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INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO PROCESSO DO TRABALHO

1. CONCEITO

A intervenção de terceiros dá-se quando um ente ou pessoa não figura


originariamente como réu ou autor no processo judicial, e sim, nele ingressa para
defender seus próprios interesses ou de uma das partes iniciais da relação
processual, ainda, é necessário que esteja exercendo atividade postulatória, não
probatória.
Contudo, não é qualquer interesse que irá justificar a legitimidade da
intervenção de terceiros, primeiramente terá que existir o interesse jurídico, porque
o simples e exclusivo interesse, sejam eles: econômicos, políticos, financeiros,
morais e etc. não irá autorizar a intervenção de terceiros.
O interesse jurídico existirá quando houver relação jurídica material entre
as partes e os terceiros que figurarem no processo, um exemplo clássico citado pela
doutrina é “o interesse do sublocatário em face do locatário na ação de despejo
proposta pelo locador. O sublocatário, in casu, que vier a intervir no processo tem
interesse jurídico no resultado da demanda, pois, certamente, o seu contrato de
sublocação será atingido com a decisão judicial.” 1
Diante da intervenção, um terceiro que até então estava figurando como
estranho ao processo, irá tornar-se parte ou até coadjuvante, podendo sofrer os
efeitos da coisa julgada, além disso, conforme destaca Bezerra Leite 2. Por ser um
incidente processual, que causa em razão disso, uma demora na prestação
jurisdicional, a intervenção de terceiros só deve ser admitida em situações especiais
expressamente previstas em lei.

2. CLASSIFICAÇÃO

1 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 559.
2 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 559.

1
Segundo a doutrina clássica, a intervenção de terceiros pode ser:

a) Intervenção de terceiro voluntária (espontânea) : onde o terceiro


ingressa no processo de forma voluntária.
b) Intervenção de terceiro provocada (forçada ou coacta): onde o
terceiro ingressa nos autos mediante provocação da parte. São
intervenções provocadas: denunciação da lide; chamamento ao
processo.

LEITE3 ainda leciona sobre a intervenção:

c) ad coadjuvandum: quando o terceiro interveniente auxilia uma das


partes a obter um pronunciamento judicial favorável, como na
assistência simples.
d) ad excludendum: o terceiro intenta a exclusão de uma ou de ambas
as partes, como na oposição, respectivamente.

Mas vale ressaltar que, conforme leciona PEREIRA, “com a entrada em


vigor do Código de Processo Civil de 2015, a oposição deixou de ser uma
modalidade de intervenção de terceiro e se tornou um procedimento especial
plasmado nos arts. 682 a 686. Ademais, a nomeação à autoria foi extinta como
modalidade de intervenção de terceiros”.4

3. APLICABILIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO

Conforme verificamos na doutrina, a intervenção de terceiros, apesar do


Processo de Trabalho não discipliná-la de forma específica, é aplicável nas ações
trabalhistas através da aplicação subsidiária do Código de Processo Civil.

3 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 560.
4 PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva, 2022 p. 349

2
Segundo destaca Carlos Henrique Bezerra Leite, considerando a
omissão no Processo do Trabalho a respeito da intervenção de terceiros, pode-se
usar de forma subsidiária o Código de Processo Civil, claro, tomando as devidas
cautelas e adaptações. O CPC dedica o Título III do Livro II da Parte Geral (arts.
119 a 138) à intervenção de terceiros, abrangendo a assistência, a denunciação da
lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica e o amicus curiae.5
LEITE adverte que “o rol das intervenções de terceiro previsto no referido
Título III do Livro II da Parte Geral do CPC não é taxativo, porquanto existem outras
modalidades de intervenção de terceiros dispersas no próprio Código, como, por
exemplo, as previstas nos arts. 338 e 339 (quando o réu alega ilegitimidade passiva
e indica outra parte para compor o polo passivo da relação processual); no art. 343,
§§ 3º e 4º (que admite a intervenção de terceiros na reconvenção); nos arts. 674 a
681 (embargos de terceiro); nos arts. 682 a 686 (oposição) etc.” 6
Existem posições divergentes, tanto no entendimento doutrinário quanto
jurisprudencial, sobre a aplicação da intervenção de terceiro no âmbito do processo
do trabalho. Tais divergências, que já existiam antes da EC n. 45/2004, se
avolumaram em função da ampliação da competência da Justiça do Trabalho
trazida por esta Emenda Constitucional.7
Segundo Leone Pereira existem duas correntes, no Direito Processual do
Trabalho, que discutem o cabimento ou a incompatibilidade da intervenção de
terceiros na Justiça do Trabalho.
A primeira corrente, denominada pelo autor como Teoria Tradicional,
posiciona-se pela incompatibilidade da aplicação da intervenção de terceiro no
Direito Processual do Trabalho. Esta teoria traz como fundamentos: 8
a) incompetência da Justiça do Trabalho: a admissão de um terceiro no
procedimento comum trabalhista pode acarretar na situação
processual de litígio entre sujeitos com a mesma força nos pólos
opostos do processo (por exemplo: dois empregados ou duas pessoas
5 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São Paulo:
Saraiva 2022 - p 560
6 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São Paulo:
Saraiva 2022 - p 560
7 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 560.
8 PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva, 2022 p. 352
e 353.

