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COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL

ANDRÉ MOTA
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

MENSAGEM INICIAL

Olá, caro(a) aluno(a) do curso “Começando do zero em Processo Civil-


2023”!
De início, quero externar a minha gratidão pela confiança em nosso trabalho.
Fiquei muito feliz em saber que ultrapassamos, no ano de 2022, a marca das 28.000
(vinte e oito mil) matrículas em nossa plataforma.
Creio que isso seja fruto de um trabalho sério e que tem como objetivo
auxiliar os nossos alunos (estudantes e operadores do direito) na caminhada rumo à
realização de sonhos.
Peço todos os dias, em minhas orações, que a minha plataforma seja um
“canal de bênçãos” na vida dos meus alunos, sendo ferramenta que os auxilie diante
dos desafios da vida (prática profissional, aprovação em concursos públicos ou em
exames de ordem).
Neste curso Começando do zero, “campeão de vendas”, procuramos fazer
uma abordagem do direito processual civil de forma simples e didática, porém
aprofundada, atentando para o que há de mais atualizado à luz da doutrina, legislação
e jurisprudência acerca dos institutos estudados.
Além das videoaulas, passo às suas mãos o presente material em pdf com
as anotações do curso. Indico que, após assistir cada videoaula, faça a leitura do tema
correspondente neste material, a fim de melhor fixar o conteúdo abordado.
Aproveito este momento para deixá-lo(a) à vontade no sentido de enviar
eventuais dúvidas, que porventura surjam no decorrer das aulas, para o nosso
plantão, ressaltando que eu mesmo farei questão de respondê-lo(a) no prazo máximo
de 24 (vinte e quatro) horas.
Portanto, seja bem-vindo(a) à nossa jornada! Bons estudos, e conte comigo
para o que necessitar.
Forte abraço,

André Mota.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

NOÇÕES DE JURISDIÇÃO

1. FORMAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

O primeiro instituto fundamental do processo civil a ser estudado é a


jurisdição.
Mas, para entendê-la, é necessário compreender o significado de temas como
interesse, pretensão e lide.
Pois bem, o interesse pode ser definido como o elo que une uma pessoa a
determinado bem. Desde os primórdios das civilizações a relação de interesse entre
pessoas e objeto sempre existiu. O problema é que os bens sempre foram escassos,
existindo em quantitativo menor às pessoas.Daí ser muito comum o conflito de
interesses, representado pela existência de mais de um interesse sobre o mesmo bem
da vida.
Nas civilizações primitivas, todos aqueles que se vissem envolvidos em
conflitos de interesses acabavam por utilizar a força como forma de solver dita
conflituosidade. É o que hoje se denomina “autotutela”, sendo esta a forma mais
primitiva de resolução de conflitos.
Num segundo estágio (um pouco mais avançado, portanto), a autotutela fora
paulatinamente substituída pela arbitragem facultativa, ou seja, os conflitos passaram
a ser resolvidos mediante a intervenção de um terceiro, imparcial, devidamente eleito
pelos envolvidos. A doutrina aponta que fora este um “embrião” do sistema
jurisdicional hoje vigente.
Mais à frente, a arbitragem tornou-se obrigatória, sendo que a escolha do
árbitro passou a ser efetuada por um representante Estatal, o qual fixava as condições
e regras processuais a serem seguidas.
Somente com o surgimento do Estado e, posteriormente, do estado de direito
(expressão que indica a divisão de funções precípuas do estado - legislativa, executiva
e jurisdicional - a diversos órgãos, com o fito de evitar a arbitrariedade) tornou-se
latente a necessidade de outorgar a tarefa de solver conflitos de interesses
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intersubjetivos ao Estado, por intermédio dos representantes do poder judiciário


(juízes e tribunais).
Perceba que o Estado passou a ditar as leis (regras de convivência) aos seus
súditos e, acaso houvesse o descumprimento de algum comando normativo,
importando na lesão de direito alheio, nasceria para o prejudicado a pretensão,
definida como a exigência de submissão do interesse alheio ao próprio.
Se, por exemplo, Maria tivesse a posse de bem imóvel e João viesse invadi-
lo, esbulhando a posse da titular, nasceria para ela a pretensão, ou seja, a exigência
de submissão de interesse alheio ao seu. Destarte, se o violador da posse não
desejasse devolvê-lo (resistindo a pretensão de Maria), estaríamos diante de uma
lide, qualificada por uma pretensão resistida.
Ultrapassada a concepção de que a consecução do bem da vida estaria
atrelada ao uso da força pelo pretenso autor, o surgimento do estado de direito acabou
por fazer com que os sistemas de autotutela e arbitragem facultativa cedessem lugar
à modalidade heterônoma de resolução de conflitos, agora atribuída ao poder público,
denominada “jurisdição”.
O termo jurisdição vem das expressões “juris” (direito) e “dictio” (dizer), ou
seja, “dizer o direito”, função hoje pertencente ao Estado, o qual é representando pelo
poder judiciário. O artigo 16 do Código de Processo Civil aponta que “a jurisdição será
exercida pelos juízes e tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições
deste Código”.
Definimos, portanto, a jurisdição como sendo “a parcela de poder Estatal que
tem a função de aplicar a lei, com vistas a solucionar as lides que lhe são submetidas.”
Cabe ressaltar, ainda, que a forma de resolução de conflito “ideal”, mais
“desejada” e que mostra elevação de espírito, é a autocomposição, sendo definida
como aquela que põe fim a uma controvérsia através da atividade das próprias partes.
A autocomposição pode manifestar-se através da mediação, que ocorre quando um
terceiro dialoga com as partes, a fim de fornecer-lhes subsídios necessários a que as
mesmas, por si, cheguem a um acordo, ou através da conciliação, feita quando o
terceiro sugere a solução a ser aplicada no conflito ea qual acaba sendo aceita pelas
partes.
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Mas, conforme dito anteriormente, a jurisdição é, hoje, a forma de resolução


de conflitos que constitui a regra em nosso ordenamento jurídico.

2. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO

Características são atributos, traços marcantes, os quais ensejam a


identificação de um sujeito num dado contexto. Pode-se afirmar que a função
jurisdicional não se confunde com as demais funções exercidas pelo Estado
(legislativa e administrativa), sendo marcada pelos seguintes caracteres:

a) Substitutividade: a jurisdição substitui a atividade das partes em conflito,


pondo a sua vontade acima das mesmas. Se Maria tem um débito para com João, por
exemplo, não pode este, por força própria, ir até o patrimônio de Maria e retirar bens
para quitar o débito, sob pena de incidir em crime contra a administração da justiça
(artigo 345, CP). É necessário que ele proponha demanda contra a devedora para que
o judiciário (representante da jurisdição), uma vez reconhecido o direito, possa praticar
atos de expropriação dos bens de Maria (veja que o judiciário “substitui” a atividade
de João), com o objetivo de saldar a dívida. O artigo 16 do CPC aponta que “A
jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional,
conforme as disposições deste Código.”
b) Inércia: a jurisdição não se movimenta sem prévia provocação.O artigo 2º,
CPC, aponta que “o juiz não prestará a tutela jurisdicional senão quando provocado,
salvo as exceções”. Se fosse permitido ao magistrado iniciar um processo judicial,
certamente que o mesmo não julgaria com base nas provas constantes dos autos,
mas, sim, de acordo com o sentimento que lhe motivou a abrir a relação processual,
comprometendo, por consequência a sua imparcialidade.
c) Imparcialidade: significa que o órgão julgador é o sujeito desinteressado
da relação, não podendo estar pré-intencionado a um dado julgamento. O juiz é
considerado como o sujeito imparcial da relação processual. É justamente por isso
que o legislador disciplinou situações as quais seria impossível ou mesmo
desaconselhável a participação do magistrado em certos processos: são os casos de
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impedimentos e suspeição, disciplinados, respectivamente, nos artigos 144 e 145,


CPC.
Perceba, também, que o artigo 139, I, CPC determina, como primeiro dever
do magistrado, “assegurar às partes igualdade de tratamento”.
d) Definitividade: a atividade jurisdicional é marcada pela indiscutibilidade.
Após esgotados os meios recursais e ocorrente o fenômeno da coisa julgada, não há
que se falar em nova discussão daquilo que fora objeto da decisão emitida, salvo
exceções legalmente previstas, tal como ocorre com a ação rescisória, capitulada nos
artigos 966 e seguintes do CPC.
É por isso que, não obstante determinada relação jurídica tenha sido decidida
no âmbito administrativo (ex: discussão quanto à existência de débito tributário), fato
é que a decisão em questão não impossibilita o suposto lesado a socorrer-se da via
jurisdicional para sanar a lesão em questão.
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DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

O código de Processo Civil, em seus artigos 1º ao 12, traz uma verdadeira


principiologia, a qual deverá nortear a relação processual, relativamente à conduta
das partes, do magistrado e demais sujeitos da relação. Nesta passagem, o legislador
procurou positivar alguns princípios, alguns deles até já previstos na Constituição
Federal de 1988 e que foram para cá “importados”.
Assim, num primeiro momento, o legislador estabelece que o processo civil
será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas
fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil,
observando-se, também, as disposições estabelecidasno Código de Processo Civil
(art. 1º, CPC). Temos, aqui, um modelo constitucional de processo. Deveras! A
constituição federal é a lei maior e essencial de um Estado, estando nela contidas as
disposições mínimas para o convívio harmônico em sociedade. E, sendo o processo
um instrumento de pacificação de conflitos, não poderá ele fugir dos valores e normas
basilares previstas na constituição.
Eis algumas normas fundamentais:

a) Inércia e impulso oficial: o artigo 2º, CPC, aponta que o processo começa
por iniciativa da parte, consagrando, desse modo, o princípio da inércia, o qual fora
visto na aula anterior, e que tem como objetivo preservar a imparcialidade do julgador.
A segunda parte do mesmo dispositivo diz que o processo se desenvolve por impulso
oficial. Assim, uma vez proposta a ação, o judiciário passará a realizar,
automaticamente, todos os atos necessários ao processamento da causa, até a
resolução do litígio.

b) Indeclinabilidade (ou inafastabilidade): uma vez provocado, o órgão


jurisdicional não poderá se escusar de resolver a lide (art. 3º, CPC). A Constituição
Federal é clara ao mencionar a inafastabilidade do controle jurisdicional de lesão ou
ameaça a direito (artigo 5º, XXXV, CF/88).
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Presenciei, certa vez, situação na qual havia sido proposta uma demanda por
um cidadão que estava sendo perturbado, quase que diariamente, pelo ruído de som,
projetado por uma casa de eventos. Analisando os autos, o juiz, ao invés de adotar as
providências cabíveis, proferiu sentença, extinguindo o processo sem resolução de
mérito, indicando ao autor que procurasse os órgãos administrativos para que os
mesmos tomassem as providências necessárias à cessação dos barulhos. A conduta
do magistrado demonstrou claramente que o mesmo havia “declinando” da função de
julgar e reparar o direito lesado.
Urge ressaltar que, ainda que não haja preceito legal que discipline a relação
posta em juízo, o juiz deverá se valer da analogia, dos costumes e dos princípios
gerais (artigo 4º da Lei da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro- LINDB).

c) Razoável duração do processo: consagrado pela CF/88 (artigo 5º,


LXXVIII) e pelo CPC (art. 4º), significa que a todos, no âmbito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.
Percebe-se que o intento é promover a celeridade processual não apenas nos
provimentos de urgência (antecipações e cautelares), mas sim, da integralidade da
demanda, de modo que o jurisdicionado contemple, em curto lapso temporal, uma
completa prestação jurisdicional.
É por isso que o CPC de 2015, no artigo em comento, fez questão de ressaltar
que a celeridade deve abranger também a atividade satisfativa.
d) Publicidade: com o fito de proporcionar a democratização no acesso à
justiça e o controle das decisões judiciais por todos, a Constituição Federal de 1988
(art. 93, IX) e o CPC (art. 8º) estabeleceram que os atos processuais são públicos.
Isto significa que todos podem ter acesso aos atos e termos do processo.
O artigo 11 do CPC aponta que “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos...”.
Finalmente, o artigo 189 do CPC, ao tratar dos atos processuais, também
consagra a publicidade.
E nem se diga que a publicidade é restrita aos processos físicos: a Lei
13.793/2019 acrescentou o § 5º ao artigo 107 do CPC, estendendo aos processos
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eletrônicos o direito do advogado examinar, em cartório de fórum e secretaria de


tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independentemente da
fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações,
salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído
terá acesso.
A exceção à publicidade é especificada no artigo 189, CPC, o qual traz os
casos de segredo de justiça: “...Todavia, tramitam em segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social; Il - que versem sobre casamento,
separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda
de crianças e adolescentes; III- em que constem dados protegidos pelo direito
constitucional à intimidade; IV- que versem sobre arbitragem, inclusive sobre
cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem
seja comprovada perante o juízo.”
O segredo de justiça faz com que apenas as partes e seus advogados tenham
acesso aos termos e atos do processo. O terceiro interessado, no entanto, poderá
obter certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha
resultantes de divórcio ou separação,com o objetivo de defender eventuais direitos.
e) Contraditório: O princípio em tela, consagrado, inicialmente pela
Constituição Federal de 1988 (art. 5º LV), tem aplicação tanto no procedimento
administrativo quanto no judicial. Seu significado aponta para o fato de que, ao
litigante, deve ser dado conhecimento e oportunidade de contrapor-se a todas as
solicitações e atos produzidos pelo adversário, evitando-se que o mesmo seja
surpreendido.
Costuma-se vislumbrar o contraditório sob dois prismas: o formal,
representado pela necessidade da parte ter conhecimento de tudo quanto se passa
na relação processual; e o substancial (ou material), representado pela oportunidade
da parte poder se manifestar antes do pronunciamento judicial, de modo a participar
ativamente da formação do convencimento do julgador.
Assim, por exemplo, numa dada relação processual onde o réu alegue a
existência de prescrição sobre direito do autor, o magistrado deverá intimar a parte
autora, não apenas para que tenha ciência de tal arguição (contraditório no sentido
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formal), mas também de se manifestar contrariamente à tal arguição (contraditório no


sentido material).
Nesta mesma trilha, o CPC/2015 consubstanciou o contraditório, ao apontar
que “o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento
a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda
que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.” (art. 10, CPC).
Urge ressaltar que aludido princípio é mitigado em algumas hipóteses, não se
aplicando nos casos de tutela provisória de urgência, às tutelas de evidência previstas
no artigo 311, II e III, CPC e a decisão que determina a expedição de mandado
monitório em sede de ação monitória (art. 701, CPC).
O deferimento de providências antecipadas no curso da lide, sem a oitiva da
parte contrária (inaudita altera pars), não viola o princípio. Primeiro, pelo fato de que
a concessão de tais providências visa proteger a garantia maior da efetividade do
processo; Segundo, porque o contraditório, em verdade, não foi suprimido, mas, tão
somente, postergado para o futuro, sendo certo, inclusive, que a parte contrária terá
a posterior oportunidade de combatê-la mediante o competente recurso.
f) Isonomia: diz respeito ao tratamento igualitário aos litigantes. O artigo 7º,
CPC, assegura às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos
e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação
de sanções processuais.
Atento a esta máxima, o CPC/2015 também reproduziu a regra do CPC/73,
ao constitui dever do magistrado, como condutor da relação processual, assegurar às
partes igualdade de tratamento (art. 139, I).

ATENÇÃO!
O fato da lei atribuir, em alguns casos, tratamento diferenciado a certas
pessoas, não fere o princípio em estudo. Por exemplo, é perfeitamente possível
conceder prazo em dobropara todas as manifestações processuais quando a parte for
oministério público, fazenda pública ou defensoria pública (arts. 180, 183 e 186, CPC).
Lembre-se de que a igualdade “real” consiste em atribuir tratamento igual aos iguais
e tratamento desigual aos desiguais, na medida de suas desigualdades.
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COMPETÊNCIA

1. Definição

A jurisdição é a parcela de poder atribuída ao Estado para dizer o direito. Dito


poder é exercido sobre os jurisdicionados de todo o território nacional, por diversos
órgãos do judiciário, motivo pelo qual se faz mister repartir as tarefas, mediante alguns
critérios.
Assim, a competência é definida como o instituto que visa definir o âmbito de
atuação, mediante critérios específicos, dos órgãos encarregados da prestação
jurisdicional.

2. Critérios de fixação de competência: material, funcional, em razão do valor e


territorial

Dentre os critérios utilizados pelo nosso sistema jurídico, é preciso destacar:


a) Material: a competência é fixada em razão da natureza da lide posta em
juízo. O CPC estabelece que a competência material será regida mediante normas de
organização judiciária. Assim, é possível que uma lei estadual crie varas
especializadas (vara de família, vara de sucessões, órfãos e interditos, vara de feitos
comerciais, vara de execuções extrajudiciais, etc.) para o julgamento de matérias
específicas.

b) Funcional: diz respeito à função exercida pelo órgão jurisdicional no


processo. O critério atenta tanto para a função dos tribunais quanto para a função dos
juízos de primeiro grau.
Quanto aos tribunais, terão eles competência para funcionar originariamente
(ex: processamento, pelo STF, de mandado de segurança contra ato de Presidente da
República; Processamento, pelo TRF, de mandado de segurança contra ato de juiz
federal; Mandado de segurança impetrado junto ao TJ contra ato de Governador de
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Estado, etc.) ou a nível recursal, também conhecida como “competência hierárquica”


(ex: processamento e julgamento de recurso de apelação pelo TJ ou TRF;
processamento e julgamento de Recurso Especial pelo STJ, etc.). Os tribunais
também terão competência funcional para processar as execuções das causas de sua
competência originária (artigo 516, I, CPC).
Quanto ao juízo de primeiro grau, este terá competência para funcionar
originariamente (a maior parte das ações é de competência originária dos juízos de 1º
grau!), e nas execuções das causas de sua competência pois, ainda que a causa vá
parar nas instâncias superiores, uma vez esgotados os meios recursais, os autos
retornarão ao juízo de origem para o cumprimento de sentença, a teor do preceituado
no artigo 516, II, CPC.
c) Em razão do valor da causa: o valor da causa pode constituir fator
determinante para a fixação de competência. Assim como é possível que norma de
organização judiciária local crie varas especializadas para o conhecimento e
julgamento de causas com matérias específicas (competência material), é, também,
possível a criação de varas com competência para processar e julgar ações de até
certo montante (30, 40, 50 salários, etc.). Tal critério, conforme afirmado, é disciplinado
por normas de organização judiciária.
Cabe, ainda, ressaltar que a Lei federal nº 9.099/95 impôs a criação dos
chamados juizados especiais cíveis, cuja competência leva em consideração, dentre
outros critérios, o valor da causa, o qual não pode ultrapassar o patamar de 40
(quarenta) salários mínimos.
d) Territorial: este critério leva em consideração o exercício da função
jurisdicional segundo a limitação geográfica. Assim, o Supremo Tribunal Federal (STF)
e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) possuem competência para processar
demandas oriundas de todas as partes do país; o Tribunal Regional Federal (TRF)
possui jurisdição sobre alguns estados; o Tribunal de Justiça, por sua vez, possui
jurisdição no respectivo estado.
As regras relativas à competência territorial dos juízes de primeiro grau foram
fixadas pelo Código de Processo Civil, em seus artigos 46 e seguintes. É importante
atentarmos para as seguintes regras:
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→ Ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre


bens móveis: serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu (art. 46, CPC).
Considerando que, até que seja provado em contrário, ninguém pode ser considerado
culpado, o legislador quis dar a “comodidade” ao réu de responder a demanda em seu
domicílio.
Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de
qualquer deles, à escolha do autor.
E se o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil? neste caso,
excepcionalmente, a ação será proposta no foro do domicílio do autor.
→ Ações fundadas em direito real sobre imóveis: é competente o foro da
situação da coisa (art. 47, CPC). Pode o autor, entretanto, optar pelo foro de domicílio
do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade,
vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
A ação possessória imobiliária também será proposta no foro de situação da
coisa, cujo juízo tem competência absoluta (art. 47, § 2o, CPC).
→ Ações de inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e todas as ações
em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro: serão
propostas no foro do domicílio do autor da herança, no Brasil. Se o autor da herança
não possuía domicílio certo, será competente o foro da situação dos bens; havendo
bens imóveis em foros diferentes, a demanda poderá ser proposta em qualquer
destes. Não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.

→ A ação em que o incapaz for réu: será processada perante o foro do


domicílio de seu representante ou assistente (art. 50, CPC).
Aqui o enunciado é bem fácil de ser entendido: a regra geral é a de que a ação
deve ser proposta no foro do domicílio do réu. Pois bem, como o artigo 76, parágrafo
único, do CC preceitua que o domicílio necessário do incapaz é o do seu
representante legal, logo, a ação deve ser proposta no foro do domicílio do
representante (que acaba sendo, em último caso, o foro do domicílio do réu ou
incapaz).
→ Causas em que haja a participação da União: se a mesma estiver na
qualidade de autora, serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio o réu;
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estando na qualidade de ré, poderão ser aforadas na seção judiciária em que for
domiciliado o autor, naquela em que tiver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou ainda, no distrito federal.

→ Ação em que se pedem alimentos: será proposta no foro do domicílio ou


da residência do alimentando (art. 53, II, CPC).
Esta regra foi criada tendo em vista a necessidade do alimentando, o qual
teria dificuldades em propor demanda em domicílio distinto do seu.

ATENÇÃO!
Em se tratando de ação de investigação de paternidade cumulada com
alimentos, a competência será da regra especial, ou seja, foro do domicílio do
alimentando (Súmula 1, STJ).

→ Ação de reparação do dano: deve ser proposta no lugar do ato ou fato.


→ Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, inclusive aeronaves: será competente o foro do domicílio do autor ou do local
do fato (art. 53, V, CPC).
→ Ações de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento
ou dissolução de união estável: serão propostas no foro de domicílio do guardião de
filho incapaz. Não havendo filho incapaz, a demanda será proposta perante o foro do
último domicílio do casal. Se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal,
será proposta no foro do domicílio do réu (art. 53, I, alíneas “a”, “b” e “c”, CPC). Em se
tratando de ação movida por vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da
Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), deverá a mesma ser proposta no foro do seu
domicílio. É o que dispõe o artigo 53, I, “d”, com redação dada pela Lei nº 13.894/2019.

3. Regime Jurídico: Competência absoluta e relativa

Cabe ressaltar, primeiramente, que os critérios de fixação de competência,


tratados no item anterior, foram criados com um dos seguintes objetivos: 1) proteção
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do interesse público, no sentido de proporcionar uma melhor organização e divisão


de tarefas entre os diversos órgãos do judiciário; 2) proteção do interesse privado
da parte, no sentido de dar comodidade àquele que necessite, quando tiver de
propor/responder a uma demanda.
No primeiro caso, o legislador utilizou os critérios material e funcional para o
atendimento do interesse público; no segundo, valeu-se dos critérios em razão do
valor e território para a consecução do interesse particular.
Os critérios eleitos para o atendimento do interesse público (material e
funcional) são absolutos, no sentido de serem atendidos, queiram ou não as partes,
sob pena de nulidade processual. Outrossim, os critérios eleitos para o atendimento
do interesse privado das partes (valor da causa e território) são relativos, no sentido
de que, se não forem atendidos de imediato, poderão ser relevados ou deixados de
lado.
Feitas estas considerações preliminares, notamos que o regime jurídico
acerca da competência irá variar conforme a sua natureza.
Sendo relativa, a infração da regra de competência deve ser alegada pela
parte, sob pena de preclusão e consequente prorrogação de competência, tornando-
se competente o juízo que, até então, não o era (Súmula 33, STJ). O réu arguirá o
vício na própria contestação, através de preliminar (arts. 64 e 337, II, CPC).
Questão interessante é a que diz respeito à cláusula de eleição de foro. Nos
contratos em geral (independentemente de ter natureza de adesão!) haverá a
possibilidade de o magistrado declarar a sua incompetência territorial quando se
deparar com cláusula abusiva de eleição de foro, remetendo os autos para o foro do
domicílio do réu. Tal declaração, entretanto, deverá ser feita ANTES da citação. Se a
citação JÁ FOI realizada, caberá ao réu alegar a abusividade, sob pena de preclusão
(art. 63, §§ 3o e 4º do CPC). A incompetência territorial também poderá ser declarada
de ofício no âmbito dos juizados especiais cíveis, a teor do disposto no enunciado 89
do Fórum Nacional do Juizados Especiais (FONAJE)1.

1
Por falar em juizados especiais cíveis, caso você seja profissional e necessite
de atualização na prática jurídica, indico que conheça o nosso curso “A Advocacia
nos Juizados Especiais Cíveis” constante em nossa plataforma.
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A infração à regra de competência de natureza absoluta (em razão da matéria


ou hierarquia), por estar apoiada em regras de ordem pública, acaba por gerar vício
insanável, o qual poderá ser arguido a qualquer tempo e grau de jurisdição (exoficioou
mediante preliminar de contestação). É mister salientar, inclusive, que, não sendo o
vício declarado pelo juiz ou arguido pelas partes, a coisa julgada não terá o condão
de estabilizar-se. É que o artigo 966, II, CPC autoriza a instauração de rescisória na
hipótese de incompetência absoluta.
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PARTES E PROCURADORES: CAPACIDADE PROCESSUAL

Neste curso Começando do Zero em Processo Civil, já vislumbramos que a


jurisdição é a parcela de poder estatal responsável por dirimir os conflitos de
interesses. Também verificamos que a mesma é provocada por intermédio do direito
de ação e que atua mediante um processo.
Pois bem, a validade do processo está condicionada a certas premissas
concretas, denominadas de “pressupostos processuais”.
No que se refere às partes, estas deverão ter capacidade de ser parte,
capacidade para estar em juízo e capacidade postulatória.

→ Capacidade de ser parte:

É a aptidão para ocupar um dos polos da relação processual. Em termos


simples: quem pode ser autor ou réu em um processo?
Terão a capacidade de ser parte:
1) pessoas naturais ou físicas: todo o ser humano pode ser autor ou réu de
um processo, bastando o nascimento com vida. Esta capacidade se confunde com a
personalidade, estudada no direito civil, como aptidão genérica de ser sujeito de
direitos e obrigações. O raciocínio aqui é simples: nascendo, o ser humano adquire a
personalidade (passa a ser sujeito de direitos e obrigações); logo, poderá ser autor
de ação para receber o que lhe seja de direito e poderá ser réu para cumprir com as
obrigações que a lei lhe confere.
2) pessoas jurídicas: como sujeitos de direitos e obrigações, também poderão
ser autores ou réus em processo judicial. As pessoas jurídicas são de direito público
(União, estados, Distrito federal, territórios, municípios, e as respectivas autarquias e
fundações públicas) ou de direito privado (associações, sociedades, fundações
privadas, organizações religiosas e partidos políticos).
As pessoas jurídicas não podem ser confundidas com os órgãos que a
integram. Por exemplo, se um cidadão deseja ingressar com ação de indenização em
virtude dos danos materiais causados por uma “bala perdida”, disparada pelo revólver
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

de policial militar do estado de Pernambuco, não poderá o mesmo propor a demanda


em face da polícia militar (que é mero órgão, sem personalidade jurídica), mas, sim,
contra a pessoa jurídica a qual ela integra, a saber, o respectivo estado federativo.
3) alguns entes despersonalizados: em regra, ente despersonalizado não
pode ser parte, conforme afirmado no item anterior, haja vista que, não possuindo
personalidade, não constitui-se em sujeito de direitos e obrigações. Ocorre que o
legislador resolveu conferir capacidade de ser parte a certos entes, justamente como
forma de protegê-los, pois, do contrário, não existiria outra forma de defender seus
interesses senão estando na qualidade de parte. É o que ocorre, por exemplo, com a
massa falida,espólio e condomínio. Neste caso diz-se que os mesmos, apesar de não
possuírem “personalidade jurídica”, possuem “personalidade judiciária”.

ATENÇÃO!
A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a
irregularidade de sua constituição quando demandada. (art. 75, § 2o, CPC).

O fenômeno da personalidade judiciária será aplicado, também, a alguns


órgãos públicos (Ministério Público, Câmara de vereadores ou Assembleia Legislativa,
por exemplo), apenas quando da defesa de suas prerrogativas institucionais. Por
exemplo, pode o ministério público, para a defesa do interesse público (uma de suas
prerrogativas), ser autor de uma ação civil pública contra uma fábrica que polui o meio
ambiente.Pode, também, uma assembleia legislativa impetrar um mandado de
segurança contra ato de governador que violou competência daquela casa. Nestes
casos eles estarão defendendo as suas prerrogativas institucionais.
Não estando, entretanto, o conflito de interesses ligado àquelas prerrogativas,
a capacidade de ser parte será da pessoa jurídica de direito público a qual o órgão
integra, e não do mencionado órgão (MP ou Assembleia Legislativa). Imagine, por
exemplo, um atropelamento envolvendo um veículo oficial do ministério público do
estado do Rio de Janeiro. Neste caso, a ação não terá como parte o Ministério público
(que é mero órgão, sem personalidade jurídica), mas, sim, a pessoa jurídica a qual ele
integra (Estado do Rio de Janeiro).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

ATENÇÃO!
Não confunda capacidade de ser parte com legitimidade ad causam. A
capacidade de ser parte é vista diretamente, com objetividade (quem pode e quem
não pode ser parte num processo!) ao passo que a legitimidade ad causam (uma
das condições da ação) se refere à titularidade (legitimidade) do direito lesado: tem
legitimidade ativa quem teve o direito violado e tem legitimidade passiva quem violou
o direito.
Então, exemplificando, Maria pode ter a capacidade de ser parte (pois é
pessoa física), mas não ter legitimidade para propor uma dada ação, pois não fora
ela quem teve o direito violado.

→ Capacidade de estar em juízo:

Refere-se à possibilidade de praticar os atos jurídicos processuais, ou seja,


participar ativamente do processo (outorgar procuração, fazer acordo, dar quitação,
etc.). Terá a capacidade de estar em juízo toda pessoa que se ache no exercício dos
seus direitos (artigo 70 do CPC). Perceba, por exemplo, que uma criança de 5 (cinco)
anos de idade terá a capacidade de ser parte (pois tem personalidade), mas NÃO
terá a capacidade de estar em juízo, pois não pode, por si só, praticar os atos da
vida civil.
Ressalte-se que as pessoas casadas também têm capacidade plena para
estar em juízo, de modo que um cônjuge não necessita da companhia do outro, seja
para figurar como autor, seja para colocar-se na qualidade de réu. A regra, no entanto,
encontra exceções:
Para propor demandas, um cônjuge somente necessitará do consentimento
do outro quanto às ações que versem sobre direitos reais imobiliários. Isto quer dizer
que ou a ação será intentada por ambos os cônjuges (ambos serão autores) ou um
deles necessitará de consentimento do outro para ajuizá-la, sob pena de ser
decretada a ausência da capacidade processual, com a consequente extinção do
processo sem resolução de mérito. O motivo é simples: tudo que é adquirido após a
constância do matrimônio passa a pertencer a ambos. Assim, qualquer ação que verse
sobre direitos reais imobiliários poderá afetar a esfera de direitos do outro cônjuge
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

sobre o bem disputado, motivo pelo qual haverá a necessidade de sua participação
ou autorização. Esta regra processual só não será aplicada se o regime do casamento
for o da separação de bens (art. 73, CPC). Ressalte-se que o consentimento pode
ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo,
ou quando lhe seja impossível concedê-lo.
Por outro lado, ambos os cônjuges deverão ser citados (figurarão como réus)
nas ações que versem sobre direito reais imobiliários ou nos casos de composse ou
de atos por ambos praticados.
Preocupado com a defesa dos interesses dos incapazes, o legislador criou o
instituto da representação, que nada mais é do que a defesa em juízo, em nome
alheio, de interesse alheio.
Assim, os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores
ou curadores (artigo 71, CPC). Numa ação de alimentos proposta contra o pai, por
exemplo, o incapaz será o autor (pois o direito é seu!), mas, como não poderá estar
em juízo, deverá ser representado por sua genitora. Perceba que a mãe estará na
qualidade de representante, pois estará em nome alheio (pois a criança é quem
figurará como autora da ação), defendendo interesse alheio (interesse da criança).
Ainda dentro da temática da representação, é necessário ficar atento à
representação do artigo 75 do CPC. É que, nele, o legislador listou uma série de
entes com os seus respectivos representantes judiciais, ativos ou passivos.
Isto quer dizer que todas as pessoas e entes que estão listados no
mencionado artigo terão a capacidade de ser parte (pois poderão ser autores ou
réus), mas para terem a capacidade de estar em juízo necessitarão estar
representados pelos sujeitos que lá figuram, senão vejamos: a)a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Territórios,pela Advocacia-Geral da União, diretamente ao
mediante órgão vinculado; b) o Município, por seu prefeito, procurador ou associação
de representação de municípios, quando quando expressamente autorizada; c) a
massa falida, pelo administrador judicial; d) a herança jacente ou vacante, por seu
curador; e) o espólio, pelo inventariante; f) as pessoas jurídicas, por quem os
respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores; g) IX -
a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem
personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens;
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

h) a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de


sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (o gerente da filial ou
agência presume-se autorizado, pela pessoa jurídica estrangeira, a receber citação
inicial para qualquer processo); i) o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.

