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1) DIVISÃO DO DIREITO POSITIVO

DIVISÃO GERAL: DIREITO PÚBLICO, PRIVADO, DIFUSO E COLETIVO

Nunca existiu um critério de rigor lógico e satisfatório capaz de designar


claramente a distinção, pretendida pela dogmática jurídica, entre Direito Público e Direito
Privado. A separação, de cunho eminentemente prático, está estabelecida desde o Direito
Romano e tem por função estabelecer dogmaticamente segurança e certeza para a tomada
de decisão. Mas qualquer critério que se buscasse para a divisão não conseguia apresentar
de forma definitiva uma eventual linha divisória que existiria entre os dois ramos
disputados.

Tradicional distinção entre Direito Público e Privado: A divisão em Público e


Privado pode ser feita, como o é pela maioria da doutrina, tendo por critério os sujeitos
envolvidos e a qualidade destes quando estão na relação jurídica; e o conteúdo normativo
e o interesse jurídico a ele relacionado.

• Direito Público = aquele que reúne as normas jurídicas que têm por matéria o
Estado, suas funções e organização, a ordem e segurança internas, com a tutela do
interesse público, tendo em vista a paz social, o que se faz com a elaboração e a
distribuição dos serviços públicos, através dos recursos indispensáveis à sua execução. O
Direito Público cuida, também, na ótica internacional, das relações entre os Estados.

• Direito Privado = reúne as normas jurídicas que têm por matéria os particulares
e as relações entre eles estabelecidas, cujos interesses são privados, tendo por fim a
perspectiva individual.

• Direitos difusos = são aqueles cujos titulares não são determináveis. Isto é, os
detentores do direito subjetivo que se pretende regrar e proteger são indeterminados e
indetermináveis. Isso não quer dizer que alguma pessoa em particular não esteja sofrendo
a ameaça ou o dano concretamente falando, mas apenas e tão somente que se trata de uma
espécie de direito que, apesar de atingir alguém em particular, merece especial guarida
porque atinge simultaneamente a todos.

Por exemplo: se um fornecedor veicula uma publicidade enganosa na televisão, o


caso é típico de direito difuso, pois o anúncio sujeita toda a população a ele submetido.
De forma indiscriminada e geral, todas as pessoas são atingidas pelo anúncio enganoso.
Digamos que um vendedor de remédios anuncie um medicamento milagroso que permita
que o usuário emagreça cinco quilos por dia apenas tomando um comprimido, sem
nenhum comprometimento à sua saúde. Seria um caso de enganação tipicamente difusa,
pois é dirigida a toda a comunidade. No entanto, é claro que uma pessoa em particular
pode ser atingida e enganada pelo anúncio: ela vai à farmácia, adquire o medicamento,
ingere o comprimido e não emagrece. Ou pior, toma o comprimido e fica intoxicada.
Nesse caso, esse consumidor particular tem um direito individual próprio, que também,
obviamente, está protegido. Ele, como titular de um direito subjetivo, poderá exercer
todos aqueles direitos garantidos na Lei n. 8.078/90. Poderá, por exemplo, ingressar com
ação de indenização por danos materiais e morais.

• Direitos coletivos = os titulares do direito são também indeterminados, mas


determináveis. Isto é, para a verificação da existência de um direito coletivo, não há
necessidade de se apontar concretamente um titular específico e real. Todavia, esse titular
é facilmente determinado, a partir da verificação do direito em jogo. Assim, por exemplo,
a qualidade de ensino oferecido por uma escola é tipicamente direito coletivo. Ela — a
qualidade — é direito de todos os alunos indistintamente, mas, claro, afeta cada aluno em
particular.

Veja-se a seguinte divisão para o direito positivo.

RAMOS DO DIREITO PÚBLICO INTERNO

• Direito Constitucional: engloba as normas jurídicas constitucionais,


pertencentes à Constituição Federal, em toda sua amplitude, dentre as quais se destacam
as atinentes à forma e à organização do Estado, ao regime político, à competência e função
dos órgãos estatais estabelecidos, aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos etc.

• Direito Administrativo: corresponde ao conjunto de normas jurídicas que


organizam administrativamente o Estado, fixando os modos, os meios e a forma de ação
para a consecução de seus objetivos. Dessa forma, tais normas estruturam e disciplinam
as atividades dos órgãos da Administração Pública direta e indireta, as autarquias, as
empresas públicas, as entidades paraestatais etc.

