pessoa viva, só é permitido quando se tratar de órgãos duplos, de

partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador
de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento
de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e

corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa


receptora.

 Hipóteses proibitivas

 Quando houver diminuição permanente da integridade física. Ex: uma pessoa


pede ao médico que ele ampute o seu braço sem o mesmo estar com qualquer
problema.

 Quando houver contrariedade aos bons costumes.


39
A cirurgia de mudança de sexo é autorizada, ela não ofende os bons costumes, pois visa

garantir a integridade físico-psíquica do transexual.

Já o artigo 14 do CC trata da tutela post mortem do corpo: “Art. 14. É válida, com

objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte,

para depois da morte.

 Hipóteses permissiva

 Para fins científicos. Ex: pesquisas.


 Para fins altruísticos, ou seja, para fazer o bem. EX: transplantes.

É importante salientar que o art. 14 consagra o princípio do consenso afirmativo, ou


seja, que cada pessoa deve manifestar sua vontade de ser um doador, com objetivos

científicos ou terapêuticos, tendo o direito de a qualquer momento, cancelar sua doação


(parágrafo único do artigo 14).

3.5.4 Tratamento Médico de Risco

Esse tema encontra-se previsto no artigo 15 do CC: “Art. 15. Ninguém pode ser

constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou intervenção cirúrgica.


A pessoa tem a faculdade de escolher se aceita ou não o tratamento ou intervenção

cirúrgica, sabendo de todos os riscos que estão envolvidos. No entanto, caso seja necessário o
tratamento médico ou cirúrgico, sob o risco de morte do paciente caso não seja feito, prevalece

à vontade do médico.

40
No que tange ao direito à vida x opção religiosa, os tribunais pátrios têm decidido que entre
salvar uma vida e respeitar suas escolhas, o bem da vida é muito maior, portanto ele deve ser

preservado. Só será considerada a opção religiosa da pessoa, se houver outros meios viáveis

para o tratamento, caso contrário será ela desconsiderada.

3.5.5 Direito ao Nome

Conforme preceitua o art. 16 do CC: “Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele

compreendidos o prenome e o sobrenome.”

O nome é o sinal que representa a pessoa perante a sociedade, sendo necessário

a proteção de todos os elementos do nome. Assim, é garantido a todo indivíduo o direito ao


nome e sobrenome, bem como o respeito ao pseudônimo, desde que utilizado para fins lícitos.

A utilização do nome de qualquer pessoa, em propagandas comerciais, deve ser


autorizada, sob pena de responsabilidade, sendo vedada a utilização deste em publicação que

exponha o indivíduo ao desprezo público, ainda que não haja intenção difamadora.

Já os artigos 17 e 18 do CC estabelecem o dano “in re ipsa” (presumido), ou seja, aquele

onde não precisa provar o prejuízo, bastando provar o ilícito. Portanto, configurado o dano,

cabe direito à reparação do dano. Vejamos:

“Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.”

“Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

41
Por fim, é importante salientar que, em regra, o nome é inalterável (Princípio da

Imutabilidade relativa do nome). Porém existem algumas exceções:

 Nome que expõe a pessoa ao ridículo, inclusive e caso de homonímias (nomes


iguais). Ex. Jacinto Aquino Rego;

 Erro crasso de grafia. Ex. Cráudio;

 Tradução de nomes estrangeiros. Ex. John – João;

 Cirurgia de adequação de sexo;

 Introdução de alcunhas, apelidos sociais ou cognome. Ex.: Xuxa, Lula;

 Introdução de nome do cônjuge ou companheiro. Quando alguém incorpora o

nome do outro passa a ser um direito da personalidade do incorporador. Não pode


ser obrigado a retirar no divórcio;

 Reconhecimento de filho ou adoção;

 Proteção de testemunha (Lei 9807/99);

 Inclusão do nome de familiar remoto. Há divergência. Escolher sobrenome mais


antigo; e

 Inclusão de sobrenome por enteado por padrasto ou madrasta, havendo motivo

ponderável e desde que haja concordância do último (Lei Clodovil – n.º 11.924/2009).

Atualmente, confere-se aos transexuais o direito à alteração do prenome e do

sexo/gênero no registro civil, independentemente de realização de cirurgia de transgenitalização


(STJ REsp 1.626.739-RS Info 608), em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Sobre o tema, o STJ decidiu que:

Independentemente da realização de cirurgia de adequação sexual, é possível a


alteração do sexo constante no registro civil de transexual que comprove
judicialmente a mudança de gênero. Nesses casos, a averbação deve ser realizada
no assentamento de nascimento original com a indicação da determinação judicial,

42
proibida a inclusão, ainda que sigilosa, da expressão “transexual”, do sexo biológico
ou dos motivos das modificações registrais. 12

Ainda sobre o tema, preservando a filiação socioafetiva e reconhecendo o nome com um


elemento da personalidade que não pode remeter a pessoa a angústia, o STJ autorizou que é
possível a exclusão dos sobrenomes paternos em razão de abandono pelo genitor. 13

3.5.6 Divulgação de Escritos, Transmissão da Palavra e Utilização


da Imagem

Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da

ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição


ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem
prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a

respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

Caso se trate de morto ou ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o
cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

 Proibição:

 Ofensa à honra, boa fama ou respeitabilidade;


 Destinação comercial.

 Exceções:

 Quando a pessoa autoriza;


 Se necessárias à administração da justiça. Ex: divulgar a foto de um foragido da

polícia;
 Manutenção da ordem pública;

12
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Transexuais-
t%C3%AAm-direito-%C3%A0-altera%C3%A7%C3%A3o-do-registro-civil-sem-realiza%C3%A7%C3%A3o-de-cirurgia
13
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.718 SP, Rel. Min. Paulo Tarso Severino, julgado em 18/12/2014.
43
O enunciado 275 da IV Jornada de Direito Civil inclui também o companheiro entre os

autorizados à defesa do morto: “O rol dos legitimados de que tratam os artigos 12, parágrafo

único, e 20, parágrafo único, do Código Civil, também compreende o companheiro”.

Ademais, importante registrar que por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal

Federal julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e declarou


inexigível a autorização prévia para a publicação de biografias.

Sobre o tema, o STJ reconheceu, na súmula 403, que “Independe da comprovação do


prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins

econômicos ou empresariais.”

3.5.7 Direito à Privacidade

O artigo 21 do CC protege a intimidade do indivíduo. Nela incluído o direito ao sigilo


de correspondência, telefônico, e também via internet. O direito ao sossego, ao silêncio, de não
ser visto, observado ou ouvido em sua intimidade.

Com o declarado objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de


privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, foi editada pelo
legislador pátrio a Lei Geral sobre a Proteção de Dados Pessoais (Lei n.º 13.709/2018),

disciplinando a proteção de dados pessoais (cuida do tratamento dos dados pessoais, da forma

como os dados pessoais dos indivíduos podem ser armazenados por pessoas físicas ou jurídicas,
empresárias ou não).

44
45
4. Pessoa jurídica

4.1 Conceito de Pessoa Jurídica e Domicílio da Pessoa Jurídica

É toda entidade dotada de personalidade, ou seja, assim como a pessoa física, pode

exercer direitos e deveres e participar da vida civil.

Pode ser entendida, ainda, como uma reunião de bens (patrimônio) afetados (fundações),
ou como uma reunião de pessoas sem fins econômicos (associações) ou com fins econômicos

(sociedades). Por sua vez, a reunião de pessoas com fins econômicos pode ter fins lucrativos
(sociedade empresária) ou fins não lucrativos (sociedade simples).

As pessoas jurídicas podem se constituir pelo agrupamento de pessoas (universitas

personarum) ou de um patrimônio com destinação específica (universitas bonorum).

Teoria adotada pelo CC/02: Teoria da realidade técnica (Saleilles): a pessoa jurídica teria uma
existência objetiva e dimensão social, mas a sua personificação seria fruto da técnica do direito.

Foi a teoria adotada pelo art. 45, do CC.

Os direitos da personalidade são aplicados às pessoas jurídicas no que couber (art. 52 do

CC). Além disso, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227 do STJ).

