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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO

DE JANEIRO (UERJ)

Teoria Geral do Processo

Convenções processuais sobre Intervenção de Terceiros

RIO DE JANEIRO
2021
I- Análise do Tema

Para o Direito Processual Brasileiro, de maneira geral, terceiro é aquele que não
é parte ou coadjuvante em um processo pendente1. No entanto, tal conceito pode ser
ampliado de modo a identificar, segundo o autor Athos Gusmão, três categorias: (i)
Aqueles juridicamente indiferentes, cuja repercussão do resultado da demanda não
ultrapassa os planos dos fatos, não atingindo a esfera jurídica; (ii) Aquele que ostentam
interesse jurídico indireto, por afetar, mesmo que não de maneira direta, sua própria
esfera; (iii) E aqueles que possuem interesse direito e imediato na causa, que é, em
verdade, co-titular da relação jurídica.

De fato, isso se deve ao fato de que considerando que o processo encontra-se


inserido em um contexto social e, principalmente em razão a busca de efetividade do
mesmo, não raro é comum que terceiros, alheios a demanda, sofram efeitos decorrentes
da sentença que esta produza2. Em razão disso, para as intervenções de terceiros
clássicas, ou seja, aquelas previstas legalmente, não basta que haja um interesse que não
ultrapasse o plano fático para que possa haver intervenção deste no processo, deve haver
um interesse jurídico na causa.
Como formas de intervenções voluntárias tem-se a previsão legal da assistência
e o recurso de terceiro. Por outro lado, são intervenções forçadas previstas em lei a
denunciação da lide, o chamamento ao processo, a intervenção resultante do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica. A intervenção espontânea ou voluntária, é
o próprio terceiro interveniente que toma a iniciativa de ingressar no processo, podendo
requerer espontaneamente o seu ingresso na ação. Já a intervenção provocada ou coacta,
ocorre quando a iniciativa da intervenção ocorre independentemente da vontade de
terceiro,
O instituto denominado de intervenção de terceiro tem por finalidade a economia
processual, diminuindo o número de processos e a harmonia de julgamento, evitando
resultados contraditórios3. Essa figura existe desde o antigo código de processo civil de
1973, porém o novo código de processo trouxe algumas mudanças significativas.

1
Carneiro, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros. 17 edição revista e atualizada. Saraiva, 2008 p.67
2
Ob. Cit. P. 69
3
Ibidem
Dentre essas mudanças pode-se citar a cláusula disposta no art. 190, a qual
ampliou a possibilidade de intervenção de terceiro atípica, foco de diversas divergências
doutrinárias. No entanto, inegável reconhecer que o CPC abriu espaço, por meio do
referido artigo, para que seja criado, por meio da vontade das partes, novas hipóteses de
cabimento de intervenção provocada, consequentemente, quebrando, como bem afirma
Marília Siqueira da Costa, a tipicidade importa pela lei4.
Nessa linha, o CPC conferiu as partes tanto o poder de conferir legitimidade
interventiva para além das situações previstas por meio da lei como provocar a
intervenção do sujeito que não conste como parte originária, independentemente do
vínculo existente entre o terceiro e o objeto litigioso, sendo dispensável, inclusive, o
requisito considerado essencial para as intervenções de terceiro típicas: a presença de
interesse jurídico5.
A importância dessa possibilidade é trazer maior segurança para as partes do
processo. Como exemplo disso, Marilia Siqueira traz em sua obra o desdobramento do
art. 31 da lei que instituiu política nacional de resíduos sólidos, cujo teor dispõe sobre o
compartilhamento de responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos, porém, uma vez
que não há indicação que esta responsabilidade seria solidária, em uma suposta ação por
descumprimento de obrigação exigida por lei, não haveria mecanismo previsto pelo
regramento legal de intervenção de terceiro que permitisse o ingresso de outros
envolvidos. Dessa maneira, a possibilidade da convenção a respeito da intervenção de
terceiro no processo permite uma maior segurança para ambos os polos, posto que
permite a divisão de responsabilidade e maior possibilidade de defesa para o polo
passivo, bem como amplia o patrimônio sujeito a eventual responsabilização,
beneficiando o polo ativo da suposta demanda.
Em suma, a utilização da convenção processual traz como benefício evitar
discussões relativas à existência ou não de interesse jurídico para intervir no feito,
consequentemente gerando uma maior segurança jurídica para os envolvidos no
processo, e, ainda, amplia o ingresso para sujeitos que possuem interesse de outras
ordens que não jurídica, que não possuiriam legitimidade para se desvencilhar dos
efeitos do processo. Desse modo, destaca-se que esse aprimoramento da intervenção de
terceiros merece elogios, pois proporciona maior efetividade e celeridade ao provimento

4
Da Costa, Maria Siqueira. Convenções Processuais sobre intervenção de terceiros. Editora Juspodivm. P.
239.
5
Ibidem
final, além de efetivamente resolver inúmeros problemas com os quais a dogmática
processual, há décadas, não consegue encontrar uma solução satisfatória.

II- Referências

COSTA, Marília Siqueira da. Convenções processuais sobre intervenção de


terceiros. Salvador: Jus Podivm. Capítulo 4. pp. 237-244.

CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de Terceiros. Capítulo XI. pp. 67-72.

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