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Aula 5
O sistema de normas que regulam a vida em sociedade é, então, ditado por órgãos
com poder jurídico legislativo que pertencem ao Estado e aplicado pelos órgãos com
poder executivo e judicial. As entidades do Estado português que têm poder legislativo
para fazer leis são: a Assembleia da República e o Governo. O Tribunal Constitucional
não tem poder legislativo pois não emite leis, tem poder jurídico (?) sendo a sua
função a de conferir, ou não, constitucionalidade conforme estas estejam, ou não, de
acordo com a Constituição da República Portuguesa. Este órgão serve então para aferir
se as leis são aplicáveis e em que termos. As leis ordinárias têm sempre que respeitar
as leis constitucionais. Os tribunais têm poder jurídico judicial porque atuam mediante
o incumprimento da lei.
Direito não pode confundir-se com Estado ou órgãos legislativos pois o que existe é
uma relação entre eles uma vez que, o Estado é regulado pelo Direito que ele próprio
define na medida em que formula e aprova as leis. Exemplos: é o Direito que define os
órgãos de soberania, quais as suas competências, como são eleitos, ect. Todas as
normas sobre o funcionamento do Estado estão escritas na Constituição da República
(aprovada em 1976 mas já alvo de algumas revisões).
O Direito define então o que é o Estado e como funciona, assumindo o papel de o
legitimar e condicionar, tendo o Estado que obedecer a todas as normas sendo assim
limitado por algo que ele próprio define. O Estado é também condicionado por ele
próprio e por outros Estados (Direito Internacional). Independentemente de estar ou
não condicionado pelo Direito, há que saber se o Estado tem monopólio de detenção
do Direito, ou seja, todo o Direito é Estatual (ou seja, definido pelos órgão de
soberania do Estado)? NÃO.
Por exemplo, o Direito Internacional (Público) rege as relações entre Estados sendo
produto de acordos, tratados, organizações internacionais (como a UE) e não do
próprio Estado.
Não se pode confundir Direito com uso da força, apesar de este recorrer ao uso da
força para se tornar eficaz (coercibilidade), usando então coações (imposições) e
sanções (punições). Contudo, não pode confundir-se com o uso da força pois esta,
enquanto regulada pelo Direito, pode ser considerada violência.
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Noções Fundamentais de Direito
Aula 6
Por vezes o valor Justiça compromete o valor Segurança e vice-versa uma vez que se
pratica uma em detrimento da outra. Por exemplo, se uma pessoa for presa por matar
outra, consegue-se segurança no entanto não pode dizer-se que haja realmente
justiça. Deste modo, há que distinguir Justiça formal de Justiça material.
Justiça formal → refere -se à legalidade, ou seja, aplicação de uma sanção pelo
incumprimento da lei
Justiça material → refere-se a justiça moral, em termos da acção praticada (se uma
pessoa matasse devia ser morta também).
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Noções Fundamentais de Direito
Assim, se um Tribunal resolve um caso de acordo com a lei que existe para a resolução
daquele caso, a decisão foi justa do ponto de vista jurídico, no entanto, a lei pode não
se traduzir numa solução absoluta não sendo suficientemente adequada para o caso e
sendo assim considerada injusta.
Igualdade não é tratar todos da mesma maneira, é sim “Não tratar de forma igual os
desiguais nem de forma igual os desiguais”. Ou seja, não aplicar um tratamento
discriminatório a casos análogos nem tratar de forma diferente casos idênticos, nas
mesmas circunstâncias. Por exemplo, os doentes mentais têm a mesma dignidade que
as outras pessoas no entanto, a lei não as pode tratar da mesma forma em caso de
incumprimento das normas devido à sua incapacidade. Doentes mentais, idosos e
crianças têm um tratamento diferente em certas circunstâncias.
Ninguém pode ser beneficiado ou prejudicado devido a factores como a raça, etnia,
religião, etc. para se evitar a discriminação. Mas por exemplo, mulheres grávidas e a
amamentar não podem exercer certos trabalhos devido à presença de substâncias
físicas e químicas que as podem afetar e prejudicar a criança e isso está estabelecido
em leis.
Todos os cidadãos têm os mesmos direitos e deveres (supostamente) mas, por
exemplo, os estrangeiros não podem executar cargos como o de Primeiro Ministro, o
que é um fator de diferenciação entre indivíduos. Pode dizer-se que não há uma
completa igualdade, no entanto, o que importa são as circunstâncias e são essas que
definem se se age da mesma maneira ou não, dependendo dos casos. O Princípio da
Igualdade implica, então, o tratamento diferenciado em casos diferentes e um
tratamento semelhante em casos análogos.
No entanto, muitas vezes existe incompatibilidade de normas. Tem que haver uma
relação entre o que se faz e a lei aplicada como consequência pois não se pode atribuir
a mesma sanção a quem mata e a quem dá um murro noutra pessoa ou rouba um
carro.
O Princípio da Publicidade das Leis afirma que estas devem ser conhecidas por todos
os cidadãos. (As leis são publicadas no jornal online Diário da República)
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Noções Fundamentais de Direito
Já o Princípio da Legalidade das Leis refere as condições em que esta se aplica como
por exemplo: as leis só podem aplicar-se depois de serem publicadas para
conhecimento dos cidadãos e só podem aplicar-se a casos futuros à sua
implementação, nunca anteriores.
Aula 7
Relação entre Segurança Jurídica e a Justiça é uma relação difícil podendo, por vezes,
entrar em conflito pois mesmo que uma pessoa seja presa por matar ou torturar outra
cumpre-se a Segurança, no entanto, não podem dizer-se que haja Justiça.
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Noções Fundamentais de Direito
Prescrição ≠ Caducidade
A prescrição refere-se à perda de exercício jurídico do direito enquanto que a
caducidade se refere à perda do direito efectivamente, devido à passagem do tempo.
Invalidez/invalidade da venda
Se uma venda for efetuada apenas verbalmente, sem um documento escrito (contrato
de compra e venda) onde se registe tal transacção, a venda não é considerada valida
pelo que, quem vendeu pode acusar a outra pessoa de roubo.
Registo – prioridade no registo
Um registo (predial, civil, automóvel, ect), faz publicidade à situação jurídica em que se
encontra uma pessoa ou um bem. Existe uma prioridade registral em que o que vale é
o primeiro registo efetuado para o caso de haver vários indivíduos a requerer a posse
de algo, por exemplo, se 10 pessoas tiverem comprado o mesmo carro este pertence
ao que efectuou o registo em primeiro lugar mesmo que não tenha sido o primeiro a
pagar. Em caso de alteração o registo válido é o ultimo, por exemplo, uma pessoa que
se divorcie tem que alterar o seu estado civil.
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Noções Fundamentais de Direito
isso relacionadas como a violência doméstica que, enquanto crime, difere da violência
exercida sobre uma pessoa com a qual não se mantem ligação.
No caso do casamento já se trata de uma relação regulada pela lei pelo que se designa
relação jurídica, havendo o registo de diversas acções tomadas por parte dos cônjuges
e leis que regulam a sua relação por exemplo no que respeita à partilha de bens e da
situação económica.
A união de facto é um caso especial que não pode ser considerado efectivamente uma
relação jurídica (pois o Direito não regula os intervenientes da relação) apesar de
existirem leis que regulam as acções dos sujeitos da relação face a terceiros ou no caso
da extinção da relação ou de um dos elementos (por separação ou morte). A união de
facto não é uma relação jurídica mas é uma situação jurídica que acarreta acções
jurídicas.
Relação jurídica (simples) → toda a relação da vida real que é regulada pelo
Direito e em que se atribui a uma pessoa um direito subjectivo – sujeito ativo –
e a outra a vinculação com um dever – sujeito passivo. Caso exista mais do que
uma pessoa numa das partes designa-se de relação jurídica complexa. Algumas
relações jurídicas estabelecem-se por um contrato, por exemplo, no caso de
compra e venda. Todo o contrato se refere a uma relação jurídica, no entanto,
nem todas as relações jurídicas se expressam por um contrato, por exemplo o
casamento.
Relação jurídica s. → sujeito ativo e sujeito passivo
Uma relação jurídica é composta por 4 elementos: sujeitos, objectos, factos e
garantia.