→Capacidade postulatória:

O último pressuposto processual referente às partes é a capacidade


postulatória, ou seja, o exercício da defesa técnica em juízo. Em nosso ordenamento
jurídico ela é feita pelos advogados, profissionais regularmente inscritos perante os
quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelos defensores públicos bem
como pelos membros do Ministério público.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

As partes são os sujeitos que primitivamente se assentaram num dos polos


da relação jurídica. Após este momento, o ingresso póstumo de qualquer sujeito lhe
dará a condição de terceiro.
Em regra, aqueles que se assentaram primitivamente permanecerão na
qualidade de parte até o final. Entretanto, algumas relações jurídicas se estabelecem
como que em “teias” ou “cadeias”, a ponto da relação processual poder surtir efeitos
sobre a esfera jurídica de quem, a princípio, nada tinha a ver com a relação. É
exatamente nestes casos que a ordem jurídica autorizou o ingresso de sujeitos, os
quais ostentam a condição de terceiros.
Destarte, terceiro pode ser definido, por exclusão, como aquele que, não
revestindo a qualidade de parte, ingressa no feito em virtude de vínculo jurídico
estreito que mantém com a relação processual deduzida em juízo.
Aludida intervenção poderá se operar de forma voluntária (ex: assistência) ou
provocada (ex: chamamento ao processo e desconsideração da personalidade
jurídica).
Passemos a analisar as principais modalidades de intervenção.

A) Assistência

→Aplicação: caberá a assistência todas as vezes que um terceiro tiver


interesse jurídico de que a sentença seja favorável a uma das partes. Nela, o ingresso
do terceiro objetiva a vitória de uma das partes, haja vista que o resultado do
julgamento poderá afetar a sua esfera jurídica (e não meramente econômica!).
Imagine, por exemplo, que “A” ingresse com ação em face de “B” para reaver um
imóvel que fora dado em locação. Ocorre que “B” já havia sublocado esse imóvel para
“C”. Perceba que, sendo o pedido julgado procedente, “C” terá sua esfera jurídica
afetada, na medida em que verá extinta a relação jurídica (contrato de sublocação)
que mantém com “B”. Por isso, estará o mesmo autorizado a ingressar no feito, na
qualidade de assistente, a fim de que possa atuar auxiliando e proporcionando a vitória
de “B”.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→Modalidades: a assistência será simples quando o resultado da sentença


puder afetar a relação jurídica entre assistente e assistido, conforme fora vista no
exemplo acima.
Outrossim, será litisconsorcial quando o julgamento puder afetar a relação
jurídica entre o assistente e o adversário do assistido. Na verdade, o assistente
poderia ter, primitivamente, sido parte na relação processual (“litisconsórcio” vem de
“consórcio” ou “agrupamento” de litigantes), não o sendo por circunstância meramente
eventual.
Pense, como exemplo, a ação reivindicatória movida por apenas um dos
condôminos e o ingresso posterior de outro condômino. Outro exemplo seria a ação
proposta por um dos sócios visando anular deliberação adotada pela sociedade,
ingressando, posteriormente, sócio que não figurava como parte. Observe que, em
todos esses exemplos, o assistente possui pretensão a ser defendida em juízo (por
isso, poderia ter sido parte desde o início, só não o sendo, pelo fato de ter ingressado
no processo posteriormente), diferentemente da modalidade simples, a qual, apesar
do mesmo poder ser prejudicado pelo resultado da decisão, o seu direito não está “em
jogo”.
→Regime jurídico: na modalidade simples, o assistente vincula-se às
declarações do assistido. É que, apesar de figurar na demanda, o interesse
controvertido é do assistido. Assim, poderá o assistido reconhecer a procedência do
pedido, desistir da ação, efetuar transação, etc. Fato é que a atuação é de mero
auxiliar ou coadjuvante da parte principal.
Como o direito discutido pertence ao assistido, caso este seja revel, o
assistente será considerado seu substituto processual, já que estará, em nome
próprio, defendendo interesse alheio.
Por outro lado, na modalidade litisconsorcial, ambos (assistente e assistido)
têm direito a defender em juízo, motivo pelo qual o assistente não se vincula às
declarações emitidas pelo assistido, de modo que se forma um verdadeiro
litisconsórcio. Lembre-se: Os litisconsortes serão considerados, em suas relações
com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso
em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão
beneficiar (art. 117, CPC).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→ Ingresso do assistente: não havendo impugnação no prazo de 15


(quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição
liminar. Se, no entanto, qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico
para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo.

B) Chamamento ao processo

→Aplicação: modalidade de intervenção provocada. O chamamento ao


processo ocasiona o alargamento processual, na medida em que se inclui na
demanda sujeito que partilha responsabilidades com o réu da demanda originária.
O CPC contempla o chamamento do afiançado pelo fiador; dos demais
fiadores pelo fiador demandado; ou, finalmente, dos demais devedores solidários
quando demandado apenas um ou alguns deles (art. 130, CPC).
Das hipóteses de cabimento acima listadas, colhe-se um aspecto
interessante: perceba que se pode chamar ao processo sujeitos que sejam tão
responsáveis quanto ou mais responsáveis do que aquele que efetua o chamamento.
Assim, é possível que o fiador chame ao processo o devedor principal, mas o inverso
não é admissível.
Observe que, enquanto na denunciação da lide o cumprimento da obrigação
é de responsabilidade do denunciante da demanda originária (o qual denuncia com o
escopo de valer-se do direito regressivo), no chamamento ao processo a obrigação
seria tanto do réu primitivo quando do terceiro, o qual não fora demandado, por isso
que chamado posteriormente.
→Regime jurídico: a citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio
passivo será requerida pelo réu na contestação.
Ingressando o terceiro e havendo o alargamento da relação processual, a
sentença que julgar procedente o pedido servirá de título executivo em favor do que
satisfizer a dívida para que execute o coobrigado nos autos do mesmo processo.

C) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica

→ Considerações gerais: Já sabemos que a lei conferiu proteção à formação


de entidades abstratas, denominadas de “pessoas jurídicas”. Elas são constituídas
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

com vistas a fomentar diversas atividades de interesse social e, como forma de gerar
vínculos próprios, adota-se o princípio da autonomia patrimonial, de modo que a sua
personalidade não se confunde com a personalidade das pessoas naturais que as
integram.

Noutros termos, como tais atividades guardam em si riscos inerentes, foi


necessário que o legislador criasse um “manto”, um “véu” protetivo, apto a separar o
patrimônio da pessoa jurídica do patrimônio das pessoas naturais que a constituem.

Ocorre que, muitas vezes, dita proteção acaba por servir de “escudo” para o
desvio de finalidade e outras práticas escusas.

Neste diapasão, foi necessário criar um instrumento efetivo para combate a estes
abusos, de modo que o mesmo servisse para atingir os bens de seus sócios
integrantes: é a desconsideração da personalidade jurídica, prevista no artigo 50 do
Código Civil bem como pela Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor).

O CPC de 2015, em seus artigos 133 a 137 trata dos aspectos processuais do
referido instituto. Vejamos:

→ Cabimento: O incidente de desconsideração, que obedecerá aos


pressupostos previstos em lei, será cabível em todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título
executivo extrajudicial.

→ Legitimidade: O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no
processo.

→ Formalidades: A instauração do incidente suspenderá o processo e será


imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.

Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade


jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a
pessoa jurídica.

O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais


específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para


manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Concluída
a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Se a
decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.

Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens,


havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.
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ANDRÉ MOTA

DO JUIZ

O juiz é o sujeito imparcial da relação processual, o qual está equidistante das


partes.

a) Poderes-deveres

Ele dirigirá o processo, competindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento: é o que se chama de


“isonomia”. Como condutor do processo, o juiz não pode dar tratamento diferenciado
às partes, a não ser quando a lei previamente estabeleça. É o caso, por exemplo, da
concessão de prazos diferenciados (artigos 180, 183 e 186, CPC).
II - velar pela duração razoável do processo: o juiz deve resolver a lide no
lapso temporal mais breve possível, fazendo com que a prestação jurisdicional seja
eficaz. Esse é o motivo pelo qual poderá o está autorizado a indeferir diligências
inúteis ou meramente protelatórias (art. 370, parágrafo único, CPC).
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça:
considerando que é o juiz quem preside o feito, deverá o mesmo cuidar para que haja
o zelo e respeito para com a justiça. Assim, deve o juiz punir os atos que vão de
encontro à dignidade da justiça, como, por exemplo, o ato que de embaraço à ordem
judicial, punido com multa. Outro exemplo é visto no artigo 360, CPC. Aqui o legislador
apontou que o juiz exerce o poder de polícia nas audiências, competindo-lhe manter
a ordem e o decoro, podendo ordenar que se retirem da sala os que se comportarem
inconvenientemente e até mesmo requisitar, quando necessário, a força policial.

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou


sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial,
inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária: aqui o CPC de
2015 procurou legitimar o uso, pelo magistrado, de todas as medidas necessáriasà
efetivação da ordem judicial. É o que a doutrina tem chamado de “medidas atípicas
de efetivação”.

Assim, dentro de um poder geral de efetivação, poderá o magistrado valer-se,


tanto das medidas típicas do artigo 831 (penhora de bens) e do artigo 536, § 1º, CPC
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

(multa diária, remoção de pessoas ou coisas, impedimento de atividade nociva e uso


de força policial) quanto outras que julgar convenientes para compelir o devedor ao
cumprimento da obrigação. Tem sido comum a adoção de medidas atípicas, a
exemplo do bloqueio de cartão de crédito, apreensão de passaportee da suspensão
de CNH do devedor.

Ressalte-se que, seguindo as diretrizes traçadas no Enunciado 12 do Fórum


Permanente dos Processualistas Civis (FPPC), a jurisprudência do STJ tem posto três
condições para a adoção das medidas atípicas: a) que as medidas típicas tenham sido
esgotadas; b) que haja o contraditório; c) que a medida a ser adotada seja
proporcional. Assim, por exemplo, não se deve determinar a apreensão do passaporte
do devedor se ainda não se tentou a penhora de seus bens ou valores financeiros
(medidas típicas); Ou se não foi concedida a oportunidade para indicar bens passíveis
de penhora (contraditório); ou, finalmente, se o crédito é de valor muito baixo
(ausência de proporcionalidade).

V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com


auxílio de conciliadores e mediadores judiciais: é o que se chama de “dever de
composição”. Por mais que o juiz tenha a função de resolver lides, é indicado que o
mesmo tente sempre, primeiramente, uma solução por meio da atividade das próprias
partes. Para tanto, o CPC aponta que o juízo estará auxiliado por conciliadores e
mediadores judiciais.

VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios


de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior
efetividade à tutela do direito: ressalte-se que, aqui, o magistrado poderá prorrogar
os chamados “prazos dilatórios” e não os peremptórios, os quais são improrrogáveis,
salvo as exceções legais.

VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força


policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais;

VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes,


para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de
confesso;

IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento


de outros vícios processuais: todas vezes que for constatado um “atropelo”, um
equívoca de ordem procedimental, o magistrado poderá chamar o feito à ordem, a fim
de corrigir o vício existente.

X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas,


oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível,
outros legitimados a que se referem as leis 7.347/85 e 8.078/90, para, se for o
caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.
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ANDRÉ MOTA

B) Responsabilidades

O artigo 143 do CPC estipula que o magistrado responderá, civil e


regressivamente, por perdas e danos nas seguintes hipóteses:
I – quando, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude:
perceba que não existe, em nosso ordenamento jurídico, a possibilidade de
responsabilização pessoal do juiz por ato culposo, mas tão somente doloso ou
fraudulento. Isto quer dizer que, se o jurisdicionado tiver prejuízo em virtude de
atividade jurisdicional culposa, poderá voltar-se com ação de indenização contra o
Estado (se a justiça for estadual) ou contra a União (sendo a justiça federal), mas o
juiz não responderá civil e regressivamente.
II – quando recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que
deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte: reputar-se-ão verificadas
essas hipóteses somente depois que a parte, por intermédio do escrivão, requerer ao
juiz que determine a providência e este não lhe atender ao pedido dentro de 10 (dez)
dias.

C) Atuação processual

O legislador procurou estabelecer diretrizes para a regular atuação do juiz no


curso da relação processual. Eis as regras:
I- indeclinabilidade: o juiz não se exime de sentenciar ou despachar
alegando lacuna ou obscuridade no ordenamento jurídico. No julgamento da lide
caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos
costumes e aos princípios gerais de direito (art. 140, CPC).
II- equidade: é o senso de justiça do juiz. Julgar por equidade seria adotar a
solução que ele - o juiz - acredite ser mais justa. O julgamento por equidade, em regra,
não é admitido em nosso ordenamento pátrio (pois a regra é a de que o juiz julgue
com base no que diz a lei). Excepcionalmente, o juiz decidirá por equidade, desde que
a lei lhe permita. É o que ocorre, por exemplo, com a fixação de honorários
advocatícios nas causas de valor inestimável ou irrisório (artigo 85, par. 8º, CPC).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

III- inércia: o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe
defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa
da parte (art. 141, CPC).
IV- simulação: convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que autor
e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim proibido
por lei, o juiz proferirá sentença que obste aos objetivos das partes e ainda poderá
aplicar, de ofício, as penalidades por litigância de má-fé. É o que determina o artigo
142, CPC. Imagine, por exemplo, que marido e mulher utilizaram do processo para
simular uma separação com partilha de bens, com o intuito de fraudar credores.
Percebendo a simulação, deverá o juiz extinguir o feito sem resolução de mérito.
V- impulso oficial: caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte,
determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências
inúteis ou meramente protelatórias (art. 370, CPC). A jurisdição necessita de
provocação da parte apenas para instaurar e não para resolver a relação processual.
Isto quer dizer que, uma vez provocado, o juiz passará a atuar por impulso oficial, ou
seja, “por dever do cargo”.
VI-princípio da livre convicção motivada (persuasão racional): o juiz
apreciará a provaconstante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver
produzido, e indicará na decisão os motivos que lhe formaram o convencimento.
Em outros termos, significa dizer que o juiz é “livre” para formar o seu
convencimento com base no meio de prova constante dos autos (testemunhal,
pericial, documental, etc.), mas, na decisão, ele deverá informar quais foram essas
razões, ou seja, deverá dar publicidade ao raciocínio que utilizou para chegar àquela
conclusão. Essa “publicidade” serve para que a parte inconformada possa conhecer
do raciocínio empregado pelo juiz na decisão e, por consequência, possa “combatê-
la” por meiodo recurso cabível.
VII- identidade física do juiz: por esta regra, o juiz, titular ou substituto, que
concluir a audiência julgará a lide. A regra é de fácil assimilação: se o juiz colheu toda
a prova, esteve “cara a cara” com as partes e testemunhas, ninguém estará tão apto
a emitir a decisão senão ele próprio.
Interessante que a regra da identidade física do juiz, presente no artigo 132
do CPC/73 não foi repetida no CPC de 2015. Porém a mesma não foi abolida.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Primeiro, porque tal mandamento é decorrente do princípio da oralidade. Em segundo


lugar, porque, ao que parece, o artigo 366 do CPC manteve a identidade física ao
determinar que “encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá
sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias”.

Agora, é claro que se o juiz estiver convocado, licenciado, afastado por


qualquer motivo, promovido ou aposentado, deverá passar os autos ao seu sucessor.
Nesta hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender necessário, poderá mandar
repetir as provas já produzidas.
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ANDRÉ MOTA

DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional


do Estado, prevista na Carta Maior de 1988 (artigos 127 ao 130-A) com a tripla função
de defender: 1) a ordem jurídica; 2) o regime democrático; 3) os interesses sociais e
individuais indisponíveis.
A constituição federal trata desta instituição de forma ampla, consagrando
regras acerca de suas funções, princípios informadores, composição, etc.
Considerando, no entanto, o objetivo deste curso começando do zero, é
necessário que abordemos apenas os aspectos relativos à atuação do ministério
público no processo civil, cuja disciplina vem encartada nos artigos 176 a 181 do CPC.
Pela leitura dos referidos artigos, perceberemos que o Ministério Público
poderá atuar na qualidade de parte ou de fiscal da ordem jurídica.

1. O Ministério Público na qualidade de “parte”

Em primeiro lugar, o legislador estabeleceu que o Ministério Público exercerá


o direito de ação nos casos previstos em lei.
Apesar de não ser “pessoa” (mas, sim, “órgão”, sem personalidade jurídica,
portanto), o Ministério público é dotado de “personalidade judiciária” para figurar como
partena defesa de suas prerrogativas institucionais, previstas em lei. Assim, o
Ministério Público está autorizado a atuar como parte nas ações de investigação de
paternidade (Lei nº 8.560/92), anulação de casamento (artigo 1.549, CC), ação civil
pública (Lei nº 7.347/85), ação civil de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92),
etc.
Atuando na qualidade de parte, cabe-lhe, no processo, os mesmos poderes e
ônus que às partes. Isto quer dizer que, além de gozar dos mesmos favores
processuais (poder de recorrer, participar de audiência, juntar rol de testemunhas,
impugnar documentos, etc.), o órgão ministerial também se sujeitará aos mesmos
encargos.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Mas não podemos equiparar totalmente o tratamento do representante do


ministério público àquele dado aos particulares. É que, em virtude dos interesses
relevantes que defende, o ministério público deve gozar de certas prerrogativas, não
concedidas aos litigantes particulares. É o que ocorre, por exemplo, com o prazo
dobrado para se manifestar-se nos autos (artigo 180, CPC), isenção no pagamento
das custas do recurso (artigo 1.007, parágrafo 1º, CPC) e a intimação pessoal, com
vista dos autos (artigo 180, CPC).

2. O Ministério Público na qualidade de “Fiscal da ordem jurídica”

O ministério público ainda pode intervir na qualidade de fiscal da ordem


jurídica. Neste caso ele será um “zelador” ou “cuidador” do interesse que justificou a
sua intervenção.
Quando a lei considerar obrigatória a intervenção do Ministério Público, a
parte promover-lhe-á a intimação sob pena de nulidade do processo. O legislador
levou tão a sério esse comando, que estipulou como hipótese ensejadora de ação
rescisória a não participação do representante do Ministério público nos casos em que
a lei exija (artigo 967, III, “a”, CPC).
Compete ao Ministério Público intervir:
→ nas causas em que há interesses de incapazes: vale ressaltar que
deverá o Ministério público estar presente no feito, independentemente de estar o
incapaz representado ou assistido pelo respectivo representante legal. Ora, não
podemos confundir capacidade de estar em juízo (realização de atos, pelo
representante, em nome do representado, já que este, por si só, não pode praticar
atos) com a intervenção ministerial (fiscalização da preservação do interesse do
incapaz).
→ nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural ou
urbana e nas demais causas em que há interesse público ou social: o objetivo foi
proteger o interesse público, o qual não se confunde com o mero interesse patrimonial
da fazenda pública. O simples fato de uma pessoa jurídica de direito público figurar
como parte numa demanda não significa que haja interesse público que justifique a
intervenção ministerial (artigo 178, parágrafo único, CPC). É por isso que, em certas
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

ações, o representante do MP se manifesta no sentido de dizer que não há relevante


razão que justifique a sua participação no feito.
Atuando como fiscal da ordem jurídica, o Ministério Públicoterá vista dos autos
depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo. Poderá, também,
juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou
diligências necessárias ao descobrimento da verdade.

3. Responsabilidade

O órgão do Ministério Público será civilmente responsável quando, no


exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude (artigo 181, CPC).
Perceba que, assim como ocorre com o juiz, não existe, em nosso
ordenamento jurídico, a possibilidade de responsabilização pessoal do representante
do Ministério Público por ato culposo, mas tão somente doloso ou fraudulento. Isto
quer dizer que, se o jurisdicionado tiver prejuízo em virtude de ato culposo do
representante do Ministério Público, poderá apenas voltar-se com ação de
indenização contra o Estado (em se tratando do MP estado) ou contra a União (acaso
se trate de MP federal), não havendo que se falar em responsabilidade civil regressiva
em face do representante do MP.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

DA ADVOCACIA PÚBLICA

Incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os


interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por
meio da representação judicial, em todos os âmbitos federativos, das pessoas
jurídicas de direito público que integram a administração direta e indireta.

Quanto às prerrogativas, a União, os Estados, o Distrito Federal, os


Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de
prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá
início a partir da intimação pessoal.O legislador considera como intimação pessoal
acarga, remessa ou meio eletrônico.

Ressalte-se que não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei


estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

Por fim, assim como ocorre com o juiz e membro do Ministério Público, o membro
da Advocacia Pública será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo
ou fraude no exercício de suas funções.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

ATOS PROCESSUAIS

Assim como ocorre com os atos jurídicos em geral, os atos processuais são
ações voltadas à produção de feitos jurídicos. Aqui, todavia, o objetivo é produzi-los
no âmbito da relação jurídica processual (endoprocessual).

1. Forma

Os atos processuais não dependem de forma, a não ser quando a lei


expressamente estabelecer. Mas, ainda que estabeleça forma, o ato será realizado
se, realizado de outra maneira, atinja a sua finalidade. É o que chamamos de “princípio
da instrumentalidade das formas”, expresso no artigo 188, CPC.
Em todos os atos do processo é obrigatório o uso da língua portuguesa.
Ressalte-se que o emprego de certas expressões em latim (mutatis mutandis,
data vênia, verbi gratia, etc.) já faz parte do cotidiano forense, não sendo proibida a
sua utilização.
O documento redigido em língua estrangeira só poderá ser juntado aos autos
quando devidamente traduzido, na língua nacional, por tradutor juramentado.

2. Publicidade

Os atos processuais são públicos. Esta publicidade tem um duplo


significado: publicidade das audiências e publicidade quanto à consulta dos autos.
As audiências são públicas, sendo, a princípio, proibidos os julgamentos
secretos. O objetivo é evitar o arbítrio por parte dos julgadores. Assim, qualquer
pessoa poderá adentrar e sair das salas de audiências.
Por outro lado, a consulta dos autos também é pública. Isto significa que
qualquer pessoa poderá se dirigir até um cartório judiciário e manusear os fólios de
um processo (a retirada, no entanto, é facultada apenas às partes).
A regra da publicidade dos autos sofre exceção: é o que chamamos de
“segredo de justiça”. O legislador determinou o processamento de certos feitos em
segredo de justiça preocupado em preservar o interesse público ou a intimidade das
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

partes (que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação,


união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; em que
constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; cumprimento de
carta arbitral em que tenha sido estabelecida a confidencialidade).
Nestes casos, o direito de consultar os autos e de pedir certidões será restrito
às partes e aos seus advogados. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode
requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como do inventário e
partilha.

3. Classificação dos atos processuais

A depender do protagonista que realiza o ato, podem eles ser classificados da


seguinte forma:
→ atos das partes: a maior quantidade de atos processuais é realizada pelas
partes, as quais são os sujeitos diretamente interessados no feito. Os seus atos
podem ser chamados de atos de obtenção ou de atos de disposição. Os atos de
obtenção são aqueles que visam a aquisição de vantagem processual (ex: petição
inicial, defesa, depoimento pessoal, etc.). Por sua vez, os atos de disposição são
aqueles pelos quais as partes visam dispor de um direito que possuem (ex: desistência
da ação, reconhecimento da procedência do pedido, transação, etc.).

ATENÇÃO!
Os atos processuais realizados pelas partes produzem efeitos de imediato,
independentemente de homologação judicial. Significa dizer que se, por exemplo, o
recorrente renuncia expressamente ao direito de recorrer (ato de disposição), não
pode ele, posteriormente, “voltar atrás” e querer interpor o recurso, pois o ato
processual de renúncia produziu instantaneamente os seus efeitos.
Mas, atenção! A regra cima possui exceção: ela diz respeito à desistência da
ação(art. 200, parágrafo único, CPC). A desistência da ação somente produzirá efeitos
depois de homologada pelo juiz. Assim, por exemplo, se o autor apresentar petição
na qual desiste da ação, enquanto esta não for homologada pelo juiz, poderá ele
“voltar atrás” e dar seguimento ao feito.
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ANDRÉ MOTA

→ atos do juiz: três são os pronunciamentosdo juiz: sentença, decisão


interlocutória e despacho. A sentença é o ato do juiz que põe fim ao procedimento
cognitivode primeiro grau, resolvendo ou não o mérito, ou ato que declara a extinção
da execução; Adecisão interlocutória é o ato que resolve uma questão incidente sem,
no entanto, pôr fim ao processo(ex: decisão que concede ou nega uma tutela
antecipada; decisão que resolve incidente de contradita de testemunha, acolhendo ou
rejeitando a oitiva da mesma, etc.); Odespacho, por sua vez,é o ato do juiz que visa
dar mero seguimento ao feito, sem nada decidir (ex: despacho de citação do réu;
despacho para intimar as partes da designação de audiência, etc.); O acórdão é a
decisão proferida pelos tribunais (chama-se “acórdão” pelo fato de ser tomada por
mais de um juiz que “entram em acordo”, ou seja, eles “acórdão”).
É importante identificar qual a espécie de pronunciamento judicial, na medida
em que a espécie recursal cabível (apelação, agravo, etc.) dependerá da natureza do
ato. Ressalte-se que, dos despachos, não caberá recurso haja vista que o mesmo não
possui carga decisória e, por isso, não poderá prejudicar a parte (artigo 1.001, CPC).
→ atos do escrivão: são aqueles praticados pelo serventuário em questão,
com o devido auxílio de outros serventuários (técnicos judiciários, analistas judiciários
ou escreventes), chamados de “auxiliares da escrivaninha”.

CITAÇÃO

1. Definição

Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado


para integrar a relação processual (artigo 238, CPC)

É nulo o processo em que não tenha havido a citação, ressalvadas as


hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido
(artigo 239, CPC). É possível até que o réu não compareça, mas o que não se admite
é que o mesmo não tenha sido citado.
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O comparecimento espontâneo do réu supre, entretanto, a ausência de


citação. É que, neste caso, apesar de não ter sido regularmente citado, a finalidade
fora alcançada: a ciência, pelo réu, do ajuizamento da ação. Por isso, fluirá a partir
desta data o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à execução.

2. Modalidades

A citação pode ser real ou ficta.

Será real quando houver a certeza de que dela o destinatário tomou


conhecimento. É o caso da citação pelo correio e por intermédio de oficial de justiça
(art. 246, I E II, CPC). Nestas situações, como há a necessidade de que o réu ponha
sua assinatura no aviso de recebimento (se feita pelo correio) ou nota de ciente no
mandado (se feita por oficial de justiça), haverá uma certeza de que o mesmo tomou
conhecimento.

A citação ficta, por sua vez, é aquela em que há uma mera presunção ou
ficção de que o destinatário tomou conhecimento. Aqui se incluem as citações por
hora certa (feita quando há suspeita de ocultação do réu que fora procurado por duas
vezes) e por edital (réu incerto ou que reside em local incerto ou não sabido). Nestas
situações, não se tem a certeza de que o réu tomou conhecimento (pois inexiste
qualquer elemento “real” que afirme sua ciência), mas há tão somente uma presunção
criada pela lei.

3. Efeitos

Visto ser um ato jurídico, a citação é capaz de produzir efeitos. Assim, a


citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência,
torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor.

Ressalte-se que a interrupção da prescrição, operada pelo despacho que


ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de
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propositura da ação. Assim, não será possível, por consequência, decretar a


prescrição ou decadência pela demora da citação, se esta ocorreu em virtude de
mecanismos inerentes à justiça (Súmula 106, STJ).

4. Proibições

Não se fará, porém, a citação, salvo para evitar o perecimento do direito: I - de


quem estiver participando de ato de culto religioso; II - de cônjuge, de companheiro
ou de qualquer parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha
colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes; III -
de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao casamento; IV - de doente,
enquanto grave o seu estado.

5. A citação eletrônica como regra no sistema processual (lei 14.195/2021)

A CITAÇÃO, regra geral, será feita preferencialmente por MEIO


ELETRÔNICO, no prazo de até 2 (dois) dias úteis, contado da decisão que a
determinar.
A regra geral sempre foi a da citação pelo CORREIO, mas a lei 14.195/2021
mudou tal comando, de modo que a citação será realizada, agora, preferencialmente
por meio ELETRÔNICO (art. 246, CPC).
Esta comunicação será feita por meio dos endereços eletrônicos indicados
pelo citando no banco de dados do Poder Judiciário.
É por isso que a União, Estados, Distrito Federal, Municípios, entidades da
administração indireta, as empresas públicas e privadas são obrigados a manter
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos (cadastro feito junto ao
tribunal), para efeito de recebimento de citações e intimações.
Somente quando frustrada a citação ELETRÔNICA é que se fará a citação
pelos demais meios (correio, oficial de justiça, etc).
Estas citações por correio eletrônico serão acompanhadas das orientações
para realização da CONFIRMAÇÃO DE RECEBIMENTO de código identificador que
permitirá a sua identificação na página eletrônica do órgão judicial citante.
É preciso que o réu CONFIRME o recebimento em até 3 (três) dias úteis,
contados do recebimento da citação eletrônica. Não havendo esta confirmação, a
citação será realizada pelos demais meios (correio, oficial de justiça, pelo escrivão- se
o citando comparecer em cartório- ou por edital).
Mas, ATENÇÃO: na primeira oportunidade de falar nos autos, o réu que foi
citado nas demais formas deverá apresentar JUSTA CAUSA para a ausência de
confirmação do recebimento da citação enviada eletronicamente.
Considera-se ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA, passível de
multa de até 5% (cinco por cento) do valor da causa, deixar de confirmar no prazo
legal, sem justa causa, o recebimento da citação recebida por meio eletrônico.
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ANDRÉ MOTA

Feita a CITAÇÃO ELETRÔNICA, considera-se INÍCIO DO PRAZO o quinto


dia útil seguinte à confirmação do recebimento da citação.

6. Citação x Intimação

A citação não se confunde com intimação. Enquanto a citação é ato inicial


que chama o réu, interessado ou executado para compor a relação jurídica, a
Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo,
para que faça ou deixe de fazer alguma coisa.
As intimações serão feitas, preferencialmente, por meio eletrônico. Quando
não realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela
publicação dos atos no órgão oficial.
Os advogados poderão requerer que, na intimação a eles dirigida, figure
apenas o nome da sociedade a que pertençam, desde que devidamente registrada na
Ordem dos Advogados do Brasil (artigo 272, § 1o, CPC)
Sob pena de nulidade, é indispensável que da publicação constem os nomes
das partes e de seus advogados, com o respectivo número de inscrição na Ordem
dos Advogados do Brasil, ou, se assim requerido, da sociedade de advogados.
Vale ressaltar que a grafia dos nomes das partes não deve conter
abreviaturas.
A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga pelo advogado, por
pessoa credenciada a pedido do advogado ou da sociedade de advogados, pela
Advocacia Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público implicará
intimação de qualquer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de
publicação.
Não sendo o caso de intimação eletrônica e na localidade não houver órgão
de publicação oficial, as intimações serão feitas às partes, aos seus representantes
legais e aos advogados pelo correio ou, se presentes em cartório, diretamente pelo
escrivão ou chefe de secretaria.
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PRAZOS PROCESSUAIS

1. Definição

Sabe-se que o direito não protege os que dormem. Assim, faz-se mister a
fixação de lapso temporal no qual deva ser o ato processual realizado, tudo com o fito
de evitar com que o processo se eternize.
Prazo processual é o lapso temporal no qual o ato processual deva ser
praticado.

2. Classificação

Considerando os dispositivos legais pertinentes à matéria, podemos expor a


seguinte classificação:

→ legais: são aqueles previstos em lei. Em regra, os atos processuais serão


realizados nos prazos previstos em lei (artigo 218, CPC). Assim, a resposta do réu
será apresentada em 15 (quinze) dias (artigo. 335, CPC); o recurso de apelação será
interposto no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.003, § 5o, CPC) etc.

→ judiciais: são aqueles fixados pelo juiz. Quando a lei não estipular o prazo,
o juiz o fixará, atentando a complexidade do ato (ex: a lei não menciona qual o prazo
para a entrega do laudo pericial, deixando para que o juiz fixe).