46
É considerado domicílio da pessoa jurídica o local onde se encontra a sua sede; onde

os credores podem demandar o cumprimento das obrigações; o local de suas atividades


habituais, de seu governo, administração ou direção, ou ainda, aquele determinado no ato

constitutivo.

O artigo 75 do CC estabelece o domicílio das pessoas jurídicas, sendo:

I. Da União, o Distrito Federal;


II. Dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III. Do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;


IV. Das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e

administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos


constitutivos.

4.2 Classificação das Pessoas Jurídicas

O artigo 40 do CC estabelece que as pessoas jurídicas podem ser de direito público,

interno ou externo, e de direito privado.

4.2.1 Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno

Conforme prevê o art. 41 do CC, são pessoas jurídicas de direito público interno:

 A União;
 Os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

 Os Municípios;
 As autarquias, inclusive as associações públicas;

 As demais entidades de caráter público criadas por lei.

4.2.2 Pessoas jurídicas de Direito Público Externo

Já o art. 42 do CC é claro ao estabelecer que são pessoas jurídicas de direito público

externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.

47
Ou seja, são regulamentadas pelo Direito Internacional.

4.2.3 Pessoas Jurídicas de Direito Privado

São pessoas jurídicas de direito privado, conforme o art. 44 do CC:

I. As associações;

II. As sociedades;
III. As fundações.

IV. As organizações religiosas;


V. Os partidos políticos.
VI. As empresas individuais de responsabilidade limitada.

Os sindicatos embora não mencionados expressamente no art. 44, possuem natureza de

associação civil, portanto são consideradas pessoas jurídicas de direito privado.

As fundações, embora genericamente listadas entre as pessoas jurídicas de direito


privado, se tiverem atuação que, de certa forma, se assemelhem às Autarquias, terão

personalidade jurídica de direito público (Fundações Públicas).

As organizações religiosas (igrejas), que são PJ de Direito Privado, podem ser livremente

criadas, independentemente de qualquer autorização estatal, em virtude do Princípio


Constitucional da Liberdade Religiosa.

48
A existência da pessoa jurídica de direito privado começa com a sua inscrição no

respectivo registro (Cartório de Pessoas Jurídicas ou Junta Comercial), precedida, quando


necessário, da autorização ou aprovação do poder executivo.

Decai em três anos o direito de anular constituição de pessoa jurídica de direito privado.

4.3 Criação (início) da Pessoa Jurídica

O início da PJ de Direito Privado começa com a inscrição do ato constitutivo no Cartório


de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (registro), conforme nos informa o art. 45 do CC.

4.4 Entes despersonalizados

Existem no mundo dos fatos, porém não são pessoas físicas nem jurídicas. Ex: as
sociedades de fato, espólio, massa falida, condomínio, herança jacente ou vacante, família.

Os entes despersonalizados podem atuar em relações processuais (podem demandar e


serem demandados em ações judiciais).

4.5 Administração da Pessoa Jurídica

Todas as decisões tomadas pelo administrador dentro dos poderes estatutários serão
vinculantes para a Pessoa Jurídica.

Se a administração for coletiva (pluralidade de administradores) cabe ao estatuto

deliberar o quórum para que sejam tomadas as decisões. Se o estatuto for omisso, as decisões
serão tomadas por maioria simples (maioria dos votos dos presentes).

Decisões tomadas pelo administrador carregadas de vício, ilegalidades ou fraudes serão

anuláveis. Decai em três anos o direito de anular as decisões quando violarem a lei ou estatuto,
ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.

Caso ocorra destituição dos administradores (eles forem expulsos) o juiz, a requerimento
de qualquer interessado, nomeará um administrador provisório.

49
4.6 Desconsideração da Personalidade jurídica

A Desconsideração da Personalidade Jurídica (disregard doctrine) é instituto, com


natureza constitutiva que visa a criar nova situação jurídica, com a finalidade de impedir que

os sócios, administradores, gerentes e/ou representantes legais, acobertados pela independência


pessoal e patrimonial entre pessoa jurídica e os entes que a compunham, pratiquem abusos,

atividades escusas e fraudulentas.

A regra é que o patrimônio da Pessoa Jurídica não se confunde com o patrimônio do


seu sócio. Porém a exceção é a desconsideração da pessoa jurídica.

Todas as vezes que a Pessoa Jurídica for utilizada para encobrir atividades ilícitas, sua

personalidade deve ser afastada (desconsiderada), com o objetivo de atacar os bens dos sócios
ou administradores. Eles respondem com seus bens particulares pelas dívidas assumidas pela

Pessoa Jurídica.

Diante do exposto, podemos conceituar a Desconsideração da Personalidade Jurídica


como sendo a suspensão temporária da autonomia da pessoa jurídica, de modo a estender

a execução aos bens particulares de seus sócios ou administradores.

Na desconsideração da personalidade jurídica clássica, prevista nos artigos 50 do Código


Civil e 28 do CDC, a sociedade empresarial figura no polo passivo da demanda havendo a

desconsideração de sua personalidade jurídica para abranger o patrimônio dos sócios com o
objetivo de saldar as dívidas da empresa.

Conforme citado, há dois dispositivos legais clássicos que abrangem o instituto, mas

ambos se distinguem quanto à teoria da desconsideração da personalidade jurídica que adotam,


notadamente quanto aos requisitos essenciais para a sua constituição.

4.6.1 Hipóteses para a Desconsideração

O Código Civil adota a teoria maior de desconsideração da personalidade jurídica,


sendo essencial o cumprimento dos requisitos para que seja declarada. Dessa maneira, será

50
desconsiderada a personalidade jurídica no caso de abuso da personalidade, sempre que

caracterizar desvio de finalidade ou confusão patrimonial.

Assim, a desconsideração se configura quando ocorre:

 Abuso da Personalidade da PJ, por força de um Desvio de Finalidade (por exemplo,


uma sociedade que serve como “fachada” para lavagem de dinheiro, uma organização
religiosa que desenvolve atividade empresarial, uma associação que passa a ter
finalidade econômica);
 Confusão Patrimonial (por exemplo, um sócio que utiliza o dinheiro da PJ para pagar
a conta do almoço dele e da família, que utiliza o carro da empresa para viajar no
final de semana com a família, que guarda em apenas uma conta bancária o dinheiro
que é dele e o dinheiro que é da empresa, ou seja, esses são casos onde há uma
mistura irregular do patrimônio da Pessoa Física com o patrimônio da Pessoa Jurídica).
No Direito Civil não é possível a desconsideração da Pessoa Jurídica de ofício. Ela
pressupõe requerimento da parte interessada ou do Ministério Público nas causas em que ele

deva intervir. Esse requerimento irá atingir os sócios ou administradores.

O Artigo 50 foi alterado pela LEI Nº 13.874, DE 20 DE SETEMBRO DE 2019, antes MP

881/19, que Institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.

Destacamos que, em abril de 2019, foi editada a medida provisória 881/19, que teve por
objetivo instituir a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, estabelecer garantias de livre

mercado, análise de impacto regulatório, além de dar outras providências. A MP visa


precipuamente trazer dinamismo no mundo das relações econômicas, sendo apresentada como
“Declaração de Direitos de Liberdade Econômica”.

51
No que tange à desconsideração da personalidade jurídica, para que a medida da

desconsideração seja implementada, a MP dispôs acerca de pressupostos que devem ser


preenchidos e comprovados.

Vejamos as alterações (em destaque) implementadas no Artigo 50 do Código Civil

Brasileiro:

Antes:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Depois:

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da
pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de valor
proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata
o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade
original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.” (NR)

52
Dentre as alterações, destaca-se:

 O credor passa a ter que comprovar que o devedor se beneficiou do abuso na


utilização da personalidade jurídica a que integra;
 Passa a ser necessária a comprovação do dolo do devedor, ou seja, a sua intenção
de lesar o credor mediante a utilização de sua pessoa jurídica;
 A confusão patrimonial passa a ser caracterizada pela análise de critérios objetivos;
 A existência de Grupo Econômico, por si só, não mais caracteriza a confusão
patrimonial, cabendo ao credor preencher os requisitos acima.
Para Flávio Tartuce14, a lei passaria a possibilitar a desconsideração da personalidade

jurídica tão somente quanto ao sócio ou administrador que, direta ou indiretamente, for
beneficiado pelo abuso, o que há tempos defendo, para que o instituto não seja utilizado de
forma desproporcional e desmedida, atingindo pessoa natural que não tenha praticado o ato
tido como abusivo.

