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Tendo em primeira instância, por despacho saneador, o TAF da Ponta Delgada julgado
procedentes as exceções de falta de legitimidade ativa e interesse processual do autor,
absolveu os demandados da instância.
Não satisfeito, o autor A interpôs recurso para o Tribunal Central Administrativo Sul, o
qual decidiu, com um voto vencido, conceder provimento ao recurso e revogar a
decisão recorrida, favorecendo o A.
Dito isto, no que toca à admissibilidade deste recurso excecional, a recorrente alega
que a questão a apreciar << é suscetível de se replicar, com frequência, no futuro, em
inúmeros processos de contencioso pré-contratual urgente decorrentes de
procedimentos de contratação pública e no âmbito dos quais venham a ser defendidos
interesses difusos ao abrigo de Acão popular, mostrando-se necessária a garantia de
uniformização do direito.>> e ainda que << a questão a apreciar não foi ainda objeto
de apreciação pelo Supremo Tribunal Administrativo, pelo que a admissão do presente
recurso é claramente necessária para uma melhor aplicação do direito.>>.
Legitimidade Processual
A Ação Popular é configurada como uma forma de legitimidade processual ativa dos
cidadãos, a ser exercida perante qualquer tribunal, e que se configura autónoma em
relação ao interesse pessoal do autor e quanto à existência de uma relação específica
com os bens ou interesses difusos em causa.3 Esta não é um meio processual, mas uma
forma de legitimidade que permite que sejam intentados diversos tipos de ações
(todas as espécies processuais que integrem o contencioso administrativo) que se
afigurem necessárias à defesa de interesses difusos4.
De acordo com os artigos 2º e 3º da Lei 83/95 poderão ser autores populares os
“cidadãos no gozo dos seus direitos civis e políticos”, não sendo exigindo qualquer
elemento de conexão ou qualquer apropriação individual do interesse do lesado.
O artigo 55 nº1 f), o qual diz respeito ao alargamento da legitimidade ativa para a ação
impugnatória vem reforçar o direito de ação popular destinada à defesa de interesses
difusos.
O artigo 55 nº2 diz respeito à ação popular corretiva, a qual pode ser exercida por
qualquer eleitor, no gozo dos seus direitos civis e políticos para a impugnação de
deliberações dos órgãos autárquicos na circunscrição em que se encontre recenseado.
Trata-se de um meio de fiscalização da gestão das autarquias que diz respeito às
atuações ilegais praticadas sob a forma de ato administrativo com vista à reposição da
legalidade objetiva.6 Neste caso, a legitimidade advém apenas da qualidade de
cidadão, que representa a manifestação de um direito político, e não na invocação de
um interesse individual ou difuso, o que distingue esta legitimidade da disposta no
artigo 9 nº2 e 55 nº1 f).
Interesse Processual
Problema
O STA optou pela aplicação do art.º 55 nº2, que diz respeito a uma ação popular
corretiva, tomando-a como uma norma especial de legitimidade (que diz respeito às
ações de impugnação de decisões de órgãos autárquicos) e procedendo à aplicação
desta sobre a norma geral de legitimidade (princípio de que a norma especial
prevalece sobre a norma geral). Aplicando esta norma o autor/recorrido não terá
legitimidade.
O STA admite que mesmo que se optasse pela cumulação das normas, solução que
considero mais acertada, o art.º 55 nº1 f) (que remete para o 9º nº2) exige que seja
identificada/especificada a lesão do concreto interesse fundamental que se pretende
defender, considerando o tribunal que o mesmo não foi concretizado pelo recorrido,
limitando-se este a invocar um vício de natureza procedimental no procedimento pré-
contratual.
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Paulo Linhares Dias - O contencioso pré-contratual no Código de Processo nos Tribunais
Administrativos