Ressalte-se que, não havendo prazo legal ou judicial, o ato a cargo da parte
deverá ser realizado em 5 (cinco) dias (artigo 218 § 3o, CPC).

→ peremptórios: são aqueles que não podem sofrer prorrogação. Coincidem


com os prazos legais, os quais, em regra, não sofrerão dilatação.
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→ dilatórios: aqueles suscetíveis de redução ou prorrogação mediante


convenção das partes (desde que feito ao juiz antes do vencimento e se funde em
motivo legítimo) ou decisão judicial.

ATENÇÃO!
Duas observações precisam ser feitas.

A primeira é que, nas comarcas de difícil transporte, o juiz poderá prorrogar


quaisquer prazos, mas nunca por mais de dois meses. Em caso de calamidade
pública, poderá ser excedido o limite em questão.

A segunda é que a classificação entre prazos dilatórios e peremptórios acabou


perdendo um pouco a importância com o CPC de 2015, uma vez que as partes
passaram a poder, mediante negócio processual, fixar regras de prorrogação de
prazos (artigo 190, CPC). Mas a diferença continua a existir: perceba que um ponto
de distinção dos prazos dilatórios e peremptórios é que o juiz não pode antecipar os
prazos peremptórios sem a anuência das partes.

→ próprios: são aqueles destinados às partes e cujo descumprimento


acarreta ônus, ou seja, ou posição de desvantagem no processo. Se o réu não
contestar dentro do prazo, por exemplo, sofrerá os efeitos da revelia (presunção de
veracidade dos fatos afirmados na petição inicial).

→ impróprios: são destinados aos juízes e demais protagonistas da


jurisdição (auxiliares e serventuários). É o que ocorre, por exemplo, com o prazo que
o juiz dispõe para emitir um despacho (cinco dias) ou sentença (trinta dias), conforme
disposto no artigo 226, CPC. O descumprimento de um prazo impróprio não acarreta
uma posição de desvantagem por um motivo muitos simples: o magistrado e os
serventuários não possuem interesse no feito.
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3. Contagem

“Início do prazo” não se confunde com “cômputo do prazo”. O “início do prazo”


é marcado por ser o termo inicial fixado para a prática do ato (não levado em
consideração na contagem), ao passo que o “cômputo do prazo” é o primeiro dia
levado em consideração à contagem do prazo. Assim entende o legislador quando o
mesmo aponta que “contam-se os prazos excluindo-se o dia do começo e incluindo-
se o do vencimento” (artigo 224, CPC). Dessa forma, se Maria, por exemplo, for
intimada de uma decisão numa terça-feira (termo inicial ou início do prazo), o
cômputo somente se dará no primeiro dia útil seguinte (quarta-feira), e assim, por
diante.
Com o CPC/2015, os prazos passam a ser contados em dias úteis, de modo
que não se inclui no cômputo os sábados, domingos e feriados (artigo 219, CPC).
Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro
dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado
antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação
eletrônica.

ATENÇÃO!
Lembre-se de que certos sujeitos possuem a prerrogativa de prazos mais
“elastecidos”. Assim:
O Ministério Público e as pessoas jurídicas de direito público disporão
de prazo dobrado para manifestação nos autos (artigos 180 e 183, CPC); Quando os
litisconsortes tiverem diferentes procuradores, de diferentes escritórios de
advocacia, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e,
de modo geral, para falar nos autos (art. 229, CPC); a defensoria pública também
terá todos os prazos contados em dobro (art. 186, CPC).
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DA TUTELA PROVISÓRIA

A tutela provisória é temática tratada no livro V da parte geral do Código de


Processo Civil de 2015, abrangendo os artigos 294 a 311.
Na verdade, a expressão “Tutela Provisória” é gênero, do qual são espécies as
tutelas de urgência e a tutela de evidência. As Tutelas de urgência, por sua vez, se
dividem em tutela de urgência de natureza cautelar e tutela de urgência de natureza
antecipada.

1. DAS TUTELAS DE URGÊNCIA

O Estado realiza a jurisdição sob duas formas: pela cognição, quando o


magistrado, diante dos elementos trazidos aos autos pelas partes (provas), faz a
concreção da norma ao caso abstrato, dizendo a vontade da lei; e pela execução,
quando torna efetiva, vale dizer, real, esta mesma vontade.
Acontece que a prestação não surge instantaneamente, sendo certo que o
adequado decisório apenas se dará após uma longa sequência de atos que levarão
ao convencimento do juiz.
E é justamente nesse interregno (demora-tempo) que o estado de pessoas e
benspode sofrer mutações (desvio, deterioração, alienação etc.) que, se não
obstadas, levam à inutilização do provimento jurisdicional.
De nada adiantaria determinar a partilha de bens em divórcio se um dos
cônjuges já tivesse dilapidado os bens ao tempo da prolação da sentença; ou
determinar que o devedor pagasse dívida quando este, no curso do processo de
conhecimento, já tivesse dissipado os bens que possuía.
Tanto pessoas quanto os bens podem, em virtude da demora, enfrentar
situação de risco de dano, por conduta de um dos litigantes ou por evento ocasional,
casos que poderão comprometer o resultado útil do processo. Para a proteção
provisória de todos eles tem cabimento a atuação datutelade urgência de natureza
cautelar.
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Existem situações, por outro lado, em que a urgência vai mais além,
justificando a entrega imediata do próprio objeto da relação litigiosa, sob pena de
perecimento do direito postulado pela parte: são os casos de tutela de urgência de
natureza antecipada.
Imagine, por exemplo, que o plano de saúde negasse autorização de cirurgia
a determinado paciente, levando-o a ajuizar ação de obrigação de fazer. Sendo a
cirurgia de urgência, não poderia o autor esperar todo o transcorrer da relação
processual para só ao final poder submeter-se a intervenção cirúrgica. Assim, seria
necessária providência de urgência que possibilite o gozo imediato do próprio objeto
do litígio (no caso, a obrigação de fazer).
Dentro de uma perspectiva do amplo acesso, o objetivo da jurisdição é
conceder a solução justa, ou seja, apta a produzir efeitos que restabeleça, em efetivo,
a ordem jurídica abalada.
O CPC de 2015 tratou das tutelas de urgência (de natureza cautelar e
antecipada) em sua parte Geral, Livro V.

1.1. ASPECTOS COMUNS ÀS TUTELAS DE URGÊNCIA (CAUTELAR E TUTELA


ANTECIPADA)

A) Considerações gerais

A tutela de urgência de natureza cautelar é baseada na necessidade de


prevenir situações de perigo de dano ou risco o resultado útil do processo. Ressalte-
se que a mesma não tem caráter satisfativo, uma vez que não chega a antecipar o
objeto do litígio.
No sistema do CPC de 1973 a tutela cautelar era fornecida através de um
processo autônomo, de natureza cautelar. Assim, ele era apresentado como um
terceiro gênero de manifestação da jurisdição, ao lado dos processos de
conhecimento e de execução. A postulação de uma medida de urgência de natureza
cautelar demandava a apresentação de petição inicial, endereçada ao juízo vinculado
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
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ao processo principal, com a necessidade de distribuição e recolhimento das


respectivas custas processuais.
Visando promover a celeridade e simplificação dos procedimentos, o CPC de
2015 passa a possibilitar a concessão de tutela de urgência de natureza cautelar
dentro da mesma relação processual que visa preservar, sem que haja, portanto,
a necessidade de instaurar novo processo, com os pagamento das respectivas custas.
É o que chamamos de “sincretismo processual”. Portanto, diante da
sistemática atual, é possível que, dentro de uma mesma relação processual,
tenhamos providências de natureza cognitiva, executiva ou cautelar.
Por outro lado, a tutela antecipada é medida de urgência de caráter
satisfativo que visa conferir à parte o gozo imediato e provisório do objeto perseguido
na demanda.

B) Requisitos

Considerando que as medidas de urgência têm caráter, muitas vezes,


restritivo de direitos, não podem ser as mesmas concedidas sem que estejam
preenchidos certos requisitos.
Destarte, é mister que haja a presença de dois requisitos, previstos no artigo
300 do CPC, a saber: probabilidade do direito (conhecido tradicionalmente
comofumus boni iuris) e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo
(conhecido como periculum in mora).
A probabilidade do direito pode ser traduzida como a aparência do bom
direito. Aqui o direito da parte requerente necessita ser plausível, provável, verossímil.
Destarte, o magistrado deverá verificar, através das provas disponíveis, se
existem resquícios de um direito merecedor de proteção.
O periculum in mora é requisito que se relaciona ao risco efetivo de que a
ausência da medida cause dano ou comprometa o resultado útil do processo. A parte
não pode simplesmente alegar um risco. Ela tem de provar a sua alegação. O risco,
ademais, tem de ser relevante. A mera suposição de risco ou ameaça é pouco para o
deferimento da medida.
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C) Características

As tutelas de urgência possuem as seguintes características:

→Revogabilidade: Não obstante tenham sido deferidas, as medidas de


urgência podem ser revogadas a qualquer tempo, quando não estiverem presentes
os requisitos que as ensejaram, a teor do disposto no artigo 296 do CPC.
Imaginemos que numa ação de divórcio, a esposa, com receio de ver frustrada
uma futura partilha de bens, tenha requerido uma tutela de urgência cautelar de
sequestro dos bens do casal, sob a alegação de que o esposo estaria vendendo os
bens. O magistrado deferiu o pedido. Ocorre que, posteriormente, o marido demonstra
que, na verdade, apenas teria vendido um bem do casal que se encontrava em
péssimo estado de conservação e o dinheiro da alienação teria sido depositado numa
conta conjunta do casal. Verificando tal fato, por óbvio, não haveria mais razões para
tal medida permanecer perante o mundo jurídico, haja vista que o perigo de dano
restaria ausente. Destarte, a medida de urgência mereceria revogação.
Ressalte-se que, consoante os termos do artigo 298 do CPC, na decisão que
revogar a medida de urgência, o juiz deverá fundamentar o seu convencimento de
modo claro e preciso.

→Provisoriedade: conforme afirmado alhures, a medida de urgência de


natureza cautelar, ao lado da medida de urgência de natureza antecipada, estão
inseridas como espécies de “tutela provisória”.
Significa dizer que a medida já nasce com a vocação para sobreviver por
tempo delimitado, precisamente entre a sua efetivação e o fim do processo em que
a mesma fora deferida.
Assim, por exemplo, uma medida cautelar de arresto futuramente
desaparecerá e será substituída pela penhora. Da mesma forma, uma medida de
natureza antecipada que tenha fixado uma obrigação de fazer será futuramente
substituída por uma decisão definitiva que julgar o mérito da demanda.
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→Sumariedade: decorrente do caráter perfunctório, superficial, do juízo de


cognição exercido. Aqui o magistrado decide com base num juízo de mera
probabilidade (fumus boni iuris). Tanto o é que, após o transcorrer da demanda e a
coleta exaustiva dos elementos de prova, a medida de urgência poderá ser revogada.

D) Distinção

A tutela de urgência cautelar não tem o escopo de satisfazer antecipadamente


o direito material posto em questão na causa principal. O que se obtém na tutela de
urgência de natureza cautelar é tão somente uma prevenção contra risco de dano
imediato que afeta interesse litigioso da parte e que compromete a eficácia da tutela
definitiva a ser outorgada no processo de mérito.
Já a tutela de urgência de natureza antecipada busca conceder à parte o gozo
provisório e imediato do próprio direito perseguido.
Assim, enquanto a tutela cautelar visa apenas assegurar o objeto do
processo, a tutela de urgência antecipada concede, de imediato, tal objeto. Noutros
termos, a tutela cautelar “assegura para, ao final, “satisfazer”, ao passo que a tutela
antecipada “satisfaz” para, ao final, “assegurar”.

1.2. DA TUTELA ANTECIPADA

A tutela de urgência de natureza antecipada visa conceder, de imediato, à


parte, o gozo provisório da tutela pretendida no pedido inicial.

Cabe-nos, nas próximas linhas, analisar o procedimento para o seu


deferimento, seja em caráter incidental, seja em caráter preparatório.

A) Tutela de natureza antecipada requerida em caráter incidental

A tutela antecipada em caráter incidental será pleiteada através de simples


requerimento, desde que preenchidos os requisitos legais. De igual modo, aqui não
haverá necessidade de recolhimento de custas adicionais.
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B) Tutela de natureza antecipada requerida em caráter antecedente

Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, o


procedimento observará o seguinte:

→ petição inicial: pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à


indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca
realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.

Na petição inicial, o autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em
consideração o pedido de tutela final.

→ indeferimento da tutela: caso entenda que não há elementos para a


concessão de tutela antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da
petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser
extinto sem resolução de mérito.

→deferimento da tutela e aditamento: concedida a tutela antecipada, o autor


deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a
juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15
(quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar. Não realizado o aditamento, o
processo será extinto sem resolução do mérito.

Vale salientar que o aditamento dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de
novas custas processuais.

→procedimento comum:o réu será citado e intimado para a audiência de


conciliação ou de mediação. Não havendo autocomposição, seguir-se-á o
procedimento, com a apresentação da contestação e demais termos.

→ estabilização da medida de urgência de natureza antecipada:A tutela


antecipadatorna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o
respectivo recurso, caso em que o processo será extinto.

Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar
ou invalidar a tutela antecipada estabilizada.A tutela antecipada conservará seus
efeitos enquanto não revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida
na ação ajuizada.

Para instruir a petição inicial da ação, qualquer das partes poderá requerer o
desarquivamento dos autos em que foi concedida a medida, devendo a demanda ser
distribuída por dependência perante o juízo em que a tutela antecipada foi concedida.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada extingue-


se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo.

A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos
respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar,
proferida em ação ajuizada por uma das partes.

TUTELA DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR

A tutela de urgência de natureza cautelar objetiva resguardar pessoas ou coisas,


com a finalidade de assegurar o resultado útil do processo.

Cabe-nos, agora, analisar o procedimento para o seu deferimento, seja em


caráter incidental, seja em caráter preparatório.

A) Tutela de natureza cautelar requerida em caráter incidental

Com o CPC de 2015, a tutela de natureza cautelar, quando já existente processo


em curso, passa a ser requerida através de simples pedido no processo principal,
dispensado o recolhimento de custas ou abertura de nova relação processual.

A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante


arresto,sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação
de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.

B) Tutela de natureza cautelar requerida em caráter antecedente

Não obstante seja mais comum o requerimento de tutelas provisórias no curso


do processo, é possível a urgência surja antes mesmo do ajuizamento da demanda.
É o caso, por exemplo, da dilapidação dos bens do casal por um dos cônjuges antes
mesmo do ajuizamento da ação de divórcio; ou mesmo a alienação de bens intentada
pelo devedor antes do ajuizamento da cobrança da dívida.

Para todos esses casos, o ordenamento jurídico possibilitou que o sujeito


prejudicado pudesse requerer medida cautelar em caráter antecedente, ou seja, antes
mesmo do ajuizamento da demanda, possibilitando a posterior formulação do pedido
principal no prazo de trinta dias.

O deferimento da tutela de urgência de natureza cautelar, quando requerida em


caráter antecedente, deverá atender o seguinte procedimento:
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→ Petição inicial:a petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar
em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do
direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.

→ Citação: o réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido
e indicar as provas que pretende produzir.

→ Posturas do requerido: não sendo contestado o pedido, os fatos alegados


pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá
dentro de 5 (cinco) dias. Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o
procedimento comum.

→ Formulação do pedido principal: efetivada a tutela cautelar, o pedido


principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que
será apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar,
não dependendo do adiantamento de novas custas processuais.

A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação do pedido


principal.

Vale ressaltar que o pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o
pedido de tutela cautelar (art. 308, § 1o, CPC).

O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule o pedido


principal, salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de decadência ou
de prescrição.

→ Adoção do rito comum: apresentado o pedido principal, as partes serão


intimadas para a audiência de conciliação ou de mediação, por seus advogados ou
pessoalmente, sem necessidade de nova citação do réu.

Destarte, não havendo autocomposição, seguir-se-á o prazo para contestação e


demais termos.

→ Cessação da eficácia da medida cautelar:Cessa a eficácia da tutela


concedida em caráter antecedente nas hipóteses do artigo 309, CPC, a saber:I - o
autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;II - não for efetivada dentro de 30
(trinta) dias;III - o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou
extinguir o processo sem resolução de mérito.

Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é vedado à parte


renovar o pedido, salvo sob novo fundamento.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

TUTELA DE EVIDÊNCIA

Sabemos que, geralmente, é o autor quem acaba sofrendo o ônus da demora do


processo, sendo certo que somente alcançará aquilo que postula em juízo ao final do
trâmite processual, máxime com o trânsito em julgado da decisão ou, ao menos, com
decisão que não esteja sujeita a recurso com efeito suspensivo.

Ocorre, todavia, que existem situações onde o direito da parte é tão evidente que
seria injusto fazê-la esperar por todo o trâmite processual para que a mesma viesse
gozar o bem da vida.

É neste contexto que surge a tutela de evidência como modalidade de tutela


provisória que consiste na antecipação do objeto da demanda, independentemente
da existência de urgência.

As situações estão listadas no artigo 311, CPC, senão vejamos:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito


protelatório da parte: aqui a doutrina costuma denominar como “tutela de evidência
punitiva”, uma vez que o motivo de sua concessão é exatamente um comportamento
reprovável por parte do réu. É o que ocorre, por exemplo, quando o réu é contumaz
ligante, e se utiliza de defesas “padrão”, muitas vezes impugnando pedidos que,
sequer, foram formulados pelos autor, tudo no intuito de protelar o feito.

II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas


documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou
em súmula vinculante: nesta hipótese, a ideia é que o magistrado possa conceder o
gozo provisório à parte do direito pacificado no âmbito dos tribunais, seja através de
súmula ou de julgamento de casos repetitivos. Imagine, por exemplo, que o autor
propôs ação com o objetivo de pedir a revisão de contrato bancário sob o fundamento
de cobrança de taxa de natureza abusiva. Ao analisar a petição inicial, o juízo pode
perceber que já existe súmula a respeito da abusividade, o que implicará no
deferimento de medida provisória de evidência para determinar a revisão do contrato,
a fim de que o autor, no transcorrer da demanda judicial, passe a pagar uma
mensalidade inferior ao valor que vinha pagando.

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental


adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de
entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa: a hipótese trata da
chamada ação de depósito, a qual era disciplinada como procedimento especial no
CPC de 1973. O atual CPC deixou de discipliná-la como ação de rito especial
(passando a ser, por consequência, ação de rito comum), mas assegurou o
deferimento imediato de medida provisória que assegurasse ao autor reaver a coisa
depositada, desde que junte à petição inicial a prova do contrato de depósito,
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

demonstrando a evidência do direito que tem sobre a coisa depositada em poder do


réu.

IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável: caso a petição inicial esteja devidamente instruída com prova
suficiente dos fatos constitutivos do autor, e o réu não apresente prova que seja capaz
de colocar o magistrado diante de dúvida razoável, poderá haver o deferimento da
tutela de evidência.

Considerando que as hipóteses descritas nos itens I e IV pressupõem a


existência de um comportamento por parte do réu, a tutela de evidência somente
poderá ser deferida “liminarmente” sem a oitiva do réu nas hipóteses dos incisos II e
III.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

Antes de proceder a uma abordagem do procedimento (o passo a passo da


relação processual), cabe, no momento, verificar mais uma temática relevante dentro
da teoria geral do processo: os fenômenos jurídicos que ocasionam a formação,
suspensão e extinção da relação processual.
A temática em tela está disciplinada nos artigos 312 a 317 do CPC.
Como e quando o processo se formará? Uma vez formado, quais são as
hipóteses em que ele sofrerá paralisação? e quando será extinto?
São essas as indagações respondidas em nossa do nosso curso começando
do zero.

A) FORMAÇÃO

O processo civil começa por iniciativa da parte (ante a inércia da jurisdição),


mas se desenvolve por impulso oficial. Significa dizer que o processo é formado por
iniciativa da parte (com a entrega da petição inicial), mas, uma vez proposta a ação,
a relação processual se desenvolverá automaticamente pelo juízo (com a citação do
réu, intimação do autor para apresentar a réplica, designação de audiência preliminar,
audiência de instrução, etc.).
Considera-se proposta a ação quando a petição inicial forprotocolada.
Mas aí vem uma questão a ser resolvida: será que após a apresentação da
petição inicial, poderia a parte autora fazer alteração (aditamento) ao pedido ou causa
de pedir? Imagine, por exemplo, que a parte ajuizou ação pedindo indenização por
danos materiais mas, após a apresentação da petição inicial, decide pedir também
indenização pelos danos morais sofridos. Seria possível?
Bem, a resposta será encontrada no artigo 329 do CPC.
Feita a citação, é proibido ao autor modificar o pedido ou a causa de
pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes (estabilização
dos elementos da ação), salvo as substituições permitidas por lei.
A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será
permitida após o saneamento do processo.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

ATENÇÃO!
Estabelecidas as regras, podemos estabelecer o seguinte esquema de
fixação:

# Antes da citação: é possível ao autor alterar ou aditar o pedido;


# Depois da citação: a alteração ou aditamento dependerá de consentimento
do réu;
# Após o saneamento: em nenhuma hipótese será permitida a alteração ou
aditamento;

Ressalte-se que, em caso de alteração ou aditamento, será assegurado o


contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15
(quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar (artigo 329, II, CPC).

B) SUSPENSÃO

Uma vez iniciada a relação processual, esta se desenvolverá até a plena


realização do direito. Ocorre que, no curso processo, podem surgir fatos que
ocasionem a paralisação da marcha, do curso da relação processual.
As hipóteses de suspensão do processo foram listadas, de forma
exemplificativa, no artigo 313, CPC. Diz-se “exemplificativas”, pois existem outras
situações de suspensão previstas ao longo do diploma processual, tal como ocorre,
por exemplo, com o artigo 76, CPC.
Aponta o legislador a suspensão processual nos seguintes casos:
→ pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes,
de seu representante legal ou de seu procurador: no caso de morte ou perda da
capacidade processual de qualquer das partes,proceder-se-á com o pedido de
habilitação, o qual será feito pelo interessado, através do ajuizamento da ação de
habilitação, prevista nos artigos 687 a 692, CPC.
No caso de morte do procurador (advogado) de qualquer das partes, ainda que
iniciada a audiência de instrução e julgamento, No caso de morte do procurador de
qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz
determinará que a parte constitua novo mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao
final do qual extinguirá o processo sem resolução de mérito, se o autor não nomear
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

novo mandatário, ou ordenará o prosseguimento do processo à revelia do réu, se


falecido o procurador deste.

→ por convenção das partes: as partes poderão convencionar a suspensão


do processo, desde que por período que não exceda a 6 (seis) meses, findo o prazo,
o escrivão fará os autos conclusos ao juiz, que ordenará o prosseguimento do
processo.

→ quando for apresentada arguição de suspeição ou impedimento: a


arguição consiste em um instrumento processual onde a parte se volta contra a
pessoa do juiz, alegando a sua suspeição ou impedimento. (artigos 144 e 145, CPC).
A suspensão processual, nos casos em tela, ocorre por um motivo lógico: se a parte
está se insurgindo contra quem irá conduzir o processo (juiz), é necessário que o
incidente seja julgado antes de se prosseguir com a relação processual.

→ pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas:


conhecido como “IRDR”, aludido incidente foi trazido pelo CPC de 2015 com o objetivo
de promover a celeridade processual e segurança jurídica, na medida em que
possibilita que seja adotada um tese única para uma multiplicidade de processos que
versem sobre uma mesma matéria de direito no âmbito territorial de dado tribunal (TJ
ou TRF).

→ quando a sentença de mérito depender de uma questão prejudicial: é


possível que o andamento do processo seja paralisado em virtude de pendência a ser
solucionada por outro juízo. É o que se chama de “questão prejudicial”. O CPC afirma
que o processo será suspenso quando a sentença de mérito: a) depender do
julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou inexistência da relação
jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente; b) não puder ser
proferida senão depois de verificado determinado fato, ou de produzida certa prova,
requisitada a outro juízo; c) tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado,
requerido como declaração incidente.
Observa-se, portanto, que a suspensão se justifica pelo fato do juízo
necessitar aguardar resolução de questão prévia, a qual influencia no teor da questão
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

subordinada. É o caso, por exemplo, da suspensão de ação civil de indenização em


virtude de ato ilícito na pendência de ação penal cujo objeto é verificar se o houvera
ou não o fato; ou da paralisação de uma execução de título judicial em virtude da
existência de ação rescisória cujo objeto é justamente rescindir a sentença que serve
de base àquela execução.
Ressalte-se que, em todos os casos, o período de suspensão nunca poderá
exceder 1 (um) ano. Findo este prazo, o juiz mandará prosseguir no processo.
Se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de fato
delituoso, o juiz pode determinar a suspensão do processo até que se pronuncie a
justiça criminal.Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses, contado
da intimação do ato de suspensão, cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível
examinar incidentemente a questão prévia.Proposta a ação penal, o processo ficará
suspenso pelo prazo máximo de 1 (um) ano, ao final do qual cessará o efeito e o juízo
cível decidirá a questão prejudicial.

→ por motivo de força maior: é o acontecimento inesperado, consistente em


calamidade pública (tal como enchentes, rompimento de barragem, epidemias, etc.)
ou outro fato relevante (greve, por exemplo). A suspensão processual perdurará até
que a situação de normalidade termine.

→ quando a advogada tornar-se mãe ou o advogado tornar-se pai: a Lei


13.363/16 acrescentou mais uma hipótese de suspensão do processo, a saber,
quando a única advogada da parte tornar-se mãe ou o único advogado tornar-se pai,
independente de tratar-se de filiação natural ou por adoção. Para que haja a
suspensão do feito é necessário que seja efetuada a comprovação da maternidade
ou paternidade, mediante certidão de nascimento ou documento similar que comprove
a realização do parto, ou o termo de adoção. O prazo de suspensão processual será
de 30 (trinta) dias em se tratando de maternidade ou de 08 (oito) dias em se tratando
de paternidade, contados do parto ou da concessão da adoção.
Vistas as hipóteses de suspensão, é mister ressaltar, que, durante a
suspensão, é defeso praticar qualquer ato processual; poderá o juiz, todavia,
determinar a realização de atos urgentes, a fim de evitar dano irreparável.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

C) EXTINÇÃO

Extinguir significa finalizar o processo. Até o ano de 2005, o CPC de 1973


utilizava das expressões “extinção do processo sem julgamento do mérito” (artigo 267
do CPC/73) e “extinção do processo com julgamento do mérito” (artigo 269 do
CPC/73) para indicar a finalização da relação processual.
É que, após a sentença (ato que punha fim ao processo), a execução seria
instaurada mediante uma nova relação processual, agora denominada de “processo
de execução”, ou seja, tínhamos dois processos: o processo de conhecimento (que
se extinguia com a sentença) e processo de execução.
Ocorre que, com o advento da Lei nº 11.232/05, o legislador dispensou a
instauração de uma nova relação processual executiva quando a sentença não fosse
cumprida, de modo que os atos executivos passaram a ser realizados no bojo do
mesmo processo (o processo passou a ser “sincrético”, composto de fase cognitiva e
de fase de cumprimento de sentença).
Perceba, portanto, que, com a nova sistemática, o conceito de sentença
necessitou ser alterado, haja vista que o processo não mais seria “extinto” com a
mesma, prosseguindo-se os atos executivos nos próprios autos em que a fora
proferida a decisão.
É por isso que a expressão “extinção do processo com julgamento do mérito”,
contida no artigo 269 do CPC de 1973, passou a ser substituída pela expressão
“haverá resolução de mérito”. Tal mudança foi reproduzida no CPC de 2015.
O atual Código de Processo Civil, em seu artigo 485, aponta as situações em
que não haverá resolução de mérito:
→ quando o juiz indeferir a petição inicial: quando houver um vício
insanável, outra alternativa não restará ao julgador, a não ser indeferir a petição inicial.
As hipóteses de indeferimento estão listadas no artigo 330 do CPC: I - quando
for inepta; II - quando a parte for manifestamente ilegítima; III - quando o autor carecer
de interesse processual; IV - quando o advogado, que não informou o endereço em
que receberia intimações, não cumpriu com a determinação judicial de efetuar a
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

emenda da petição inicial em 5 (cinco) dias. V- quando o autor não emendar a petição
inicial nos casos legais

→ quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o


autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias: muitas das vezes, a
continuidade da relação processual depende de uma diligência a ser realizada pela
parte autora. É o que ocorre, por exemplo, quando o juízo determina que o autor
forneça novo endereço de réu que não fora encontrado.
Pois bem, nestas situações, o juízo pode ter determinado a providência e a
parte autora ter permanecido inerte, caso em que será determinada a extinção do feito
diante do abandono operado pela parte autora.
É necessário consignar que o juiz somente ordenará o arquivamento dos
autos, declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não
suprir a falta em 5 (cinco)dias.
→ quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das
partes:aqui ocorrerá a extinção processual em virtude de falta de interesse de ambas
as partes e não de apenas uma delas.
Imagine, por exemplo, que as partes haviam solicitado ao juízo a suspensão
do processo. Ultrapassado 6 meses (limite máximo de suspensão), as partes foram
intimadas para dizerem se têm interesse no prosseguimento do processo, porém não
se manifestaram. Ultrapassado o limite de um ano, o juízo determinará a extinção,
dada a negligência de ambas as partes.
Ressalte-se que o juiz ordenará o arquivamento dos autos, declarando a
extinção do processo, se as partes, intimadas pessoalmente, não supriram a falta em
5 (cinco) dias.
→ quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo: sendo matéria de ordem pública,
pode a mesma ser, inclusive, declarada de ofício pelo magistrado. A respeito dos
pressupostos processuais, vide parte III, Capítulo I, item 1.3, supra.
→quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de
coisa julgada (pressupostos processuais negativos): são fatos impeditivos ao
regular desenvolvimento da relação processual. Ocorrerá perempção quando o autor,
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

por três vezes, der causa à extinção do processo mediante abandono; a litispendência
ocorrerá quando o autor ajuizar ação que se encontra em curso; outrossim, haverá
coisa julgada quando se ajuizar ação anteriormente julgada e da qual não caiba mais
recurso.
→ quando verificada a ausência de legitimidade ou interesse processual:
as condições da ação também são matéria de ordem pública e que, se não estiverem
presentes, ocasionam a extinção do processo sem resolução de mérito. A respeitos
das condições da ação, confira as considerações feitas na parte II, capítulo únicodesta
obra.
→ pela convenção de arbitragem: é fato impeditivo que, se presente,
provoca a extinção processual. Se duas pessoas, ao celebrarem determinado negócio
jurídico, estipularam que um árbitro ou câmara arbitral resolveria eventual conflito, não
pode uma delas, uma vez instalada a controvérsia, dirigir-se ao judiciário em virtude
de fato impeditivo existente (convenção de arbitragem). Caso isso ocorra, o réu
poderá, na contestação, alegar a existência de convenção de arbitragem, pedindo a
extinção do processo sem resolução de mérito (artigo 337, X, CPC).
→ quando o autor desistir da ação: aqui, três nuances são muito
importantes e precisam ser verificadas: A primeira, no sentido de que desistência da
ação (modalidade de extinção do processo sem resolução do mérito) não se confunde
com renúncia ao direito em que se funda a ação (modalidade de extinção do processo
com resolução de mérito).
A segunda, é que, apresentada a contestação, o autor não poderá, sem o
consentimento do réu, desistir da ação(artigo 485, § 4o, CPC). É que o réu também
tem direito à tutela jurisdicional e pode ter interesse em dar continuidade ao processo,
a fim de ver o mérito sendo julgado. Ademais, como a extinção por desistência
ocasiona a extinção sem resolução de mérito, o réu poderia ficar com o receio de que
a parte autora mais tarde ajuizasse nova demanda.
A terceira, é que a desistência da ação pode ser apresentada até a sentença
(art. 485, § 5o, CPC). Depois de proferida a sentença, não há como haver a
desistência, uma vez que a demanda já fora julgada.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→ em caso de morte da parte, quando a ação for considerada


intransmissível por disposição legal: viu-se que, com a morte da parte, ocorrerá a
sucessão da mesma pelos seus herdeiros, ocasionando a suspensão do processo.
Ocorre, entretanto, que existem situações que o direito contido na ação é considerado
intransmissível, por ser ele personalíssimo. Imagine, por exemplo, uma ação movida
por João, servidor público, em face do estado, com o objetivo de anular ato
administrativo abusivo que ordenou a sua transferência para localidade distante de
sua residência. Se, no curso da demanda, João viesse a falecer, o processo seria
extinto sem resolução de mérito, por ser o direito contido na ação considerado
intransmissível.