Os parágrafos propostos sugerem critérios para o preenchimento dos requisitos da


desconsideração da personalidade jurídica prevista para as relações civis em geral, consagradora

da chamada teoria maior da desconsideração, quais sejam o desvio de finalidade ou a confusão


patrimonial. Vale lembrar, contudo, que tais requisitos não são cumulativos, mas alternativos

para que a categoria seja aplicada, quebrando-se a autonomia da pessoa jurídica perante seus
sócios e administradores e responsabilizando-se os últimos por dívidas da primeira.

Para o referido autor, quanto ao desvio de finalidade, a norma passaria a estabelecer

como requisito o elemento doloso ou intencional na prática da lesão ao direito de outrem ou


de atos ilícitos, para que o instituto seja aplicado.

Sobre a confusão patrimonial, são parâmetros propostos pela MP para que fique
caracterizada a ausência de separação de fato entre os patrimônios da pessoa jurídica e de seus

membros: a) o cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do


administrador ou vice-versa; b) a transferência de ativos ou de passivos sem efetivas

14
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301612,41046-
A+MP+88119+liberdade+economica+e+as+alteracoes+do+Codigo+Civil
53
contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e c) outros atos de

descumprimento da autonomia patrimonial. Sobre a primeira previsão, sugiro que seja retirada
a palavra “repetitivo”, pois a confusão patrimonial pode estar configurada por um único

cumprimento obrigacional da pessoa jurídica em relação aos seus membros, pois, por um ato
isolado, é possível realizar um total esvaziamento patrimonial com o intuito de prejudicar

credores.

Quanto ao § 4º do art. 50, “a mera existência de grupo econômico sem a presença dos

requisitos de que trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa


jurídica”.

Na verdade, trata-se de conteúdo que já era retirado do Enunciado n. 406, aprovado na


V Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “a desconsideração da
personalidade jurídica alcança os grupos de sociedade quando estiverem presentes os

pressupostos do art. 50 do Código Civil e houver prejuízo para os credores até o limite
transferido entre as sociedades”.

Não se pode negar que a norma proposta traz uma obviedade, qual seja a necessidade
de se observar os requisitos legais para a desconsideração da personalidade jurídica aplicada

entre empresas que mantêm alguma ligação, especialmente quanto a fraudes praticadas para
prejudicar seus credores.

Todavia, a sua grande vantagem é de positivar a possibilidade de ampliação de


responsabilidades de uma pessoa jurídica a outra, o que configura a desconsideração econômica,
indireta ou a sucessão entre empresas para as obrigações existentes no âmbito civil.

Como última mudança constante da MP a respeito da desconsideração, quanto ao § 5º

do art. 50, nota-se, mais uma vez, uma valorização do elemento subjetivo para a
desconsideração, ao prever que não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a

alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.

54
4.6.2 Modalidades de desconsideração da personalidade jurídica

Seguindo, o CDC adota a teoria menor, que não exige prova de fraude ou abuso de
direito para que desconsidere a personalidade jurídica da sociedade. Para referida teoria, basta

que o credor demonstre a inexistência de bens da pessoa jurídica para saldar a dívida para a
aplicação do instituto.

Outras modalidades foram criadas com o objetivo de ampliar o cumprimento das

obrigações.

Neste sentido, também são modalidades de desconsideração:

 Inversa: o devedor principal é o sócio e será desconsiderada a sua personalidade


para ampliar ao complexo patrimonial da pessoa jurídica a qual figura como sócio,
sempre que se constatar que o sócio transferiu seu patrimônio pessoal para a
sociedade com a finalidade de frustrar os direitos de seus credores.
O tema é tratado no Enunciado n. 283 CJF/STJ esclarece que: “É cabível a

desconsideração da personalidade jurídica denominada inversa para alcançar bens de sócio que
se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.

É importante salientar que apesar da lei não regular expressamente, a doutrina e a

jurisprudência admitem a existência da Desconsideração Inversa (invertida, indireta, às avessas).

Um exemplo disso é a situação em que muitos cônjuges ardilosos antecipando-se ao


divórcio, retiram do patrimônio do casal bens que deveriam ser objeto de partilha, alocando-os

na pessoa jurídica da qual é sócio. Em tais circunstâncias, pode o juiz desconsiderar a autonomia
patrimonial da pessoa jurídica, alcançando bens que estão em seu próprio nome, entretanto,

para responder por dívidas que não são suas e sim de um ou mais de seus sócios.

Com o advento do Novo Código de Processo Civil, tal hipótese passou a ser prevista no
seu art. 133, §2º.

 Indireta: ocorre quando há fraude e abuso de uma empresa que é controladora,


por meio da controlada ou coligada. A empresa é utilizada como longa manus da

55
empresa controladora. Nestes casos, poderá ser determinada a desconsideração da
personalidade da empresa controlada com o objetivo de atingir o patrimônio da
controladora. A doutrina utiliza o termo “levantar o véu” da empresa controlada,
como forma de expor a fraude gerada pela empresa controladora.
 Expansiva: é possível estender os efeitos da desconsideração da personalidade
jurídica aos ‘sócios ocultos’ para responsabilizar aquele indivíduo que coloca sua
empresa em nome de um terceiro ou para alcançar empresas de um mesmo grupo
econômico.

TEORIA DA APARÊNCIA: Trata-se da juridicização de uma situação fática, em virtude da

proteção da boa-fé.

Ex.: citação da pessoa jurídica na pessoa do gerente ou do empregado que aparente ter poderes
de receber a citação.

Ex2.: representação aparente.

Quando o juiz decreta a Desconsideração da Personalidade Jurídica os bens do sócio é que

irão responder, ou seja, ele transfere bens particulares dele para a Pessoa Jurídica.

4.7 Dissolução da Pessoa Jurídica

 Convencional: deliberada por vontade dos sócios.

56
 Judicial: por decisão do juiz, decorre dos casos de dissolução previstos em lei ou no

estatuto, principalmente quando a sociedade se desviar dos fins para os quais foi
constituída. Ex: em caso de falência.

 Administrativa: por decisão do poder público que caça a autorização de

funcionamento, quando a PJ pratica atos nocivos ou contrários aos seus fins. Ex: o
MEC em relação a algumas faculdades.

 Natural: quando os sócios morrem e não são substituídos.

 Legal: em razão da lei (art. 1.034 do CC)

Alguns trâmites precisam ser seguidos para a extinção da PJ (nesta ordem):

 Averbação da dissolução: os sócios se dirigem ao cartório e lá averbam (publicam) a

dissolução de sua PJ. O fato se torna público e notório.

 Liquidação: é a solução das questões patrimoniais pendentes ex: pagar impostos,

recolher dívidas trabalhistas, compensar cheques. A liquidação da pessoa jurídica,


segundo o art. 51 do CC (vide), ocorrerá nos casos de dissolução ou de cassação de

autorização para funcionamento.

 Cancelamento da Inscrição da PJ

4.8 Associações

4.8.1 Conceito

Consiste numa reunião de pessoas, sem fins econômicos, ou seja, não se pode distribuir

dividendos entre os associados, caso contrário existiria um desvio de finalidade, deixando de ser
uma associação para se tornar uma sociedade.

A relação que se deve ter em uma associação não é entre os associados e sim entre o
associado e a associação (Pessoa Jurídica).

57
4.8.2 Características

 Não há entre os associados direitos e obrigações recíprocos;


 Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto pode estabelecer categorias
com vantagens especiais.
 A qualidade de associado é intransmissível, salvo disposição contrária do estatuto.
 Assembleia-Geral: destituição dos administradores e alteração do estatuto.
 Exclusão de associado: só havendo justa causa. Eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.
 Patrimônio residual: entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou à
instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes, por
deliberação dos associados, no caso de omissão do estatuto.

A associação até pode obter lucro, no entanto, este lucro deverá ser reinvestido na própria
entidade. A associação não pode ter o lucro como finalidade essencial e nem o distribuís

entre seus associados.