3
físicas prestadoras de serviços) o que desnatura a ideia tradicional de
hipossuficiência em um dos pólos da relação processual trabalhista;
b) a Justiça do Trabalho não possui competência em razão da pessoa. A
entrada de terceiro na lide pode trazer situações em que a Justiça do
Trabalho iria processar e julgar ações envolvendo terceiro alheio à
relação processual entre empregado e empregador;
c) incompatibilidade com os princípios da celeridade, informalidade,
oralidade e simplicidade que vigoram no Processo do Trabalho;
d) incompatibilidade com o princípio da economia processual, por trazer
complicadores ao processo em andamento;
e) desvirtua o papel da Justiça do Trabalho, que é a efetivação da
prestação jurisdicional trabalhista, focada na entrega das verbas
trabalhistas, de natureza alimentar, com caráter urgencial. Portanto,
incompatível com a complexidade oriunda da intervenção;
f) obriga o reclamante a litigar contra quem não pretende;

A segunda corrente, entitulada Teoria Moderna: defende que a


argumentos desta corrente são:9
a) a ampliação da competência material da Justiça do Trabalho trazida
pela Emenda Constitucional n. 45/2004. A EC em questão estendeu a
competência da Justiça do Trabalho para, além de processar e julgar
as ações oriundas da relação de trabalho, também processar e julgar
outras controvérsias decorrente da relação de trabalho;
b) omissão da CLT;
c) compatibilidade com o princípio da economia processual, no sentido
de que a admissão da intervenção evita outras ações na Justiça do
Trabalho, ainda que possa trazer complicadores ao processo em
trâmite;
d) minimiza o risco de decisões conflitantes entre a Justiça do Trabalho e
a Justiça Comum, envolvendo a mesma lide;
e) maior efetividade do processo trabalhista;

9 PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva, 2022 p. 353
e 354.

4
f) pacificação de conflitos que envolvam direta ou indiretamente a
alguma relação de trabalho;
g) observância dos ideários de justiça e equidade;
h) fixação da responsabilidade trabalhista do terceiro, garantindo a
satisfação do crédito trabalhista, e consequentemente maior
efetividade da jurisdição trabalhista;
i) o cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 227 da SDI-1 do
TST, que trazia em sua redação a incompatibilidade da denunciação
da lide com o Processo do Trabalho;
j) o Enunciado n. 68 da 1a Jornada de Direito Material e Processual da
Justiça do Trabalho. Os juristas participantes da jornada, através da
aprovação do Enunciado n. 68, admitiram a intervenção de terceiros
no processo do trabalho, conforme expresso no citado enunciado:

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS.
I – Admissibilidade da intervenção de terceiros nos Processos submetidos à
jurisdição da Justiça do Trabalho.
II – Nos processos que envolvem crédito de natureza privilegiada, a
compatibilidade da intervenção de terceiros está subordinada ao interesse
do autor, delimitado pela utilidade do provimento final.
III – Admitida a denunciação da lide, é possível à decisão judicial
estabelecer a condenação do denunciado como corresponsável.