• Direito Tributário: envolve as normas jurídicas voltadas para a arrecadação de


tributos, bem como as que cuidam das atividades financeiras do Estado, regulando suas
receitas e despesas. Seus principais instrumentos legais são a própria Constituição
Federal, o Código Tributário Nacional (CTN) e uma série de leis esparsas.
• Direito Processual: engloba as normas jurídicas que cuidam das regras relativas
à ação judicial, isto é, do direito de ver qualquer pretensão sendo analisada e julgada pelo
Poder Judiciário.

• Direito Penal: corresponde ao conjunto das normas jurídicas que regulam os


crimes e as contravenções penais (condutas ilícitas penais de menor potencial ofensivo),
com as correspondentes penas aplicáveis. Seus principais instrumentos legais são o
Código Penal e a Lei das Contravenções Penais, acrescidos de diversas leis esparsas.

• Direito Eleitoral: compõe-se do conjunto das normas jurídicas que disciplinam a


escolha dos membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Essas normas
estabelecem os critérios e as condições para o eleitor votar, para alguém se candidatar,
bem como as datas das eleições, as formas das apurações, o número de candidatos a serem
eleitos, fixando as bases para a criação e o funcionamento dos partidos políticos etc.

• Direito Militar: é aquele que regula as normas que afetam os militares.

DIREITO PÚBLICO EXTERNO

• Direito Internacional Público: compõe-se das normas convencionais (tratados


internacionais, também chamados de convenções, pactos, convênios, acordos) e dos
costumes jurídicos internacionais.

RAMOS DO DIREITO PRIVADO

• Direito Civil: engloba as normas jurídicas que regem, entre outros, a capacidade
e o estado das pessoas, o nascimento, o fim, o nome, a maioridade etc.; as relações
familiares — casamento, separação, divórcio, relações de parentesco, pátrio poder etc.;
as relações patrimoniais e obrigacionais — direitos reais e pessoais, posse, propriedade,
compra e venda, contratos etc.; a sucessão hereditária — divisão, espólio, meação,
testamentos etc.

• Direito Empresarial: chamado Direito Comercial foi englobado pelo Direito


Empresarial, que abrange, por sua vez, as normas jurídicas que regulam a atividade
comercial ou empresarial, entendida esta como a de fabricação, produção, montagem,
distribuição, comercialização etc. de produtos, nas relações estabelecidas entre as
próprias pessoas que exercem tais atividades, bem como os serviços prestados de umas
às outras.

RAMOS DOS DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

• Direito do Trabalho: engloba as normas jurídicas que regulam as relações entre


o empregado e o empregador (patrão), compreendendo o contrato de trabalho, o registro
do empregado, a rescisão, a despedida, as verbas trabalhistas, os salários e seus reajustes,
a duração da jornada de trabalho etc.
• Direito Previdenciário: É o ramo do Direito que engloba as normas jurídicas que
cuidam da Seguridade Social (compreendendo a Saúde, a Previdência Social e a
Assistência Social) e atua por intermédio de seus órgãos (INSS, SUS, etc.), estabelecendo
os benefícios e as formas de sua obtenção — auxílio - doença, salário-maternidade,
aposentadoria por tempo de contribuição e por invalidez, direito à pensão na viuvez e na
orfandade.

• Direito Econômico: ramo do Direito que se compõe das normas jurídicas que
regulam a produção e a circulação de produtos e serviços, com vistas ao desenvolvimento
econômico do País, especialmente no que diz respeito ao controle do mercado interno, na
luta e disputa lá estabelecida entre as empresas, bem como nos acertos e arranjos feitos
por elas para explorarem o mercado.

• Direito do Consumidor: o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90)


regula as relações potenciais ou efetivas entre consumidores e fornecedores de produtos
e serviços. As normas do CDC, instituídas para a proteção e defesa do consumidor, são
de ordem pública e interesse social.

• Direito Ambiental: é composto das normas jurídicas que cuidam do meio


ambiente em geral, tais como a proteção de matas, florestas e animais a serem
preservados, o controle de poluição e do lixo urbano etc.

DIREITO DIFUSO EXTERNO

• Direito Internacional Privado: é o ramo composto pelas normas jurídicas que


regulam as relações privadas no âmbito internacional. Como as normas jurídicas têm
vigência e eficácia apenas no território do respectivo Estado, só podem produzir efeitos
em território de outro Estado se este aceitar. Trata-se, de fato, de “conflito de leis” e por
isso há que se definir qual a lei a ser aplicada: em função da nacionalidade ou domicílio
da pessoa; da situação da coisa, objeto do direito; e do lugar em que foi realizado o ato.

