Você está na página 1de 38

XXXII

EXAME

DIREITO DO

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


CONSUMIDOR

ATUALIZADO COM: INCLUI:


• Lei nº 13.819/2019 (Cobertura dos • Quadros de ATENÇÃO
APOSTILA
planos de saúde nos casos de suicídio
INTEGRADA
ou autolesão). • Tabelas Comparativas
COM O APP!

• Esquemas Didáticos

• Referências a temas cobrados


em provas anteriores

OABNAMEDIDA.COM.BR
SUMÁRIO
1.  CARACTERÍSTICAS DO CDC
2.  ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

2.1.  ELEMENTOS SUBJETIVOS


2.2.  ELEMENTOS OBJETIVOS

3.  PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES


DE CONSUMO
4.  DIREITOS DO CONSUMIDOR
4.1.  DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR
4.2.  PROTEÇÃO À SAÚDE E SEGURANÇA

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


4.3.  RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO
4.4.  RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO
4.5.  DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO
4.6.  DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

5.  PRÁTICAS COMERCIAIS


5.1.  OFERTA
5.2.  PUBLICIDADE
5.3.  PRÁTICAS ABUSIVAS
5.4.  COBRANÇA DE DÍVIDAS
5.5.  BANCOS DE DADOS E CADASTRO DE CONSUMIDORES

6.  PROTEÇÃO CONTRATUAL


6.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS
6.2.  CLÁUSULAS ABUSIVAS
6.3.  CONTRATO DE ADESÃO

7.  DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO


7.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS
7.1.1  INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
7.1.2  LEGITIMIDADE PARA AS AÇÕES COLETIVAS
7.1.3  HONORÁRIOS, CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS

7.2.  AÇÕES COLETIVAS PARA A DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS


7.3.  COISA JULGADA

8.  CONVENÇÃO COLETIVA DE CONSUMO

2
Alteração Legislativa Atenção Exemplo
1

1.  CARACTERÍSTICAS DO CDC


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

A Constituição Federal de 1988 introduziu um novo patamar de proteção ao consumidor,


estabelecendo como direito fundamental (art. 5º, XXXII) a necessidade do Estado promover a
sua defesa e concedendo prazo de 120 (cento e vinte dias) dias para que o Código de Defesa do
Consumidor fosse elaborado (art. 48 do ADCT).

Foi nesse contexto que foi editada a Lei n. 8.078/90, com viés nitidamente protetivo e que
apresenta as seguintes características:

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


• Normas de ordem pública: as normas previstas no Código de Defesa do Consumidor
são inderrogáveis pela vontade das partes, podendo o juiz conhecê-las de ofício.

Como se trata de norma de ordem pública, o juiz poderá conhecer de ofício a abusividade de
uma cláusula do contrato de consumo. Entretanto, o STJ firmou posicionamento no sentido
de que nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das
cláusulas (Súmula n. 381).

• Norma de interesse social: o Código de Defesa do Consumidor além de se


preocupar com o interesse dos particulares, preocupa-se também com o interesse da
coletividade. A título de exemplo, cita-se o art. 2º, parágrafo único, do CDC que dispõe
que se equipara a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis,
que haja intervindo nas relações de consumo.

• Microssistema Jurídico: o CDC é um sistema próprio, que se preocupa em proteger


a parte mais fraca da relação de consumo, o consumidor.

• Caráter Multidisciplinar: engloba normas processuais, de direito penal e de


direito administrativo.

3
2

2.  ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

A relação de consumo é formada por elementos subjetivos, ou seja, os sujeitos da relação


(consumidor e fornecedor) e por elementos objetivos, referentes ao objeto tratado na relação
jurídica (produto ou serviço).

2.1.  ELEMENTOS SUBJETIVOS

• CONSUMIDOR: o consumidor é o principal destinatários das normas consumeristas

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


de proteção e sua definição legal vem expressamente prevista no art. 2º, caput, do
CDC, in verbis:

Art. 2º, caput, do CDC: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

Com o objetivo de explicar o conceito da expressão “destinatário final”, surgiram duas teorias:
teoria maximalista e teoria finalista.

Para a teoria maximalista, considera-se destinatário final aquele que retira do mercado o
produto ou serviço, mesmo que o bem não seja utilizado para atendimento de necessidades próprias
ou profissionais. Em outras palavras, destinatário final seria o destinatário fático, bastando que
a pessoa física ou jurídica retire o bem do mercado para ser considerada consumidora. A título de
exemplo, para a teoria maximalista, se uma pessoa jurídica comprar matéria prima para utilizá-la
em seu processo produtivo, ela será considerada consumidora.

Por outro lado, para a teoria finalista, a expressão “destinatário final” se refere ao caráter
econômico da relação, de modo que é considerado consumidor apenas aquele que se vale do
produto para satisfazer interesse próprio ou de sua família, excluindo praticamente de seu conceito
as pessoas jurídicas TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV.

Em razão do rigor da teoria finalista, o Superior Tribunal de Justiça passou a amenizar os


seus efeitos, adotando a teoria finalista aprofundada ou mitigada, segundo a qual o destinatário
final terá o aspecto econômico avaliado de acordo com a sua vulnerabilidade, ou seja, a relação
de consumo decorrerá essencialmente da vulnerabilidade de uma das partes e não em função da
pessoa ser física ou jurídica. TEMA COBRADO NO XXIX EXAME DA OAB/FGV.

Além do conceito legal acima tratado, o Código de Defesa do Consumidor traz ainda outras três
situações em que haverá o conceito do consumidor por equiparação:

Art. 2º
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas
do evento TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV.
4
Convidados de uma festa que sofreram infecção gastrointestinal em virtude dos alimentos
estragados que foram servidos no evento, ou ainda o exemplo clássico das pessoas que
apenas estavam cortando caminho por dentro do shopping Osasco Plaza e foram afetadas
pela sua explosão (REsp. 279.273/SP).
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte (“Das Práticas Comerciais” e “Da
Proteção Contratual”), equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis
ou não, expostas às práticas nele previstas.

Toda pessoa que se sentir lesada por uma publicidade enganosa ou abusiva poderá ser
considerada consumidora, ainda que não tenha comprado o produto ou contratado o serviço.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


CONCEITO LEGAL DE CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO
CONSUMIDOR

Art. 2º, caput, do CDC: Consumidor é toda Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
produto ou serviço como destinatário final. relações de consumo (art. 2°, parágrafo único, do CDC);

Prevalece atualmente a teoria finalista Equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do


aprofundada ou mitigada, segundo a qual o evento (art. 17 do CDC). Assim, se um pedestre é afetado
destinatário final terá o aspecto econômico por uma explosão de um restaurante, por exemplo, ele
avaliado de acordo com a sua vulnerabilidade, será considerado consumidor. Da mesma forma, a pessoa
ou seja, a relação de consumo decorrerá prejudicada por uma conta aberta de forma fraudulenta
essencialmente da vulnerabilidade de uma também é considerada consumidor (Súmula 479 do STJ);
das partes e não em função da pessoa ser
física ou jurídica.
Equiparam-se aos consumidores todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas previstas
nos Capítulos “Das Práticas Comerciais” e “Da Proteção
Contratual” (art. 29 do CDC).

• FORNECEDOR: conforme previsto no art. 3° do CDC, fornecedor é toda pessoa


física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços. Para que haja relação de consumo, é essencial
que o fornecedor exerça sua atividade de forma habitual.

Se o fornecedor não exercer a atividade de forma habitual, não será uma relação de consumo e
sim uma relação civil. Além disso, o Poder Público somente será considerado fornecedor quando
a remuneração dos serviços por ele prestados for feita por meio de pagamento de tarifa ou preço
público (ex. tarifa de transporte público, tarifa de água, luz, gás, pedágio etc);

5
2.2.  ELEMENTOS OBJETIVOS

• PRODUTO: qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (§ 1° do art. 3° do CDC).


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

• SERVIÇO: qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (§ 2° do art. 3° do CDC).