O Professor Mauro Schiavi, citado por Leone Pereira 10 filia-se a corrente


que entende aplicável a intervenção de terceiros no Processo do Trabalho,
especialmente no procedimento comum (ordinário), Quanto ao procedimento
sumaríssimo adverte que:

No procedimento sumaríssimo trabalhista, não cabe tal intervenção em


razão dos princípios da celeridade e da simplicidade do referido
procedimento. Embora a Lei n. 9.957/2000 não vede expressamente a
possibilidade de intervenção de terceiros, o art. 10 da Lei n. 9.099/95,
aplicável subsidiariamente ao procedimento trabalhista, veda
expressamente tal intervenção.11

Prossegue explicando que com o advento da EC n. 45/2004, a


intervenção de terceiros passou a ser mais aceita no Processo do Trabalho,
mormente quando não se postula crédito oriundo da relação de emprego.
10 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016, p.
421-427, apud PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva,
2022 p. 354.
11 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016, p.
421-427, apud PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva,
2022 p. 354.

5
Quanto aos argumentos que a celeridade é impactada, aduz que cabe ao
juiz do trabalho avaliar o custo-benefício da intervenção de terceiros e indeferi-la
quando não traga benefícios aos litigantes, resguardando a celeridade para que não
sejam gerados complicadores desnecessários ao processo.
Destaca ainda que a intervenção de terceiros no Processo do Trabalho
pode ser benéfica no sentido de assegurar a garantia de solvabilidade do crédito
trabalhista, pois fixa a responsabilidade do terceiro, dando maior efetividade da
jurisdição trabalhista.12
Leone Pereira defende que a compatibilidade ou incompatibilidade da
intervenção de terceiro ao Direito Processual do Trabalho deve ser analisada de
acordo com o caso concreto. Aduz que “não é possível adotar um entendimento
fechado, favorável ou desfavorável sobre o tema.” 13

[...] a compatibilidade ou incompatibilidade da intervenção de terceiros no


Processo do Trabalho depende da casuística, da análise do caso concreto
pelo juiz do trabalho. É o que denominamos Teoria Casuística da
Intervenção de Terceiro no Processo do Trabalho. O magistrado deverá
avaliar o custo-benefício dessa intervenção, ou seja, até que ponto a
admissão traz benefícios à satisfação do crédito trabalhista. 14

Concluindo, a intervenção de terceiro no processo do trabalho deverá ser


analisada no caso concreto e somente admitida caso traga benefícios ao
processo.15

4. MODALIDADES

Atualmente nossa legislação processual civil prevê cinco modalidades de


intervenção de terceiros presentes no Código de Processo Civil de 2015, mais

12 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016, p.
421-427, apud PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva,
2022 p. 355.
13 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016, p.
421-427, apud PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva,
2022 p. 355 e 356.
14 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016, p.
421-427, apud PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva,
2022 p. 355 e 356.
15 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016, p.
421-427, apud PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva,
2022 p. 355 e 356.

6
precisamente no Título III. No presente trabalho apresentaremos duas delas que
consideramos de importante relevância no processo do trabalho.

4.1 Assistência

O CPC de 2015 reconhecendo a assistência simples e a assistência


litisconsorcial como modalidades de intervenção de terceiros nos arts. 119 e 120;

Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro


juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas
poderá intervir no processo para assisti-la.
Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e
em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no
estado em que se encontre.

Art. 120. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido


do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar.
Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse
jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do
processo.

Temos que a Assistência é uma espécie de intervenção espontânea, para


o qual, simplesmente o terceiro ingressa na relação processual em curso, não
havendo a necessidade de propor uma nova ação. O terceiro assistente torna-se
sujeito no processo, mas não será parte no processo, pois irá integrar o processo
simplesmente na qualidade de auxiliar uma das partes. 16
A Assistência poderá ser Simples (adesiva) ou Litisconsorcial, a simples
está prevista nos arts. 121 a 123 do Código de Processo Civil. É importante analisar
os efeitos deste tipo de intervenção ao assistente. Conforme dispõe o art. 121 do
CPC, o “assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os
mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido”. No
entanto, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo: “Sendo revel ou, de
qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu
substituto processual”. Dessa forma, caso a parte principal venha a se tonar revel ou
se omitir no prosseguimento do processo por qualquer motivo, o assistente simples
passa a ser considerado seu substituto processual. 17

16 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 560.
17 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 562.

7
Quanto aos efeitos do trânsito em julgado da sentença de processo no
qual interveio um assistente, conforme previsto no art. 123 do CPC, este não poderá
intentar em novo processo discutir a justiça da decisão, salvo se puder alegar e
provar alguma das hipóteses previstas nos incisos I e II do citado artigo:

I – pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos


atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na
sentença;
II – desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o
assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.