2) NORMA JURÍDICA

Normas jurídicas = padrões de conduta ou de organização social impostos pelo


Estado, para que seja possível a convivência dos homens em sociedade. São fórmulas de
agir, determinações que fixam as pautas do comportamento interindividual. Pelas regras
jurídicas o Estado dispõe também quanto à sua própria organização. Em síntese, norma
jurídica é a conduta exigida ou o modelo imposto de organização social.

As expressões norma e regra jurídicas são sinônimas. Distinção há entre norma


jurídica e lei. Esta é apenas uma das formas de expressão das normas, que se manifestam
também pelo Direito costumeiro e, em alguns países, pela jurisprudência.

Instituto Jurídico = é a reunião de normas jurídicas afins, que rege um tipo de


relação social ou interesse e se identifica pelo fim que procura realizar. É uma parte da
ordem jurídica e, como esta, deve apresentar algumas qualidades: harmonia, coerência
lógica, unidade de fim. Enquanto a ordem jurídica dispõe sobre a generalidade das
relações sociais, o instituto se fixa apenas em um tipo de relação ou de interesse: adoção,
poder familiar, naturalização, hipoteca etc. Considerando-os análogos aos seres vivos,
pois nascem, duram e morrem. Diversos institutos afins formam um ramo, e o conjunto
destes, a ordem jurídica.

ESTRUTURA LÓGICA DA NORMA JURÍDICA

A visão moderna da estrutura lógica das normas jurídicas tem o seu antecedente
na distinção kantiana sobre os imperativos. Para o filósofo alemão, o imperativo
categórico, próprio dos preceitos morais, obriga de maneira incondicional, pois a conduta
é sempre necessária. Exemplo: deves honrar a teus pais. O imperativo hipotético, relativo
às normas jurídicas, técnicas, políticas, impõe-se de acordo com as condições
especificadas na própria norma, como meio para alcançar alguma outra coisa que se
pretende. Exemplo: se um pai deseja emancipar o filho, deve assinar uma escritura
pública.

Concepção de Kelsen. Segundo o autor da Teoria Pura do Direito, a estrutura


lógica da norma jurídica pode ser enunciada do modo seguinte:

Em determinadas circunstâncias, um determinado sujeito deve observar tal ou


qual conduta; se não a observa, outro sujeito, órgão do Estado, deve aplicar ao infrator
uma sanção.

Da formulação kelseniana, infere-se que o esquema possui duas partes, que o autor
denomina por “norma secundária” e “norma primária”. Com a inversão terminológica
efetuada em sua obra Teoria Geral das Normas, publicada post mortem, a primeira
estabelece uma sanção para a hipótese de violação do dever jurídico. A primária define o
dever jurídico em face de determinada situação de fato. Reduzindo à fórmula prática,
temos:

a) Norma secundária: “Dado ñP, deve ser S” – Dada a não prestação, deve ser
aplicada a sanção. Exemplo: o pai que não prestou assistência moral ou material
ao filho menor deve ser submetido a uma penalidade.
b) Norma primária: “Dado Ft, deve ser P” – Dado um fato temporal deve ser feita a
prestação. Exemplo: o pai que possui filho menor, deve prestar-lhe assistência
moral e material.

Considerando-se as categorias mais gerais das normas jurídicas, verificam-se que


estas apresentam alguns caracteres que, na opinião predominante dos autores, são os
seguintes: bilateralidade, generalidade, abstratividade, imperatividade, coercibilidade.

• Bilateralidade = o Direito existe sempre vinculando duas ou mais pessoas,


atribuindo poder a uma parte e impondo dever à outra. Em toda relação jurídica há sempre
um sujeito ativo, portador do direito subjetivo e um sujeito passivo, que possui o dever
jurídico.

• Generalidade = a norma jurídica é preceito de ordem geral, obrigatório a todos


que se acham em igual situação jurídica. Da generalidade da norma jurídica deduzimos o
princípio da isonomia da lei, segundo o qual todos são iguais perante a lei.
• Abstratividade = visando a atingir o maior número possível de situações, a norma
jurídica é abstrata, regulando os casos dentro do seu denominador comum, ou seja, como
ocorrem via de regra.