4.8.3 Constituição

A associação é constituída a partir de um estatuto que é levado à registro. Sendo assim,

no artigo 54 do CC (vide) estão enumerados os requisitos obrigatórios que devem constar nos
estatutos de toda e qualquer associação. Outras disposições podem ser acrescentadas porém

os requisitos dispostos na lei são essências, sob pena de nulidade.

O artigo 55 do CC diz que os associados devem ter iguais direitos, ou seja, eles estão, a
priori, em pé de igualdade para com a associação. Dessa forma, em regra, toda associação deve
garantir os direitos mínimos aos associados, sendo as vantagens medida excepcional a algumas
categorias.

58
Em regra, a qualidade de associado não se transmite nem entre vivos (cessão), nem por

causa morte (herança), salvo se o estatuto não dispuser o contrário. É o que nos informa o
artigo 56 do CC (vide).

4.8.4 Exclusão dos associados

Uma vez admitido o associado, a sua exclusão somente será possível por justa causa,
obedecido o estatuto.

Portanto, deve-se indicar o evento que culminou na exclusão do associado e comprovar


a existência da situação. Além disso, a exclusão de um associado deve ser precedida,
necessariamente, sob pena de nulidade, ilegalidade, reintegração do associado, das garantias

constitucionais (ampla defesa, contraditório, devido processo legal).

Além disso, o estatuto ou a lei estabelecerão os limites ao exercício de direito ou função


por parte do associado, nos termos do artigo 58 do CC.

O órgão máximo, soberano, de uma associação denomina-se Assembléia Geral. Sendo


assim, compete privativamente (exclusivamente) a ela:

 Destituir os administradores;
 Alterar o estatuto.
Por fim, cumpre mencionar o que ocorre com o patrimônio de uma associação quando

ela for dissolvida. O remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o
caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à

entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.

4.9 Fundações

4.9.1 Conceito e Finalidades

São pessoas jurídicas constituídas de um patrimônio destinado a um fim.

59
O candidato deve atentar às hipóteses previstas no rol do parágrafo único, do artigo 62,

que estabelece os fins pelo qual poderão ser constituídas fundações, pois é recorrentemente
cobrado em prova.

Observe o que nos diz o artigo 62 do CC: “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu

instituidor fará (obrigatório), por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens
livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser (facultado), a maneira de

administrá-la.

As fundações possuem 9 finalidades, expostas no p.u do artigo 62 do CC. As hipóteses


são para fins de:

 Assistência social;
 Cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
 Educação;
 Saúde;
 Segurança alimentar e nutricional;
 Defesa preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
 Pesquisa cientifica, desenvolvimento tecnológico, modernização de sistemas de
gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos;
 Promoção da ética,
 Da cidadania, da democracia, e dos direitos humanos;
 Atividades religiosas.

4.9.2 Procedimentos para a Criação de uma Fundação

São 4 as fases de constituição da fundação:

 Dotação: é a separação de um patrimônio, que pode ser: por escritura pública (em
vida), por testamento (para depois da morte do fundador). A dotação deve trazer
uma relação de bens livres e desembaraçados; também deve trazer a especificação
do fim.

60
 Elaboração do Estatuto: serve para lançar as bases da fundação, sua organização,
estrutura. O estatuto pode ser realizado pelo fundador ou por pessoa que ele
credenciar para tanto. Toda vez que o fundador delegar a incumbência para outra
pessoa, o estatuto deve ser concluído no prazo assinado pelo fundador, pois se ele
não estabelecer prazo algum será de 180 dias. Se o prazo transcorrer sem o
aperfeiçoamento do estatuto, a incumbência passa para o Ministério Público.
 Aprovação por órgão do Ministério Público.

Se o Ministério Público não aprovar o estatuto, será cabível o suprimento judicial, ou seja, o

interessado vai à justiça e pede para o juiz suprir a denegação do Ministério Público.

 Registro da escritura de instituição em cartório .


É importante destacar, ainda, o que acontece quando os bens são insuficientes para

constituir a fundação:

“Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão,
se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se
proponha a fim igual ou semelhante.“

4.9.3 Fiscalização

É realizada pelo Ministério Público.

4.9.4 Requisitos para alteração do estatuto

 Que seja deliberado por dois terços dos competentes para gerir e representar a
entidade.
 Que não contrarie o fim.
 Aprovação do MP (em 45 dias).
Esses requisitos encontram-se dispostos no artigo 67 do CC.

61
Cumpre esclarecer que se a alteração não for aprovada por unanimidade, a minoria

vencida poderá requerer a impugnação no prazo de 10 dias, conforme estabelece o artigo 68


do CC.

4.9.5 Término das fundações

Ocorre quando seu fim se torna ilícito, impossível ou inútil, ou ainda, quando se vence
o prazo de sua duração.

Quem poderá extingui-la é qualquer interessado ou o MP.

Uma vez extinta a fundação, os bens remanescentes, se houver, salvo disposição em


contrário, passarão para outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.15

15
Vide Questão 05
62
QUADRO SINÓTICO

PRINCÍPIOS BASILARES DO CÓDIGO CIVIL


Corolário o princípio da boa-fé objetiva, estabelece que as relações jurídicas
devem ser pautadas pela ética e pela lealdade. As partes devem atuar de boa-
ETICIDADE
fé em todas as fases da relação, desde a negociação até a fase de execução.
Superação do modelo individualista nas relações, de modo que todas elas
devem ser voltadas aos pilares do convívio comum, prevalecendo os valores
SOCIABILIDADE
coletivos aos individuais e respeitando-se os direitos fundamentais dos seres
humanos.

OPERABILIDADE É a simplificação do Direito Civil. Todas as situações devem possuir uma


solução e as normas devem ser viáveis, de fácil operabilidade.

EVOLUÇÃO DO DIREITO CIVIL


Revolução Francesa, divisão entre Direito Público e Privado, onde
estava um, não poderia estar o outro. O Código Civil da Alemanha o
BGB, em 1896. Ambos individualistas e patrimonilistas (propriedade
CODE DE FRANCE DE 1804:
privada e pacta sunt servanda). São as influências do Código Civil de
1916.
Constitucionalização do Direito Civil. Não há mais aquela separação
rígida entre o público e o privado. O Direito Civil passou por uma
releitura, à luz dos princípios constitucionais, valores fundamentais,
como a dignidade da pessoa humanda, a igualdade material
DIREITO CIVIL – (substancial), a solidariedade social, ou seja, trata-se de uma releitura
CONSTITUCIONAL: axiológica. É o que chamamos de filtragem constitucional.
A constitucionalização é o que falamos acima, isto é, a compreensão
de qualquer instituto do Direito Civil à luz da Constituição (eficácia
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO
irradiante). Já a Publicização do Direito Civil, também chamada de
DIREITO CIVIL X
Dirigismo Contratual, que é a presença do Poder Público na relação
PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO privada, quando há algum desequilíbrio entre as partes, como é o caso
CIVIL: do Direito do Trabalho e das relações de consumo, para garantir a
isonomia na relação.

PRINCIPAIS DISPOSITIVOS COBRADOS SOBRE A LINDB

63
Território brasileiro: 45 dias após a sua publicação.
Estados estrangeiros: três meses depois de oficialmente publicada, quando
admitida.
Se após a publicação de uma lei, antes de esta entrar em vigor, acontecer uma
VIGÊNCIA DAS NORMAS nova publicação, para correção, o prazo começará a correr a partir desta
publicação.
Se a lei já estiver em vigor, a correção será considerada como LEI NOVA.

A lei posterior revoga a anterior, quando expressamente o declare, quando


seja com ela incompatível, ou quando regule inteiramente a matéria que
PRINCÍPIO DA
tratava a lei anterior.
CONTINUIDADE DAS
NORMAS
Fenômeno legislativo, pelo qual há a entrada novamente em vigor de uma
norma efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. De
acordo com a LINDB, tal efeito apenas é permitido se expressamente
REPRISTINAÇÃO
declarado. Não há a incidência automática de repristinação. ≠ EFEITO
REPRISTINATÓRIO!

