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UFCD 0563 – Legislação Comercial

CAPÍTULO 1 – Noções Fundamentais de Direito


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1.1 – INTRODUÇÃO: A ORDEM JURÍDICA

O Direito representa a função de ordenação das relações sociais,


segundo os ideais de justiça e equidade.
A ordem jurídica é assim o resultado dessa ordenação, e espelha-se em
normas que, em conjunto formam o ordenamento jurídico que rege uma
determinada comunidade, num determinado período da história.
Por regra, o comportamento dos cidadãos rege-se pelo Direito e suas
regras; porém, existem inúmeros comportamentos que se desviam dos
imperativos das normas jurídicas, dando origem a variadas violações das suas
normas, através de atos contrários ao Direito (os atos ilícitos). Assim, a Ordem
Jurídica recorre aos meios de proteção de que dispõe, as sanções jurídicas.
Visando atingir a Justiça e Segurança, a Ordem Jurídica regula deste
modo a vida do Homem em sociedade, conciliando interesses conflituantes.

1.2 - DISTINÇÃO ENTRE DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO

O Direito é muito vasto, e existe uma enorme variedade de normas


jurídicas, que regulam todas as relações do homem em sociedade.
Se pensarmos bem, tirando as regras de cortesia, religiosas ou morais, o
direito está sempre presente: existem normas que regulam a vida dos
cidadãos como comerciantes, industriais ou meros particulares; as que fixam a
organização e estrutura do Estado; as que reprimem e combatem o crime; as
que regulam a gestão dos interesses públicos…
Isto fez com que desde sempre se separasse o Direito em grandes ramos
independentes.
A distinção entre Direito Público e Direito Privado remonta aos juristas
Romanos, no entanto surgiram ao longo dos tempos vários critérios de
distinção, sendo este um assunto sempre alvo de polémica no Direito.

1- Critério da natureza dos interesses

Este critério teria como base o tipo de interesse que a norma protege:
O Direito Público teria como objetivo satisfazer interesses públicos (Ex.: as
regras que fixam os impostos, as penas aplicáveis aos diversos crimes…)
O Direito Privado visaria a satisfação de interesses privados. (Ex.: relação
entre senhorio e inquilino…)
Este critério não é o melhor pois muitas vezes é difícil dizer-se se uma
norma regula interesses públicos ou privados
Na verdade, todas as normas jurídicas, mesmo as de Direito Privado, são
feitas tendo também em conta interesses públicos:
Ex.: As normas que regulam o contrato de arrendamento, apesar de
defenderem interesses dos particulares de senhorios e inquilinos, não deixam,
por outro lado, de tutelar interesses públicos, nomeadamente a existência de
uma disciplina, de modo imparcial e a paz social.
Por outro lado, as normas de Direito Público visam salvaguardar interesses
públicos, mas também tutelam direitos privados: Ex.: as normas que fixam as
penas procuram defender a segurança da colectividade e nessa medida
protegem interesses públicos, mas ao mesmo tempo asseguram a defesa de
cada um de nós, de quem se considere lesado com a prática de um crime.

2- Critério da Qualidade dos Sujeitos

De acordo com este critério:


O Direito Público seria constituído pelas normas que regulam as relações
em que intervenha o Estado ou qualquer outro ente público em geral
(Município, Freguesia…)
O Direito Privado seria constituído pelas normas que regulam as relações
entre particulares.
Este critério também não é satisfatório, uma vez que o Estado pode atuar
(e frequentemente atua, sem o seu poder soberano, de imperium, isto é, nos
mesmos termos que qualquer particular!) Ex.: Quando o Estado celebra um
contrato de compra e venda, mesmo que seja com outro órgão público, as
normas que regulam o contrato são as de Direito Privado.
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3- Critério da Posição dos Sujeitos na Relação Jurídica