• Imperatividade = para garantir efetivamente a ordem social, o Direito se


manifesta através de normas que possuem caráter imperativo. Não fosse assim, o Direito
não lograria estabelecer segurança, nem justiça. O caráter imperativo da norma significa
imposição de vontade e não mero aconselhamento.

• Coercibilidade = Coercibilidade quer dizer possibilidade de uso da coação. Esta


possui dois elementos: psicológico e material. O primeiro exerce a intimidação, através
das penalidades previstas para a hipótese de violação das normas jurídicas. O elemento
material é a força propriamente, que é acionada quando o destinatário da regra não a
cumpre espontaneamente.

As noções de coação e de sanção não se confundem. A primeira é uma reserva de


força a serviço do Direito, enquanto a segunda é considerada, geralmente, medida
punitiva para a hipótese de violação de normas. Quando o juiz determina a condução da
testemunha manu militari ou ordena o leilão de bens do executado, ele aciona a força a
serviço do Direito; quando condena o acusado a uma pena privativa de liberdade ou
pecuniária, aplica a sanção legal.

CLASSIFICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA

Muitas são as classificações propostas por diferentes autores quanto às normas


jurídicas. A classificação apresentada por García Máynez, por sua clareza e objetividade,
fornece ao jurista um conjunto terminológico e conceitual útil ao discurso jurídico. Os
critérios de sua classificação são os seguintes:

a) Classificação das Normas Jurídicas quanto ao Sistema a que Pertencem: em


relação ao presente critério, as regras jurídicas podem ser: nacionais, estrangeiras e de
Direito uniforme. Chamam-se nacionais, as normas que, obrigatórias no âmbito de um
Estado, fazem parte do ordenamento jurídico deste. Em face do Direito Internacional
Privado, é possível que uma norma jurídica tenha aplicação além do território do Estado
que a criou. Quando, em uma relação jurídica existente em um Estado, for aplicável a
norma jurídica própria de outro Estado, ter-se-á configurada a norma jurídica estrangeira.
Finalmente, quando dois ou mais Estados resolvem, mediante tratado, adotar
internamente uma legislação padrão, tais normas recebem a denominação de Direito
uniforme.

b) Normas Jurídicas quanto à Fonte: de acordo com o sistema jurídico a que


pertencem, as normas podem ser legislativas, consuetudinárias e jurisprudenciais. As
normas jurídicas escritas, corporificadas nas leis, medidas provisórias, decretos,
denominam- se legislativas. Enquanto as leis emanam do Poder Legislativo, as duas
outras espécies são ditadas pelo Poder Executivo. Consuetudinárias: são as normas não
escritas, elaboradas espontaneamente pela sociedade. Para que uma prática social se
caracterize costumeira, necessita ser reiterada, constante e uniforme, além de achar-se
enraizada na consciência popular como regra obrigatória. Chamam-se jurisprudenciais as
normas criadas pelos tribunais. No sistema de tradição romano-germânica, ao qual se filia
o Direito brasileiro, a jurisprudência não deve ser considerada fonte formal do Direito.
No sistema do Common Law, adotado pela Inglaterra e Estados Unidos, os precedentes
judiciais têm força normativa.

c) Classificação das Normas Jurídicas quanto aos Diversos Âmbitos de Validez:


Âmbito espacial de validez: gerais e locais. Gerais são as que se aplicam em todo o
território nacional. Locais, as que se destinam apenas à parte do território do Estado. Na
primeira hipótese, as normas serão sempre federais, enquanto na segunda poderão ser
federais, estaduais ou municipais. Esta divisão corresponde ao Direito geral e ao
particular. Âmbito temporal de validez: de vigência por prazo indeterminado e de
vigência por prazo determinado. Quando o tempo de vigência da norma jurídica não é
prefixado, esta é de vigência por prazo indeterminado. Ocorre, com menos frequência, o
surgimento de regras que vêm com o seu tempo de duração previamente fixado, hipótese
em que são denominadas de vigência por prazo determinado. Âmbito material de validez:
normas de Direito Público e de Direito Privado. Nas primeiras a relação jurídica é de
subordinação, com o Estado impondo o seu imperium, enquanto nas segundas é de
coordenação. Âmbito pessoal de validez: genéricas e individualizadas. A generalidade é
uma característica das normas jurídicas e significa que os preceitos se dirigem a todos
que se acham na mesma situação jurídica. As normas individualizadas, segundo Eduardo
García Máynez, “designam ou facultam a um ou a vários membros da mesma classe,
individualmente determinados”.