Quanto à assistência litisconsorcial, o art. 124 do CPC assim legisla:

Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre


que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do
assistido.

Percebe-se, portanto, uma semelhança entre a assistência litisconsorcial


a uma espécie de litisconsórcio facultativo ulterior, visto que o assistente
litisconsorcial poderia, desde o início da lide, ter sido litisconsorte facultativo da
parte assistida.18
Por fim, cabe registrar que nos termos da Súmula 82 do TST, o processo
do trabalho admite a assistência simples ou adesiva: 19

ASSISTÊNCIA. A intervenção assistencial, simples ou adesiva, só é


admissível se demonstrado o interesse jurídico e não o meramente
econômico.

4.2. Denunciação da lide

Esta é uma forma provocada de intervenção de terceiro regulamentada


no CPC em seus arts. 125 a 129. As hipóteses estão previstas no Art. 125:

Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das


partes:
I – ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi
transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da
evicção lhe resultam;
II – àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em
ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.

18 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 562.
19 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 563

8
Verifica-se pelas hipóteses que admitem a denunciação à lide, que este
instituto visa a economia processual através da solução de duas pendências
judiciais em um só processo. Na primeira pendência judicial, resolve-se o litígio
entre as partes originais. Na outra, em caso de condenação do denunciante, será
julgado seu direito ao ressarcimento por parte do terceiro, dispensando outro
processo judicial.20
Insta salientar que o denunciante deve requerer a citação do denunciado
na petição inicial, se for autor; ou na contestação, se for réu. O denunciado poderá
assumir a posição de litisconsorte do denunciante e acrescentar novos argumentos
à petição inicial. Após isso, proceder-se-á à citação do réu. 21
Conforme depreende-se das lições de Carlos Henrique Bezerra Leite, a
partir da EC 45/2004 passou-se a ampliar as hipóteses de denunciação da lide no
processo do trabalho, pois sabidamente esta emenda constitucional estendeu a
competência material da Justiça do Trabalho para, além de processar e julgar as
ações oriundas da relação de trabalho, também processar e julgar outras
controvérsias decorrente da relação de trabalho. 22
José Roberto Freire Pimenta citado por Carlos Henrique Bezerra Leite,
destaca que:

São interessantes alguns dos exemplos de casos em que passará a ser


possível a intervenção de terceiros, nos feitos que a partir de agora
tramitarem na Justiça do Trabalho, dados pelo i. autor ora mencionado: a)
denunciação da lide: será agora possível, para que o denunciante faça uso,
no mesmo processo, da ação regressiva e respectiva execução, nos
mesmos autos, na qualidade de sucessor contra o sucedido ou na
qualidade de devedor solidário que suportou a satisfação do débito, contra
os demais devedores solidários (...)23

Ou seja, nos parece um instrumento interessante de economia


processual, possibilitando ações regressivas serem decididas conjuntamente com a
ação principal, trazendo economia de tempo aos interessados.

20 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 568
21 LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito Processual do Trabalho, 20 edição. São
Paulo: Saraiva 2022 - p 568
22 PEREIRA, Leone - Manual do Processo do Trabalho, 7 edição. São Paulo: Saraiva, 2022 p.
354.
23 PIMENTA, José Roberto Freire. A nova competência da Justiça do Trabalho para lides não
decorrentes da relação de emprego: aspectos processuais e procedimentais. Rev. TST,
Brasília, vol. 71, n º 1, jan/abr 2005, p. 130. apud LEITE, Carlos Henrique Bezerra - Curso de Direito
Processual do Trabalho, 20 edição. São Paulo: Saraiva 2022 - p 571.

9
5. POSICIONAMENTO DO JUDICIÁRIO - JURISPRUDÊNCIAS

No que tange a admissão da Intervenção de Terceiros no Processo do


Trabalho, principalmente quanto às modalidades aqui analisadas, verifica-se em
decisões do TST que adota-se como regra o disposto na Súmula 82 que vincula a
admissibilidade à demonstração da existência de interesse jurídico:

RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ASSISTÊNCIA


SIMPLES. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO INTERESSE
JURÍDICO. Nos termos da Súmula nº 82 desta Corte, segundo a qual "A
intervenção assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se
demonstrado o interesse jurídico e não o meramente econômico". A
simples alegação de defesa dos interesses dos empregados
substituídos, os quais se encontram representados pelo sindicato da
categoria na ação civil pública movida pelo Ministério Público, não se
revela suficiente à demonstração do interesse jurídico da Federação
para o fim de atuar na causa como assistente simples. Recurso ordinário
desprovido"
(RO-1001044-36.2015.5.02.0000, Subseção II Especializada em Dissídios
Individuais, Relator Ministro Renato de Lacerda Paiva, DEJT 12/06/2020).