Para que haja relação de consumo, o serviço deve ser remunerado, ainda que indiretamente,
entendendo-se como remuneração indireta o custo embutido no empreendimento e repassado
sem cobrança direta ao consumidor, como no caso do estacionamento gratuito de shoppings e
supermercados. Assim, se determinada pessoa tiver seu carro furtado no estacionamento de
um shopping, ela será considerada consumidora, mesmo que o estacionamento seja gratuito.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


• Por fim, o quadro abaixo sintetiza as principais hipóteses de aplicação ou não do CDC:

APLICAÇÃO DO CDC NÃO APLICAÇÃO DO CDC

Instituições Financeiras (Súmula n. 297 do STJ) Relação entre advogado e cliente: prevalece que
não se aplica o CDC, uma vez que a relação é regida
pelo Estatuto da OAB.
Contratos de Plano de Saúde, salvo os
administrados por entidades de autogestão
(Súmula n. 608 do STJ). Relação entre condomínio e condômino.

Serviço Público impróprio (específicos, uti Locação de Imóveis Urbanos: Jurisprudência


singuli): O STJ entende que se aplica o CDC aos majoritária entende que não incide o CDC porque se
serviços públicos impróprios, como o serviço de aplica a Lei do inquilinato.
esgoto e de energia elétrica, que são remunerados
por meio de tarifa ou preço público.
Relações de Emprego: Aplica-se a CLT.

Entidades Abertas de previdência complementar


(Súmula n. 563 do STJ). Serviços Públicos Próprios (usuários
indeterminados, uti universi), remunerados por taxa.
Prevalece que não se aplica do CDC (Ex: serviço de
asfaltamento).

Entidades Fechadas de previdência complementar


(Súmula n. 563 do STJ).

Contratos de financiamento estudantil – FIES

6
3

3. PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

(ART. 4° DO CDC)

• PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE (art. 4°, I, do CDC): reconhece a fragilidade


do consumidor na relação de consumo, motivo pelo qual deve ser protegido pelas
normas consumeristas. A presunção de vulnerabilidade do consumidor pessoa física
não depende de prova, enquanto que a do consumidor pessoa jurídica deve ser
comprovada no caso concreto, com base na teoria finalista mitigada acima estudada. O
conceito de vulnerabilidade é plurissignificativo, podendo ser: a) técnica: consumidor
não possui conhecimento específico acerca do produto ou serviço; b) jurídica ou

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


cientifica: ocorre quando consumidor não possui conhecimentos jurídicos, econômicos
ou de contabilidade suficientes. A título de exemplo verifica-se a vulnerabilidade
jurídica quando o consumidor não consegue compreender o conteúdo do contrato
e, consequentemente, as consequências advindas da sua assinatura; c) fática ou
socioeconômica: quando se verifica um grande desnível do poder econômico do
fornecedor em relação ao consumidor, como no caso das concessionárias de energia
elétrica em relação a seus usuários; e d) informacional: o consumidor não possui
as informações essenciais sobre o produto ou serviço, seja pela omissão por parte
do fornecedor, seja pela manipulação ou o exagero das informações prestadas
TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV.

• PRINCÍPIO DA AÇÃO GOVERNAMENTAL (art. 4°, II, do CDC): o Estado deve ter uma
posição ativa no sentido de proteger o consumidor, atuando a) por iniciativa direta; b)
por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela
sua presença no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com
padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

• HARMONIA DOS INTERESSES (art. 4º, III, do CDC): o CDC visa à harmonização dos
interesses dos participantes das relações de consumo e à compatibilização da proteção
do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo
a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da CF), sempre
com base na boa-fé e no equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.

• PRINCÍPIO DA BOA-FÉ: possui previsão na parte final do art. 4º, III, do CDC, sendo
certo que o referido dispositivo se refere à boa-fé objetiva, que não se confunde com
a boa-fé subjetiva.

7
BOA-FÉ OBJETIVA
BOA-FÉ SUBJETIVA ( TEMA COBRADO NO IV EXAME DA
OAB/FGV)
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

Relacionado à intenção das partes Diz respeito a um padrão ético de conduta, de


observância obrigatória por todos os sujeitos
integrantes da relação de consumo. Analisa-
se, portanto, o comportamento das partes e
não a intenção dos sujeitos. Além disso, as
características inerentes à boa-fé objetiva, como
honestidade, lealdade, sinceridade, razoabilidade,
são considerados deveres anexos à conduta que
devem ser observados em todas as fases que
envolve o contrato (pré-contratual, contratual e pós-
contratual).

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


• PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO (art. 4º, IV, do CDC): fornecedores e
consumidores devem ser informados e esclarecidos quanto aos seus direitos e
deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo. Exemplo de aplicação do
princípio da educação e informação são os cursos, palestras e eventos realizados
pelos Procons sobre os direitos dos consumidores.

• PRINCÍPIO DA CRIAÇÃO DE MEIOS DE CONTROLE DE QUALIDADE E SEGURANÇA E


DE MECANISMOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS (art. 4º, V, do CDC):
objetiva incentivar a criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de
qualidade e segurança de produtos e serviços, como por exemplo o SAC (serviço de
atendimento ao consumidor), assim como de mecanismos alternativos de solução de
conflitos de consumo, como por exemplo a arbitragem.

• PRINCÍPIO DA COIBIÇÃO E REPRESSÃO DOS ABUSOS (art. 4º, VI, do CDC): refere-
se à necessidade do legislador combater os abusos praticados no mercado de
consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações
industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar
prejuízos aos consumidores;

• PRINCÍPIO DA RACIONALIZAÇÃO E MELHORIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS (art. 4º,


VII, do CDC): o Estado deve melhorar e tornar mais efetivos os serviços públicos para os
consumidores, sendo exemplo de aplicação desse princípio o disposto no art. 22 do CDC.

• PRINCÍPIO DO ESTUDO CONSTANTE DAS RELAÇÕES DE CONSUMO (art. 4º, VIII, do CDC):
o mercado de consumo deve ser constantemente avaliado e a lei consumerista deve
se amoldar a eventuais alterações.

O art. 5º do CDC dispõe que, para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará
o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros: I - manutenção de assistência jurídica,
integral e gratuita para o consumidor carente; II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do
Consumidor, no âmbito do Ministério Público; III - criação de delegacias de polícia especializadas no
atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; IV - criação de Juizados Especiais
de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; V - concessão de
estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.
8
4

4.  DIREITOS DO CONSUMIDOR


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

4.1.  DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

O art. 6º do CDC dispõe acerca dos direitos básicos do consumidor, sendo um dos artigos mais
importantes para a prova da OAB/FGV.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

A Lei nº 13.146/2015 acrescentou o parágrafo único ao art. 6º estabelecendo que a informação


deve ser acessível à pessoa com deficiência, conforme regulamento TEMA COBRADO NO
XXIX EXAME DA OAB/FGV. .

O art. 31, por sua vez, estabelece que “a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre
suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade
e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança
dos consumidores”. TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV.

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos


ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços;

Publicidade enganosa é considerada aquele que veicula informação total ou parcialmente


falsa, ou ainda quando deixa de considerar informação essencial do produto ou serviço (§
1° e § 3° do art. 37 do CDC). Já a publicidade abusiva é aquela discriminatória de qualquer
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência
de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz
de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança (§ 2° do art. 37 do CDC).

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais


ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas TEMA COBRADO NOS EXAMES IV e IX DA OAB/FGV.
9
O inciso V do art. 6º do CDC permite a incidência da cláusula rebus sic stantibus aos contratos
de consumo, já que admite a revisão do contrato, em virtude do desequilíbrio decorrente de
fato imprevisível. Entretanto, diferentemente da teoria da imprevisão adotada pelo art. 478 do
código civil, que dispõe que “nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em
virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução
do contrato”, o CDC adotou a teoria da base objetiva do negócio jurídico, sendo que, para que o
consumidor tenha direito à revisão do contrato, basta a existência de fato superveniente que
torne as cláusulas contratuais excessivamente onerosas. Além disso, o CDC prioriza a revisão
do contrato, enquanto que o código civil se refere a sua resolução.