Direito e Vinculação
Entre Direito e vinculação existe uma relação causal pois todo o direito tem uma
vinculação subjacente e a cada vinculação corresponde um direito. Se uma pessoa
detém um direito subjectivo, existe uma vinculação para com outra pessoa.
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Noções Fundamentais de Direito
Por exemplo, se um individuo comprar algo, tem o direito de receber e quem vende
tem o dever de entregar algo em troca do dinheiro, havendo direitos e vinculações
para ambas as partes. Nesta caso temos uma relação jurídica de compra e venda que
corresponde a uma transacção de algo entre indivíduos mediante o pagamento de um
preço. Nesta relação os sujeitos são o comprador e o vendedor, mas como ambos
detêm direitos e deveres não se pode definir qual deles é o ativo e o passivo.
Artigo 874º (Cód. Civil): Compra e
Venda
Aula 8
Capacidade Jurídica
A capacidade jurídica corresponde à possibilidade de se recorrer à Justiça para fazer
valer os direitos. Pode ser avaliada pela quantidade de direitos e vinculações que o
individuo pode deter designando-se capacidade de gozo. Esta refere-se então à
quantidade de direitos e deveres que a pessoa pode exercer de forma pessoal e livre
ou através de alguém por si designado, ou seja, um representante. Existem direitos
que não podem ser exercidos pela própria pessoa tendo mesmo de ser uma entidade
competente a responsabilizar-se pela sua prossecução. Os sujeitos podem ter, ou não,
capacidade de exercício jurídico e esta pode ser mais ou menos limitada conforme o
direito/vinculação de que se trata. Pode ter-se uma grande capacidade de gozo e uma
reduzida capacidade de exercício.
Pode também dizer-se que a capacidade jurídica corresponde à possibilidade de ser
sujeito de relações jurídicas. Esta não é igual ao longo de toda a vida, por exemplo, o
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Noções Fundamentais de Direito
direito de voto só se adquire nãos 18 anos, e também não é igual para todas as
pessoas (como nos casos de incapacidade de exercício jurídico e o casos dos
estrangeiros que não podem exercer cargos políticos em Portugal).
Representação
Se uma pessoa não pode estar presente numa escritura de algo que lhe pertence pode
nomear outra pessoa para a representar e efetua uma procuração pois só assim se
considera a representação (voluntária) válida, uma vez que, este é o documento
através do qual alguém adquire direitos representativos. A representação voluntária
não é válida para todos os direitos e vinculações pois alguns só podem ser exercidos
pelo próprio indivíduo. No caso dos incapazes de exercício jurídico, a representação é
involuntária pois não é efetuada por sua escolha mas sim porque a lei assim o
estabelece.
Artigo 258º: Representação
Artigo 262º: Procuração (Cód. Civil)
Incapacidade
Existem também direitos e vinculações que não podem ser exercidos pela própria
pessoa de forma pessoal e livre o que, por vezes, não se prende com o próprio direito
ou vinculação mas sim com o estatuto do próprio indivíduo. É o caso dos menores,
interditos e inabilitados; estas pessoas designam-se incapazes do exercício jurídico
dos seus direitos e vinculações. Eles detêm personalidade e capacidade jurídica, só não
detêm capacidade de exercício.
No caso dos menores por serem menores; no caso dos interditos que se refere a
pessoas cegas, surdas, mudas ou com outro tipo de anomalia psíquica que as impeça
de reger a sua pessoa e o seu património; e por fim no caso dos inabilitados que são
pessoas que a lei nomeia como incapazes de governar só por si, ou seja de forma
autónoma, a sua pessoa e o seu património, por exemplo, um alcoólico. Nestes casos é
nomeado um representante legal (tutor) que, em primeira hipótese são os pais, caso
estes não estejam vivos ou presentes recorre-se a outra pessoa com ligação próxima.
Esse tutor representa o incapaz na sua atividade no plano jurídico. No caso dos
interditos representante revê todos os atos jurídicos em que a pessoa interfere.
Muitas vezes os pais deixam de ser apenas representantes parentais para serem
também representantes legais.
Interdição é para toda a vida, inabilitação pode não ser. Estas pessoas sofrem
restrições na sua vida jurídica pois a lei impede-as do exercício da sua capacidade
jurídica, no entanto, tenta suprir essa dificuldade concedendo esta tarefa a outras
pessoas. No caso dos menores quem fica responsável pelo exercício jurídico dos seus
direitos e vinculações são os pais, nos outros dois casos também se recorrer ao poder
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Noções Fundamentais de Direito
parental em primeiro lugar mas caso este já não exista recorre-se a outra pessoa
próxima como o cônjuge.
Pessoas Singulares (Cod. Civil, pág 22) Artigo 66º e seg. (Cód. Civil)
A personalidade jurídica das pessoas singulares cessa com a morte. Artigo 68º (Cód. Civil)
Já a das pessoas colectivas, ou seja, das organizações corresponde ao seu
encerramento ou extinção, em nada se relacionando com a personalidade jurídica dos
indivíduos que a compõem. Artigo 2033º (Cod. Civil) : Capacidade Sucessória
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Noções Fundamentais de Direito
A) Personalidade Jurídica
B) Capacidade Jurídica
C) Esfera Jurídica
D) Incapacidades Jurídicas
E) Ilegitimidades Jurídicas
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Noções Fundamentais de Direito
Os sujeitos da relação jurídica são pessoas jurídicas. Diz-se sempre sujeitos da relação
pois esta pressupõe que existam, pelo menos, duas pessoas.
Para se ser pessoa jurídica é necessário ter personalidade jurídica que corresponde à
possibilidade de ter direitos e deveres. Não o têm apenas os indivíduos mas também
as organizações, desde que satisfaçam interesses colectivos. Dada a aquisição de
personalidade jurídica, põe-se a questão da capacidade jurídica.
1. Direitos subjectivos:
I. Patrimoniais / pessoais
II. De conteúdo egoísta / altruísta
III. Absolutos / relativos
IV. Transmissíveis / intransmissíveis
V. Subjetivos em sentido restrito / potestativos
2. Vinculações:
i. Dever ou obrigação
ii. Estado de sujeição
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Noções Fundamentais de Direito
III. O direito será absoluto se for opunível por todas as pessoas e relativo se for
opunível apenas por parte de algumas pessoas;
IV. Se o direito for passível de ser transmitido, sob o ponto de vista jurídico, a
outras pessoas, em vida ou morte, é transmissível; caso contrário é
intransmissível. Não se considera transmissível um direito que com a morte se
inicia noutra pessoa se este não passar como se fosse herança.
V. Um direito subjectivo em sentido restrito corresponde ao poder ou faculdade
de se exigir ou esperar de outrem um comportamento, um direito subjetivo
potestativo é mais que isso, corresponde ao poder ao faculdade da pessoa,
por manifestação da vontade, produzir efeitos na esfera jurídica de outro
individuo que está submetido/sujeito às alterações que a primeira pode criar
na sua esfera jurídica. Ou seja, a pessoa manifesta a sua vontade e essa
manifestação afeta a esfera jurídica de outra pessoa não podendo esta opor-
se a tal manifestação. Nota: potestativo deriva do latim potestas que significa
poder.
O direito subjectivo em sentido restrito associa-se a vinculações de dever ou obrigação
da outra pessoa a adoptar os comportamentos que a primeira espera (por ex: uma
pessoa vende algo e espera que a outra pague, sendo esta obrigada a isso).
Já o direito subjectivo potestativo associa-se a vinculações relativas a estados de
sujeição.
Um direito é transmissível ou intransmissível consoante possa ser transmitido, sob o
ponto de vista jurídico, a outras pessoas ou não. Na generalidade, os direitos
patrimoniais são transmissíveis e os pessoais intransmissíveis, no entanto, existem
direitos patrimoniais que se extinguem com a morte tornando-se intransmissíveis. Por
ex: o direito de propriedade e de usufruto – uma pessoa doa algo a alguém, mas
restringe o seu usufruto a si mesmo, ou seja, o bem é da outra pessoa mas quem a usa
até à morte, ou até ao período estabelecido, é o sujeito que a doou; este direito ao
usufruto é intransmissível, no entanto, quando a pessoa morrer, o direito extingue-se
para ela e “nasce” para outro, neste caso, o novo dono. Outro exemplo: uma pessoa
adquire o diploma da sua licenciatura, este é um direito instransmissivel porque se
extingue com a morte, não podendo ser passado a outra pessoa.