Segundo este critério, que é considerado o mais adequado, o


Direito Público é constituído pelo conjunto de normas que regulam as
relações em que o Estado ou outro ente público intervenham com os seus
poderes soberanos, de supremacia, isto é desde que investidos de poder de
“imperium”.
O Direito Privado é constituído pelo conjunto de normas que regulam as
relações entre os cidadãos ou entre estes e o Estado ou qualquer outra
entidade pública, desde que sem o seu poder de imperium.
Deste modo os sujeitos ficam em pé de igualdade.
Ex.: Quando o Estado celebra um contrato de arrendamento com o
proprietário de um prédio para lá instalar um serviço, ele atua em pé de
igualdade com o proprietário do prédio, não exercendo nesse contrato
nenhum poder soberano: estamos perante uma relação de Direito Privado.
Pelo contrário, os impostos que pagamos ao Estado, em que este intervém
com o seu poder soberano, dizem-se de Direito Público.

É importante referir ainda, que tanto dentro de Direito Público como do


Direito Privado é usual distinguir outros ramos do Direito:

Direito Público: Direito Privado:


- Direito Constitucional - Direito Civil
- Direito Administrativo - Direito Comercial
1.3 - CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS JURÍDICAS

IMPERATIVIDADE – A norma é imperativa pois a sua estatuição impõe


determinada conduta, a qual, por ter de ser obrigatoriamente seguida,
constitui um dever.

COERCIBILIDADE - Traduz-se na possibilidade de imposição coativa do


cumprimento das normas jurídicas, mesmo e sobretudo contra a vontade dos
destinatários.

SANÇÃO – A sanção jurídica é aquela que é imposta pelo Direito e que


se destina a sancionar os actos ilícitos.

1.4 - AS FONTES DO DIREITO

Importa agora saber como e onde nascem as normas jurídicas, como se


geram e manifestam. Assim, como fontes do Direito são a Lei, o Costume, a
Jurisprudência, a doutrina e os tratados internacionais.

O Artigo 1º do Código Civil dispõe que se considera como lei todas as


disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes. A
Constituição da República Portuguesa é a lei fundamental do nosso
ordenamento jurídico, os seus preceitos relativos aos direitos, liberdades e
garantias e bem assim os que consagram direitos fundamentais de natureza
análoga são diretamente aplicáveis e vinculam entidades públicas e privadas,
não carecendo de mediação legislativa, salvo nos casos em que a respectiva
norma o preveja expressamente.

O costume diverge da lei, pois a norma forma-se espontaneamente no


meio social. A base de todo o costume é uma repetição de práticas sociais,
que podemos designar por uso. É igualmente necessária a convicção da
obrigatoriedade de agir em conformidade.
O termo jurisprudência refere-se à orientação geral seguida pelos
tribunais nos diversos casos concretos, assim como o conjunto de decisões dos
tribunais sobre os litígios que lhe são submetidos.
Uma questão que se coloca é a de saber se esses modos de decidir têm
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validade além do respetivo processo, criando regras para casos futuros. Em
princípio não é assim. O juiz tem de julgar em harmonia com a Lei e a sua
consciência, sendo perfeitamente irrelevante que a decisão contrarie a que
tenha sido tomada por outro tribunal, ainda que de categoria mais elevada.
A este principio há que indicar uma importante exceção: os Assentos,
decisões da competência do Supremo Tribunal de Justiça.

A doutrina encerra as opiniões e pareceres dos juristas, que se


debruçam sobre os problemas, tanto de elaboração, como de aplicação das
leis. Consiste nos artigos, escritos científicos, monografias, etc., que se
debruçam sobre os problemas jurídicos, quer referentes à criação do Direito,
quer à sua aplicação.

Os tratados internacionais são acordos de vontade, escritos, entre


sujeitos de Direito Internacional. Quando os Estados se obrigam a fazer
introduzir e a respeitar na ordem interna as normas constantes desses
contratos, estes denominam-se tratados normativos.
De acordo com a CRP, as normas constantes dos tratados
internacionais, depois de aprovadas pela Assembleia da República ou pelo
Governo, ratificadas pelo Presidente da República e publicadas no Diário da
República, fazem automaticamente parte do Direito Português.

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