As hipóteses de extinção do processo com resolução de mérito estão


previstas no artigo 487 do CPC (quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do feito na
ação ou reconvenção; quando a parte reconhecer a procedência do pedido feito na
ação ou reconvenção; quando o juiz homologar a transação; quando o juiz pronunciar
a decadência ou a prescrição; quando a parte renunciar ao direito sobre que se funda
a ação ou reconvenção).
Aqui vai uma dica bem simples para identificar todas elas: existe sempre um
responsável pela finalização do processo: o juiz, o autor, o réu, as partes ou o
tempo.
Assim, temos: a) quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido feito na ação ou
reconvenção (iniciativa do juiz); b) quando o juiz homologar a renúncia à pretensão
formulada na ação ou reconvenção (iniciativa do autor ou réu); c) quando o juiz
homologar o reconhecimento da procedência do pedido feito na ação ou reconvenção
(iniciativa do autor ou réu); d) quando o juiz homologar a transação (iniciativa de
ambas as partes); quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição (inércia da
parte).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

PROCEDIMENTO COMUM

O CPC de 2015 deixou de lado a divisão do procedimento comum existente no


CPC de 1973 (ordinário e sumário) para tratar de um único procedimento, denominado
simplesmente de “comum”, nos artigos 319 e seguintes.

Além do procedimento comum, existem os procedimentos especiais, os quais


serão tratados neste curso começando do zero em aulas futuras.

A dinâmica do procedimento comum passa a ser a seguinte:

1. PETIÇÃO INICIAL

A) Requisitos
Para que produza efeitos, é necessário que a mesma atenda aos requisitos
legais, previstos nos artigos 319 e 320 do CPC:

→o juízo a que é dirigida: a petição será endereçada à autoridade judiciária


competente, atentando-se às regras gerais de competência, previstas nos artigos 46
e seguintes do CPC.

→ II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável,


a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a
residência do autor e do réu: é necessário delimitar os sujeitos da lide, os quais
constituem um dos elementos da ação (partes).Perceba que será necessária a
indicação do CPF ou CNPJ, bem como dos endereços eletrônicos. A exigência de
CPF e CNPJ certamente é feita com vistas a facilitar futuro procedimento executivo
em face de devedor, possibilitando o bloqueio de contas bancárias, denominado de
“penhora online” (artigo 854, CPC). Já o endereço eletrônico é requisito relacionado
ao modelo contemporâneo de processo informatizado, trazido desde a lei
11.419/2006.

Ressalte-se que, caso não disponha das informações relativas à qualificação das
partes, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

sua obtenção. Ademais, a petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta
dessas informações, for possível a citação do réu.

→os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido: é a causa de pedir. São


as razões de fato e de direito que dão suporte ao pedido.
→o pedido, com as suas especificações: requisito, a nosso ver, de maior
relevância, motivo pelo qual faremos, à frente, maiores considerações.
→o valor da causa: a toda causa deve ser atribuído um valor, ainda que não
possua conteúdo econômico. O valor da causa corresponderá ao benefício pretendido
pelo autor.
O artigo 292 do CPC estabelece as diretrizes para calcular-se o valor da
causa: I - na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do
principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data
de propositura da ação; II - na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o
cumprimento, a modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o
valor do ato ou o de sua parte controvertida; III - na ação de alimentos, a soma de 12
(doze) prestações mensais pedidas pelo autor; IV - na ação de divisão, de demarcação
e de reivindicação, o valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido; V - na
ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido; VI - na
ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores
de todos eles; VII - na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor; VIII
- na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal.
→as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos
alegados: a petição inicial trará consigo as provas documentais. As demais serão
produzidas por ocasião da instrução, motivo pelo qual o autor deve apontar, na inicial,
aquelas que serão apresentadas oportunamente.

→ a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação


ou de mediação: O CPC aposta nestes instrumentos de resolução de conflitos,
visando implementar a celeridade processual. Aludida audiência somente deixará de
ser realizada se o litigio não admitir autocomposição ou se ambas as partes
manifestarem, expressamente, desinteresse na composição.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→documentos indispensáveis: além dos requisitos acima (intrínsecos), a


petição deverá vir acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura da
demanda (requisitos extrínsecos). Assim, por exemplo, em uma ação de alimentos, a
petição inicial estará acompanhada da certidão de nascimento, com o objetivo de
provar o parentesco que justifique a concessão dos alimentos; ou em uma ação
possessória, a petição deverá vir acompanhada de documento que comprove a
existência da posse.

B) Pedido

A sua importância se justifica no fato de que ele (o pedido) tem a função de


delimitar a atividade jurisdicional, de modo que, uma vez proposta a ação, não pode
o juiz julgar fora do pedido (extra petita), além daquilo que fora pedido (ultra petita) ou
deixar de se pronunciar sobre o pedido (citra ou infra petita).
Alguns aspectos de grande relevância referente ao pedido devem ser
analisados.
O primeiro deles diz respeito à cumulação de pedidos.
Pois bem, é possível que a petição inicial contenha mais de um pedido. A dita
cumulação pode se dar de forma:
#simples: quando houver a possibilidade de se formular pedidos que podem
ser atendidos de forma englobada ou somada, de modo que o autor pretenda obter
sucesso em todos eles (art. 327, CPC). É o que ocorre com a ação de indenização
por danos materiais cumulada com pedido de indenização pelos danos morais.
#sucessiva: quando o autor, de igual modo, formular mais de um pedido,
pretendendo o êxito de todos eles. O que diferencia a cumulação simples da sucessiva
é que, nesta, o resultado da análise de um pedido repercutirá na do outro. É o que
acontece na ação de investigação de paternidade c/c alimentos ouna ação de
investigação de paternidade c/c petição de herança, por exemplo. Perceba que, em
ambos os casos, a concessão dos alimentos ou direito à herança dependerá da
procedência do pedido de reconhecimento de paternidade.
#subsidiária ou eventual:quando formulado mais de um pedido para que o
juiz, não podendo conceder o anterior, conheça do posterior (art. 326, CPC). É o que
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ANDRÉ MOTA

ocorre, por exemplo, com a ação movida contra companhia aérea para o cumprimento
de obrigação de fazer (entrega de mala extraviada) ou pagamento do correspondente
em perdas e danos.
#alternativa: quando a obrigação puder ser satisfeita por mais de uma forma.
É o que ocorre com ação ajuizada contra uma casa de eventos que perturba vizinho.
Formulam-se dois pedidos: que a ré seja condenada a se abster de produzir barulhos
a partir de determinado horário ou que proceda com a instalação de acústica que
impeça a proliferação dos ruídos. O ponto marcante e que diferencia a cumulação
subsidiária da cumulação alternativa é que, aqui, não há ordem de prioridade entre
os pedidos. Na cumulação alternativa, o que o autor busca é a realização da
obrigação, não importando como.
O segundo aspecto importante, relativamente ao pedido, é o que ele deve ser
certo e determinado.
A certeza diz respeito à natureza do pedido (o que é devido ao autor, ou seja,
o andebeatur), podendo ser obrigação de pagar quantia, fazer, não fazer ou entrega
de coisa.
Assim, se o autor ajuizar ação requerendo ressarcimento pelos danos
materiais sofridos, não poderá receber indenização por danos morais, ainda que o
magistrado perceba um constrangimento de ordem moral, uma vez que tal pleito não
foi formulado.
Porém, existem situações onde, ainda que a parte não formule dado pedido,
este será atendido, por ser o mesmo mera decorrência da sucumbência. É o que
chamamos de pedido implícito, tal como ocorre com a condenação da parte
sucumbente ao pagamento das custas processuais, honorários advocatícios e juros
legais, os quais serão deferidos ainda não formulados.
Além de certo, deverá o pedido ser determinado, de modo que deve o autor
especificar o montantedo pedido (o quanto devido, ou seja, o quantum debeatur).
Assim, em uma ação ajuizada, além do autor indicar a natureza do seu pedido
(indenização por danos materiais, por exemplo), é necessário que ele informe,
também, o quanto lhe é devido (quantum debeatur).
O legislador possibilita, excepcionalmente, que o autor formule o chamado
“pedido genérico”. Significa dizer que existem situações em que, embora seja possível
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ANDRÉ MOTA

ao autor informar o que lhe é devido (andebeatur), não tem ele condições de apontar
o quanto lhe é devido (quantum debeatur). É permitido formular pedido genérico nos
seguintes casos:
#nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os
bens demandados: ações universais são aquelas em que se demandam uma
universalidade ou “coletividades” de bens ou direitos. É o que ocorre com o filho que
ajuíza ação de petição de herança, mas não tem conhecimento da totalidade dos bens
existentes no patrimônio do autor da herança. Ele faz um pedido certo, dizendo o que
lhe é devido (herança), mas o pedido não é determinado, pois ele não tem condições
de determinar o quanto a que tem direito.
#quando não for possível determinar, de modo definitivo, as
consequências do ato ou do fato ilícito: é possível que as consequências de um
ato ilícito causado ao autor ainda não tenha cessado quando do ajuizamento da ação.
É o que ocorre com alguém que, ao ajuizar ação de indenização por danos materiais,
ainda está em processo de recuperação (pagando diárias hospitalares, fisioterapias,
medicamentos, etc.). Neste caso, apesar de apontar na inicial o andebeatur, ou seja,
o que lhe é devido (indenização por danos materiais), não tem o autor como apontar
o quantum debeatur, ou seja, o quanto devido, haja vista que as consequências
danosas ainda não cessaram.
#quando a determinação do valor da condenação depender de ato que
deva ser praticado pelo réu: é possível, também, que o quantum debeatur dependa
de ato a ser praticado pelo réu. Exemplo comumente citado é o da ação de prestação
de contas. Se João, que mantém parceria em dado negócio com Marcos, deixa de
prestar contas do apurado, impedindo que o mesmo tenha sua participação real nos
lucros, Marcos poderá ajuizar ação de prestação de contas. Ocorre que o valor devido
ao autor dependerá de ato a ser praticado pelo réu (a prestação das contas).

C) Requerimentos específicos e a sua localização na petição inicial

Além do pedido que é objeto da ação, é possível que a parte autora deseje
apresentar outros requerimentos subjacentes.

Em primeiro lugar, é possível o requerimento para obtenção do benefício da


gratuidade da justiça, previsto no artigo 98 do Código de Processo Civil e na Lei
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1.060/50, desde que a parte não possua suficiência de recursos para pagas as custas
processuais e honorários advocatícios.

Em segundo lugar, é possível que a parte tenha direito à tramitação


prioritária do feito. O Código de Processo Civil. Em seu artigo 1.048, previu três
procedimentos que terão prioridade de tramitação:I - os que figure como parte ou
interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de
doença grave: II- Os processos regulados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(Lei 8.069/90) e III- em que figure como parte a vítima de violência doméstica e familiar.
A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição,
deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que
determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas.Deferida a
prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime de
tramitação prioritária.

Ressalte-se, ainda, que a Lei 14.133/2021 acrescentou o inciso IV ao artigo


1.048 do CPC, trazendo mais uma hipótese de tramitação prioritária: processos
judiciais que versem sobre licitação e contratação. O objetivo do legislador é preservar
o interesse público, na medida em que a demora na tramitação de tais feitos pode
comprometer o planejamento e execução da atividade administrativa.

Mas, surge uma dúvida entre os(as) advogados(as): onde devo elaborar esse
requerimento específico de gratuidade ou tramitação prioritária: Como um tópico
“preliminar” na petição inicial ou nos fundamentos jurídicos do pedido?
Bem, antes de mais nada, é bom ressaltar que não existe previsão legal para
“preliminar” em petição inicial, sendo este um compartimento específico da
contestação (art. 337, CPC). Por isso, a forma adequada é proceder com o
requerimento no tópico voltado para os fundamentos jurídicos do pedido (denominado
por alguns como “do direito”). Este tópico é destinado não apenas para a exposição
do direito litigioso (objeto da lide), como também para direitos subjacentes, a serem
pleiteados pela parte, tais como a gratuidade e tramitação prioritária.
O problema é que, tradicionalmente, os advogados sempre se utilizaram de
uma “preliminar” na petição inicial, tendo em vista que essa seria uma forma de
chamar a atenção do magistrado, a fim de que o mesmo pudesse, mediante sumária
leitura, constatar de imediato o requerimento. Isso tem sido feito até nos dias de hoje.
Ocorre que, com o advento do processo judicial eletrônico (PJE), é possível à
parte, ao cadastrar a petição inicial no sistema, selecionar o item desejado (gratuidade
ou tramitação prioritária). Assim, como hoje isso já é possível, não existe mais a
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“desculpa” de se utilizar de uma “preliminar” na petição inicial para efetuar tais


solicitações, sendo o tópico dos fundamentos jurídicos o mais adequado.

2. ADMISSIBILIDADE

Recebida a petição inicial, o juiz poderá adotar as seguintes posturas:

A) Emenda

O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos acima


referidos ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o
julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende
ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.

Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

Vale ressaltar que o prazo em questão, apesar de legal,tem natureza dilatória,


sendo portanto prorrogável.

Este é o entendimento consagrado na doutrina e jurisprudência. Assim, o


magistrado, atendendo aos anseios do chamado "acesso à justiça", deverá aproveitar
ao máximo o processo, concedendo a oportunidade para que o autor emende a inicial
antes de decidir extinguir o feito.

B) Indeferimento

A petição inicial será indeferida quando:

I - for inepta: Considera-se inepta a petição inicial quando lhe faltar pedido ou
causa de pedir; o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que
se permite o pedido genérico; da narração dos fatos não decorrer logicamente a
conclusão ou quando a petiçãocontiver pedidos incompatíveis entre si.

II - a parte for manifestamente ilegítima: a legitimidade é condição da ação,


representada pela pertinência existente entre o sujeito e o direito material posto em
juízo.
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III - o autor carecer de interesse processual: outra condição da ação,


representada pelo binômio necessidade-adequação;

IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321: conforme vimos na aula
10 deste curso começando do zero, estes artigos referem-se ao descumprimento de
providências emanadas do juiz, a saber: a) dever que tem o advogado de informar, no
prazo de cinco dias, o endereço, seu número de inscrição na OAB e o nome da
sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações, caso
não tenha feito na petição inicial; b) dever de emendar a petição inicial, no prazo de
15 dias, quando existentes vícios que possam ser corrigidos.

Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de


5 (cinco) dias, retratar-se. Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para
responder ao recurso.

C) Improcedência liminar do pedido

Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da


citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I -
enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente
de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado
de súmula de tribunal de justiça sobre direito local;

O juiz também julgará improcedente o pedido quando verificar, desde logo, a


ocorrência de decadência ou de prescrição. Perceba que, no CPC de 1973, a
verificação de decadência ou prescrição importava no indeferimento da petição inicial.
Por isso, andou bem o CPC de 2015, uma vez que estamos diante de questões
meritórias sendo, por isso, mais adequado tratar-se de “improcedência” ao invés de
“indeferimento”.

Contra a sentença de improcedência liminar, caberá recurso de apelação,


podendo o magistrado retratar-se em 5 (cinco) dias. Se houver retratação, o juiz
determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver
retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de
15 (quinze) dias.

D) Recebimento da petição inicial

Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de


improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação, citando o réu para comparecimento.
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3. AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO OU DE CONCILIAÇÃO

Ao receber a petição inicial, não sendo o caso de indeferimento ou


improcedência liminar do pedido, o juiz determinará a citação do réu e intimação da
parte autora, a fim de que compareçam à audiência de autocomposição.

Pois bem, a audiência de conciliação ou de mediação será designada com


antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20
(vinte) dias de antecedência.

O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência


de conciliação ou de mediação, observando o disposto no CPC, bem como as
disposições da lei de organização judiciária.

A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado.

Conforme mencionado em nossa aula, a audiência não será realizada em duas


hipóteses: I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na
composição consensual; II - quando não se admitir a autocomposição.

O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição,


e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência,
contados da data da audiência.

Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser


manifestado por todos os litisconsortes.

O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de


conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado
com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da
causa, revertida em favor da União ou do Estado.

As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores


públicos, podendo as mesmas constituir representante, por meio de procuração
específica, com poderes para negociar e transigir. É por isso que, de acordo com o
STJ, considera-se abusiva a aplicação de multa à parte que estava representada por
advogado munido de procuração com poderes para transigir. Vejamos:

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE


SEGURANÇA. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JUDICIAL
ILEGAL. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA DE APLICAÇÃO DA
MULTA PREVISTA NO ART. 334, § 8º, DO CPC/2015, POR
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ANDRÉ MOTA

INEXISTENTE ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA


JUSTIÇA. DECISÃO IRRECORRÍVEL. PARTE DEVIDAMENTE
REPRESENTADA NA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO POR
ADVOGADO COM PODERES PARA TRANSIGIR. VIOLAÇÃO
DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO (CPC, ART. 334, § 10).
ORDEM CONCEDIDA. RECURSO PROVIDO.

1. A impetração de mandado de segurança contra ato judicial, a


teor da doutrina e da jurisprudência, reveste-se de índole
excepcional, admitindo-se apenas em hipóteses determinadas,
a saber: a) decisão judicial manifestamente ilegal ou teratológica
(...);.

2. Na hipótese, é cabível o mandado de segurança e nítida a


violação de direito líquido e certo do impetrante, pois tem-
se ato judicial manifestamente ilegal e irrecorrível,
consistente em decisão interlocutória que impôs à parte ré
multa pelo não comparecimento pessoal à audiência de
conciliação, com base no § 8º do art. 334 do CPC, por
suposto ato atentatório à dignidade da Justiça, embora
estivesse representada naquela audiência por advogado
com poderes específicos para transigir, conforme
expressamente autoriza o § 10 do mesmo art. 334.

3. Agravo interno provido para dar provimento ao recurso


ordinário em mandado de segurança, concedendo-se a
segurança. (AgInt no RECURSO EM MANDADO DE
SEGURANÇA Nº 56.422 – MS. RELATOR : MINISTRO RAUL
ARAÚJO)

Assim, caro(a) aluno(a), conforme visto, nada impede que o advogado


represente o seu cliente em aludida audiência, desde que, obviamente, tenha recebido
poderes especiais, expressos na procuração, para transigir.

Realizada a audiência e havendo a autocomposição, será reduzida a termo e


homologada por sentença.

4. POSTURAS DO RÉU

Uma vez citado, o réu poderá contestar ou, simplesmente, deixar transcorrer o
prazo de defesa sem oferecer qualquer resistência.

Passemos à análise do comportamento omissivo por parte do réu, o que


acarretará a sua revelia.
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A) Inércia

Apesar de regularmente citado, o réu não compareceu à relação processual,


sendo, por isso, considerado revel.

Revelia é fenômeno representado pela ausência de contestação. Tal fenômeno


acarretará efeitos de natureza material e processual.

Os efeitosprocessuais da revelia são dois:

→ julgamento antecipado do mérito (artigo 355, II, CPC): como o réu não
apresentou a contestação, os fatos afirmados pelo autor se tornaram incontroversos.
Sendo assim, não haverá necessidade de produção de provas (pois só se prova aquilo
que é controvertido!), podendo o juiz, por consequência, julgar antecipadamente
omérito.

→ dispensa de intimação: não tendo o réu dado a devida importânciaao


processo, este também não se importará com aquele. Significa que, se a relação
processual tiver que continuar, os atos processuais serão praticados
independentemente da intimação do revel. Assim, por exemplo, se uma ação é
ajuizada por Maria em face de João e Joaquim, sendo este último revel, a relação
processual continuará entre Maria e João. Destarte, todos os atos processuais que
forem realizados daí por diante (intimação para audiência, intimação das decisões,
etc.) não serão informados ao revel mas, tão somente, àqueles que compareceram
ao processo.

Quanto aos efeitos materiais, se o réu não contestar a ação, será considerado
revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor. Como
os fatos narrados na petição inicial não encontraram resistência pela parte adversária,
os mesmos se tornaram incontroversos e, portanto, presumidos como verdadeiros.
Existem situações, entretanto, em que não ocorrerão os efeitos materiais da
revelia. Em outras palavras, é possível que o réu seja revel, mas o juiz não possa
presumir como verdadeiros os fatos afirmados na inicial. As hipóteses estão previstas
no artigo 345, CPC e para entendê-las é necessário seguir um simples raciocínio
lógico, senão vejamos:
→havendo pluralidade de réus, um deles contestar a ação: se uma
demanda é proposta contra mais de um réu, basta que um deles apresente a
contestação para que os fatos narrados na inicial se tornem controvertidos. Imagine,
por exemplo, que Maria propõe ação de indenização em face de um médico e de uma
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clínica, em virtude de danos causados por intervenção cirúrgica. Regularmente


citados os réus, apenas a clínica apresenta contestação. Perceba que, por mais que
o médico seja revel (pois não apresentou contestação), os fatos narrados não poderão
ser presumidos como verdadeiros, haja vista que a contestação apresentada pela
clínica os tornou controvertidos.
→quando a ação versar sobre direitos indisponíveis: direitos indisponíveis
são aqueles de natureza extrapatrimonial (interesses de incapazes, por exemplo) e
públicos. Sendo indisponíveis, eles não serão afetados com a ausência do réu, pois o
réu não pode deles dispor (ainda que com ato omissivo).
Assim, por exemplo, em uma ação em que se postula a decretação de
interdição de um suposto incapaz, por mais que o interditando não apresente
contestação, não poderá o juiz presumir como verdadeiros os fatos narrados na inicial,
decretando o seu estado de incapacidade.
Outro exemplo diz respeito aomandado de segurança impetrado para
impugnar ato de autoridade pública. Por mais que não apresente as informações (que
têm natureza de contestação), o juiz não poderá presumir como verdadeiros os fatos
narrados, haja vista a indisponibilidade do interesse público.
→quando a petição não estiver acompanhada por instrumento público,
a que a lei considere indispensável à prova do ato: existem documentos que
deverão, obrigatoriamente, acompanhar a petição inicial, pois são indispensáveis à
prova do ato gerador do direito. É o que ocorre, por exemplo, com a ação em que se
reivindica imóvel, a qual deve vir acompanhada de escritura pública. Estando
desacompanhada do documento em questão, por mais que o réu seja revel, não há
como presumir-se a veracidade dos fatos, pois a existência do direito independe da
vontade do réu, mas sim da existência do próprio documento.
O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado
em que se encontrar. Ele poderá, inclusive, produzir provas, desde que compareça
em tempo oportuno (Súmula 231, STF).
Não obstante haja a possibilidade do réu permanecer inerte, a postura mais
comum é de uma posição defensiva, o que se dará através da apresentação da
contestação.
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B) Contestação

O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias.

Tal prazo será contado da data: I - da audiência de conciliação ou de mediação,


ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou,
comparecendo, não houver autocomposição; II - do protocolo do pedido de
cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu.

É necessário que o réu apresente todos os argumentos, pois, na eventualidade


de o juiz não acolher o anterior, passará a analisar o posterior. É o que a doutrina
denomina de “princípio da eventualidade”.

As defesas apresentadas na contestação poderão ser preliminares e de mérito.

Preliminares são defesas de natureza meramente processual. Nelas o réu não


discute o mérito da demanda, mas, tão somente, aspectos relativos a vícios do
processo. O objetivo do réué apresentar argumentos que venham extinguir o feito ou,
pelo menos, retardar o curso da relação processual. No primeiro caso, temos as
preliminaresperemptórias (ex: litispendência e coisa julgada), cujo vício é insanável e
acarreta a extinção do processo.No segundo caso, temos as preliminares dilatórias
(ex: incorreção do valor da causa), cujo vício pode ser corrigido e, por isso, ocasiona
apenas um atraso na marcha procedimental.

Eis as matérias que poderão ser suscitadas em sede de PRELIMINARES:

→ inexistência ou nulidade da citação: A citação é pressuposto processual e


a sua ausência importará em nulidade.

→ incompetência absoluta e relativa:na sistemática do CPC de 2015, a


arguição de incompetência relativa deixa de ser apresentada em peça em separado
(chamada de “exceção”) para ser apresentada na própria contestação, através de
preliminar, assim como já ocorria com a arguição de incompetência absoluta.

→ incorreção do valor da causa: aqui, o CPC de 2015 trouxe mais uma


mudança relevante, ao determinar que a alegação de incorreção do valor da causa
seja feito na própria contestação, através de preliminar, ao invés de apresentação de
peça específica de impugnação ao valor da causa, conforme era feito na vigência do
CPC de 1973. Assim, agora o réu deverá, em sede de preliminar de
contestação,impugnar o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e
o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas (artigo
293, CPC).

→ inépcia da petição inicial: conforme afirmado em aulas anteriores,


considera-se inepta a petição inicial quando lhe faltar pedido ou causa de pedir; o
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pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido


genérico; da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; contiver
pedidos incompatíveis entre si.

→ perempção: é a perda do direito de ação. Haverá perempção quando,


mediante abandono, o autor der causa à extinção do processo por três vezes.

→ litispendência: há litispendência quando se repete ação que está em curso.

→ coisa julgada: Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida
por decisão transitada em julgado.

→ conexão: haverá conexão quando, entre duas ou mais causas, houver


identidade de pedido ou causa de pedir. Para evitar decisões conflitantes, o réu poderá
arguir a conexão e pleitear a junção das demandas, a fim de que sejam reunidas e
julgadas pelo juízo prevento.

→ incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização:


a parte deverá atuar em juízo revestida da tríplice capacidade: de ser parte, de estar
em juízo e da capacidade postulatória, por nós analisadas quando do estudo das
partes e procuradores (aula 03 deste curso começando do zero, lembra?). Qualquer
irregularidade apresentada pelo autor deverá ser suscitada pelo réu em sede de
preliminar contestação.

→ convenção de arbitragem: A ausência de alegação da existência de


convenção de arbitragem implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo
arbitral.

→ ausência de legitimidade ou de interesse processual: Alegando o réu, na


contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o
juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para
substituição do réu. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e
pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e
cinco por cento do valor da causa.

Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da


relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as
despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de
indicação. Perceba, portanto, que a “nomeação à autoria” deixa de ser apresentada
em requerimento, separadamente, para ser apresentada, agora, como preliminar de
contestação. Este foi o motivo pelo qual o legislador deixou de contemplá-la como
uma das modalidades de intervenção de terceiros, reguladas pelos artigos 119 a 138,
do atual CPC.

O autor, ao aceitar a indicação (nomeação), procederá, no prazo de 15 (quinze)


dias, à alteração da petição inicial para a substituição do réu, reembolsando as
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despesas e pagando os honorários do advogado do réu excluído, que serão fixados


entre três e cinco por cento do valor da causa.

Nada obsta que, no prazo de 15 (quinze) dias, o autor possa optar por alterar a
petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu.

→ falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar:


às vezes a lei pode exigir do autor a prestação de caução para o ajuizamento da
demanda, a exemplo do que ocorre com a ação rescisória (artigos 966 a 975, CPC).
A ausência poderá ser alegada pelo réu, em sede de preliminar.

→ indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça:Assim como


ocorreu com a alegação de incompetência relativa e impugnação ao valor da causa,
o CPC também determinou que a impugnação à concessão da gratuidade da justiça
fosse feita na própria contestação, através de preliminar, evitando-se a confecção de
mais uma peça processual. Perceba que o legislador simplificou o procedimento,
evitando uma aglomeração desnecessária de peças judiciais.

Por outro lado, NO MÉRITO, incumbe ao réu alegar toda a matéria de defesa,
expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e
especificando as provas que pretende produzir.

A defesa de mérito pode ser direta ou indireta.

Será direta quando o réu negar os fatos. (ex: empresa ré que, em ação de
indenização, nega que alarme da loja fora equivocadamente acionado quando o autor
estava saindo) ou negar seus efeitos jurídicos (ex: no exemplo citado, a ré poderia
apenas dizer que, embora o alarme tivesse sido acionado, o fato não constituiria
motivo para surgimento de dano moral).

A defesa será indireta quando o réu, embora não negue as afirmações feitas
na petição inicial, apresenta outros fatos que são extintivos, modificativos ou
impeditivos do direito do autor. Imagine, por exemplo, uma ação de cobrança de dívida
proposta por Maria em face de João. Este poderia apresentar defesa
indiretaconfirmando a celebração de dívida com o autor, mas alegando fatos novos,
no sentido de que a dívida já fora paga (fato extintivo), fora paga pela metade (fato
modificativo) ou que já prescreveu (fato impeditivo).Considerando que, com a defesa
indireta o réu traz fatos novos, é necessário que o autor seja intimado para se
pronunciar sobre eles por meiodo instrumento denominado réplica ou impugnação à
contestação (artigo 350, CPC).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Ressalte-se que incumbe ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações


de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas.
É o que se denomina de “ônus da impugnação específica dos fatos”.

Existem situações em que o réu alega ter pretensão em face do autor e essa
pretensão está justamente relacionada aos fatos trazidos na ação originariamente
intentada. Assim, por uma questão de economia processual, poderá o réu, em vez de
propor ação em separado, demandar contra o autor no mesmo processo em que fora
demandado. Isto se faz por meio do instrumento de reconvenção. O legislador
estabeleceu a sua utilização com o intuito de evitar a proliferação de ações com
pedidos ou causa de pedir semelhantes.A reconvenção será apresentada na própria
contestação, no compartimento destinado ao mérito.

5. DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DO SANEAMENTO

Ultrapassada a fase de resposta pelo réu, o juiz passa a ter uma “visão
panorâmica” da relação processual: já conhece a tese trazida pelo autor e a antítese
trazida pelo réu. Caberá, agora, ao mesmo estabelecer a síntese. Mas, antes de dar
seguimento ao processo, talvez seja necessário resolver algumas questões
“pendentes”. São as chamadas “providências preliminares”. Nesta fase poderão ser
adotadas as seguintes condutas:

A) Da Não Incidência dos Efeitos da Revelia

Já sabemos que,havendo revelia (e consequente presunção dos fatos afirmados


pelo autor), é comum que o juiz julgue antecipadamente o mérito (artigo 355, II, CPC).
Ocorre que é possível que, embora o réu não conteste, os efeitos da revelia não
ocorram. Neste caso, o magistrado terá que prosseguir no feito, intimando o autor para
que especifique as provas que pretenda produzir em audiência, se ainda não as tiver
indicado.

Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do


autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos
processuais indispensáveis a essa produção.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

B) Da Réplica

Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este


será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe o juiz a produção de prova.
De igual modo, se o réu alegar qualquer das matérias relativas às preliminares de
contestação, o juiz determinará a oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias.É o que
se chama de réplica, momento marcado pelo despacho: “à replica, em 15 (quinze)
dias”

Cumpridas as providências preliminares ou não havendo necessidade delas, o


juiz proferirá julgamento conforme o estado do processo, nas hipóteses a seguir
descritas.

6. DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO

Proposta a demanda e apresentada a resposta, o processo se desenvolverá


seguindo uma sequência lógica de atos (réplica do autor, saneamento e fase
instrutória) até culminar com a sentença. Pode ocorrer, entretanto, que tais atos não
sejam necessários, de modo que o feito seja extinto de forma anormal. Diz-se
“anormal”, pelo fato de que o processo normalmente deve seguir aquela longa cadeia
de atos até que seja resolvida a lide.
O julgamento conforme o estado do processo ocorrerá nas seguintes
situações:

A) Da Extinção do Processo

Ocorrendo qualquer das hipóteses que ocasionam a extinção do processo, SEM


resolução de mérito (litispendência, coisa julgada, ausência de legitimidade ou
interesse, etc.) ou COM resolução de mérito (reconhecimento da procedência do
pedido, autocomposição, prescrição/decadência, renúncia ao direito em que se funda
a ação ou reconvenção), o juiz proferirá sentença.

Aqui, diz-se que a extinção se dará de forma “anormal” porque o “normal” é que
o processo seja extinto quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

B) Do Julgamento Antecipado do Mérito

O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de


mérito, em duas hipóteses: I - não houver necessidade de produção de outras provas;
II - o réu for revel e ocorrerem os efeitos da revelia.

Aqui o processo já está “maduro” para julgamento, não havendo que se falar em
necessidade de instrução. Na primeira hipótese, o feito está pronto para ser julgado
porque a matéria é de direito ou, sendo de fato, não há necessidade de produção de
outros meios de prova. Já na segunda hipótese (revelia), o julgamento antecipado é
possível, uma vez que os fatos são incontroversos, dada a presunção de veracidade.

C) Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito

O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados


ou parcela deles mostrar-se incontroverso.É o que ocorre, por exemplo, na ação de
indenização por danos materiais e morais, onde o réu contestou apenas o pedido de
danos morais.