d) Classificação das Normas Jurídicas quanto à Hierarquia: Sob este aspecto,


dividem-se em: constitucionais, complementares, ordinárias, regulamentares e
individualizadas. As normas guardam entre si uma hierarquia, uma ordem de
subordinação entre as diversas categorias. No primeiro plano alinham-se as normas
constitucionais – originais na Carta Magna ou decorrentes de emendas – que condicionam
a validade de todas as outras normas e têm o poder de revogá-las. Assim, qualquer norma
jurídica de categoria diversa, anterior ou posterior à constitucional, não terá validade caso
contrarie as disposições desta. Na ordem jurídica brasileira há normas que se localizam
em leis complementares à Constituição e se situam, hierarquicamente, entre as
constitucionais e as ordinárias. Em plano inferior estão as normas ordinárias, que se
localizam nas leis, medidas provisórias, leis delegadas. Seguem-se as normas
regulamentares, contidas nos decretos, e as individualizadas, denominação e espécie
sugeridas por Merkel para a grande variedade dos negócios jurídicos: testamentos,
sentenças judiciais, contratos etc.

e) Normas Jurídicas quanto à Sanção: dividem-se, quanto à sanção, em leges


perfectae, leges plus quam perfectae, leges minus quam perfectae, leges imperfectae. Diz-
se que uma norma é perfeita do ponto de vista da sanção, quando prevê a nulidade do ato,
na hipótese de sua violação. A norma é mais do que perfeita se, além de nulidade,
estipular pena para os casos de violação. Menos do que perfeita é a norma que determina
apenas penalidade, quando descumprida. Finalmente, a norma é imperfeita sob o aspecto
da sanção, quando não considera nulo ou anulável o ato que a contraria, nem comina
castigo aos infratores.

f) Normas Jurídicas quanto à Qualidade: sob o aspecto da qualidade, as normas


podem ser positivas (ou permissivas) e negativas (ou proibitivas). De acordo com a
classificação de García Máynez, positivas são as normas que permitem a ação ou omissão.
Negativas, as que proíbem a ação ou omissão.
g) Normas Jurídicas quanto às Relações de Complementação: Classificam-se as
normas jurídicas, quanto às relações de complementação, em primárias e secundárias.
Denominam-se primárias as normas jurídicas cujo sentido é complementado por outras,
que recebem o nome de secundárias. Estas são das seguintes espécies: a) de iniciação,
duração e extinção da vigência; b) declarativas ou explicativas; c) permissivas; d)
interpretativas; e) sancionadoras.

h) Classificação das Normas Jurídicas quanto à Vontade das Partes: quanto a


este aspecto, dividem-se em taxativas e dispositivas. As normas jurídicas taxativas ou
cogentes, por resguardarem os interesses fundamentais da sociedade, obrigam
independentemente da vontade das partes. As dispositivas, que dizem respeito apenas aos
interesses dos particulares, admitem a não adoção de seus preceitos, desde que por
vontade expressa das partes interessadas.

Além desta classificação elaborada por García Máynez, a doutrina assinala outros
critérios de classificação e que se revelam úteis à compreensão do fenômeno jurídico, a
seguir expostos:

i) Quanto à Flexibilidade ou Arbítrio do Juiz: Normas Rígidas ou Cerradas e


Elásticas ou Abertas: normas elásticas ou abertas; expressam conceitos vagos, amplos,
como boa-fé objetiva, justa causa, quando caberá ao juiz decidir com equidade os casos
concretos. Confere-se ao julgador certa margem de liberdade na definição da norma a ser
aplicada. São tratadas pela doutrina também por cláusulas gerais. Uma das características
do Código Civil de 2002 é a adoção de diversas normas de tipo aberto, que propiciam ao
juiz uma contribuição pessoal na distribuição da justiça. O poder discricionário do juiz,
nesta tarefa, não é ilimitado, pois deve guiar-se de acordo com o senso comum, regras da
experiência e a orientação jurisprudencial. As de tipo fechado ou cerrado, ao contrário,
não deixam margem à discricionariedade do juiz. Ainda convencido de que o jovem de
dezessete anos possui discernimento e experiência, não pode considerá-lo imputável
criminalmente, pois a norma que estabelece a responsabilidade criminal aos dezoito anos
é de tipo fechado. Se tais normas, de um lado, favorecem a efetividade do valor segurança
jurídica, de outro, podem comprometer a justiça, pois nem sempre há plena adequação da
fórmula do legislador à exigência do caso concreto.