As classificação dos direitos só é compatível no plano vertical, não o sendo no
horizontal, isto é, um direito pode ser pessoal, subjectivo em sentido restrito e relativo
mas não pode ser pessoal e patrimonial ao mesmo tempo.
C) Esfera Jurídica → conjunto dos direitos e deveres que a pessoa jurídica detém
Esfera jurídica patrimonial: conjunto dos direitos e deveres da pessoa jurídica que
podem ser avaliados em dinheiro.
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Noções Fundamentais de Direito
Esfera jurídica pessoal: conjunto dos direitos e deveres da pessoa jurídica que não
podem ser avaliados em dinheiro.
Nota: Património → insolvente e (?)
Insolvência (falência) é quando o Passivo > Ativo e já não se consegue recorrer ao
crédito para solver o Passivo. Este caso pode levar a Incapacidade acidental
(momentânea) pois é retirado ao insolvente o direito de acesso ao crédito, para
proteger os credores, devido à sua condição financeira.
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Noções Fundamentais de Direito
Aula 11
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Noções Fundamentais de Direito
Mesmo que não se fale numa das partes, a partir de uma nós subentendemos a outra,
por ex: se uma pessoa tem o direito de vender algo subentende-se que a outra tem a
obrigação de pagar; se um empregado tem o dever de obediência é porque o
empregador tem o direito de dar ordens.
Compete aos pais administrarem os bens dos Artigo 1878º (Cód. Civil)
Conteúdo das responsabilidades parentais
menores
Os pais exercem os direitos que os filhos detêm (mas não podem administrar), sendo o
seu representante legal para que o direito seja concretizado. Também os representam
para execução dos seus deveres.
Caso os pais exerçam o direito ao crédito por parte dos filhos, pode classificar-se esse
direito como altruísta pois o interesse satisfeito é de outra pessoa (bebé) e não de
quem está a exercer o direito (pais); pode também ser classificado como transmissível
pois há o direito de cessão de crédito. O direito do pai representar o filho é pessoal
apesar de envolver acções e consequências patrimoniais (avaliáveis em dinheiro).
Outro exemplo, supondo que uma pessoa já não quer arrendar a casa a outra com
quem tinha um contrato: neste caso trata-se de um direito patrimonial (pois é
avaliável em dinheiro) e potestativo, uma vez que consiste no poder ou faculdade,
mediante a manifestação de vontade, de produzir efeitos na esfera jurídica de outrem
(com quem se assinou o contrato).
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Noções Fundamentais de Direito
Aula 12
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Noções Fundamentais de Direito
Quanto aos seus efeitos, os factos jurídicos podem ser considerados Constitutivos,
Modificativos ou Extintivos conforme produzam, modifiquem ou cessem/eliminem
uma relação jurídica, respectivamente. Os primeiros (genéticos) fazem nascer uma
relação jurídica, por exemplo, o casamento e todos os outros contratos (casamento é
um deles). Como exemplo dos segundos temos a Separaçao de pessoas e bens no
casamento, que altera o conteúdo (direitos e
vinculações) da relação. A morte e o divórcio Artigo 1677º (Cód. Civil)
Separação de pessoas e bens
servem de exemplo aos últimos.
Só os factos jurídicos são tidos como elemento da relação jurídica porque a criam; os
factos jurídicos modificativos e extintivos NÃO são tidos como elemento da relação
jurídica apesar de a modificarem e extinguirem.
Quanto à sua estrutura, podemos considerar puros factos jurídicos (ou factos jurídicos
em sentido restrito) e actos jurídicos, o que os distingue é o facto de nos segundos
haver intenção humana (querer).
No caso dos primeiros, os puros factos jurídicos que são acontecimentos
independentes do conhecer, querer e agir humanos, estes podem ser completamente
exteriores à pessoa ou pode ser esta a produzi-los sem conhecimento ou intenção,
sendo neste caso, interiores. Como exemplo dos puros factos jurídicos exteriores
temos um incêndio, um terramoto ou o caso de uma pessoa ter um terreno inserido
noutro que não lhe pertence e que tem de atravessar para chegar ao seu. Já como
exemplo de p.f.j. interior temos uma pessoa que pinta um quadro ou escreve um livro
sem intenção de o vender, só por gosto, no entanto, torna-se autora desse
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Noções Fundamentais de Direito
quadro/livro sendo esse o efeito jurídico do seu ato (que tem relevância sob o ponto
de vista jurídico). Assim, as pessoas podem nem saber que estão a produzir efeitos
jurídicos ou até podem saber mas não ter intenção de produzi-los, no entanto, o
Direito considera que estes ocorrem e se produzem. É um ato voluntário, sim, na
medida em que a pessoa sabe o que está a fazer, mas involuntário no caso de produzir
efeitos jurídicos pois não é essa a sua intenção.
Já no caso dos segundos, os actos jurídicos que são actos destinados à produção de
efeitos jurídicos, temos os simples (também chamados declarações quase negociais) e
os negócios jurídicos, que podem por sua vez ser uni, bi ou plurilaterais. Negócios
jurídicos são facilmente associados a contratos, no entanto, estes apenas constituem
os bi ou plurilaterais.
1. No caso dos actos jurídicos enquanto negócios jurídicos unilaterais temos o
exemplo do testamento, em que não há intervenção de outras pessoas, é
apenas estabelecida a vontade de quem se manifesta, ou seja, só interfere uma
parte* na declaração negocial.
*Mas há negócios jurídicos unilaterais unipessoais e pluripessoais, isto porque
a única parte que interfere na declaração negocial pode ser constituída apenas
por uma ou por mais pessoas; por exemplo, nas pessoas colectivas
(organizações) as decisões são tomadas por mais do que uma pessoa, em
assembleia ou deliberação, no entanto, a parte interveniente é apenas uma, a
vida da organização.
2. Já os actos jurídicos enquanto negócios jurídicos bi ou plurilaterais são
contratos que se estabelecem entre 2 ou mais pessoas. ATENÇÃO: Só nestes é
que se inserem os contratos efectivamente ditos. Todos os contratos são
negócios jurídicos, no entanto, nem todos os negócios jurídicos são contratos
(pois estes so se inserem nos bi ou plurilaterais e existem ainda os unilaterais).
Os atos jurídico podem ser lícitos (legais) ou ilícitos (ilegais) conforme respeitem a lei e
as normas ou não, respectivamente. Os primeiros são permitidos pelo Direito e pela
lei, já os segundos são proibidos pela lei e punidos pela justiça jurídica. Podem ser
ilegais por tratarem actividades ilegais ou por até serem legais mas executados de
forma ilegal. Como exemplo de ato jurídico ilícito temos a venda de droga ou uma
pessoa mandar matar outra, tanto é condenada a pessoa que matou como quem
mandou.
De acordo com o seu objecto, o contrato pode ou não Artigo 286/9º (Cód. Civil)
ser anulado. Nulidade e anulação
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Noções Fundamentais de Direito
Aula 13
A nível da garantia podem ser feitas duas divisões, uma tendo em conta quem atua
para a concretização dos direitos – se for a própria pessoa trata-se de Auto-tutela, se
forem as autoridades competentes trata-se de Hetero-tutela – e outra a nível dos
meios utilizados para concretizar os direitos – meios preventivos, compulsivos e
repressivos.
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Noções Fundamentais de Direito
A garantia caracteriza-se pela Regra da Hetero-tutela que afirma que, no geral, não é
lícito (legal) assegurar o próprio direito, devendo as pessoas recorrer às autoridades
competentes (policia, tribunais…). A hetero-tutela serve para garantir a igualdade de
tratamento, sendo a tutela o processo de organização da sanção.
O Estado tem de assegurar a todos os cidadãos o acesso
Artigo 20º (Constituição)
aos meios coercivos normais que permitem a realização
Acesso de todos aos tribunais…
dos direitos.
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Noções Fundamentais de Direito
particulares para evitar a violação das normas (mas também atuam perante a sua
violação ? ).