O julgamento antecipado também ocorrerá quando um ou mais pedidos estiver


em condições de imediato julgamento. Isso ocorre, normalmente, quando um ou
mais dos pedidos formulados já puder ser analisado sem a necessidade de produção
de provas, por ter como controvérsia matéria de direito. Imagine, por exemplo, que o
autor ajuíza ação pedindo a declaração de abusividade de determinada taxa
contratual cumulando pedido de indenização por danos morais por ter sofrido
constrangimento causado pelo gerente no interior da agência bancária. Perceba que
o pedido de declaração de abusividade da taxa é matéria unicamente de direito, não
necessitando de prova, de modo que o magistrado já poderá decidir se a taxa é ou
não abusiva. Quanto ao pleito de danos morais (matéria de fato), este necessitará ser
instruído, de modo que o processo prosseguirá para coleta de outros elementos de
prova.

É mister salientar que a decisão proferida que julgar parcialmente o mérito será
impugnável por agravo de instrumento.

7. DO SANEAMENTO E DA ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO

A palavra saneamento tem o significado de “limpeza”, “organização”, apontando


alguns cuidados e deliberações que o magistrado deverá tomar antes de prosseguir
na condução da lide.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Assim, não ocorrendo qualquer das hipóteses narradas anteriormente (não


sendo o caso de julgamento antecipado do mérito), deverá o juiz, em decisão de
saneamento e de organização do processo:

I - resolver as questões processuais pendentes, se houver: isso ocorre


quando surgirem pendências processuais que possam ser resolvidas de imediato, tal
como ocorre, por exemplo, quando o réu impugna o valor atribuído à causa pelo autor.
Neste caso, poderá o juiz decidir se determina ou não a correção, ordenando o
recolhimento das custas complementares.

II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade


probatória, especificando os meios de prova admitidos: É o que se chama de
“fixação dos pontos controvertidos da lide”. Significa que o juiz verificará o que
necessita ser provado. Se num processo que versa sobre acidente de veículos, as
partes divergem apenas sobre quem ultrapassou o sinal vermelho, este será o ponto
controvertido, sendo desnecessária a demonstração de outros fatos incontroversos,
tais como a existência do acidente, do local onde ocorrera e de sua data.

III - definir a distribuição do ônus da prova: o juiz definirá quem deverá


suportar o ônus probatório, relativamente aos fatos controvertidos, se autor ou réu. É
bom lembrar que ao autor incumbe a prova dos fatos constitutivos do seu direito, ao
passo que ao réu cabe a prova dos fatos extintivos, modificativos e impeditivos do
direito do autor (artigo 373, CPC).

IV - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento: a


audiência de instrução somente será designada se houver necessidade de produção
de outros meios de prova (depoimento pessoal e ouvida de testemunhas).

Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou


solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna
estável.

As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual


das questões de fato e de direito, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz.

Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará


prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de
testemunhas. O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez),
sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato.

O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade


da causa e dos fatos individualmente considerados.

Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o


juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as
partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou
esclarecer suas alegações. É o que se chama de saneamento compartilhado. Neste
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

caso, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de


testemunhas.

Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deverá nomear
o perito e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua realização.

Realizado o saneamento, como dito, o juiz designará a audiência de instrução e


julgamento, ocasião em que serão produzidos os demais meios de prova.

8. DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

A audiência de instrução e julgamento é o momento propício para a coleta dos


demais elementos de prova. Fala-se em demais, tendo em vista que a prova
documental já fora trazida por intermédio da inicial e da contestação.
Cabe-nos, aqui, fazer uma análise acerca da audiência de instrução e
julgamento, a qual objetiva colher as provas orais.
Pois bem, no dia e na hora designados, o juiz declarará aberta a audiência de
instrução e julgamento e mandará apregoar as partes e os respectivos advogados,
bem como outras pessoas que dela devam participar.
Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente
do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a
mediação e a arbitragem.
Na aludida audiência, o juiz exerce o poder de polícia, incumbindo-lhe manter
a ordem e o decoro, bem como ordenar que se retirem da sala de audiência os que
se comportarem inconvenientemente. Poderá, também, se for o caso, requisitar o
auxíliode força policial.

As provas orais serão produzidas em audiência, ouvindo-se nesta ordem,


preferencialmente:

I - o perito e os assistentes técnicos, que responderão aos quesitos de


esclarecimentos;

II - o autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos pessoais;

III - as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que serão inquiridas.
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ANDRÉ MOTA

Enquanto depuserem o perito, os assistentes técnicos, as partes e as


testemunhas, não poderão os advogados e o Ministério Público intervir ou apartear,
sem licença do juiz.

A audiência poderá ser adiada nas seguintes hipóteses:

I - por convenção das partes;

II - se não puder comparecer, por motivo justificado, qualquer pessoa que dela
deva necessariamente participar;

III - por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 (trinta) minutos
do horário marcado.

Quem der causa ao adiamento responderá pelas despesas acrescidas.

Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao advogado do autor e do réu, bem


como ao membro do Ministério Público, se for o caso de sua intervenção,
sucessivamente, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10
(dez) minutos, a critério do juiz, para a apresentação das razões finais orais.

Quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate


oral poderá ser substituído por razões finais escritas, que serão apresentadas pelo
autor e pelo réu, bem como pelo Ministério Público, se for o caso de sua intervenção,
em prazos sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos.

Encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença em


audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

É certo que a sentença judicial pode constituir um sujeito a uma obrigação de


fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia. As três primeiras são chamadas de
“obrigações específicas”, na medida em que exigem a prática ou abstenção de
determinada conduta humana; a última consiste naquilo que se denomina de
“obrigação genérica” (pagar dinheiro, que é bem fungível por excelência).
O procedimento executivo irá variar, a depender da modalidade de obrigação.
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ANDRÉ MOTA

1. OBRIGAÇÕES DE FAZER, NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA

A) Considerações iniciais

O CPC de 2015 utilizou-se da técnica da tutela específica ou da obtenção do


resultado prático equivalente.
Pela primeira, entende-se a maior coincidência possível entre o resultado da
atividade judicial e o da obrigação, acaso a mesma tivesse sido espontaneamente
cumprida. O resultado prático equivalente, por sua vez, consiste em uma forma
diferente de obter a mesma tutela, o mesmo bem da vida vislumbrado pelo autor, por
meio de medidas que levem a tal resultado.

B) Natureza da obrigação e técnica executiva apropriada

O CPC de 2015 procurou elevar as prerrogativas do julgador nas lides que


versam obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa, de modo que são inúmeros
os instrumentos colocados à sua disposição na perspectiva de cumprimento imediato
do decisório emitido.
Assim, para a efetivação da tutela pleiteada, poderá o magistrado determinar,
de acordo com o artigo 536, parágrafo 1º, as medidas necessárias, a exemplo de: 1)
imposição de multa por atraso, conhecidapor “astreintes”, aplicada nas obrigações
de entrega de coisa (ex: mora do Poder Público em entregar determinado
medicamento ou concessionária em substituir automóvel, entregando um novo
veículo), fazer (ex: realização de cirurgia por empresa de plano de saúde ou inclusão
de determinada pessoa em academia militar) ou não fazer (ex: como na abstenção
de jogar resíduos em rios, não produção de barulhos na vizinhança); 2) busca e
apreensão,como no caso de materiais produzidos ilegalmente, onde se determina,
inclusive, a apreensão do maquinário responsável pela confecção; 3) remoção de
pessoas e coisas, como a determinação para que seja removidaplaca publicitária
indevidamente utilizada; 4) desfazimento de obras, a exemplo daquele que constrói
muro acima de determinado limite de tolerância; 4) impedimento de atividade
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nociva,a exemplo de paralisação de atividade de fábrica que agride de maneira


considerável o meio ambiente.
Conforme se observa, o objetivo é fornecer meios para que a sentença
proferida alcance sua finalidade. O objetivo é não apenas determinar que alguém
cumpra com uma prestação, mas forçá-la, mediante as medidas de apoio, a cumprir
especificamente com a obrigação a que ele se encontra atado (do contrário, o
ordenamento se conformaria com a conversão da obrigação em perdas e danos).
O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade
da multa diária ou ainda excluí-la, caso verifique que se tornou insuficiente, excessiva,
o obrigado demonstrou o cumprimento parcial da obrigação ou justa causa para o
descumprimento (artigo 537, § 1o CPC).
Nada impede que o executado apresente impugnação ao cumprimento de
sentença como defesa nesta modalidade de execução, segundo se extrai do artigo
536, § 4º, do CPC.

OBRIGAÇÕES PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

1. Considerações gerais

Já verificamos que nas obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa, o


magistrado exerce sua atividade com vistas à obtenção da tutela específica ou, ao
menos, do resultado prático equivalente. A indenização por perdas e danos se dará,
apenas, em último caso, quando o adimplemento for impossível ou o autor da
demanda assim o requerer.
No que pertine às obrigações para pagamento de quantia certa, como se vê,
a pecúnia já integra o objeto de tal obrigação.
Assim, o objetivo do legislador, com o procedimento descrito nos artigos 523
a 527, CPC, é justamente fornecer meios para que o adimplemento desta espécie de
obrigação se dê num lapso temporal mais breve possível, de modo a atender aos
ditames da razoável duração do processo e celeridade processual.
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2. Procedimento

Atentemos, assim, para a sistemática do procedimento para o cumprimento


de sentença nas obrigações de tal natureza:

→ requerimento do credor: em atendimento ao princípio da inércia, o


legislador previu a necessidade de requerimento por parte do credor (interessado na
execução) para que o devedor venha cumprir com o preceituado na decisão.
Assim, no caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação,
e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da
sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para
pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
Lembre-se de que, tendo sido o devedor revel na fase de conhecimento, o
mesmo deverá ser novamente intimado, mediante carta com aviso de recebimento,
para cumprir com a sentença, desde que não possua advogado constituído nos autos
(REsp 1760914/SP, DJe 08/06/2020). Caso tenha sido revel e possua advogado
constituído, a intimação será feita na pessoa do seu advogado.

O requerimento em questão deverá estar acompanhado de planilha com


demonstrativo do débito atualizado, elaborado pelo credor (artigo 524, CPC). O juiz
poderá valer-se de contabilista do juízo quando o credor for beneficiário da justiça
gratuita ou se o magistrado considerar aparentemente excessivo o cálculo elaborado
ou, ainda, se houver impugnação por parte do devedor. Neste caso, o contabilista terá
o prazo de 30 (trinta) dias para a entrega dos cálculos, salvo se outro prazo tiver sido
assinado pelo juízo.
Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de
terceiros ou do executado, o juiz poderá requisitá-los, sob cominação do crime de
desobediência.
Quando a complementação do demonstrativo depender de dados adicionais
em poder do executado, o juiz poderá, a requerimento do exequente, requisitá-los,
fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o cumprimento da diligência.Se os dados
adicionais não forem apresentados pelo executado, sem justificativa, no prazo
designado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo exequente apenas
com base nos dados de que dispõe.
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ANDRÉ MOTA

A peça de requerimento ainda deverá conter: I - o nome completo, o número


de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica do exequente e do executado; II - o índice de correção monetária adotado; III
- os juros aplicados e as respectivas taxas; IV - o termo inicial e o termo final dos juros
e da correção monetária utilizados; V - a periodicidade da capitalização dos juros, se
for o caso; VI - especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados; VII -
indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.

Há possibilidade do cumprimento de sentença ser realizado, mediante


requerimento do credor, perante o juízo onde se encontram os bens sujeitos à
expropriação ou pelo atual domicílio do devedor (artigo 516, parágrafo único, CPC),
tudo por amor à efetividade e ao princípio da razoável duração do processo.

→ prazo para adimplemento voluntário: o devedor terá o prazo de quinze


dias para cumprir, espontaneamente, com a obrigação, sob pena de cumprir,
forçadamente, com o acréscimo de 10% (dez por cento) a título de multa, além da
incidência de honorários no percentual de 10%. Cabe salientar que o pagamento
parcial do montante da condenação fará com que a multa e os honorários incidam
apenas sobre o restante da dívida, em respeito ao princípio da proporcionalidade.
Ressalte-se que o acréscimo, a título de honorários, decorre de lei, de modo
que o juiz não poderá relativizar a sua concessão (Resp1701824/RJ, DJe 12/06/2020).

→expedição de mandado: não realizado o pagamento, será expedido


mandado de penhora e avaliação. Observa-se que há a reunião de atos processuais
outrora cumpridos por sujeitos diversos - o oficial de justiça e o avaliador - e agora
concentrados na função do oficial de justiça (por isso ele é chamado de “oficial de
justiça-avaliador”).
Apenas na hipótese deste não possuir capacidade técnica para realizar a
diligência em questão (como no caso de avaliar uma obra de arte, por exemplo), o
magistrado nomeará um avaliador para cumprir com tal determinação.
Destarte, verifica-se que a nova sistemática não mais prevê o denominado
instrumento de “mandado de citação e penhora”, mas, sim, o “mandado de
penhora e avaliação”, de modo que, agora, procura-se obter o imediato cumprimento
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da obrigação, sem a dependência de ato a ser praticado pelo devedor (como a


nomeação de bens à penhora), tudo em cumprimento aos anseios da efetividade
processual (princípio da razoável duração do processo).
→ Impugnação ao cumprimento de sentença (artigo 525, CPC):
instrumento utilizado pelo devedor para insurgir-se contra o cumprimento do comando
sentencial.
Transcorrido o prazo sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15
(quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
A impugnação poderá ter como fundamento a ausência ou nulidade de
citação, se o processo correu à revelia; Inexigibilidade do título (considera-se,
também, inexigível o título quando o mesmo estiver fundado em lei ou ato normativo
declarado inconstitucional ou incompatível com a constituição pelo STF); Penhora
incorreta; avaliação errônea; ilegitimidade;excesso de execução (ocorre quandoo
credor buscar o adimplemento da obrigação para além daquilo que o título permite,
ou seja, em quantia superior àquela prevista no título); Qualquer causa modificativa,
impeditiva ou extintiva da obrigação, desde que superveniente à sentença(ex:
pagamento, novação, compensação, prescrição, etc.).
Quanto aos efeitos, a impugnação não terá o condão de suspender o
cumprimento de sentença (artigo 525,§ 6o, CPC), tudo em atendimento à duração
razoável do processo, salvo em apresentando perigo de dano de difícil ou incerta
reparação, caso em que o magistrado poderá atribuir o efeito suspensivo à
impugnação.
Em regra, a decisão que resolve a impugnação tem natureza interlocutória,
atacável, portanto, mediante agravo de instrumento. Caso a mesma venha a extinguir
a execução, de sentença se tratará, sendo atacável mediante apelação.
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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

AÇÕES POSSESSÓRIAS

1. Considerações iniciais

Verificamos que uma ação pode seguir um rito (procedimento) comum, que é
a regra geral. Mas também constatamos que existem ações as quais a lei estabeleceu
um rito especial, justamente com o objetivo de tutelar o direito material nela veiculado.

As ações possessórias, primeiro procedimento especial estudado, são


instrumentos, colocados à disposição do possuidor, aptos a sanar, preventivamente
ou repressivamente, a perturbação ou perda da sua posse.

2. A admissão de dois procedimentos

A posse pode ser classificada sob diversos aspectos (a exemplo da de boa-


fé, má-fé, justa, injusta), mas a que ora interessa ao nosso estudo é a que classifica
em posse nova e posse velha. Contempla-se nova quando exercida em menos de um
ano e dia. A contrário senso, ultrapassado aquele lapso temporal, a posse será velha.
A implicação jurídica resultante de dita classificação diz respeito ao manejo do rito
tipificado nos artigos 554, CPC, apenas para a posse de força nova. Assim:

-> Ação possessória de rito comum: quando não intentada a ação dentro de ano e
dia. Saliente-se que a aplicação do rito comum não faz perder o caráter possessório
da ação (artigo 558, parágrafo único, CPC).

-> Ação possessória de rito especial: quando a posse tiver sido molestada dentro
de ano e dia. O prazo conta-se a partir da turbação ou esbulho praticado. Intentada a
ação no prazo aludido, o rito será o capitulado nos artigos 554 e seguintes do CPC.
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3. Espécies

A depender da espécie de violação, teremos as seguintes modalidades de


ação possessória:

-> Ação de Reintegração de Posse: utilizada para sanar o esbulho


(desapossamento total da coisa) praticado em prejuízo do autor da ação. É o que
acontece quando o dono de imóvel viaja e, ao retornar, encontra a coisa invadida.
Perceba que o esbulho consiste numa violação passada.

-> Ação de Manutenção de Posse: manejada para repelir o embaraço


causado ao livre exercício da posse. (Ex: empresa que emprega materiais de
construção em terreno do possuidor, impedindo a plena utilização da posse pelo
prejudicado). Aqui a violação da posse se dá em estado presente.

-> Interdito Proibitório: remédio jurídico apto a evitar a concretização de um


possível esbulho ou uma iminente turbação. (Ex: dono de propriedade que toma
conhecimento de movimento que planeja, através de redes sociais, uma invasão em
tempo breve). Aqui a violação se dará de forma futura.

O artigo 554 do CPC trata da questão da fungibilidade em sede de ações


possessórias. Significa a possibilidade, aberta ao magistrado, de conhecer e decidir
pedido diverso daquele originalmente formulado em ação possessória, outorgando-
lhe a proteção legal correspondente àquela cujos requisitos estejam devidamente
provados (ex: pleiteia-se com base em turbação, mas, no curso da demanda, o
magistrado percebe que, na verdade, houve esbulho). Assim, poderá o julgador deferir
a tutela apta a sanar o inconveniente perpetrado.

4. Procedimento

O procedimento seguirá os seguintes passos:

→ Petição Inicial: A peça exordial deverá preencher os requisitos genéricos


do art. 319, combinados com os específicos do artigo 561, CPC, a saber: a) a prova
da posse; b) a prova da turbação ou esbulho praticado; c) data da turbação ou esbulho
(importante na fixação do rito especial. Geralmente é provado mediante documentos
relativos ao esbulho, tais como boletins de ocorrência policial, declarações de vizinho,
etc.) e d) a continuação da posse, no caso de turbação e a perda da posse, na hipótese
de esbulho.

Ademais, o legislador previu a possibilidade de cumulação objetiva na


demanda possessória, de modo a ser possível pleitear-se, também, a indenização
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em perdas e danos, cominação de pena (uma multa, por exemplo) para o caso de
nova turbação ou novo esbulho, além de desfazimento de construção ou
plantação realizada em detrimento da posse.

→ A Liminar: estando a inicial devidamente instruída, o magistrado deferirá,


in limine litis, a proteção possessória, expedindo-se mandado de reintegração,
manutenção ou mandado proibitório, sem ouvir o réu (inaudita altera pars).

Em se tratando de pessoa jurídica de direito público, a liminar não poderá ser


concedida sem a prévia audiência de justificação prévia com o respectivo
representante judicial (representante da AGU, Procurador estadual, municipal ou
Prefeito - art. 75, CPC), em virtude da presunção de veracidade e legalidade dos atos
administrativos.

Isto quer dizer, por exemplo, que, se o poder público estiver realizando uma
obra pública, por mais que o dono do imóvel vizinho alegue que está sendo turbado
em sua posse, haverá presunção (até prova em contrário) de que a obra está sendo
realizada em conformidade com a lei, motivo pelo qual o juiz não poderá conceder a
liminar sem, antes, ouvir o representante da respectiva pessoa jurídica.

→ Audiência de Justificação Prévia: Admite-se a justificação prévia, com a


citação do réu, quando o autor, através de documentos, não conseguir provar, a
contento, os requisitos específicos do artigo 561, CPC. Em aludida audiência, não
poderá o réu apresentar testemunhas a seu favor, mas tão-somente inquirir aquelas
que forem apresentadas pelo autor da ação, justamente para que não haja o
alongamento do ato processual ou mesmo uma antecipação de instrução, a qual será
realizada em momento próprio.

→ Citação: Concedido ou não o mandado, o autor promoverá, nos cinco dias


subsequentes, a citação do réu para contestar a ação.

Acaso tenha sido realizada a justificação prévia, o prazo para contestar


contar-se-á da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.

→ Prosseguimento com o rito comum: sendo o réu citado, o processo


seguirá os demais termos semelhantes ao procedimento comum. Isso quer dizer que
haverá a regular apresentação de defesa, em 15 dias, seguindo-se a fase de
saneamento e designação da audiência de instrução e julgamento.

Na defesa, poderá o demandado formular o pedido contraposto (pedido de


tutela possessória sob a alegação de que fora o mesmo agredido em sua posse). Ante
a possibilidade em questão (natureza dúplice da ação), a doutrina afirma a
inviabilidade de apresentação do instrumento de reconvenção.
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→ Sentença: Instruído o feito, os autos irão conclusos para que o magistrado


venha proferir a sentença.

EMBARGOS DE TERCEIRO

O devedor responde para o cumprimento de suas obrigações com todos os


seus bens (art. 789, CPC). Pode suceder, entretanto, de um terceiro, completamente
despido de responsabilidade, vir a ser afetado pela constrição judicial de um bem ou
direito seu. Para tanto, o ordenamento jurídico, na perspectiva de salvaguardar
aqueles bens, previu o instituto dos Embargos de terceiro como sendo o instrumento
apto a sanar a ilegítima constrição perpetrada.

1. Definição

É a ação incidental, de rito especial, destinada a excluir bens de terceiro que


foram ilegitimamente alvos de constrição judicial.

2. Finalidade e fundamento

A ação judicial em questão tem a finalidade, conforme dito, de liberar bens


daquele que não é parte em dado processo judicial, além de não possuir a qualidade
de codevedor. O ato prejudicial em questão deve ter sido praticado pelo Poder
Judiciário. Assim, acaso a posse venha a ser ofendida por ato de particular, o remédio
jurídico adequado passa a ser a ação possessória e não o que ora tratamos.
O seu fundamento de seu manejo pode ser vislumbrado na premissa de que
a sentença só pode surtir efeitos em relação às partes do processo (limites subjetivos
da coisa julgada- artigo 506, CPC), não podendo atingir terceiros, que não integraram
a relação jurídico-processual, sob pena de ferir os princípios do contraditório e da
ampla defesa.
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3. Legitimidade

Parte legítima para figurar como autor da ação é o terceiro, sendo entendido,
por exclusão, como aquele que não ocupa um dos polos da relação jurídica
processual.
Frise-se que a legislação equipara a terceiro a pessoa que, não obstante
ostente a qualidade de parte, venha a defender bens que não poderiam ter sido
atingidos pela constrição judicial. Seja em virtude do título em que o possua, seja
pela qualidade em que o possua.
Atento a isso, o legislador considerou como terceiros, outorgando-lhes
legitimidade, os seguintes sujeitos: I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a
posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvada a possibilidade de penhora de
bem imóvel, nos termos do artigo 843, CPC; II - o adquirente de bens cuja constrição
decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à
execução; III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de
desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte; IV - o
credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de
garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios
respectivos.
Legitimado passivo é aquele que figura como credor no processo principal
(autor/exequente/requerente), justificando-se pelo fato de que a constrição só foi
realizada em virtude de provocação inicial do demandante, já que fora este que
propunha a ação;
Nada obsta, entretanto, que venha o devedor figurar como réu, juntamente
com o demandante, acaso tenha sido ele o indicador do bem objeto da constrição
(artigo 677,§ 4o, CPC). Neste caso estaríamos diante de um litisconsórcio
passivonecessário, haja vista que a desconstituição da constrição poderia acarretar
prejuízos ao exequente, bem assim para o réu-executado, já que estaria este último
sujeito a sofrer nova constrição. Ressalte-se, entretanto, que, a teor da Súmula 303
do STJ, a condenação nas custas processuais e honorários advocatícios ficará a
cargo da parte que deu causa à ilegítima constrição (indicou o bem).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

4. Prazo para a propositura da ação

Tratando-se de constrição sobre bem durante o processo de conhecimento,


a propositura da ação de embargos de terceiro se dará a qualquer momento, desde
que antes do trânsito em julgado da decisão.
No caso de processo de execução, a propositura dar-se-á até 5 (cinco) dias
após a arrematação, adjudicação ou alienação por iniciativa particular, desde que
antes da assinatura da respectiva carta (art. 675, CPC).
Vale salientar que, em virtude do terceiro não poder ser atingido pelos efeitos
da coisa julgada, o transcorrer do prazo em questão não o impede de, pelas vias
comuns, ajuizar ação pelo procedimento comum para reivindicar o bem que fora objeto
da constrição. O vencimento do prazo é meramente preclusivo no sentido de o impedir
de manejar os embargos para a defesa imediata da posse.

5. Procedimento
Os embargos são uma ação especial autônoma, a qual dá origem a um
processo incidente, distribuído por dependência perante o juízo que determinou a
constrição. O procedimento segue às seguintes regras:
→ Competência: é competente o mesmo juízo que ordenou a apreensão do
bem, mediante a expedição do mandado de constrição. Assim, embora realizado o ato
de constrição por intermédio do juízo deprecado, este apenas será competente se
tiver ordenado o ato em questão (art. 676, CPC).
→ Petição Inicial: deverá obedecer aos requisitos gerais do artigo 319
combinados com os específicos do artigo 677 do CPC, os quais exigem: a) prova
sumária da posse; b) prova da constrição, c) qualidade de terceiro; d)
documentos e rol de testemunhas.
→ Da Liminar: julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá
liminarmente os embargos e ordenará a expedição de mandado de manutenção ou
de restituição em favor do embargante, que só receberá os bens depois de prestar
caução de os devolver com seus rendimentos, caso sejam afinal declarados
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

improcedentes, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente


hipossuficiente.
→ Da audiência preliminar: faculta-se ao magistrado determinar a realização
de audiência preliminar quando o autor não tiver provado suficientemente, por meio
de documentos, a sua posse. Seria, em outros termos, audiência que se assemelha à
justificação prévia das possessórias.
→ Contestação: será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias.
→ A conversão ao rito comum: apresentada a defesa, haverá a conversão
do rito especial para o rito comum. Destarte, deverá o magistrado determinar a
intimação do autor para apresentar a réplica, seguindo-se a fase de saneamento
eaudiência de instrução e julgamento.Logo após, proferirá a sentença. Se procedente,
determinará a expedição de mandado de manutenção ou de restituição; acaso tais
medidas já tiverem sido tomadas no limiar do processo, o magistrado determinará a
liberação da caução anteriormente prestada pelo autor.
→ Condenação em custas e honorários advocatícios: deverá ser
condenado aquele que deu causa à constrição indevida e, por consequência, causou
o tumulto processual. Inclusive há o entendimento neste sentido, expresso mediante
a Súmula 303, do STJ: “Em Embargos de terceiro, quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com os honorários advocatícios”.
Assim, é possível que até mesmo o embargante seja o responsável pelas
verbas sucumbenciais em sede de embargos de terceiro, ainda que seu pedido de
liberação tenha sido atacado pelo juízo. Isso ocorre, geralmente, quando a constrição
surgiu por não ter o atual proprietário precedido com a transferência do bem perante
o registro competente, deixando o bem em nome do antigo dono, o que acabou
gerando o ato de constrição.
Veja-se que o Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou a este respeito,
através de julgamento de recursos especiais repetitivos, senão vejamos:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA


CAUSALIDADE PARA VERBAS SUCUMBENCIAIS EM
EMBARGOS DE TERCEIRO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 872.
Nos Embargos de Terceiro cujo pedido foi acolhido para
desconstituir a constrição judicial, os honorários advocatícios
serão arbitrados com base no princípio da causalidade,
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este


não atualizou os dados cadastrais; os encargos de sucumbência
serão suportados pela parte embargada, porém, na hipótese em
que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem,
apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter a
penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para
terceiro. Em relação ao tema, a sucumbência deve ter por norte a
aplicação do princípio da causalidade. Nesse sentido, a Súmula n.
303 do STJ dispôs especificamente: "Em embargos de terceiro,
quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários
advocatícios." Na hipótese em análise, os Embargos de Terceiro
visavam à desconstituição de penhora efetuada sobre imóvel não
mais integrante do patrimônio da parte executada. Nesse contexto, o
adquirente do imóvel, ao não providenciar a transcrição do título na
repartição competente, expõe o bem à indevida constrição judicial
em demandas ajuizadas contra o antigo proprietário. Isso porque as
diligências realizadas pelo oficial de Justiça ou pela parte credora em
face do antigo proprietário do imóvel, destinadas à localização de
bens, no caso específico daqueles sujeitos a registro (imóveis,
veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios de Imóveis
(Detran, no caso de veículos), razão pela qual a desatualização dos
dados cadastrais fatalmente acarretará a efetivação da indevida
penhora sobre o bem. Nessas condições, não é lícito que a omissão
do atual proprietário do imóvel no cumprimento de um dever legal
implique, em favor da parte negligente, que esta deva ser
considerada vencedora na demanda, para efeito de atribuição dos
encargos de sucumbência. Assim, em regra, não haverá condenação
da parte embargada - a qual promovia execução contra o antigo
proprietário - quando verificado que o imóvel não teve devidamente
registrada a alteração na titularidade dominial. Excetua-se a hipótese
em que a parte credora, mesmo ciente da transmissão da
propriedade, opuser resistência e defender a manutenção da
penhora - o que evidencia o conflito de interesses na demanda, apto
a ensejar a aplicação do princípio da sucumbência. (REsp 1.452.840-
SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em
14/9/2016, DJe 5/10/2016).

Destarte, a responsabilidade pelo pagamento das verbas sucumbenciais será


de quem houver dado causa à constrição, ainda que se trate do próprio embargante,
salvo quando houver resistência por parte do embargado, após este ter tomado
ciência dos embargos.
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ANDRÉ MOTA

OPOSIÇÃO

1. Aplicação

A oposição será cabível para quem pretender, no todo ou em parte, a coisa


ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá.

2. Distinção

Embora sejam parecidos, a oposição e os embargos de terceiro não se


confundem.
Conforme visto em aula, os EMBARGOS DE TERCEIRO são ação, de rito
especial, que tem por objetivo liberar bens de terceiro, os quais foram alvo de ilegítima
constrição judicial. O instituto tem previsão nos artigos 674 e seguintes do CPC. Será
utilizada, por exemplo, quando, numa execução por quantia certa, proposta por "A"
em face de "B", o juiz determina, de forma equivocada, a penhora de um bem que, na
verdade, pertence a "C".
Por outro lado, a OPOSIÇÃO é ação, de rito especial, prevista nos artigos 682
e seguintes, e utilizada quando alguém pretender, no todo ou em parte, o bem ou
direito sobre que controvertem as partes originárias. É utilizada, por exemplo, quando
"A" e "B" disputam, num dado processo, a propriedade de determinado bem imóvel e
"C" alega que o bem disputado não pertence a nenhuma das partes.
Perceba que, no primeiro exemplo, o objeto da ação girava em torno da
existência ou inexistência de dívida, circunstância irrelevante para o terceiro, o qual
deseja, apenas, ver seu bem liberado; no segundo exemplo, o objeto da ação principal
interessa ao opoente, haja vista que o seu intento é, justamente tomar para si o bem
disputado pelas partes originárias.
Feitas essas considerações, percebe-se que o ponto que diferencia os
institutos é, exatamente, o direito material discutido em juízo. Nos embargos de
terceiro, é irrelevante o direito material discutido no processo. O que importa ao
terceiro é “atacar” o ato judicial para liberar o bem que fora, de forma reflexa, objeto
de uma ilegítima constrição; Por outro lado, na oposição, o opoente deverá discutir o
mérito da ação originária, de modo a demonstrar que a coisa ou direito disputado pelas
partes não pertence nem a um nem ao outro.

3. Procedimento
→ Petição inicial: o opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos
exigidos para propositura da ação. Destarte, o mesmo deverá atentar para as
formalidades do artigo 319 do CPC
→ Citação:Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados,
na pessoa de seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum
de 15 (quinze) dias.Ressalte-se que, se um dos opostos reconhecer a procedência do
pedido, contra o outro prosseguirá o opoente.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→ Instrução:Admitido o processamento, a oposição será apensada aos autos e


tramitará simultaneamente à ação originária, sendo ambas julgadas pela mesma
sentença.
Entretanto, se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução, o
juiz suspenderá o curso do processo ao fim da produção das provas, salvo se concluir
que a unidade da instrução atende melhor ao princípio da duração razoável do
processo.
Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação originária e a oposição, desta
conhecerá em primeiro lugar, visto que esta ação é prejudicial em relação àquela.

AÇÕES DE FAMÍLIA

O Código de processo Civil de 2015 procurou inovar, na medida em que destinou


procedimento único para as ações contenciosas de família (divórcio, separação,
reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação) em seus
artigos 693 a 699.
Ressalte-se que a ação de alimentos e a que versar sobre interesse de criança
ou de adolescente observarão o procedimento previsto em legislação específica, uma
vez que aludidos procedimentos já são disciplinados pelas Leis 5.478/68 e Lei
8.069/90, respectivamente.
Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução
consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras
áreas de conhecimento para a mediação e conciliação.