j) Quanto ao Modo da Presença no Ordenamento: Normas Implícitas e


Explícitas: além das normas explícitas, previstas em Códigos, que objetivamente
definem a conduta, procedimento ou modelo de organização, existem as implícitas, que
complementam fórmulas adotadas diretamente pelo legislador. Na revelação destas
normas – que é procedimento de integração do Direito – valiosa é a contribuição da
doutrina e, em especial, da jurisprudência. Para os adeptos do positivismo jurídico,
seriam deduções normativas de princípios consagrados pelo legislador. Para os
jusnaturalistas, tais normas seriam irradiações da ordem natural das coisas,
especialmente da natureza humana.

k) Quanto à Inteligibilidade (ou seja, quanto ao processo de compreensão): o


acesso ao conhecimento das normas em geral varia do simples ao complexo, daí
distinguirmos três modalidades: normas de percepção imediata, normas de percepção
reflexiva ou mediata e normas de percepção complexa. As primeiras são diretamente
assimiladas pelo espírito cognoscente. O intérprete capta diretamente o sentido e o
alcance da norma sem esforço intelectual. O método utilizado é o intuitivo. Nas de
percepção reflexiva ou mediata o intérprete utiliza-se basicamente dos métodos dedutivo
e indutivo. Finalmente, na interpretação das normas de percepção complexa, ao alcance
apenas da classe dos juristas, daqueles que possuem o conhecimento do sistema e se
acham afinados com a teleologia dos institutos jurídicos, o intérprete impõe toda a sua
acuidade intelectual a fim de apurar o sentido e o alcance dos mandamentos.

VIGÊNCIA, EFETIVIDADE, EFICÁCIA E LEGITIMIDADE DA NORMA


JURÍDICA

Vigência = para que a norma disciplinadora do convívio social ingresse no mundo


jurídico e nele produza efeitos, indispensável é que apresente validade formal, isto é, que
possua vigência. Esta significa que a norma social preenche os requisitos técnico-formais
e imperativamente se impõe aos destinatários. A sua condição não se resume a vacatio
legis, ou seja, ao decurso de tempo após a publicação. Assim, não basta a existência da
norma emanada de um poder, pois é necessário que satisfaça a determinados pressupostos
extrínsecos de validez. Se o processo de formação da lei foi irregular, não tendo havido,
por exemplo, tramitação perante o Senado Federal, as normas reguladoras não obterão
vigência.

Efetividade = este atributo consiste no fato de a norma jurídica ser observada


tanto por seus destinatários quanto pelos aplicadores do Direito. No dizer de Luís Roberto
Barroso, a efetividade “... simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o
dever ser normativo e o ser da realidade social”. Aqui, é importante distinguir efetividade
e eficácia.

É intuitivo que as normas são feitas para serem cumpridas, devem alcançar a
máxima efetividade; todavia, em razão de fatores diversos, isto não ocorre, daí podermos
falar em níveis de efetividade. Há normas que não chegam a alcançar qualquer grau,
enquanto outras perdem o atributo, isto é, durante algum tempo foram observadas e,
posteriormente, esquecidas. Ambas situações configuram a chamada desuetude. Para o
austríaco Hans Kelsen a validade da norma pressupõe a sua efetividade.

Eficácia = as normas jurídicas não são geradas por acaso, mas visando a alcançar
certos resultados sociais. Como processo de adaptação social que é, o Direito se apresenta
como fórmula capaz de resolver problemas de convivência e de organização da sociedade.
O atributo eficácia significa que a norma jurídica produz, realmente, os efeitos sociais
planejados. Para que a eficácia se manifeste, indispensável é que seja observada
socialmente. Eficácia pressupõe, destarte, efetividade. A lei que institui um programa
nacional de combate a determinado mal e que, posta em execução, não resolve o
problema, mostrando- se impotente para o fim a que se destinava, carece de eficácia. A
rigor, tal lei não pode ser considerada Direito, pois este é processo de adaptação social; é
instrumento que acolhe a pretensão social e a provê de meios adequados.

Legitimidade = via de regra, o ponto de referência na pesquisa da legitimidade é


o exame da fonte de onde emana a norma. Se aquela é legítima esta também o será́. Fonte
legítima seria a constituída pelos representantes escolhidos pelo povo ou então por este
próprio, no exercício da chamada democracia direta.

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