As Providências Cautelares são tomadas quando as pessoas temem que o seu
direito/interesse não seja realizado e pedem ao Tribunal que tome as providências
cautelares necessárias para eliminar as condições que impedem a realização do
direito/interesse e assim garantir que estes se efectuam.
Os meios compulsivos atuam perante a violação cometida para evitar que esta se
prolongue no tempo, levando o infractor da norma a adoptar o comportamento
devido. Nestes inserem-se:
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Noções Fundamentais de Direito
A Sanção pecuniária compulsória é um valor que o devedor tem que pagar por casa dia
em que se atrase no pagamento de algo para o qual ficou estabelecido um prazo, se se
atrasar 5 dias paga o que deve mais o valor correspondente aos dias de atraso.
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Noções Fundamentais de Direito
A Ação Direta diz respeito a casos em que o sujeito se encontra numa situação que lhe
é alheia e que o Direito trata de resolver, por ex: uma pessoa tem uma casa num
terreno que fica no interior de outro terreno que não lhe pertence; como a pessoa tem
que chegar a casa, o Direito prevê que haja uma forma de atravessar o terreno que
não lhe pertence, mesmo que o dono não o queira; imagine-se que o dono desse
terreno veda a passagem, a pessoa tem o direito de quebrar a vedação para poder
passar para casa, ato que noutras condições seria punido pelo Direito.
No caso da Legitima Defesa, a pessoa prevê que vai ocorrer o desrespeito ou violação
de um dos seus direitos/interesses e atua premeditadamente, por exemplo: uma
pessoa percebe que vai ser assaltada e por isso bate no assaltante para se defender e
evitar que este a roube.
A diferença entre a Ação direta e a Legitima defesa é que no primeiro caso a lesão dos
direitos do sujeito já ocorreu enquanto que no segundo ainda não ocorreu mas este
prevê que vá ocorrer e por isso age.
Aula 15 e seguintes
As fontes do Direito são todos os modos através dos quais o Direito se manifesta e
organizam-se em 5 categorias:
A. Lei
B. Costume
C. Jurisprudência
D. Doutrina
E. Princípios Fundamentais do Direito
De entre todas destaca-se a Lei, na qual vamos abordar o processo legislativo
(formação e implementação da lei) e a cessação da vigência da lei.
Todas estas são apontadas pela Doutrina Clássica como fontes do Direito, à excepção
dos Princípios Fundamentais do Direito que só alguns autores consideram.
As fontes imediatas possuem força vinculativa própria, valem só por sim (lei, costume
e princípios fundamentais do Direito); as mediatas não têm força vinculativa própria,
não criam normas mas regulam a forma como estas devem ser interpretadas e
implementadas (jurisprudência e doutrina).
As voluntárias traduzem a vontade, intuito ou propósito de criação ou revelação do
Direito, referindo-se a atitudes no sentido de criar normas jurídicas ou revelar o seu
conteúdo (lei, jurisprudência e doutrina); já as involuntárias não correspondem a essa
vontade, surgem de forma espontânea (por ex: o costume surge de forma espontânea
nas sociedades, não havendo uma atitude deliberada de transformar esse
comportamento numa norma ou de manifestar o Direito).
Nas formais inserem-se os factos aos quais o sistema jurídico impõe o efeito dessas
normas passarem a ser Direito Positivo vigente (textos legais, diplomas legais que
contêm as normas do Direito); já as materiais correspondem aos factores ou poderes
que levam à criação de normas, ou seja, as fontes materiais são a razão da criação das
fontes formais. (?)
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Noções Fundamentais de Direito
As fontes do Direito podem ainda ser agrupadas de acordo com a função que
desempenham: a lei e o costume relacionam-se com a formação de normas enquanto
a jurisprudência e a doutrina regulam as formas como o Direito se manifesta.
Há ainda autores que classificam as fontes do Direito em: gerais/comuns e específicas,
internacionais ou internas.
A) Lei
A lei é decidida e imposta por uma autoridade que tem capacidade legislativa para o
fazer num sistema jurídico. Esta é a mais importante das fontes do Direito pois num
sentido geral, por lei entendem-se as normas que devem ser respeitadas por todos e,
no funcionamento do sistema jurídico, todos os subsistemas têm que obedecer às
leis/normas do sistema jurídico.
Contudo, o termo “lei” pode ser utilizado com diversos sentidos:
No sentido formal, lei associa-se ao diploma legal ou conjunto de normas que provêm
de um órgão estatual com competência legislativa; é o texto normativo ou outro tipo
de texto que tem em vista tornar-se lei.
No sentido material, para além de ser um diploma legal tem que conter 2 ou mais
normas jurídicas para ser considerado lei.
Em sentido latíssimo (muito amplo) lei é sinónimo de Direito; isto acontece nos
sistemas anglo-saxónicos, por ex. em inglês que “law” significa lei e Direito.
Em sentido lato lei é corresponde a uma disposição genérica provinda de um órgão
estatual competente.
Em sentido intermédio lei refere-se aos diplomas legais que não constituem
regulamentos, ou seja, as leis formuladas pela Assembleia da República, os decretos-lei
emitidos pelo Governo (com autorização da A.República) e os decretos regionais
emitidos pelas Assembleias Regionais (ver Artigo 112º da Constituição).
Em sentido restrito lei refere-se apenas aos diplomas legais provenientes da
Assembleia da República, sendo este o sentido empregue no Diário da República onde
são publicadas todas as leis e decretos-lei porque todos se devem reger.
Assim, certos “textos” legais podem não ser considerados lei num sentido e sê-lo
noutro (mais abrangente), por ex: um decreto regional não é lei em sentido restrito
mas é lei em sentido intermédio. E, dependendo do sentido, lei pode ou não ser
entendida como fonte do Direito.
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Noções Fundamentais de Direito
Hierarquia da Leis
O valor das leis não é todo igual, umas valem mais que outras. Entre os diplomas legais
existe uma hierarquia em que as leis de nível inferior têm que respeitar sempre as de
nível superior:
Nota: alguns autores não consideram os últimos quatro (a partir dos Decretos
Regulamentares) como leis, encaixando-os nos actos administrativos.
Sempre que há incompatibilidade entre leis prevalece a que tem maior valor
hierárquico e em caso de ambas terem a mesma força hierárquica, prevalece a mais
recente.
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Noções Fundamentais de Direito
B) Costume
Esta foi uma fonte do Direito muito importante até ao sec.XVIII porque era através dos
costumes que as sociedades se organizavam. A partir dessa altura entrou em declínio
porque passaram a ser formuladas e implementadas normas.
O termo “costume” no âmbito jurídico adquire um significado diferente da sua
conotação corrente.
No sentido corrente do termo, costume refere-se a um comportamento que é hábito,
ou seja, que é repetido frequentemente pela generalidade das pessoas numa dada
comunidade. Este sentido apenas contem o elemento material designado “corpus”.
No âmbito jurídico, costume associa-se a comportamentos tidos como obrigatórios
pela generalidade da população mesmo não estando regulados com normas mas as
pessoas sabem qual é o comportamento a tomar, verificando-se um sentimento de
obrigação como se essa fosse a açao prevista sob o ponto de vista jurídico, por ex: as
pessoas sabem que têm que respeitar a ordem das senhas de espera e caso estas não
existam sabem que devem ser atendidas pela ordem de chegada apesar de não haver
nenhuma norma que estabeleça tal comportamento. As próprias pessoas reconhecem
legitimidade a uma regra que surge espontaneamente da vida em sociedade e das
relações sociais. Neste sentido para além do “corpus” está também presente o
elemento psicológico designado “animus” pois há uma perspectiva psicológica de
obrigatoriedade (consciência por parte das pessoas de que aquele é o comportamento
a tomar) e não apenas um comportamento físico que é repetido só porque é hábito.
Existe até o Direito Consuetudinário (nacional ou estrangeiro) que é o direito
resultante do costume (em latim consuetudine) e que assume relevância no sistema
jurídico sendo, por vezes, analisado pelos tribunais.
28
Noções Fundamentais de Direito
C) Jurisprudência
Esta fonte clássica do Direito é hoje questionada por muitos autores. Consiste no
conjunto das orientações seguidas pelos Tribunais e outros órgãos competentes para
interpretar e implementar a lei a casos concretos.