1. Procedimento

O procedimento atenderá os seguintes passos:

→ Petição inicial: A petição inicial atenderá aos requisitos gerais previstos nos
artigos 319, CPC.

Sob a perspectiva material, a competência para apreciar as ações serão da vara


de família, desde que esta exista na respectiva comarca. Em se tratando de ação
movida por vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340/2006
(Lei Maria da Penha), a ofendida terá a opção de propor a ação perante o Juizado de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Mas será excluída da competência do
aludido juizado a pretensão relativa a partilha de bens.

Do ponto de vista da competência territorial, a ação será ajuizada perante o foro


do domicílio do guardião do incapaz. Não havendo filho incapaz, a demanda será
proposta perante o foro do último domicílio do casal. Se nenhuma das partes residir
no antigo domicílio do casal, será proposta no foro do domicílio do réu (art. 53, I,
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

alíneas “a”, “b” e “c”, CPC). Em se tratando de ação movida por vítima de violência
doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), deverá
a mesma ser proposta no foro do seu domicílio. É o que dispõe o artigo 53, I, “d”, com
redação dada pela Lei nº 13.894/2019.

→ Admissibilidade: Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as


providências referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para
comparecer à audiência de mediação e conciliação.

→ Citação: O mandado de citação conterá apenas os dados necessários à


audiência e deverá estar desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao
réu o direito de examinar seu conteúdo a qualquer tempo. O objetivo, aqui, foi o de
evitar que o réu tivesse imediato contato com a petição inicial e, por consequência, o
grau de animosidade ficasse mais acirrado, de modo a prejudicar a autocomposição.

→ Audiência de autocomposição: Na audiência, as partes deverão estar


acompanhadas de seus advogados ou de defensores públicos. A audiência de
mediação e conciliação poderá dividir-se em tantas sessões quantas sejam
necessárias para viabilizar a solução consensual, sem prejuízo de providências
jurisdicionais para evitar o perecimento do direito.

→ Procedimento comum: Não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir


de então, as normas do procedimento comum. Significa dizer que o réu disporá do
prazo de 15 (quinze) dias para apresentar a contestação. Em seguida, serão adotadas
as providências preliminares, dando-se oportunidade para a réplica do autor. Feito o
saneamento, o juízo designará audiência de instrução e julgamento.

2. Ministério Público e apoio técnico

O CPC de 2015 procurou limitar ao máximo a participação do órgão ministerial


nas ações de família, dada a privacidade das questões nelas versadas. Assim, o
Ministério Público somente intervirá quando houver interesse de incapaz e deverá ser
ouvido previamente à homologação de acordo. A Lei 13.894/2019 acrescentou um
parágrafo único ao artigo 698 do CPC, passando a dispor que o Ministério Público
também intervirá quando nas ações de família em que figure como parte vítima de
violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).

Quanto ao apoio técnico, quando o processo envolver discussão sobre fato


relacionado a abuso ou a alienação parental, o juiz deverá estar acompanhado por
especialista (psicólogo, assistente social ou médico, por exemplo).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
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AÇÃO MONITÓRIA

1. Breve digressão

Aquele que pretende satisfazer uma determinada obrigação deve valer-se de


um determinado documento que legitime a sua pretensão. Para tanto, no momento da
constituição de uma dada relação jurídica obrigacional, a lei confere força executiva
aos documentos que fizeram erigir ou, ao menos, serviram de força probante ao
negócio jurídico realizado: são os conhecidos títulos executivos. Assim, de acordo com
o artigo 784, CPC, temos o contrato assinado por duas testemunhas, a duplicata com
aceite na compra e venda de mercadorias, a nota promissória, etc.
Ocorre que algumas obrigações, apesar de firmadas na realidade factual,
acabam por perder certa força no mundo jurídico, justamente em virtude da ausência
de força executiva do documento do qual dispunha o credor. Imaginemos um email
no qual o devedor agradece o empréstimo contraído, prometendo pagar futuramente
a quantia devida; ou um contrato sem assinatura de testemunhas; um cheque
prescrito; uma fatura que comprova despesas com internação em hospital despesas
durante a estadia em hotel; um recibo de compra e venda de um determinado bem,
etc.
Em todas as situações acima estamos do seguinte quadro: existe um credor,
um devedor, bem como um documento que, embora não possua força executiva,
tem uma alta carga probatória, na medida em que, diante de uma simples leitura,
chega-se à conclusão da existência do crédito nele consignado.
Não obstante a inexistência da força executiva do chamado “quase-título”
(utiliza-se deste termo em virtude de faltar-lhe algum requisito que lhe torne exigível),
o legislador, atento à realidade factual bem como com vistas a evitar o enriquecimento
sem causa do beneficiário do negócio jurídico, previu, por meio da Lei nº 9.079/95,
instrumento apto a imprimir a realização do direito do credor de documento desprovido
de força executiva, sem a necessária delonga típica do processo de cognição. É a
chamada Ação Monitória.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

O procedimento monitório, hoje previsto nos artigos 700 a 702, CPC, resulta
da fusão de atos típicos de cognição e de execução e é informado pela técnica da
inversão do contraditório. Nele, a cognição é fundada em prova documental
apresentada pelo autor, de modo a permitir, de imediato, a emissão de um
mandado dirigido ao réu contendo comando para pagar soma em dinheiro,
entregar bem móvel ou imóvel ou cumprir com obrigação de fazer ou não fazer.

2. Definição

É a ação, de rito especial, que tem por objetivo atribuir força executiva a
documento desprovido de tal caráter, para a consequente satisfação do direito do
credor, mediante o pagamento de soma em dinheiro, entrega de bem móvel ou imóvel
ou cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

3. Procedimento

É mister tecer as seguintes considerações acerca do seu procedimento:

→ Competência: é o do local do pagamento ou da entrega da coisa, ou o foro


do domicílio do réu. Caso a pretensão esteja lastreada em contrato que contemple
foro de eleição, neste será aforada a ação.

→ Petição Inicial: além dos requisitos gerais do artigo 319, CPC, a petição
deverá vir acompanhada de prova escrita (documento em sentido estrito), de modo a
permitir a cognição superficial típica deste procedimento. Vê-se que o modelo estrito
de documento (escrito) adotado pelo legislador afasta outras espécies de
documentação em sentido amplo, a exemplo de fotografias ou filmagens que
comprovam ter o credor prestado dado serviço ao devedor. Têm sido considerados
instrumentos hábeis à instrução da ação monitória: um cheque prescrito (Súmula 299,
STJ), uma nota promissória sem força executiva, contrato particular sem assinatura
de testemunhas, contrato de abertura de crédito em conta corrente (Súmula 247, STJ),
etc.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→ Juízo de Admissibilidade: consiste na verificação de regularidade quanto


ao preenchimento dos requisitos formais e materiais da ação. Após a análise em
questão, o magistrado poderá adotar uma das seguintes atitudes:
Em primeiro lugar, havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental
apresentada pelo autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial,
adaptando-a ao procedimento comum.
Em segundo lugar, observando que a petição inicial está devidamente
instruída, determinará ele a expedição do mandado monitório ou injuntivo.

→ O Mandado monitório: o instrumento em questão consiste em ordem


dirigida ao réu para pagamento, entrega de coisa ou cumprimento da obrigação de
fazer ou não fazer, no prazo de 15 (quinze) dias, com o pagamento de honorários
advocatícios de 5% do valor atribuído à causa. Como no lapso temporal em questão
poderão ser apresentados embargos, o mandado serve, de igual modo, como
instrumento de citação, devendo, assim, conter as implicações de sua inércia (revelia).
Destarte, cientificado do mandado, o réu, além de estar impelido a cumprir com a
obrigação, e intimado do conteúdo daquele ato e das consequências que poderão
advir do seu descumprimento, também estará sendo citado para integrar a relação
processual.

→ Atitudes do Réu: uma vez citado, o réu, no prazo de 15 (quinze) dias,


poderá tomar as seguintes atitudes: a) inércia: a contumácia acarretará a revelia. No
panorama da monitória, ela é vislumbrada de maneira mais qualificada, mais forte,
tendo em vista a presença do quase-título, o qual acaba por possuir uma presunção
quase que absoluta, transmudando-se em título executivo judicial, autorizando a
consequente instauração da execução, por meio da técnica do cumprimento de
sentença; b) cumprimento voluntário do mandado: é a opção mais favorável ao réu
quando o mesmo reconhece a sua posição de devedor, tendo em vista que, não se
opondo ao cumprimento da obrigação, ficará ele isento das custas processuais. Mais
que mera vantagem, a isenção em questão representa um verdadeiro convite ao réu
para não apresentar embargos, buscando, assim, o ideal de solução de conflitos por
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

meio de atividade das partes; c) apresentação de Embargos ao Mandado: quanto


à sua natureza, constitui ele uma espécie de defesa (contestação), com a pretensão
de combater a prova escrita na perspectiva de evitar a formação do título executivo
judicial; Quanto ao prazo, serão os embargos opostos em 15 (quinze) dias; quanto ao
conteúdo, poderão versar a imprestabilidade do documento como fundamento da
monitória, em virtude de não evidenciar a intenção de pagar ou entregar coisa.

→ Instrução: apresentados os embargos, será dada vistas ao autor para


impugnação (semelhante à réplica). Em seguida haverá designação de audiência de
instrução e julgamento, havendo prova a ser produzida. Em seguida, será proferida a
sentença.
A sentença que acolher os embargos condenará o vencido nas custas e
honorários advocatícios, em respeito ao princípio da sucumbência; a sentença de
rejeição importará na procedência do pedido contido na monitória e a constituição do
título executivo judicial, hábil à execução forçada, mediante a técnica do cumprimento
de sentença.
Contra a sentença, cabe apelação.

ATENÇÃO!
Duas observações devem aqui ser consignadas:
Em primeiro lugar, nada impede a apresentação de reconvenção no
procedimento monitório, consoante os termos do artigo 702, § 6 o, CPC.
A segunda observação é no sentido de que cabe ação Monitória em face da
Fazenda Pública. Embora surgissem vozes no sentido de não vislumbrar a
possibilidade, ante a normatividade dos precatórios, hoje o posicionamento é uniforme
no sentido de permitir a monitória em face da Fazenda Pública, como processo de
formação abreviado do título judicial. Isto quer dizer que a especialidade vai até a
formação do título, de modo a respeitar, posteriormente o preceituado para a
execução contra a fazenda pública. O CPC de 2015, seguiu esta trilha, ao permitir o
manejo da monitória em face da fazenda pública (artigo 700, § 6o, CPC).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Por derradeiro, cabe apontar que o juiz condenará o autor de ação monitória
proposta indevidamente e de má-fé ao pagamento, em favor do réu, de multa de até
dez por cento sobre o valor da causa. Da mesma forma, o juiz condenará o réu que
de má-fé opuser embargos à ação monitória ao pagamento de multa de até dez por
cento sobre o valor atribuído à causa, em favor do autor.

AÇÃO DE INTERDIÇÃO

1. Considerações iniciais

O ser humano adquire a personalidade com o nascimento com vida (colocando,


no entanto, a lei a salvo os direitos do nascituro). A partir do nascimento, portanto, ele
adquire a chamada capacidade de direito. Todavia, nem todos os seres humanos
possuem a chamada capacidade de fato. Os artigos 3º e 4º do Código civil tratam de
situações de incapacidade, as quais impedem certos sujeitos de poderem praticar, por
si só, os atos da vida civil, em virtude de causas ali especificadas. A incapacidade
resultante de idade é sanada pela lei, mediante aplicação do instituto da
representação atribuída aos pais ou tutores. As demais modalidades de incapacidade
serão sanadas através da aplicação do instituto da curadoria, constituída após
procedimento de interdição, regulado pelos artigos 747 e seguintes do CPC.
A interdição será cabível nas hipóteses mencionadas pela lei civil. Assim, o artigo
1.767 do Código Civil, com redação dada pela lei 13.146/2015 (Estatuto da pessoa
com deficiência), aponta que a interdição será decretada para aqueles que, por causa
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade ou, ainda, para os
ébrios habituais, os viciados em tóxico bem como os pródigos.
É mister salientar que a simples condição de deficiente não gera a necessidade
de aplicação do instituto da curatela. Ora, a pessoa deficiente é plenamente capaz,
exercendo seus direitos em igualdade de condições com as demais pessoas, nos
termos do artigo 84 da Lei 13.146/2015 (Estatuto da pessoa com deficiência). Assim,
o deferimento de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e
durará o menor tempo possível.

2. Legitimidade

A ação de interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II -


pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra
abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público.
Ao ajuizar a demanda, a parte interessada acostará à petição inicial
documentação comprobatória da legitimidade.
Ressalte-se que o Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença
mental grave em duas hipóteses: I- se as pessoas mencionadas não existirem ou não
promoverem a interdição; ou II- se, existindo, forem incapazes.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Nas demandas de interdição, o Ministério Público intervirá como fiscal da ordem


jurídica.

3. Procedimento

→ Petição inicial: incumbe ao autor especificar os fatos que demonstram a


incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar
atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou. O
requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações ou
informar a impossibilidade de fazê-lo.
→ Curatela provisória: justificada a urgência, o juiz pode nomear curador
provisório ao interditando para a prática de determinados atos.
→Citação/entrevista: o interditando será citado para, em dia designado,
comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida,
negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que
mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para
praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas.
Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver.
A entrevista poderá ser acompanhada por especialista. Durante a mesma, é
assegurado o emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o
interditando a expressar suas vontades e preferências e a responder às perguntas
formuladas. A critério do juiz, poderá ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas
próximas.
→ Impugnação: dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o
interditando poderá impugnar o pedido.
→ Perícia: decorrido o prazo para impugnação, o juiz determinará a produção
de prova pericial para avaliação da capacidade do interditando para praticar atos da
vida civil. A perícia pode ser realizada por equipe composta por expertos com
formação multidisciplinar.
O laudo pericial indicará especificadamente, se for o caso, os atos para os quais
haverá necessidade de curatela.
Apresentado o laudo, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o
juiz proferirá sentença.

→ Sentença: na sentença que decretar a interdição, o juiz: I - nomeará curador,


que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o
estado e o desenvolvimento mental do interdito; II - considerará as características
pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e
preferências.
A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do
curatelado.
Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a
responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender
aos interesses do interdito e do incapaz.
Quanto às formalidades, a sentença de interdição será inscrita no registro de
pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
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sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho


Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma)
vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando
do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da
curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar
autonomamente.

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

1. Considerações iniciais

Em uma dada relação jurídica obrigacional, sendo atingida a data do


vencimento para a entrega de coisa ou para o pagamento de quantia, é comum
contemplarmos o recebimento do objeto ou quantia em questão e, por conseguinte, a
quitação regular (emissão de recibo, por ex.), de forma a liberar o devedor da, agora,
extinta obrigação.
Ocorre que determinadas circunstâncias acidentais (divergência quanto ao
valor, dúvida quem se deva pagar, negativa de entrega de recibo, etc.) podem fazer
com que surja a necessidade de se proceder com a medida de consignação, judicial
ou extrajudicial, como forma de desonerar aquele que deve e não está podendo
exercer o seu direito de se desvincular da obrigação a qual está atado.
Vê-se, portanto, que existe um conflito de interesses, a ser solucionado
mediante instrumentos legais (judiciais ou extrajudiciais) de pacificação social.

2. Definição

A consignação é o procedimento, judicial ou extrajudicial, para a obtenção


pelo autor, de quitação de dívida naquelas hipóteses em que o credor se nega a
receber a coisa ou o dinheiro, ou ainda quando o devedor não sabe a quem pagar.
Com a quitação, o devedor busca evitar a mora e os seus efeitos.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Vê-se, assim, que não apenas o credor tem o direito de receber, como também
o devedor tem o direito de pagar, exatamente para evitar os efeitos da mora (juros,
correção monetária, multa, etc.)

3. Espécies de Consignação

→Extrajudicial: com o escopo de garantir a pacificação social e, ao mesmo


tempo, evitar assoberbar ainda mais o judiciário, o legislador previu a consignação
extrajudicial como forma alternativa de solução de conflitos. O procedimento consiste
no depósito de quantia em instituição bancária oficial, em conta com correção
monetária, com a posterior notificação do credor, mediante aviso de recebimento, para
que o mesmo tome ciência e se manifeste, no prazo de 10 (dez) dias, acerca do
depósito efetuado.
Embora haja divergência, temos que é indicado seja a correspondência
emitida pelo representante do estabelecimento bancário, haja vista a maior segurança
que o ato proporciona.
Feita a notificação, o credor poderá tomar as seguintes atitudes:

1) comparecer perante o estabelecimento e levantar o depósito efetuado


(aceitação expressa), com a consequente liberação do devedor da obrigação;
2) deixar escoar o prazo de manifestação de recusa (aceitação tácita), com a
consequente liberação do devedor;
3) efetuar o levantamento com ressalvas, dizendo não se tratar de depósito
integral, dando cabimento ao ingresso de ação judicial para a cobrança da diferença
que entenda ser devida;
4) manifestar a recusa por escrito, endereçada ao estabelecimento bancário,
no prazo de 10 (dez) dias, importando a ineficácia do depósito, não liberando o
devedor da obrigação.

→Judicial: no insucesso da tentativa extrajudicial, restará ao devedor ou ao


terceiro interessado ingressar com demanda judicial dentro de um mês, na qual
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

colacionará os documentos indispensáveis (prova do depósito e cópia da


correspondência com a recusa).
Não propondo a consignatória dentro do referido prazo, será necessário que
o autor, logo após autorização judicial, providencie novo depósito, haja vista que
aquele tornou-se sem efeito.

4. A Ação Judicial

A consignação é ação de conhecimento, de rito especial, para a obtenção pelo


autor, de quitação de dívida naquelas hipóteses em que o credor se nega a receber a
coisa ou o dinheiro, ou ainda quando o devedor não sabe a quem pagar.
Relativamente à natureza da pretensão por ela veiculada, há controvérsia na
doutrina, sendo majoritária, no entanto, a posição que afirma se tratar de pretensão
do tipo declaratória.
Como ação especial, tem a mesma um rito legal próprio, previsto nos artigos
540 a 549, CPC, com especificidades em relação ao procedimento comumente
conhecido, senão vejamos:
→ Competência: deve o procedimento judicial ser instaurado no lugar do
pagamento, geralmente expresso no documento obrigacional, podendo, por
conseguinte, ser intentada no domicílio do devedor ou do credor, a depender de ser a
mesma quesível ou portável, respectivamente. A regra, como sabido é que a mesma
se trate de dívida a ser paga no domicílio do devedor.
A competência em questão tem natureza relativa, de modo que pode ser
prorrogada caso não arguida pela parte interessada, haja vista que o magistrado não
pode suscitá-la de ofício, a teor do preceituado na Súmula 33 do STJ.
→legitimidade: a legitimidade constitui condição da ação, de forma que o seu
regular exercício apenas de dará quando atendido o requisito em questão.
É parte ativa da ação o devedor e o terceiro interessado (fiador, devedor
solidário, sócio, etc.).
Outrossim, é parte passiva o credor. Podemos também afirmar que pode ser
sujeito passivo da ação uma outra pessoa que represente o devedor (ex:
administradora de imóveis).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→Petição inicial: além dos requisitos gerais do artigo 319, CPC, a peça inicial
deverá obedecer algumas particularidades deste procedimento.
Em primeiro lugar, acaso se trate de ação posterior à tentativa de consignação
extrajudicial, deverá a mesma conter cópia do comprovante de depósito bem como da
correspondência demonstradora da recusa.
Ademais, deverá a mesma conter os seguintes requisitos especiais:
#requerimento do depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado
no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese de ter sido
feito o prévio depósito extrajudicial.
# a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta: a
peculiaridade da ação tem por efeito que o requerimento da citação do réu seja feito
em se considerando a postura que ele pode adotar em relação ao pedido formulado.
O réu na ação de consignação pode levantar a quantia ou coisa oferecida, o que
equivale ao reconhecimento da procedência do pedido, ou pode contestar o pedido.
→Intimação para o depósito: recebida a inicial, não sendo caso de
indeferimento, o autor será intimado para providenciar, no prazo de 5 (cinco) dias, o
depósito da quantia ou coisa devida. O depósito, aqui, consiste em condição de
procedibilidade, de modo que o processo será extinto sem resolução de mérito, acaso
não seja ultimado.
→Citação do consignado: a citação do consignado será feita pelo correio, a
menos que o autor requeira a citação por Oficial de Justiça ou que seja a hipótese de
que a citação seja necessariamente por edital.
→Contestação do réu: as regras que regem a defesa na ação de
consignação em pagamento não tratam a matéria de forma completa. A defesa será
apresentada no prazo de 15 (quinze) dias. Na contestação, o réu pode alegar todas
as matérias de defesa contra o processo (preliminares) e, no mérito, ele pode alegar
quaisquer das matérias do artigo 544, CPC (I- que não houve recusa ou mora em
receber a quantia ou coisa devida; II- que a recusa foi justa; III- o depósito não se
efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral).
Se o réu alegar que o depósito não fora integral, a lei permite ao autor efetuar
a complementação do depósito inicial, no prazo de dez dias. Essa complementação
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

não será possível, entretanto, se o não cumprimento integral da obrigação for prevista
contratualmente como causa da rescisão do contrato que gerou a obrigação de pagar.
→Levantamento da quantia depositada sem prejuízo da defesa: com a
alteração promovida pela Lei nº 8.951/94, o réu na ação de consignação passou a
poder levantar o depósito feito pelo autor sem prejuízo de sua defesa. Antes da lei, o
réu só poderia levantar o depósito ao final, o que acabava permitindo que a ação de
consignação fosse utilizada como uma ameaça ao credor, em especial em questões
de locação. O CPC de 2015 manteve a sistemática, de modo que o credor pode
levantar, de imediato, o depósito da parcela incontroversa (artigo 545, § 1o).
→Instrução: na consignação temos, via de regra, a desnecessidade de
audiência de instrução porque, na maioria dos casos, a matéria veiculada é de direito
ou, sendo de direito e de fato, os fatos são comprovados por documentos. Havendo
necessidade de prova em audiência, far-se-á como de costume, ou seja, é possível a
produção de todas as provas que o direito admite.
→Extinção da obrigação e a continuidade do processo: quando a Ação de
consignação tiver por fundamento dúvida sobre quem deva receber, comparecendo
ao processo mais de um interessado, o juiz resolverá a consignação, dizendo de sua
procedência ou não, e o processo passará a correr segundo o rito comum para que o
juiz decida quanto a quem deva ficar com o depósito.
→Julgamento da causa: A sentença possui natureza declaratória. O artigo
545 § 2º, CPC revela, todavia, uma peculiaridade. Ele permite ao juiz proferir uma
sentença de conteúdo condenatório em favor do réu (credor), em uma alteração
substancial do papel das partes no processo. Diz o mencionado artigo que a sentença
que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o
montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o
cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária.

DA EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

Percebemos, inicialmente, que a jurisdição se manifesta de duas maneiras:


através da cognição e através da execução.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

A cognição é a forma de manifestação onde o objetivo é certificar o direito.


Noutros termos, o objetivo é obter a certeza acerca do direito. Ela vai desde a
propositura da ação, mediante a entrega da petição inicial, até o trânsito em julgado
da decisão.
Por outro lado, na execução, a jurisdição não busca mais questionar quem é
o titular do direito, pois este já é conhecido. O objetivo, agora, é praticar atos materiais
(penhora, avaliação, leilão, busca e apreensão, etc) necessários à concretização do
direito previsto no título executivo, seja ele judicial (art. 515, CPC) ou extrajudicial (art.
784, CPC).
As execuções de títulos judiciais se processam através de uma fase de
cumprimento de sentença, tema que foi objeto de análise de aulas anteriores deste
curso.
Cabe-nos, agora, analisar as execuções de títulos extrajudiciais.
É bom lembrar que a execução de títulos extrajudiciais é disciplinada no livro
II da parte especial do CPC (arts. 771 e seguintes), sendo as suas disposições
aplicáveis, subsidiariamente, à fase de cumprimento de sentença.
Assim, caro(a) aluno(a), quando tratarmos aqui sobre princípios, requisitos da
execução, penhora, impenhorabilidade, etc, estes ensinamentos serão aplicados lá
na fase de cumprimento de sentença.

ASPECTOS GERAIS DAS EXECUÇÕES

1. Princípios informadores da atividade executiva

Considerando que a atividade executiva é extrema, “drástica”, não poderá a


mesma se desenvolver sem que sejam atendidos certos princípios, sob pena de
comprometer a validade dos atos praticados.

Vários são os princípios, dentre os quais destacamos os seguintes:

a) Princípio do título: não haverá execução sem um título que lhe corresponda.
O órgão jurisdicional não poderá autorizar o início da execução sem que haja um título
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

executivo, seja ele judicial ou extrajudicial. É por isso que o artigo 783 do CPC aponta
que “a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação
certa, líquida e exigível.”

b) Princípio da patrimonialidade: segundo o artigo 789, CPC, o devedor


responderá com todos os seus bens, presentes e futuros, para o cumprimento de suas
obrigações. Significa que a forma de constranger o devedor ao cumprimento de suas
obrigações não é constrangendo a sua pessoa (no sentido “físico”), mas, sim, o seu
patrimônio. A exceção ao princípio em tela ocorre quando se tratar de execução de
alimentos, de modo que, nela, será possível a decretação de prisão do devedor como
forma de força-lo ao pagamento da dívida, salvaguardando a vida daquele que
necessita dos alimentos.

c) Princípio da economicidade: pelo princípio em tela, quando, por vários


meios a execução puder ser processada, o judiciário determinará que seja feita da
forma menos gravosa para o devedor (art. 805, CPC). Neste contexto, ressalte-se que,
caso o executado alegue ser a medida executiva mais gravosa, incumbirá ao mesmo
indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos
atos executivos já determinados.

d) Princípio da dignidade da pessoa humana: a dignidade da pessoa humana


constitui um dos fundamentos da república federativa do Brasil, segundo o disposto
no artigo 1º, III, da Constituição Federal de 1988. Através dela, o estado deverá
garantir as condições mínimas (“mínimo existencial”), no plano dos direitos
fundamentais, a todos os seus súditos. O Código de Processo Civil de 2015 importou
aludido princípio, localizando-o em seu artigo 8º. Da dignidade decorrem outras
garantias, tal como a impossibilidade de penhora de certas categorias de bens, a
exemplo do bem de família (lei 8.009/90) e dos bens listados no artigo 833 do CPC.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

2. Requisitos para a realização da execução

A atividade jurisdicional executiva é marcada pelo atributo da coercitividade,


sendo certo afirmar que ela constitui exceção, no sentido de que o mesmo só será
instaurado no caso de insucesso do cumprimento espontâneo da obrigação.
Portanto, ela não pode se desenvolver validamente sem que haja o
atendimento de certos requisitos os quais evitem a nulidade do procedimento em
questão.
Dois são os requisitos autorizadores da atividade executiva: título executivo e
inadimplemento.

a) Título executivo

É o documento a que a lei atribui força executiva, necessário para que se


desencadeie a atividade jurisdicional executiva.
A sua Importância no contexto da execução é vislumbrada na medida em que
não há atividade jurisdicional executiva senão a partir da existência de um título
(nullaexecutiosinetitulo).
Os requisitos para que os títulos possam propiciar o desencadeamento da
atividade jurisdicional executiva são a certeza, a liquidez e a exigibilidade (artigo 783,
CPC).
Título certo é aquele que possui crédito sobre o qual não pairam dúvidas, seja
porque formalmente preenche os requisitos necessários para que possa ter validade
perante o mundo jurídico (títulos extrajudiciais), seja pelo fato de que a decisão judicial
que originou o crédito transitou em julgado (títulos judiciais).
A liquidez é a fixação da coisa ou quantia devida no título executivo. Título
executivo que não apresenta a coisa ou quantia devida; precisa passar por um
procedimento prévio denominado de “liquidação”;
Quanto à exigibilidade, é questão que diz respeito ao vencimento da
obrigação prevista no título. É exigível a dívida já vencida. Em outros termos, estará
satisfeito tal requisito se houver a indicação de que a obrigação já deva ser cumprida,
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

seja porque ela não está sujeita a termo ou condição, seja porque estes já foram
demonstrados.
Os títulos podem ser judiciais ou extrajudiciais.
Os títulos judiciais estão previstos no artigo 515 do CPC e consistem em
provimentos jurisdicionais, ou equivalentes, que contêm a determinação a uma das
partes de prestar algo à outra. Já analisamos a execução de sentença (fase de
cumprimento de sentença) neste nosso Curso Começando do Zero.
Por outro lado, os títulos extrajudiciais, previstos no artigo 784 do CPC, são
documentos, públicos ou particulares, que consubstanciam uma relação jurídica de
crédito e de débito e que recebem força executiva mediante expressa previsão legal.
São eles:
→ títulos de crédito: a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a
debênture e o cheque.
→ A escritura pública ou outro documento público assinado pelo
devedor.
→O documento particular assinado pelo devedor e por duas
testemunhas: diversamente da escritura pública ou documento público, aqui existe a
necessidade da presença de duas testemunhas ao ato jurídico, haja vista a natureza
particular do documento. É comum visualizar a espécie em questão na chamada
confissão de dívida, a teor do consubstanciado na Súmula 300, STJ.
→O instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores: muito comum vislumbrar
o instrumento em tela, no âmbito do MP, quando da celebração do Termo de
Ajustamento de Conduta. A Lei nº 11.737/08 outorgou legitimidade, também, à
defensoria pública para efetuar transação de alimentos que envolvam idosos (antes
só pertencia ao MP). É certo que a legitimidade para referendar as transações
relativas aos alimentos deve ser ampla, envolvendo, inclusive, àquelas concernentes
a outras pessoas;
→os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem
como os de seguro de vida.
→O crédito decorrente de foro e laudêmio: os créditos em questão surgem
do instituto da Enfiteuse. Pode ser definida como sendo o direito real que autoriza uma
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

pessoa a usar, gozar e dispor de determinada coisa, mediante o pagamento de uma


pensão anual (foro). Outrossim, o laudêmio é a compensação devida pelo não-uso do
direito de preferência, por parte do senhorio direto, quando da alienação do imóvel.
→o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de
condomínio.
→a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos
créditos inscritos na forma da lei: a inscrição da dívida ativa deverá ser feita findo
o prazo final para o pagamento, fixado pela lei, ou após decisão administrativa final. A
Certidão da Dívida Ativa é um documento que goza de presunção relativa de certeza
e liquidez, e servirá de fundamento para o início de um processo de execução fiscal
contra o devedor (Lei nº 6.830/80). Evidentemente, diz-se que a presunção de certeza
e liquidez é relativa, porque admite prova em contrário. O devedor/executado poderá
provar em seus embargos qualquer irregularidade na constituição do crédito tributário
e poderá alegar até mesmo a inconstitucionalidade da lei que serviu de supedâneo
para o lançamento do tributo.
→ o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de
condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em
assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
→ a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a
valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela
praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;

→todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força
executiva: o inciso em tela demonstra que as hipóteses arroladas no artigo são
meramente exemplificativas (numerusapertus), de modo que o legislador, em outros
diplomas legislativos, poderá atribuir força executiva a certos documentos, a exemplo
do que ocorre com artigo 5º, § 6º da Lei nº 7.347/85, que trata do termo de ajustamento
de conduta firmado junto aos entes legitimados para a ação civil pública (União,
estados, municípios, autarquias, fundações, empresas públicas, sociedade de
economia mista, MP, Defensoria Pública, Associação).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

b) Inadimplemento

Para que se torne viável a execução, é mister, além da presença do título, que
tenha havido a violação da norma jurídica, consistente na não satisfação espontânea
da obrigação nele consubstanciada. É por isso que o legislador afirma que “O credor
não poderá iniciar a execução ou nela prosseguir se o devedor cumprir a obrigação...”
(artigo 788, CPC).
A simples verificação, no título, de que ocorreu o vencimento é prova suficiente
do inadimplemento e consequente desencadeamento da atividade executiva.
Neste diapasão, incumbe ao devedor o ônus de provar a quitação da dívida,
mediante defesa em impugnação ao cumprimento de sentença (se a execução for de
título judicial) ou embargos à execução (se a execução for de título extrajudicial).