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,


coletivos e difusos;

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Conforme previsto no parágrafo único do art. 7º do CDC, tendo mais de um autor a
ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos. Além disso, o autor
da ação poderá cumular pedidos de indenização por danos materiais, morais e estéticos
(Súmulas 37 e 387 do STJ).

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou


reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada
a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

A inversão do ônus da prova não é automática, já que depende de decisão do juiz após verificar
a existência de verossimilhança (plausibilidade das alegações, alegações razoáveis com
grande chance de serem verdadeira) ou de hipossuficiência, caracterizada pela dificuldade
processual de defesa em razão de circunstâncias técnicas, econômicas ou até mesmo jurídicas
(como no caso do consumidor que não teve acesso a documentos ou cópia do contrato). A
hipossuficiência, portanto, não se confunde com a vulnerabilidade.

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.


Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento.

Ressalta-se ainda que os direitos acima transcritos não representam um rol exaustivo, ou
seja, não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil
seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito,
analogia, costumes e equidade, além do que, tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo (art. 7º do CDC).
TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.
10
4.2.  PROTEÇÃO À SAÚDE E SEGURANÇA

De acordo com o art. 8º do CDC, os produtos e serviços colocados no mercado de consumo


não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais
e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição (exemplo: uma furadeira traz riscos de
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

ferimento do consumidor se mal utilizada, mas esses riscos são inerentes para o desempenho
da sua função de furar a parede), obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as
informações necessárias e adequadas a seu respeito.

Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações através de


impressos apropriados que devem acompanhar o produto.

Além disso, o fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios utilizados no


fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do consumidor, e informar, de

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre o risco de contaminação.

O art. 9º do CDC, complementando o dispositivo anterior, obriga o fornecedor de produtos


e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança a informar, de maneira
ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de
outras medidas cabíveis em cada caso concreto.

O caput do art. 10 do CDC, por sua vez, proíbe o fornecedor de colocar no mercado de consumo
produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade
à saúde ou segurança.

PRODUTOS
OU SERVIÇOS PRODUTOS OU
RISCOS NORMAIS POTENCIALMENTE SERVIÇOS COM ALTO
E PREVISÍVEIS NOCIVOS OU GRAU DE NOCIVIDADE
(ART. 8º do CDC) PERIGOSOS OU PERICULOSIDADE
(ART. 9º do CDC)

Fornecedor é obrigado a dar Fornecedor deve informar de Não pode ser colocado
informações necessárias maneira ostensiva e adequada. no mercado.
e adequadas.

O art. 10 prevê ainda o procedimento do recall, estabelecendo que o fornecedor, assim que
tiver conhecimento de que seus produtos e/ou serviços introduzidos no mercado de consumo
apresentam grau considerável de periculosidade ao consumidor, deverá, às suas expensas,
comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante
anúncios publicitários veiculados na imprensa, rádio e televisão.

Com o Recall, ou chamamento, o fornecedor informará ao público acerca do vício do produto,


podendo chamar os consumidores para sanar os defeitos encontrados.

11
Determinada montadora de veículos percebe que toda linha produzida de determinado modelo
de carro, fabricado desde 2013, apresenta um problema grave no dispositivo de acionamento
do airbag, podendo colocar em risco a saúde e segurança dos consumidores. Nessa situação,
deverá a empresa efetuar o recall, convocando, por meio de anúncios publicitários, os
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

proprietários dos veículos a comparecerem às concessionárias credenciadas para a troca do


mencionado dispositivo.

Deve-se registrar ainda que se o consumidor não for encontrado pelo recall ou, ainda que encontrado,
não comparecer para trocar o produto, o fabricante não ficará isento da obrigação de indenizar em caso
de eventual acidente, já que a responsabilidade do fabricante é objetiva (art. 12 do CDC).

Nesse sentido, destaca-se a seguinte decisão do STJ:

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


CIVIL. CONSUMIDOR. REPARAÇÃO DE DANOS. RESPONSABILIDADE. RECALL. NÃO
COMPARECIMENTO DO COMPRADOR. RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE. - A
circunstância de o adquirente não levar o veículo para conserto, em atenção a RECALL,
não isenta o fabricante da obrigação de indenizar. (STJ - REsp: 1010392 RJ 2006/0232129-
5, Relator: Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Data de Julgamento: 24/03/2008,
T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 13/05/2008 RDDP vol. 66 p. 120, -->
DJe 13/05/2008 RDDP vol. 66 p. 120).

4.3.  RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

A responsabilidade pelo fato do produto ou serviço tem como pressuposto a existência de


produto/serviço defeituoso, ou seja, que não apresenta a segurança esperada e, em razão de evento
externo (acidente de consumo), coloca em risco a incolumidade física ou psíquica do consumidor
TEMA COBRADO NO VIII EXAME DA OAB/FGV.

Conforme previsto no § 2º do art. 12 do CDC, o produto não é considerado defeituoso pelo fato
de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. Assim, o fato de existir um produto
de melhor qualidade à venda, uma furadeira com mais tecnologia, por exemplo, não desqualifica
nem torna defeituoso ou viciado os demais produtos similares do mercado. Seguindo a mesma
linha de raciocínio, o § 2º do art. 14 do CDC dispõe que o serviço não é considerado defeituoso
pela adoção de novas técnicas.

A responsabilidade pelo fato do produto é objetiva (independe da existência de culpa) e


solidária conforme previsto no art. 12 do CDC TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador


respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Em razão da previsão genérica da responsabilidade objetiva, o fornecedor e demais responsáveis


solidários (fabricante, produtor, etc) apenas poderão se isentar do dever de indenizar pelo fato do
12
produto se comprovarem uma das excludentes de responsabilidade expressamente previstas
no § 3º do art. 12 do CDC, ou seja, se demonstrarem: I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiros.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

Em outras palavras, para caracterizar a responsabilidade do fornecedor e demais responsáveis


solidários, o consumidor deve comprovar apenas a existência do fato, do nexo causal e do dano,
já que não se exige a comprovação da culpa (responsabilidade objetiva). Por outro lado, para se
esquivar da responsabilidade, o fornecedor deverá comprovar a existência de uma das excludentes
de ilicitude acima apontadas TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV).

A responsabilidade do comerciante, por sua vez, é considerada subsidiária, podendo ser


responsabilizado quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser
identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Entretanto, se o comerciante
for condenado a efetivar o pagamento ao prejudicado, poderá exercer o direito de regresso contra os
demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso (art. 13 do CDC).

Com relação à responsabilidade pelo fato do serviço, também se trata, como regra geral,
de responsabilidade objetiva, sendo que o fornecedor apenas se eximirá da responsabilidade de
indenizar quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiros.

A exceção à regra geral da responsabilidade objetiva é a responsabilidade do profissional liberal,


cuja configuração depende da comprovação de culpa, ou seja, trata-se de responsabilidade subjetiva,
conforme previsto no § 4° do art. 14 do CDC: TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV.

Art. 14
(...)
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.

A FGV entende que o hospital deve responder objetivamente pelos danos causados pelo
serviço defeituoso prestado por médico dentro do estabelecimento hospitalar, mesmo que o
profissional não seja empregado do hospital TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.

Digno de nota ainda que, de acordo com o art. 27 do CDC, a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prescreve em cinco anos, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

Não esquecer que o art. 17 do CDC equipara a consumidor todas as vítimas


do evento, como no caso dos convidados de uma festa que sofreram infecção
gastrointestinal em virtude dos alimentos estragados que foram servidos no evento.
TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV.

13
Além do dever de indenizar em razão de eventuais danos causados por produtos ou serviços
defeituosos, é importante lembrar ainda que, a depender da conduta adotada, poderá haver a
configuração de crime, conforme artigos do CDC abaixo transcritos.

Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade:


Pena:- Detenção de seis meses a dois anos e multa.
§ 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações
escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.
§ 2° Se o crime é culposo:
Pena: Detenção de um a seis meses ou multa.
Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou
periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado,
imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos
ou perigosos, na forma deste artigo.
Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de
autoridade competente:
Pena: Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Parágrafo único. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes
à lesão corporal e à morte.

4.4.  RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

Conforme previsto no art. 18 do CDC, os fornecedores de produtos de consumo duráveis


ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que
os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam
o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
TEMA COBRADO NOS EXAMES XI E XXX DA OAB/FGV.

Além de solidária, a responsabilidade pelo vício do produto e do serviço é ainda objetiva,


conforme se infere da redação do art. 23 do CDC, que dispõe que a “ignorância do fornecedor sobre
os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade”,
ou seja, ainda que o fornecedor não tenha culpa, deverá ser responsabilizado.

A responsabilidade do comerciante pelo vício do produto e do serviço é solidária e objetiva


(art. 18 do CDC), diferentemente da responsabilidade pelo fato do produto ou serviço, em que o
comerciante responde apenas de forma subsidiária (art. 13 do CDC).

A depender da característica do vício do produto ou serviço, o CDC coloca à disposição do


consumidor alternativas diferentes para sanar a situação prejudicial.
14
•  VÍCIO NA QUALIDADE DO PRODUTO

No caso de vício da qualidade do produto, se o vício não for sanado no prazo máximo de 30 (trinta)
dias, o consumidor poderá exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por
outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga,
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional
do preço (§ 1° do art. 18 do CDC). TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.

Tendo o consumidor optado pela substituição do bem, mas não sendo possível substituí-lo por
outro da mesma espécie, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo
diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Registra-se que o prazo de 30 dias para solução do vício poderá ser alterado pela vontade das
partes, mas não poderá ser fixado em patamar inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias.
Além disso, nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado,
por meio de manifestação expressa do consumidor.

Destaca-se ainda que, se, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto
essencial, o consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas § 1° do art. 18 do CDC, dispensando-se
o prazo de 30 dias (§ 1° do art. 18 do CDC). TEMA COBRADO NOS EXAMES V E XVIII DA OAB/FGV.

OPÇÕES DO CONSUMIDOR
NO CASO DE O VÍCIO DE
QUALIDADE DO PRODUTO NÃO
SER SANADO EM 30 DIAS

Restituição imediata da
Substituição do produto por
quantia paga, monetariamente Abatimento
outro da mesma espécie, em
atualizada, sem prejuízo de proporcional do preço.
perfeitas condições de uso;
eventuais perdas e danos;

Se, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a
qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial,
o consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas acima, dispensando-se o prazo de 30
dias (§ 1° do art. 18 do CDC).

A responsabilidade pelo vício de qualidade do produto, é solidária entre todos os fornecedores,


inclusive o comerciante. Entretanto, na hipótese de vício em produto in natura, será responsável
perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.
A título de exemplo, o feirante é responsável perante o consumidor no caso de vender frutas e
legumes estragados, salvo se for possível identificar claramente o produtor, como no caso de
constar o seu nome na embalagem do produto vendido.
15
•  VÍCIO NA QUANTIDADE DO PRODUTO

O vício da quantidade do produto ocorre sempre que, respeitadas as variações decorrentes


de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, nestes casos,
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - complementação do


peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo,
sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

VÍCIO NA QUANTIDADE
DO PRODUTO

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Substituição do produto
Abatimento Restituição
Complementação por outro da mesma
proporcional imediata da
do peso ou medida espécie, marca ou modelo,
do preço quantia paga
sem os aludidos vícios

Não obstante a responsabilidade seja solidária entre os fornecedores no caso de vício de


quantidade, o fornecedor imediato será diretamente responsável quando fizer a pesagem ou
a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais, conforme
previsto no § 2°do art. 19 do CDC TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.

•  RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DE QUALIDADE DO SERVIÇO

Consideram-se vícios de qualidade do serviço as falhas que os tornem impróprios ao consumo


ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações
constantes da oferta ou mensagem publicitária.

Nesses casos, de acordo com o art. 20 do CDC, o consumidor poderá exigir, alternativamente
e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível, que poderá
ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor; II - a restituição
imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.

16
OPÇÕES DO CONSUMIDOR
NO CASO DE VÍCIO DE
QUALIDADE DO SERVIÇO
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

Restituição imediata Abatimento


Reexecução dos serviços
da quantia paga proporcional do preço.

Ressalta-se ainda que no fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes
de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do
fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor (art. 21 do CDC).

•  RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DE QUALIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO

Conforme disposto no art. 22 do CDC, os órgãos públicos, por si ou suas empresas,


concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados
a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Não é demais recordar que apenas incidirão as regradas do CDC em relação ao vício de
qualidade se o serviço público for prestado mediante pagamento de tarifa ou preço público. Nas
hipóteses em que houver pagamento de taxa, não há que se falar em relação de consumo, conforme
anteriormente estudado no item “Elementos Subjetivos da Relação de Consumo”.

No caso específico dos serviços públicos com vício de qualidade, como ficaria inviável aplicar
a regra geral prevista no art. 20, o CDC estabelece que “nos casos de descumprimento, total ou
parcial, das obrigações referidas, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar
os danos causados” (parágrafo único do art. 22 do CDC).

4.5.  DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

No que diz respeito à responsabilidade pelos danos causados por fato do produto e do serviço,
prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados, iniciando-se a contagem
do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria (art. 27 do CDC).

Já em relação à responsabilidade pelo vício do produto ou serviço, o prazo será decadencial,


contato da seguinte forma: TEMA COBRADO NOS EXAMES III E V DA OAB.

17
PRAZO DECADENCIAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

PRODUTO NÃO DURÁVEL PRODUTO DURÁVEL -


(PERECÍVEL) - 30 DIAS 90 DIAS

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Se o vício for Se o vício for Se o vício for Se o vício for
aparente, o prazo oculto, o prazo, o aparente, o oculto, o prazo
começa a partir da prazo decadencial prazo começa decadencial inicia-
entrega do bem inicia-se no a partir da se no momento
ou do término momento em que entrega do bem em que ficar
da prestação do ficar evidenciado ou do término evidenciado o
serviço o defeito da prestação do defeito
serviço

Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante


o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser
transmitida de forma inequívoca; III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento (§
2° do art. 26 do CDC).

É importante salientar ainda que os prazos decadenciais acima citados são prazos estipulados
legalmente, sendo possível que o fornecer estipule um prazo de garantia maior.

Se o fornecedor conceder prazo de garantia, o art. 50 do CDC estipula que a garantia contratual
deve ser fornecida por escrito e o seu prazo é complementar à legal, ou seja, primeiro computa-se
o prazo de garantia contratual que depois será acrescido do prazo da garantia legal.

4.6.  DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

No direito civil, para que haja a desconsideração da personalidade jurídica deve-se caracterizar
a gestão fraudulenta, pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial (art. 50 do CC), do contrário,
o patrimônio dos sócios não é atingido pelas dívidas da empresa (teoria maior).

No direito do consumidor, por sua vez, a desconsideração da personalidade jurídica é mais


simples podendo ocorrer em diversas situações, como no caso abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito, violação dos estatutos ou contrato social, falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração, ou
ainda no caso da personalidade ser, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
18
aos consumidores (teoria menor). Vejamos o disposto no art. 28 do CDC:

Art. 28 do CDC. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,


encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
(...)
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
aos consumidores.

O art. 28 do CDC prevê ainda importantes regras de responsabilidade entre as sociedades:

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


• As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são
subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes do CDC;

• As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações


decorrentes do CDC;

• As sociedades coligadas só responderão por culpa (responsabilidade subjetiva).

19
5

5.  PRÁTICAS COMERCIAIS


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

O presente capítulo cuidará das principais práticas comerciais cobradas no exame da OAB/
FGV, lembrando-se que o art. 29 do CDC equipara a consumidor todas as pessoas determináveis
ou não, expostas às práticas comerciais previstas.