A lei será revogada por outra, valendo, no direito brasileiro, o princípio da


continuidade, salvo no caso de leis temporárias, pois já são criadas para
vigorarem em certo período de tempo.
REVOGAÇÃO
Ab-rogação: revogação total (absoluta) da lei.
Derrogação: revogação parcial da lei.
Ninguém pode se escusar com cumprimento da lei alegando o seu
desconhecimento, mas esta é uma presunção relativa.
PRINCÍPIO DA
OBRIGATORIEDADE DAS
NORMAS

64
Analogia, costumes e princípios gerais do direito.
Integração = colmatação.
Essa é uma ordem hierárquica, preferencial.
1) Analogia: colmatação de uma situação não prevista em lei, através de
outra já prevista.
a) Analogia legis: é a comparação entre uma situação não tratada em lei
com outra tratada em lei específica.
b) Analogia juris: é a comparação entre uma situação não prevista em
TÉCNICAS DE
lei, com o sistema jurídico como um todo.
INTEGRAÇÃO DA LEI
2) Costumes: secundum legem (com previsão na lei, por isso não é
integração), contra legem, praeter legem (este é o mecanismo de
integração da norma).
3) Princípios gerais: não lesar a ninguém, dar a cada um o que é seu, viver
honestamente.

EQUIDADE Apenas nos casos previstos em lei

INTERPRETAÇÃO DA Fins sociais e exigências do bem comum

NORMA
A lei em vigor possui efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Ato jurídico perfeito: já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que


se efetuou o ato.

PRINCÍPIO DA Direito adquirido: consideram-se adquiridos os direitos que o titular, ou


alguém por ele, possa exercer imediatamente.
IRRETROATIVIDADE DA
Coisa julgada: decisão judicial de que já não caiba recurso.
LEI
ATENÇÃO: Regra de Direito Intertemporal (art. 2.035, do CC). Existência e
validade de um negócio jurídico: lei em vigor à época da celebração.
Eficácia: norma atual.

65
Territorialidade é a regra geral, mas é mitigada, pois, em alguns casos, admite-
se a aplicação da legislação estrangeira, ou a legislação brasileira em país
estrangeiro .
APLICAÇÃO DA NORMA
ATENÇÃO: Estatuto Pessoal: Lei do domicílio da pessoa (não é onde nasceu).
NO ESPAÇO Cuida da personalidade, nome, capacidade e direito de família.

CASAMENTO: quando os nubentes tiverem domicílios diversos, as normas


sobre impedimentos matrimoniais e regime de bens, observarão a lei do
ESTATUTO PESSOAL primeiro domicílio conjugal.

As obrigações se qualificam e regem pela lei do país em que são constituídas.


É competente a autoridade judiciária brasileira, quando o réu for domiciliado
no Brasil ou aqui tiver que ser cumprida a obrigação.

Situações específicas:
Bens imóveis: lei do lugar onde estiverem situados.
Bens móveis e penhor: lei do domicílio do titular.
Contratos: o lugar do contrato é o de residência do proponente.
Lei sucessória mais favorável: no caso de falecimento de estrangeiro que deixa
herdeiro brasileiro, aplica-se a lei sucessória mais favorável ao herdeiro
brasileiro.

PESSOA NATURAL
Teoria natalista: personalidade se inicia no momento do nascimento com vida,
portanto o nascituro possui mera expectativa de direito.

INÍCIO DA Teoria Conceptualista: personalidade se inicia desde a concepção, ou seja, o


PERSONALIDADE nascituro já seria sujeito de direitos.
Teoria Condicional: defende que o nascituro tem determinados direitos, sujeitos a
uma condição suspensiva: o nascimento com vida. O nascituro teria apenas uma
personalidade formal, o que lhe permitiria gozar de direitos personalíssimos,
enquanto os direitos patrimoniais só seriam adquiridos com o nascimento com vida.
Capacidade de direito (capacidade de gozo): capacidade jurídica que qualquer
pessoa tem, de forma genérica

CAPACIDADE Capacidade de fato (capacidade de exercício), que é a capacidade de exercer,


CAPACIDADE DE pessoalmente, os atos da vida civil.
DIREITO +

66
CAPACIDADE DE
FATO =
CAPACIDADE
PLENA

Absoluta (artigo 3º do CC): menores de 16 (dezesseis) anos.

Relativa (artigo 4º do CC): Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos,


INCAPACIDADES
Os ébrios habituais e os viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir sua vontade; os pródigos.

A menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos, quando a pessoa fica


habilitada a prática de todos os atos da vida civil.

Emancipação

• Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver 16 (dezesseis) anos completos;
CESSAÇÃO
• Pelo casamento;
• Pelo exercício de emprego público efetivo;
• Pela colação de grau em curso de ensino superior;
• Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha
economia própria.
Real: quando existe um corpo, é declarada por médico ou duas testemunhas;

67
Ficta ou presumida: quando não existe corpo.
Porém, será presumida a morte quando:
 Aos ausentes, quando a lei autorizar a abertura da sucessão definitiva;
 For extremamente provável a morte, quando a pessoa estava em situação
de perigo;
 No caso de desaparecido ou prisioneiro, se a pessoa não for encontrada
até dois anos, após o término da guerra.

No caso da morte ficta, pode ocorrer sem processo de ausência (art. 7º do CC) ou
EXTINÇÃO DA
com processo de ausência (arts. 22 a 39 do CC).
PERSONALIDADE  Sem processo de ausência:
 Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
Ex: por exemplo, uma pessoa viajava em um avião e este caiu em alto mar,
sem que se pudesse encontrar sobreviventes.
 Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.

 Com processo de ausência: Ocorre quando uma pessoa desaparece sem


estar em risco de vida.

DIREITOS DA PERSONALIDADE
Intransmissíveis (não podem ser transmitidos a terceiros) e irrenunciáveis
(o titular deles não pode abrir mão, não pode renunciar), não podendo o
seu exercício sofrer limitação voluntária.
Genéricos, extrapatrimoniais, absolutos, inalienáveis, indisponíveis,
CARACTERÍSTICAS imprescritíveis, necessários, essenciais e preeminentes.

Preventiva por tutela específica: visa prevenir a ocorrência de dano à


personalidade.
 Inibitória: aplicação de uma pena de multa no caso de
descumprimento da tutela específica;
 Sub-rogatória: quando o juiz manda fazer uma coisa específica;
 Remoção do ilícito: quando se determina a retirada de alguma
TUTELA DOS DIREITOS publicação pejorativa em site, por exemplo.

DA PERSONALIDADE
Repressiva: busca interromper a lesão e conceder uma indenização pelos
prejuízos causados.

68
Atos de disposição do próprio corpo
Tratamento médico
DIREITOS DA
Direito ao nome
PERSONALIDADE
Direito à imagem
PREVISTOS NO CÓDIGO Direito à privacidade
CIVIL

PESSOA JURÍDICA
Agrupamento de pessoas (universitas personarum) ou de um patrimônio com
destinação específica (universitas bonorum).

CONCEITO Teoria adotada pelo CC/02: Teoria da realidade técnica (Saleilles).


Pessoas jurídicas podem ser de direito público:
 Interno: União, Estados, o Distrito Federal e os Territórios, Municípios,
autarquias, inclusive as associações públicas, as demais entidades de caráter
público criadas por lei.
CLASSIFICAÇÃO  Externo: Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo
direito internacional público.

Direito privado: associações; sociedades; fundações, organizações religiosas;


partidos políticos, empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI).

INÍCIO DA PESSOA Começa com a inscrição do ato constitutivo no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas (registro), conforme nos informa o art. 45 do CC.
JURÍDICA
A Desconsideração da Personalidade Jurídica (disregard doctrine) é instituto, com
natureza constitutiva que visa a criar nova situação jurídica, com a finalidade de
impedir que os sócios, administradores, gerentes e/ou representantes legais,
acobertados pela independência pessoal e patrimonial entre pessoa jurídica e os
entes que a compunham, pratiquem abusos, atividades escusas e fraudulentas.
DESCONSIDERAÇÃO
Direta: desconsiderada a personalidade jurídica no caso de abuso da personalidade,
DA sempre que caracterizar desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
PERSONALIDADE Inversa: o devedor principal é o sócio e será desconsiderada a sua personalidade
JURÍDICA para ampliar ao complexo patrimonial da pessoa jurídica a qual figura como
sócio, sempre que se constatar que o sócio transferiu seu patrimônio pessoal para
a sociedade com a finalidade de frustrar os direitos de seus credores.