Assim, podemos falar de um tipo mais restringido, a Jurisprudencial Judicial, se apenas
tivermos em consideração as orientações e fundamentos por que se regem os
tribunais na interpretação e aplicação da lei no julgamento de casos concretos. Esta é
uma visão redutora porque, apesar de serem os mais importantes, os tribunais não são
os únicos órgãos que aplicam a lei.
Deste modo, o conceito de jurisprudência não se aplica só aos tribunais mas também a
outros órgãos com competência para interpretar e aplicar a lei como os notários,
conservadores do registo (civil, predial, automóvel...) e ainda alguns órgãos
administrativos, que o podem fazer na sua respectiva esfera de competências. Esta
fonte do Direito adquire assim um sentido mais amplo, alargando não o conjunto de
orientações seguidas mas os órgãos que por elas se regem. Deve então entender-se
por jurisprudência o conjunto das orientações seguidas em matéria de interpretação
e implementação da lei por parte de todos os órgãos encarregues competentes quer
sejam Tribunais, notários ou conservadores. No entanto há que salientar que neste
ultimo caso, se as pessoas não concordarem com a aplicação da lei podem recorrer aos
Tribunais sendo destes a palavra final.
Estas orientações podem ser mais ou menos específicas, aplicando-se assim a um
menor ou maior número de normas e casos. Os próprios tribunais podem ser mais
genéricos ou dedicar-se a assuntos mais específicos pelo que o conjunto de normas
porque se regem vai diferir de uns para outros (os juízes de uns não podem atuar
noutros).
Na base da hierarquia temos Tribunais de primeira instância (aos que mais se recorre),
de seguida o Tribunal da Relação, e no topo o Supremo Tribunal de Justiça (é o mais
geral mas existem mais específicos como o Supremo T. da Adminstraçao, Tribunal do
Trabalho, Tribunal da execução de penas, Tribunal do Comércio, etc). Todos estes são
comandados por normas cuja valida e inconstitucionalidade são aferidas pelo Tribunal
Constitucional.
A jurisprudência não é a decisão do órgão mas sim o fundamento dessa decisão. Essa
decisão para ser tomada implica um processo composto por várias partes onde se
contam o relatório e a fundamentação. Na primeira fase descrevem-se os factos
fazendo o seu enquadramento normativo, apontam-se as normas que se aplicam
àquele. É na fase da fundamentação que entra a jurisprudência ao explicar como as
normas devem ser interpretadas e aplicadas para cada caso, dentro de um conjunto de
casos mais gerais aos quais as normas se aplicam.
29
Noções Fundamentais de Direito
Se não existirem normas para regular um determinado caso, deve aplicar-se uma
norma que regule casos análogos, ajustando-se ao caso que não estava previsto. Mas
pode não existir esse paralelismo que permite a aplicação analógica da lei. Então, se
nem sequer existir um caso semelhante procede-se à formulação de uma norma
específica para aquele caso. Mas esta será apenas válida para aquele caso, não se
inclui no sistema jurídico, pode é posteriormente ser usada para um caso semelhante,
nunca uniformizada e aplicada no geral, só sendo aplicada depois da analise caso a
caso o exigir. Para além de ser um caso excepcional, o Tribunal cria a norma mas sob
determinadas orientações pelo que não pode dizer-se que tenha capacidade
legislativa.
Como actualmente está tudo informatizado e há um elevado número de casos por
resolver, os juízes limitam-se a aplicar normas já existentes não procedendo a uma
análise mais cuidada e particular de cada caso, o que prejudica a qualidade do sistema
de Justiça. Este uso cada vez maior das normas já existentes reforça cada vez mais a
força e valor das orientações reguladoras em matéria de interpretação e
implementação da lei, também já existentes. Deste modo, a jurisprudência vê o seu
papel reforçado na medida em que as decisões dos tribunais se apoiam em muito
nestas orientações que constituem a base do fundamento da decisão final.
Supondo que para casos semelhantes um tribunal aponta uma solução e outro tribunal
aponta uma solução diferente, as partes podem recorrer da decisão. Se mesmo após
recorrerem da decisão continuar a haver incompatibilidade nas soluções apontadas,
até há uns anos suscitava-se a criação de um Assento em que o Tribunal superior
reunia todas as partes para decidir uma de entre as duas soluções que passaria a ser
aplicada a todos os casos; assim era conferida uma certa capacidade legislativa aos
tribunais pelo que esta acção foi considerada inconstitucional e abolida. O Artigo 2º do
Cod.Civil era relativo aos assentos e por isso foi revogado pelo Decreto-lei nº329-A/95
de 12/12.
Atualmente, perante um caso destes, o legitimador deve criar uma lei interpretativa
para se evitarem estes casos. Criou-se então um mecanismo designado “Acordos na
fixação da jurisprudência” que é proferido pelo Tribunal Supremo. Não é uma lei que
se vai aplicar a todos os casos, é uma orientação a seguir em caso de
incompatibilidade.
Atualmente só o Tribunal Constitucional pode ditar decisões gerais mas estas não
constituem normas, o seu intuito é impedir que sejam aplicadas normas e
desenvolvidas acções consideradas inconstitucionais.
(Relativamente à jurisprudência e ao Costume é relevante consultar o livro do prof.
Freitas do Amaral.)
30
Noções Fundamentais de Direito
D) Doutrina
Nesta fonte do Direito incluem-se as opiniões e pareceres expressos pelos especialistas
em matéria jurídica, sobre determinadas questões do Direito, por ex: a lei, sua
interpretação e implementação.
Esta não influencia a criação de normas ou leis mas apresenta um papel relevante
porque influencia o modo como o Direito é produzido pelo legislador e como é
aplicado pelos Tribunais. Muitas vezes os Tribunais fundamentam a forma como
analisam os casos em doutrinas de especialistas em matéria jurídica.
Processo Legislativo
Estudadas as fontes do Direito, há agora que entender como funciona o sistema
jurídico português e o processo que decorre desde que um texto é criado até este se
tornar uma lei em vigor. Vamos então estudar o processo legislativo.
31
Noções Fundamentais de Direito
O processo legislativo é composto por 6 fases e basta não se cumprir uma delas para a
lei ser inconstitucional e não poder entrar em vigor.
1) Elaboração / Apresentação
2) Discussão e votação / aprovação
3) Promulgação
4) Referenda
5) Publicação
6) Entrada em vigor
Estas são as fases pelas quais um texto passa desde a sua criação até se uniformizar
como um texto legal com interpretação pela ordem jurídica ou sistema jurídico. Para a
lei se formular efetivamente e ser aplicada tem que passar por todas estas fases.
1) Elaboração / Apresentação
Para haver lei tem que existir um texto que lhe serve de
Artigo 167º (Constituição)
base. Este texto é denominado “iniciativa de lei” pois é Iniciativa de lei e referendo
elaborado com vista a tornar-se numa norma.
Não confundir referenda (fase do processo legislativo) com referendo pois este é
quando os cidadãos se organizam para modificar algo, é uma consulta popular em que
as perguntas do referendo têm que respeitar certos pressupostos senão considera-se
ilegítima a iniciativa e o próprio referendo que é chumbado pelo Tribunal
Constitucional.
32
Noções Fundamentais de Direito
Os projectos de lei apresentados à AR pelos grupos de eleitores têm que ter no mínimo
35 000 assinaturas daí que sejam raros devido à sua grande dimensão.
Relativamente aos Deputados, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 51/2013. (D.R.
n.º 152, Série I) de 2013-08-08 estabelece como funciona o Conselho de Ministros
sendo esta uma alteração (a primeira) à Resolução do Conselho de Ministros n.º
29/2011, de 11 de Julho. (mas isto NÃO sai)
33
Noções Fundamentais de Direito
3) Promulgação
Quando uma lei é aprovada deixa de se designar projeto ou
Artigo 136º (Constituição)
proposta de lei e passa a chamar-se Decreto. Se uma lei for
Promulgação e veto
aprovada, ao cumprir a 2ª fase do processo legislativo, passa
para a fase da promulgação que é da responsabilidade do
Presidente da República. A lei passa pelo Tribunal Constitucional que afere se esta esta
de acordo com as normas ou não, se estiver o Presidente da República pode então
promulga-la, sendo obrigado a isso em certos casos (ver artigo 136º).