5.1. OFERTA

Diferentemente do Código Civil, onde o conceito de oferta está relacionado à publicidade

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


feita ao público, para o Código de Defesa do Consumidor oferta compreende tanto o conceito de
publicidade como também o de informação.

Com efeito, o art. 30 do CDC preceitua que “toda informação ou publicidade, suficientemente
precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços
oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado”.

No âmbito do CDC, portanto, se a oferta por suficientemente precisa, ou seja, suficiente para
o consumidor ter o seu convencimento sobre a viabilidade do bem ou serviço ofertado, ela será
vinculante, obrigando o fornecedor a cumpri-la e integrando o futuro contrato a ser celebrado
(princípio da vinculação da oferta), sendo que a negativa ao cumprimento da oferta configura
prática abusiva, conforme art. 39, II, do CDC TEMA COBRADO NO EXAME XIII DA OAB/FGV.

Aliás, se o fornecedor se recusar a cumprir a oferta, além de configurar prática abusiva (art. 39,
II, do CDC), o consumidor poderá alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento
forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto
ou prestação de serviço equivalente ou III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

A oferta feita para estimular o consumo por meio de expressões subjetivas como “o melhor”, “o
mais saboroso” não obriga o fornecedor, uma vez que a avaliação de ser “o melhor” ou “o mais
saboroso” não é intrínseca ao produto, dependendo da avaliação do consumidor. No mesmo
sentido, as ofertas notoriamente exageradas (puffing), que veiculam expressões como “o
melhor produto do mundo” o “produto realizará todos os seus sonhos” também não vinculam
o fornecedor, já que, em razão do exagero, não garantem a precisão da informação. Já no que
diz respeito às ofertas com notório erro de digitação, como por exemplo um computador de
R$ 2.000,00 (dois mil reais) sendo anunciado por R$ 2,00 (dois reais), o fornecedor não ficará
vinculado em razão do princípio da boa-fé.

Além disso, o fato da oferta ser vinculante não impede que o fornecedor se retrate ou revogue
a oferta anteriormente feita. A título de exemplo, se determina televisão com valor de R$ 5.000
(cinco mil reais), foi equivocadamente ofertada por R$ 3.000 (três mil) reais, o fornecedor poderá
retificar ou revogar a oferta, desde que o faça pela mesma publicidade veiculada originariamente. 20
Neste caso, entendemos que a revogação ou retratação tem efeito ex nunc (não retroage), ou seja,
desobriga o fornecedor apenas a partir da data da publicação da retratação/revogação.

A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,


precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade,
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre
os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Nos produtos refrigerados
oferecidos ao consumidor, as informações serão gravadas de forma indelével, ou seja, de forma
que não possam ser apagadas (art. 31 do CDC).

Registra-se ainda que, de acordo com o art. 32 do CDC, os fabricantes e importadores deverão
assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação
do produto. Além disso, caso a produção ou importação sejam cessadas, a oferta deverá ser mantida por
período razoável de tempo, na forma da lei TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Importante registrar também que a reparação do produto por peça ou componentes de reposição
usados, sem autorização do consumidor, constitui crime, conforme previsto no art. 70 do CDC.

O CDC proíbe a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao
consumidor que a origina (parágrafo único do art. 33 do CDC).

Por fim, estabelece o art. 34 do CDC que o fornecedor do produto ou serviço é solidariamente
responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

5.2. PUBLICIDADE

A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a
identifique como tal, ou seja, deve ser feita de forma clara e ostensiva, sendo vedada mensagens
subliminares e dissimuladas, divulgadas em um contexto em que o consumidor não perceba que
se trate de publicidade para consumo.

Além disso, o fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu


poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão
sustentação à mensagem, cabendo a ele, portanto, o ônus da prova da veracidade e correção da
informação ou comunicação publicitária.

Conforme previsto no art. 38 do CDC, o ônus da prova da veracidade e correção da informação


ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina, ou seja, ao fornecedor. Trata-se de
inversão do ônus da prova ope legis, que não se confunde com a inversão do ônus da prova
tratada no art. 6 do CDC, que é ope judicis.

Digno de nota ainda que alguns produtos possuem restrição constitucional quanto a sua veiculação
em publicidade, dispondo o § 4º do art. 200 da Constituição Federal que a propaganda comercial de
tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais e
conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
21
Para disciplinar o referido dispositivo constitucional foi editada a Lei n. 9.294/96, que estabeleceu
restrições e obrigações no que concerne à publicidade de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas,
medicamentos e produtos agrícolas.

Destaca-se também que o Código de Defesa do Consumidor veda expressamente qualquer tipo
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

de publicidade enganosa ou abusiva.

• Publicidade enganosa (art. 37, § 1º, do CDC) - qualquer modalidade de informação


ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por
qualquer outro modo, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços. A publicidade enganosa poderá ser ainda
por omissão, quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.
TEMA COBRADO NOS EXAMES IX E XXVI DA OAB/FGV.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Para configurar publicidade enganosa na modalidade comissiva basta que ela seja capaz de
induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. Já para
configurar a modalidade omissiva, a publicidade deve deixar de informar sobre dado essencial
do produto ou serviço, conforme § 3º do art. 37.

• Publicidade abusiva (art. 37, § 2º, do CDC) - é abusiva, dentre outras a publicidade
discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a
superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança,
desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor
a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV.

PUBLICIDADE ENGANOSA PUBLICIDADE ABUSIVA

Informação inteira ou Discriminatória, que incite à violência, explore o medo ou


parcialmente falsa, capaz de induzir a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
o consumidor a erro. experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que
seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança
Pode ser comissiva ou omissiva

Apenas comissiva

O código de defesa do consumidor prevê como sanção administrativa para o fornecedor que
incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva a contrapropaganda, que será divulgada,
sempre às expensas do infrator, da mesma forma, frequência e dimensão e, preferencialmente
no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade
enganosa ou abusiva (art. 60 do CDC).

Além disso, a conduta do fornecedor em relação à publicidade de produtos e serviços também


pode caracterizar crime, conforme artigos abaixo transcritos:
22
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade,
preço ou garantia de produtos ou serviços:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

§ 1º - Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.


§ 2º - Se o crime é culposo;
Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade:
Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.

5.3.  PRÁTICAS ABUSIVAS

As práticas abusivas são consideradas condutas ilícitas do fornecedor em razão de abuso de


direito, ou seja, condutas do titular de um direito que, ao exercê-lo, excedem manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (art. 187 do CC).

As práticas abusivas são enumeradas exemplificativamente (rol não exaustivo) no art. 39 do CDC:

• Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro


produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos – trata-se
de proibição da denominada venda casada, em que o consumidor para adquirir um
serviço ou produto é obrigado a comprar outro produto ou serviço (Ex: venda de
uma sobremesa condicionada à compra do prato principal). Além disso, o dispositivo
proíbe a prática no sentido de forçar o consumidor a adquirir produto ou serviço em
quantidade superior àquilo que ele objetivava comprar (Ex: consumação mínima em
determinado estabelecimento).

• Recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas


disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes – a
título de exemplo, o taxista não pode recusar um passageiro alegando que o trajeto
a ser percorrido é muito curto, ou ainda, um posto de gasolina não pode se recusar a
abastecer o carro de um cliente alegando que o preço da gasolina será reajustado no
dia seguinte.

• Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou


fornecer qualquer serviço – nesse sentido, a Súmula n. 532 do STJ dispõe que: “Constitui
prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação
do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa
administrativa”. Assim, se determinada pessoa teve um cartão de crédito emitido em
seu nome sem solicitar, todos os danos advindos dessa emissão, inclusive o dano moral
in re ipsa, deverão ser indenizados ao consumidor TEMA COBRADO NOS EXAMES
23
XII E XXI DA OAB/FGV. Além disso, o parágrafo único do art. 39 do CDC estabelece
que os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, sem
solicitação prévia, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.

• Prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou


serviços – a situação de vulnerabilidade do consumidor não pode ser utilizada pelo
fornecedor como forma de se beneficiar na venda de produto ou serviço. Com base
nesse raciocínio a jurisprudência majoritária considera abusiva a exigência de cheque
caução pelo hospital como requisito para a internação de paciente em estado grave.
Aliás, a exigência de cheque caução passou a ser considerada crime, conforme art.
135-A do CP:

Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como
o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


atendimento médico-hospitalar emergencial
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta
lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.

• Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva – conforme previsto no


§ 1º do art. 51 do CDC, presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II - restringe
direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a
ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; III - se mostra excessivamente onerosa
para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse
das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso TEMA COBRADO NO XIX
EXAME DA OAB/FGV.

Sobre a vantagem excessivamente onerosa para o consumidor, é interessante lembrar que o


Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003) dispõe, em seu art. 15, § 3º, que “é vedada a discriminação
do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade”.

• Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa


do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes –
de acordo com o art. 40 do CDC, o fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao
consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e
equipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas
de início e término dos serviços. Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá
validade pelo prazo de dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor. Uma
vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contraentes e somente pode ser
alterado mediante livre negociação das partes. Além disso, o consumidor não responde
por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da contratação de serviços de terceiros
não previstos no orçamento prévio. A exceção dessa regra diz respeito aos serviços
corriqueiros, ou seja, aqueles que já foram anteriormente acordados pelas partes.

• Repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor


no exercício de seus direitos – proíbe-se a troca de informações negativas sobre
24
consumidores entre os fornecedores e, no nosso entender, a proibição se estende a
qualquer tipo de informação, mesmo que seja positiva. Assim, é vedada a criação de
listas clandestinas contendo o nome dos consumidores que mais reclamam ou que
mais entram com ações judiciais. A proibição, evidentemente, não abrange os serviços
de proteção ao crédito.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

• Colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com


as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas
não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade
credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (Conmetro) – os fornecedores devem cumprir as normas técnicas, como
forma de garantir a qualidade e segurança dos produtos vendidos.

• Recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de
intermediação regulados em leis especiais – veda-se a exigência de intermediários
na aquisição de produtos e serviço pelo consumidor, salvo quando a necessidade de
intermediação decorre de lei.

• Elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços – proíbe-se a elevação


abusiva, sem justificativa razoável. A título de exemplo, podemos considerar abusivo
o aumento excessivo do preço da água que ocorreu nos estabelecimentos comerciais
localizados nas Cidades afetadas pelo desastre de Mariana. Registra-se ainda que o art.
41 do CDC estabelece que no caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos
ao regime de controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar
os limites oficiais sob pena de não o fazendo, responderem pela restituição da quantia
recebida em excesso, monetariamente atualizada, podendo o consumidor exigir à sua
escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

• Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a


fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério - o fornecedor deve especificar
previamente o termo inicial e o prazo para a execução do serviço sob pena de se
caracterizar prática abusiva.

• Aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente


estabelecido – trata-se de dispositivo que está em harmonia com a redação do art.
51, X, do CDC, que prevê a nulidade de cláusula contratual que permita ao fornecedor,
direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral.

• Permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número


maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo
(Lei n. 13.425/2017). Além disso, permitir o ingresso de um número maior de pessoas
do que o permitido também configura o crime previsto no § 2º do art. 65 do CDC.

Não podemos esquecer que o art. 29 do CDC equipara a consumidor todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas abusivas.

25
ALTERAÇÃO IMPORTANTE: Entendia-se majoritariamente que o estabelecimento comercial
não podia estabelecer diferença de preço para o cliente que pagasse em dinheiro, em cartão de
crédito, à vista ou a prazo. A Lei n. 13.455/2017, entretanto, passou a considerar válida a referida
diferenciação, permitindo a fixação de preços diferentes para bens e serviços oferecidos ao
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

público em função do prazo ou do instrumento de pagamento utilizado. A lei estabelece, ainda,


que é nula a cláusula contratual, estabelecida no âmbito de arranjos de pagamento ou de outros
acordos para prestação de serviço de pagamento, que proíba ou restrinja a diferenciação de
preços antes mencionada.

5.4.  COBRANÇA DE DÍVIDAS

O Código de Defesa do Consumidor estabelece parâmetros mínimos para a cobrança de dívidas

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


do consumidor, dispondo que o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça, além do que todos os documentos de
cobrança de débitos apresentados ao consumidor deverão constar o nome, o endereço e o número
de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica –
CNPJ do fornecedor do produto ou serviço correspondente (artigos 42, caput, e 42-A do CDC).

Por outro lado, se o consumidor for cobrado em quantia indevida, terá direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros legais, salvo hipótese de engano justificável (parágrafo único do art. 42 do CDC).

5.5.  BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES

A finalidade dos bancos de dados e cadastros de consumidores é fornecer subsídio para as


empresas fornecedoras de crédito se certificarem acerca da inadimplência dos consumidores.

Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e


congêneres são considerados entidades de caráter público (§ 4° do 43 do CDC). Os consumidores
terão amplo acesso a esses bancos de dados, podendo inclusive se valer de habeas data para
garantir o acesso ou a retificação das informações constantes.

A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada
por escrito ao consumidor, normalmente encaminhada por carta, não se exigindo, entretanto, o
aviso de recebimento (AR), conforme disposto na Súmula n. 404 do STJ:

Súmula n. 404 do STJ - É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação


ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.

Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em


linguagem de fácil compreensão, devendo ser disponibilizadas em formatos acessíveis, inclusive
para a pessoa com deficiência, mediante solicitação do consumidor.

Aliás, a recusa ao fornecimento das informações que constam no banco de dados pode caracterizar
o crime previsto no art. 72 do CDC TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV:

Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele
26
constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:
Pena - Detenção de seis meses a um ano ou multa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua
imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos
eventuais destinatários das informações incorretas (§ 3° do art. 43 do CDC).

Além disso, se o devedor pagar a dívida, o credor deverá providenciar o cancelamento da


anotação do nome do devedor no cadastro de proteção ao crédito, conforme disposto na Súmula
n. 548 do STJ: Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no cadastro
de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do débito.
TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Digno de nota ainda que os cadastros e dados de consumidores não podem conter informações
negativas referentes a período superior a cinco anos, além do que, consumada a prescrição
relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas
de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao
crédito junto aos fornecedores (§§ 1° e 5° do art. 43 do CDC).

27
6

6.  PROTEÇÃO CONTRATUAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

6.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS

Considerando a situação de vulnerabilidade do consumidor, o Código de Defesa do Consumidor


prevê regras específicas de proteção para o contrato de consumo. Vejamos as regras mais importantes:

• Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,


se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo,

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão
de seu sentido e alcance (art. 46 do CDC);

• As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor (art. 47 do CDC);

• As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-


contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando
inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos (art. 48 do CDC);

• O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua


assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação
de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio. Se o consumidor exercitar o direito de
arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer
título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente
atualizados (art. 49 do CDC);

O direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC se aplica apenas às compras realizadas


fora de estabelecimento comercial, como no caso das compras feitas pela internet, pelo telefone
e em domicílio. Além disso, o direito de arrependimento é potestativo, isto é, o consumidor não
precisa justificar por que se arrependeu da compra. Ressalta-se ainda que o fornecedor deve
arcar com todos os custos necessários para a garantir a devolução do produto, além do que
o direito de arrependimento não pode ser afastado por cláusula contratual (art. 51 do CDC).
TEMA COBRADO NOS EXAMES V E VII DA OAB/FGV

• A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo


escrito. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de
maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo
e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo
ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento,
acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem
didática, com ilustrações (art. 50 do CDC). É importante lembrar que o fornecimento
inadequado da garantia constitui crime nos termos do art. 74 do CDC:
28
Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente
preenchido e com especificação clara de seu conteúdo;
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

Para a prova da OAB, deve-se considerar que os prazos decadenciais de 30 dias (produto não
durável) e 90 dias (produto durável) previstos no art. 26 do CDC integram o prazo de garantia
legal, os quais devem ser somados aos prazos de garantia contratual. Assim, se o consumidor
adquirir um carro com garantia de 5 anos e este possuir um vício de fácil constatação, ele
terá o prazo de 5 anos (garantia contratual) + 90 dias (garantia legal de produto durável) para
reclamar do vício. É importante registrar que o STJ entende que se o vício for oculto, o prazo se
inicia com a sua constatação pelo consumidor, desde que ela ocorra dentro do prazo de vida útil
do produto, ou seja, aquele estimado para a duração em boas condições do bem.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


6.2.  CLÁUSULAS ABUSIVAS

Consideram-se cláusulas abusivas aquelas disposições notoriamente prejudiciais ao


consumidor e, portanto, em desacordo com o sistema de proteção consumerista. O art. 51 do CDC
elenca exemplificativamente como cláusulas contratuais abusivas aquelas que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de


qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos.
Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização
poderá ser limitada, em situações justificáveis; TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em


desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;

IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;

XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja
conferido ao consumidor;

29
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual
direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato,


após sua celebração;

XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Súmula n. 302 do STJ: “É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo
a internação hospitalar do segurado”.