"AGRAVO INTERNO EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM


EMBARGOS EM AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO
NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. CONSIDERAÇÃO INICIAL.
INTERVENÇÃO DE TERCEIRO. PEDIDO DE ASSISTÊNCIA SIMPLES DA
OAB/ES. A mera alegação de interesse institucional pelo fato de o
advogado do autor possuir inscrição nos quadros da Seccional do
Espírito Santo da Ordem dos Advogados do Brasil não revela o
interesse jurídico hábil a ensejar o ingresso da OAB/ES como
assistente simples no presente feito, uma vez que não demonstrado que
será diretamente atingida pelo resultado da causa . Precedentes da SBDI-II
e do Superior Tribunal de Justiça. Pedido de intervenção de terceiro que se
rejeita. [...]. Agravo interno conhecido e não provido" (Ag-ED-E-Ag-RR-
78800-73.2010.5.17.0008, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT
22/10/2021).

"RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA AJUIZADA SOB A ÉGIDE


DO CPC/1973. ART. 485, V, DO CPC/1973. RESCISÃO DE SENTENÇA
HOMOLOGATÓRIA . ACORDO QUE DEFINIU QUE A REPRESENTAÇÃO
SINDICAL SERIA DETERMINADA POR PLEBISCITO ENTRE OS
EMPREGADOS. PRETENSÃO DESCONSTITUTIVA PROPOSTA POR
EMPRESA. AUSÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO. ILEGITIMIDADE
ATIVA AD CAUSAM . [...] Note-se que o autor não figurou como parte no
processo principal, nem caberia a sua intervenção naquela demanda
(simples , litisconsorcial ou mesmo por meio da interposição de
recurso de terceiro) diante da flagrante ausência de interesse jurídico
no objeto da discussão na lide subjacente. Essa circunstância exclui de
forma absoluta a sua legitimidade para a presente ação, inclusive como
terceira interessada. Ao arguir a ilegalidade do acordo a que chegaram os
sindicatos réus, o TEG toma para si o encargo de "custos legis" sem
fundamento em qualquer diploma legal. [...]. Recurso ordinário conhecido e

10
extinção do processo sem resolução do mérito " (RO-4345-
13.2012.5.02.0000, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais,
Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT 18/09/2020).

Em situação similar, quanto à modalidade de denunciação à lide, verifica-


se que, apesar de possível, a decisão quanto ao cabimento da denunciação à lide
não é automática, a posição é que a decisão demanda a análise de cada caso
concreto. Pelas decisões analisadas o TST prima pelo cabimento quando este traz
proveito para a elucidação e celeridade do processo trabalhista.

apesar do cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 227 da SBDI-1


do TST e a ampliação da competência da Justiça do Trabalho pela Emenda
Constitucional n. 45/2004, o cabimento do instituto da denunciação da
lide deve ser examinado caso a caso, à luz da competência desta
Justiça Especializada para dirimir a controvérsia entre denunciante e
denunciado e dos princípios que norteiam o Processo do Trabalho,
especialmente os da celeridade, efetividade e simplicidade
(TST-ARR 10658-87.2015.5.01.0266, j. 18-4-2018, Rel. Min. Alberto Luiz
Bresciani de Fontan Pereira, 3ª T., DEJT 27-4-2018).