3. Impenhorabilidade do bem de família (lei n.º 8.009/1990)

Já sabemos que o devedor responderá com os seus bens pelo pagamento da


dívida (art. 789, CPC)
Mas, por outro lado, os atos executivos não devem levar o devedor a uma
situação incompatível com a dignidade da pessoa humana.
A preocupação com a dignidade da pessoa humana é questão erigida a foro
constitucional, sendo mais precisamente um dos fundamentos de nossa república
federativa (artigo 1º, III da Constituição Federal). O CPC de 2015 também consagrou
tal princípio através do seu artigo 8º.
A condição de devedor não desapossa a pessoa de sua dignidade e a
atividade jurisdicional de cumprimento da obrigação deve ter em vista essa condição
original e imutável. Assim é que formas de exposição do devedor são repelidas pelo
ordenamento jurídico e sujeitam o infrator à reparação do dano moral.
Por isso é que bens que permitam uma vida com dignidade são preservados
da ação estatal executiva, a exemplo do que ocorre com o bem de família, previsto na
Lei nº 8009/90.
Eis alguns artigos que merecem destaque:
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da


entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer
tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra
natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que
sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o
imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações,
as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos,
inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a
casa, desde que quitados.
Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de
transporte, obras de arte e adornos suntuosos.

Perceba que a impenhorabilidade não alcança os veículos de transporte e as


obras de arte e adornos suntuosos, haja vista que eles não constituem bens
indispensáveis a uma vivência com dignidade. Mas, atenção! Sendo o veículo utilizado
para o exercício da profissão (ex: taxista), será ele impenhorável, nos termos do artigo
833, V, CPC.

ATENÇÃO!
Aponte-se que, à luz da jurisprudência pacificada no STJ, o conceito de
impenhorabilidade do bem de família abrange também o imóvel pertencente a
pessoas solteiras, separadas ou viúvas (Súmula 364).
O conceito de bem de família não alcança a vaga de garagem autônoma
que tenha matrícula própria no registro de imóveis, consoante Súmula 449, STJ. É
que, neste caso, a unidade constitui-se em unidade independente e, por
consequência, poderá ser objeto de relações jurídicas autônomas (cessão, locação,
venda, etc.), não se confundindo com o principal.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

É impenhorável o imóvel que esteja locado a terceiro, desde que a renda


obtida seja revertida para a subsistência ou a moradia de sua família (Súmula 486,
STJ).

Acerca da possibilidade de utilização de vários imóveis para a residência pelo


devedor, o legislador mediante o artigo 5º da Lei nº. 8.009/90 assim se pronunciou:
Art. 5º. Para os efeitos de impenhorabilidade, de que
trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado
pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.
Parágrafo único - Na hipótese de o casal, ou entidade
familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como
residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor,
salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro
de Imóveis e na forma do artigo 70 do Código Civil.

O objetivo do legislador foi fazer com que o devedor, alegando a moradia


simultânea em mais de um imóvel, quisesse se escusar do cumprimento de suas
obrigações.

ATENÇÃO!
A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil,
fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza. Mas existem situações em que
o bem de família poderá ser penhorado, senão vejamos:
# pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção
ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função
do respectivo contrato;
# pelo credor de pensão alimentícia;
# - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições
devidas em função do imóvel familiar;
# para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo
casal ou pela entidade familiar;
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

# por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
# por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Quanto à possibilidade de penhora do bem de família de fiador no contrato de


locação, o STJ já se posicionou pela possibilidade, a teor do que é extraído da súmula
549.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

A execução por quantia certa tem por objetivo expropriar bens do devedor a
fim de satisfazer o direito do credor, consubstanciado no título executivo judicial ou
extrajudicial.
Conforme exposto neste curso Começando do Zero em Processo Civil, os
procedimentos executivos possuem algumas diferenças, conforme se baseiem em
título judicial ou extrajudicial, especialmente quanto à forma de defesa do devedor.
O cumprimento de sentença já foi objeto de estudo.
Agora, cabe-nos deter na disciplina jurídica que norteia o procedimento
executivo das obrigações para pagamento de quantia certa.
A ação de execução de título extrajudicial segue, basicamente, o seguinte
esquema procedimental:

1. Propositura da ação

Dar-se-á com a apresentação da petição inicial, preenchida com os requisitos


da lei (título executivo e demonstrativo do débito atualizado). Poderá, inclusive, o
credor já indicar bens penhoráveis do devedor, a teor do que preceitua o artigo 798,
II, “c”, CPC.

2. Admissibilidade

Apresentada a petição inicial, segue-se a apreciação da sua admissibilidade


pelo magistrado, o qual pode determinar a sua emenda (acaso não possua o
documento indispensável, por exemplo), indeferi-la (acaso não venha a ser sanada a
irregularidade ou título não for executivo, por exemplo), ou, finalmente, determinar o
processamento da execução, com a expedição de mandado de pagamento da
obrigação.
Ressalte-se que o exequente poderá obter certidão comprobatória da
admissão da execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens


sujeitos à penhora ou arresto. É a chamada averbação premonitória (artigo 828, CPC).
O objetivo é fazer presumir em fraude à execução, qualquer alienação de bens
posterior a essa data, dispensada a prova de insolvência.
Ao despachar a inicial, o juiz também fixará os honorários advocatícios de
10% (dez por cento), a serem pagos pelo executado. No caso de integral pagamento
no prazo de 3 (três) dias, a verba honorária será reduzida pela metade.
O valor dos honorários poderá ser elevado até 20% (vinte por cento), quando
rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos os
embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo, levando-se em conta o trabalho
realizado pelo advogado do exequente.

3. Citação

O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado
da citação. Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e a
avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não
pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do
executado.
Se o oficial de justiça não encontrar o executado, arrestar-lhe-á tantos bens
quantos bastem para garantir a execução. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação
do arresto, o oficial de justiça procurará o executado 2 (duas) vezes em dias distintos
e, havendo suspeita de ocultação, realizará a citação com hora certa, certificando
pormenorizadamente o ocorrido. Incumbe ao exequente requerer a citação por edital,
uma vez frustradas a pessoal e a com hora certa.

4. Posturas do devedor

Recebida a inicial e realizada a citação, o credor poderá tomar as seguintes


atitudes:
a) efetuar o pagamento voluntário: haverá a extinção do processo executivo
e os honorários advocatícios serão reduzidos pela metade.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

b) requerer o parcelamento (artigo 916, CPC): poderá o executado, no


prazo dos embargos, reconhecendo o débito e juntando (trinta por cento) do valor em
execução, requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais,
acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês. Tal benefício
não constitui ato que vincula o magistrado, o qual poderá ou não deferi-lo. O
exequente será intimado para manifestar-se sobre o pedido de parcelamento e o juiz
decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias. Enquanto não apreciado o requerimento, o
executado terá de depositar as parcelas vincendas, facultado ao exequente seu
levantamento. Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o
depósito, que será convertido em penhora; Deferida a proposta, o exequente levantará
a quantia depositada, e serão suspensos os atos executivos. O descumprimento de
qualquer das prestações importará o vencimento antecipado das demais e o
prosseguimento do processo, com o imediato início dos atos executivos bem como a
imposição de multa de 10% (dez por cento) sobre o valor das prestações
remanescentes.
c) apresentar embargos à execução: os embargos qualificam-se como a
defesa com a natureza jurídica de ação incidental autônoma. Serão os embargos
distribuídos por dependência, autuados em apartado e instruídos com cópias das
peças processuais relevantes.Serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias. Vale
ressaltar que, não obstante seja a execução movida em face de litisconsortes com
diferentes procuradores, o prazo dobrado do artigo 229, CPC, não lhes será aplicado.
Recebidos os embargos, será o exequente ouvido no prazo de 15 (quinze) dias.Os
embargos à execução não terão efeito suspensivo (artigo 919, CPC). O juiz poderá, a
requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando
verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a
execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes. É o
caso, por exemplo, dos embargos versarem sobre a impenhorabilidade de bem
protegido por lei.
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ANDRÉ MOTA

5. Continuidade da execução

Tendo em vista que os embargos não mais possuem efeito suspensivo, os


atos de constrição e expropriação seguirão paralelamente ao seu rito. A expropriação
apenas não se aperfeiçoará acaso seja deferido efeito suspensivo aos embargos.
Pois bem, não efetuado o pagamento, munido da segunda via do mandado, o
oficial de justiça procederá de imediato à penhora de bens e a sua avaliação, lavrando-
se o respectivo auto e de tais atos intimando, na mesma oportunidade, o executado.
A penhora pode ser definida como o ato que individualiza bens no patrimônio
do devedor, os quais serão sujeitos a posterior expropriação.
Quanto aos limites, a penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem
para o pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários advocatícios.
A penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, salvo se outros
forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a
constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente.
O ato judicial em questão deverá obedecer à ordem de prioridade
estabelecida no artigo 835, CPC, a saber: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou
aplicação em instituição financeira (para possibilitar a penhora de dinheiro em
depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, requisitará à
autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico,
informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo
ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução. As
informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor
indicado na execução); II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito
Federal com cotação em mercado;III - títulos e valores mobiliários com cotação em
mercado; IV - veículos de via terrestre; V - bens imóveis; VI - bens móveis em geral;
VII - semoventes;VIII - navios e aeronaves; IX - ações e quotas de sociedades simples
e empresárias; X - percentual do faturamento de empresa devedora; XI - pedras e
metais preciosos; XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda
e de alienação fiduciária em garantia; XIII - outros direitos.

ATENÇÃO!
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ANDRÉ MOTA

Três observações precisam ser feitas:

Em primeiro lugar, se não encontrar bens penhoráveis, o oficial comunicará


ao juiz, que intimará o devedor para que indique bens passíveis de expropriação.
Considera-se ato atentatório à dignidade da jurisdição a conduta do devedor que,
intimado, não indica ao juiz quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora
e seus respectivos valores (artigo 774, V, CPC).
Em segundo lugar, atente-se que é prioritária a penhora em dinheiro, podendo
o juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem acima referida de acordo com as
circunstâncias do caso concreto (artigo 835,§ 1o, CPC).
Finalmente, quanto ao registro da penhora, será tarefa do exequente
proceder com o registro da penhora no cartório competente, tudo com o fito de dar
publicidade e conhecimento para terceiros de boa-fé. Atento ao mandamento em
questão, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça sumulou a questão (Súmula
375). O texto determina que o reconhecimento da fraude de execução dependa do
registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.

→ Depósito de bens: os bens penhorados serão preferencialmente


depositados:
# as quantias em dinheiro, os papéis de crédito e as pedras e os metais
preciosos, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o
Estado ou o Distrito Federal possua mais da metade do capital social integralizado,
ou, na falta desses estabelecimentos, em qualquer instituição de crédito designada
pelo juiz;
# os móveis, os semoventes, os imóveis urbanos e os direitos aquisitivos
sobre imóveis urbanos, em poder do depositário judicial. Se não houver depositário
judicial, os bens ficarão em poder do exequente. Os bens poderão ser depositados
em poder do executado nos casos de difícil remoção ou quando anuir o exequente.
# os imóveis rurais, os direitos aquisitivos sobre imóveis rurais, as
máquinas, os utensílios e os instrumentos necessários ou úteis à atividade
agrícola, mediante caução idônea, em poder do executado.
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6. Ferramentas executivas

Sabemos que o devedor responde com todos os seus bens para o pagamento
de suas dívidas, na conformidade do artigo 591 do CPC de 1973 e, agora, do artigo
789 do CPC em vigor. Mas, ao longo dos anos, a prática demonstrou que aludida regra
foi de difícil efetividade, na medida em que o executado sempre se utilizou de uma
série de expedientes capazes de culminar na frustração da execução.

Por isso, várias ferramentas eletrônicas foram criadas com a finalidade de


proporcionar uma maior agilidade, segurança e sucesso dos atos de constrição
judicial. É o que veremos a seguir:

a) SISBAJUD

O BacenJud, nomenclatura originária, é sistema que interliga o poder


judiciário ao banco central e instituições financeiras, com vistas a possibilitar a
solicitação de informações e envio de ordens judiciais para constrição de ativos
financeiros (dinheiro), tudo nos termos do artigo 854 do Código de Processo Civil.
Assim, o magistrado, mediante senha de acesso ao sistema, poderia enviar ordem
on-line a fim de que fossem localizadas contas bancárias em nome do devedor e, ato
contínuo, a determinação do bloqueio desses ativos para a satisfação do débito objeto
de execução.

Com o tempo, houve a necessidade de renovação tecnológica desta


ferramenta, para inclusão de novas funcionalidades, uma vez que o BacenJud já
estava defasado, por ter sido criado sob a égide de tecnologias já ultrapassadas.

Assim, em dezembro de 2019, foi celebrado acordo de cooperação técnica


entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Banco Central e Procuradoria da
Fazenda Nacional, para substituir o BacenJud por um Sistema de Busca de Ativos do
Poder Judiciário mais avançado: o SISBAJUD.

Além do envio das ordens de requisição de informações e bloqueio, outrora já


permitidas pelo BacenJud, o novo sistema agora possibilita requisitar informações
detalhadas sobre os extratos de conta corrente, o que permitirá verificar e localizar
eventual desvio de quantias feitas da conta do executado durante o transcorrer do
processo executivo. Ademais, os juízes poderão emitir ordens solicitando das
instituições financeiras informações dos devedores, tais como cópia de contrato de
abertura de conta corrente e de conta de investimento, fatura do cartão de crédito,
cópias de cheques, além de extratos do PIS e do FGTS. Assim, poderão ser
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bloqueados tanto valores em conta corrente quanto ativos mobiliários investidos


(títulos de renda fixa e ações).

O novo sistema facilitará, inclusive, a adoção das chamadas medidas


executivas atípicas (ex: bloqueio de cartão de crédito do devedor), na medida em que
as consultas ao sistema serão amplas e possibilitarão o acesso às transações do
devedor, a fim de que o magistrado possa ter uma verdadeira noção do poder
financeiro do executado.

Quantos aos tribunais que se utilizam do processo judicial eletrônico (PJE), o


SISBAJUD já estará ao mesmo integrado e possibilitará o envio das ordens judiciais
bem como o recebimento das respostas enviadas pelas instituições financeiras.

Finalmente, uma importante novidade trazida com o SISBAJUD é a


possibilidade dos magistrados registrarem a reiteração automática das ordens de
bloqueio. Explica-se: Com o BacenJud, uma vez enviada a ordem judicial para
informação e bloqueio, quando os ativos inexistiam na conta do executado, isso era
informado ao magistrado e, caso ele desejasse proceder no futuro com nova consulta,
deveria emitir nova ordem de bloqueio. Com o SISBAJUD, o magistrado poderá fixar,
desde logo, o quantitativo de vezes que a ordem deverá ser automaticamente
reiterada, caso não sejam encontrados ativos na conta do executado. É o que tem
sido chamado de “teimosinha”.

b) RENAJUD

O Renajud é ferramenta que possibilita a restrição judicial sobre veículos. Ela


foi implementada através de acordo de cooperação técnica celebrado entre o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ministério das cidades e Ministério da justiça.

Em termos simples, o sistema, que é operado on-line, interliga o poder


judiciário ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Através do Renajud permite-se a consulta e envio, em tempo real, à base de


dados do Renavam, de ordens judiciais de restrição e registro de penhora de veículos
de propriedade dos executados em processos judiciais.
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c) SERASAJUD

O serasaJud, de igual forma, é uma ferramenta on-line. Este sistema permite


a troca de dados entre o Poder Judiciário e a Serasa Experian, a fim de possibilitar a
inscrição do executado no cadastro de devedores, consoante permitido pelo artigo
782 do Código de Processo Civil.

Aludida ferramenta é poderosa, na medida em que o Brasil, como sabemos,


é um país cujos consumidores têm a cultura de adquirir produtos e serviços por meio
de créditos concedidos. Assim, a restrição do acesso a tais créditos acaba se
constituindo como um mecanismo coercitivo para que o executado proceda com o
pagamento do débito judicial em execução.

É mister que os(as) advogados(as) fiquem atentos(as) a esta ferramenta, uma


vez que o seu uso depende de requerimento da parte exequente, consoante se extrai
do § 3º do artigo 782 do Código de Processo Civil.

d) SNIPER

O Sistema Nacional de Investigação Patrimonial e Recuperação de Ativos


(Sniper) é outra ferramenta tecnológica a favor da efetividade da execução. O seu
objetivo é agilizar e facilitar a investigação patrimonial por parte de servidores e
magistrados de todos os tribunais brasileiros integrados à Plataforma Digital do Poder
Judiciário (PDPJ).
A partir do cruzamento de dados e informações de diferentes bases de dados,
o Sniper destaca os vínculos entre pessoas físicas e jurídicas de forma visual (no
formato de grafos), permitindo identificar relações de interesse para processos
judiciais de forma mais ágil e eficiente.
Numa explanação bem simples, o Sniper se assemelha a um “grande
computador” que recebe informações da base de dados de outros órgãos
(Receita Federal, Tribunal Superior Eleitoral, Controladoria Geral da União,
Agência Nacional de Aviação Civil, Tribunal Marítimo e CNJ), fazendo o
cruzamento das informações e identificando os diversos vínculos entre pessoas
físicas e jurídicas, inclusive por intermédio de gráficos.
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Mas aí você poderia indagar: quais informações do investigado serão dadas


pela base de dados de cada órgão (receita federal, TSE, etc.) ao Sniper?
Bem, em relação à Receita Federal do Brasil, consulta-se tanto o Cadastro
de Pessoas Físicas (CPF) quanto o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).
No âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é permitido acessar a
base de candidatos, com informações sobre candidaturas e bens declarados.
Outrossim, na base de dados da Controladoria-Geral da União (CGU), é
permitido colher informações sobre sanções administrativas (caso já tenha ocupado
cargo público), empresas inidôneas e suspensas, entidades sem fins lucrativos
impedidas, empresas punidas e acordos de leniência.
Na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) colhe-se o Registro
Aeronáutico Brasileiro.
Por sua vez, no Tribunal Marítimo colhe-se as embarcações listadas no
Registro Especial Brasileiro.
Finalmente, no âmbito do CNJ, são extraídas informações sobre processos
judiciais, número de processos, valor da causa, partes, classe e assunto dos
processos.

7. Dos atos de Expropriação

Realizada a penhora e avaliação, inicia-se a fase expropriatória. A atual


sistemática executiva consagra as seguintes modalidades de expropriação:

# Adjudicação (artigos 876 a 878, CPC): é a forma preferencial de


expropriação, mediante a entrega do próprio bem penhorado ao credor. Verifica-se a
adjudicação quando o exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação,
requer lhe sejam adjudicados os bens penhorados. A adjudicação considera-se
perfeita e acabada com a lavratura e assinatura do auto pelo juiz, pelo adjudicante,
pelo escrivão e, se for presente, pelo executado, expedindo-se a respectiva carta, se
bem imóvel (este documento substitui a tradicional compra e venda entre particulares).
Urge ressaltar que a carta só será emitida juntamente com a prova da quitação dos
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tributos (a serem pagos pelo adquirente). Em se tratando de bem móvel, será


expedido mandado de entrega ao adjudicante.
# Alienação por iniciativa particular (artigos 879 e 880, CPC): dá-se
quando, não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exequente requerer
sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou
leiloeiro público credenciado perante a autoridade judiciária. A negociação do bem é
feita extrajudicialmente, devendo o juiz fixar: a) o prazo em que a alienação deve ser
efetivada; b) a forma de publicidade; c) o preço mínimo; d) as condições de pagamento
e as garantias, bem como, se for o caso, a comissão de corretagem. Concluída a
negociação, a alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz,
pelo exequente, pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se
carta de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel,
mandado de entrega ao adquirente.
# Alienação em leilão judicial eletrônico ou presencial (artigos 881 a 903,
CPC): assemelha-se a uma espécie de licitação. Só deve ser utilizada no caso de não
ter ocorrido nem adjudicação, nem alienação por iniciativa particular.
O leilão do bem penhorado será realizado por leiloeiro público.
Ressalvados os casos de alienação a cargo de corretores de bolsa de valores,
todos os demais bens serão alienados em leilão público.
Não sendo possível a sua realização por meio eletrônico, o leilão será
presencial. A alienação judicial por meio eletrônico será realizada, observando-se as
garantias processuais das partes, de acordo com regulamentação específica do
Conselho Nacional de Justiça.
Sendo presencial, o leilão será realizado no local designado pelo juiz.
O leilão será precedido de publicação de edital, que conterá: I - a descrição
do bem penhorado, com suas características, e, tratando-se de imóvel, sua situação
e suas divisas, com remissão à matrícula e aos registros; II - o valor pelo qual o bem
foi avaliado, o preço mínimo pelo qual poderá ser alienado, as condições de
pagamento e, se for o caso, a comissão do leiloeiro designado; III - o lugar onde
estiverem os móveis, os veículos e os semoventes e, tratando-se de créditos ou
direitos, a identificação dos autos do processo em que foram penhorados; IV - o sítio,
na rede mundial de computadores, e o período em que se realizará o leilão, salvo se
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este se der de modo presencial, hipótese em que serão indicados o local, o dia e a
hora de sua realização; V - a indicação de local, dia e hora de segundo leilão
presencial, para a hipótese de não haver interessado no primeiro; VI - menção da
existência de ônus, recurso ou processo pendente sobre os bens a serem leiloados.
A arrematação constará de auto que será lavrado de imediato e poderá
abranger bens penhorados em mais de uma execução, nele mencionadas as
condições nas quais foi alienado o bem.
A ordem de entrega do bem móvel ou a carta de arrematação do bem imóvel,
com o respectivo mandado de imissão na posse, será expedida depois de efetuado o
depósito ou prestadas as garantias pelo arrematante, bem como realizado o
pagamento da comissão do leiloeiro e das demais despesas da execução.
A carta de arrematação conterá a descrição do imóvel, com remissão à sua
matrícula ou individuação e aos seus registros, a cópia do auto de arrematação e a
prova de pagamento do imposto de transmissão, além da indicação da existência de
eventual ônus real ou gravame.

7. Finalização da execução: Realizada a expropriação deste, o produto da


venda será entregue ao exequente, de modo que haverá extinção da obrigação
mediante o pagamento, caso em que magistrado proferirá sentença declarando a
extinção da execução.
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DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Uma importante alteração trazida pela lei 14.195/2021, no campo das


execuções, é a que diz respeito ao instituto da prescrição intercorrente.

Cabe, desde logo, ressaltar que existem três espécies de prescrição no processo
civil:

a) a prescrição que ocorre ANTES do ajuizamento da ação: quando alguém que


teve o direito violado não ingressa com a ação no prazo previsto na lei material legal
(a maioria destes prazos estão previstos no Código Civil -arts. 205 e seguintes).

b) a prescrição DA EXECUÇÃO: é aquela que ocorre entre o trânsito em julgado


da decisão e antes do pedido de cumprimento da sentença (súmula 150, STF). Aqui,
a parte vencedora não foi diligente em requerer a execução da sentença em tempo
oportuno.

c) a Prescrição INTERCORRENTE: é aquela que se consuma no transcorrer de


uma execução, seja ela de título judicial ou extrajudicial.

Esta última (prescrição intercorrente) é a que nos interessa, pois somente ela foi
objeto de mudança pela lei 14.195/2021.

Ao tratar da suspensão da execução, o legislador elencou como uma das


hipóteses quando não for localizado o executado ou bens penhoráveis. Neste
caso, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se
suspenderá a prescrição.

Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado
ou que sejam encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos
autos. Ressalte-se queos autos serão desarquivados para prosseguimento da
execução se a qualquer tempo forem encontrados bens penhoráveis.

No entanto, o termo inicial da prescrição no curso do processo (prescrição


intercorrente) será a ciência da primeira tentativa infrutífera de localização do
devedor ou de bens penhoráveis, e será suspensa, por uma única vez, pelo prazo
máximo de um ano, que é exatamente o período de suspensão do processo, conforme
afirmado acima.

Como se percebe, a inovação legislativa acabou prejudicando o exequente


(credor). É que, ANTES, o prazo de prescrição intercorrente somente se iniciava após
decorrido um ano de suspensão processual por não ter sido encontrado o devedor ou
bens penhoráveis. AGORA, diferentemente, o prazo se iniciará a partir de quando
a parte teve ciência da PRIMEIRA tentativa infrutífera de localização do devedor
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ou de bens penhoráveis, e será suspensa, por uma única vez, pelo prazo máximo
de um ano, que é exatamente o período de suspensão do processo, conforme
afirmado acima.

Bem, para “compensar” está má-notícia trazida para o credor, § 4º- A, acrescido
ao artigo 921 do CPC, passou a apontar que a efetiva citação(caso se trate de
execução de título extrajudicial), intimação do devedor(caso se trate de cumprimento
de sentença) ou constrição de bens penhoráveis INTERROMPE o prazo de prescrição
(ou seja, irá “zerar” novamente), que não corre pelo tempo necessário à citação e à
intimação do devedor, bem como para as formalidades da constrição patrimonial, se
necessária, desde que o credor cumpra os prazos previstos na lei processual ou
fixados pelo juiz.

Quanto à decretação da prescrição, está poderá ser feita a requerimento ou


mesmo de ofício. Neste último caso, o juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de
15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição no curso do processo e
extingui-lo, sem ônus para as partes.
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RECURSOS: ASPECTOS GERAIS

1. Considerações iniciais

Certamente que um dos atributos marcantes do ser humano é o seu


inconformismo com as situações adversas vividas.
No mundo jurídico não é diferente: pelo contrário, como o cotidiano forense
traz a característica de existência de relações conflituosas, na medida em que se
travam disputas pelos bens da vida, a tensão e insatisfação ante o surgimento de uma
situação desfavorável, representada por uma decisão judicial, é ainda maior.
Encontramos, desta feita, um primeiro fundamento de existência dos
instrumentos recursais, na medida em que o mesmo possibilita àquele que teve contra
si um provimento judicial desfavorável a prerrogativa de provocar, novamente, a
apreciação da matéria objeto de seu inconformismo.
Por outro lado, faz-se mister pontuar a falibilidade do ser humano-
inconveniente passivo de ser vivido, inclusive, pelo magistrado- a qual certamente
pode causar consequências danosas àquele que foi alvo do erro perpetrado. Aqui, de
igual forma, o recurso surge como um instrumento que vem atender aos anseios do
jurisdicionado, haja vista que, no caso, o mesmo acaba por servir de veículo de
correção da falha humana e, por consequência, de propulsor do ideal de justiça no
estado democrático de direito.

2. Conceito

O recurso pode ser definido como o instrumento de impugnação das


decisões judiciais, de uso voluntário, com o objetivo de alcançar a reforma,
invalidação ou integração do provimento emitido.
Verifique que, a teor do que dispõe o artigo 1.001 do CPC, não cabe recurso
para impugnar despachos.
Do conceito exposto, extraímos as suas finalidades ou objetivos:
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Reformar: aqui denuncia-se o erro in judicando, ou seja, o modo equivocado


de apreciação dos atos processuais, de forma a desaguar na errônea ou injusta
decisão. (ex: decisão baseada em laudo pericial desqualificado, quando as provas
testemunhais foram demasiadamente claras acerca dos pontos controvertidos);
Invalidar: a invalidação pretende apontar o error in procedendo, ou seja, o
desatendimento de fórmula legal na condução do procedimento. (ex: negativa de oitiva
de testemunha, causando cerceio ao direito de defesa da parte);
Integração: o objetivo, neste caso, é pleitear o ajuste de um provimento
emitido com defeito (obscuro, omisso ou contraditório), visto que decisão eivada de
vício é equivalente à ausência da mesma, fator inadmissível diante do princípio do
amplo acesso (exemplo: postulados os danos morais e materiais, a sentença apenas
apreciou o primeiro pleito, esquecendo-se do segundo).

3. Fundamentos

Além dos fundamentos anteriormente referidos (inconformismo humano e


falibilidade humana), existem outros dois fundamentos que justificam a existência dos
recursos: o controle do arbítrio judicial e a qualidade das decisões judiciais
emitidas.
O recurso controla o arbítrio judicial, na medida em que o julgador, sabendo
que sua decisão está sujeita à apreciação por órgão superior, evitará cometer abusos;
de igual forma, o órgão prolator da decisão tomará o cuidado de manter a qualidade
em suas decisões, sob pena de futura mudança, quando da interposição do recurso.

4. Pressupostos de admissibilidade

Assim como o direito de ação só pode ser regularmente exercido quando


obedecidos certos requisitos, sendo o recurso uma extensão desse direito, deve o
mesmo obedecer a pressupostos que condicionem o seu processamento e, por
consequência, a análise da matéria nele veiculada.
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Destarte, o juízo de admissibilidade consiste na verificação dos pressupostos


recursais da modalidade recursal de que se tenha valido o recorrente para impugnar
o decisório judicial.
Aludidos requisitos consistem em matéria de ordem pública, de modo a poder
ser enfrentada em qualquer grau de jurisdição, de ofício, sem a necessidade de
provocação da parte.
Preenchidos os requisitos, diremos que o recurso será conhecido, de modo a
se poder adentrar na análise meritória (juízo de mérito) para, só então, concluir pelo
provimento ou improvimento do instrumento recursal.
Eis os pressupostos de admissibilidade:

A) Tempestividade

Deve ser ele interposto no prazo previsto em lei. À exceção dos embargos de
declaração, que possuem prazo de 5 (cinco) dias, todas as demais espécies recursais
previstas no CPC têm o prazo de 15 (quinze) dias, consoante o disposto no artigo
1.003, § 5o.
O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão. Tais sujeitos considerar-se-ão intimados em
audiência quando nesta for proferida a decisão.
No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório
ou conforme as normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra
especial.
Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será
considerada como data de interposição a data de postagem.
Havendo feriado local, o recorrente comprovará a ocorrência no ato de
interposição do recurso.
É mister ressaltar que a interposição do recurso prematuro (apresentado
antes da publicação da decisão a que se pretende impugnar) será considerado
tempestivo. É que o artigo 218, § 4o do CPC aponta que será considerado tempestivo
o ato praticado antes do termo inicial do prazo.
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No mais, frise-se que o prazo para recorrer será dobrado em certas


hipóteses: recurso interposto pelo Ministério Público e pessoas jurídicas de direito
público, (artigos 180 e 183, CPC); a defensoria pública (artigo 186, CPC) e os
litisconsortes com diferentes procuradores, desde que pertençam a diferentes
escritórios de advocacia (artigo 229, CPC) e mais de um dos litisconsortes tenha
suportado o prejuízo com a decisão judicial (Súmula 641, STF). Registre-se que o
prazo dobrado para os litisconsortes com diferentes procuradores somente será
aplicado em se tratando de processo físico.

B) Preparo

Consiste no pagamento das custas, como espécie de taxa, em virtude da


contraprestação por serviço público específico. O preparo deve ser efetuado no ato
de interposição do recurso.
São isentos do preparo o Ministério público, as pessoas jurídicas de direito
público e os que gozam de isenção legal (isenção subjetiva). Por outro lado, não se
faz necessário o seu recolhimento quando se tratar de recurso de embargos de
declaração ou agravo no recurso especial ou extraordinário (isenção objetiva).
Verificada a insuficiência no valor do preparo, o recorrente será intimado para
complementá-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de deserção.

ATENÇÃO!
O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o
recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na
pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de
deserção (art. 1.007, § 4o, CPC).
Tal situação ocorre, por exemplo, quando as guias de recolhimento das custas
acostadas aos autos estão ilegíveis. Assim, ao invés de julgar o recurso
imediatamente deserto, será dada a oportunidade para a parte efetuar o preparo pelo
valor dobrado.
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C) Legitimidade

Podem manejar o recurso: a) quem for parte na relação processual; b) o


terceiroprejudicado (ex: um advogado, por exemplo, tem legitimidade para recorrer
de sentença em que tenham sido fixados os honorários. Tal legitimidade é
contemplada, inclusive, pela Súmula 306, do STJ, a qual possibilita, também, a
inclusão do mesmo na execução promovida pela parte). c) o MinistérioPúblico, seja
no processo em for parte ou naqueles em que tenha atuado como fiscal da ordem
jurídica (ainda que, aqui, não tenha havido recurso voluntário pela parte, a teor do
disposto na Súmula 99, STJ).

D) Interesse

Representado pela demonstração de que o provimento jurisdicional lhe trouxe


prejuízo. Somente poderá recorrer quem experimentou prejuízos com a decisão
emitida.

E) Regularidade formal

Trata-se de exigência quanto à presença de requisitos estruturais, a saber:


fundamentação e pedidode reforma/invalidação/integração da decisão (requisitos
gerais).
Podem, também, consistir em requisitos específicos, os quais variam de
acordo com o instrumento recursal manejado (ex: no Agravo de instrumento, sendo o
processo físico, deve-se juntar cópias da decisão agravada, certidão de intimação,
cópias das procurações, etc.; no Recurso especial fundado em dissídio
jurisprudencial, o recorrente deverá acostar a prova da divergência mediante certidão,
cópia autenticada ou citação do repositório de jurisprudência oficial ou autorizado em
que tiver sido publicada a decisão divergente, etc.).