A Lei nº 13.819/2019 acrescentou o art. 10-C à Lei nº 9.656/98, estabelecendo que os planos
de saúde devem incluir cobertura de atendimento à violência autoprovocada e às tentativas
de suicídio. Assim, as operadoras de plano de saúde não poderão mais negar cobertura aos
seus clientes no caso de violência autoprovacada e de tentativa de suicídio, sendo abusiva
qualquer cláusula contratual nesse sentido.

Deve-se salientar que a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida todo
o contrato, salvo se sua ausência, apesar dos esforços de integração, causar ônus excessivo a
qualquer das partes (§ 2° do art. 51 do CDC).

Além disso, é facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao


Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula
contratual que contrarie o disposto no CDC ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio
entre direitos e obrigações das partes TEMA COBRADO NO VIII EXAME DA OAB/FGV.

Digno de nota também que, nos termos do art. 52 do CDC, no fornecimento de produtos ou serviços
que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá,
entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço
em moeda corrente nacional; II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III -
acréscimos legalmente previstos; IV - número e periodicidade das prestações e V - soma total a pagar,
com e sem financiamento. Além disso, as multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações
no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação e é assegurado ao
consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional
dos juros e demais acréscimos TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.

Já nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações,


30
bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as
cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em
razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.
Entretanto, permite-se que sejam descontados, além da vantagem econômica auferida com a
fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

Nesse sentido dispõe a Súmula n. 543 do STJ:

“Súmula nº 543 do STJ - Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra


e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a
imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente,
em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso
tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento”.

6.3.  CONTRATO DE ADESÃO

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


De acordo com o art. 54 do CDC, contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos
ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Preceitua o § 2° do art. 54 que nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória (aquela
que deixa a arbítrio de uma das partes a extinção contratual), mas essa cláusula apenas terá
validade se for utilizada em favor do consumidor, ou seja, desde que fique a critério do consumidor
a manutenção ou resolução do contrato.

Os contratos de adesão escritos devem ser redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar
sua compreensão pelo consumidor, além do que as cláusulas que implicarem limitação de direito
do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

31
7

7.  DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO


OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

A defesa do consumidor em juízo poderá ser feita por ações individuais ou por ações coletivas.
No entanto, enquanto a tutela individual é balizada pelas normas do CDC e, subsidiariamente,
pelas normas do NCPC, a tutela coletiva é regida pelo microssistema formado pelo CDC, pela Lei
de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85) e, subsidiariamente, pelo NCPC.

7.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


7.1.1.  INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

O cabimento da tutela coletiva, por sua vez, está relacionado à existência de interesses difusos,
coletivos ou individuais homogêneos, conforme disposto no art. 81 do CDC:

• Interesses difusos (art. 81, I, do CDC): entendidos como os transindividuais1, de


natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato. Assim, para que haja interesse difuso é essencial a existência
de um grupo de pessoas sem que seja possível a identificação de todos os envolvidos,
como no caso dos consumidores atingidos por uma propaganda enganosa veiculada
na televisão. Além disso, os membros do grupo estão unidos por uma situação de fato,
isto é, existe um fato comum a todas as pessoas (todos os consumidores assistiram a
propaganda enganosa na Televisão), não se exigindo a existência de qualquer relação
jurídica entre os envolvidos. A indivisibilidade do objeto, por sua vez, significa que o
bem tutelado não pode ser dividido entre os interessados, ou seja, a decisão judicial
que versar sobre interesses difusos será uniforme para todos os membros do grupo,
assemelhando-se à sistemática do litisconsórcio unitário.

• Interesses coletivos (art. 81, II, do CDC): entendidos como os transindividuais,


de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. Neste caso,
os sujeitos são em tese indeterminados, mas determináveis por grupo, classe ou
categoria de pessoas, como na hipótese de uma ação civil pública ajuizada pelo
sindicato profissional que objetiva tutelar o direito de trabalhadores de determinada
empresa (a relação jurídica base, neste caso, é constituída pela relação de emprego
dos trabalhadores com a empresa), ou ainda no caso de ação ajuizada por pelo
Ministério Púbico, tutelando interesses de alunos de determinada faculdade, para
evitar reajuste abusivo das mensalidades.

• Interesses individuais homogêneos (art. 81, III, do CDC): são aqueles decorrentes
de origem comum. Esses interesses são essencialmente individuais, mas poderão ser
tutelados coletivamente se forem homogêneos e possuírem origem comum de fato ou
de direito (vítimas de uma explosão ocorrida em um shopping center). O objeto nos
1
Interesses transindividuais são aqueles que extrapolam os limites de um único indivíduo. Deixam
de ser direitos egoísticos e passam a ser direitos altruísticos.
32
direitos individuais homogêneos será divisível, na medida em que a decisão judicial
pode variar para cada membro do grupo (no caso da explosão do shopping, embora
todos tenham sido vítimas do evento, a reparação do dano poderá variar para cada um
dos indivíduos). TEMA COBRADO NO XXX EXAME DA OAB/FGV.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

O tipo de interesse poderá ser identificado no caso concreto a partir da pretensão formulada em
juízo, ainda que se trate do mesmo fato. A título de exemplo, no caso de explosão do shopping
center acima citado, se o pedido for para interditar o estabelecimento, haverá a tutela de
interesses difusos (proteção de um grupo indeterminável de consumidores). Se, por outro lado,
a pretensão for para a instalação de um sistema de proteção para tutelar os trabalhadores do
shopping, haverá interesse coletivo. Por fim, se o pedido por de reparação dos danos sofridos
pelas vítimas do evento, haverá interesse individual homogêneo.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


RESUMINDO:

INTERESSES
INTERESSES
INTERESSES DIFUSOS INDIVIDUAIS
COLETIVOS HOMOGÊNEOS

Sujeitos Indetermináveis Sujeitos Determináveis Sujeitos Determináveis

Objeto Indivisível Objeto Indivisível Objeto Divisível

Circunstância de fato Relação Jurídica base Origem comum

7.1.2.  LEGITIMIDADE PARA AS AÇÕES COLETIVAS

De acordo com o art. 82 do CDC, possuem legitimidade concorrente para o ajuizamento de


ação coletiva: I - Ministério Público, II - União, Estados, Municípios e Distrito Federal, III - Entidades
e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,
especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo CDC e IV - Associações
legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos CDC, dispensada a autorização assemblear.

O requisito da pré-constituição de pelo menos 1 ano das associações pode ser dispensado pelo
juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano,
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 1° do art. 82 do CDC).

Além disso, o art. 83 do CDC estabelece que, para a defesa dos direitos e interesses protegidos
pelo código, são admissíveis todas as espécies de ações (declaratória, constitutiva e condenatória)
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.