4) Referenda
Esta fase do processo legislativo gera alguma controvérsia na
Artigo 140º (Constituição)
medida em que alguns especialistas em matéria jurídica a Referenda ministerial
consideram desnecessária uma vez que esta corresponde à
ação do Governo ao dar referenda ao que na maior parte das
vezes é ele próprio que emite e se o faz é porque concorda com isso logo não há razão
para depois ter que aprovar o que ele próprio emitiu. No entanto, tal como as outras
fases do processo legislativo tem que ser cumprida, caso contrário a lei não se efectiva.
34
Noções Fundamentais de Direito
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35
Noções Fundamentais de Direito
Artigo 8.ºNumeração
Consultar: http://dre.tretas.org/dre/217741/
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A data que aparece nas leis é a data da sua publicação e não da sua aprovação, assim
pela designação da lei sabemos quando entrou em vigor. No entanto, o dia da
publicação não conta para a vigência da lei, no mínimo a lei entra em vigor no dia a
seguir à sua publicação, nunca no dia em que é publicada e dada a conhecer. No
próprio diploma fica definido o dia em que a lei entra efectivamente em vigor, caso
não seja definido, esta inicia a sua vigência no 5º dia após a publicação. O período
entre a publicação da lei e o começo da sua vigência designa-se período de entrada em
vigor.
Com todas estas fases conclui-se o processo legislativo e a lei passa a integrar a
ordem normativa e a ser implementada no sistema jurídico.
36
Noções Fundamentais de Direito
A caducidade é quando o facto que tem por efeito fazer cessar a vigência da lei é o
decurso do prazo pelo qual a lei está em vigor, em caso de ter vigência temporária. As
leis com vigência temporária podem regular uma matéria que é ela própria temporária
ou regular uma matéria permanente só em circunstâncias temporárias.
A cessação da vigência da lei corresponde assim à ocorrência de um facto que tem por
efeito fazer cessar a vigência da lei e que só pode ser o decurso do prazo pelo qual a lei
se encontra em vigor ou a revogação por uma nova lei.
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Noções Fundamentais de Direito
Existem autores que consideram que a caducidade pode ser invocada por outros
motivos que NÃO estão previstos na lei como:
o Desaparecimento do objecto da lei, ex: leis que se apliquem aos ex-
combatentes da Guerra Mundial, um dia já todos terão morrido e não faz
sentido a lei continuar a existir se já não existe o seu objecto
o Desuso (como não existem situações frequentes a que a lei se aplique esta
entra em desuso tornando-se irrelevante)
o Desaparecimento do fundamento da lei (leis cuja razão de ser já não faz
sentido, por ex, leis relativas ao que vestir na praia, hoje em dia cada pessoa
usa o que quer, não era uma lei que ia fazer as pessoas voltarem a usar fato de
banho)
Estes motivos invocadas para a caducidade das leis não estão previstos pela lei e por
isso não convém serem invocados porque apenas certos autores os indicam, não
havendo um consenso relativamente a estes.
Aula 20
Normas jurídicas
Já sabemos que lei corresponde a uma norma, regra, disposição ou preceito a ser
respeitado. Em certos casos, as normas podem ser designadas de leis.
A norma-tipo (padrão) é o modo mais vulgar como a norma se apresenta no sistema
jurídico. No entanto, existem normas que não correspondem ao padrão da norma
jurídica, apresentando-se noutros tipos com diferentes características das habituais.
A lei exige que para se realizarem determinados atos jurídicos os mesmos sejam
relatados por escrito, por exemplo, as ações de compra e venda têm que ser registadas
numa declaração de compra e venda.
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Noções Fundamentais de Direito
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Noções Fundamentais de Direito
As mais vulgares, que se encontram nas normas jurídicas padrão, são as invocadas pela
teoria clássica:
o Imperatividade – a norma contem um comando que se traduz na necessidade
de se adoptar um comportamento.
(Nota: normas deste tipo são posteriormente classificadas em outros tipos que
veremos mais à frente)
o Violabilidade – no plano da realidade ou dos atos, a norma é susceptível de
não ser cumprida ou seja, há tendência para ser infringida, apesar de haver
uma sanção, que reprime o seu incumprimento ou violação, que existe mesmo
para levar as pessoas a cumprir as normas através do recurso ao uso da força.
Alguns autores não consideram esta característica.
o Generalidade – a norma tem como destinatários a generalidade das pessoas
contidas na sua previsão, ou seja, afeta toda e qualquer pessoa, alguém, não
apenas uma pessoa em específico. Esta característica pode ser menos nítida ou
evidente quando se trata de uma norma que diz respeito a cargos uninominais
(que só podem ser desempenhados por uma única pessoa), por ex:
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Noções Fundamentais de Direito
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Noções Fundamentais de Direito
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Noções Fundamentais de Direito
Quanto ao que definem, ou seja, ao seu regime, as normas jurídicas podem ser:
o Gerais – definem o regime regra (geral) ex: Cód.Civil
o Específicas – contêm regras específicas que têm em atenção as
particularidades das situações, desviando-se (um pouco) do regime regra.
o Excepcionais – contêm um regime que se encontra em plena/direta oposição
ao regime regra, contrariam-no (enquanto as especificas se desviam dele) ex: o
aluguer e arrendamento são regulados por normas gerais mas existem depois
normas especificas e até excepcionais para regular certos casos.
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Noções Fundamentais de Direito
Aula - 7 de Maio
Sanções
A sanção é a punição, prevista pela lei, que se aplica em caso de incumprimento ou
violação das normas. Alguns autores interpretam-na como parte da norma, outros
referem-na como uma característica do sistema jurídico.
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Noções Fundamentais de Direito
2) Reintegração
No caso das coisas infungíveis (que não podem ser facilmente ou completamente
substituídas por outra do mesmo género, qualidade e quantidade) aplicam-se as duas
outras medidas – reintegração e reparação – em separado ou conjuntamente. Por ex:
se uma pessoa destruir um quadro de um pintor que já morreu, este n pode ser
substituído por outro igual uma vez que o seu autor já morreu e mesmo em vivo seria
difícil pintar outra completamente igual; deste modo as duas outras medidas.
No caso da reconstituição natural (2.1), o lesante é obrigado a pagar prestações
mediante as quais seja possível repor o que havia antes do incumprimento da norma
(para reparar o que causou e o que sucedeu posteriormente). Se uma pessoa partir um
vidro de uma janela, tem que repor esse vidro e os estragos causados devido ao
primeiro dano que são resultados indesejados resultantes do incumprimento da norma
(ex. inundação da casa); há que reparar todos eles para se voltar à situação inicial.
Sempre que a reconstituição natural não seja possível, ou seja,
Artigo 562 e 566º
quando de trata de coisas infungíveis, é fixada uma indemnização
(Cód.Civil)
em dinheiro, pelo que a medida aplicada é o sucedâneo
Indemnização
pecuniário(2.2). Segundo esta medida deve ser paga uma quantia
equivalente ao valor do que foi destruído.
No entanto, não devemos pensar nestas medidas como alternativas pois podem existir
em conjunto. Na maioria das vezes, o cumprimento coativo conduz à reconstituição
natural, pelo que as duas medidas só se aplicam a coisas fungíveis.
3) Reparação
Se não se puder aplicar nenhuma das duas anteriores então aplica-se a reparação (3) –
nas duas vertentes – pena e compensação. Ex: se uma pessoa matar outra não há
nada que se possa fazer que reponha a situação inicial e dê vida ao falecido, por isso o
assassino é condenado com uma pena de prisão e, para além disso, tem ainda que
pagar uma valor (que não é o da vida da pessoa porque essa não tem valor monetário)
mas que compense, em certa medida, a dor dos familiares sendo então obrigado a
pagar uma indemnização aos familiares próximos da vitima. Se a pessoa for apenas
45
Noções Fundamentais de Direito
agredida, o agressor tem que pagar as contas do hospital e da sua recuperação (o que
tem valores concretos em dinheiro) e ainda uma indemnização que compense as dores
(valor que se considera justo, não sendo avaliável em termos monetários). Neste caso
a indemnização não corresponde ao valor da coisa destruída mas sim a uma
compensação pelos danos causados, sobretudo morais (uma vez que os materiais são
quase sempre avaliáveis em dinheiro, excepto no caso das dores por ex).