"RECURSO DE REVISTA. 1. PRELIMINAR DE NULIDADE POR


REJEIÇÃO DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE . APLICAÇÃO DO INSTITUTO
PROCESSUAL À JUSTIÇA DO TRABALHO . INTERESSE
EXCLUSIVAMENTE PATRONAL NO DIREITO DE REGRESSO.
INVIABILIDADE. A jurisprudência desta Corte Superior, em que pese venha
entendendo pela aplicabilidade da denunciação da lide na Justiça do
Trabalho após a EC n° 45/04, o faz com parcimônia e em proveito da
elucidação da reclamação trabalhista. Na hipótese, a denunciação da lide
tinha como suporte exclusivamente o interesse do empregador no
direito de regresso contra terceiros que ele entende serem os verdadeiros
responsáveis pelo dano causado ao trabalhador. Nesse contexto, não
visualizado o proveito da medida para a elucidação e celeridade do
processo trabalhista, é inoportuno o deferimento da referida medida,
pelo que não configura nulidade a sua rejeição pelas instâncias inferiores.
Intactos os dispositivos invocados no recurso de revista. Não conhecido.
(...).
(RR -3500-16.2006.5.01.0421, Relator Desembargador Convocado: João
Pedro Silvestrin, Data de Julgamento: 11/03/2020, 5a Turma, Data de
Publicação: DEJT 13/03/2020)

Decisões destacam ainda, que não é permitido a denunciação à lide para


tratar de qualquer matéria, pois a competência material da justiça do trabalho, ainda
que ampliada pela EC 45, restringe-se a temas relacionados às relações de
trabalho.

Embora seja cediço que o C. TST houve por bem revogar a OJ nº 227 da
SBDI-1, que estatuía a incompatibilidade da denunciação da lide nesta
Justiça especializada, certo é que o referido instituto, assim como as
demais hipóteses de intervenção de terceiros, na Justiça do Trabalho
é admissível, mas com ressalvas, relativamente ao que se dá na
processualística comum. Essa restrição tem relação com a

11
especificidade da competência material da Justiça do Trabalho, que se
limita às 'ações oriundas da relação de trabalho' (inciso I do art. 114 da
CR/88) e às demais matérias elencadas nos incisos 11 a IX do mesmo
dispositivo constitucional, e que não se estendem às questões afetas à
relação jurídica de natureza civil havida entre os reclamados. Agravo não
provido.
(Ag-AIRR-282-30.2014.5.15.0026, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto
Cesar Leite de Carvalho, DEJT 18/02/2022).

DENUNCIAÇÃO DA LIDE. COMPATIBILIDADE EXCEPCIONAL COM O


PROCESSO DO TRABALHO. PRECEDENTES DO TST. 1. A Corte
Superior Trabalhista possui jurisprudência hegemônica no sentido de que a
denunciação da lide é espécie de intervenção de terceiro que é
excepcionalmente compatível com o processo laboral. [...] desponta uma
incompatibilidade dessa espécie de intervenção de terceiro no
processo laboral porque a solução da demanda deve ocorrer de modo
célere. Sob outro ângulo, também é possível vislumbrar incompatibilidade
da denunciação da lide com o processo do trabalho por conta da
espécie de relação jurídica que, no mais das vezes, é estabelecida
entre denunciante e denunciado. Sendo a denunciação da lide uma
espécie de ação incidental, não raramente ocorre de a pretensão de
regresso do denunciante em face do denunciado ser espécie de litígio
estranho a competência da Justiça do Trabalho (o caso clássico é o
devedor trabalhista querer denunciar a lide uma eventual seguradora,
hipótese em que a relação mantida entre o devedor/denunciante e a
seguradora/denunciada é de taxonomia civil, sendo a Justiça Obreira
materialmente incompetente). 3. No caso concreto, contudo, nenhum
dos dois motivos sustenta a conclusão de incompatibilidade. É que a
ação de cobrança ajuizada pelo sindicato-autor contra a empresa-
demandada não importa em discussão relacionada a crédito alimentar,
de sorte que não há força argumentativa na necessidade de maior
celeridade. Também não subsiste incompatibilidade da denunciação
da lide com a questão envolvendo a competência. É que a pretensão
do recorrente é de figurar como denunciante para buscar em regresso
contribuições sindicais pagas equivocadamente (indébito) ao
SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO DO RECIFE. Essa
espécie de postulação deve ser resolvida por esta Especializada,
conforme art. 114, III, da CRFB. Recurso ordinário provido.
(Processo: ROT - 0000346-26.2017.5.06.0013, Redator: Fabio Andre de
Farias, Data de julgamento: 05/11/2019, Segunda Turma, Data da
assinatura: 05/11/2019)

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REFERÊNCIAS

LEITE, Carlos Henrique B. Curso de Direito Processual do Trabalho.20 edição.


São Paulo: Saraiva 2022. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596663/.> Acesso em:
01 mai. 2022.

PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 7 edição. São Paulo: Saraiva


2022. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553618262/.> Acesso em:
01 mai. 2022.

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