33
No caso específico das ações que tenham por objeto o cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Com efeito, cabe ao fornecedor assegurar o cumprimento perfeito de sua oferta, fornecendo
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

o produto ou serviço ao consumidor com a qualidade e a quantidade prometidas. Se a obrigação


não for cumprida, poderá o consumidor exigir a correção do vício do produto ou serviço (tutela
específica), pleiteando, a título de exemplo, a complementação do peso ou da medida ou a substituição
do produto vicioso. Nestes casos, para garantir a tutela o juiz poderá fixar multa diária para o
cumprimento da obrigação (astreinte), ou ainda determinar outras providências que garantam o
mesmo resultado, como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra,
impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


A multa diária (astreinte) pode ser fixada de ofício pelo juiz, ou seja, independentemente do
pedido do autor (§ 4° do art. 84 do CDC).

Tem-se, portanto, que o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu como medida prioritária
a efetivação da tutela específica, cabendo a conversão em perdas e danos apenas se o autor assim
requerer ou se for impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

Além disso, dispõe o § 2° do art. 84 do CDC que a indenização por perdas e danos se fará sem
prejuízo da multa, ou seja, o fato de o juiz ter fixado uma multa em caso de descumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer (astreinte) não impossibilita eventual condenação do réu ao pagamento
de indenização por perdas e danos, já que a astreinte possui caráter coercitivo e a indenização por
perdas e danos caráter reparatório TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV.

Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do


provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente (sem oitiva do réu) ou após
justificação prévia, citado o réu. No caso da tutela liminar, o juiz poderá também impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Por fim, é muito importante destacar que nas ações coletivas, se o Ministério Público não
intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.

7.1.3.  HONORÁRIOS, CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS

Para facilitar o acesso do consumidor à justiça e estimular o uso as ações coletivas, o CDC
dispensa o adiantamento de qualquer despesa processual, além do que isenta o autor do
pagamento de honorários de advogados, custas e despesas processuais, salvo no caso de má-fé,
hipóteses em que a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão
solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da
responsabilidade por perdas e danos.

34
7.2.  AÇÃO COLETIVA PARA DEFESA DE INTERESSE INDIVIDUAL HOMOGÊNEO

O Código de Defesa do Consumidor trata especificamente da ação coletiva para defesa dos
interesses individuais homogêneos, deixando a cargo principalmente da lei de ação civil pública
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

(art. 7.347/85) a previsão acerca da defesa dos direitos difusos e coletivos.

Estabelece o art. 93 do CDC que, ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para
a causa a justiça local: I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito
local; II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou
regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Quando se tratar ação individual de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços,

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


a ação pode ser proposta no domicílio do autor, conforme previsto no art. 101 do CDC. Além
disso, o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o
segurador, na qualidade de corresponsável, vedada a integração do contraditório pelo Instituto
de Resseguros do Brasil.

Proposta a ação coletiva que tutela interesses individuais homogêneos, será publicado edital
no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem
prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa
do consumidor.

Se o pedido for julgado procedente, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do


réu pelos danos causados, sendo que a liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas
pela vítima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82 do CDC.

A execução coletiva, por sua vez, far-se-á com base em certidão das sentenças de liquidação,
da qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado, sendo promovida pelos
legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas
em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções.

Além disso, decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número


compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação
e execução da indenização devida, devendo o produto da indenização ser revertido para o fundo
criado pela Lei n.° 7.347/1985.

7.3.  COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS

A coisa julgada no processo coletivo varia de acordo com o interesse veiculado na ação,
conforme a seguir explicado:

35
INTERESSES
INTERESSE INTERESSES INDIVIDUAIS
DIFUSOS COLETIVOS HOMOGÊNEOS
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

Efeito Efeito Efeito erga omnes,


erga omnes, ultra partes, bastando ao consumidor
PROCEDÊNCIA DO beneficiando todos limitadamente ao se habilitar na liquidação
PEDIDO da coletividade grupo, categoria e promover a execução.
ou classe.

Efeito erga Efeito ultra A coisa julgada


omnes, mas não partes, mas não alcança apenas os
IMPROCEDÊNCIA prejudica ações prejudica ações indivíduos que se
DO PEDIDO POR individuais dos individuais dos habilitaram como
QUALQUER interessados interessados. litisconsorte do

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Ou seja, apenas legitimado coletivo.
FUNDAMENTO os legitimados Os indivíduos que não
QUE NÃO SEJA coletivos que não se habilitaram como
INSUFICIÊNCIA poderão discutir litisconsortes poderão
novamente a ingressar com ações
DE PROVA questão transitada individuais.
em julgado.

Não possui efeito Não possui A coisa julgada


erga omnes (não efeito ultra partes alcança apenas os
há coisa julgada (não há coisa indivíduos que se
material), de modo julgada material), habilitaram como
que os legitimados de modo que os litisconsorte do
IMPROCEDÊNCIA do art. 82 do CDC legitimados do art. legitimado coletivo.
DO PEDIDO POR podem entrar com 82 do CDC podem Os indivíduos que não
INSUFICIÊNCIA nova ação, desde
que haja prova nova.
entrar com nova
ação, desde que
se habilitaram como
litisconsortes poderão
DE PROVA TEMA haja prova nova. ingressar com
ações individuais.
COBRADO NO II
EXAME DA OAB/
FGV

Conclui-se, portanto, que a coisa julgada coletiva, independentemente do interesse


transindividual tutelado, não prejudicará as pretensões individuais, ou seja, o consumidor poderá
se valer da ação individual mesmo que a ação coletiva seja julgada improcedente. A única exceção a
essa regra ocorre quando se tratar de ação coletiva tutelando interesses individuais homogêneos
em que os indivíduos se habilitaram como litisconsorte, já que, neste caso, a coisa julgada vai
atingir os litisconsortes de qualquer forma (procedente ou improcedente), de modo que eles não
poderão ingressar com ação individual sobre o mesmo assunto já decidido.

36
8
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

8.  CONVENÇÃO COLETIVA DE CONSUMO

Entende-se por convenção coletiva de consumo o instrumento feito por escrito, em que
fornecedores e consumidores, por meio de suas entidades representativas, estabelecem
antecipadamente determinados elementos e regras que irão compor os contratos individuais de
consumo, como condições relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia e características
de produtos e serviços, bem como no que diz respeito à composição de eventuais conflitos.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


Para a prova da OAB/FGV é essencial o conhecimento do art. 107 do CDC:

Art. 107. As entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou


sindicatos de categoria econômica podem regular, por convenção escrita, relações de
consumo que tenham por objeto estabelecer condições relativas ao preço, à qualidade, à
quantidade, à garantia e características de produtos e serviços, bem como à reclamação
e composição do conflito de consumo.
§ 1° A convenção tornar-se-á obrigatória a partir do registro do instrumento no cartório
de títulos e documentos.
§ 2° A convenção somente obrigará os filiados às entidades signatárias.
TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.
§ 3° Não se exime de cumprir a convenção o fornecedor que se desligar da entidade em
data posterior ao registro do instrumento.

Importante destacar ainda que a convenção de consumo não pode prever qualquer restrição,
ainda que indireta, aos direitos previstos no CDC, sob pena de nulidade da cláusula que restringir
ou obstaculizar o direito.

37
BIBLIOGRAFIA

• CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor, 3ª ed, São Paulo:


Atlas, 2011.
OAB NA MEDIDA | DIREITO DO CONSUMIDOR

• GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor: Código Comentado e


Jurisprudência. São Paulo: Juspodium, 2015.

• GRINOVER, Ada Pellegrini. Código de Defesa do Consumidor: comentado pelos


autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

• NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

[Vanja de Lima Alencar] [vanjalimaalencar@gmail.com]


• MARQUES, Cláudia Lima. BENJAMIN, Antônio Herman V. MIRAGEM, Bruno.
Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 1 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004.

• MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 7ª. Ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2018.

• ROCHA, Silvio Luis Ferreira. Responsabilidade Civil do Fornecedor pelo Fato do


Produto no Direito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

38

Você também pode gostar