Como já foi referido, a sanção não é alternativa, pode contemplar apenas uma
medidas ou varias em conjunto.
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Noções Fundamentais de Direito
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Noções Fundamentais de Direito
As sanções jurídicas são aquelas cujos efeitos se fazem sentir no plano jurídico
abstracto, ou seja, na esfera jurídica da pessoa jurídica, quer seja ela singular ou
colectiva. Nestas contemplam-se a inexistência, invalidade (na segunda ainda se
inserem a nulidade e a anulabilidade).
Quando uma pessoa ao efectuar um acto jurídico infringe as normas, a punição pode
ser a invalidade (5) que se traduz na nulidade ou anulabilidade. Isto ocorre sempre
que o ato ou negocio jurídico não esta de acordo com as normas porque é ilegal ou
legal mas exercido de forma ilegal. Por ex: se um menor vender algo, como não tem
capacidade jurídica para o fazer, a punição do ato, que em si é legal, é a anulabilidade,
que destrói o negocio jurídico se houver prejuízos para o menor.
Nulo ≠ Anulado
Quando uma ato ou negócio jurídico, Se algum ato ou negócio jurídico for
por infringir as formalidades legais, é
anulado é porque era anulável e há
declarado nulo, há uma declaração de
uma declaração de anulabilidade.
nulidade
O ato desenvolvido pode ser ilícito, legal mas desempenhado de forma ilegal ou ainda
legal mas cujos efeitos são ilegais. Neste caso o objecto é legal
mas os vícios do objecto/vontade são ilegais pelo que se Artigo 280º (Cód.Civil)
aplicam sanções jurídicas. Vícios do objeto
A inexistência (4) e a ineficácia (6) não são referidas por muitos autores, como
sanções jurídicas. Relativamente à inexistência temos como exemplo o caso da
referenda, uma das fases do processo legislativo que apesar de não fazer grande
sentido tem que ser respeitado, caso contrario a lei não existe, pelo que a sanção por
não se cumprir as normas do processo de formação de leis é a
Artigo 137º e 140º
inexistência. Não é declarado nulo nem anulado porque isso só se (Constituição)
pode fazer a coisas que já existem e neste caso a lei não se chega a
formar, porque não se respeito o seu processo de formação.
Outro caso em que pode ser declarado inexistência são os Artigo 1628º (Cód. Civil)
casamentos, por ex: quando celebrados entre menores ou com Casamentos inexistentes
falta de vontade por uma das partes.
A ineficácia (6) aplica-se a casos em que o que se faz não é ilegal, não
podendo por isso ser declarado nulo ou anulado, não é inválido nem Artigo 268º nº1
(Cód. Civil)
inexistente, simplesmente não é eficaz, não produz efeitos. Por ex: se
Representaçao sem
alguém celebrar um negócio jurídico em nome de outra pessoa, sem
poderes
poderes de representação, o negócio é ineficaz se não for ratificado
pela outra pessoa (representada).
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Noções Fundamentais de Direito
Aula - 8 de Maio
50
Noções Fundamentais de Direito
Esta divisão entre Direito Público e Privado é feita a nível do Direito Interno apesar de
no Direito Público se integrar o Direito internacional.
Esta integração serve apenas de referência porque existem dois tipos de Direito
Internacional: o que regula relações internacionais, o mais corrente que é o Público e
existe depois um tipo do Direito Internacional, o Privado, que só é usado em casos
excepcionais quando, em presença de conflito entre normas, é este
Artigo 14º a 24º
que determina qual a norma que deve reger o caso. Por ex: quando
(Cód. Civil)
duas pessoas de nacionalidades diferentes se casam num pais que
Direitos dos estran-
não é o de nenhuma delas, o casamento esta a ser regido por 3 geiros e conflitos de leis
ordens jurídicas diferentes; neste caso o Direito Internacional
Privado determinada qual a norma mais “forte” para reger o caso.
O Direito Internacional Privado não se insere em nenhuma ramo desta classificação
por fugir ao modo normal de funcionamento do Direito, uma vez que, não contem
regras de Direito material que ditem como se deve agir. Este apenas se destina a
eleger qual a lei que regula o caso pois é frequente haver conflitos entre normas
sempre que uma situação envolve mais do que uma ordem jurídica. Sempre que, por
alguma razão, as normas jurídicas de sistemas jurídicos diferentes entre em conflito,
recorre-se ao Direito Internacional Privado, mas isto é uma situação pouco frequente.
Exemplo: Artigo 35º do Cód.Civil, relativo à Declaração Negocial, nas alíneas nº 2 e 3
diz qual das leis regula o caso, a da residência habitual comum do declarante e do
destinatário e, na falta desta, a do lugar onde o comportamento se verificou.
Foram definidos critérios para efectuar esta divisão e classificação – Direito Público e
Privado – e “arrumar” em cada um deles os diversos ramos do Direito. No entanto,
com a evolução da vida social, que se complexificou, teve o Direito que evoluir e
surgiram imensos ramos do Direito interdependentes o que dificulta a integração
nesta divisão e a levou a ser discutida. Alvo de grandes discussões, esta divisão é
hoje pouco relevante.
A) Interesses
Segundo este critério, que se baseia nos interesses salvaguardados em primeira linha
pelas normas:
o Direito Público – corresponde ao conjunto de normas que em primeira linha
defendem e salvaguardam o interesse público (mesmo que depois se reflicta
no interesse privado).
Nota: o interesse público diz respeito à existência, conservação e
desenvolvimento da sociedade no seu conjunto.
51
Noções Fundamentais de Direito
B) Sujeitos
Como o critério dos interesses foi posto em causa, adoptou-se outro, relativo aos
sujeitos da relação jurídica. Segundo este:
o Direito Público – subconjunto de normas que regulam entidades públicas
(Estado e outros entes públicos) e as relações que se estabelecem entre elas.
o Direito Privado – normas que regulam as entidades particulares e as relações
que se estabelecem entre si.
Mas isto leva a uma simplificação radical porque não atende às circunstâncias em que
as entidades públicas se relacionam com as privadas, tanto no exercício da sua
autoridade pública (poder político) como noutras situações em que agem como se se
tratassem de entidades particulares. Posto isto, avançou-se para outro critério.
52
Noções Fundamentais de Direito
53
Noções Fundamentais de Direito
Interpretação da Lei
As normas, para poderem ser implementadas e aplicadas, têm que ser compreendidas
e interpretadas. Contudo, interpretar uma norma não é apenas lê-la pois o que diz na
norma é apenas um de quatro elementos necessários para a sua interpretação, para a
compreensão do seu sentido e alcance.
Todos nós temos que respeitar as normas, quer as conheçamos e entendamos ou não.
Só ler não chega, há que saber interpretá-las, sobretudo as normas relativas à nossa
actividade profissional porque na relação entre pessoas, o nosso bom sendo permite-
nos agir de acordo com a maior parte das normas mesmo sem as conhecermos.
No geral, normas são textos escritos que procuram transmitir um conteúdo de
pensamento. São criadas pelo legislador, este não é uma pessoa em específico mas
sim qualquer órgão com capacidade legislativa que formule leis. Apenas na Ditadura é
que o legislador é uma única pessoa que produz leis ao seu gosto e que todos têm que
respeitar. Assim, ao formular normas, o legislador procura transmitir conteúdos de
pensamento através de normas escritas e publicadas (no Diário da República) para
conhecimento público, que de destinam a serem interpretadas e implementadas.
A linguagem utilizada implica um emissor (dita a norma) e um receptor (obedece à
norma) que tem que entender o que é transmitido pelo legislador.
O intérprete é qualquer pessoa que leia e interprete a norma para entender o seu
conteúdo, quer o faça voluntariamente ou não; ex: os tribunais têm mesmo que as ler
e interpretar para as poder aplicar.