Indireta: ocorre quando há fraude e abuso de uma empresa que é controladora,


por meio da controlada ou coligada.

69
Expansiva: é possível estender os efeitos da desconsideração da personalidade
jurídica aos ‘sócios ocultos’ para responsabilizar aquele indivíduo que coloca sua
empresa em nome de um terceiro ou para alcançar empresas de um mesmo grupo
econômico.

 Convencional: deliberada por vontade dos sócios.


 Judicial: por decisão do juiz, decorre dos casos de dissolução previstos em
lei ou no estatuto, principalmente quando a sociedade se desviar dos fins
para os quais foi constituída. Ex: em caso de falência.
 Administrativa: por decisão do poder público que caça a autorização de
funcionamento, quando a PJ pratica atos nocivos ou contrários aos seus
DISSOLUÇÃO fins. Ex: o MEC em relação a algumas faculdades.
 Natural: quando os sócios morrem e não são substituídos.
 Legal: em razão da lei (art. 1.034 do CC)
 Averbação da dissolução: os sócios se dirigem ao cartório e lá averbam
(publicam) a dissolução de sua PJ. O fato se torna público e notório.
 Liquidação: é a solução das questões patrimoniais pendentes
 Cancelamento da Inscrição da PJ
Consiste numa reunião de pessoas, sem fins econômicos, ou seja, não se pode
distribuir dividendos entre os associados, caso contrário existiria um desvio de
ASSOCIAÇÕES
finalidade, deixando de ser uma associação para se tornar uma sociedade.
São pessoas jurídicas constituídas de um patrimônio destinado a um fim.
Observe o que nos diz o artigo 62 do CC: “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu
instituidor fará (obrigatório), por escritura pública ou testamento, dotação especial
FUNDAÇÕES
de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser
(facultado), a maneira de administrá-la.

70
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

XXXI EOU – FGV - 2020: Márcia, adolescente com 17 anos de idade, sempre demonstrou uma

maturidade muito superior à sua faixa etária. Seu maior objetivo profissional é o de tornar-se
professora de História e, por isso, decidiu criar um canal em uma plataforma on-line, na qual

publica vídeos com aulas por ela própria elaboradas sobre conteúdos históricos.

O canal tornou-se um sucesso, atraindo multidões de jovens seguidores e despertando o


interesse de vários patrocinadores, que começaram a procurar a jovem, propondo contratos de

publicidade. Embora ainda não tenha obtido nenhum lucro com o canal, Márcia está animada
com a perspectiva de conseguir custear seus estudos na Faculdade de História se conseguir

firmar alguns desses contratos. Para facilitar as atividades da jovem, seus pais decidiram
emancipá-la, o que permitirá que celebre negócios com futuros patrocinadores com mais

agilidade.

Sobre o ato de emancipação de Márcia por seus pais, assinale a afirmativa correta.

a) Depende de homologação judicial, tendo em vista o alto grau de exposição que a adolescente
tem na internet.

b) Não tem requisitos formais específicos, podendo ser concedida por instrumento particular.

c) Deve, necessariamente, ser levado a registro no cartório competente do Registro Civil de

Pessoas Naturais.

d) É nulo, pois ela apenas poderia ser emancipada caso já contasse com economia própria, o

que ainda não aconteceu.

71
Comentário:

A questão em apreço trata sobre a capacidade. De acordo com o parágrafo único do art. 5º do
CC, Cessará, para os menores a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público,
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o
menor tiver dezesseis anos completos;

Mais adiante, o art. 9º informa que serão registrados em registro público:

II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;

Questão 2
XXIX EOU – FGV - 2019: Gumercindo, 77 anos de idade, vinha sofrendo os efeitos do Mal de

Alzheimer, que, embora não atingissem sua saúde física, perturbavam sua memória. Durante
uma distração de seu enfermeiro, conseguiu evadir-se da casa em que residia. A despeito dos

esforços de seus familiares, ele nunca foi encontrado, e já se passaram nove anos do seu
desaparecimento. Agora, seus parentes lidam com as dificuldades relativas à administração e
disposição do seu patrimônio.

Assinale a opção que indica o que os parentes devem fazer para receberem a propriedade dos
bens de Gumercindo.

a) Somente com a localização do corpo de Gumercindo será possível a decretação de sua morte
e a transferência da propriedade dos bens para os herdeiros.

b) Eles devem requerer a declaração de ausência, com nomeação de curador dos bens, e, após
um ano, a sucessão provisória; a sucessão definitiva, com transferência da propriedade dos bens,

só poderá ocorrer depois de dez anos de passada em julgado a sentença que concede a abertura
da sucessão provisória.

72
c) Eles devem requerer a sucessão definitiva do ausente, pois ele já teria mais de oitenta anos

de idade, e as últimas notícias dele datam de mais de cinco anos.

d) Eles devem requerer que seja declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, por

ele se encontrar desaparecido há mais de dois anos, abrindo-se, assim, a sucessão.

Comentário:

A questão em apreço trata do ausente. Nos moldes do art. 38 do CC, Pode-se requerer a
sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta 80 anos de idade, e que

de cinto datam as últimas notícias dele.

A sucessão provisória pode ter seu fim antecipado pela prova da morte, quando houver

provável condição de morte real, que foi estabelecida no artigo acima transcrito. Perceba
que o prazo de cinco anos não vincula a declaração de ausência nem ao desaparecimento,

mas sim a última notícia existente do desaparecido.

Questão 3
XX EOU – FGV - 2016: Cristiano, piloto comercial, está casado com Rebeca. Em um dia de forte
neblina, ele não consegue controlar o avião que pilotava e a aeronave, com 200 pessoas a

bordo, desaparece dos radares da torre de controle pouco antes do tempo previsto para a sua
aterrissagem. Depois de vários dias de busca, apenas 10 passageiros foram resgatados, todos

em estado crítico. Findas as buscas, como Cristiano não estava no rol de sobreviventes e seu
corpo não fora encontrado, Rebeca decide procurar um advogado para saber como deverá

proceder a partir de agora.

Com base no relato apresentado, assinale a afirmativa correta.

73
a) A esposa deverá ingressar com uma demanda judicial pedindo a decretação de ausência de

Cristiano, a fim de que o juiz, em um momento posterior do processo, possa declarar a sua
morte presumida.

b) A esposa não poderá requerer a declaração de morte presumida de Cristiano, uma vez que
apenas o Ministério Público detém legitimidade para tal pedido.

c) A declaração da morte presumida de Cristiano poderá ser requerida independentemente de


prévia decretação de ausência, uma vez que esgotadas as buscas e averiguações por parte das

autoridades competentes.

d) A sentença que declarar a morte presumida de Cristiano não deverá fixar a data provável de
seu falecimento, contando-se, como data da morte, a data da publicação da sentença no meio

oficial.

Comentário:

De acordo com o art. 7ºdo CC, pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de
ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida

depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do


falecimento.

A declaração da morte presumida de Cristiano poderá ser requerida independentemente de

prévia decretação de ausência, pois extremamente provável a morte de que estava em perigo
de vida, uma vez que esgotadas as buscas e averiguações por parte das autoridades

competentes.

74
Questão 4
XX EOU – FGV – 2016 (Bahia): Pedro, em dezembro de 2011, aos 16 anos, se formou no ensino

médio. Em agosto de 2012, ainda com 16 anos, começou estágio voluntário em uma companhia
local. Em janeiro de 2013, já com 17 anos, foi morar com sua namorada. Em julho de 2013,

ainda com 17 anos, após ter sido aprovado e nomeado em um concurso público, Pedro entrou
em exercício no respectivo emprego público.

Tendo por base o disposto no Código Civil, assinale a opção que indica a data em que cessou
a incapacidade de Pedro.

a) Dezembro de 2011.

b) Agosto de 2012.

c) Janeiro de 2013.

d) Julho de 2013.

Comentário:

Segundo o art. 5ºdo CC de 2002, cessará para os menores, a incapacidade quando:

III- pelo exercício de emprego público efetivo.

Logo, em julho de 2013, após ser aprovado e nomeado em concurso público, ou seja,

quando começou a exercer emprego público efetivo.