E) Inexistência de fato impeditivo


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ANDRÉ MOTA

A apreciação do recurso não será feita caso exista algum fato que a impeça.
Neste contexto, existem dois fatos impeditivos que merecem destaque: a desistência
e renúncia.
A desistência (artigo 998, CPC) é ato unilateral do recorrente o qual impede
a apreciação de recurso anteriormente interposto, independente da anuência da parte
contrária (ao contrário do que ocorre com a desistência da ação, após apresentada a
contestação). Pode ser requerido, desde que não se tenha, ainda, realizado o
julgamento. Pode ser manifestada por petição avulsa, ou mesmo verbalmente,
durante a sustentação oral.
Outrossim, a renúncia se dá antes mesmo de uma possível interposição do
instrumento recursal cabível. Pode ser emitida de forma tácita (quando praticado ato
incompatível com o direito de recorrer, a exemplo do devedor que, no prazo do recurso
cumpre espontaneamente com o decidido ou, simplesmente, deixa transcorrer o prazo
recursal sem o aviamento do recurso) ou expressa, quando aviada petição
manifestando o desinteresse em atacar o comando judicial que lhe causou gravame.

ATENÇÃO!
Vale ressaltar que a renúncia pode ser total ou parcial, de modo que a parte
pode limitar o desejo de recorrer de forma principal, mantendo, no entanto a
possibilidade de recorrer adesivamente. Não havendo especificação, a renúncia
atingirá o direito de recorrer como um todo.

5. Efeitos

Em primeiro lugar, cabe afirmar que o recurso tem o efeito obstativo, no


sentido de que impede a produção do trânsito em julgado da decisão combatida.
O efeito devolutivo é aquele que tem o poder de remeter a matéria, objeto da
impugnação, para uma nova apreciação do judiciário, seja para a mesma ou uma
superior instância.
Haverá efeito suspensivo naquele recurso que tiver o condão de impedir, de
imediato, o cumprimento da decisão recorrida, a exemplo da apelação, a qual tem o
efeito devolutivo como regra.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Por fim, o recurso terá efeito expansivo quando o seu resultado atingir
matéria não impugnada (dito “expansivo objetivo”. Ex: recorre-se quanto à sentença
que condenou a indenização por danos materiais e o resultado do recurso inverte a
condenação em honorários advocatícios) ou pessoa que não tenha recorrido (dito
“expansivo subjetivo”. Ex: apenas um litisconsorte recorre e o resultado beneficia
quem não haja recorrido).

Vistas as considerações iniciais acerca dos recursos, adentraremos no


estudos das espécies recursais.

APELAÇÃO

A apelação é considerada como um dos recursos mais importantes do nosso


sistema jurídico, na medida em que a mesma ataca o pronunciamento judicial de maior
carga lesiva, a saber, a sentença.

1. Definição

É o recurso manejado contra toda e qualquer sentença, seja terminativa ou


mérito, em procedimento comum ou especial.

2. Objeto

Apesar de atacar a sentença, o recurso em exame poderá versar sobre


matérias contidas na sentença ou em decisões interlocutórias não sujeitas a agravo
de instrumento. Vejamos:

→ matérias decididas na sentença: conforme salientado, o recurso em


análise é apto a atacar sentença seja ela de mérito ou terminativa.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Interposto o recurso, o tribunal estará adstrito à análise da matéria que é


objeto da impugnação recursal, nos limites, é claro, do objeto da ação (regra do tantum
devolutum quantum apellatum). É o que se chama de “efeito devolutivo em extensão”
da apelação (prisma horizontal).
Entretanto, dentro da limitação imposta, o tribunal poderá visitar todos os
argumentos que foram levantados pelas partes (“questões suscitadas”), mesmo que
tais espécies não tenham sido objeto de análise da sentença ou do instrumento
recursal, tudo com vistas a proferir uma decisão qualitativa. É o que se chama de
“efeito devolutivo em profundidade” da apelação (prisma vertical).
Reforçando tal circunstância, o legislador apontou que, quando o pedido ou a
defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação
devolverá ao tribunal o conhecimento das demais.
É o que ocorre, por exemplo, quando o juízo de primeiro grau julga a
improcedência do pedido ao acolher o argumento de pagamento da dívida. O autor
apela e o tribunal julga improvida a sua apelação, porém com fundamento no
pagamento. Perceba que ambos os argumentos- pagamento e prescrição- foram
levantados na peça de defesa, porém apenas um deles havia sido acolhido pela
sentença.
O recurso de apelação veicula pelo menos um dos seguintes vícios:
#Error in procedendo: diz respeito à desobediência de normas ligadas ao
procedimento (ex: julgar antecipadamente a lide quando não era o caso, visto que
existia prova a ser produzida a favor do prejudicado)
#Error in judicando: ligados ao juízo de mérito (ex: má valoração de provas,
como no julgamento baseado em depoimento de única testemunha de acidente,
quando comprovado robustamente por perícia a culpabilidade da parte declarada
vencedora na sentença).

→ Questões resolvidas na fase de conhecimento:as questões resolvidas


na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de
instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar
de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.Se
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

as questões referidas forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado


para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas.

3. Formalidades
O recurso de apelação obedecerá às seguintes formalidades:

→Prazo: o prazo para a interposição do recurso é de 15 dias, contados da


publicação da decisão que se quer recorrer. Atente-se que, conforme já analisado nos
aspectos gerais, os prazos devem ser dobrados quando se tratar de pessoas jurídicas
de direito público, Ministério público, litisconsortes com diferentes procuradores e
defensoria pública.
→Petição: a peça deverá conter os nomes e qualificação das partes,
fundamentos de fato e de direito bem como o pedido de nova decisão (reformando ou
invalidando a anterior).
→Preparo: o recorrente deverá efetuar o preparo do seu recurso (salvo em
caso de isenção), mediante o pagamento das custas, de modo a acostar o
comprovante no ato de interposição do instrumento recursal.
Ocorrendo insuficiência no valor do preparo, a deserção apenas será
declarada se o recorrente, intimado, não o houver complementado no prazo de 5
(cinco) dias. Havendo justo impedimento, poderá o magistrado relevar a pena de
deserção (ex: agência bancária encerra expediente forense mais cedo ou advogado
que fora assaltado).

4. Efeitos

Como regra geral, será recebida em ambos os efeitos (devolutivo e


suspensivo).
O efeito devolutivo significa que o recurso tem a capacidade de devolver
para a jurisdição (agora superior) apenas a matéria que é objeto da impugnação
recursal, possibilitando uma nova análise sobre a mesma (regra do tantum devolutum
quantum apellatum). É o que se chama de “efeito devolutivo em extensão” (prisma
horizontal).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Entretanto, dentro da limitação imposta, o tribunal poderá analisar todos os


argumentos que foram levantados pelas partes (“questões suscitadas”), mesmo que
tais espécies não tenham sido objeto de análise da sentença ou do instrumento
recursal (Efeito devolutivo em profundidade da apelação- prisma vertical).
Outrossim, o efeito suspensivo da apelação se refere ao fato de que a
mesma impede que a sentença impugnada seja, desde logo, executada.

ATENÇÃO!

No artigo 1.012, § 1o do CPC, o legislador tratou de estabelecer o efeito tão


somente devolutivo no recurso em análise, haja vista a natureza emergencial das
matérias nele veiculadas, de modo que a concessão de efeito suspensivo em tais
situações poderia acarretar lesão a direitos. Assim, começa a produzir efeitos
imediatamente após a sua publicação a sentença que:I - homologa divisão ou
demarcação de terras;II - condena a pagar alimentos;III - extingue sem resolução do
mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;IV - julga procedente o
pedido de instituição de arbitragem;V - confirma, concede ou revoga tutela
provisória;VI - decreta a interdição.

5. Processamento

Até que seja julgado, o recurso de apelação percorre um caminho que vai
desde o juízo de primeiro grau até o de segundo (tribunal). Assim, o percurso é
desenvolvido da seguinte forma:

→No juízo de primeiro grau:

#Interposição: o recurso será interposto perante o juízo de primeiro grau,


através de petição.
#Contrarrazões: interposta a apelação, o juízo determinará a intimação da
parte contrária para a apresentação das contrarrazões. Se o apelado interpuser
apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões.
#Remessa:apresentada as contrarrazões, os autos serão remetidos ao
tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

ATENÇÃO!
Caso a apelação seja interposta contra sentença que indeferiu a petição inicial
(artigo331, CPC) ou julgou a improcedência liminar (artigo 332,§ 3o CPC), é possível
que, apresentado o recurso, o magistrado venha exercer seu juízo de retratação, no
prazo de 5 (cinco) dias.

→ No juízo de segundo grau:

#Posturas do relator: recebido o recurso de apelação no tribunal e


distribuído imediatamente, o relator poderá adotar uma das seguintes posturas: I -
decidi-lo-á monocraticamente, nos casos legalmente previstos (artigo 932, incisos
III a V, CPC). Aqui o relator poderá não conhecer do recurso ou conhecer-lhe para dar
ou negar provimento; II - se não for o caso de decisão monocrática, elaborará seu
voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado.

#Teoria da “causa madura” (artigos 1.013. §§ 3º e 4º, CPC):se o processo


estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o
mérito quando: a) reformar sentença que extinguiu o processo sem resolução de
mérito; b) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do pedido ou da causa de pedir;c) constatar a omissão no exame de um dos pedidos,
hipótese em que poderá julgá-lo; d)decretar a nulidade de sentença por falta de
fundamentação; e) reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição.
O objetivo, aqui, é otimizar a prestação jurisdicional, dispensando-se o retorno dos
autos à instância inferior.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Existe uma série de comandos judiciais que, embora não ponham fim à
relação processual (não sejam sentenças), acabam por criar gravame ou
inconveniente a uma das partes, contra a qual o decisório foi emitido.
Contra tais pronunciamentosserá cabível a interposição do recurso de agravo
de instrumento.

1. Definição

É o recurso cabível contra as decisões interlocutórias, nos casos previstos em


lei.

2. Objeto

Do conceito supra, verifica-se que o recurso deve ser manejado em face de


decisões interlocutórias expressamente consagradas em lei, em especial pelo Código
de Processo Civil (artigo 1.015).
Segundo a lição de Diogo Rezende de Almeida (2019: 216):

“Para se descortinar o cabimento do agravo de


instrumento, são necessárias três indagações. Inicialmente,
indispensável descobrir se o provimento jurisdicional de primeiro
grau tem conteúdo decisório. (...) Em seguida, necessário
averiguar-se se o ato decisório resulta no encerramento da fase
de conhecimento de primeiro grau ou na extinção da execução.
Nos ditames do artigo 203, § 1º, a extinção da fase cognitiva ou
da execução caracterizam a sentença, que importa impugnação
por meio de apelação. (...) Por fim, caso consista em decisão
interlocutória- por exclusão, tem conteúdo decisório e não é
sentença-, cabe ao interessado investigar se há algum
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

dispositivo de lei que defina o cabimento do agravo contra tal


decisão.”

De acordo com o artigo 1.015 do CPC, cabe agravo de instrumento contra


decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do
processo;III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;IV - incidente de
desconsideração da personalidade jurídica;V - rejeição do pedido de gratuidade da
justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;VI - exibição ou posse de
documento ou coisa;VII - exclusão de litisconsorte;VIII - rejeição do pedido de
limitação do litisconsórcio;IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;X
- concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;XI - redistribuição do ônus da prova.

As decisões interlocutórias que não sejam suscetíveis de agravo não serão


atingidas pela preclusão, podendo ser atacadas em futura preliminar de apelação ou
nas contrarrazões da apelação (artigo 1.009, § 1º, CPC). Assim, imagine que o juiz,
no curso do processo, proferiu decisão interlocutória excluindo uma testemunha
arrolada pelo réu. Como tal decisão não está sujeita ao agravo de instrumento, por
não constar no rol do artigo 1.015, a parte não poderá agravar. Destarte, o mesmo
deverá esperar a futura prolação da sentença e, sendo a mesmo desfavorável a ele,
poderá apelar e, em preliminar, suscitar a nulidade da decisão interlocutória que
negara a oitiva de sua testemunha.

Questão interessante é a que diz respeito à natureza do aludido rol do artigo


1.015, CPC: seria ele taxativo ou meramente exemplificativo? Bem, a princípio, o
intento do legislador foi estabelecer um taxativo, evitando, no decorrer do processo
judicial, a proliferação de agravos no âmbito do tribunal.
Ocorre que a realidade é bem mais “rica” que a teoria. Com o tempo,
percebeu-se que existiam diversas decisões interlocutórias que, embora não
constassem no rol do artigo 1.015, CPC, precisavam ser imediatamente levadas ao
conhecimento do tribunal. A demora poderia representar a inutilidade de sua
apreciação apenas por ocasião de futura apelação.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Imagine, por exemplo, que alguém requeresse o sigilo no processamento do


feito e este fosse negado pelo juiz. Caso essa decisão (que não consta no rol do artigo
1.015, CPC) somente fosse apreciada por ocasião de futura apelação, de nada
adiantaria, uma vez que os dados que deveriam ser sigilosos já teriam sido expostos
no transcorrer da relação processual.
Outro exemplo é o que diz respeito à decisão que rejeita a alegação de
incompetência. Como ela não consta do rol do artigo 1.015 do CPC, não poderia ser
combatida de imediato através do agravo de instrumento. Mas, perceba que se
apenas a mesma for apreciada ao final do processo, quando da interposição do
recurso de apelação, toda uma sequência de atos processuais poderá restar inútil se
praticada por um juízo que, de fato, era incompetente.
Em virtude das aludidas incongruências, o Superior Tribunal de Justiça, por
sua corte especial, quando do julgamento dos recursos especiais repetitivos de Nº
1.696.396 e 1.704.520, da lavra da Ministra Nancy Andrighi, adotou a chamada tese
da taxatividade mitigada. De acordo com o julgado, o rol do artigo 1.015 é, de fato,
taxativo, mas será possível interpor agravo de instrumento todas as vezes que a
questão necessitar ser levada de imediato ao conhecimento do tribunal, dada a
inutilidade da apreciação por ocasião de futura apelação.
Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário.

3. Formalidades e Processamento

O recurso em exame será interposto no prazo de 15 (quinze) dias.


A petição deverá ser escrita e interposta diretamente no tribunal, sendo
instruída com os seguintes documentos obrigatórios (caso o processo seja físico): a)
com cópias da petição inicial e da contestação; b) da petição que ensejou a decisão
agravada; c) da própria decisão agravada; d) da certidão da respectiva intimação ou
outro documento oficial que comprove a tempestividade; e) das procurações
outorgadas aos advogados do agravante e do agravado.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Faltando qualquer dos documentos acima referidos, o advogado do agravante


deverá apresentar declaração de inexistência dos mesmos, sob pena de sua
responsabilidade pessoal.
O agravante ainda instruirá o agravo com outras peças que entender úteis.
No prazo do recurso, o agravo será interposto por uma das seguintes formas:
I - protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo; II - protocolo
realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias; III - postagem, sob
registro, com aviso de recebimento; IV - transmissão de dados tipo fac-símile, nos
termos da lei; V - outra forma prevista em lei.
O preparo deverá ser comprovado no ato de interposição do recurso,
incluídos os valores relativos ao porte de remessa e retorno (que são despesas com
o deslocamento do recurso), conforme tabela publicada pelos tribunais.
Em se tratando de autos físicos, deve o agravante, no prazo de 3 (três) dias a
contar da interposição do recurso, requerer a juntada, ao juízo de primeiro grau, cópia
da petição do agravo, do comprovante de sua interposição, além da relação dos
documentos que instruíram o recurso, sob pena de não conhecimento do agravo,
desde que arguido e provado pelo agravado. O objetivo, aqui, é possibilitar ao
magistrado o exercício de sua retratação, após o conhecimento do inconformismo da
parte recorrente. Se assim o fizer, o recurso estará prejudicado (art. 1.018, § 1o, CPC).
Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se
não for o caso de imediata negativa de seguimento ou concessão imediata de
provimento ou seguimento, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias, poderá adotar as
seguintes posturas:I - atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação
de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão;II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de
recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou por
carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no
prazo de 15 (quinze) dias, facultando-lhe juntar a documentação que entender
necessária ao julgamento do recurso;III - determinará a intimação do Ministério
Público, preferencialmente por meio eletrônico, quando for o caso de sua intervenção,
para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Adotas as providências necessárias, o relator solicitará dia para julgamento


em prazo não superior a 1 (um) mês da intimação do agravado.
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INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS (IRDR)

1. Aplicação

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, já apelidado pela


doutrina por “IRDR”, é instrumento que visa pacificar a jurisprudência do tribunal local
ou regional, mediante adoção de determinada tese jurídica, a fim de evitar soluções
diversas para lides que versem sobre a mesma controvérsia de direito. O instituto em
questão tem previsão nos artigos 976 a 987 do CPC.

2. Pressupostos

É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas


quando houver, simultaneamente:
→ efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a
mesma questão unicamente de direito: é necessário que haja uma multiplicidade
de processos que tramitem na região ou estado, os quais versam sobre a mesma
matéria de direito. Aqui, portanto, é indispensável que haja controvérsia que gire em
torno da adoção de determinada tese jurídica.
→ risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica:aqui é preciso quea
multiplicidade de processos que versam sobre a mesma controvérsia de direito faça
gerar no seio dos jurisdicionados um sentimento de insegurança, dado o perigo de
existirem decisões conflitantes. É o que a doutrina chama de “jurisprudência lotérica”.
Ressalte-se que a inadmissibilidade do incidente de resolução de demandas
repetitivas por ausência de qualquer de seus pressupostos não impede que, uma vez
satisfeitos os requisitos, seja o incidente novamente suscitado.
Ademais, é incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas
quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver
afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual
repetitiva.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

3. Instauração

O pedido de instauração do incidente, que independe do pagamento de


custas, será dirigido ao presidente de tribunal: I - pelo juiz ou relator, por ofício; II -
pelas partes, por petição; III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por
petição.
O ofício ou a petição será instruído com os documentos necessários à
demonstração do preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente.
Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no
incidente e deverá assumir sua titularidade em caso de desistência ou de abandono.

4. Publicidade

A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e


específica divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho
Nacional de Justiça.
Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com
informações específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente,
comunicando-o imediatamente ao Conselho Nacional de Justiça para inclusão no
cadastro.
Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do
incidente, o registro eletrônico das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no
mínimo, os fundamentos determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela
relacionados.

5. Procedimento

O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno


dentre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do tribunal.
O órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese jurídica
julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência
originária de onde se originou o incidente.
O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os
demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.
O procedimento obedecerá à seguinte sistemática:

→ Juízo de admissibilidade: após a distribuição, o órgão colegiado


competente para julgar o incidente procederá ao seu juízo de admissibilidade,
considerando a presença dos pressupostos legais.

→Posturas do relator:admitido o incidente, o relator:


COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

I - suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam


no Estado ou na Região, conforme o caso. A suspensão será comunicada aos órgãos
jurisdicionais competentes.
Durante a suspensão, o pedido de tutela de urgência deverá ser dirigido ao
juízo onde tramita o processo suspenso. Visando à garantia da segurança jurídica,
qualquer legitimado poderá requerer, ao tribunal competente para conhecer do
recurso extraordinário ou especial, a suspensão de todos os processos individuais ou
coletivos em curso no território nacional que versem sobre a questão objeto do
incidente já instaurado, independentemente dos limites da competência territorial. A
suspensão cessará se não for interposto recurso especial ou recurso extraordinário
contra a decisão proferida no incidente.
II - poderá requisitar informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no
qual se discute o objeto do incidente, que as prestarão no prazo de 15 (quinze) dias;
III - intimará o Ministério Público para, querendo, manifestar-se no prazo de
15 (quinze) dias.

→ Instrução: O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive


pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia, que, no prazo comum de
15 (quinze) dias, poderão requerer a juntada de documentos, bem como as diligências
necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida, e, em seguida,
manifestar-se-á o Ministério Público, no mesmo prazo. Ademais, para instruir o
incidente, o relator poderá designar data para, em audiência pública, ouvir
depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria.
Concluídas as diligências, o relator solicitará dia para o julgamento do
incidente.

→ Julgamento: o julgamento do incidente observará a seguinte ordem:


I - o relator fará a exposição do objeto do incidente;
II - poderão sustentar suas razões, sucessivamente: a) o autor e o réu do
processo originário e o Ministério Público, pelo prazo de 30 (trinta) minutos; b) os
demais interessados, no prazo de 30 (trinta) minutos, divididos entre todos, sendo
exigida inscrição com 2 (dois) dias de antecedência.
O conteúdo do acórdão abrangerá a análise de todos os fundamentos
suscitados concernentes à tese jurídica discutida, sejam favoráveis ou contrários.
Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada:
I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica
questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive
àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região;
II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a
tramitar no território de competência do tribunal, salvo revisão de tese. A revisão da
tese jurídica firmada no incidente far-se-á pelo mesmo tribunal, de ofício ou mediante
requerimento dos legitimados anteriormente mencionados.
Urge ressaltar que, não observada a tese adotada no incidente, caberá
reclamação.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Do julgamento do mérito do incidente caberá recurso extraordinário ou


especial, conforme o caso.
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ANDRÉ MOTA

AÇÃO RESCISÓRIA

Com o objetivo de conferir segurança às relações jurídicas, consiste em regra


do sistema jurídico nacional a indiscutibilidade das decisões que se revestiram do
manto da coisa julgada.
Entretanto, não obstante tenha o decisório se revestido de tal caráter, fato é
que existem situações em que o legislador acabou por relativizar a autoridade da sua
permanência perante o mundo jurídico, justamente por apresentar vício insuportável
ou situação autorizadora, exaustivamente listados no artigo 966 do CPC.

1. Definição

É o instrumento jurídico-processual que visa desconstituir decisório de mérito


transitado em julgado, quando presentes vícios autorizadores.

2. Natureza jurídica

Como o próprio nome sugere, o instrumento em questão tem natureza jurídica


de ação desconstitutiva (ou constitutivo-negativa). Pode ser visualizada como espécie
de sucedâneo recursal, ou seja, meio de impugnação de decisão judicial que se
desenvolve em processo distinto daquele ao qual a decisão fora emitida.

3. Objeto da rescisão

O objeto de rescisória será a decisão de mérito. Perceba que o legislador do


CPC de 2015 retirou o termo “sentença de mérito”, contida no CPC de 1973, passando
a se utilizar da expressão mais abrangente (“decisão de mérito”). É que, diante do
CPC em vigor, é possível que uma decisão interlocutória de mérito faça coisa julgada,
tal como ocorre quando o juiz efetua o julgamento antecipado parcial de mérito (artigo
356, CPC).
Conforme dito, a decisão de mérito será objeto de rescisória, seja ela nula ou
meramente rescindível. Neste último caso se incluem aquelas que, não obstante
sejam despidas de vício, possam ser rescindidas, haja vista expressa previsão legal,
tal como ocorre com a prevista no artigo 966, VII do CPC (obtiver o autor,
posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que
não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Excepcionalmente, a decisão terminativa será objeto de rescisão quando


consistir naquela que acolheu a existência dos pressupostos processuais impeditivos
(perempção, litispendência ou coisa julgada), tendo em vista que, nos casos
mencionados, a lei proíbe a propositura de nova demanda (artigo 966, § 2o, CPC).
O legislador também proibiu o manejo do instrumento em questão quando a
sentença for meramente homologatória de acordo (art. 966, § 4o CPC). É que, neste
caso a sentença não apreciou o mérito da demanda, limitando-se, tão somente, a
homologar acordo celebrado entre as partes. Assim, existindo qualquer vício de
vontade (erro, dolo, coação), deverá o mesmo ser desconstituído mediante ação
anulatória.

4. Hipóteses de cabimento

A decisão de mérito poderá ser rescindida nas seguintes hipóteses:


→se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do
juiz: as hipóteses em questão representam figuras típicas, de caráter penal. A primeira
consistente no “retardo ou omissão do dever de ofício, ou na prática em
desconformidade com a lei, tudo com vistas a satisfazer interesse ou sentimento
pessoal”. A segunda na “exigência, para si ou para outrem, ainda que fora da função
ou antes dela, vantagem indevida”. A corrupção, por sua vez, ocorre quando “se pede
ou recebe, em virtude da função, vantagem indevida” (artigos 319, 316 e 317, do CP,
respectivamente).
A possibilidade de rescisão se dá em virtude do decisório não ter se apoiado
nos elementos constantes dos autos, mas, apenas, nos interesses pessoais do
magistrado.

→proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente: são


pressupostos processuais de validade. No primeiro caso, o vício acaba por macular o
requisito de parcialidade do órgão julgador, ao passo que o segundo requisito atinge
o pressuposto da competência.
Vale ressaltar que, em se tratando de suspeição e incompetência relativa, o
motivo não é ensejador do remédio em estudo, haja vista que, in casu, as
irregularidades acabam por convalescer, dada a inexistência de interesse público
(lembre-se: o juiz não pode decretar, de ofício, a incompetência relativa- Súmula 33,
STJ).
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte


vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei: o dolo se
caracterizará quando a parte ludibriar o magistrado ou a parte adversa, sendo que
este engano seja decisivo no resultado do julgamento (veja-se que o legislador se
utiliza da expressão “quando resultar...”). É o que ocorre quando a parte extrai
documento importante, o qual estava contido nos autos; ou quando subornou perito
para alterar no resultado de perícia decisiva da lide; ou, ainda, quando criou óbice ao
conhecimento, pelo réu, da propositura da ação, levando-o ao estado de revel.
A coação caracteriza-se como a “pressão psicológica” que causa temor, a
ponto de influenciar, decisivamente, no comportamento do coagido.
Haverá, outrossim, colusão quando as partes se unirem para simular
demanda que trará prejuízos a terceiros. É o caso de marido e mulher que simulam
separação judicial e partilha patrimonial que fraudará credores. Se o magistrado
perceber tal fato, no transcorrer da demanda, emitirá sentença que obste o intento das
partes. No entanto, não percebendo, e consumando-se a coisa julgada, outra
alternativa não restará senão o manejo da rescisória.
→ofender a coisa julgada: a coisa julgada constitui-se em fato extrínseco
que impede o ajuizamento de nova demanda (ora, se a nova lei não poderá prejudicar
a coisa julgada, o que dizer de uma decisão posterior que ofendeu coisa julgada
anterior?). Assim, havendo uma segunda coisa julgada, esta será rescindida para dar
lugar a primeira.
→violar manifestamente norma jurídica: aqui o entendimento é no sentido
de que o ajuizamento da rescisória independe da natureza da norma tida como
violada: se constitucional ou infraconstitucional e, neste último caso, se de natureza
material (error in judicando.ex: violação ao artigo 71 da Lei nº 8.666/93) ou processual
(error in procedendo. Ex: violação ao artigo 239, CPC).
→se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou seja provada na própria ação rescisória
→depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência
ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar
pronunciamento favorável
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos dos


autos: há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar
inexistente um fato efetivamente ocorrido. É indispensável, em ambos os casos, que
não tenha havido controvérsia, nem pronunciamento judicial sobre o fato.

5. Legitimidade

Poderão manejar o instrumento jurídico em questão os que foram parte na


demanda rescindenda (incluídos os terceiros intervenientes que, ao ingressarem na
demanda, assentaram-se na condição de parte) ou seus sucessores; os terceiros
juridicamente interessados (não intervieram no processo, embora acabaram por sofrer
os efeitos do decisório); o Ministério Público, nos processos em que, embora não
tenha participado, sua intervenção era obrigatória ou naqueles em que a sentença foi
resultado de colusão entre as partes; e aquele que não participou do processo em
que era obrigatória a sua intervenção.

6. Prazo

Será de 02 (dois) anos, contados a partir do trânsito em julgado da última


decisão proferida nos autos (artigo 975, CPC).
Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo,
quando o mesmo se expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em
que não houver expediente forense.

ATENÇÃO!
Se fundada a ação na descoberta de prova da qual o autor ignorava, o
termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo
máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida
no processo.
Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a
contar, para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no
processo, a partir do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

É mister salientar, ainda, que não é requisito indispensável o prévio


exaurimento dos recursos nas instâncias ordinárias, haja vista que o artigo 975, CPC,
se refere apenas ao “trânsito em julgado da decisão”, o que se dá pelo exaurimento
dos meios recursais ou, simplesmente, pela não - interposição no prazo legal.

7. Procedimento

O procedimento seguirá os seguintes passos:

→Petição inicial: além dos requisitos gerais dos artigos 319 e 320, CPC,
deverá a mesma conter a particularidade do depósito de caução prévia de 5% sobre
o valor da causa, que se converterá em multa, no caso da rescisória ser julgada, por
unanimidade, inadmissível ou improcedente. Eximem-se de tal exigência as pessoas
jurídicas de direito público, o Ministério Público, defensoria pública e os que gozam de
isenção legal.
Ressalte-se que o depósito prévio não será superior a 1.000 (mil) salários-
mínimos.
A petição apresentará o pedido de desconstituição da decisão proferida
(iudiciumrescindens) e, se positivo, o de novo julgamento da causa
(iudiciumrescissorium), salvo, neste último caso, quando o novo julgamento houver de
ser novamente realizado pelo juízo de primeiro grau (a exemplo da corrupção,
prevaricação ou concussão do juiz, impedimento, etc.). O valor da causa
corresponderá ao benefício econômico pretendido pelo autor, o qual poderá coincidir
ou não com o valor dado à ação originária.
É que, não obstante tenha sido atribuído um dado valor à causa originária,
fato é que o valor da condenação (ou execução) seja distinto, motivo pelo qual o
resultado da rescisória importaria em consequências financeiras naquele montante.
→Juízo de admissibilidade: verificada a obediência aos requisitos legais, o
relator determinará a citação do réu, a fim de responder aos termos da ação proposta.
→Resposta do réu: deverá ser apresentada no prazo fixado pelo relator,
variável entre 15 (quinze) e 30 (trinta) dias.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

→Instrução:Se os fatos alegados pelas partes dependerem de prova, o


relator poderá delegar a competência ao órgão que proferiu a decisão rescindenda,
fixando prazo de 1 (um) a 3 (três) meses para a devolução dos autos.
O instrumento jurídico utilizado para efetuar a solicitação em questão será a
carta de ordem.
Concluída a instrução, será aberta vista ao autor e ao réu para razões finais,
sucessivamente, pelo prazo de 10 (dez) dias.
→Julgamento: sendo acolhida a pretensão do autor, o órgão julgador
rescindirá o julgado combatido, proferindo decisão de natureza constitutivo- negativa
(ou desconstitutiva, como queira) e, se for o caso, proferirá novo decisório, o qual
substituirá o anterior. No caso do julgamento unânime de improcedência, o depósito
será revertido a favor do réu.
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

MENSAGEM FINAL

Pois bem, amigo(a), preciso me despedir.

Em primeiro lugar, agradecendo a Deus, Senhor de tudo, pela


oportunidade de ministrar este curso e poder, de alguma forma, colaborar para
o desenvolvimento de pessoas como você.

Em segundo lugar, sendo grato a você pela confiança depositada em


nosso trabalho ao decidir matricular-se neste curso. Espero, de coração, que
essa jornada tenha atendido às suas expectativas.

Finalmente, em terceiro lugar, desejo muito sucesso em sua caminhada!


Sei que o público deste curso é heterogêneo: talvez você seja acadêmico de
direito, alguém que busca a aprovação em exame de ordem ou concursos
públicos, ou mesmo seja advogado(a) ou servidor(a). independentemente de
sua condição e objetivo de vida, registro meu profundo desejo de sucesso e
aconselho a calma e serenidade necessáriaspara enfrentar os desafios.

Lembre-se do que diz a passagem de Mateus 6:25 e seguintes:

"Portanto eu lhes digo: não se preocupem


com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou
beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que
vestir. Não é a vida mais importante do que a comida,
e o corpo mais importante do que a roupa?

Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem


nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial
as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que
elas?
COMEÇANDO DO ZERO EM PROCESSO CIVIL
ANDRÉ MOTA

Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode


acrescentar uma hora que seja à sua vida?
"Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam
como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham
nem tecem.
Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o
seu esplendor, vestiu-se como um deles.
Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe
e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a
vocês, homens de pequena fé?

Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que


vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que
vamos vestir? ’
Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas;
mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.

Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de


Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão
acrescentadas.”

Portanto, faça apenas a sua parte. No mais, procure descansar e deixar


que tudo ocorra na conformidade da vontade de Deus. Afinal, ela é boa, perfeita
e agradável!

Abraço fraterno,

André Mota.

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