Nas relações normas, se o receptor não entender o que o emissor pretende transmitir,
o primeiro volta a explicar, de forma diferente, até que o receptor entenda, no caso
das leis e normas, não há ninguém que as reexplique. O intérprete tem que as
entender tal e qual como estão escritas (e mesmo que não entenda tem que lhe
obedecer), o que implica o uso de um conjunto de mecanismos, os elementos que
permitem fazer a interpretação da lei.
A norma funciona no plano abstracto mas destina-se a resolver situações concretas, o
que implica uma mediação entre a norma e a sua aplicação; a interpretação faz essa
mediação entre o texto e a situação concreta. Relativamente a esta
Artigo 9º (Cód. Civil)
matéria há que consultar o artigo 9º do Cód.Civil que regula a
Interpretação da lei
interpretação da lei.
54
Noções Fundamentais de Direito
Qualquer que seja o critério utilizado para interpretar a norma, têm que constar nele
os elementos de interpretação da lei que veremos mais à frente.
Para interpretar uma norma não basta lê-la, é necessário utilizar um conjunto de
elementos que permitem compreender efectivamente o seu sentido e alcance.
O conjunto de regras (cânones interpretativas) que rege a interpretação da lei designa-
se Hermenêutica. Este conjunto de regras permite interpretar a lei e fixar o seu
sentido e alcance.
A interpretação da lei não é fácil sobretudo devido à ambiguidade das palavras que
dificultam o entendimento do conteúdo da norma. Posto isto, é necessário conhecer
os vocábulos específicos, uma vez que, o Direito contém palavras próprias e por vezes
usa as correntes com um significado diferente (nestes casos prevalece o sentido
jurídico da palavra e não o corrente).
55
Noções Fundamentais de Direito
O intérprete, na interpretação da lei, deve esclarecer qual é a sua finalidade, para além
da fixação do seu sentido e alcance.
Se o intérprete se basear na interpretação que o próprio legislador fez e tiver em
conta o contexto da época em que a lei/norma foi formulada, está a fazer uma
interpretação subjectivista e historicista (mens legislatoris – sentido do legislador).
Nesta a lei vale pelo seu sentido que tinha quando foi formulada pelo que o intérprete
tem que se reportar ao contexto de quando esta foi criada.
Se o intérprete adequar o sentido ou conteúdo da normal à actualidade e a
enquadrar no contexto em que ocorre a situação concreta a que se aplica, diz-se que
faz uma interpretação objectivista e actualista (mens legis – sentido da própria lei que
vale só por si, independente do sentido do legislador). Quando o intérprete procura
reconstruir e época de publicação da lei, reporta-se historicamente ao pensamento de
legislador quando formulou a lei.
Mas as leis não são peças tradicionais e históricas, estas devem resolver as situações
quando elas surgem, tendo em conta o contexto e circunstâncias em que ocorrem que
podem ser completamente diferentes de quando a lei foi criada dai que seja arriscado
adoptar essa interpretação. Temos que adequar o sentido da lei ao contexto de cada
situação porque o mesmo problema, em contexto diferentes, obtém resoluções
diferentes.
A interpretação objectivista e actualista da lei implica ter em conta os contextos
actuais, do momento da situação concreta que ocorre. Dai que o Actualismo isole os
contextos da situação do contexto em que esta foi criada, associando-se ao
objectivismo pois compreende-se a lei aplicadando-a àquela situação, não se adequa
o seu conteúdo subjectivamente à situação.
No entanto, a interpretação da lei de forma objectivista e actualista é muito radical
pois as pessoas não têm todas a mesma perspectiva o que gera interpretações
diferentes da própria lei e do contexto em que a situação ocorre, levando a resoluções
diferentes para o mesmo caso, uma vez que as pessoas têm visões diferentes acerca
do mesmo assunto e isto não pode acontecer, tem que haver igualdade na aplicação
da lei.
Em suma: o objectivismo actualista interpreta a lei à luz dos contextos actuais
enquanto o subjectivismo historicista interpreta a lei de acordo com o pensamento de
quem a criou, no contexto em que foi criada.
56
Noções Fundamentais de Direito
Fala-se num Subjetivismo Actualista em que o interprete deve tentar saber qual seria o
pensamento de quem criou a norma no contexto em que ocorreu a situação concreta (
e não no contexto em que foi criada).
Por isso surgiram os Elementos de interpretação da lei que, quem faz a interpretação,
independentemente de quem for, tem que se socorrer deles.
o Elemento Gramatical ou Literário – considerado o ponto de partida, diz
respeito à letra da lei, ou seja, palavras e frases, o texto em si que não pode ser
usado isoladamente, há que atender aos outros elementos.
o Elemento Lógico – neste está em causa o espírito da lei, o conteúdo que está
por detrás da letra da lei; este pode subdividir-se em outros três:
- Elemento Racional ou Teológico – qual a razão da formação da lei, qual o
seu objectivo, porque e para que é que o texto foi feito; finalidade que se
pretende atingir (teologia).
- Elemento Sistemático – faz o enquadramento sistemático da lei, onde é
que esta aparece nas matérias do sistema/ordem jurídica.
- Elemento Histórico – relativo ao contexto da época em que a norma foi
formulada, para saber qual o seu significado, para que foi criada.
A primeira formulação estabelece uma fronteira nítida entre o que é a letra da lei
(elemento literário) e o que se aplica a essa letra (restantes elementos), daí que os
elementos que respeitam ao espírito da lei se integrem todos no Elemento Lógico.
Noutras formulações, em vez do segundo se subdividir em três, aparecem cinco todos
de igual valor.
Letra da lei e espírito da lei têm obrigatoriamente que se relacionar, tal como os
elementos gramatical e lógico. O elemento racional, aliado ao contexto de formação
da lei permite-nos perceber mais facilmente o seu sentido, conteúdo ou objectivo.
57
Noções Fundamentais de Direito
a) Interpretação declarativa
Neste caso, o intérprete fixa à lei o sentido claramente contido nas leis.
Ex: o artigo 362º do Cód.Civil relatio à Declaração Negocial diz que “documento é
qualquer objecto elaborado pelo homem com o objectivo de reproduzir…”
Daqui o intérprete conclui que documento é qualquer objecto formulada
exclusivamente por um ser humano do sexo masculino, se estivesse escrito Homem, já
se referia a todos os seres humanos. No entanto, é essse o sentido da norma, mas a
interpretação feita é diferente, remete para o significado efectivo da palavra.
b) Interpretação restritiva
O intérprete conclui que o espírito da lei fica aquém da letra da lei, ou seja, o seu
sentido e alcance devem ser restringidos (reduzidos) pois se interpretarmos tudo à
letra a norma vai abranger mais casos do que realmente pretende.
Ex: Proibido circular veículos nesta área (no parque de um condomínio) – a lei refere
veículos mas não se refere a todos eles sem excepção pois em casos excepcionais pode
lá passar uma ambulância que também é um veículo. A palavra veículos tem um
sentido demasiado lato que não se aplica a esta norma.
Ex: Proibido estacionar em frente a portões de garagens – o dono da garagem pode
estacionar logo não é totalmente proibido, é mas não para todos.
c) Interpretação extensiva
Contrariamente à restritiva, o intérprete conclui que o espírito da lei vai para além da
letra da lei, ou seja, o seu sentido e alcance devem ser alargados pois se
interpretarmos tudo à letra a norma vai abranger menos casos do que realmente
pretende.
Ex: não se pode levar animais domésticos em transportes públicos – conclui-se que
não se pode também levar animais selvagens apesar de isso não estar explícito.
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Noções Fundamentais de Direito
d) Interpretação enunciativa
Quando o intérprete retira de uma norma, através do raciocínio lógico-dedutivo,
outras normas nelas contidas virtualmente. Não existem explicitamente mas podemos
aferi-las através do conteúdo de outras.
Ex: só é permitido passar numa ponte entre as 8h da manha e as 8h da noite – conclui-
se que é proibido passar na ponte durante a noite.
b) Interpretação revogatória
Quando normas se contradizem, uma anula a outra, ou quando a norma é
contraditória, o texto anula-se a si próprio, diz-se que se faz uma interpretação
revogatória uma vez que o sentido da lei não esclarece com clareza mínima as
situações que pretende abranger.
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