Questão 5
XIX EOU – FGV - 2016: Júlia, casada com José sob o regime da comunhão universal de bens e

mãe de dois filhos, Ana e João, fez testamento no qual destinava metade da parte disponível
de seus bens à constituição de uma fundação de amparo a mulheres vítimas de violência

75
obstétrica. Aberta a sucessão, verificou-se que os bens destinados à constituição da fundação

eram insuficientes para cumprir a finalidade pretendida por Júlia, que, por sua vez, nada
estipulou em seu testamento caso se apresentasse a hipótese de insuficiência de bens.

Diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta.

a) A disposição testamentária será nula e os bens serão distribuídos integralmente entre Ana e
João.

b) O testamento será nulo e os bens serão integralmente divididos entre José, Ana e João.

c) Os bens de Júlia serão incorporados à outra fundação que tenha propósito igual ou
semelhante ao amparo de mulheres vítimas de violência obstétrica.

d) Os bens destinados serão incorporados à outra fundação determinada pelos herdeiros


necessários de Júlia, após a aprovação do Ministério Público.

Comentário:

Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados, serão, se de

outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha

a fim igual ou semelhante. É o que dispõe o art. 63 do CC/02.

76
GABARITO

Questão 1 - C

Questão 2 - C

Questão 3 - C

Questão 4 - D

Questão 5 - C

77
QUESTÃO DESAFIO

Qual é a diferença entre capacidade e legitimação?

Responda em até 5 linhas

78
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Capacidade é a aptidão que o ordenamento jurídico atribui às pessoas, em geral, e a certos

entes, em particular, para serem titulares de uma situação jurídica. Legitimação é a aptidão
para a prática de determinados atos jurídicos, uma espécie de capacidade especial exigida
em certas situações.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Capacidade
Pablo Stolze leciona que adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de
direitos e obrigações. Possui, portanto, capacidade de direito ou de gozo. Todo ser humano
tem, assim, capacidade de direito, pelo fato de que a personalidade jurídica é atributo inerente

à sua condição. Marcos Bernardes De Mello prefere utilizar a expressão capacidade jurídica para
caracterizar a “aptidão que o ordenamento jurídico atribui às pessoas, em geral, e a certos entes,

em particular, estes formados por grupos de pessoas ou universalidades patrimoniais, para


serem titulares de uma situação jurídica”. Nem toda pessoa, porém, possui aptidão para exercer

pessoalmente os seus direitos, praticando atos jurídicos, em razão de limitações orgânicas ou

psicológicas. Se puderem atuar pessoalmente, possuem, também, capacidade de fato ou de


exercício. Reunidos os dois atributos, fala-se em capacidade civil plena. Nesse sentido, cumpre

invocar o preciso pensamento de Orlando Gomes: “A capacidade de direito confunde-se, hoje,

com a personalidade, porque toda pessoa é capaz de direitos. Ninguém pode ser totalmente
privado dessa espécie de capacidade”. E mais adiante: “A capacidade de fato condiciona-se à

capacidade de direito. Não se pode exercer um direito sem ser capaz de adquiri-lo. Uma não
se concebe, portanto, sem a outra. Mas a recíproca não é verdadeira. Pode-se ter capacidade

de direito, sem capacidade de fato; adquirir o direito e não poder exercê-lo por si. A
impossibilidade do exercício é, tecnicamente, incapacidade”.

 Legitimação
Capacidade não se confunde com legitimação. Esta é a aptidão para a prática de determinados

atos jurídicos, uma espécie de capacidade especial exigida em certas situações. Assim, por
79
exemplo, o ascendente é genericamente capaz, mas só estará legitimado a vender a um

descendente se o seu cônjuge e os demais descendentes expressamente consentirem (CC, art.


496). A falta de legitimação alcança pessoas impedidas de praticar certos atos jurídicos, sem

serem incapazes, como por exemplo, o tutor, proibido de adquirir bens do tutelado (CC, art.
1.749, I); o casado, exceto no regime de separação absoluta de bens, de alienar imóveis sem a

outorga do outro cônjuge (art. 1.647); os tutores ou curadores de dar em comodato os bens
confiados a sua guarda sem autorização especial (art. 580) etc.

80
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

 LINDB: integralmente;

 LC 95/1998: art. 8º;


 Decreto nº 9.830/2019: integralmente;

Pessoa Natural e Direitos da personalidade

 CC: Arts. 1 a 21;


 Súmulas: 403 do STJ;

Ausência

 CC: Arts. 22 a 39;

Pessoa Jurídica

 CC: Arts. 40 a 69;


 Súmulas: 227 do STJ;

Domicílio

 CC: Arts. 71 a 78;

Colacionamos, abaixo, o teor das súmulas mencionadas neste capítulo:

Direitos da personalidade

 Súmula 403, STJ


Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.

Pessoa Jurídica

81
 Súmula 227, STJ
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

82
JURISPRUDÊNCIA

Pessoa Natural e Direitos da personalidade

 Tema 761 – RE 670422, STF:


O STF, que fixou a seguinte tese:

I) O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero
no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá
exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa;

II) Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo 'transgênero';

III) Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de
certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial;

IV) Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento
do interessado a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos
ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos.

 Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815:


O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora, julgou procedente o pedido formulado na ação
direta para dar interpretação conforme à Constituição aos artigos 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto,
para, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação
artística, produção científica, declarar inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras
biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária autorização de pessoas retratadas como
coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas).

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614).
O STJ fixou o seguinte entendimento:

A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social.

Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.

83
Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez, tendo realizado, inclusive,
uma entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo homicídio. Foram exibidas, sem prévia autorização da
família, fotos da vítima Daniela. O STJ entendeu que, como havia relevância nacional na reportagem, não se
aplica a Súmula 403 do STJ, não havendo direito à indenização.

 Informativo 621, STJ:


A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação da imagem de pessoa como coadjuvante em documentário
que tem por objeto a história profissional de terceiro. Ação de indenização proposta por ex-goleiro do Santos em
virtude da veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional contratado), sem prévia autorização, em cenas
do documentário “Pelé Eterno”. O autor alegou que a simples utilização não autorizada de sua imagem, ainda que
de forma indireta, geraria direito a indenização por danos morais, independentemente de efetivo prejuízo.

O STJ não concordou. A representação cênica de episódio histórico em obra audiovisual biográfica não depende
da concessão de prévia autorização de terceiros ali representados como coadjuvantes.

O STF, no julgamento da ADI 4.815/DF, afirmou que é inexigível a autorização de pessoa biografada relativamente
a obras biográficas literárias ou audiovisuais bem como desnecessária a autorização de pessoas nelas retratadas
como coadjuvantes. A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de representação da imagem de pessoa como
coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem por objeto a história profissional de terceiro. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.454.016-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/12/2017

 Informativo 588, STJ:


O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro civil do Brasil, desde que isso
não cause prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por força da apresentação
de documentos estrangeiros com sobrenome imposto por lei estrangeira e diferente do que consta em seus
documentos brasileiros.

 Informativo 627, STJ:


É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do vínculo conjugal pelo
falecimento do cônjuge. Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira. Com o casamento, ela incorporou
o patronímico do marido e passou a chamar-se Maria da Costa Ferreira. Alguns anos mais tarde, João faleceu.
Maria poderá voltar a usar o nome de solteira (Maria Pimentel da Costa), excluindo o patronímico do falecido
marido? Sim. Vale ressaltar que não há previsão legal para a retomada do nome de solteira em caso de morte do
marido. A lei somente prevê a possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar o nome de solteiro (a) em
caso de divórcio (art. 1.571, § 2º, do CC). Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido. A viuvez e o
divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a dissolução do vínculo conjugal.
Logo, não há justificativa plausível para que se trate de modo diferenciado as referidas situações. STJ. 3ª Turma.
REsp 1724718-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018

84
 Informativo 627, STJ:
É inadmissível a homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor em juízo sem a
observância dos requisitos e procedimento legalmente instituído para essa finalidade. Ex: Sandro namorava Letícia,
que ficou grávida. Ao nascer a criança, Sandro a registrou como sua filha. Alguns anos depois, por meio de um
exame de DNA feito em uma clínica particular, descobre-se que o pai biológico da menor é, na verdade, João.
Diante disso, o pai registral, o pai biológico e a criança, representada por sua mãe, celebraram um acordo
extrajudicial de anulação de assento civil. Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram que
haveria a retificação do registro civil da menor para que houvesse a substituição do nome de seu pai registral pelo
pai biológico. As partes ingressam com pedido para que o juiz homologasse esse acordo. O pedido deverá ser
negado. STJ. 3ª Turma. REsp 1698717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018

 Informativo 628, STJ:


Determinada pessoa se envolveu em uma suspeita de fraude há mais muitos anos, tendo sido inocentada das
acusações. Ocorre que todas as vezes que digita seu nome completo no Google e demais provedores de busca,
os primeiros resultados que aparecem até hoje são de páginas na internet que trazem reportagens sobre seu
suposto envolvimento com a fraude. Diante disso, ela ingressou com ação de obrigação de fazer contra o Google
pedindo a desindexação, nos resultados das aplicações de busca mantida pela empresa, de notícias relacionadas
às suspeitas de fraude no referido concurso. Invocou, como fundamento, o direito ao esquecimento. O STJ afirmou
o seguinte: em regra, os provedores de busca da internet (ex: Google) não têm responsabilidade pelos resultados
de busca apresentados. Em outras palavras, não se pode atribuir a eles a função de censor, obrigando que eles
filtrem os resultados das buscas, considerado que eles apenas espelham o conteúdo que existe na internet. A
pessoa prejudicada deverá direcionar sua pretensão contra os provedores de conteúdo (ex: sites de notícia),
responsáveis pela disponibilização do conteúdo indevido na internet. Há, todavia, circunstâncias excepcionalíssimas
em que é necessária a intervenção pontual do Poder Judiciário para fazer cessar o vínculo criado, nos bancos de
dados dos provedores de busca, entre dados pessoais e resultados da busca, que não guardam relevância para
interesse público à informação, seja pelo conteúdo eminentemente privado, seja pelo decurso do tempo. Nessas
situações excepcionais, o direito à intimidade e ao esquecimento, bem como a proteção aos dados pessoais deverá
preponderar, a fim de permitir que as pessoas envolvidas sigam suas vidas com razoável anonimato, não sendo o
fato desabonador corriqueiramente rememorado e perenizado por sistemas automatizados de busca. No caso
concreto, o STJ determinou que deveria haver a desvinculação da pesquisa com base no nome completo da autora
com resultados que levassem às notícias sobre a fraude. Em outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: o Google
não precisa retirar de seus resultados as notícias da autorarelacionadas com a suposta fraude no concurso. Mas
para que esses resultados apareçam será necessário que o usuário faça uma pesquisa específica com palavras-
chaves que remetam à fraude. Por outro lado, se a pessoa digitar unicamente o nome completo da autora, sem
qualquer outro termo de pesquisa que remete à suspeita de fraude, não se deve mais aparecer os resultados
relacionados com este fato desabonador. Assim, podemos dizer que é possível determinar o rompimento do vínculo

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estabelecido por provedores de aplicação de busca na internet entre o nome de prejudicado, utilizado como critério
exclusivo de busca, e a notícia apontada nos resultados. O rompimento do referido vínculo sem a exclusão da
notícia compatibiliza também os interesses individual do titular dos dados pessoais e coletivo de acesso à
informação, na medida em que viabiliza a localização das notícias àqueles que direcionem sua pesquisa fornecendo
argumentos de pesquisa relacionados ao fato noticiado, mas não àqueles que buscam exclusivamente pelos dados
pessoais do indivíduo protegido. STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.168-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 08/05/2018

 Informativo 892, STF:


Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da realização
de tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o direito à alteração do prenome e do gênero (sexo)
diretamente no registro civil. STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 28/2 e 1º/3/2018

 Informativo 911, STF:


O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no
registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá
exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa alteração deve ser
averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do registro
não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro teor, salvo a
requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial. Efetuando-se o procedimento pela via judicial,
caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento do interessado a expedição de mandados específicos
para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o
sigilo sobre a origem dos atos. STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/8/2018
(repercussão geral)

 Informativo 634, STJ:


IMAGEM. Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz Giovanna Antonelli, sem a
sua autorização, em propagandas de um remédio para emagrecer. O STJ afirmou que, além da indenização por
danos morais e materiais, a atriz também tinha direito à restituição de todos os benefícios econômicos que a ré
obteve na venda de seus produtos (restituição do “lucro da intervenção”). Lucro da intervenção é uma vantagem
patrimonial obtida indevidamente com base na exploração ou aproveitamento, de forma não autorizada, de um
direito alheio. Dever de restituição do lucro da intervenção é o dever que o indivíduo possui de pagar aquilo que
foi auferido mediante indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa. A obrigação de restituir
o lucro da intervenção é baseada na vedação do enriquecimento sem causa (art. 884 do CC). A ação de
enriquecimento sem causa é subsidiária. Apesar disso, nada impede que a pessoa prejudicada ingresse com ação
cumulando os pedidos de reparação dos danos (responsabilidade civil) e de restituição do indevidamente auferido

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(lucro da intervenção). Para a configuração do enriquecimento sem causa por intervenção, não se faz imprescindível
a existência de deslocamento patrimonial, com o empobrecimento do titular do direito violado, bastando a
demonstração de que houve enriquecimento do interventor. O critério mais adequado para se fazer a quantificação
do lucro da intervenção é o do enriquecimento patrimonial (lucro patrimonial). A quantificação do lucro da
intervenção deverá ser feita por meio de perícia realizada na fase de liquidação de sentença, devendo o perito
observar os seguintes critérios: a) apuração do quantum debeatur com base no denominado lucro patrimonial; b)
delimitação do cálculo ao período no qual se verificou a indevida intervenção no direito de imagem da autora; c)
aferição do grau de contribuição de cada uma das partes e d) distribuição do lucro obtido com a intervenção
proporcionalmente à contribuição de cada partícipe da relação jurídica. STJ. 3ª Turma.REsp 1.698.701-RJ, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/10/2018

 Informativo 645, STJ:


Não há exigência de formalidade específica acerca da manifestação de última vontade do indivíduo sobre a
destinação de seu corpo após a morte, sendo possível a submissão do cadáver ao procedimento de criogenia em
atenção à vontade manifestada em vida. A criogenia (ou criopreservação) é a técnica de congelamento do corpo
humano após a morte, em baixíssima temperatura, a fim de conservá-lo, com o intuito de reanimação futura da
pessoa caso sobrevenha alguma importante descoberta científica que possibilite o seu retorno à vida. Em outras
palavras, a criogenia consiste no congelamento de cadáveres a baixas temperaturas, com a finalidade de que, com
os possíveis avanços da ciência, sejam, um dia, ressuscitados. STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.718-RJ, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 26/03/2019.

 Informativo 655, STJ:


É possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao nome da mulher
durante a convivência matrimonial. O cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro (§ 1º do art. 1.565, do Código
Civil). Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa providência
requerida no processo de habilitação do casamento. A despeito disso, não existe uma vedação legal expressa para
que, posteriormente, no curso do relacionamento, um dos cônjuges requeira o acréscimo do outro patronímico do
seu cônjuge por meio de ação de retificação de registro civil, especialmente se o cônjuge apresenta uma justificativa.
Vale ressaltar que o art. 1.565, §1º do CC não estabelece prazo para que o cônjuge adote o apelido de família do
outro, em se tratando, no caso, de mera complementação, e não alteração do nome. Assim, é possível a retificação
do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao nome da mulher durante a convivência
matrimonial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.648.858-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/08/2019 (Info
655).

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Pessoa Jurídica

 Informativo 661, STJ:


Membros do conselho fiscal de uma cooperativa não podem ser atingidos pela desconsideração da personalidade
jurídica se não praticaram nenhum ato de administração. A desconsideração da personalidade jurídica, ainda que
com fundamento na Teoria Menor, não pode atingir o patrimônio pessoal de membros do Conselho Fiscal sem
que haja a mínima presença de indícios de que estes contribuíram, ao menos culposamente e com desvio de
função, para a prática de atos de administração. STJ. 3ª Turma. REsp 1.766.093-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel.
Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/11/2019 (Info 661).

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito. V. 1. 2018. Saraiva: São Paulo.

GOUVEIA, Mila. INFORMATIVOS EM FRASE. Juspodvim. Salvador, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

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